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Vera Lemos

1º. Temos de estar perante o objeto do DIPrivado e estamos se estivermos perante uma situação
plurilocalizada (absolutamente internacional) ou seja, temos de estar perante relações privadas
internacional, um caso que tem contacto com várias ordens jurídicas.
2º Segundo passo é saber se serão os tribunais de Portugal competentes para o caso e, no âmbito desta
cadeira supomos sempre que o tribunal do foro vai ser o de Portugal.
3º: Ora, mas o principio da não-transitividade não nos resolve todos os problemas, só resolve situações
puramente internas e as relativamente internacionais (aquelas que só têm contacto com um
ordenamento, só que essa ordem jurídica não é a do foto). No caos tem contacto com ordenamentos
jurídicos pelo que temos de ir buscar uma regra de DIPrivado, que na sua maioria são regras do método
clássico, as regras de conflito.
Estas são normas de seugndo grau, isto é, normas sobre normas/normas formais que não dão
resolução ao caso (escolhem sim a lei que vai dar essa solução, sendo então regras formais e não
materiais). Estas têm três elementos:
1. Conceito quadro: serve para determinar o âmbito de aplicação daquela norma (é um
conceito jurídico).
2. Elemento de conexão: é a circunstancia que o legislador escolheu como a mais relevante
para determinar a lei aplicável.
3. Consequência jurídica: é a aplicação da lei indicada pelo elemento de conexão à matéria que
foi delimitada pelo conceito quadro.

Diferença entre um conceito-quadro e uma hipótese da norma material: enquanto que as normas
materiais têm hipóteses, situações de vida (por exemplo, “quem matar outra pessoa” ou “aquele que
fizer x”), os conceitos quadros são conceitos jurídicos e, por isso, pode originar problemas de
qualificação (por exemplo, enquanto que separação de bens e pessoas pode significa ruma coisa para a
Leiy, pode ter outro significado para a Leix).

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Notas:
- Nem tudo vai ser regulado pela lei escolhida pela regra de conflito, pois esta deixa de fora tudo o que
não tem influência na decisão a dar e isso são normas processuais. A regra de conflitos só chama o
direito substancial (e não o processual), sendo que em matéria processual aplica-se a lex fori, porque tal
não tem influencia no mérito de causa.
- Lei da nacionalidade: lex patriae.
- Lei pessoal (31º CC): é pessoa (atende às características do sujeito da relação jurídica e não à
localização física), é jurídico (não é percetível pelos sentidos para saber qual é a nacionalidade para o
saber precisamos de aplicar normas)e é movel (porque pode ser alterada).
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Conflitos de nacionalidade
Se a lei e conflitos mandar aplicar a nacionalidade e a pessoa tiver duas, temos que escolher
uma dessas nacionalidades e, para tal, vamos recorrer às normas especiais da lei da Nacionalidade
Portuguesa (artigos 27º e 28º desta lei).
- artigo 27º CC: se uma pessoa tiver varias nacionalidades e uma delas for Portuguesa, a pessoa é
considerada portuguesa, pois há prevalência da nacionalidade da lei do foro (sendo que nestes casos
consideramos sempre que a lei do foro é a portuguesa).
-artigo 28º CC: na primeira parte deste artigo diz que se a pessoa tiver mais do que uma nacionalidade e
nenhuma delas for portuguesa, mas residir, numa das suas nacionalidades, aplica-se-lhe a da sua
residência, pois, em principio, o sujeito terá uma ligação mais forte com esta.
Na segunda parte, este artigos diz que o sujeito, não residindo em nenhum dos países da sua
nacionalidade, o julgador terá de ver qual é o Estado com que tem maior proximidade. Estamos então
perante a consagração judicial do principio da proximidade, emque o legislador passa a
responsabilidade para o julgador, sendo que assim, o caso é apreciado em concreto, para aquela pessoa,

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devendo atender, por exemplo, à língua falada, ao local do seu património, onde celebra os contratos.
No entanto, comporta insegurança jurídica, pois não temos um critério pré-determinado, não há
propriamente uma previsibilidade.

➔ Exceção ao artigo 28º LN: à partia o DIPrivado de cada pais é que decide como resolve o
conflito de nacionalidades, mas há um limite, pois se estiver em causa o exercício de um direito
conferido pela cidadania europeia ( liberdades fundamentais, dirieto de eleger e ser eleito nas
eleições local e do Parlamento Europeu no pais de residência e a proteção diplomática em
países estrangeiros de outros Estados Membros), e se a pessoa tiver a nacionalidade de um
Estado Membro, para efeitos desse direito, tem que ser considerado cidadão europeu. Esta é
uma correção do sistema da Lei da Nacionalidade com estes dois requisitos referidos. Isto é o
que resulta do Acordao Micheletti.

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Nota:
- reenvio prejudicial: mecanismo jurisdicional em que o Tribunal Nacional que estava a decidir veio
invocar uma duvida quanto à interpretação do Direito da União Europeia, suspendendo o processo e
questionando essa duvida ao TJUE.
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Classificação dos elementos de conexão:


- Pessoais (atendem às características dos sujeitos da relação jurídica ex: nacionalidade, residência
habitual, escolha das partes) ou reais (atendem à localização física da relação jurídica ex: local da
celebração do casamento, local da situação da coisa, local do facto que gera responsabilidade).
- factuais (concretizáveis sem aplicar quaisquer normas, isto é, através dos sentidos. Ex: artigo 46º,
residência habitual, local do facto causador de prejuízo) ou jurídicos (só são concretizáveis ao aplicar
dados normativos (52º/1, domicilio lega, local do cumprimento da obrigação, nacionalidade). A
tendência atual do DIPrivado é a maior utilização de elementos de conexão facuais, dado que os
elementos de conexão jurídicos utilizam conceitos jurídicos, o que pode levar a que eles não coincidam
em diferentes países.
- Móveis (podem ver alterada a sua concretização e o mesmo elemento de conexão pode apontar para
duas leis diferentes em momentos diferentes. Ex: nacionalidade, residência habitual) ou imoveis (ex:
localização do facto causador de prejuízo, para as coisas imoveis, alocalização da coisa) → Mas por
vezes, o legislador utiliza elementos de conexão moveis, tornando-os imoveis, ou seja, cristaliza-
os/imobiliza-os (ex: artigo 53º/1, 56º/1 e 62º CC).

- Único (está aqui em causa a regra de conflitos tradicional Savigniana, isto é, indica a lei aplicável
através de um elemento de conexão) ou múltiplo, conforme haja um ou mais elementos de conexão em
determinada regra de conflitos. → A conexão múltipla pode ser:
1. Alternativa: chama varias leis e aplica uma só, o juiz aplicará a lei que satisfizer melhor o
objetivo do legislador, numa ideia de facilitar o reconhecimento das relações jurídicas (protegendo a
legitima expatativa das partes -principio a favor negotti) -ex: artigo 63º e 36º.

2. Cumulativas: o legislador chama varias leis e o julgador aplicará todas. Passa-se o oposto do
sistema de conexão alternativa, pois a conexão múltipla cumulativa, dificulta a constituição de relações
jurídicas, pois, por uma questão de segurança jurídica, a produção de um efeito jurídico está
dependente da concordância entre duas ou mais leis e isto porque o legislador quer evitar situações
claudicantes (aquelas que são reconhecidas num país e não são reconhecidas noutro). Contudo, o autor
frances Batiffol critica este sistema ao dizer que promete mais do que dão, pois, na prática, não se
aplicam as duas leis que são chamadas, mas sim apenas a mais restritiva. – ex: 60º/1/4, 33º/4.

3.Subsidiarias: o legislador chama varias leis numa relação de hierarquia, de subsidiariedade, ou


seja, o legislador só deixa aplicar o segundo elemento de conexão quando o elemento de conexão

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principal não for concretizável. Ora, nos casos em que o elemento de conexão não é concretizável,
vamos ter de ver o artigo 348º/3 CC que nos dá a solução para estes casos. Assim, devido ao principio da
proibição do non liquet, em que o juiz não pode denegar jusitiça, o legislador diz que, nestes casos, se
deve aplicar a lei do foro. No entanto, esta não é uma boa solução pois corremos o risco de aplicar uma
lei que não tem ligação com o caso e é por essa razão que o legislador utiliza conexões múltiplas
subsidiarias. ex: 52º/2, 41º, 42º

4. Distributiva: chama duas ou mais leis, mas vai aplicar cada uma dessas leis a apenas uma
parte da relação jurídica. Deste modo consegue-se aplicar a lei mais próxima relativamente a cada
aspeto da relação jurídica, com o objetivo de apurar a regra de conflitos, sendo que, ao dividir-se a
relação jurídica facilita-se o seu surgimento, pois os impedimento de certa lei vão aplicar-se apenas a
uma parte da relação. -ex: 49º.

Também podemos estar perante uma cumulação de conexões. Esta é a situação na qual o legislador
utiliza um elemento de conexão, ou seja, só indica uma lei, mas esta é comum a duas partes da relação
jurídica (ex: 52º/1).

Influencia do decurso de tempo na regra conflitual (3 problemas)


1. Sucessão das regras de conflitos
Usualmente quando o legislador muda as regras de conflitos, ele recorre a normas transitórias.
Assim o problema é quando o legislador adota estas novas regras e não fixa este regime transitório.
Neste âmbito surgiram varias soluções de modo a resolver este problema:
1. Kahn: vigorará o principio geral de conflitos de leis no tempo: o principio da não
retroatividade das leis.
2. Ferrer Correira e Batista Machado: dizem que as regras de conflito não são iguais às normas
materiais. E, por isso via de regra, podemos aplicar a regra de conflitos nova, não se aplicando, por isso,
o principio da retroatividade. Só não será assim, se houver expetativa das partes na aplicação da regra
de conflitos antiga (e haverá quando, no momento da constituição da relação jurídica houver contacto
com o foro, seja a nacionalidade desta, a residência ou qualquer outro elemento que permita identificar
esse contacto).
3. Escola de Lisboa: Dário Vicente, Isabel Colaço e Lima Pinheiro: para esta doutrina, as normas
de conflito são normas materiais de regulação indireta, pelo que se pode convocar o principio da não
retroatividade. Então, o que devemos fazer é ir à regra de conflitos nova e vemos para que lei ela
aponta, para saber se esta se pode aplicar retroativamente; caso não permita, aplicamos a regra de
conflito antiga.

2. Sucessão de normas materiais no seio da lei competente (lex causa)


Este já um problema de conflitos de lei no tempo. O DIPrivado fez o seu trabalho, pelo que
deve o sistema jurídico competente resolver o problema.

3. Conflito movel ou sucessão de estatutos


Muda a concretização do elemento de conexão (uma deslocação da relação jurídica ex: 52º CC.
Antes concretizava-se num sitio aplicando-se uma lei, agora aplica-se outra).
Este problema só se coloca nos elementos de conexão moveis e, mesmo nestes casos, por
vezes, o legislador elimina o problema, cristalizando/imobilizando o elemento de conexão movel.
→ 4 propostas para a resolução deste problema:
1. Pillet: deve resolver-se de acordo com o principio de reconhecimento dos direitos
adquiridos (entre a lei nova e a lei velha, se uma delas atribui um direito e a outra não, deve aplicar-se a
que atribui o direito).
2. Rigaux: deve resolver-se de acordo com um juízo de proximidade, ou seja, o conflito
movel de resolver-se a favor da lei nova porque é a mais próxima.
3. Batista Machado e Bhtiffo: o problema do conflito movel é análogo ao problema da

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sucessão de normas materiais, pelo que se devem resolver da mesma forma. E, assim, não se trata de
um problema de DIPrivado, mas sim de um problema a resolver pelo ordenamento jurídico competente,
de modo a saber se se admite uma aplicação retroativa.
4. Ferrer Correia: temos de perceber qual o propósito do legislador, se ele queria
aplicar a lei nova ou a lei velha. E para isto, Ferrer Correia deu-nos um critério que diz que:
- se a regra de conflitos estiver a determinar a lei para a validade de uma relação já
constituída, deve aplicar-se a lei anterior
-se a regra de conflitos estiver a determinar a lei para os efeitos atuais de uma relação
jurídica duradoura, deve aplicar-se a lei nova

Função da regra de conflitos


A regra de conflitos Savigniana escolhe a lei aplicável, ou seja, a sua função não é dar uma
resposta imediata aos problemas substantivos, a sua função é sim determinar qual a ordem jurídica
competente a dar-nos respostas materiais. É então uma regra de conflitos bilateral, pois a lei do
elemento de conexão tanto pode ser a do foro como uma lei estrangeira.
Mas, de notar que também existem regras de conflitos unilaterais. Estas aceitam a aplicação da
lei estrangeira e limitam-se a dizer quais são os casos em que se aplica a lei do foro.
Nota: Nunca podemos dizer que os elementos de conexão são bilaterais, as regras de conflitos é que
podem ter uma função unilateral ou bilateral.
→(sai muito em exames escritos e orais transformar regras de conflito biateriais em unilateriais, ver
pg11 JF).

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Notas:
-Em França há inúmeras regras de conflito unilaterais por dois motivos:
1. Motivos de soberania estadual: o estado manda somente aplicar a sua lei, não tem poderes
para escolher quando se aplica leis estrangeiras.
2. O sistema unilateral é o único capaz de promover a harmonia jurídica internacional,
estabilidade e continuidade das relações jurídicas e o reconhecimento dos direitos adquiridos no
estrangeiro.
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Prolemas do sistema bilateral (Quadri):


1. gera desarmonia internacional, instabilidade nas relações jurídicas (ex: caso da filiação, pg 12
JF → em PT a criança não é filho de A e no Br já é). Escolhe a lei aplicável e, às vezes escolhe leis
estrangeiras que não se acham competentes e, se o caso se colocasse nesse pais, lá, o resultado já seria
diferente, porque iam aplicar outra lei.
2. Falha a propósito de situações constituídas no estrangeiro, ou seja, estamos perante o não
reconhecimento de direitos adquiridos no estrangeiro. Isto porque só vamos reconhecer a situação
constituída no estrangeiro quando ela for válida para a lei competente.
→ Em face destes problemas, segundo Quadri, o melhor seria trocarmos as regras de conflito bilaterais
por unilaterais.
→ Assim, temos que ir a cada uma das leis que têm contacto com o caso e perguntar ao DIPrivado se
alguma delas tem vontade de se aplicar, pois a aplicação de uma lei depende da sua vontade de
aplicação. E se todos os países tiverem regras de conflitos unilaterais vai-se conseguir a harmonia
jurídica internacional.

Mas, neste contexto, temos de nos perguntar: se este sistema unilateral é tao bom porque é que temos
regras de conflito bilaterais. Por três razoes:
. Há dois mecanismos que corrigem o sistema bilateral. Por um lado, o reenvio (procura
resolver a desarmonia jurídica internacional – artigo 16º e 19ºCC)

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2. Por vezes, o sistema unilateral gera problemas insolúveis, como o vácuo jurídico, o caso em
que nenhuma das leis tem vontade de aplicação. Ora, Quadri diz que este problema é muito improvável,
não oferecendo solução. Por outro, o seu seguidor De Nova reconhece que o problema poderá vir a
colocar-se e diz que, nesse caso, devemos escolher a lei que melhor salvaguardar as expetativas das
artes. No entanto, assim mata o seu próprio método, pois a sua proposta é retornar ao sistema bilateral.
3. E, num sistema unilateral também podemos estar perante o cúmulo jurídico que se verifica
quando varias leis estrangeiras se querem aplicar. E, neste âmbito, diz Quadri que temos de ter um
critério para escolher uma das leis. Ora, tal como foi dito anteriormente, estamos a retomar ao sistema
bilateral.
→ Logo, o sistema unilateral não serve como método.

Nos casos em que a regra de conflitos não está indicada:


- Se o contrato tiver sido celebrado depois de 2009, aplica-se o artigo 3º do Regulamento Roma
I, que unifica as regras de conflitos em termos de contrato e diz o seguinte “ os contratos são regidos
pela lei escolhida pelas partes”. Assim, aplica-se só aos contratos e não aos negócios jurídicos
unilaterais. → ver âmbito material, espacial e temporal: artigos 1,2 e 3. No fundo, neste âmbito ver
casos práticos do stor sobre isto
- se antes de 2009, valem os artigos 41º e 42º CC “ são reguladas pelas lei que os respetivos
sujeitos tiverem designado ou houverem tido vista”.
→ Em ambas as regras de conflito, o elemento de conexão é a escolha das partes.

Politização do DIPrivado – em face de interesses politico-legislativo


O método conflitual clássico não tem em consideração os interesses politico-legislativos dos
Estados. Isto foi criticado por Currie, propondo algumas propostas e, na sequência destas, apareceu na
Europa, um fator de pluralismo metodológico, ou seja, o DIPrivado deixou de ter apenas um método..
Assim, ao lado das regras de conflito, hoje o DIPrivado Europeu tem também normas de
aplicação necessária e imediata. Apesar de continuar a haver primazia do método conflitual, este não é
o único. Houve então um fenómeno de aproximação do método europeu às propostas americanas,
havendo uma politização do DIPrivado, o que significa que este passou a preocupar-se com as politicas
legislativas dos Estados.

VER PG 7 IS EXAMES, MUITO IMPORTANTE Características destas normas de aplicação necessária e


imediatas:
- são normas materiais espacialmente delimitadas, ou seja são elas que delimitam o seu campo de
aplicação, pelo que não carecem de regras de conflitos.
- são normas de aplicação necearia e imediatas, isto é, aplicam-se necessariamente, mesmo que a lei a
que pertençam não seja a lei competente (mesmo que a regra de conflitos esteja a mandar aplicar outra
lei). É imediata porque se aplica mesmo antes de irmos ver a regra de conflitos. Isto porque, às vezes, há
interesses politico-legislativos fundamentais, que o legislado entende que se devem realizar, mesmo
que a sua lei não seja a lei aplicável.

→Estas podem ser também:


- explicitas: o legislador declara-as como tal (ex: artigo 23º do Diploma das Clausulas
Contratuais Gerais, mais exemplos pg 11 na sebenta imprimida de casos práticos).
- implícitas: não se declaram como tal, mas é possível perceber, pela sua finalidade politico-
legislativa, que esses fins só se realizam aplicando-se a lei a casos em que esta não é a lei competente.

De notar que esta identificação de certa norma como norma de aplicação necessária e imediata é feita
pelos tribunais e a doutrina.

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Notas :

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-Lisboa chama à NANI de normas de aplicação imediata, à exceção de Lima Pinheiro que lhes chama
normas de aplicação necessária. Também há quem chame de normas internacionalmente normativas.
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Também há normas materiais especialmente autodelimitadas em sentido estrito, que determinam a sua
aplicação a menos casos do que aqueles a que a lei a que pertencem se aplicaria. ex: a regra de conflitos
manda aplicar a lei portuguesa, mas uma norma destas, exigirá ainda outro requisito, aplicar-se-á a
casos mais limitados.

Questao: Será que as NANI estragneiras se aplicam no foro?


A posição clássica de Savigny é a de que o julgador só deve obediência às NANI do foro, no entanto, esta
tese caiu em desuso.
Hoje é pacifico que se lhes deve dar importância. Teorias:
1. Teoria do Estatuto obrigacional (Ferrer Correia): aplicam-se as normas de aplicação
necessária e imediata do foro e da lex caus. Contudo, esta teoria tem uma critica: estas normas que se
vao aplicar, são as normas de aplicação necessária e imediata indicada pela regra de conflito, que já
íamos aplicar.
2. Teoria da conexão especial pura (Wengler e Rui Mour Ramos): devemos aplicar as normas de
aplicação necessária e imediata de três leis: as do foro, da lei competente e as da lei que tenham uma
especial ligação com o caso. Esta tese faz sentido na medida em que, tendo uma lei especial ligação com
o caso, podia acontecer que o caso tivesse de ser julgado lá, pelo que seria aplicada a sua lei (lex fori).
De notar que esta tese tem variantes:
- Posição de Lima Pinheiro: devemos aplicar as normas de aplicação necessária e
imediata do foro e das leis estrangeiras com especial conexão com o caso apenas quando haja
autorização legal expressa

3. Tese da Tomada em Consideração (Isabel Colaço): não se podem aplicar as normas de


aplicação necessária e imediata ao caso, mas o juiz leva-as em conta quando aplica a lex causa ( ou seja,
deve considera-la, embora não a possa aplicar diretamente).

-Ora, todas as teses têm vindo a ser seguidas na jurisprudência em Portugal.


→→→1º dizer o primeiro e segundo paragrafo da politização do DIP, depois isto: ver o final
pg 17 e pg 18 IS, que a análise do artigo 9º/1/2 deste regulamento, de seguida a alínea 3: O
Regulamento Roma I, no seu artigo 9º/3 refere que se podem aplicar as normas de aplicação necessária
e imediata estrangeiras. O juiz pode decidir aplicá-las (não sendo obrigatório, há uma certa
discricionariedade judicial), mas somente as normas de aplicação necessária e imediata estrangeiras do
lugar em que o contrato é executado e se essas normas considerarem o contrato ilegal. Esta norma
material pretende aplicar-se a mais casos do do que aqueles que a regra de conflitos indicar e é
substantiva, pois dá solução ao caso. Esta é norma de aplicação necessária (pois aplica-se
independentemente da rwegra de conflitos) imediata (elas determinam a sua própria aplicação mesmo
antes de determinarem qual é a lei competente).

Ora, E quando não sabemos o lugar do cumprimento do contrato?


a) o juiz manda produzir prova
b) o estudante coloca as duas hipóteses
→ caso 4 IS (basicamente ver as hipóteses de cada lei): se o lugar do cumprimento do contrato for o
Quénia, então aplicamos a
norma de aplicação necessária e imediata e o contrato é nulo;
→ se o lugar de execução do contrato não for o Quénia então aplicamos a
lei australiana e não podemos dar relevância à norma de aplicação
necessária e imediata. Assim, condenamos o senhor B.

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Notas:
- Em caso pratico:
1º: ver se o contrato foi celebrado antes ou depois de 1994, se antes aplica-se os artigos 41º e
42 CC, se depois, aplica-se o artigo 3º do Regulamento de Roma I, pois houve uma europeização do
DIPrivado.
2º: senão for aplicável o regulamento e em relação à “outra lei” depende da tese que
seguirmos (problema doutrinal) → explicar a solução de acordo com todas as teses
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Introdução ao problema da qualificação


Este é o problema da interpretação e aplicação das regra de conflitos , ou seja, temos de ver
como é que vamos reconduzir um caso da vida a um conceito jurídico ou que normas materiais é que
vão ser mobilizadas para o caso. Segundo o Dr Batista Machado, a qualificação é
o problema da subsumibilidade de um quid a um conceito utilizado por uma norma
Nós aplicamos normas substantivas quando se preenche a hipótese, olhando para os factos da
vida, quando estes se preenchem. Mas na hipótese da regra de conflitos é ligeiramente diferente (o
conceito-quadro), pois contém conceitos técnico-jurídicos e que variam de país para país.

Ora, há vários métodos de qualificação. O nosso está consagrado no artigo 15º CC, pois, por
força do pleno consenso da doutrina portuguesa, o legislador cristalizou o nosso método. Assim, o juiz
não pode escolher o método que quer para a qualificação (ao contrario de outros países).

O nosso método divide o processo de qualificação em dois passos lógicos:


1º :Primeiro, o momento da interpretação do conceito-quadro/momento do critério
de qualificação.
Neste contexto podemos fazer uma breve referencia a algumas posições, sendo que
temos a posição que, segundo Ferrer Correira, dizia que devíamos fazer uma interpretação de acordo
com a lei material do foro (lex materialis fori). No entanto, esta seria uma atitude nada aberta, uma
atitude contraria à do DIP. Tambem temos a posição de interpretar o conceito-quadro da regra de
conflitos de acordo com a lege causae (lei designada como competente pela nossa regra de conflitos),
mas o Dr Ferrer Correia e Dr Batista Machado consideram que isto seria um cheque em branco à lei
estrangeira. E temos ainda uma proposta de Ernst Rabel que diz que temos de interpretar o conceito-
quadro de acordo com o direito comparado, isto é, em função dos vários sistemas jurídicos cuja
aplicação ele pode desencadear. Contudo, esta posição também não é realizável.
Ora, segundo o nosso sistema de qualificação, a interpretação do conceito-quadro não pode ser
feita à luz da lei material (entender o conceito conforme a lei portuguesa), mas antes à luz da lex formali
fori. Isto significa que temos de fazer uma interpretação autónoma e teleológica dos conceitos quadros.
Ora, autónoma do direito material, própria do conceito-quadro (ex: contrato para DIPrivado vai ser
diferente de contrato para Direito das Obrigações); é assim uma interpretação muito mais ampla dos
conceito-quadros, da lei do foro, porque se vai abranger dentro daquele conceito outras figuras afins
que tenham amesma finalidade (figuras análogas), tendo em conta a finalidade que o legislador quis
atingir quando criou a regra de conflitos, daí ser tambem uma interpretação teleológica.

2º: O segundo momento é o da qualificação propriamente dita (o objeto da qualificação). Nesta


fase temos de saber quais são as normas materiais que aquela regra de conflito está a mandar aplicar.
Segundo o artigo 15º aplicam-se só as normas que, pelo conteúdo (os efeitos jurídicos da norma) e
função (a sua ratio legis), naquela lei sejam da matéria do conceito-quadro, portanto é uma
chamamento circunscrito. É uma qualificação lege causae (à luz da lei competente indicada pela regra
de conflitos).

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Neste âmbito é de referir que o nosso sistema não é qualificação lege fori, nem lex causae, é
uma mistura de ambos, pois nós fazemos uma interpretação própria do DIP do foro e própria da nossa
regra de conflitos (lege fori), contudo, para saber que tipo de normas é que temos de chamar
atendemos à lex causa.

Notas sobre esta matéria:


- No sistema português, à partida, não aplicamos apenas uma regra de conflitos, aplicamos
varias simultaneamente. Chamamos varias leis para cada matéria.

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Notas:
-Quando mandamos aplicar uma lei estrangeira, temos de ir ver o que manda fazer o DIPrivado dessa lei
e mencioná-lo no caso prático – normalmente está no enunciado.
- O que é o fórum shopping: é a possibilidade de escolher o tribunal competente para chegar a um
determinado resultado. O efeito negativo consequente é uma espécie de corrida aos tribunais. Está mais
explicado na pg 27 JF
-referir sempre no caso pratico, apos a introdução inicial do problema de qualificação, do principio da
não-transitividade, os conceito-qaudros de cada uma das regras de conflito, etc, temos de referir quais
são as normas materiais potencialmente aplicáveis e qualifica-la e ainda referir que temos de o fazer
segundo o artigo 15º CC (só vamos buscar normas que pelo seu conteúdo e função sejam relativas
àquele conceito-quadro.
- Conexão dependente: em vez de um direito ter, ele próprio, um elemento de conexão, está a associar-
se a outra regra de conflito.
ex: artigo 40º : para sabermos qual é a lei aplicável à prescrição temos de saber qual é a lei aplicável ao
direito que eventualmente prescreveu/caducou. -> está a dizer que não tenho de ver autonomamente
qual é a lei aplicável à prescrição, antes vejo qual a lei aplicável ao negocio e esta aplica-se à prescrição.
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Sistema de qualificação tradicional/Teoria clássica da qualificação/Teoria dupla da qualificação


– acho que não vem
Esta teoria faz uma primeira qualificação primaria, de competência (para determinar a lei
competente) e depois faz uma segunda qualificação material ou secundaria, em que se pergunta que
normas é que iriamos buscar à lei competente.
Na qualificação primaria, como foi dito supra, serve para determinar a lei competente e isto
significa que apresentamos os factos à lege fori, vamos fingir que se trata de uma situação puramente
interna (esta é uma diferença para com o nosso sistema, pois nós qualificamos normas segundo o
método de qualificação do artigo 15º CC).
Relativamente `a qualificação secundaria temos uma divergência:
- Para Ago há um chamamento indiscriminado das normas da lei competente,
chamamos todas as normas e tem como vantagem a rapidez de resolução.
- De acordo com Robertson, temos um chamamento circunscrito (só se aplicam
algumas normas, aquelas que, pelo seu conteúdo e função, versem sobre a materia do conceito-
quadro), o useja, esta parte de Robertson é igual ao nosso sistema de qualificação. A diferença é que ele
faz uma qualificação primaria e nós não. →No entanto, há um problema do método de Robertson pois,
pode não haver normas na lei competente sobre a matéria do conceito-quadro e então, senão dá para
fazer um chamamento circunscrito fazemos um chamamento indiscriminado e, nesse caso, chegamos à
mesma solução de Ago.

Notas finais:
- O método de qualificação influencia diretamente a solução que se dá ao caso;
-Esta teoria tradicional de qualificação tem desvantagens
- O nosso sistema também tem problemas – ver aulas teóricas.

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Diferença entre o sistema tradicional de qualificação e o do CC:


1. O sistema tradicional qualifica factos, o do CC qualifica normas;
2. O sistema tradicional começa por determinar qual é a lei competente, por outro lado, nós
não escolhemos uma lei competente, estamos dispostos a aplicar várias leis ao mesmo tempo para
assuntos diferentes, isto porque não fazemos uma qualificação primaria.

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Notas:
- ver na sebenta de JF o conteúdo e função das diversas normas, se fornecessario.
- Os regulamentos têm carater geral e são obrigatórios em todos os elementos e gozam de
aplicabilidade direta
- regulamento 650/2012 (Regulamento Europeu das Sucessões): só se aplica a pessoas que morreram
depois de 17 de agosto de 2015 – antes dessa data aplica-se o artigo 62ºCC.
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Conflito de qualificações
→ O nosso sistema chamou ______ leis diferentes (___ e ___) para matérias diferentes, só que
as normas chamadas são incompatíveis (isto porque os direitos civis não são matérias
estanques)
Conflitos positivos de qualificações: No conflito positivo de qualificações aplicamos leis diferentes a
matérias diferentes (até aqui é o nosso sistema ainda não começou o conflito) e as normas que
chamamos dessas duas leis diferentes são incompatíveis.
A resolução a este problema não está no CC, pois este, apesar de estabelecer método de
qualificação português no artigo 15º, não diz como resolver os problemas dos conflitos de qualificações
que é um problema é gerado exatamente por este método. Contudo, sendo este um problema
metódico, fica ao critério do julgador.
Ora, a Escola de Coimbra defende que devemos escolher entre regras de conflitos, pois já que o
problema foi criado pelo DIP, então o problema também deve ser resolvido dentro do DIP, sem
comparar soluções. Contudo, a doutrina de Coimbra também nos diz que tal nem sempre é possível,
mas quando o for que devemos privilegiar uma regra de conflitos face à outra. Falamos a este propósito
nas chamadas hierarquizações das qualificações. E neste âmbito, o Dr Ferrer Correia dá-nos três critérios
que resolvem a grande parte dos casos:
-havendo um conflito entre a qualificação-substancia e qualificação-formal, prevalece
a substância, pois esta é normalmente escolhida por um critério de proximidade, enquanto que a
conexão forma é normalmente orientada por um princípio de favor negotii.
- num conflito entre a qualificação real (lei aplicável aos direitos reais) e a qualificação
pessoal (família, sucessões, estados de pessoas, etc), prevalece a real, pois a ligação das pessoas ao seu
pais de origem é mais frágil do que a ligação das coisas ao pais onde se situam. E, para além disso, de
nada valia fazer prevalecer a qualificação pessoal quando a coisa está situada num país que rejeita essa
solução.
-num conflito entre qualificação matrimonial e a qualificação sucessória, prevalece a
matrimonial, em principio, porque já foi produzindo efeitos ao longo da vida, expetativas, enquanto que
a qualificação sucessória só produz efeitos a partir da morte (salvo uma exceção).

Senão for possível resolver o caso através destes três critérios, temos de hierarquizar as próprias
normas materiais, isto é, vamos escolher entre normas materiais (porque não foi possível escolher
entre regras de conflitos). E, neste caso, recorremos aos critérios gerais de aplicação das leis, em
que a norma especial prevalece sobre a geral.
E se ambas as normas forem gerais ou ambas as normas forem especiais devemos ir pelo
critério do tempo e, com efeito, a norma posterior (mais recente) derroga a norma anterior,
partindo do pressuposto que estão ambas a vigorar.

9
Vera Lemos

Conflitos negativos de qualificações: estamos a aplicar leis diferentes a matérias diferentes e pode
acontecer que não consigamos encontrar nas leis competentes normas da matéria pela qual foram
chamadas. No fundo não há regras para resolver o problema. O juiz pelo princípio da proibição do non
liquet, não pode não dar uma solução ao caso. *** está na pg 54/55 IS melhor explicado:
1º passo: Neste caso vamos, em primeiro lugar, proceder há hierarquização das regras de
conflito, ou seja, temos de ver qual era a regra de conflitos a prevalecer se estivéssemos perante um
conflito positivo. Ora, a lei _____ prevalece sobre ___ . Ou seja, vamos sacrificar o artigo _____, porque
prevalece a lei ______. Assim prevalece o artigo ____.
2º passo: ver pg final pg 54, inicio 55 IS
3º passo: Assim temos fazer uma qualificação subsidiária do artigo ___ que é uma forma de
adaptação. O juiz tem autorização para modificar o sistema de modo a conseguir aplicar a solução da lei
_____. Vejamos: não estamos a conseguir aplicar a norma da lei _____ porque ela foi chamada para
regular _______ e só tem uma solução _____.
Então, o juiz pode ficcionar, para este caso, que a norma ______ aplicável é uma norma de
_____ e aí já pode aplicar a norma.

______________________________
Notas:
- Em frança continua a aplicar-se o sistema lege fori (teoria traidicional da qualificação) de Ago porque
nunca gera conflitos de qualificações (problema exclusivo do nosso método). Contudo, a doutrina
portuguesa responde a esta argumento, afirmando que o problema do conflito de qualificações
raramente se verifica e quando se verifica tem solução; já os quatro problemas da dupla qualificação
acontecem sempre e não têm solução.
__________________________________

Reenvio-coordenação (vou só expor a teoria por nós adotada ou como nós fazemos o reenvio,
depois ver nas teóricas TM)
O nosso sistema de reenvio é um reenvio de coordenação, sendo uma posição pragmática
sobre este, pois utilizamo-lo como técnica para atingir a harmonia jurídica internacional (vai verificar
caso a caso se aceita o reenvio e só o aceita quando ele promove essa harmonia).

A regra geral está no artigo16º CC em que temos positivado um sistema de desfavor de reenvio
e, segundo este, em principio, não se aceita o reenvio, a menos que isso promova a harmonia jurídica
internacional, ou seja, salvo se outra coisa estiver nos artigos seguintes. Assim, para sabermos se
podemos aceitar ou não o reenvio temos de ir ao artigo 18ºCC, norma de retorno (direto ou indireto) ou
ao artigo 17º, norma de transmissão de competência (simples ou em cadeia). → IS exames ver a posição
de Ferrer Correia e batista pg2

→Para sabermos se há ou não harmonia jurídica internacional temos que começar por ver a última lei
pois o nosso sistema só decide depois de saber o que é as leis dos outros países consideram
competente.

Artigo 18ºCC: exige a aceitação do reenvio quando a lei indicada pela regra de conflitos devolver para
o direito interno (MATERIAL) português a competência (o que nos interessa é que os tribunais
competentes estejam a aplicar a lei material portuguesa) e, senão aceitarmos o reenvio vamos então à
regra geral do artigo 16ºCC.

Temos de ter em atenção no âmbito do estatuto pessoal (conjunto de atributos constitutivos da


individualidade jurídiac de uma pessoa. Em DIPrivado costuma ser regido pela nacionalidade da pessoa
ou pela sua residência habitual). Nesta matéria o nosso legislador é mais cuidadoso pois quer aplicar a
lei que a pessoa melhor conheça e ao aceitar o reenvio, nesta matéria, corremos o risco de aplicar uma
lei que a pessoa não conhece, nem tem grande conexão.

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Vera Lemos

Assim, o legislador só aceita o reenvio se houver harmonia jurídica qualificada, isto é, se as duas
leis mais relevantes para a pessoa quiserem este reenvio ****dizer sempre se estas estão de acordo por
escrito no exame*** ; caso contrário,mesmo que se tenha de prejudicar a harmonia jurídica
internacional, falha o reenvio, sendo que o legislador insiste em aplicar a lei da nacionalidade.
→Como é que isto se opera? Quando aceitamos o reenvio do artigo 18ºCC e estamos em estatuto
pessoal temos de ver o artigo 18º/2 CC, que tem os requisitos adicionais alternativos para a aceitação do
reenvio (bastando que um deles esteja preenchido). Assim, se estamos em matéria de estatuto pessoal,
a lei portuguesa só é aplicável (só fazemos o reenvio) se:
1. O interessado residir em território português;
2. Ou se a lei do país da residência considerar competente o direito interno português.

➔ Assim, se um destes requisitos se preencher vamos aplicar o direito material português.

artigo 17ºCC: Transmissão de competências simples ver outros apontamentos de dizer no


exame o inicio
(((Esta termina com três leis, pois se se tratasse de transmissão de competência em cadeia
implicaria pelo menos uma L4 e não tem limite. ))))
Neste caso temos de ir ao artigo 17º/1 CC que diz que se aceita o reenvio se a L3 se considerar
competente.

No entanto, nos casos de estatuto pessoal, o reenvio só pode ser aceite se houver harmonia
jurídica internacional qualificada, senão houver insiste-se na aplicação da lei da nacionalidade.
Ora, no artigo 17º/2 CC, há duas causas de cessação do reenvio alternativas:
1. O interessado residir habitualmente em Portugal;
2. Ou cessa ainda o reenvio se o país da residência estiver a aplicar a lei da
nacionalidade.
→ Se nenhuma destas causas se preencher aceitamos o reenvio; por outro lado, se uma destas causas
se preencher cessamos o reenvio e voltamos para a regra geral do artigo 16º CC

-ver pergunta final da pg 61 e inicio 62 IS casos práticos: “Isto é, em matéria de estatuto


pessoal, devíamos aplicar a lei que os dois sistemas mais importantes para a pessoa estão de
acordo?”

Principio da maior proximidade


Nota: (este princípio não tem nada que ver com o princípio da proximidade – escolha da lei com maior
ligação ao caso) tem haver com o reconhecimento das nossas decisões que abranjam bens imóveis.

O artigo 47º CC, tal como o artigo 17º/3 têm um afloramento direto de Zitelmann, o principio da maior
proximidade.

Isto é, o nosso legislador escolhe uma única lei para regular uma universalidade de bens, no entanto,
pode ocorrer o problema de, ao aplicarmos uma única lei para regular uma universalidade de bens,
estarmos a correr o risco de as nossas decisões sobre esta matéria não serem reconhecidas no pais em
que as coisas estão.
→ Assim, quando estamos a escolher uma lei para uma universalidade de bens (ex: para regular a
capacidade para dispor de bens), às vezes devemos abdicar da lei que tínhamos escolhido para a
universalidade, e submeter para a capacidade de certos bens imoveis a lei da situação da coisa.

→ O objetivo é então garantir que a nossa decisão produza efeitos no país da situação do imóvel.
Temos 2 acessões:
1. Acessão material (restrita): só abdicamos da lei que tínhamos escolhido, quando a lei da
situação da coisa tenha um regime material especialíssimo para aquele bem. ** exemplo desta acessão

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Vera Lemos

no final da pg 63 e inicio da pg 64 IS ** → Estas nomas especiais são tao importantes para o país da
situação da coisa que são normas de aplicação necessária e imediata.
2. Acessão ampla-conflitual: abdicamos da lei que tínhamos escolhido pela lei da situação da
coisa, se a sua regra de conflitos estivermos a remeter para si própria, isto é, se esta se considerar
competente. *****pg 64 IS exempo*** → Esta ultima acessão não vigora em Portugal, estava no
projeto do CC, mas não foi adotada. Escolhemos a lei da nacionalidade sempre, porque diz Ferrer
Correia que mesmo que abdicássemos, isso não era condição nem necessária nem suficiente para o
reconhecimento de sentenças estrangeiras, isto é, senão aplicássemos essa norma especial haveria uma
grande probabilidade de a nossa decisão não ser lá reconhecida.
ANTIGO CC: Ora, no anteprojeto do DIP do CC havia uma norma na qual se dizia que devia vigorar o
princípio da maior proximidade da aceção ampla quando isso se revele necessário e suficiente ao
reconhecimento das nossas decisões. Assim, em casos em que fosse necessário e fosse suficiente
vigorava o princípio. Essa norma saiu do Código o que significa que em Portugal não vigora o princípio
da maior proximidade na sua aceção ampla. Não obstante haver casos em que é necessário e suficiente,
não há nenhuma norma que nos diga isto. Por isso, não vigora o princípio da maior proximidade na sua
aceção ampla

-final pg 65 e inicio pg 66 IS ver duas questões sobre a aceção ampla

Ora, o princípio da proximidade vigora em Portugal, talvez na acessão mais restrita, não decisivamente
na versão conflitual, mas nesta versão, com 2 afloramentos:
1- Afloramento indireto – por força do reenvio, o artigo 17º/3 reativamos o reenvio cessado
pelo 17º/2 se estiverem verificados 3 requisitos:
1.1. se estivermos numa das matérias neste artigo elencadas;
1.2. se a lei nacional indicada pela norma de conflitos esteja a devolver para a lei da
situação dos bens;
1.3. e que a lei da situação dos bens se considere competente
→ Neste caso passamos de novo a aplicar o reenvio, sendo a L__ a lei comptente.
→ Porque é que este é um afloramento indireto? Na realidade é a lei da nacionalidade que está a ceder
face à lei da situação da coisa. Ora, a lei da nacionalidade era a lei mais importante para nós. Assim, se é
a própria lei da nacionalidade que se inclina perante a lei da situação da coisa, então devemos reativar o
reenvio e passar a aplicar a lei da situação da coisa.
2- afloramento direito- Há uma única regra de conflitos que consagra o principio da maior
proximidade na sua aceção ampla, o artigo 47º, cujo conceito-qaudro é a capacidade de constituir
direitos reais. Ora, se esta regra não existisse aplicaríamos a lei da nacionalidade presente no artigo
25º, portanto, o artigo 47º CC é uma regra especial em relação ao artigo 25ºCC (que tem então
capacidade geral). Neste caso temos de ver em que condições é que este artigo manda abdicar da lei
que tínhamos escolhido para aplicar, em favor da lei da situação da coisa (desde que esta se considere
competente, de contrario aplicamos a lei pessoal). → Leitura do artigo: à partida é aplicável a lei pessoal
que tínhamos escolhido, mas vamos abdicar dela em nome da lei da situação da coisa se esta se
considerar competente.

➔ Três questões sobre esta matéria que são sempre colocadas nas provas orais:
1. Por que é que isto é um afloramento indireto do princípio da maior proximidade?
Porque não foi a nossa regra de conflitos que mandou aplicar a lei da situação da coisa, foi a L2
(a lei da nacionalidade).
2. Qual é a aceção do princípio da maior proximidade que aqui em causa? Porque é
que abdicamos de aplicar a lei da nacionalidade? Foi porque a lei da situação da coisa tinha um
regime material especial para certos bens (aceção restrita), ou foi porque a lei da situação da
coisa se considerou competente? Se considerava competente, então, é na sua aceção
ampla/conflitual.
3. Por que é que o nosso legislador consagrou o art. 17º/3 CCiv., embora não vigore
em Portugal nas outras matérias todas? No sistema que consideramos o mais importante,
aplica-se a lei da situação da coisa - vigora o princípio da maior proximidade. Então, não temos

12
Vera Lemos

autoridade para o negar, quando é a lei nacional (a lei mais importante) que o tem. Se for a
própria lei mais importante a tê-lo, a inclinar-se face à lei da situação da coisa, temos que
aplicá-lo (por motivo de reconhecimento de decisões).

____________________________________
Notas:
- Retorno indireto: ex: L1 -> L2; T2 -> L3; T3 -> L1 → Ou seja, a L2 manda aplicar indiretamente a lei
portuguesa (no caso).
-Retorno direito: a lei estrangeira que consideramos competente remete o problema para a lei
portuguesa

- Hostil ao reenvio/sistema de referencia material/sistema anti-devolucionista: significa que faz uma


referencia material, ou seja, aponta para as normas materiais da L_ e desconsidera as regras de
conflitos.

- Porque é que não faz sentido nenhum dizer que este princípio (da maior proximidade) se aplica aos
direitos reais? Porque nós já aplicamos aos direitos reais a lei da situação da coisa. Então, este princípio
aplica-se a outras matérias que não aos direitos reais: regime de bens; sucessões; relações entre os
cônjuges; etc.

- lex loci deliciti: lei do lugar onde o delito foi cometido;

- Regulamento de Roma II: substitui o artigo 45ºCC para os factos ocorridos depois de 11 de janeiro de
2009. Ex: pg 71 IS, caso pratico 17

- Cláusula de exceção fechada: o artigo determina logo, à partida, a lei aplicável (ex: artigo 45º/3 que
exceciona o artigo 45º/1) ≠ cláusula de exceção formais: vale por razões de proximidade.
- Que princípios vigoram no nosso sistema de reenvio?
1. Harmonia jurídica internacional (princípio base)
2. Harmonia jurídica qualificada (funciona normalmente como um limite ao reenvio)
3. Princípio da maior proximidade (na sua aceção ampla, reativação do reenvio)
4. Princípio do favor negotii (veremos à frente)
_________________________________________________________________________---

Devolução simples: é um sistema favorável ao reenvio. Quando se remete para uma lei não é
necessariamente para aplicar as normas materiais dessa lei, é para aplicar a lei que a regra de conflitos
dessa lei estiver a indicar (por outro lado, o sistema clássico de reenvio manda aplicar a lei que a regra
de conflitos da lei designada indicar).

Regulamentos da UE
Quando recorremos a Regulamento da União Europeia não é aplicável o sistema Português de
reenvio.
Estes dizem que não há reenvio, só há referencia material, com a única exceção do
Regulamento das Sucessões, que tem um sistema semelhante ao nosso.
Os Regulamentos da UE têm vindo a eliminar o conflito de sistemas, pois vai desaparecendo o
problema de reenvio (a mesma lei que se aplica em França vai ser a mesma que se vai aplicar em Itália),
os regulamento uniformizam a lei aplicável.

______________________
Notas:
- lex rei sitae: lei onde a propriedade está situada
_______________________________

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Vera Lemos

Dupla devolução/Sistema de reenvio total (não aprofundado, como disse antes)


Sistema inglês: quando o DIPrivado Inglês faz uma dupla devolução, ele quer aplicar a mesma
exata lei que se aplicava em __ (país, no caso provavelmente será Portugal). É um reenvio total, pois
remete para as normas materiais, normas de conflito DIPrivado e até para o sistema de reenvio da lei
aplicável. → Ou seja, vai aplicar exatamente a mesma norma que o pais __ ia aplicar

Se ele reenviar para Portugal: No entanto, a lei portuguesa tem um sistema de reenvio
coordenação que decide que lei é que vai aplicar depois de ver as leis que os ouros sistemas vão aplicar
(ciclo vicioso). Ora, independentemente do que façamos a harmonia jurídica internacional vai estar
salvaguardada (é indiferente para o Tribunal Inglês qual a lei que vamos aplicar, pois se decidirmos
aplicar a L1, o Tribunal Inglês aplica a L1 e se aplicamos a L2, ele aplica a L2).

➔ Como resolver isto? 2 posições:


-Ferrer Correia: diz que a regra no nosso sistema é a do artigo 16º CC (posição de referencia
material), o que significa que não aceitamos o reenvio, abdicamos disto quando for essencial à
harmonia jurídica internacional. Assim, o artigo 17º e 18º CC são exceções que só devemos
recorrer se forem necessárias à tal harmonia.
ex: pg 18 JF →Esta tese tem como vantagem o facto de aplicarmos a lei que o nosso legislador
considerou mais próxima e não precisamos do artigo 18º/2, porque não aceitamos o reenvio (e
asism não precisamos de verificar os requisitos).

- Batista Machado: afirma que, já que, a harmonia jurídica internacional está salvaguardada
podemos fazer funcionar o principio da boa administração da justiça, isto é, o juiz deve aplicar a
lei que melhor conhece. Estamos então a aceitar o reenvio. Contudo, não esquecer, que se
aceitarmos o reenvio de um estatuto pessoal temos de ir ver os requisitos do artigo 18º/2 CC.
Esta tese tem como vantagens o facto de o juiz aplicar a lei que conhece melhor e costuma ser
a tese seguida pelos tribunais inferiores.

Nos caso de haver uma deslocação da relação jurídica (mudança do elemento de conexão)
Este é um problema dos elementos móveis, o prolema do conflito móvel ou da sucessão de
estatutos (ex: a regra de conflitos antes, à data da celebração do casamento indicava a lei francesa, e
agora indicou a lei luxemburguesa. Qual é a conexão relevante, a lei nova ou a lei comum? Como se
resolve o conflito móvel?)
Ora, segundo Ferrer Correia temos 2 notas a ter em conta:
1. Para algumas regras de conflitos, este problema não se coloca, uma vez que o
legislador cristalizou/imobilizou o elemento de conexão (ex: 53º).
2. O problema só se coloca nas situações em que ele não imobilizou (ex: 52º). Nestes
casos, Ferrer Correia diz, que à partida, se o legislador não imobilizou o elemento de conexão, é porque
a regra de conflitos indica a lei nova/mais recente. Salvo se estivermos a falar da validade de relações
jurídicas constituídas no passado, sendo que aqui vale a lei antiga. – mais atras também tem esta
materia, procurar “crist”

É muito raro o exame em que não se coloca o conflito móvel - ele não aparece claramente,
aparece dissimulado (antes residiam num lado, e agora noutro, e isto acontece frequentemente por isso
temos de saber qual a lei que está a ser mobilizada pela regra de conflitos)

__________________________________
Notas:
Caso pratico inicio: Tudo começa em saber se estamos ao abrigo desta disciplina - se é uma situação

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Vera Lemos

plurilocalizada (situação absolutamente internacional), caso contrário basta mobilizar o princípio da


não-transatividade, e aplicamos a única lei que tiver contacto com o caso. Temos uma situação
plurilocalizada, pois tem contacto com vários OJ’s (dizer quais).
Temos que ver para onde estão a remeter as nossas regras de conflitos, para perceber
exatamente que leis é que estão a ser chamadas. Para isso utilizamos regras de conflitos que nos são
dadas no enunciado. Que regras de conflitos são dadas? ____ (dizer quais são e dizer o titulo; se
estivermos perante um Regulamento dizer sempre que foi um fenómeno de europeização do DIPrivado
- as regras de conflito nacionais vão sendo substituídas por regras de conflitos europeias e dizer o
âmbito do Regulamento). → Depois disto:
Ora, temos de qualificar os conceito-quadro de forma autónoma (em relação ao direito
material português) e teleológica (abrangendo aqui todas as figuras similares) →dizer sepre o tipo de
elemento de conexão (moveis, etc; e subsidiaria etc).
De seguida dizer algo tipo isto “Em matéria de capacidade as normas que aplicamos são as
portuguesas; à lei portuguesa vamos buscar as normas que, pelo seu conteúdo e função, sejam relativas à
capacidade.”. “Em matéria de relação entre os cônjuges vamos buscar normas à lei espanhola; à lei espanhola
vamos buscar todas as normas que, pelo seu conteúdo e função, sejam relativas à relação entre os cônjuges.” “Em
matéria de regime de bens vamos buscar normas à lei espanhola; à lei espanhola vamos buscar todas as normas
que, pelo seu conteúdo e função, sejam relativas ao regime de bens.” Em matéria de contratos vamos buscar
normas à lei espanhola; à lei espanhola vamos buscar todas as normas que, pelo seu conteúdo e função, sejam
relativas a contratos.”
E a seguir vamos qualificar as normas materiais, dizer isto: Falta-nos a qualificação
(caracterização), e nós caracterizamos normas - de todas as leis em contacto (temos de elencar as várias
normas potencialmente aplicáveis de todas as leis em contacto, e depois caracterizá-las, subsumi-las
num conceito-quadro, perceber de que matéria elas tratam e ver se estão ou não a ser chamadas). Se
elas se aplicarem mobilizamo-las, caso contrário não: artigo x (explica-lo, dizendo o conteúdo e função).
Atendendo ao seu conteúdo e função (segundo o artigo 15ºCC), parece que se subsume à x regra de
qualificação, pelo que é aplicável a lei ___ (dizer país).

IMPRIMIR: Regulamento 593/2008; Regulamento 1259/2010 (sobre o divorcio quando for depois de 21
de junho de 2012)

Conexão dependente: é uma regra de conflitos que não tem elemento de conexão, e fica a depender de
outra regra de conflitos (ex: artigo 55º remete para o 52º)

Artigo 1790ºCC: a doutrina toda concorda que esta é uma norma sobre divórcio (no entanto, no exame
dá-se a cotação toda se dissermos regime de bens, temos é de acertar nos fundamentos)

«Quase todos os sistemas africanos têm referência material exceto Angola, Moçambique, Cabo Verde e
companhias limitadas - porque lá vigorava o nosso CCiv. com o nosso sistema de reenvio

Questões processuais
Em questões processuais aplicam-se sempre as normas processuais do foro (as regras de
conflito são só para as normas substanciais) porque não são relevantes para o mérito da decisão (ex:
saber quantas testemunhas há, qual o prazo da petição inicial, saber o que pode estar na contestação,
etc).
Por outro lado, no âmbito das presunções não vale a lex fori, pois tratamos as presunções de
culpa como direito material, e assim só aplicamos as da lei competente indicada pela regra de conflito.
Isto porque as presunções têm influencia no mérito da causa.

Transmissão de competências em cadeia


Primeiramente é de notar que o artigo 17º/1 CC só prevê, literalmente, a transmissão de competência

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Vera Lemos

simples. Para aceitar o reenvio da transmissão de competências em cadeia (para que fizesse sentido),
era preciso estende-lo teleologicamente e exigir 2 requisitos:
1. Que a L4 (visto que a transmissão em cadeia tem de ter, pelo menos, 4 leis) se considere
competente (resulta diretamente da letra do artigo).
2. Que a referencia da L2 para a L3 seja uma referência global, ou seja, uma devolução simples
ou uma dupla devolução (não pode ser uma referencia material, isto é, hostil ao reenvio)
→Não se verificando os requisitos do artigo 17º/1 não se aceita o reenvio. E, nesses casos vai-se para o
princípio geral do art. 16º CCiv. onde se diz que, em falta de preceito em contrário (arts. 17º e 18º
CCiv.), fazemos uma referência material. No fundo, se o reenvio não promovia a harmonia jurídica
internacional, então aplicamos a lei que quereríamos aplicar

De notar que, em alguns casos que tenhamos aceite o reenvio, por vezes, o legislador trava esse reenvio (causas de
cessação do reenvio: 17/2). Isto, porque, se estivermos perante um caso de estatuto pessoal, o reenvio só pode ser
aceite se houver HJIQ (é o acordo entre as 2 leis mais qualificadas/importantes quanto à lei a aplicar - a lei da
nacionalidade e a lei da residência) e, senão houver, o legislador assegura que a lei que se vai aplicar é a lei que a
pessoa melhor conhece, a lei da nacionalidade.
→ Assim, o fundamento do nosso sistema de reenvio é a harmonia jurídica internacional e se este não se verificar,
nós paramos o reenvio.
No entanto, Ferrer Correia, diz que a HJIQ é um fundamento autónomo de reenvio (posição da
jurisprudência). Lima Pinheiro discorda, afirmando que, de facto, devia ser assim, mas não há fundamento legal. (pg
65 JF)

_________________________________
Notas:
Situação em que as coisas estão em mais do que um país e se manda aplicar a lei da situação da coisa.
Nestes casos temos de criar uma transmissão de competências para cada imóvel, ou seja, dividir o
esquema em vários; subdividindo o caso em vários casos (e não uma transmissão de competências em
cadeia ilimitada ex: L20). → Imaginemos o caso em que uma senhora tinha bens em Inglaterra, Bélgica,
Hungria e Dinamarca, fazemos um esquema L1-L2-L3 para os bens de Inglaterra e um esquema igual
para os bens na Bélgica, etc. (Às vezes no exame, com a fúria toda de lá estar porque disseram que era muito difícil,
bloqueamos e acabamos por fazer um esquema do estilo árvore de natal (não é nem retorno, nem transmissão de competências,
é árvore de natal e não há artigo para árvores de natal))

_____________________________________________
Princípio a favor negotii
O nosso sistema de reenvio tem vários princípios (harmonia jurídica internacional; harmonia
jurídica qualificada; princípio da maior proximidade), sendo um deles o princípio do favor negotii.
Quando a solução a que chegarmos através do sistema de reenvio for a da invalidade do negócio
jurídico, temos o favor negotii que funciona como limite ao reenvio.
Ou seja, ele existe de modo a protegerem-se as expetativas das partes na validade de um negocio
jurídico à luz de certa lei. Portanto, em nome desta expetativa, o nosso legislador está disposto a cessar
o reenvio, e isto está consagrado no art. 19º/1 CCiv.
Assim, vamos ao art. 19º/1 CCiv ver os requisitos de funcionamento (cessa o disposto no art.
17º e 18º CCiv. - o reenvio -, voltando a valer o princípio geral do art. 16º CCiv.):
1. Se por força do reenvio resultou a invalidade ou ineficácia de um negocio jurídico.
2. E tem desse tratar de um negocio que seria valido pela regra do artigo 16º.

➔ Se estiverem preenchidos estes requisitos cessamos o reenvio. Isto significa que o legislador,
em nome do favor negotii, abdicou do principio da HJI.

Ora, esta resolução simplista é a proposta da Escola de Lisboa. No entanto, segundo a Escola de Coimbra
e Ferrer Correia, tem de haver, efetivamente expetativas das partes, senão não deve funcionar este
artigo. Assim, exige dois requisitos adicionais:

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Vera Lemos

1. Isto só vale para negócios já celebrados, isto é é para reconhece-los, pois se o negocio for
ainda a celebrar, não há expetativas.
2. E só se as partes contavam que a L___ fosse competente, porque se elas confiassem na
aplicação da L____, não faria sentido validar o negocio. → Mas como é que sabemos que as partes
confiavam na aplicação da L__ ? Ora, temos de saber se as partes foram ver a regra de conflitos do foro
(nos nossos casos, a portuguesa) e só podemos presumir que elas foram ver a regra de conflitos do foro
se, no momento da celebração do negocio, havia algum contacto com a ordem jurídica portuguesa
(podem ter ido ver o reenvio, ou perguntar ao advogado qual era a lei aplicável, etc).

De notar que o princípio do favor negotii está como fundamento autónomo em duas regras de conflitos:
no artigo 36º/2 e no artigo 65º/1 parte final/in fine.

artigo 19.º, n.º 2: não é uma regra de conflitos, mas sim um preceito esclarecedor dos casos em que não
é admitido reenvio, em particular respeitante ao modo como a autonomia conflitual se articula com a
resolução de conflitos de sistemas de DIP por via do reenvio.

Nota.: Por isso que normalmente se diz que a conexão ‘’escolha das partes’’ é uma conexão inimiga do
reenvio, que não é favorável ao reenvio, porque é uma conexão pela sua razão de ser é uma conexão
que não comporta reenvio.

Teoria do reconhecimento dos direitos adquiridos (outro instituto do principio a favor negotii)
Este é um expediente que nos vai permitir reconhecer negócios jurídicos que não são válidos
para a lei competente (e que já foram constituídos no estrangeiro), mas que, o artigo 31º/2, nos mande
reconhecer porque são validas para uma outra lei particularmente relevante, a lei da residência.
Esta teoria está baseada no principio jurídico a favor negotii, uma vez que visa proteger as
expetativas que as partes depositaram no negocio jurídico e que não é valido para a lei competente.
Vigora no DIP português para as matérias de estatuto pessoal (31º/2).

Este artigo tem quatro requisitos literais:


1º: temos de estar perante matéria de estatuto pessoal:
2º: temos de estar perante um negócio jurídico, porque este é um mecanismo de
tutela de expetativas das partes.
3º: tem de ter sido celebrado no pais da residência habitual;
4º: E o negócio tem de ser válido para a lei da residência (parte substantiva) e que esta
se considere competente (parte conflitual).

E temos ainda três requisitos doutrinais (porque estes podem não chegar, uma vez que o artigo
31º/2 é um mecanismo, de certo modo, violento para o nosso sistema conflitual):
1º: Não pode existir uma sentença judicial estrangeira sobre este problema, porque
senão não se trata do problema do conflito de leis do DIP, mas sim do problema de reconhecimento de
sentenças estrangeiras.
2º: temos de estar perante uma situação consolidada, isto é, já tem de ter passado um
certo lapso de tempo desde a celebração do negocio.
3º: e a questão tem de ter sido suscitada a titulo principal e não a titulo incidental
(como exceção noutro processo). → Preenchidos todos os requisitos podemos reconhecer a validade
do negocio.

→ De notar que a doutrina e a jurisprudência propõem uma flexibilização teleológica do artigo


31º/2CC, para corresponder à sua ratio. Assim, se o 3º não se verificar, a doutrina e a jurisprudência
consideram que não há problema nenhum, uma vez que estamos perante um principio e não uma regra
escrita.

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Vera Lemos

Nota (sobre esta matéria): O sistema do reconhecimento dos direitos adquiridos, é um


mecanismo da Parte Geral do DIP português, o que significa que só é moilizável quando estivermos
perante regras de conflitos de fonte interna/nacional (e não quando estivermos a utilizar regras de
regulamentos da UE).

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Notas:
-nunca esquecer de referir o artigo 15º CC: apenas se considera competente a norma que se enquadra
no conceito-quadro da regra de conflitos. NUNCA ESQUECER

- ORAIS: Porque é que o art. 31º/2 CCiv. denega o juízo conflitual do foro? É a escolha da lei aplicável, e
queríamos aplicar a lei da nacionalidade. E que lei é que acabamos por aplicar? A lei brasileira - como o
negócio é valido para a lei brasileira, nós reconhecemos em nome do favor negotii. E como tal,
denegamos a nossa escolha conflitual - acabámos por aplicar a lei da residência e não a lei da
nacionalidade. – pg 75 sebenta JF

- Muitas vezes há problemas de reenvio e a seguir um problema de reconhecimento de direitos


adquiridos (quando nós utilizamos o reenvio para determinar qual a lei que consideramos competente,
e se no fim chegarmos a um negócio que ficou inválido, então podemos mobilizar o expediente do favor
negotii). Tentamos primeiro o art. 19º CCiv. (faz cessar o reenvio), e se não resultar vamos ter de tentar
o 31º/2 CCiv.. O art. 19º CCiv. é mais imediato, o outro é mais cauteloso - no fundo, denega a nossa
regra de conflitos (mais violento), dizia uma coisa e aplicamos outra.

-Pode não sair um caso de reenvio no exame: se a lei que a nossa regra de conflitos manda aplicar (a lei
que nós consideramos competente) se considera competente

-Caso em que o negocio jurídico é inválido à luz da nossa lei, mas válido à luz de lei estrangeira, ou seja,
casos de reconhecimento de direito adquiridos; introdução: “Quando se determina a invalidade do
negocio jurídico, temos que nos relembrar que o nosso DIP não se preocupa só com os princípios da
harmonia jurídica internacional, etc, mas também com o principio a favor negotti, de modo a tutelar as
expetativas das partes. *Explicar o artigo 19º e 31º/2*”

- Há alguns sistema de DIP que não se enquadram nos sistemas clássicos de reenvio (há sistemas mistos,
por exemplo, o Peru só aceita o reenvio na modalidade de retorno – como se fosse uma devolução
simples), o que significa que se estivermos perante uma transferência de competências, não aceita o
reenvio (faria uma referencia material).
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Ordem publica internacional


Primeiramente é de referir que a ordem publica internacional é diferente da ordem pública do
artigo 280º/2 do CC, pois esta ultima trata-se da ordem pública interna.
Ora, a ordem pública interna é o conjunto das normas imperativas de certa lei, por outro lado,
a ordem pública internacional é um mecanismo de evicção da lei estrangeira, isto é, é um expediente
que permite ao juiz não aplicar uma norma estrangeira que foi considerada competente nos termos do
DIP. Assim apercebemo-nos que a ordem pública internacional é um conceito muito mais estrito do que
o da ordem publica interna, isto é, nós não fazemos funcionar o artigo 22º só porque ele viola normas
imperativas portuguesas, este mecanismo só funciona quando estejam em causa princípios cuja violação
se tenha por absolutamente intolerável.
De notar que, a maioria dos princípios constitucionais, são princípios tutelados pela ordem
pública internacional e, portanto, temos, no fundo, dois círculos concêntricos e que só são da ordem
pública internacional o conjunto de princípios e de normas que o Estado português não permite em caso
algum a sua violação. Então apercebemo-nos com o que foi dito supra que só fazemos funcionar a
ordem pública internacional se, não só a lei estrangeira é diferente da nossa, como da sua aplicação
resulta uma violação dos princípios mais fundamentais da ordem jurídica portuguesa.

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Vera Lemos

Ora, as normas de aplicação necessária e imediata também tutelam os interesses político


legislativos mais fundamentais da ordem jurídica do foro e portanto, estas tem uma ligação com a
ordem pública internacional, uma vez que estas também tutelam interesses fundamentais da ordem
jurídica do foro.
Contudo, há uma diferença entre estes dois institutos, pois, enquanto que, as normas de
aplicação necessária imediata funcionam antes de vermos a regras de conflitos, a ordem publica
internacional funciona depois de aplicarmos a lei estrangeira.
Então, primeiro fazemos funcionar o DIP e vamos aplicar a lei estrangeira e só se o resultado a
que conduz a lei estrangeira for manifestamente intolerável e chocante é que no fim funciona a ordem
pública internacional. →Pg 20/21 IS exames o resto a partir da excecionalidade

Ora, A refere que o argumento utilizado por C vai contra os princípios fundamentais de proteção do
matrimonio da ordem jurídica portuguesa. Neste âmbito, é de referir que a ordem publica internacional
é diferente da ordem pública do artigo 280º/2 do CC, pois esta ultima trata-se da ordem pública interna.
A ordem pública interna é o conjunto das normas imperativas de certa lei.. Assim apercebemo-
nos que a ordem pública internacional é um conceito muito mais estrito do que o da ordem publica
interna, isto é, nós não fazemos funcionar o artigo 22º só porque ele viola normas imperativas
portuguesas, este mecanismo só funciona quando estejam em causa princípios cuja violação se tenha
por absolutamente intolerável.
De notar que, a maioria dos princípios constitucionais, são princípios tutelados pela ordem
pública internacional e, portanto, temos, no fundo, dois círculos concêntricos e que só são da ordem
pública internacional o conjunto de princípios e de normas que o Estado português não permite em caso
algum a sua violação. Então apercebemo-nos com o que foi dito supra que só fazemos funcionar a
ordem pública internacional se, não só a lei estrangeira é diferente da nossa, como da sua aplicação
resulta uma violação dos princípios mais fundamentais da ordem jurídica portuguesa.

Ora, as normas de aplicação necessária e imediata também tutelam os interesses político


legislativos mais fundamentais da ordem jurídica do foro e portanto, estas tem uma ligação com a
ordem pública internacional, uma vez que estas também tutelam interesses fundamentais da ordem
jurídica do foro.
Contudo, há uma diferença entre estes dois institutos, pois, enquanto que, as normas de
aplicação necessária imediata funcionam antes de vermos a regras de conflitos, a ordem publica
internacional funciona depois de aplicarmos a lei estrangeira.
Então, primeiro fazemos funcionar o DIP e vamos aplicar a lei estrangeira e só se o resultado a
que conduz a lei estrangeira for manifestamente intolerável e chocante é que no fim funciona a ordem
pública internacional. →Pg 20/21 IS exames o resto a partir da excecionalidade

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