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Frequência - 50%
Participação - 30%
Comentário de jurisprudência - 20%
beatrizmacedovitorino@gmail.com
ÍNDICE
REENVIO OU DEVOLUÇÃO 45
FRAUDE À LEI 76
QUALIFICAÇÃO 78
VANTAGENS DE UM ESTADO APLICAR A LEI DE OUTRO ESTADO
1. O tribunal terá competência se existir uma certa relação com ele;
Pode dar-se o caso de nenhum ser competente.
Se não fosse necessária essa relação, uma pessoa podia instaurar uma acção
no lugar onde lhe apetecesse - tem de haver um equilíbrio
2. Proximidade entre o tribunal e as provas;
3. Eficácia da decisão em termos de execução;
4. Certeza e previsibilidade - é o direito internacional privado do estado do tribunal
competente que determina qual a lei aplicável ao caso.
Não há perda de soberania se um estado aplicar a lei de outro estado - porque se isso
acontece é porque é o próprio direito internacional privado do estado do tribunal
competente que determina a aplicação da lei de outro estado.
Quando se aplicam as normas de conflito portuguesas, está a exercer-se soberania
Portuguesa. E mesmo quando se aplicam as normas estrangeiras em tribunais
portugueses, só se aplicam porque o próprio direito português o permite - por isso, é
igualmente um exercício de soberania.
Em 30 de Janeiro de 2013, ABM, sociedade comercial com sede no Texas (EUA), vendeu
à BoaBase, sociedade comercial com sede em Portugal, 10 computadores.
O contrato foi celebrado em Portugal e os computadores foram entregues em Portugal.
No contrato, as partes incluíram a seguinte cláusula: “É aplicável ao contrato a lei
brasileira”.
Qual a lei aplicável à questão, admitindo que a questão é colocada perante os tribunais
portugueses?
NOTA PARA TER ATENÇÃO: hoje em dia, a aplicabilidade do artigo 41º do CC está
muito limitada porque a RR I no seu artigo 3º consagra também esta regra segundo a
qual é permitido às partes a escolha da lei aplicável - embora com algumas
diferenças.
Assim, o artigo 41º do CC aplica-se aos contratos celebrados antes da entrada em
vigor da RR I, aos contratos excluídos do âmbito de aplicação desta convenção
(negócio em apreço não era excluído do âmbito de aplicação da RR I, por isso é que
não recorremos ao artigo 41º do CC, mas antes ao artigo 3º da RR I) e aos negócios
jurídicos unilaterais, desde que não sujeitos a regras especiais.
a. Imagine que as partes não tinham escolhido a lei aplicável. Qual é a lei reguladora do
contrato?
Art 4º nº1 alínea a) do reg: o CCV é regulado pela lei do país em que o vendedor
tem a sua residência habitual;
Art 19º nº1 do reg: residência habitual de sociedades é o local onde se situa a sua
administração central - A tem sede no Texas, por isso, tem residência habitual no
Texas.
A lei aplicável é a dos EUA.
Contudo, os EUA são um ordenamento jurídico complexo:
• Art 22º nº1 do reg - lei aplicável é a do Texas.
Quer o aluguer quer a prestação de serviços são feitos pela mesma parte. Por isso,
poderemos aplicar a alínea b) e, deste modo, a lei aplicável é a lei do Texas:
• Art 4º alínea b) + art 19º + art 22º.
Mas podemos considerar o art 4º nº3 - há uma conexão mais estreita com Portugal.,
uma vez que tanto o contrato de aluguer como o de prestação de serviços devem ser
cumpridos em Portugal. Deste modo, aplicar-se-á a lei portuguesa.
Art 4º nº4 do reg - lei espanhola é onde há a conexão mais estreita tendo em conta
o lugar da prestação de facto. Por isso, aplica-se a lei Espanhola.
Art 4º nº1 da CR II: aplica-se a lei do país onde ocorreu o dano, ou seja, neste
caso, a lei portuguesa uma vez que foi lá que ocorreu a colisão.
Depois mencionar sempre art 15º
a.Imagine que, durante a pendência da ação, Armande e Benito acordam entre si que a
lei que deve regular o ressarcimento dos danos é a lei alemã. Quid juris?
Art 14º nº1 alínea a) da CR II: as partes podem subordinar obrigações extra
contratuais a uma lei da sua escolha desde que:
• A convenção seja posterior ao facto que deu origem ao dano; OU caso todas as
partes desenvolvam atividades económicas mediante uma convenção anterior ao
facto que deu origem ao dano;
• A escolha não prejudique os direitos de terceiros;
• A escolha seja expressa ou decorra das circunstâncias do caso.
Neste caso, as partes escolhem a lei alemã na pendência da ação, pelo que escolhem
em momento posterior à colisão dos veículos, a escolha é expressa e, à partida, não
prejudica direitos de terceiros. Deste modo, a lei aplicável será a alemã.
b.Considere que Armande tem residência habitual na Espanha. Qual é a lei aplicável?
Temos de ponderar a aplicação do reg nº1259/2010 (CR III), uma vez que perante
um caso de divórcio. Para tal temos de analisar os âmbitos de aplicação:
• Temporal: art 21º - está preenchido, uma vez que aplica-se a partir de 21 de
junho de 2012, e no caso o divórcio é pedido a 24 de maio de 2014;
• Material: art 1º - está preenchido, uma vez que se trata de um divórcio e não diz
respeito a nenhum caso disposto no nº2;
• Espacial: está preenchido, uma vez que se trata de uma situação transaccional;
• Territorial: o estado do foro ser um estado membro - está preenchido, Portugal é
um estado membro e foi onde a ação foi proposta.
a.Imagine que Bernardo tinha ido viver sozinho para a Lituânia e tinha intentado a ação
nesse país. A sua resposta alterava-se?
c.Imagine que as partes escolheram como lei aplicável o Direito marroquino, que concede
ao cônjuge homem o direito de se divorciar através do repúdio unilateral (talak). Bernardo
intenta ação de divórcio em Portugal, fundamentando o seu pedido no direito de repúdio
unilateral (talak). Como deve o juiz atuar?
António, que nasceu em Londres e é nacional francês e do Reino Unido, veio viver a sua
reforma para o Algarve. Desde 2010 que vive em Albufeira, tendo anteriormente vivido em
Paris. Em 2011, adotou plenamente Bernardo, cidadão português com residência habitual em
Portugal. António falece, em 20 de Agosto de 2017, com bens imóveis em Portugal. Deixou
testamento no qual estipulou que à sua sucessão deve ser aplicado o direito material inglês.
Diga qual é a lei aplicável à sua sucessão?
Art 22º nº1 do reg: uma pessoa com nacionalidade múltipla (como é o caso de A)
pode escolher a lei de qualquer dos Estados de que é nacional no momento em que
faz a escolha. A é nacional de França e do Reino Unido, pelo que pode escolher um
destes dois ordenamentos jurídicos, desde que no momento da escolha já tivesse
essas duas nacionalidades.
A lei aplicável será a lei inglesa.
Tendo em conta que foi no seu testamento que A deixou expresso a escolha da lei
aplicável à sua sucessão, se morresse intestado significaria que não tinha feito
escolha da lei aplicável.
Art 21º nº1 do reg: a lei aplicável é a lei do estado onde o falecido tinha residência
habitual no momento do óbito. No momento do óbito, A tinha residência habitual em
Portugal, uma vez que desde 2010 vivia em Albufeira - por isso, a lei aplicável é a
portuguesa.
Deste modo, a resposta seria diferente da anterior.
António pretende casar-se. É alemão e vive em Portugal, mas está a pensar emigrar para a França.
A lei alemã (lei da nacionalidade) impede o casamento de António, ao contrário da lei francesa e
da lei portuguesa (lei da residência habitual), que permitem o casamento.
A. Supondo que não existem normas de conflitos nos três países em causa e que, em cada um
deles, é aplicado o direito material comum como método de regulação de situações privadas
internacionais:
B. Existindo normas de conflitos nos três países e tendo em consideração essas normas:
O método conflitual (regulação indireta) procura qual das leis em presença apresenta
a melhor ligação com o caso concreto. A escolha é feita através da definição de
critérios.
Tem como vantagem a preservação da identidade cultural dos vários direitos, mas
tem como desvantagem a dificuldade em determinar qual a conexão mais estreita ou
significativa da relação jurídica.
Esta é o método vigente em Portugal - normas de conflito de base bilateral, ou seja,
normas que remetem tanto para o direito do foro como para o direito estrangeiro.
c.se António se quiser casar na Alemanha, pode fazê-lo, sabendo que a norma de conflitos
alemã aplicável ao casamento remete para a lei da nacionalidade?
No método conflitual procura-se qual das leis em presença apresenta a melhor ligação
com o caso concreto. A determinação da norma aplicável é, então, feita por normas
de conflitos, que têm em causa os melhores critérios a ter em conta.
Contudo, a norma de conflitos brasileira aplicável a este caso remete para a lei
do domicílio, ou seja, para a lei portuguesa, uma vez que Luisão reside
habitualmente em Portugal.
Conclusão: lei portuguesa (art 49º + art 31º) remete para a lei brasileira. A lei
brasileira aplicável ao caso remete para a lei portuguesa.
Nesta sequência, estamos perante um caso inserido no âmbito do art 18º do
CC, uma vez que a lei designada pela norma de conflitos (art 49º do CC) - lei
brasileira - devolve a resolução da situação para o direito interno português.
A lei portuguesa, no seu artigo 49º do CC, remete para a lei da nacionalidade, ou
seja, para a lei brasileira.
Aplicamos a lei brasileira e esta impede o casamento de Luisão, pelo que ele não se
poderá casar no Brasil.
Discute-se, em janeiro de 1977, perante tribunais portugueses qual a lei reguladora dos efeitos do
casamento celebrado entre Aníbal, cidadão italiano, habitualmente residente em Portugal e Berta,
cidadã espanhola, habitualmente residente em França. Diga, justificadamente, qual é a lei reguladora
dos efeitos do casamento, sabendo que:
a) de harmonia com o art. 36º nº3 da CRP de 1976, “os cônjuges têm iguais direitos e deveres quanto à
capacidade civil e política e à manutenção e educação dos filhos.
c) Em janeiro de 1977, o artigo 31.o, n.o 1, do Código Civil tinha redação idêntica à atual;
d) Os cônjuges residiam ambos em França entre 1960, data em que casaram, e 25 de abril de 1974, data
em Aníbal abandonou o lar conjugal e se fixou em Portugal.
Não obstante, a aplicação do art 52º do CC levanta um grave problema: este artigo
é inconstitucional, por ser contrário ao disposto no art 36º nº3 da CRP.
Este artigo da CRP consagra o princípio da igualdade entre os cônjuges e o art
52º, no seu nº2, 2ª parte viola esse princípio na medida em que determina que,
na falta de nacionalidade ou de residência habitual comuns, aplica-se a lei pessoal
do marido.
Estamos perante um caso que diz respeito a uma das 4 liberdades europeias: a
liberdade de estabelecimento (de um nacional de um estado membro no território
de outro estado membro).
As outras liberdades são: liberdade de circulação de pessoas, liberdade de circulação
de mercadorias e serviços e liberdade de circulação de capitais.
Prof. Dário Moura Vicente - só mesmo quando for possível identificar efetivamente
uma das quatro liberdades é que se preferirá a nacionalidade europeia, caso contrário
Sub-hipótese
Qual a lei pessoal de Paco (segundo as normas de conflitos portuguesas)?
P tem dupla nacionalidade, pelo que para esta determinação temos de recorrer
ao artigo 28º da Lei da Nacionalidade, uma vez que estamos perante um conflito
de nacionalidades estrangeiras (mexicana e italiana). Segundo este artigo:
• Releva a nacionalidade do Estado em cujo território o indivíduo tenha a sua
residência habitual;
• Na falta desta, releva a nacionalidade do estado com o qual o indivíduo mantenha
um vínculo mais estreito;
• Sendo presumível que P tem a sua residência habitual em Portugal e não tem
nacionalidade Portuguesa, a nacionalidade que prevalecerá será a do Estado com
o qual mantém uma conexão mais estreita - a lei pessoal de P é a lei
mexicana.
Estamos perante uma situação jurídica plurilocalizada, na medida em que é #um caso
com pontos de contacto com várias ordens jurídicas: Dinamarca, local de nascimento
de C e residência habitual de A e B; Alemanha nacionalidade de A e B.
Acórdão 14 de Out de 2008: uma norma de conflitos nos termos da qual o nome
de uma pessoa deve ser determinado de acordo com a lei da sua nacionalidade não é,
por si só, incompatível com o disposto no artigo 12.° CE/18º TFUE (é proibida toda e
qualquer discriminação em razão da nacionalidade).
Ou seja, a norma de conflitos alemã não é, por si só, incompatível com o art
18º TFUE. Que significa que não é por si só discriminatória em razão da
nacionalidade.
Porém, uma norma deste tipo deve ser aplicada de modo a respeitar o direito que
assiste a todos os cidadãos da União de circularem e permanecerem livremente no
território dos Estados-Membros (está em causa uma das 4 liberdades europeia, mais
concretamente a liberdade de circulação);
Este direito (de livre circulação pelos estados membros) não é respeitado quando um
cidadão foi registado com um determinado nome, de acordo com o disposto na lei
aplicável no seu lugar de nascimento, antes de ser necessário o registo do seu nome
noutro Estado, e lhe é seguidamente imposto o registo de um nome diferente noutro
Estado-Membro;
Ou seja, quando o estado alemão não permite que C seja registado com o nome
que já foi registado na Dinamarca, não está a respeitar o direito de livre
circulação que assiste aos indivíduos dos estados membros.
AUTONOMIA DO DIP
DÁRIO MOURA VICENTE: regras de DIP têm de se sujeitar aos princípios da CRP.
Tem uma posição intermédia. Poderá aplicar-se o nosso ordenamento contrário à CRP
se não estiver em causa ou a ordem pública internacional ou a ordem pública interna.
Nos casos em que o foro é português, mas a conexão com esse estado é mínima,
porquê aplicar a nossa CRP? Só estão vinculados à CRP quando for um caso de ordem
pública interna. Quando não for um caso de ordem pública interna, poder-se-á aplicar
o DIP, mesmo contrário à CRP.
LIMA PINHEIRO: o carácter formal das normas de DIP (certeza/segurança/
estabilidade jurídica) não significa neutralidade valorativa. O DIP tem a sua própria
justiça e os seus próprios valores, que estão relacionados com a justiça e os valores
da ordem jurídica no seu conjunto;
FERRER CORREIA: DIP tem valores que se têm de sujeita ao crivo da CRP. As
normas de conflito não são regras técnicas axiologicamente neutras. Apesar do cunho
de justiça das normas de DIP ser predominantemente formal (ou seja, baseado na
certeza e estabilidade jurídica), a disciplina de DIP está aberta a certos juízos
jurídico-materiais - é ilícito ignorar princípios, consagrados na CRP, que figuram no
quadro dos valores axiológicos do Estado
2. Pode aplicar-se lei estrangeira, mesmo se ela for contrária à nossa CRP?
DÁRIO MOURA VICENTE: o artigo 204º da CRP não está pensado para a lei
estrangeira, uma vez que a CRP não tem pretensão de aplicação universal.
A CRP não pode obstar à aplicação de todas e quaisquer normas estrangeiras por
estas serem contrárias às suas prescrições, porque isso nem sempre se justificará.
O relevante neste ponto, é sabermos se aplicamos uma lei estrangeira e ela não é
aplicável no sistema a que pertence - a relevância não é a lei ser inconstitucional, é
antes não sei aplicada.
Q u a n d o j á h o u v e u m a d e c i s ã o c o m f o r ç a o b r i g a t ó r i a g e ra l s o b r e a
inconstitucionalidade - não se poderá aplicar essa norma, é a opinião do prof DMV.
Quando não houver decisões com força obrigatória geral, mas quando há tribunais
que já tenham considerado, em sede de fiscalização difusa, uma certo preceito
inconstitucional um considerável número de vezes, essa norma já não se poderá
aplicar. Se o julgador português conseguir dizer que uma norma já foi desaplicada x
vezes e, por isso, consigo dizer que não será mais aplicável, então ela não se
aplicará.
EM CONCLUSÃO
Partimos da lei portuguesa, na qual está em causa uma situação que se subjaz ao art
28º CC – o negócio jurídico celebrado em Portugal por pessoa que seja incapaz
segundo a lei pessoal competente (lei argelina: art 31º, nº 1 CC) não pode ser
invalidado com fundamento na incapacidade no caso de a lei interna portuguesa, se
aplicável, considerar essa pessoa como capaz
Os pressupostos deste artigo estão preenchidos, porque em Portugal a maioridade
adquire-se aos 18 anos, por isso, para a lei portuguesa A é capaz.
Assim, António não poderia anular o contrato.
Sub-hipótese
Suponha que não existem os artigos 25.º a 32.º do Código Civil e que, em vez deles, a
nossa norma de conflitos era a seguinte: «as normas relativas ao estado e capacidade das
pessoas aplicam-se aos portugueses, mesmo que residentes em país estrangeiro». ()
António tinha razão?
Supondo que não se aplica o RRII, nem as normas dos artigos 25.º a 32.º do CCiv,
mas sim a norma de conflitos unilateral constante do enunciado, esta norma teria de
ser bilateralizada, visto haver uma lacuna na proteção das pessoas no estrangeiro, de
modo a ter o conteúdo normativo de “a capacidade e o estado de qualquer pessoa
aplica-se-lhe independentemente de onde esteja ou resida”. Contudo, poder-se-ia
ainda defender que mesmo neste caso António não teria razão e o NJ não seria
anulável, pois parece poder haver uma lacuna oculta quanto à necessária proteção da
confiança legitimamente fundada, sendo necessária uma bilateralização perfeita.
[Dar-se-á a matéria do preenchimento de lacunas adiante]
pessoal;
❖ O artigo 28º nº1 é uma exceção a essa regra, porque determina que quando:
- O nj é celebrado em Portugal;
- A lei pessoal determina a incapacidade;
- A lei portuguesa determina a capacidade;
❖ Prevalece a lei portuguesa e o nj não é anulado - para proteção do outro
contraente;
❖ O artigo 28º nº2 é uma exceção à exceção - quando:
- O nj é celebrado em Portugal;
Sub-hipótese 1
E se a empresa tivesse sede estatutária em Portugal e sede principal e efetiva da
administração na África do Sul?
Embora tivéssemos dito que o RRI não é aplicável, é defensável a aplicação analógica
do artigo 13.º do RRI às pessoas coletivas [sendo a revelação da lacuna justificável
Sub-hipótese 2
E se a empresa tivesse sede estatutária no Brasil e sede principal e efetiva da
administração na África do Sul?
Para haver uma BILATERALIZAÇÃO PERFEITA seria - quando nenhuma das sedes for
em Portugal, só podia ser invocada se não prejudicasse interesses de terceiros
contraentes.
Reenvio de 1º grau
L1 (lei da nacionalidade)
Reenvio de 2º grau
L1 —> L2 —> L3
L3 —> L2
Logo aplica-se a L2
Face a este dano, J propõe uma ação contra P, num tribunal Português, onde pretende
obter uma indemnização por tais danos - só que há uma particularidade:
• Uma das cláusulas dispunha que qualquer responsabilidade de P seria excluída,
nomeadamente a que resultasse de vícios no cumprimento da prestação;
De facto, existe uma norma estrangeira que regula a mesma matéria e que
estabelece uma relação mais estreita com o contrato - a lei suíça, uma vez que o
contrato é executado nesse território.
• Assim, a lei suíça é aplicada por força do artigo 23º da LCGG;
• Mas também o é por força do artigo 9º nº3 da CR I. Este artigo determina
que se dê prevalência à aplicação das NAN estrangeiras se:
- pertencer à lei do país onde as obrigações decorrentes do contrato têm de
ser executadas - ou seja, pertencer à lei do lugar do cumprimento do
contrato;
- Segundo esse norma a execução do contrato é ilegal.
- Estes dois pressupostos estão verificados, o lugar de cumprimento do contrato
é na suíça; segundo a lei suíça a execução do contrato é ilegal, uma vez que
para essa lei uma vez que uma das clausulas é inválida.
• Aplicando-se esta regra da LCCG suíça, a cláusula é inválida, pelo que P
terá de pagar pelos danos causados a J.
Sendo a lei portuguesa a regular o contrato, são chamados os artigos 21º, 22º e 23º
da Lei das CCG - POR REMISSÃO DO ARTIGO 9º Nº2 DA CR I.
Sendo a grande questão saber se a cláusula de exclusão da responsabilidade de P é
válida ou não, o artigo relevante é o 21º alínea d) da LCCG: são absolutamente
proibidas as CCG que excluam os deveres que recaem sobre o predisponente em
resultado de vícios da prestação.
O art. 9º nº2 da CR I faz com que se remeta para a lei do foro, neste caso, para a lei
portuguesa, por referência material, então aplicam-se as NAN Portuguesas.
Mas quando a lei portuguesa remete ainda para uma lei estrangeira (reenvio de 2º
grau) - é que se aplica outra lei que não a portuguesa por força do artigo 23º, é uma
referência global.
Quando a lei portuguesa não remeta para outra lei, aplica-se a lei portuguesa, por
remissão material - não há reenvio de 2º grau.
Art 9º nº2 da CR I
Aplicam-se as NAN
estrangeiras
portuguesa;
❖ O art 23º não confere vontade de aplicação às lei portuguesa porque há outra
NAN estrangeira, que regula a mesma matéria e apresenta uma relação mais
estreita com o contrato;
CASO 14
A e B, britânicos nascidos em Londres, casados há 10 anos, vivem em Portugal há 5.
Recentemente, A decide vender, sem o consentimento de B, a casa de morada de família
(situada em Portugal). Na ação intentada por B contra A, este vem dizer que vendeu a casa
legitimamente, na medida em que se aplica o direito inglês, que se considera competente para
resolver a questão e não contém regra equivalente à do artigo 1682.º-A, n.º 2, do CC
português.
Quid juris?
Quanto à concretização do elemento de conexão - faz-se pela lei causae, ou seja, pela
lei inglesa.
Será o direito do estado inglês a concretizar a nacionalidade.
A nacionalidade é inglesa.
A norma de direto material inglês diz respeito às relações entre cônjuges, regulando o
ponto específico das suas relações relacionadas com a casa de morada de família.
Esta preocupação acrescida do direito material português não faz com que o direito
material inglês não seja subsumível à mesma norma de conflitos, porque o conteúdo
e função essencial é o mesmo, regular as relações entre os cônjuges que tenham
como objeto a casa de morada de família.
No limite, podia considerar que a norma de direito inglês era subsumível à zona
cinzenta do artigo 52º do CC.
Em 1983, António, natural de São Paulo, emigrou para a Suíça e fixou residência em
Lausanne. Em 1994, António casou-se com Elaine, de nacionalidade suíça.
Em 2012, António veio viver para Portugal e fez testamento em que instituiu como seus
herdeiros, no que respeita aos bens imóveis situados em Portugal, a sua mulher Elaine e o seu
pai Ricardo. António faleceu em 2014.
Sabendo que António:
— era considerado cidadão brasileiro pelo Direito da nacionalidade brasileiro;
— era considerado suíço pelo Direito da nacionalidade da Confederação Helvética;
— era considerado cidadão do Cantão de Vaud segundo o Direito daquele Cantão;
determine qual a lei reguladora da sucessão de António.
Em primeiro lugar, cumpre discutir a aplicação do RR IV, uma vez que a matéria
em causa é a sucessão de A.
• Âmbito material - art 1º nº1 do reg - está preenchido, uma vez que não cabe
dentro de nenhuma matéria excluída pelo nº2;
• Espacial - está preenchido, uma vez que se trata de uma situação transaccional;
• Territorial - o estado do foro ser um estado membro - está preenchido, Portugal,
que é onde a ação é proposta, é um estado membro;
• Embora estes âmbitos estejam preenchidos, o âmbito temporal não está - artigo
84º do reg, o regulamento apenas é aplicável a partir de 2015 e o A faleceu em
2014.
Caso de dupla nacionalidade - conteúdo múltiplo - norma especial - art 28º da lei da
nacionalidade - critério da residência habitual
Isabel Magalhães Colaço - não estamos perante um conceito móvel mas um conteúdo
provisoriamente indeterminado - depende da configuração da norma de conflitos,
também as categorias como caracterizamos os elementos de conexão também se
alteram. Este elemento só é indeterminado ao tempo o testamento.
Não releva a nacionalidade do cantão? Se um for soberano e outro não releva o
soberano. Releva a nacionalidade primária, ou seja, a nacionalidade suíça.
Quanto à concretização do elemento de conexão - faz-se pela lei causae, ou seja, pela
lei brasileira.
Será o direito do estado brasileiro a concretizar a nacionalidade.
Quanto à concretização do elemento de conexão - faz-se pela lei causae, ou seja, pela
lei brasileira e pela lei francesa.
• A nacionalidade tem de se estabelecer segundo o Direito do Estado cuja
nacionalidade está em causa;
• T tem dupla nacionalidade: francesa e brasileira;
• Depois de fazermos a concretização deste elemento, chegamos à conclusão que
este elemento de conexão tem conteúdo múltiplo.
Nesta sequência, a lei aplicável seria a Portuguesa, uma vez que a violação do direito
à imagem de C ocorreu em virtude de uma publicação em Portugal.
Contudo, é nos dito que Catarina sempre viveu em Paris e que não tem nenhuma
ligação especial com Portugal - mas o artigo 45º nº1 do CC não prevê o critério da
conexão mais estreita.
Por isso, ponderei a questão da cláusula de exceção:
• É uma proposição que permite afastar o direito primariamente aplicável de um
estado, quando a situação apresenta uma ligação manifestamente mais estreita
com outro estado;
• Este tipo de cláusulas intervém para corrigir a designação do direito estadual
primariamente aplicável;
Opinião DMV:
• O juiz pode afastar a norma de conflitos;
• Não cabe no art.8º/2 CC, isto é apenas uma situação em que se tem em
consideração as circunstâncias do caso concreto para determinar a lei aplicável;
• Há várias manifestações na lei de regras que mandam atender às circunstâncias
do caso concreto (art. 9º/2, 547º);
• A determinação de conceitos indeterminados também, de alguma forma, manda
atender ao caso concreto.
• Assim, DMV defende que deve-se efetivamente admitir que pode haver um
afastamento da lei designada pela Regra de Conflitos, em benefício de
uma outra lei que tenha conexão mais estreita com a situação privada
internacional - mesmo em homenagem das expetativas das partes, a
tutela da confiança;
• Houve até um acórdão do STJ que defendeu esta aplicação da cláusula de
exceção que não estava explícita na lei.
Posto isto, se seguirmos a opinião do prof DMV poder-se-ia aplicar a lei francesa.
Art 46º do CC
Caso de conteúdo incerto (quando por exemplo não conseguimos concretizar o lugar
da coisa, não sabemos onde está a coisa)
Resolve-se da mesma forma como se fosse um caso de falta de conteúdo
Fase de interpretação - não tem grande relevância porque é um Elemento factíco
Fase da concretização do elemento de conexão - não tem grande relevância porque é
um Elemento factíco.
Frank, estadunidense, residente até 1989 em San Diego (Califórnia) e a partir dessa data em
Lisboa, e Teresa, de nacionalidade portuguesa, pretendem casar-se em Lisboa.
Artigo 49º do CC a capacidade para contrair casamento é regulada pela lei pessoal de
cada nubente.
Quanto à Teresa:
Lei pessoal (art 31º do CC) é a lei da sua nacionalidade - lei portuguesa.
É a lei portuguesa que determina sua capacidade para contrair casamento.
Quanto ao Frank:
Lei pessoal (art 31º do CC) é a lei da sua nacionalidade - lei EUA.
Os EUA são um ordenamento jurídico complexo: na medida em que vigoram,
simultaneamente, leis federais (aplicáveis por isso de igual forma a todos os Estados)
e leis estaduais (sendo estas diferentes consoante o Estado em questão). Estamos,
por isso, perante um dos casos do art 20º CC.
Até porque o elemento de conexão em causa é a nacionalidade.
Os EUA também não têm DIP unificado, pelo que temos de atender ao art 20º nº2,
parte final do CC.
Este artigo mandar aplicar a lei da residência habitual
Neste ponto, surgem divergências de interpretação uma vez que, através de uma
interpretação restritiva, o artigo 20º nº2 in fine não estabelece um critério para os
casos em que a residência se situa fora do Estado da nacionalidade:
• enquanto que, para a Escola de Coimbra se aplica a lei da residência habitual,
mesmo que esta se situe fora do Estado da nacionalidade;
• para a Escola de Lisboa só releva a residência habitual dentro do Estado da
nacionalidade;
• Consequentemente, para esta última, surge uma lacuna nos casos em que a
residência se situa fora do Estado da nacionalidade;
• Tal deve ser integrada, na opinião da Professora Florbela de Almeida Pires, com
recurso às regras gerais. Assim, devemos atender ao caso paralelo do artigo
28º, parte final da Lei da Nacionalidade;
• É paralelo ao caso sub judice porque, se aplica aos casos de conflito de
nacionalidades estrangeiras e o plurinacional não reside no território de
Nota:
Se seguíssemos a posição da Escola de Coimbra estaríamos a adotar uma posição
discriminatória entre os nacionais de ordenamentos jurídicos complexos e os
nacionais de outros Estados. O exemplo doutrinalmente apresentado é o seguinte: a
capacidade de um norte americano residente habitualmente em Lisboa, seria regulada
pela lei portuguesa, enquanto que a capacidade de um francês, residente em
Portugal, seria determinada segundo a lei francesa. Se assim fosse, estaríamos a
tratar o norte americano como um apátrida pois, não obstante ser detentor de uma
nacionalidade, a sua lei pessoal seria a da residência habitual.
Frank reside em Lisboa e tem nacionalidade americana, pelo que este caso se encaixa
nesta divergência doutrinária.
Tendo a seguir a posição da Escola de Lisboa que encara este ponto como existindo
uma lacuna que deve ser integrada com recurso ao princípio da conexão mais
estreita dentro do Estado da nacionalidade.
Neste caso, Mark, antes de viver em Lisboa, viveu em San Diego (Califórnia). Desta
forma, parece lógico depreender que a sua conexão mais estreita é com o
ordenamento jurídico da Califórnia. A sua capacidade matrimonial, então, deve
ser analisada conforme a lei da Califórnia.
Importante: Note-se que, se não fosse possível determinar a conexão mais estreita,
seguia-se para o art 23º, nº 3 que adopta a lei da residência habitual – ou seja, que
nos levaria à mesma solução que o art 20º, nº2 parte final se aplicado sem
restrições. Desta feita, a interpretação restritiva feita a esse artigo funciona como
uma tentativa de evitar a adopção desse critério, que é sempre a solução subsidiária
para resolver estes conflitos.
Art 28º da lei da nacionalidade: manda atender ao princípio da conexão mais estreita,
uma vez que a residência habitual do F é em Portugal e não num dos estados da sua
nacionalidade. Seria nacional dos EUA e a lei aplicável é a lei da Califórnia.
Art 46º do CC - a lei que regula o direito real sobre o imóvel é a lei do estado em cujo
território o imóvel se encontra;
O imóvel situa-se no Estado do Texas, nos EUA;
Art 20º do CC - o elemento de conexão é o local onde a coisa se encontra, logo não é
abrangido pelo artigo 20º, uma vez que este artigo apenas se aplica à nacionalidade.
REENVIO OU DEVOLUÇÃO
A doutrina introduz 3 requisitos para estarmos perante um caso de reenvio:
- Lei do foro remeter para lei estrangeira;
- Que a remissão possa não ser entendida como uma referência material;
- A lei estrangeira não se considerar competente, remetendo para outra lei;
A questão que se coloca é a de saber se, nestes casos ainda se aplica o artigo 17º
nº1 ou não, porque como sabemos a L2 opera por referência material, desse
modo não atenderá ao sistema de devolução de L3.
E, ao não atender ao sistema de devolução de L3, significa que nos ficamos por L4,
uma vez que a lei designada (L3) não se considera competente, como o artigo 17º
nº1 exige no seu ultimo requisito. Assim, diríamos que L1 manda aplicar L4.
Contudo, aquilo que se diz quanto a este tipo de casos e quanto à aplicação do
artigo 17º nº1 é que consideramos que a remissão de L2 não é por referência
material.
Ao não ser por referência material, significa que quando L2 remete para L3
atenderemos não só às normas de conflitos de L3, como também ao seu sistema de
devolução:
- Deste modo, já será possível considerar que L3 aplica L3;
- Assim, o último requisito do artigo 17º nº1 está preenchido;
- Logo, aplica-se o artigo 17º nº1;
- L1 manda aplicar a L3.
Determine a lei aplicável à sucessão mobiliária de um francês que morreu, em 2014, com
último domicílio na Alemanha, admitindo que:
a. a norma de conflitos (de fonte interna) francesa sujeita a sucessão mobiliária à lei do
último domicílio do de cujus;
b. a norma de conflitos (de fonte interna) alemã sujeita a sucessão à lei da nacionalidade
do de cujus no momento da morte;
c. na França e na Alemanha se pratica, de acordo com as normas de devolução de fonte
interna, o sistema de devolução simples.
Averiguar a aplicação do RR IV, uma vez que estamos no âmbito de uma questão de
sucessão por morte:
• Temporal: art 84º - não está preenchido, uma vez que aplica-se a partir de 17 de
agosto de 2015, e no caso morreu em 2014;
Não se aplicando o RR IV, cabe-me recorrer ao artigo 62º do CC: a sucessão por
morte é regulada pela lei pessoal do autor da sucessão ao tempo do falecimento.
O de cuius tinha nacionalidade Francesa. Sendo a lei pessoal a lei da nacionalidade,
pelo artigo 31º do CC, a lei reguladora da sua sucessão será a lei francesa.
A lei francesa sujeita este tipo de sucessão à lei do último domicilio do cuius - lei
alemã. Então:
L1 (port.) —> L2 (francesa) —(DS)—> L3 (alemã)
Conclusão:
L1 —> L2 —(DS)—> L3 —(DS)—> L2
Neste caso, a lei competente é a lei designada pela norma de conflitos portuguesa,
ou seja, a lei francesa (L2), mas é-o em virtude da remissão de L3 para L2 e do
facto de L2 adotar um sistema de devolução simples que significa que se consultam
Sub-hipótese
E se o francês tivesse falecido em 2016?
Lima Pinheiro: a referência feita pelo artigo 34º do RR IV diz respeito tanto às
normas de conflitos como ao sistema de devolução da lei designada pelo presente
regulamento (se se aplicar o artigo 21º nº1, a lei designada é a lei da residência
habitual):
- se olharmos apenas para as normas de conflitos da lei da residência habitual, lei
alemã, aplicamos a lei francesa;
- Se olharmos para o sistema de devolução da lei da residência habitual (lei alemã)
aplicamos a lei alemã. Uma vez que a lei alemã tem um sistema de DS e, por isso,
CASO 23 - REENVIO
Determine a lei aplicável à sucessão de um francês que morreu, em 2014, com último
domicílio no Brasil e deixando bens imóveis na Dinamarca, admitindo que:
a. as normas de conflitos brasileiras e dinamarquesas submetem a sucessão mobiliária e
imobiliária à lei do último domicílio do de cujus;
b. as normas de conflitos (de fonte interna) francesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei
do lugar da situação do imóvel;
c. os tribunais franceses praticam, de acordo com as normas de devolução de fonte
interna, devolução simples;
d. na Dinamarca e no Brasil, a referência a uma lei estrangeira é geralmente entendida
como uma remissão para o seu Direito material.
A Lei Francesa sujeita a sucessão imobiliária à lei da situação do imóvel, ou seja, à lei
dinamarquesa. Assim, a lei francesa remete por devolução simples para a lei
dinamarquesa.
L fr —(DS)—> L din (L3)
L1 —> L2 —> L3
Por sua vez, a lei dinamarquesa submete a sucessão imobiliária à lei do último
domicilio do de cuius, ou seja, à lei brasileira. A remissão operada pela lei da
Dinamarca é através de remissão material.
L din —(RM)—> L br (L4)
Conclusão:
L1 —> L2 —(DS)—> L3 —(RM)—> L4 —(RM)—> L4
• Estamos perante uma transmissão em cadeia
• L2 tem um sistema de DS, tal significa que apenas se consultam as normas de
conflitos da lei designada (L3), não se atende ao seu sistema de devolução. Assim,
L2 aplica apenas as normas de conflitos de L3. As normas de conflitos de L3 fazem
RM para L4;
• Logo, L2 aplica L4;
• L3 tem um sistema de referência material, pelo que aplica L4;
• L4 aplica L4
Sub-hipótese
E se o francês tivesse falecido em 2016?
Aplicava o RR IV
Esta, por sua vez, aplica a própria lei brasileira, por remissão material
Não se aplica o artigo 34º porque, embora a lei brasileira seja de um estado terceiro,
esta não remete nem para um EM nem para outro estado terceiro que se considere
competente.
Pelo que o reenvio está excluído, e haverá mera referência material da lei portuguesa
para a lei brasileira.
CASO 24 - REENVIO
Determine a lei aplicável à sucessão de um argentino que morreu, em 2014, com último
domicílio na França, deixando bens imóveis situados no Paraguai, admitindo que:
a. as normas de conflitos argentinas e paraguaias submetem a sucessão mobiliária e
imobiliária à lei do último domicílio do de cujus;
b. as normas de conflitos (de fonte interna) francesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei
do lugar da situação do imóvel;
c. todos os ordenamentos jurídicos envolvidos praticam, no caso, devolução simples.
A Lei argentina sujeita a sucessão imobiliária à lei do último domicílio, ou seja, à lei
francesa. Assim, a lei argentina remete por devolução simples para a lei francesa.
L arg —(DS)—> L fr (L3)
L1 —> L2 —> L3
Por sua vez, a lei francesa submete a sucessão imobiliária à lei do lugar da situação
do imóvel, ou seja, à lei do Paraguai. A remissão operada pela lei francesa é através
de devolução simples.
L fr —(DS)—> L par (L4)
Conclusão:
L pt —> L arg —(DS)—> L fr —(DS)—> L par —(DS)—> L fr —(DS)—> L para
L1 —> L2 —> L3 —> L4 —> L3 —> L4
simples;
O artigo 17º nº1 determina a aplicação do direito material da ordem jurídica
designada pela norma de conflitos de L2 (desde que esse dto designado se considere
ele próprio competente). Por isso, Para aplicar o artigo 17º o que nos interessa é
saber se L4 aplica L4, uma vez que L2 aplica L4.
Como vimos em cima, L2 aplica L4 e L4 considera-se competente:
❖ Logo, é possível aplicar o artigo 17º nº1 do CC e a lei reguladora da
Aplica-se o RR IV
Aplica-se o artigo 21º - que remete para a lei da residência habitual, mais
precisamente para a lei francesa.
L2 aplica L2
L3 aplica L3
CASO 25 - REENVIO
Alain e Beatrice são cidadãos franceses, casados um com o outro sem convenção
antenupcial, e residem habitualmente em Lisboa.
Beatrice tinha adquirido, antes do casamento, uma casa no Luxemburgo e vendeu-a,
depois do casamento, a Charles.
Determine qual a lei reguladora do regime de bens deste casamento admitindo que:
a. os órgãos aplicadores do Direito competentes são os portugueses;
b. quer no ordenamento jurídico francês quer no luxemburguês vigora a Convenção da
Haia de 1978 sobre a lei aplicável ao regime de bens do casal;
c. de acordo com as normas de conflitos previstas nesta Convenção, a lei aplicável para
regular o regime de bens do casal será a do país onde os imóveis do casal se
encontrarem, desde que os cônjuges assim o acordem. Alain e Beatrice celebraram,
aquando do casamento, um tal acordo, determinando que, no que respeitasse às
questões suscitadas pelos imóveis próprios ou comuns sitos no Luxemburgo, seria
aplicável ao regime de bens a lei luxemburguesa;
d. no âmbito da referida Convenção da Haia de 1978, é excluído o reenvio, praticando-se,
pois, referência material.
L2 —> CH —> L3
Em frança, em matéria de regime de bens, vigora a Convenção de Haia de 1978.
As normas de conflitos desta convenção determinam que a lei aplicável para
regular o regime de bens do casal será a do país onde os imóveis do casal se
encontrarem, desde que os cônjuges assim o acordem:
- O imóvel em causa situa-se no Luxemburgo;
- Pelo que, à partida, será a lei luxemburguesa a regular o regime de bens de A e B;
- Desde que estes acordem nesse sentido;
- In casu, A e B celebraram um acordo determinando que, no que respeitasse às
questões suscitadas pelos imóveis próprios ou comuns sitos no Luxemburgo, seria
aplicável ao regime de bens a lei luxemburguesa;
- Assim, concluímos que a Convenção de Haia considera competente a lei
luxemburguesa.
Artigo 17º nº2 só faz sentido aplicar quando preenchidos os requisitos do 17º nº1,
pois só desta forma é possível garantir o efeito do nº2: cessar os efeitos do nº1.
Com o 17º nº2, deixamos de aplicar L3, para voltar a aplicar L2 (regressamos à
regra do artigo 16º do CC).
O artigo 17º nº3 determina que se abdique da aplicação da L2, voltando a aplicar-se
a L3 conforme o 17º nº1.
Como o 17º nº3, tem aplicação neste caso prático, a lei reguladora do regime de
bens é a lei luxemburguesa (L3).
NOTA:
Regulamento 2016/1103 (matérias de regimes matrimoniais)
Âmbitos de aplicação:
- Âmbito temporal - fevereiro 2019;
- Âmbito material - está preenchido, artigo 1º do RR e não se inclui em nenhum caso
do nº2;
- Âmbito espacial - trata-se de uma situação transnacional, pelo que está verificado;
Art 26º nº1 al. a) - determina que a lei reguladora do regime matrimonial é a lei da
1ª residência habitual comum, ou seja, neste caso, a lei portuguesa.
Art 32º do regulamento: o reenvio está excluido, por isso, a Lpt aplica a L pt.
Haveria uma referência material para a lei portuguesa - não se olhava para todo o
esquema que fiz em cima.
CASO 26 - REENVIO
Conclusão:
L port —> L ru —> L fra —> L fra
L1 —> L2 —(DD)—> L3 —(DS)—> L3
Com o 17º nº2, deixamos de aplicar L3, para voltar a aplicar L2 (regressamos à
regra do artigo 16º do CC).
O artigo 17º nº3 determina que se abdique da aplicação da L2, voltando a aplicar-se
a L3 conforme o 17º nº1.
Como o 17º nº3, tem aplicação neste caso prático, a lei reguladora da sucessão é
a lei francesa (L3).
Sub-hipótese
E se o britânico tivesse falecido em 2016?
Aplicava-se o RR IV
O artigo 21º manda atender à lei da residência habitual no tempo da morte - lei
italiana.
Lpt —> L it
L it —> L ru
CASO 27 - REENVIO
Carlos, nacional suíço com última residência habitual no estado da Luisiana (EUA), falece
em 15 de setembro de 2015 deixando bens imóveis no Brasil.
Determine qual a lei reguladora da sucessão imobiliária, considerando que:
a. os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
b. o Direito de conflitos suíço determina que a lei reguladora da sucessão imobiliária é a
do último domicílio do autor da sucessão e pratica o sistema de devolução simples;
c. os EUA não dispõem de Direito Internacional Privado e de Direito interlocal
unificados;
d. o Direito de conflitos do Luisiana determina que a lei reguladora da sucessão
imobiliária é a lex rei sitae e pratica o sistema de devolução dupla;
e. o Direito de conflitos brasileiro regula a sucessão pela lei da última residência habitual
do de cujus e estabelece que a remissão feita pelas suas normas de conflitos a
ordenamentos estrangeiros abrange apenas as normas de Direito material destes;
f. no Direito brasileiro, quando a norma de conflitos remeta, sem ser em razão da
nacionalidade, para ordenamentos complexos, o elemento de conexão da norma de
conflitos brasileira define não só o ordenamento soberano como o ordenamento
jurídico local.
Aplicação do RR IV
• Âmbito material - art 1º nº1 do reg - está preenchido, uma vez que não cabe
dentro de nenhuma matéria excluída pelo nº2;
• Espacial - está preenchido, uma vez que se trata de uma situação transnacional;
• Territorial - o estado do foro ser um estado membro - está preenchido, Portugal,
que é onde a ação é proposta, é um estado membro;
• Temporal - artigo 84º do reg, o regulamento é aplicável a partir de 17 de agosto
de 2015 e o C faleceu em 15 de setembro de 2015, pelo que este âmbito também
está verificado.
O RR IV aplica-se.
O artigo 21º nº1 do RR IV manda atender à lei do estado onde o falecido tinha
residência habitual no momento do óbito.
Ou seja, lei do Luisiana.
L br —(RM)—> L lui
Conclusão:
L pt —> L lui —(DD)—> L br —(RM)—> L lui
CASO 28 - REENVIO
Andrea e Berta são dois nacionais romenos que se casaram na França e fixaram
residência habitual comum em Portugal.
Determine qual a lei reguladora dos efeitos pessoais do casamento, considerando que:
a. os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
CASO 29 - REENVIO
Anthony, cidadão dos EUA residente habitualmente na Itália (tendo anteriormente vivido
no Estado de Nova Iorque), pretende casar-se em Lisboa.
Diga qual a lei que o conservador do registo civil deve aplicar à capacidade matrimonial de
Anthony, considerando que:
a. os EUA não têm Direito interlocal e Direito Internacional Privado unificados;
b. o Direito de conflitos nova iorquino regula a questão pela lex loci celebrationis,
considerando, no caso concreto, que a sua norma de conflitos remete, única e
exclusivamente, para as normas de Direito material de ordenamentos jurídicos
estrangeiros;
c. o Direito de conflitos italiano regula a capacidade matrimonial pela lei da nacionalidade
do nubente; no caso concreto, pratica o sistema de referência material; e, na falta de
Direito interlocal ou Direito Internacional Privado unificados, entende-se a
remissão para um ordenamento jurídico complexo como sendo feita para o
ordenamento jurídico local que possui a conexão mais estreita.
Estamos perante uma situação transnacional, já que estão em contacto várias ordens
jurídicas: Portuguesa, Americana e Italiana.
Artigo 49º do CC: a capacidade para celebrar casamento é regulada pela lei pessoal
do A.
L pt —> L ni (L2)
O direito de conflitos de Nova Iorque regula a questão pela lex loci celebrationis, ou
seja, remete para a lei portuguesa, porque o casamento celebrar-se-á em Lisboa.
O facto de dizer no enunciado “que a norma de conflitos nova iorquina remete, única
e exclusivamente, para as normas de Direito material de ordenamentos jurídicos
estrangeiros”, significa que a referência para a lei portuguesa é por referência
material.
L ni —(RM)—> L pt
Conclusão:
L1 —> L2 —(RM)—> L1
L pt —> L it (L2)
L it —(RM)—> L eua
A lei italiana ainda dispõe que na falta de Direito interlocal ou DIP unificados,
entende-se a remissão para um ordenamento jurídico complexo como sendo feita
para o ordenamento jurídico local que possui a conexão mais estreita, ou seja, a
remissão da lei italiana é mais concretamente para a lei do estado de Nova Iorque.
L it —(RM)—> L ni (L3)
O direito de conflitos de Nova Iorque regula a questão pela lex loci celebrationis, ou
seja, remete para a lei portuguesa. E fá-lo por referência material
L ni —(RM)—> L pt (L1)
Conclusão:
L1 —> L2 —(RM)—> L3 —(RM)—> L1
L1 aplica L2
L2 aplica L3
L3 aplica L1
????????????
CASO 30 - REENVIO
Estamos perante uma situação transnacional, já que estão em contacto várias ordens
jurídicas: Portuguesa, Argentina, Paraguai.
Artigo 49º do CC: a capacidade para celebrar casamento é regulada pela lei pessoal
do A.
A lei pessoal de A é a lei argentina, por imposição do artigo 31º nº1 do CC.
A lei argentina estabelece que a capacidade para contrair casamento é regulada pela
lei do lugar da celebração do casamento, ou seja, remete para a lei do Paraguai. E
fá-lo por DS.
L par —(DS)—> L pt
Conclusão:
L1 —> L2 —(DS)—> L3 —(DS)—> L1 —> L2
Alcance do artigo 19º nº1: Sempre que haja devolução por força dos artigos 17º e
18º esta devolução é paralisada se L2 for mais favorável à validade ou eficácia do
negócio ou à legitimidade de um estado do que a lei aplicada através da devolução.
Neste caso, a L2 (lei argentina) não é mais favorável, porque não atribui
capacidade ao A para contrair matrimónio.
Assim, o artigo 19º nº1 do CC não se aplica ao caso.
CASO 31 - REENVIO
L ing —(DD)—> L pt
L1 —> L2 —(DD)—> L1
18.º/1 e 18.º/2 estão verificados? Depende…
Devido ao seu sistema de devolução (dupla devolução), a L ing só se aplica se a L pt
a aplicar; e só aplica a Lpt se a Lpt se aplicar a si mesma.
Assim, segundo LLP, o caso acabaria aqui: não se aceitaria o retorno, mas sim a regra
geral do art. 16.º.
Sub-hipótese
E se o britânico tivesse falecido em 2016?
Aplica-se o RR IV.
Artigo 21º - manda atender à lei da residência habitual
L pt —> L ru
L pt —> L ing
L ing —> L pt
L1 —> L2 —(DD)—> L1
LLP considera que por Estado terceiro se deve entender Estado terceiro ao
Regulamento, e não apenas à UE.
Assim, não sendo o RU parte do RRIV (considerando 82), poder-se-ia aplicar o art.
34.º: como a Ling remete para um EM (Pt), este nem teria de se considerar aplicável
a si próprio. Logo, Lpt aplicaria Lpt.
CASO 32 - REENVIO
Estamos perante uma situação transnacional já que estão em contacto várias ordens
jurídicas: Portuguesa e brasileira.
A capacidade para contrair casamento é regulada pelo artigo 49º do CC que remete
para a lei pessoal de cada nubente.
Conclusão:
Lpt —> L bra —> L pt
L1 —> L2 —(RM)—> L1
Uma vez que se trata da capacidade para a celebração de um negócio jurídico, e que
L1 e L2 são divergentes (L1 - A não tem capacidade para casar; L2 - A tem
capacidade para casar) ponderei ainda o artigo 19º nº1 do CC, que cessa o efeito
do artigo 18º.
Ou seja, pelo 19º nº1 a devolução para a lei portuguesa operada pelo artigo 18º pode
ser paralisada.
Alcance do artigo 19º nº1: Sempre que haja devolução por força dos artigos 17º e
18º esta devolução é paralisada se L2 for mais favorável à validade ou eficácia do
negócio ou à legitimidade de um estado do que a lei aplicada através da devolução.
Neste caso, a L2 (lei brasileira) é mais favorável, porque atribui capacidade ao A
para contrair matrimónio.
CASO 33 - REENVIO
Direito inglês não prevê o direito à legítima e permite que o de cuius disponha da
totalidade dos seus bens.
No direito português tal não é possível, há uma parte da totalidade dos bens que não
pode ser disposta pelo de cuius - designa-se quota indisponível.
Para sabermos se o pedido dos filhos tem seguimento, temos de saber qual a lei
aplicável à sucessão de A.
Por sua vez, a lei inglesa remete, através do sistema de dupla devolução para a lei do
domicilio do autor da sucessão, ou seja, para a lei brasileira.
Por sua vez, a lei brasileira remete para a lei do domicílio do autor da sucessão, ou
seja, para a própria lei brasileira.
Conclusão:
L pt —> L ing —(DD)—> L bra —> L bra
Como o 17º nº2 não está preenchido, significa que o disposto no 17º nº1 não
cessa - continuamos a aplicar L3 e a lei reguladora da sucessão é a lei brasileira.
Segundo o direito brasileiro, a deixa testamentária era inválida.
Pelo que, o pedido dos filhos para a redução por inoficiosidade do testamento,
invocando a violação do seu direito à legítima, tem utilidade e por isso seguirá.
Uma vez que se trata da legitimidade para pedir a redução da inoficiosidade (utilidade
na procedência da ação), e que L3 e L2 são divergentes (L3 - deixa testamentária
era inválida, logo havia utilidade na procedência da ação; L2 - deixa testamentária
era válida, pelo que não havia utilidade na procedência da ação) ponderei ainda o
artigo 19º nº1 do CC, que cessa o efeito do artigo 18º.
Ou seja, pelo 19º nº1 a aplicação de L3 operada pelo artigo 17º nº1 pode ser
paralisada.
Alcance do artigo 19º nº1: Sempre que haja devolução por força dos artigos 17º e
18º esta devolução é paralisada se L2 for mais favorável à validade ou eficácia do
negócio ou à legitimidade de um estado do que a lei aplicada através da devolução.
Neste caso, a L2 (lei inglesa) é mais favorável, porque atribui validade à deixa
testamentária
Assim, o artigo 19º nº1 do CC aplica-se ao caso - o efeito do artigo 17º nº1 é
paralisado, pelo que se aplicará a L2 (lei inglesa).
CASO 34 - REENVIO
A, britânico com residência habitual em Londres, faleceu em 2016, sendo a sua herança
composta por bens imóveis situados na França.
Admitindo-se que:
a. as normas de conflitos inglesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei do lugar da situação
da coisa;
b. os tribunais ingleses praticam dupla devolução;
qual a lei aplicável à sucessão?
Art 21º do RR IV: a sucessão é regulada pela lei da residência habitual, ou seja, é
regulada pela lei inglesa.
Ordenamento jurídico complexo, artigo 36º nº2 al. a) do RR IV. Aplica-se a lei inglesa.
Por sua vez, as normas de conflitos inglesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei do
lugar da situação da coisa, ou seja, remetem para a lei francesa por DD.
A lei inglesa remete para a lei francesa, pelo que compete indagar da possibilidade de
aplicação do artigo 34.º para efeitos de admissão do reenvio.
Segundo o Sr. Professor Lima Pinheiro, o artigo 34.º/1/a apenas se aplica quando a
lei do Estado terceiro (neste caso, a Inglaterra) remete, por referência material, para
a lei de um Estado membro da UE. Assim, não sendo esse o caso, não se aplica a lei
francesa, mas sim a lei inglesa por referência material do artigo 21.º/1 do RRIV.
Aplica-se o artigo 30.º que determina que quando existam regras especiais que
imponham restrições quanto à sucessão ou a afetem relativamente a certos bens na
lei do Estado onde estão situados determinados bens imóveis, determinadas
empresas, ou outras categorias especiais de bens, tais regras especiais se aplicam à
sucessão na medida em que sejam aplicáveis, segundo a lei daquele Estado,
independentemente da lei que rege a sucessão.
Sub-hipótese
E se todos os imóveis do património de A estivessem situados na República da Irlanda,
cujo Direito Internacional Privado sujeita a sucessão imobiliária à lei do lugar da situação da
coisa, com dupla devolução?
Reino Unido é um ordenamento jurídico complexo, pelo que se aplica o artigo 36º nº1
al. a)
L pt —> L ing
Por sua vez, as normas de conflitos inglesas sujeitam a sucessão imobiliária à lei do
lugar da situação da coisa, ou seja, remetem para a lei República da Irlanda por DD.
L ing —(DD)—> L ir
L2 aplica L3
L3 aplica L3
Aplicando a alínea b), devemos atentar não apenas às normas de conflitos da lei
inglesa, mas também às suas normas sobre devolução, pelo que temos de ver se a lei
inglesa aplica a lei irlandesa e esta se aplica a si própria: sim, a lei inglesa, tendo um
sistema de DD, aplica a lei que a lei irlandesa aplicar; esta, por seu turno, aplica-se a
si própria. Logo, aceita-se o reenvio para a lei irlandesa.
CASO 35 - REENVIO
L pt —> L RU (L2)
Por sua vez, a lei inglesa regula a sucessão imobiliária pela lex rei sitae
através do sistema de DD
- Outro situado no Canadá, quanto à sucessão deste a lei inglesa remete para a lei
do Canadá
- O Canadá é um ordenamento jurídico complexo;
- Cumpre aplicar o artigo 36º nº2 al. c) do RR IV, uma vez que pretendemos
determinar a lei aplicável nos termos de disposições relativas a elementos que
não são elementos de conexão.
- Assim, este artigo diz que a referência à lei do Canadá deve ser entendida
como referindo-se à lei da unidade territorial em que se encontra o elemento
pertinente
- Ou seja, a referência à lei do Quebeque
FRAUDE À LEI
A. Como distinguir os institutos da reserva de ordem pública internacional e
da proibição de fraude à lei?
Na OPI está em causa a compatibilidade do resultado a que conduz a aplicação
da lei estrangeira com a justiça material da OJ do foro; na fraude à lei está em
causa o afastamento da lei normalmente competente e o desrespeito da norma
imperativa nela contida, ainda que o Direito do foro não tenha norma
equivalente.
B. Quais os tipos de fraude à lei?
• Manipulação do elemento de conexão
Exemplo: quando a lei de Malta não admitia o divórcio, dois malteses
residentes em Portugal que pretendiam divorciar-se, naturalizam-se
portugueses, embora não se integrem na nossa sociedade.
• Internacionalização fictícia de uma situação interna: para afastar o Direito
material vigente na OJpt, que é o exclusivamente aplicável a uma situação
interna, estabelece-se uma conexão com um Estado estrangeiro, por forma a
desencadear a aplicação desse Direito.
Exemplo: dois portugueses residentes em Portugal pretendem fugir aos
limites fixados pela lei portuguesa à taxa de juros do mútuo, pelo que
celebram um contrato interno em Badajoz e escolhem a lei espanhola
para reger o contrato.
C. Quais são os elementos da fraude?
A princesa Bauffremont era uma súbdita francesa. À época, a lei francesa não admitia o divórcio,
mas apenas a separação. A princesa obteve a separação e, em seguida, naturalizou-se num
Estado alemão, o ducado do Saxe-Altemburgo. Valendo-se da sua nova lei nacional, que
assimilava a separação ao divórcio, a princesa casou em Berlim com o príncipe romeno
Bibesco.
Qual a lei aplicável aos impedimentos matrimoniais? Aparte questões de constitucionalidade da
lei que proíba o divórcio, considera que existe no presente caso um problema de fraude à lei e,
se sim, a que resultado obriga a lei?
Resolva o caso da perspetiva dos tribunais franceses, ficcionando que o Direito Internacional Privado
francês é constituído por normas com o mesmo conteúdo que o DIP português [assim, por exemplo,
deparando-se com uma norma de conflitos unilateral, entenda que a remissão é feita para França,
enquanto Estado do foro, e não para Portugal].
QUALIFICAÇÃO
Esquema de resolução dos casos de qualificação:
1. Caracterização
• É feita lege causae;
• Neste ponto vamos averiguar a relevância jurídica situação da vida em causa à
luz da lege causae;
• Saber se uma norma material se reconduz a uma norma de conflitos, é o que
vamos concluir neste ponto;
• Ver quais os ordenamentos jurídicos em causa;
• Ver quais as normas materiais potencialmente aplicáveis - fazer este passo
significa verificar que a situação da vida tem relevância normativa para os
ordenamentos jurídicos em relação;
CASO 37 - Qualificação
Claudine e Sabrina são duas cidadãs americanas que pretendem casar-se em Portugal.
Pretendem casar-se apenas por motivos de aparência, relacionados com a sua
atividade profissional, não nutrindo qualquer sentimento um pelo outro.
Sabendo deste facto, o conservador do registo civil português recusa-se a casar Claudine
e Sabrina, com fundamento em que o casamento, segundo o artigo 1577.º do Código Civil
português, só é possível quando os nubentes “pretendem constituir família mediante uma
plena comunhão de vida”.
Concorda com a decisão do conservador do registo civil português?
Caracterização:
Existem dois ordenamentos jurídicos potencialmente aplicáveis: o Português e o
Americano.
A norma de conflitos Portuguesa potencialmente aplicável é o artigo 1577º do CC;
A norma de conflitos americana potencialmente aplicável, não conhecemos porque
não nos é dita no caso;
Para averiguarmos qual a categoria normativa a que pertencem temos de atender ao
conteúdo e finalidade das normas.
A finalidade do artigo 1577º do CC é permitir a constituição de uma relação
jusfamiliar a quem pretende constituir família mediante uma plena comunhão de vida
// vamos supor que a norma americana também tem essa finalidade.
Assim, a categoria normativa a que pertencem estas normas materiais é a relação
jusfamiliar.
Por isto, é possível concluir que a norma de conflitos aplicável é o artigo 49º parte
final do CC (se não coubesse neste artigo íamos para o conceito jusfamiliar mais lato
e a norma de conflitos aplicável seria o artigo 25º do CC, por ser um caso de estatuto
pessoal).
O artigo 49º do CC determina que os vícios da vontade dos nubentes são regulados
pela lei da nacionalidade, ou seja, pela lei americana.
Os EUA são um ordenamento jurídico complexo, pelo que cumpre analisar o artigo
20º do CC.
Quanto à norma de conflitos não atendemos apenas ao conteúdo nuclear da lege fori,
atenderemos também às zonas periféricas/zonas cinzentas para ver se a situação em
causa se inclui na previsão da norma de conflitos aplicável.
Se houver normas nos EUA que, pelo seu conteúdo e função, correspondam ao
conceito-quadro de “vícios da vontade dos nubentes” à luz do direito português -
essas normas aplicar-se-ão
A norma americana que regule esses vícios é subsumível no conceito quadro do artigo
49º do CC (aplicação do artigo 15º do CC).
Aplicam-se as normas materiais dos EUA que regulam os vícios da vontade dos
nubentes.
CASO 38 - QUALIFICAÇÃO
Angelique e Pierre são dois cidadãos franceses enamorados e noivos um do outro.
Combinaram casar-se assim que Pierre terminasse o seu serviço militar no estrangeiro, tendo
inclusivamente já enviado os convites.
Enquanto Angelique passava férias em Portugal, recebeu a notícia de que o seu noivo
Pierre tinha falecido.
Agora, Angelique apresenta-se perante o conservador do registo civil com cópia
certificada do disposto no artigo 171.º do Código Civil francês (que dispõe, no primeiro
parágrafo, que o Presidente da República pode, por motivos graves, autorizar a celebração do
casamento no caso de falecimento de um dos futuros cônjuges, desde que existam factos
suficientes que provem inequivocamente o consentimento do falecido) e com a autorização do
Presidente da República Francesa para a celebração do casamento, pedindo ao conservador
que a case com Pierre.
O conservador, à luz do artigo 171.º do Código Civil francês e da autorização do
Presidente da República Francesa, casa Angelique com Pierre (já falecido).
Concorda com a decisão do conservador do registo civil português?
Neste caso suscita-se uma questão sobre a capacidade para contrair casamento.
O artigo 49º do CC tem como conceito quadro “capacidade para contrair casamento
ou celebrar convenção antenupcial, definir o regime de falta ou dos vícios da vontade
dos nubentes”.
Caracterização:
Existem dois ordenamentos jurídicos potencialmente aplicáveis: o Português e o
Francês.
A norma de conflitos (art 49º do CC) quando determina a capacidade para casar tem
como finalidade permitir o casamento daqueles que “pretendem constituir família
mediante uma plena comunhão de vida”.
CASO 39 - QUALIFICAÇÃO
A, britânico com residência em Londres, pede em tribunal português o pagamento de
indemnização por parte de B, português residente em Portugal, com fundamento na violação
do seu direito ao bom nome por meio de artigo publicado num jornal inglês.
A invoca a aplicação do direito inglês, segundo o qual B pode ser condenado, não só ao
ressarcimento do dano sofrido, mas também ao pagamento de uma indemnização punitiva
(punitive damages).
Na Inglaterra aplica-se à matéria a lex loci actus.
A ação deve proceder?
Caracterização:
Existem dois ordenamentos jurídicos potencialmente aplicáveis: o Português e o do
Reino Unido;
A norma material portuguesa potencialmente aplicável é o artigo 483º nº1 do CC,
prevê a indemnização por danos
A norma material inglesa potencialmente aplicável prevê a indemnização por danos e
a punitive damagens (=indemnização punitiva).
A categoria normativa a que estas normas pertencem é a responsabilidade
extracontratual.
Isto reconduz à norma de conflitos 45º nº1 do CC português.
Assim, as regras previstas no direito inglês quanto à indemnização por danos têm,
pois, uma função igual à desenvolvida no direito material português.
Quanto à punitive damages, penso que seja possível reconduzi-la à zona periférica do
artigo 45º nº1 do CC. porque, embora no direito português não encontremos
positivada a imposição de danos punitivos, encontramos muitos exemplos,
nomeadamente no CC, que podem ser tomadas como manifestações da função
punitiva da responsabilidade civil.
Estamos perante um caso que se prende com saber qual a lei que regula a prescrição
de um direito de indemnização decorrente da responsabilidade contratual.
A norma material portuguesa (artigo 498º do CC) visa também estabelecer um limite
temporal ao exercício de um direito, assim se assegurando a previsibilidade e a
segurança jurídica.
A e B cidadãos moçambicanos;
Casados um com o outro e têm dois filhos: D e C;
Há 20 anos que a família vive em Florença (Itália);
A e B venderam um terreno sito em Portugal, do qual eram proprietário, a D
no valor de 300.000€;
C, que não consentiu na venda, vem dizer que o negócio é inválido, por
aplicação do artigo 877º do CC;
C intenta em Portugal uma ação de anulação do contrato;
Esta pretensão de C deve ser julgada procedente?
O RR I é aplicável?
• Âmbito material - art 1º nº1 do reg - está preenchido, uma vez que não cabe
dentro de nenhuma matéria excluída pelo nº2;
• Espacial - está preenchido, uma vez que se trata de uma situação transnacional;
• Territorial - o estado do foro ser um estado membro - está preenchido, Portugal,
que é onde a ação é proposta, é um estado membro;
• Temporal - artigo 84º do reg, o regulamento é aplicável a partir de 17 de
dezembro de 2017, não temos dados quanto à data da celebração do contrato,
mas consideramos que está verificado.
O RR I é aplicável.
A regra geral é a de que a lei que regula os contratos é a lei escolhida pelas partes -
artigo 3º nº1 do RR I;
Contudo, neste caso, as partes não escolheram a lei aplicável, por isso, aplica-se a
regra subsidiária do artigo 4º do RR I - mais concretamente o nº1 al. c), uma vez que
o contrato em causa teve como objeto o direito real sobre terreno (a propriedade de
um bem imóvel);
Assim, o contrato celebrado entre A, B e D é regulado pela lei do país onde o imóvel
se situa, ou seja, pela lei portuguesa.
Cumpre ainda mencionar o artigo 12º do RR I que determina que a lei aplicável pelo
presente regulamento (lei portuguesa) regula todas as situações mencionadas nas
alíneas a) a e), incluindo as consequências da invalidade do contrato.
Vamos seguir a posição que considera que o artigo 877º do CC se insere no âmbito
das relações entre pais e filhos.
Assim, já estaremos perante um caso que diz respeito, não a um contrato de compra
e venda, mas sim a relações de pais e filhos.
Quais são os ordenamentos jurídicos potencialmente aplicáveis para regular este tipo
de relações?
- Português
- Moçambicano
- Italiano
O direito de conflitos da lei moçambicana prevê que as relações entre pais e filhos são
reguladas pela lei da nacionalidade comum dos pais, por isso:
Esta lei, conforme já foi dito, tem uma letra exatamente igual ao artigo 877º do CC
Português.
Por isso, tem também a mesma finalidade que o artigo 877º do CC Português:
disciplinar as relações entre pais e filhos sem preterição de alguns filhos e netos em
detrimento dos outros.