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Aplicação da Lei Penal no Tempo

Analise separadamente todas as hipóteses – tanto as referidas nos números como as


referidas nas alíneas – determinando, para cada uma delas, a lei aplicável.
Todos os artigos referidos pertencem ao Código Penal.

1.
Por ódio a Bernardo, Alberto oferece-lhe uma lata de atum envenenado em 8 de Novembro
de 2019.
Inconsciente de motivos para suspeitar da simpática oferta, Bernardo arruma a lata na
dispensa, vindo a abri-la apenas em Outubro de 2020, tendo morte imediata.

Imagine que uma lei – que altera o artigo 131.º fixando a pena máxima em 20 anos de prisão
– entra em vigor:

a) Em Novembro de 2020.

b) Em Dezembro de 2019.

c) A 7 de Novembro de 2020.

2.
Por ódio a Bernardo, e sabendo que este, todas as segundas, terças, quartas e quintas, almoça
atum com ameixas, Alberto oferece-lhe quatro latas de atum envenenado no dia 10 de Outubro
de 2020.
Como previsto por Alberto, Bernardo come uma lata de atum com ameixas em cada um dos
quatro dias que se seguem, acabando por morrer na sexta, dia 15.
Vem a comprovar-se que teriam bastado três pratos de atum com ameixas para matar
Bernardo.

Imagine que uma lei – que altera o artigo 131.º fixando a pena máxima em 20 anos de prisão
– entra em vigor na quinta-feira, dia 14 de Outubro.
3.
Movido por sadismo, Rómulo sequestra Hersília durante uma semana (desde o dia 10 de
Novembro de 2020 até ao dia 16), dando à vítima apenas atum com ameixas para esta matar a
fome.

Imagine que no dia 15 de Novembro entra em vigor uma lei que altera o artigo 158.º, n.º 2,
fixando a pena máxima em doze anos de prisão.

II

1.
Com o consentimento de Berta, grávida de 3 meses, Abel ministra-lhe uma substância que
lhe vem a provocar o aborto.

a) Enquanto está a ser julgado, entra em vigor uma lei que despenaliza o seu comportamento.

b) Imagine agora que a mesma lei entra em vigor estando Abel a cumprir a pena de prisão.

c) Suponha que Abel já leva cumpridos 2 anos da pena de prisão a que foi condenado (2 anos
e 6 meses de prisão efectiva) quando entra em vigor uma lei que altera o artigo 140.º, n.º 2,
fixando a pena máxima em 2 anos de prisão.

d) Aceitando o referido na alínea anterior, imagine agora que Abel somente leva cumpridos
6 meses.

2.
Em Janeiro de 2020, Vítor, médico, opera Francisco contra a vontade deste, para lhe salvar o
braço, que, sem a operação, teria seguramente de ser amputado mais tarde.
Vítor é julgado em Abril.

a) Em Fevereiro, entra em vigor uma lei que altera o artigo 156.º, n.º 1, fixando a pena máxima
em 2 anos de prisão.
Em Março, essa lei é revogada e substituída por outra que repõe em vigor o regime anterior.

b) Durante o julgamento, entra em vigor uma lei que altera o artigo 156.º, n.º 1, fixando a
pena máxima em 4 anos de prisão e estabelecendo uma atenuação especial de pena para os
casos em que a intervenção tenha evitado a amputação de um membro do corpo.

3.
Preocupada com o grande número de subtracções de cadáver – realizadas por pessoas que,
vítimas da crise, actuam na esperança de encontrar dentes de ouro esquecidos nas caveiras –, a
Assembleia da República aprova uma lei que agrava em 1/3 as penas de todos os crimes de
profanação de cadáver cometidos no ano subsequente.
Lázaro pratica o facto na vigência desta norma, mas só é julgado dois anos depois, quando já
está de novo em vigor a redacção actual do artigo 254.º, n.º 1, al. a).

4.
4.1. Em Julho de 2020, uma lei revoga os artigos 372.º a 374.º - B.
Em Setembro, Zeferino, magistrado judicial, solicita ao arguido do julgamento a que preside
vantagem patrimonial, prometendo-lhe a absolvição (e ignorando assim as provas evidentes da
prática do facto por esse arguido) como contrapartida.
Em Outubro, a lei referida é declarada inconstitucional com força obrigatória geral pelo
Tribunal Constitucional.
Zeferino é julgado em Novembro.

4.2. Aceitando as restantes circunstâncias do caso anterior, imagine que Zeferino praticou o
facto antes da entrada em vigor da lei que revogou os artigos 372.º a 374.º - B.

5.
A 13 de Novembro de 2020, Valentão conduz na auto-estrada o seu novo descapotável,
acompanhado da namorada Valentina.
Para exibir à companheira aquilo a que chama o “domínio do animal”, Valentão efectua
perigosíssimas ultrapassagens, violando grosseiramente as regras da circulação rodoviária e
pondo em perigo a vida dos outros automobilistas.
A 20 de Novembro de 2020, entra em vigor uma lei que altera o artigo 291.º, n.º 1, suprimindo
o trecho “e criar deste modo perigo para a vida ou para a integridade física de outrem, ou para
bens patrimoniais alheios de valor elevado”.
A mesma lei diminui ainda o limite máximo aí referido para 2 anos de prisão (mantendo a
pena de multa como alternativa).
Valentão é julgado a 21 de Novembro.

6.
Hileira é aluna da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e Polideuces é docente da
cadeira de Direito dos Disparates Públicos na mesma faculdade. Polideuces sente uma forte
atracção por aquela aluna.
Muito ciumento, incapaz de suportar os olhares mastigadores que os outros alunos lançam a
Hileira, Polideuces decide sequestrá-la, com o objectivo de a impedir de participar no concurso
Miss F-DULINHA, agendado para os dias 15, 16, 17 e 18 de Maio de 2020. Para isso, pede
ajuda a Castor, seu irmão gémeo.
Correspondendo à vontade de Polideuces, Castor consegue fazer uma cópia das chaves da
casa de Hileira e entrega-as ao irmão a 12 de Maio de 2020.
No dia 15 de Maio, Polideuces entra muito cedo em casa de Hileira e tranca-a a no quarto.
Polideuces mantém Hileira prisioneira até 19 de Maio, dia em que descobre que esta usa
peruca. Muito desgostoso, abandona-a, dizendo que nunca mais a quer ver.
Ainda muito assustada, Hileira desabafa com os colegas e estes transmitem a notícia do crime
ao Ministério Público. Polideuces é julgado em Julho de 2020.

6.1. A 14 de Maio de 2020, entra em vigor uma lei que altera o artigo 158.º, aumentando em
1/3 os limites máximos das molduras abstractas aí previstas.

6.2. Em Junho de 2020, entra em vigor uma lei que altera o artigo 158.º, n.º 2:

a) Acrescentando uma al. h) onde se lê: “For praticada em casa da vítima”.


Na resposta a esta hipótese, imagine que o sequestro não durou mais de dois dias.

b) Substituindo, por um lado, a actual redacção da al. a) por esta: “For praticada em casa da
vítima”.
Diminuindo em 1/3, por outro lado, o limite máximo da moldura abstracta da pena.
c) Substituindo a expressão “dois dias”, constante da al. a), pela expressão “três dias”.
Aumentando, ademais, o limite máximo da moldura abstracta da pena em 1/3.

d) Acrescentando o seguinte trecho (depois da redacção das alíneas): “e desde que a privação
da liberdade seja realizada em casa da vítima”.

6.3. Em Junho, entra em vigor uma lei que aumenta para o dobro os prazos previstos no artigo
122.º, n.º 1.

6.4. Em Outubro, entra em vigor uma lei que acrescenta ao artigo 158.º o seguinte n.º 4: “O
procedimento criminal depende de queixa”.

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