1) O documento descreve o contrato de compra e venda, definindo-o como um contrato nominado e típico que pressupõe a transmissão de um direito em troca de pagamento.
2) Caracteriza-se por ser um contrato consensual, bilateral, oneroso e com efeitos reais e obrigacionais, criando obrigações de entrega e pagamento.
3) Os principais efeitos são a transmissão da propriedade da coisa vendida e a constituição de obrigações de entrega e pagamento, considerando-se
1) O documento descreve o contrato de compra e venda, definindo-o como um contrato nominado e típico que pressupõe a transmissão de um direito em troca de pagamento.
2) Caracteriza-se por ser um contrato consensual, bilateral, oneroso e com efeitos reais e obrigacionais, criando obrigações de entrega e pagamento.
3) Os principais efeitos são a transmissão da propriedade da coisa vendida e a constituição de obrigações de entrega e pagamento, considerando-se
1) O documento descreve o contrato de compra e venda, definindo-o como um contrato nominado e típico que pressupõe a transmissão de um direito em troca de pagamento.
2) Caracteriza-se por ser um contrato consensual, bilateral, oneroso e com efeitos reais e obrigacionais, criando obrigações de entrega e pagamento.
3) Os principais efeitos são a transmissão da propriedade da coisa vendida e a constituição de obrigações de entrega e pagamento, considerando-se
CONTRATO DE COMPRA E não consistir numa quantia pecuniária o
contrato não é de compra e venda mas
VENDA sim de escambo ou troca (deixou de ser previsto no CC, embora continuem a ser- Contrato de compra e venda: 874º a 939º → lhe aplicáveis as regras da compra e regulado no CC e no Código Comercial (463º- venda, por força do 939º; está regulado 476º). no Código Comercial - 480º). ● Transmissão de um direito contra o pagamento de uma quantia A compra e venda é um contrato pecuniária; transmissão de nominado (uma vez que a lei o reconhece qualquer direito real - incluindo, como categoria j.) e típico (a lei por ex, o trespasse de usufruto estabelece para ele um regime, quer no (1444º), quando realizado a título direito civil, 874º ss, quer no âmbito do oneroso - e inclusivamente de direito comercial, 463º ss). direitos que não sejam reais como Regra geral, é um contrato não formal os direitos sobre valores (219º), ainda que...875º (bens imóveis). mobiliários, os direitos de Caracteriza-se por ser um contrato propriedade industrial, intelectual consensual, uma vez que a lei prevê (direito de autor), os direitos de expressamente a existência de uma crédito (ex, a cessão de créditos, obrigação de entrega por parte do 577º ss, quando feita vendedor (879º, b)), o que significa que onerosamente é qualificada como não associa a constituição do contrato à compra e venda - 578º), os direitos entrega da coisa, admitindo a sua potestativos, ou situações j. vigência antes de a coisa ser entregue complexas, como a posição (por oposição ao quoad constitutionem). É contratual ou as universalidades o acordo das partes que determina a de direito (ex, o trespasse de formação do contrato. estabelecimento comercial ou É um contrato obrigacional, já que industrial, 1112º nº1, a), constitui determina a constituição de duas juridicamente uma compra e obrigações: a de entregar a coisa venda). Já pelo contrário, a (879º,b)) e a de pagar o preço (879º,c)). assunção de dívidas efetuada É, por outro lado, um contrato real quoad onerosamente não pode ser effectum, uma vez que produz a qualificada como compra e venda, transmissão de efeitos reais (879º,a)). uma vez que a lei considera esta É um contrato oneroso, uma vez que como um contrato translativo de nele existe uma contrapartida pecuniária direitos mas não de obrigações. em relação à transmissão dos bens, Para o prof. Menezes L. a simples importando assim sacrifícios pecuniários posse não pode ser objeto de para ambas as partes. Não exige, no compra e venda, pois não constitui entanto, que ocorra necessariamente uma um direito subjetivo - não há equivalência de valores. No entanto, se a transmissão de um direito. intenção das partes é atribuir um enriquecimento ao alienante (aquisições A compra e venda pressupõe uma de bens de baixo valor por elevado preço contrapartida pecuniária para essa em leilões com fins sociais) ou ao transmissão. Se não existir qualquer adquirente (alienação de bens por preço contrapartida o contrato é qualificável simbólico ou muito inferior ao valor de como doação (940º) e se a contrapartida mercado, com fins de liberalidade), a situação já não corresponderá a uma dos direitos de propriedade, usufruto, uso e verdadeira compra e venda, mas antes a habitação, superfície ou servidão sobre coisas um contrato misto (indireto) de venda e imóveis e aos atos de alienação, repúdio e doação. renúncia de herança ou legado, de que façam Sendo um contrato oneroso a compra e parte coisas imóveis. v. é também um contrato sinalagmático + : compra e venda de imóvel com recurso ao uma vez que as obrigações do comprador crédito bancário - documento particular e do vendedor constituem-se tendo cada Sempre que a compra e v. seja sujeita a uma a sua causa na outra (sinalagma forma, a omissão desta acarretará a nulidade genético), o que permite que permanecem do negócio j.(220º). ligadas durante a fase da execução do contrato, não podendo uma ser realizada EFEITOS ESSENCIAIS se a outra não o for (sinalagma funcional). 874º - A compra e v. só se encontrará Só não se aplica à compra e v. a exceção definitivamente executada quando se de não cumprimento (428ºss), a verificarem I. a aquisição por parte do caducidade do contrato por comprador do direito de propriedade (e impossibilidade de uma das prestações aquisição da posse) e II. aquisição por (795º) e a resolução por incumprimento parte do vendedor do direito de (801º/2). propriedade sobre determinadas espécies A compra e v. é normalmente um monetárias. contrato comutativo, uma vez que ambas No entanto, este art. vem estabelecer 2 as atribuições patrimoniais se apresentam processos técnicos distintos para a como certas, não se verificando incerteza obtenção desse mesmo resultado. Em nem quanto à sua existência nem quanto relação à aquisição de quantias em ao seu conteúdo. No entanto, a lei dinheiro, bem como em relação à também admite que a compra e v. possa aquisição da posse da coisa vendida, a lei funcionar como um contrato aleatório - socorre-se do instrumento da constituição v.g., venda de bens futuros, frutos de obrigações, tanto por parte do pendentes e partes componentes e vendedor como do comprador, apenas integrantes, a que as partes atribuem considerando definitiva a aquisição após o esse caráter (880º/2); 881º; 2124ºss. cumprimento das mesmas. Já em relação A compra e v. é um contrato de à aquisição da propriedade sobre o bem execução instantânea, uma vez que o seu vendido, a lei dispensa, pelo menos na conteúdo não é delimitado em função do venda de coisa específica, o cumprimento tempo. Essa situação ocorre igualmente da obrigação, considerando a aquisição na venda a prestações pois apesar do seu da propriedade como uma simples fracionamento em diversos períodos de consequência automática da celebração tempo, este apenas determina a forma de do contrato (879º,a) e 408º/1). realização da prestação, não Temos que distinguir no contrato de influenciando o seu conteúdo e extensão. compra e v. entre os seguintes efeitos: - um efeito real (a transmissão da A consensualidade do contrato de compra e propriedade da coisa ou da titularidade do v. tem exceções: se tiver por objeto bens direito) imóveis (875º) só é válido quando for - 2 efeitos obrigacionais (que se celebrado por escritura pública ou por reconduzem à constituição das documento particular autenticado → extensivo obrigações de entregar a coisa e de pagar a todos os atos que importem reconhecimento, o preço). constituição, modificação, divisão ou extinção o efeito real transmissão de propriedade dá-se É essencial à compra e v. a alienação de um no momento em que ocorre a direito, ou seja, uma aquisição derivada do determinação da coisa com mesmo. reconhecimento de ambas as Para essa constituição ou transmissão do partes, salvo se se tratar de uma direito real, basta normalmente o acordo das venda genérica, em que a partes, pelo que a celebração do contrato de transferência da propriedade se dá compra e v. acarreta logo a transferência da no momento da concentração da propriedade (879º a) e 408º/1). A transferência obrigação (540º, 541º). Na venda ou constituição do direito real é de bens futuros (880º), a consequentemente imediata e instantânea. Ao transferência da propriedade contrário do que acontece com os efeitos ocorre no momento em que a obrigacionais, que exigem o posterior coisa é adquirida pelo alienante. cumprimento das respetivas obrigações, o Na venda de frutos naturais ou de efeito real verifica-se automaticamente no partes componentes ou momento da formação do contrato → integrantes de uma coisa, a princípio da consensualidade + causalidade. transferência da propriedade Ao mesmo tempo que consagra o sistema do verifica-se no momento da colheita título,o art.408º/1 refere a possibilidade de ou separação (880º). Na venda existência de exceções «previstas na lei». Se com reserva de propriedade, a se considerar a possibilidade de a transferência aquisição integral da propriedade da propriedade não estar sujeita aos princípios apenas ocorre no momento do elencados, então admitir-se-á outro tipo de pagamento (409º). venda, como a venda obrigatória - existe ● A 2ª sucede quando o fenómeno em vários países e teve origem no direito translativo não se pode verificar romano; caracteriza-se essencialmente por um impedimento originário pelo facto de o contrato de compra e v. (venda de coisa alheia) - o nunca produzir efeitos reais, apenas vendedor não é efetivamente o tendo por função a constituição de proprietário do bem vendido. obrigações. Ocorre uma dissociação entre a Ocorrem no nosso direito 2 tipos de transmissão da propriedade e o situações em que se verifica uma contrato de compra e venda, ainda dissociação entre a celebração do que tal seja resultante de um valor contrato e a transmissão da propriedade. negativo atribuído por lei ao ● A 1ª ocorre sempre que a lei negócio j. (892º), que só pode ser proceda a uma separação, mesmo sanado através da aquisição da que meramente cronológica, entre propriedade (895º), que constitui o momento em que se verifica a uma obrigação para o vendedor conclusão do contrato e o (897º). momento em que ocorre o Assim, mesmo nas hipóteses em que a fenómeno translativo; ex, casos de venda possui uma eficácia translativa não venda de coisas indeterminadas, imediata ou dependente da eventual tais como coisas genéricas ou em verificação de certos atos ou factos, a alternativa, na venda de bens verdade é que o contrato integra sempre futuros, frutos naturais ou partes um esquema negocial translativo, componentes ou integrantes de traduzindo-se na inexistência no direito uma coisa e na venda com reserva português da figura da venda obrigatória. de propriedade - 408º/2 a publicidade da transmissão da reivindicação (1311º), que pode exercer propriedade enquanto proprietário da coisa. O A compra e v. corresponde a um facto cumprimento da obrigação de entrega aquisitivo de direitos reais. Se esses corresponde a um ato material que direitos reais respeitarem a bens imóveis permite ao comprador a sua apreensão ou a móveis sujeitos a registo, a compra e física (móveis) ou a aquisição do gozo v. terá que ser registada, sob pena de não sobre ele (imóveis). ser oponível a 3ºs, etc. Esta imposição Verificar-se-á a atribuição da posse da resulta do facto de que sendo o direito coisa entregue ao comprador (1263º,b)), a real um direito absoluto com eficácia erga qual pode, porém, ocorrer previamente omnes, é conveniente que todos os com a verificação do constituto parceiros interessados possam conhecer possessório (1263º,c) e 1264º). No caso a sua existência. Daí o princípio da de a coisa vendida já estar na posse do publicidade. No nosso sistema (título), comprador, ou de a venda respeitar a atende-se aos interesses das partes, coisas incorpóreas, nem sequer a entrega sacrificando-se o interesse da segurança se torna necessária, o que demonstra e celeridade do comércio j. ao interesse que, sendo esta obrigação um efeito da regularidade na constituição do direito legalmente obrigatório do contrato, não real. A publicidade é relevante, no constitui um elemento essencial do entanto, será normalmente declarativa contrato de compra e v.. (408º/1). Se a venda for de coisa específica, o vendedor apenas pode cumprir o risco no contrato de compra e v. entregando ao comprador a coisa que foi O facto de a transferência da objeto de venda, não a podendo propriedade ocorrer logo no momento da substituir, mesmo que tal não acarretasse celebração do contrato atribui um prejuízo para o comprador. importante benefício ao comprador, uma Se a venda for de coisa genérica, o vez que, tornando-se logo proprietário da vendedor pode cumprir o contrato, coisa vendida deixa de estar sujeito ao entregando ao comprador qualquer coisa concurso de credores (604º e 1305º/1); dentro do género. tem igualmente que suportar qualquer A obrigação de entrega da coisa prejuízo. específica é objeto de regulação especial Associada à transferência da no 882º/1 - a coisa deve ser entregue no propriedade aparece a transferência do estado em que se encontrava ao tempo risco (796º/1) - o risco fica a cargo do da venda, fazendo recair sobre o comprador, exceto o nº2. Se tiver sido vendedor um dever específico aposta uma condição ao contrato, se for relativamente à custódia da coisa, dever resolutiva o risco corre por conta do que ele deve executar com a diligência de adquirente se a coisa lhe tiver sido um bom pai de família (799º/2 e 487º/2). entregue; sendo suspensiva, o risco corre Assim, caso a coisa se venha a deteriorar, por conta do alienante durante a adquirir vícios ou perdendo qualidades pendência da condição (796º/3). entre o momento da venda e o da entrega, presume-se existir OS EFEITOS OBRIGACIONAIS responsabilidade pelo vendedor por o dever de entregar a coisa incumprimento dessa obrigação (918º), a É atribuído ao comprador um direito de menos que demonstre que não teve culpa crédito à entrega da coisa pelo vendedor, (799º/1). o qual concorre com a ação de Já em relação à entrega de coisas trate de coisas determinadas, coisas genéricas, aplica-se o 539º ss bem como genéricas a ser escolhidas de um conj. as regras relativas à determinação da determinado, ou coisas a ser produzidas prestação (400º). O vendedor terá que em certo lugar, o 773º determina que a entregar as coisas correspondentes à coisa deve ser entregue no lugar em que quantidade e qualidade convencionada no se encontrava ao tempo da conclusão do contrato de compra e v. e deverá escolher negócio. Nos outros casos, deverá ser coisas de qualidade média, a menos que entregue no domicílio do vendedor (772º). tenha sido convencionado o contrário. O Em relação às coisas imóveis, a entrega desrespeito dessas regras determinará a física ocorre no lugar onde a coisa se aplicação do regime do incumprimento encontra, devendo, porém, aplicar-se o das obrigações (918º). critério supletivo geral do domicílio do A obrigação de entrega abrange, salvo devedor (772º) - obrigação de colocação. estipulação em contrário, as partes Em caso de não cumprimento da integrantes, os frutos pendentes e os obrigação de entrega por parte do documentos relativos à coisa ou direito vendedor, pode o comprador nos termos (882º/2). A obrigação da entrega pode gerais intentar contra aquele uma ação de ainda incluir outros objetos como, por ex, cumprimento (817ºss) que, tratando-se de a embalagem. coisa determinada, pode incluir a execução específica da obrigação (827º). A obrigação de entrega por parte do O vendedor está sujeito a ter que vendedor é sujeita às regras gerais indemnizar o comprador pelos danos que quanto ao: lhe causar o incumprimento da obrigação - tempo (777ºss) - se as partes não (798ºss) ou mora no cumprimento convencionarem prazo certo para a sua (804ºss). O comprador pode ainda realização, o comprador pode exigir a resolver o contrato (801º/2). todo o tempo a entrega da coisa, assim Por vezes o vendedor tem que emitir como o vendedor pode a todo o tempo fatura no âmbito da compra e v. comercial proceder a essa entrega (777º/1). O (476º CCom); está sujeito aos deveres vendedor ficará, neste caso, constituído acessórios impostos pelo princípio da boa em mora com a interpelação do fé (762º/2). comprador (805º/1). A obrigação de pagamento do preço No caso de ter sido convencionado corresponde a uma obrigação pecuniária prazo certo, ou este resultar da lei (ex, (550ºss). A assunção desta obrigação no venda comercial), o vendedor terá que contrato de compra e v. faz nascer na entregar a coisa até ao fim desse prazo, esfera do vendedor um direito de crédito sem o que incorrerá em mora (805º/2,a)), sobre o comprador. podendo, no entanto, optar pela 280º - não é necessário no contrato de antecipação do cumprimento, uma vez compra e v. que o preço se encontre que o prazo se presume estipulado em determinado no momento da celebração do seu benefício. A obrigação de entrega da contrato, bastando que seja determinável/ 883º coisa vendida está sujeita ao prazo - critérios supletivos; aplica-se também caso as ordinário de prescrição de 20 anos (309º). partes façam referência à expressão «preço - lugar do cumprimento (772ºss) - Caso justo» → caso não se possa aplicar, o preço não ocorra qualquer estipulação das será determinado pelo tribunal… partes, haverá que distinguir consoante se 885º - o preço deve ser pago no trate de coisas móveis ou imóveis. momento da entrega da coisa vendida - Relativamente às coisas móveis, caso se presumindo que a transmissão da propriedade já se tenha verificado ou transmissão da propriedade); coincida com a entrega. Assim, se a c) ainda não ter ocorrido a transmissão de entrega ocorrer antecipadamente a essa propriedade (mesmo que a coisa já tenha transmissão, não obrigará o comprador a sido entregue). pagar o preço. A imposição do pagamento do preço no a) esta solução é admissível face à momento da entrega pressupõe que natureza supletiva do 886º. Da mesma nesse momento a obrigação do vendedor forma que é possível convencionar seja integralmente cumprida. Se a entrega fundamentos contratuais para atribuição for feita por fases, a prestação do preço do direito de resolver o contrato (432º/1) e apenas deve ser efetuada aquando da inclusivamente estipular uma modalidade realização da última entrega, salvo se as de venda em que se reconheça partes convencionaram o preço em incondicionalmente ao vendedor essa função da quantidade das coisas faculdade num certo lapso de tempo vendidas. (927º/1) nada impede as partes de Quanto ao lugar de cumprimento da estipular igualmente que o incumprimento obrigação de pagamento do preço, se as da obrigação de pagar o preço constitua partes nada tiverem estipulado, o preço fundamento de resolução. Nesse caso, deve ser pago no lugar da entrega da serão derrogadas as restrições do 886º, coisa (885º/1) vs 885º/2 + 774º. sendo admissível a resolução por A obrigação de pagamento do preço incumprimento. encontra-se colocada em nexo de reciprocidade com a entrega da coisa, b) o contrato ainda não se encontra totalmente pelo que, constituindo a compra e v. um executado, podendo até o vendedor recusar a contrato sinalagmático, o não entrega da coisa, enquanto o comprador não cumprimento da obrigação de pagamento pagar o preço (428º). Nada obsta à aplicação do preço poderia dar lugar à resolução do da resolução do contrato, em caso de se contrato por incumprimento (801º/2). O verificar o incumprimento da obrigação de 886º vem, no entanto, restringir essa pagamento do preço → preferível do que faculdade: no caso de ter sido prolongar a artificialmente a suspensão da definitivamente efetuada a atribuição execução do contrato até à cobrança coerciva patrimonial do vendedor - através da do preço. transferência da propriedade e entrega do bem - ele não poderá, em princípio, fazer c) uma vez que o vendedor conserva a reverter essa atribuição patrimonial por propriedade com fins de garantia, poderá meio da resolução por incumprimento e em caso de incumprimento, proceder à reclamar por essa via a restituição do resolução do contrato e exigir a restituição bem. As suas ações contra o comprador do bem. ficam restringidas à ação de cumprimento para cobrança do preço (817º) e O art.878º determina que as despesas respetivos juros moratórios (806º/1). do contrato e outras acessórias ficam a Apesar de fortemente restringida, a cargo do comprador. Relativamente às resolução do contrato por incumprimento despesas com o contrato, a lei determina da obrigação do comprador é possível que recaem sobre o comprador os nas seguintes situações: encargos com a celebração do contrato a) haver convenção em contrário; (despesas emolumentares relativa à b) ainda não ter sido entregue a coisa celebração do contrato em documento (mesmo que já tenha ocorrido a autenticado ou autêntico e as do registo de transmissão). Já não serão abrangidas comprador (876º/3 e 580º/2) → estabelecido na regra do 878º as despesas relativas a no interesse do vendedor (+indemnização atos de execução (cumprimento de limitada ao interesse contratual negativo). obrigações do vendedor e do comprador que deverão ficar a cargo do respetivo venda a filhos ou netos devedor). Assim, correrão por conta do Proibição específica de venda - 877º/1. vendedor as despesas relativas à guarda, Se a venda vier a ser realizada, não é embalagem, transporte e entrega da coisa nula mas sim anulável (877º/2). O devida e do comprador as despesas consentimento dos descendentes não necessárias para o pagamento do preço. está sujeito a forma especial (219º). A proibição abrange sucessivamente a PROIBIÇÕES DE VENDA venda por pais a filhos e por avós e netos. Casos em que a lei veda a celebração Apesar de a lei não o referir do contrato de compra e venda entre expressamente, deve ser igualmente determinadas pessoas por razões abrangida por esta disposição a venda atinentes às relações das partes entre si feita a descendentes feita por interposta ou com o objeto negocial - admitindo-se, pessoa. porém, a sua realização entre outros O prof.M.L. questiona a remissão do sujeitos. 939º (para a troca), uma vez que não se coloca o problema da simulação. venda de coisa ou direito litigioso No 877º/3 o legislador seguiu a doutrina A 1ª proibição de venda consiste na de Cunha G. - o prof.M.L. não concorda a proibição de venda de coisa ou direito 100%. litigioso. O 876º/1 remete para a proibição da cessão de créditos e direitos litigiosos compra de bens do incapaz pelos (579ºss). seus pais, tutor, curador, adm. legal de As coisas ou direitos consideram-se litigiosos bens ou protutor que exerça as quando tiverem sido contestados em juízo funções de tutor contencioso, ainda que arbitral, por qualquer 1892º; 1893º; 1894º; 1939º; 1937º,b); interessado (579º/3) → divergência doutrinária: Batista L.- é necessário que haja venda entre cônjuges processo pendente vs Raúl V. (+M.L.) - o Razões: princípio da imutabilidade das direito é considerado litigioso a partir da convenções antenupciais + através da propositura da ação. celebração de uma compra e v., as partes Fora dos casos do 579º/1 e 2, a venda poderiam simular a realização de uma de coisas ou direitos litigiosos é doação ao cônjuge, elidindo a regra da plenamente admitida, devendo processar- sua livre revogabilidade (1765º). Apesar se a substituição processual do vendedor de o negócio simulado ser nulo (240º), pelo comprador. A razão para esta sendo válido o dissimulado (241º), em proibição é o receio dessas entidades muitos casos a prova da simulação é atuarem com fins especulativos; daí que a extremamente difícil, o que justifica que o proibição cesse em determinadas legislador pretenda reagir contra esta situações em que não existe esse receio. possibilidade. Entre os cônjuges essa Se, apesar da proibição, vier a ser realizada a proibição cessa a partir do momento em venda, é esta considerada nula, sujeitando-se o que se encontram judicialmente comprador nos termos gerais à obrigação de separados de pessoas e bens. reparar os danos causados (876º/2 e 580º/1). A À semelhança do que se prevê na venda nulidade não pode ser invocada pelo a filhos e netos, é lícita a dação em cumprimento feita por 1 dos cônjuges ao «exercer as diligências necessárias para que o seu consorte (1714º/3). comprador adquira os bens vendidos...». O vendedor estará obrigado a adquirir o bem compra de bens da massa insolvente vendido, após o que a transferência da pelo administrador da insolvência propriedade se processará automaticamente CIRE - 168º para o comprador, em virtude da anterior celebração do contrato de venda (408º/2). Se MODALIDADES ESPECÍFICAS DE deixar de cumprir essa obrigação responderá VENDA perante o comprador por incumprimento (798º). Uma vez que está em causa uma venda de bens futuros, de frutos obrigação emergente de um contrato pendentes e de partes componentes ou validamente celebrado, essa indemnização não integrantes de uma coisa ficará limitada pelo interesse contratual 880º CC e 467º CCom negativo. Se se tornar impossível proceder a A venda de bens futuros ocorre sempre que o essa aquisição parcial ou totalmente por facto vendedor aliena bens que não existem ao que não lhe seja imputável, haverá extinção da tempo da declaração negocial (ex, venda de obrigação ou o cumprimento parcial → o uma fração autónoma de um edifício ainda por vendedor perderá o direito à contraprestação construir), que não estão em seu poder (ex, (795º/1), ou verá esta ser proporcionalmente venda dos peixes que vier a pescar nesse dia reduzida (793º/1). no lago) ou a que ele não tem direito (ex, 1 A venda de bens futuros pode ainda ser agricultor vende os cereais que lhe virão a ser clausulada como contrato aleatório (880º/2), fornecidos por outro agricultor). Pode também caso em que o objeto de venda é a mera ser considerada como venda de bens futuros a esperança de aquisição das coisas, como venda de frutos pendentes, partes componentes alguém vender a futura produção de laranjas ou integrantes da coisa → conceito amplo de do seu pomar, independentemente de esta coisa futura que abrange as coisas ainda não ocorrer ou não. O comprador está obrigado a autónomas de outras coisas, que destas irão ser pagar o preço, ainda que a transmissão dos separadas → o 880º justifica-se em virtude de bens não se venha a verificar (ex, a colheita se o 408º/2 estabelecer a transferência de vir a perder). propriedade em momentos diferentes. A distinção entre a venda de bens futuros e a Ao contrário do que sucede na venda de venda de esperanças reside no facto de nesta coisa alheia (892º), nenhuma das partes última existir uma atribuição ao comprador do ignora que a coisa não pertence ao risco de não se verificar a transmissão da alienante, ainda que haja propriedade clausulada no contrato. necessariamente a expetativa de ela vir a 880º/2: a venda de esperanças é um integrar, no futuro, o seu património. É contrato aleatório, uma vez que o sempre essencial à compra e v. a comprador tem sempre que pagar o existência de uma aquisição derivada do preço, mas não tem a certeza de existir direito a partir do vendedor, pelo que não qualquer correspetivo patrimonial nesse se poderá aplicar o 880º sempre que as contrato, uma vez que corre por sua conta partes convencionarem que a e risco a verificação ou não da transferência da propriedade se realizará transmissão da propriedade. a título originário ou diretamente da esfera de um 3º para o comprador. Tem sido objeto de discussão na Nesse caso, a transferência da propriedade doutrina a natureza da venda de bens não ocorre imediatamente, pelo que a lei faz futuros. surgir, a cargo do vendedor, uma obrigação de - 1 posição sustenta que se trataria de um negócio incompleto ou em via de que, desde a celebração do contrato, o formação, na medida em que o consenso comprador se constitui nessa obrigação, a das partes seria insuficiente para produzir qual em relação a ele não fica a transmissão da propriedade, enquanto dependente da resolução de qualquer faltasse a coisa, apenas se concluindo o incerteza. negócio com a aquisição pelo vendedor. Se, porém, as partes recusarem ao - Outro posição refere que se trata de um contrato natureza aleatória a obrigação de negócio sob a condição suspensiva de os pagar o preço fica dependente do bens passarem para a disponibilidade do cumprimento da obrigação de entrega vendedor. (885º/1). O comprador apenas ficará - Outra posição refere tratar-se de uma definitivamente constituído na obrigação modalidade especial de venda obrigatória, de pagar o preço após a resolução da uma vez que o vendedor se obriga, com situação de incerteza em relação à coisa, caráter definitivo, a realizar o que for podendo nos termos gerais recusar o necessário para que se possa verificar a cumprimento da obrigação enquanto o aquisição da propriedade pelo comprador. vendedor não lhe efetuar a sua entrega. O prof.M.L. discorda completamente das 2 primeiras posições e concorda em venda com reserva de propriedade grande parte com a 3ª. Outra modalidade específica da venda. A venda de bens de existência ou Razão: Ocorrendo, entre nós, a transferência titularidade incerta distingue-se da venda da propriedade sempre em virtude da de bens futuros (880º) porque não toma celebração do contrato e, normalmente no por base a expetativa de uma futura momento dessa celebração, a transmissão dos aquisição ou autonomização da coisa no bens seja extraordinariamente facilitada em património do vendedor, mas antes a prejuízo dos efeitos do alienante. Assim, se for incerteza de uma situação presente, celebrado um contrato de compra e v. de um relativa à existência ou à titularidade do bem, o comprador torna-se imediatamente bem objeto de venda. Distingue-se proprietário do bem vendido e pode voltar a igualmente da venda de bens alheios nula aliená-lo, mesmo que este não lhe tenha sido (892º), porque o vendedor não celebra o entregue ou o preço respetivo ainda não esteja contrato na qualidade de proprietário da pago. O vendedor apenas poderá cobrar o coisa, excluindo qualquer garantia preço → mero direito de crédito, que não lhe relativamente a essa situação. Não existe atribui qualquer preferência no pagamento, o na venda de bens de existência ou que implica para o vendedor ter de concorrer titularidade incerta nenhuma obrigação de com todos os credores comuns do comprador o vendedor praticar os atos necessários sobre o património deste (604º/1). Assim, caso para que o comprador adquira os bens o comprador não possua bens suficientes para vendidos (880º e 897º). O vendedor ficará pagar a todos os seus credores, o vendedor não apenas constituído no dever de entregar a terá a possibilidade de pagar a totalidade do coisa, se e quando se comprovar que esta preço. existe e/ou lhe pertence. A compra e v. a crédito (venda a prestações Se a venda de bens de existência ou ou venda com espera do preço) apresenta-se titularidade incerta tiver sido celebrada como um negócio que envolve riscos elevados como contrato aleatório, o preço é devido para o vendedor. pelo comprador, ainda que os bens não Mais do que isso, a lei para facilitar a existam ou não pertençam ao vendedor. transmissão dos bens e evitar que esta seja O preço será devido logo no momento da revertida, vem, através do 886º, retirar ao celebração do contrato (M.L.), uma vez vendedor a possibilidade de resolução do contrato por incumprimento da outra parte do comprador (104º/4 CIRE) se exige a (801º/2), a partir do momento em que ocorra a forma escrita. transmissão da propriedade e a entrega da A cláusula de reserva de propriedade coisa. pode ser celebrada em relação a Em virtude dessas consequências quaisquer bens móveis ou imóveis, mas gravosas, tornou-se comum, nos estes terão que ser coisas específicas e contratos de compra e v. a crédito, a não consumíveis. celebração de uma cláusula de reserva de A lei dispõe que, no caso de bens propriedade (409º): convenção pela qual imóveis ou móveis sujeitos a registo, só a o alienante reserva para si a propriedade cláusula constante do registo é oponível a da coisa, até ao cumprimento total ou 3ºs (409º/2) - se do registo constar a parcial das obrigações da outra parte, ou inscrição da venda s/ menção da reserva até à verificação de outro evento. As de propriedade, ela será considerada em partes convencionam assim diferir a relação a 3ºs como imediatamente transferência da propriedade para um translativa. Suscita-se a dúvida sobre a momento posterior ao da celebração do oponibilidade a 3ºs da reserva de p. contrato. Normalmente, o evento que quando ela respeite a bens móveis não determina a verificação dessa registáveis: de acordo com os princípios transferência é o pagamento do preço, o da causalidade e consensualidade, a que constitui a forma comum e típica de reserva poderá ser oposta a 3ºs de boa fé venda com reserva de propriedade, ainda (ao contrário do que sucede, por ex, na que as partes ao abrigo da sua autonomia venda a retro, 932º). A lei só exige a privada, possam colocar a transferência publicidade da reserva de propriedade da propriedade dependente da verificação nos casos de bens sujeitos a registo. de qualquer outro evento, o qual pode ser No entanto, se o 3º adquirir a o pagamento de uma dívida a 3º. propriedade a título originário (ex, A compra e v. com reserva de usucapião e acessão), a reserva de propriedade é muito comum - o vendedor propriedade extinguir-se-á. procede à entrega da coisa ao comprador, A cláusula de r.p. implica assim que, por por forma a permitir-lhe o gozo dela antes acordo entre o vendedor e comprador, a que o preço esteja pago. transmissão da propriedade fique diferida para o momento do pagamento integral do preço → regime da venda com reserva de defender o vendedor das eventuais propriedade consequências do incumprimento do Se a venda já foi celebrada, não poderá comprador; impede os credores do comprador posteriormente ser nela inserida uma de executarem o bem, podendo o vendedor cláusula de reserva de propriedade, dado reagir contra essa execução através de que a propriedade nesse caso já foi embargos de 3º (351º CPC). transferida para o comprador. Em virtude No caso de insolvência do vendedor da inserção da cláusula de reserva da (104º/1 CIRE), o comprador poderá exigir propriedade no âmbito do contrato de o cumprimento do contrato se a coisa já compra e v., a reserva terá que obedecer tiver sido entregue à data da declaração à forma legalmente exigida para o de insolvência...104º/5. Relativamente a contrato, podendo inclusivamente ser adquirentes do vendedor, este não pode consensual nos casos em que o contrato legitimamente voltar a dispor do bem, de compra e v. não esteja sujeito a forma depois de ter constituído sobre ele uma especial. Apenas em casos de insolvência expetativa real de aquisição a favor do comprador. Se o fizer, sendo a reserva oponível a 3ºs, a posição j. do comprador Posições doutrinárias: prevalecerá sobre a 2ª aquisição, ● Teoria da condição suspensiva - devendo aplicar-se a esta o regime da Galvão T., Antunes V., etc venda de bens alheios (892º). / ressalva - a transmissão da propriedade do regime especial instituída para a ficaria subordinada a um facto situação da coisa comprada de boa fé a futuro e incerto (o pagamento do comerciante (1301º). preço), o que permitiria ver a Por outro lado, em caso de posição j. do comprador como a incumprimento por parte do comprador, o de adquirente condicional, vendedor continua a poder resolver o permitindo aplicar ao comprador o contrato (801º/2), uma vez que a exclusão regime do 273º e 274º, daí deste direito pelo 886º só se verifica se resultando que o risco do tiver ocorrido a transmissão da perecimento da coisa durante esse propriedade da coisa. Em caso de venda período correria por conta do a prestações, o 934º exclui vendedor, ainda que a coisa já imperativamente a possibilidade de tivesse sido entregue (796º/3, in resolução do contrato se o comprador fine). faltar ao pagamento de uma única O prof.M.L. discorda por prestação e esta não exceder a oitava inúmeras razões: não há na parte do preço - já haverá lugar à reserva de propriedade qualquer resolução do contrato se o comprador condição, mas antes uma faltar ao pagamento de 2 prestações, alteração da ordem de produção mesmo que estas, em conj, não excedam dos efeitos negociais; a oitava parte. Devendo o risco ocorrer ● Teoria da condição resolutiva - por conta de quem beneficia do direito, a Cunha G. - a propriedade seria partir da entrega, é por conta do logo transmitida para o comprador, comprador que o risco deve correr, não mas a partir do momento em que ficando este exonerado do pagamento do se verificasse o incumprimento do preço em caso de perda ou deterioração pagamento do preço, ocorreria a fortuita da coisa. resolução dos efeitos do negócio, Se se vier a verificar a perda ou deterioração com eficácia retroativa, sendo da coisa, em resultado de um dano assim recuperada a propriedade culposamente causado por um 3º, o vendedor pelo vendedor não pode reclamar a totalidade da Para o prof.M.L., esta teoria entra indemnização, uma vez que, enquanto em contradição com o disposto no conservar o crédito do preço, o património do 409º/1 e 304º/3; devedor não sofre qualquer diminuição → ● Teoria da venda obrigacional - discussão doutrinária: RHUL - fenómeno de Itália sub-rogação real, adquirindo o comprador o - na venda com reserva de p. não direito ao ressarcimento apenas com o se verificaria automaticamente o pagamento do preço; RAISER - tanto o efeito translativo com a celebração vendedor como o comprador são titulares da do contrato, mas antes se indemnização; BIANCA - é o comprador o instituiria uma obrigação para o principal titular da indemnização, mas o vendedor de fazer o comprador vendedor tem também direito a alguma parte. adquirir a propriedade após o pagamento do preço. natureza j. da venda com reserva de O prof.M.L. critica esta posição, propriedade uma vez que a aquisição de propriedade pelo comprador na móveis sujeitos a registo, tenha que ser venda com reserva de p. verifica- registada. se logo que ele cumpre a Já em relação ao comprador, até ao obrigação de pagamento do preço; pagamento do preço, se ele não é ainda ● Teoria da dupla propriedade - Itália proprietário (por causa da reserva de p.), - após a celebração do contrato e trata-se de uma expectativa real de até ao pagamento do preço, aquisição + um direito de gozo que inere à ambas as partes se devem coisa e é oponível erga omnes → poder, considerar proprietárias do bem. por parte do comprador, de desfrutar A esta teoria tem sido colocada a livremente da coisa e defender o seu direito crítica de a propriedade ser um sobre ela, podendo utilizar as ações direito exclusivo (1305º); possessórias (1276ºss) e a reivindicação (1311º ● Teoria da venda com eficácia e 1315º), bem como pedir uma indemnização translativa imediata, associada à pelos danos causados, caso venha a ser violado atribuição ao vendedor de uma o seu direito de gozo (pelo vendedor ou 3ºs). posição j., que lhe garante, com Tanto o vendedor como o comprador eficácia real, a recuperação do são titulares de sit. j. reais, havendo que bem em caso de não pagamento distribuir o risco de acordo com o proveito do preço - Alemanha e Itália que cada um tirava da respetiva sit. j.. Na - a venda com reserva de p. reserva de p., o risco transfere-se para o destina-se apenas a atribuir ao comprador logo que a coisa lhe seja vendedor uma sit.j. real que lhe entregue. permita obter a recuperação da propriedade em caso de não VENDA A PRESTAÇÕES pagamento do preço; A venda a prestações aparece-nos na secção iniciada pelo 934º: a reserva de f) Teoria da venda com eficácia translativa propriedade é uma convenção comum, diferida ao momento do pagamento do mas não necessária na venda a preço, com a atribuição medio tempore ao prestações e, conforme resulta da sua 2ª comprador de uma posição j. diversa da parte, esta disposição refere-se à venda a propriedade - doutrina maioritária - prestações em geral, com ou sem reserva Alemanha e Itália de propriedade. - expectativa real de aquisição Genericamente, esta norma funciona M.L.(teoria) - teoria da atribuição ao como derrogação ao art.781º que previa comprador de uma expectativa real de que, nas obrigações com prestações aquisição. A conservação da propriedade fraccionadas, a falta de cumprimento de no vendedor visa essencialmente funções uma das prestações importa a perda do de garantia do pagamento do preço, uma benefício do prazo quanto às restantes1. A vez que o negócio translativo já foi lei entende que tal constitui uma solução celebrado, permitindo que este resolva o demasiado drástica nas vendas a contrato e exija a restituição da coisa em prestações, caso o comprador falte ao caso de incumprimento. Já não será, pagamento de uma única prestação, que porém, lícito ao vendedor reivindicar sem não exceda a oitava parte do preço. Por motivo algum a coisa do comprador, ou esse motivo, prevê-se injuntivamente que voltar a dispor do mesmo bem a 3º. A reserva de p. é oponível a 3ºs, ainda que, 1 o vendedor só pode, por isso, cobrar juros quando se trate de bens imóveis ou de de mora relativamente às prestações que futuramente se venceriam, a partir do momento da interpelação. na venda a prestações essa situação não estipulação em contrário, da circunstância acarreta a perda do benefício do prazo de ter sido celebrada uma cláusula de para o comprador. Para que tal aconteça, reserva de propriedade. Porém, essa é necessário estarem em falta 2 resolução do contrato muitas vezes não prestações, independentemente do seu consiste na tutela adequada dos vavalor2, ou que a prestação que se interesses do vendedor, uma vez que, deixou de realizar excedesse um oitavo tem como efeito (e pressuposto: 432º/2) a do preço. restituição de tudo o que tiver sido Tendo a coisa já sido entregue, a perda prestado ao abrigo do contrato (433º e do benefício do prazo para pagamento do 289º). No caso de venda a crédito de preço só permite, por força do 886º, o bens duradouros, o decurso do tempo recurso à resolução do contrato pelo provoca a sua desvalorização contínua, vendedor, caso tenha sido estipulada uma em ritmo muito maior que a reserva de propriedade. Daí que o 934º desvalorização monetária. Assim, quando comece por fazer referência à reserva de é restituído o bem ao vendedor, ele p., uma vez que se refere à resolução do normalmente terá um valor de retoma contrato. muito inferior, à parte do preço já recebida Tem sido objeto de alguma controvérsia pelo vendedor, o que pode desaconselhar na doutrina a natureza supletiva ou o recurso à resolução do contrato3. imperativa da disposição do 934º, em Para evitar esses inconvenientes tornou- virtude do caráter ambíguo da expressão se usual nos contratos de compra e v. a «sem embargo de convenção em prestações a estipulação de cláusulas contrário». A posição dominante na penais para a hipótese de incumprimento doutrina vai no sentido da imperatividade por parte do vendedor, as quais, por da norma: vezes, chegavam a coincidir com o preço ● Batista Lopes defende a estipulado, ou a afastar qualquer supletividade restituição das prestações já recebidas ● Vasco X., Romano M. e Teresa A. por parte do vendedor. defendem a imperatividade O legislador acabou por estabelecer limites Efetivamente, consistindo esta numa máximos à estipulação de cláusulas penais nas norma de proteção ao comprador a vendas a prestações → 935º/1 - interpretação crédito, normalmente a parte mais fraco restritiva (M.L.). no contrato, não faria sentido admitir-se A indemnização por o comprador não que essa proteção fosse retirada por cumprir nos termos do 798º e 801º/2 pode simples estipulação negocial, que tomar por base tanto o interesse dificilmente corresponderia a um efetivo contratual negativo como o interesse exercício de liberdade contratual. contratual positivo, consoante o vendedor Na venda a prestações, a resolução do proceda ou não à resolução do contrato. contrato pelo vendedor depende, salvo Estando em causa o interesse contratual positivo, por não se ter optado pelo 2 ex, o vendedor vende um tractor agrícola resolução do contrato, não há qualquer por 100 mil euros, comprometendo-se o comprador a pagar 20 mil por ano. 4 anos 3 É o caso referido por Batista L., de se depois o comprador deixa de pagar o preço, o vender uma adega de vinho, contendo 50 que permite ao vendedor resolver o contrato. pipas de vinho tinto e 50 de branco, quando Se o tractor ao fim de 4 anos valer 25 mil, as no fim se verifica que na adega há antes 40 regras da resolução do contrato implicariam pipas de tinto e 60 de branco. Não tem o que o vendedor tivesse que restituir 80 mil vendedor que corrigir a discrepância, uma vez para receber de volta um bem que agora só que o excesso de uma das categorias vale 25 mil. compensa a falta de outra. motivo para limitar a indemnização a Sendo qualificada como contrato de metade do preço. Esse limite só pode crédito ao consumo, a venda a prest. é valer quando o vendedor resolve o sujeita a uma regime especial, destinado contrato com base no incumprimento do a proteger o consumidor, normalmente comprador, o que lhe permite exigir a considerado mal informado. restituição da coisa entregue Este dever de informação pode, porem, cumulativamente com a indemnização não ser suficiente, daí a sujeição do pelo interesse contratual negativo contrato de crédito ao consumo à forma (801º/2). O prof. M.L., Vasco X. e Teresa escrita e inclusão de um certo nº de A. concluíram que o 935º apenas se menções. aplica às cláusulas penais relativas à A sanção para a sua inobservância é indemnização a pedir na hipótese de genericamente a nulidade. resolução do contrato. [Ver o resto do DL se necessário] Estabelece-se, assim, o limite da metade do preço em relação às cláusulas penais, o que não prejudica a possibilidade de as LOCAÇÃO-VENDA partes estabelecerem a convenção de Aparece referida no 936º/2. Neste caso, as ressarcibilidade do prejuízo excedente partes declaram estipular uma locação, mas (811º/2). Caso as partes estabeleçam convencionam que a propriedade passará para essa convenção, o vendedor não o locatário automaticamente no fim do necessita de provar qualquer prejuízo se pagamento de todas as rendas ou alugueres apenas reclamar a cláusula penal, tendo o convencionados. Esta convenção implica que ónus que provar que os danos sofridos essas prestações não correspondem a uma excederam esse montante sempre que contrapartida do gozo temporário da coisa, reclame uma valor superior. mas ao pagamento da transmissão da Se as partes estabelecem uma cláusula propriedade sobre ela, apenas com a diferença penal de montante superior a metade do que esse pagamento ocorre antes dessa preço, a lei determina imperativamente a transmissão. O contrato, apesar de qualificado sua redução a metade do preço (mesmo pelas partes como locação, desempenha a por via da exclusão da restituição das mesma função económica da venda a prestações já recebidas). A estipulação prestações com reserva de propriedade, pelo desse montante superior vale, no entanto, que é sujeita pelo legislador ao mesmo regime como convenção de ressarcimento do (936º/1 e, no caso de insolvência, o 104º/2 prejuízo excedente até esse montante CIRE) → a locação-venda caiu em desuso. (935º/2). A função principal do 936º/2 é impedir as O 936 vem, por outro lado, estender este partes de, através da estipulação de uma regime a todos os contratos pelos quais locação, derrogarem o regime vigente se pretenda obter resultado equivalente para a venda a prestações. Assim, o ao da venda a prestações. legislador determina que a resolução tem obrigatoriamente efeito retroativo, não venda a prestações efetuada no âmbito funcionando consequentemente o regime de relações de consumo do 434º/2, vigente para as prestações de Ocorre sempre que seja realizada a natureza periódica, como seria o caso da pessoa singular que atue com objetivos renda devida por um contrato de locação. alheios à sua atividade comercial ou É assim imposta ao vendedor, em caso profissional - considerada como um de resolução por incumprimento, a contrato de crédito ao consumo (DL devolução das prestações recebidas. 359/91). apenas podendo exigir uma indemnização nos termos gerais, ou estipular uma associada a uma opção de compra ou a cláusula penal nos mesmos termos do promessa unilateral de venda. 935º. Será apenas permitido ao vendedor Se a locação-venda ou locação estipular uma indemnização convertível em venda forem celebradas correspondente a metade do valor total com consumidores finais, são das prestações convencionadas, a qual consideradas como contratos de será igualmente aplicável no caso de as aquisição a crédito. realizadas excederem esse valor e se tiver convencionado a não restituição VENDA DE COISAS SUJEITAS A destas. No entanto, havendo prejuízo CONTAGEM, PESAGEM E MEDIÇÃO excedente, este poderá ser ressarcido até Os arts.887º ss regulam a venda de ao limite da indemnização convencionada. coisas determinadas sujeitas a contagem, A natureza da locação-venda tem sido pesagem ou medição. Consiste esta controvertida na doutrina: numa venda de coisas determinadas e ● uma posição sustenta tratar-se de não coisas genéricas, uma vez que nesta uma união alternativa de estão em causa coisas indeterminadas, contratos, uma vez que se o dado que a obrigação só está locatário pagar todas as determinada quanto ao género e prestações, a situação será de quantidade (539º). Não se aplica assim compra e v., enquanto que se este regime se as partes se limitam a devolver a coisa antes do comprar 20 kg de maçãs ou acordam no pagamento integral, o regime fornecimento de tantos kw de eletricidade. aplicável será o da locação - Já será, no entanto, aplicável o regime do Inocêncio Galvão T. e Romano M.. 887º ss se as partes acordam na venda ● para outra posição, estaremos de um determinado saco de maçãs, que perante uma verdadeira venda indicam conter 20 kg, uma vez que nesse com reserva de propriedade, uma caso já se estará perante uma venda de vez que a função económica do coisas específicas, ainda que sujeita a contrato é exatamente idêntica a pesagem, sendo a essa situação que se esta - Teresa A.. refere esta modalidade específica de ● para o prof.M.L. é preferível venda. qualificar esta figura como uma Encontra-se ainda uma referência a vendas modalidade específica de venda sujeitas a contagem, pesagem ou medição no em que, sendo diferida a 472º CCom. → regime diferente do risco da transmissão da propriedade até ao venda a conta, peso ou medida em relação à pagamento do preço, o vendedor venda a esmo ou por partida inteira. O regime se obriga entretanto a do risco aqui estabelecido corre contra o proporcionar ao comprador o gozo vendedor, o que faz supor que esta disposição da coisa, como locatário desta. se refere a vendas genéricas, sujeitas a essa Distinta desta figura é a locação regra (541º), e não à venda de coisas convertível em venda, como sucederá no determinadas do 887º ss. Para M.L., Romano caso de se convencionar uma efetiva M. e Raúl V., conclui-se a inexistência de relação de locação, com a possibilidade regime específico no âmbito do D.Com. para futura e eventual de aquisição do bem por esta situação, valendo, por isso, também aqui o parte do locatário, mediante o pagamento regime civil (3º CCom.). de um preço suplementar. Nesses casos, haverá uma efetiva relação de locação, Ao contrário do que sucede na venda de coisas genéricas, em que a indicação da quantidade se torna necessária à própria função de um tanto por cada unidade perfeição do contrato, no âmbito da venda vendida (venda ad mensuram ou por de coisas específicas, não é necessária a medida) ou tenha, pelo contrário, sido indicação no contrato de qualquer estabelecido para o conj. de coisas quantidade, uma vez que a simples vendidas (venda ad corpus ou a corpo). individualização da coisa já é, por si, No 1º caso, o 887º determina que, suficiente para determinar o objeto da independentemente da quantidade venda. Pode, porém, acontecer que as referida no contrato, o que o comprador partes resolvam, também no âmbito da deve é o preço proporcional ao nº, peso venda de coisas determinadas, ou medida real das coisas vendidas. No acrescentar no contrato a referência à 2º caso, o 888º determina que o quantidade da venda, quer para efeitos de comprador deve o preço declarado, melhor descrição do bem vendido, quer mesmo que a indicação de quantidade para efeitos de determinação do seu referida no contrato não tenha preço. Essa situação ocorre correspondência com a realidade, a especialmente no âmbito da venda de menos que a divergência entre a imóveis e especialmente na de terrenos, quantidade real e a declarada seja em que é usual referir a área superior a um vigésimo desta, caso em correspondente ao objeto da venda. Mas que o preço sofrerá redução ou aumento também pode ocorrer noutras situações, proporcional (na totalidade). como no exemplo da venda do saco de O remédio que a lei prevê para esta maçãs especificando o peso destas, ou discrepância entre a quantidade das ainda na venda de um conj. de cordas, coisas vendidas e a que é declarada no indicando-se a quantidade de metros do contrato é assim a correção do preço mesmo. estabelecido, correção essa que se Essa referência das partes à quantidade verifica sempre na venda por medida dos bens vendidos vai implicar uma futura (887º), mas que só ocorre se a operação de contagem, pesagem ou discrepância for superior a 5% na venda a medição, a qual coloca o problema de corpo (888º). A explicação para esta eventualmente se verificar uma divergência reside na circunstância de, na discrepância entre a referência contratual venda a corpo, o facto de as partes não e o resultado da operação de contagem, terem indicado um preço unitário mas um pesagem ou medição. Uma vez que se preço global levar a supor que a sua está perante coisas determinadas e não vontade se formou essencialmente em de coisas genéricas, a venda considera- relação a esse preço global, sendo se concluída antes da operação de incidental a referência à quantidade, peso contagem, pesagem ou medição, logo ou medida das coisas vendidas. Pelo com a celebração do contrato, adquirindo contrário, na venda por medida o facto de assim o comprador imediatamente a as partes fazerem referência direta ao propriedade dos bens vendidos (408º/1), preço unitário leva a supor que a vontade suportando consequentemente o risco das partes é fazer o preço corresponder à pela sua perda ou deterioração (796º/1), efetiva quantidade, peso ou medida das pelo que a discrepância apenas pode ter coisas entregues. reflexos para efeitos de apuramento do O direito ao recebimento da diferença do preço devido. preço pode ser, no entanto, excluído se Os efeitos dessa discrepância são ocorrer compensação entre faltas e diferentes consoante o preço da venda excessos e na medida em que essa tenha sido estabelecido precisamente em compensação se verificar, nos termos do 889º. Quando o conj. de coisas vendidas não tiver dissimulado o erro deste (253º). Este abrange mais do que uma categoria e a direito caduca no prazo de 3 meses a contar da discrepância na referência se caracterizar data em que o vendedor exigir esse excesso → por faltar parte de uma das categorias e sujeita às regras gerais do 432º ss. haver excesso quanto a outras, as faltas e O regime do 887º ss não exclui a os excessos compensam-se4. Nesse aplicação do regime do erro, caso se caso, e na medida em que se opera a verifiquem os seus pressupostos. Assim, compensação, naturalmente que deixam se for essencial para o declarante que a as partes de poder exigir a diferença de coisa vendida tenha a quantidade preço, ainda que a discrepância da declarada e a outra parte conhecia ou não quantidade de uma ou de ambas podia ignorar esse essencialidade, cabe à ultrapasse 1/20 em relação à declarada parte a anulação do contrato nos termos (888º/2)5. gerais (251º e 247º). O direito ao recebimento da diferença de preço tem que ser exigido num prazo VENDA A RETRO curto - caducidade de 6 meses ou 1 ano a generalidades contar da entrega da coisa, consoante Uma outra modalidade específica de seja móvel ou imóvel (890º/1). No venda é a venda a retro, definida no 927º entanto, se a venda for de coisas que como a venda na qual se reconhece ao hajam de ser transportadas de um lugar vendedor a faculdade de resolver o para outro, o prazo conta-se de maneira contrato. Esta figura consiste numa diferente. modalidade de venda em que a O 891º prevê que tanto na venda a medida transmissão da propriedade não se como na venda a corpo, o comprador possa apresenta como definitiva, na medida em resolver o contrato, sempre que seja obrigado que o vendedor se reserva a possibilidade a pagar ao vendedor uma diferença de preço de reaver o direito alienado, mediante a superior a 1/20 do preço declarado, direto que restituição do preço e o reembolso das só não surge se tiver ocorrido dolo do despesas feitas com a venda. comprador ou seja, se o comprador não tiver Há um interesse de tutelar a situação do efetuado sugestão ou artifício com intenção ou proprietário que, devido às suas consciência de manter em erro o vendedor ou necessidades financeiras, vê-se na contingência de ter que alienar um bem 4 Defendem, porém, Pires L.e Antunes V. seu, mas mantém o interesse de o voltar poder haver também neste caso aplicação da a adquirir logo que a sua condição diferença de preço proporcional. financeira o permita fazê-lo. Contrariamente, Batista L. e M.L. consideram intencional a não adoção do Código Italiano e, Devido à sua configuração económica que não se justifica adotar neste caso a como operação de financiamento, a solução do 888º/2 uma vez que a vontade das admissibilidade da venda retro tem sido partes se forma sobre o preço global, e não há questionada, uma vez que através dela se prejuízo, pois o que se perde numa das categorias ganha-se na outra. Só se aplicará pode tornear a proibição da estipulação se, depois de efetuada a compensação, de pactos de comissórios, prevista nos subsistir uma diferença de 1/20 entre a arts.694º, 665º, 678º e 753º. Em lugar da quantidade declarada e a efetivamente vendida. estipulação de uma garantia, que não 5 Daí que Pires de Lima/Antunes V. permite a imediata aquisição da qualifiquem a 1ª modalidade de venda a propriedade em caso de incumprimento contento como um pacto de opção, uma vez pelo devedor, as partes poderiam sempre que, enquanto uma das partes se encontra já estipular uma venda a retro, transmitindo vinculada, a outra tem a faculdade discricionária de o aceitar ou não. a propriedade para o credor, apenas a podendo recuperar o devedor com o abrangendo a celebração do contrato, pagamento do crédito. A venda a retro salvo se a transmissão da propriedade for não tem relevância prática. Para evitar a diferida para momento posterior (nesse sua utilização com fins de garantia, o CC caso o prazo apenas se pode iniciar a proibiu a atribuição ao comprador de partir do momento em que ocorre a qualquer benefício como contrapartida da transferência da propriedade). resolução, tornando assim muito difícil 930º: a lei não foge aqui ao sistema da que algum comprador aceite celebrar uma resolução por declaração (436º), tendo aquisição com uma cláusula a retro. essa declaração natureza negocial, ainda Apesar da previsão expressa da venda a que exija uma forma especial para a sua retro pode questionar-se a sua emissão (notificação judicial). No entanto, admissibilidade, em face da proibição do em relação a bens imóveis nem sequer pacto comissório, quando não haja essa forma é suficiente, tendo a resolução qualquer intenção de transferir a que ser reduzida a escritura pública ou a propriedade contra o pagamento de um doc. particular autenticado nos 15 dias preço a receber, mas apenas a de imediatos…(282º/2 CPC). constituir uma garantia de pagamento de 931º: salvo estipulação das partes em um crédito a favor do comprador (como contrário, a resolução considera-se sem efeito na hipótese da obrigação de pagamento se, dentro do mesmo prazo, o vendedor não do preço ser declarada compensada com fizer ao comprador oferta real das um crédito já existente do comprador importâncias líquidas que haja a pagar-lhe a sobre o vendedor). Neste caso, estar-se-á título de reembolso do preço e das despesas perante uma verdadeira alienação com o contrato e outras acessórias → ónus fiduciária em garantia, que é dificilmente para o vendedor, uma vez que a sua omissão compatível com a proibição do pacto leva apenas à ineficácia da resolução e não à comissório. responsabilidade por incumprimento. Estarão em causa apenas as despesas que o 878º faz forma do contrato recair sobre o comprador e não as benfeitorias A cláusula a retro constitui uma necessárias e úteis realizadas na coisa. estipulação do contrato de compra e A cláusula a retro é oponível a 3ºs, venda, sendo por isso sujeita à forma desde que a venda tenha por objeto exigida para esse contrato. coisas imóveis ou móveis sujeitas a registo e tenha sido registada (932º). A regime contrario, conclui-se que, diferentemente Conforme resulta do 927º o que do que sucede na cláusula de reserva de caracteriza a venda a retro é ser atribuída propriedade, não é possível opor a 3ºs a ao vendedor uma posição j. específica cláusula a retro quando esta diga respeito que lhe permite resolver o contrato e a coisas móveis não registáveis. recuperar o bem. Há, porém, limites legais Há que questionar como se exerce a à estipulação do prazo para a resolução, eficácia real na cláusula a retro no caso na medida em que o 929º determina que de o bem já ter sido alienado a 3º. Parece a resolução só pode ser exercida no que, apesar de já ter ocorrido essa prazo de 2 ou 5 anos a contar da venda, alienação, em caso de resolução, é ao consoante se trate de coisas móveis ou comprador que esta deve ser notificada, imóveis, prazo esse que se considera bem como é a ele que lhe deve ser feita a reduzido a esses limites se for estipulado oferta real do preço e despesas, devendo em âmbito superior. A referência legal à pois o vendedor opor ao adquirente o seu venda deve ser interpretada como direito e tendo este direito de reclamar do comprador o reembolso do que lhe devia aprovação da coisa vendida por parte do ter pago. comprador, da qual vai depender a sua Efetuada a resolução da venda a retro, a efetiva vigência. A diferença reside em propriedade retoma à esfera j. do que na venda a contento o comprador vendedor. No entanto, a resolução reserva a faculdade de contratar, ou a de processa-se sem eficácia retroativa. resolver o contrato, consoante a Consequentemente, os frutos que a coisa apreciação subjetiva que vier a fazer do produziu entre o momento da venda e o bem vendido. Pelo contrário, na venda da resolução pertencem ao comprador. sujeita a prova, está antes em causa uma Sendo oponível a 3ºs, os bens avaliação objetiva do comprador em regressarão livres de quaisquer ónus ou relação às qualidades da coisa, em encargos com que o comprador tenha conformidade a um teste que estará onerado os bens. Tratando-se de uma sujeita. Em ambos os casos a vigência locação o direito do locatário caducará efetiva do contrato fica dependente de um nos termos estabelecidos no 1051º/1, c) teste, a realizar pelo comprador. CC, tendo no entanto o locatário direito de preferência na celebração de novo a 1ª modalidade de venda a contento contrato de arrendamento pelo vendedor A lei admite 2 modalidades de venda a (1091º/1, b)), enquanto não for exigível a contento. A 1ª modalidade implica a restituição do prédio nos termos do 1053º estipulação de que a coisa vendida terá (1091º/2). que agradar ao comprador, correspondendo à tradicional cláusula ad natureza j. gustum (923º) → constitui uma reserva Para alguns autores, a venda a retro relativa à aceitação do contrato de compra e v., constituiria uma venda sujeita a uma o que significa que, em virtude dessa cláusula, condição resolutiva potestativa (Romano o acordo das partes vem a ser qualificado M.). Outros configuram a sit. como uma como uma mera proposta de venda, ficando o revogação ou resolução do contrato com vendedor vinculado sem que o comprador o eficácia retroativa (Pedro A.). O prof. M.L. venha a estar6. Ao contrário do que prefere não se afastar da qualificação genericamente sucede, a lei admite legal (927º). O regime da venda a retro posteriormente a celebração do contrato harmoniza-se integralmente com o 432º através do silência do comprador (218º), ss podendo, por isso, ser a cláusula a uma vez que dispõe que a proposta se retro configurada como uma convenção considera aceite se o comprador não se atributiva de um direito de resolução do pronunciar dentro do prazo de aceitação contrato, a exercer ad nutum pelo (228º), mesmo que a coisa não agrade ao vendedor. comprador. No entanto, a lei estabelece que a coisa deve ser facultada ao VENDA A CONTENTO E VENDA comprador para exame (923º/3), pelo que SUJEITA A PROVA parece que o prazo para aceitação não se generalidades poderá iniciar antes de a coisa ter sido O 923º ss referem-se a modalidades entregue. A entrega da coisa para exame específicas de venda em que esta se 6 Neste sentido Pedro Olavo Cunha. Em sentido realiza por etapas, como a venda a contrário Romano M. sustenta que o art.268º/4 contento e a venda sujeita a prova. Em estabelece um direito de exercício transitório, ambas as situações, normalmente valendo, após a recusa da ratificação, o regime da venda de coisa alheia → interpretação ab-rogante relativas a bens móveis, se verifica a do 904º, uma vez que o representante sem poderes subordinação do contrato a uma não vende a coisa alheia como própria. constitui uma autónoma obrigação do coisa, verificada durante esse prazo vendedor, que o comprador pode (796º/1). Caso a coisa se venha a perder judicialmente exigir. ou deteriorar, o comprador deixará de Caso o comprador, durante o prazo poder restituir ao vendedor, pelo que estabelecido, se pronuncie no sentido da perde o direito de resolver o contrato rejeição do contrato, a venda considerar- (432º/2). se-á como não celebrada, não necessitando de indicar qualquer motivo, a venda sujeita a prova visto tratar-se de uma questão de Outra modalidade de venda é a venda apreciação subjetiva ou gosto pessoal. sujeita a prova, no âmbito da qual o Uma vez que a lei qualifica a situação contrato não se tornará definitivo sem que como uma mera proposta de venda, todos o comprador averigue, através de um os efeitos do contrato, designadamente a prévio uso da coisa, que ela é idónea para transmissão da propriedade e a atribuição o fim a que é destinada e tem as do risco ao comprador, só se verificarão qualidades asseguradas pelo vendedor. com o decurso do prazo estabelecido, que O 925º qualifica a venda sujeita a prova confirmará a sua intenção de adquirir nos como uma venda subordinada a condição termos do 218º, sendo até lá o comprador (suspensiva ou resolutiva), consistindo a considerado mero detentor precário. condição no facto de a coisa vendida ser Assim, se se verificar o perecimento da idónea para o fim a que é destinada e ter coisa nessa fase, essa situação correrá a as qualidades asseguradas pelo risco do vendedor. vendedor. O prof. M.L. entende, tal como alguma a 2ª modalidade de venda a contento doutrina italiana, que não se trata de uma Corresponde à concessão de um direito verdadeira condição, estando antes de resolução unilateral do contrato se a perante uma categoria específica de coisa não agradar ao comprador, o qual venda, cujos efeitos finais ficam segue as regras gerais, sendo aplicável o dependentes da verificação positiva de 432º ss. Não se trata de uma condição uma qualidade da coisa que a torna resolutiva (como entende Romano M.), adequada à sua utilização pelo alienante; uma vez que as partes não subordinam a e porque os requisitos específicos da resolução do negócio a um acontecimento venda sujeita a prova referidos no 925º futuro e incerto, mas atribuem ao não se distinguem dos requisitos gerais comprador o direito de resolver de conformidade da coisa, a que se refere unilateralmente o contrato se a coisa não o 913º. Há apenas a acrescentar-se neste lhe agradar. caso um específico teste de A resolução, que não é impedida pela conformidade, sem o qual não se entrega da coisa (924º/2), deve ser considera estar definitivamente concluído estabelecida no prazo estabelecido no o contrato. contrato ou, no silência deste, pelos usos, podendo o vendedor, se nenhum prazo venda sobre documentos for estabelecido, fixar um prazo razoável Constitui igualmente uma modalidade para o seu exercício (924º/3). especial de venda a venda sobre Neste caso, uma vez que a concessão documentos, a que se referem os arts. ao comprador de um direito de resolução 937º ss. No âmbito da obrigação de unilateral não impede que a propriedade entrega que compete ao vendedor, se transmita (408º/1), correrá por sua incluem-se os documentos relativos à conta o risco da perda ou deterioração da coisa ou direito (882º/2). No entanto, na venda sobre documentos, vai-se mais Constitui igualmente uma modalidade longe. Como ela tem por objeto a venda específica de compra e venda, regulado de mercadorias representadas por títulos, nos arts. 463º a 476º CCom. Intenção de considera-se que o vendedor não é revenda. obrigado a entregar essas mercadorias, bastando-lhe entregar os respetivos PERTURBAÇÕES TÍPICAS DO documentos. Dado que a entrega desses CONTRATO DE COMPRA E VENDA títulos legitima o comprador a levantar as O legislador veio estabelecer 3 casos. É, respetivas mercadorias diretamente ao no entanto, manifesto que não esgotam transportador ou depositário, torna-se todas as situações de cumprimento desnecessário que seja o vendedor a defeituoso das obrigações do vendedor, assegurar essa entrega. havendo por isso que recorrer à parte A posição dominante quanto a este tipo geral para as situações que não caibam de venda considera que o objeto da nesses casos. venda não são os documentos, mas antes as coisas a que estes se referem, sendo VENDA DE BENS ALHEIOS que o direito incorporado no título constitui Existe venda de bens alheios sempre unicamente um crédito à entrega dessas que o vendedor não tenha legitimidade coisas e não a propriedade das mesmas. para realizar a venda, como sucede no A disciplina da transmissão da caso de a coisa não lhe pertencer, ou de propriedade e do risco sobre as coisas o direito que possui sobre ela não lhe objeto da venda sobre documentos é permitir a sua alienação. sujeita às regras gerais. Há, no entanto, O regime da venda de bens alheios não um caso especial em que a lei sujeita a deixa de assentar no pressuposto de que venda sobre documentos a um regime a celebração do contrato de compra e especial de risco (938º) e que consiste na venda garante ao comprador a venda de coisas em viagem, propriedade da coisa vendida, como se representadas por documentos e objeto demonstra pelo facto de este responder de um seguro contra riscos de transporte. objetivamente pelos danos causados ao Apesar de o 938º, c) referir que o risco comprador de boa fé pela venda de bens fica a cargo do comprador desde a data alheios (899º), bem como em virtude do da compra, a verdade é que as alíneas a) facto de a lei admitir a estipulação de e b) atribuem-lhe o risco do perecimento cláusulas de não garantia (903º/2). ou deterioração da coisa desde o momento em que ela é entregue ao pressupostos da venda de bens transportador e portanto anteriormente a alheios essa data. Excetua-se no entanto o caso 1. Venda como própria de uma coisa de o vendedor já saber, aquando da alheia específica e presente, fora celebração do contrato, que a coisa se do âmbito das relações encontrava perdida ou deteriorada e comerciais. dolosamente não o ter revelado ao O legislador considerou nula a venda de comprador de boa fé (938º/2). No entanto, bens alheios (892º), sempre que o esse regime depende da existência do vendedor careça de legitimidade para a seguro, pelo que se ele cobrir apenas realizar. Esta solução não é absoluta, parte dos riscos, só vigorará em relação à dado que é manifesto que essa nulidade parte segurada (938º/3). não ocorre se a venda tiver por objeto coisa futura, uma vez que nesse caso o compra e venda comercial 893º manda aplicar antes o regime da venda de bens futuros, onde se considera entanto, a situação do 1º adquirente válida a obrigação assumida pelo também não se enquadra nesse regime, vendedor (880º). Também a venda de uma vez que o bem pertencia ao coisa genérica que não pertença ao vendedor no momento em que foi vendedor não poderá ser considerada vendido. Para alguma doutrina existe nula, dado que para a sua estipulação neste caso uma específica não é necessária a qualidade de responsabilidade aquiliana do vendedor proprietário do vendedor, ao tempo da em relação ao 1º contraente. Para outra, estipulação do contrato (539º ss). Por haverá que aplicar o regime da garantia último, na compra e venda comercial, a lei pela evicção. Para outra ainda, a situação considera perfeitamente lícita a venda do deverá ser qualificada como uma que for propriedade de outrem (467º/2 responsabilidade contratual do vendedor CCom.). Em todos estes casos recai por incumprimento da sua obrigação de sobre o vendedor a obrigação de conservar a aquisição do 1º comprador. aquisição e entrega ao comprador das Para M.L. a situação enquadrar-se-ia no coisas que se comprometeu a vender, âmbito da garantia contra evicção e, dado não sendo consequentemente aplicável a que foi intenção do legislador substituir venda de bens alheios. essa garantia pelo regime da venda de De acordo com o 904º o regime da bens alheios, não será forçado defender a venda de b.a. também não se aplica se o aplicação analógica deste regime. vendedor não procede à venda da coisa como própria mas a vende como alheia, 2. Ausência de legitimidade para a mesmo que não tenha legitimidade para o venda. fazer. Assim, se alguém vende um prédio O 2º pressuposto da venda de bens em nome de outrem, sem poderes para o alheios é que o vendedor careça de fazer (268º), ou abusa dos seus poderes legitimidade para efetuar essa alienação. de representação, no caso em que a outra Em princípio, essa legitimidade apenas é parte conhecia ou devia conhecer o abuso atribuída ao proprietário, mas a lei por (269º), o contrato é ineficaz em relação ao vezes estende-a a outras entidades, como verdadeiro proprietário se este não o o credor pignoratício, mediante prévia ratificar, e nunca produz efeitos em autorização judicial (674º) ou o Estado, no relação ao representante, por este não caso da venda em execução de bens do ser parte no negócio. executado (824º). Sendo a venda Assim, o regime de venda de bens celebrada por um representante do alheios (892º ss) apenas se poderá proprietário, nos limites dos poderes que aplicar se for vendida como própria uma lhe competem, é o proprietário coisa alheia específica e presente, fora do considerado como o verdadeiro sujeito do âmbito das relações comerciais. Em todos negócio (258º), pelo que o regime da os outros casos não poderá ser aplicado. venda de bens alheios não se aplicará. É, no entanto, controvertida a solução da Também se se vender uma coisa alheia questão, se o vendedor após a no âmbito de uma representação sem celebração da venda tornar a vender a poderes (268º), designadamente na coisa a outrem, que regista 1º a sua gestão de negócios representativa (464º e aquisição. Nesse caso, uma vez que o 2º 471º), não se aplicará o regime, cabendo adquirente acaba por se tornar ao comprador a possibilidade de revogar proprietário da coisa, é manifesto que em ou rejeitar o negócio, enquanto o relação a ele não se pode sustentar a proprietário não o ratificar, salvo se no aplicação do regime da venda de b.a.. No momento da celebração conhecia a falta registo da sua aquisição. Nestas de poderes do representante (268º/4)7. situações, a falta de legitimidade do Já haverá, porém, aplicação do regime vendedor não impede a consideração de venda de b.a. se for vendida como como válida do negócio e daí que não se própria coisa alheia, ainda que no verifique a aplicação do regime da venda interesse do seu titular, como sucede no de b.a.. mandato sem representação para alienar (1180º e ss) e na gestão de negócios não efeitos da venda de bens alheios representativa (471º), a menos que o 1. Nulidade da venda e obrigação de titular do direito venha posteriormente a restituição regularizar a situação através da O nosso legislador consagrou, por assunção das obrigações do vendedor ou influência do Direito francês, a solução da da transmissão para este do bem vendido nulidade da venda de bens alheios. Esta (1182º)8. solução tem como fundamento o Mesmo faltando a legitimidade do considerando lógico de que, sendo a vendedor, a lei em certos casos, por venda um contrato translativo da razões da tutela de aparência vem a propriedade, a sua celebração por um não considerar válida a alienação. É o que proprietário deveria acarretar a nulidade acontece na venda de bens da herança do negócio9. No entanto, é uma solução efetuada por herdeiro aparente a 3º de que se pode considerar questionável, até boa fé (2076º/2); na venda de bem sujeito porque, a nulidade da venda de b.a. tem a registo efetuada a 3º de boa fé por pouco em comum com o regime da vendedor que adquiriu esse bem com nulidade na parte geral. base em negócio nulo ou anulável (291º); Quanto à legitimidade para arguir a e na venda de bem sujeito a registo nulidade da venda de bens alheios, ela é efetuada pelo titular do registo a seu favor profundamente restringida, uma vez que é a comprador de boa fé, que procede ao proibida a sua invocação pela parte que estiver de má fé contra a outra de boa fé, 7 O prof. M.L. concorda com a opinião do prof. sendo mesmo vedada em qualquer caso Romano M.: se o gestor de negócios ou o ao vendedor a sua invocação sempre que mandatário vendem a coisa como própria, e o comprador esteja de boa fé (892º in uma vez que o comprador é estranho à sua relação com o proprietário, há que aplicar o fine). Relativamente a terceiros, não regime da venda de bens alheios, a menos parece que eles possam invocar a que a situação venha a ser regularizada ao nulidade10, uma vez que a sua instituição abrigo do 1182º. é claramente estabelecida no interesse 8 Há muitos casos em que a venda não apenas das partes e nos termos acima produz logo a transmissão da propriedade e não se questiona a sua validade - ex, venda referidos. Mesmo o verdadeiro genérica (539º ss), venda de bens futuros proprietário não terá legitimidade para (880º) e da compra e venda comercial invocar a nulidade, já que em relação a (467º/2). Nestes casos, a venda é válida mas só transmite a propriedade quando o ele o contrato será sempre ineficaz vendedor procede à determinação da (406º/2), pelo que ele será sempre prestação ou por algum título vem a adquirir a coisa, cabendo-lhe a obrigação de proceder aquisição. O comprador nesses casos não 9 Em sentido contrário Romano M. e Galvão pode solicitar a anulação do contrato, Telles. cabendo-lhe apenas a ação de cumprimento 10 Excetua-se o caso de ocorrer uma contra o vendedor relativamente a essa aquisição tabular ou a usucapião em benefício obrigação contratual de aquisição e entrega do comprador, ou quando a lei considere da coisa. Não existem motivos para não se eficaz a alienação perante o verdadeiro consagrar essa solução para a venda de b.a.. proprietário - 2076º. admitido a exercer a reivindicação caso a restituição do comprador de boa fé (1311º)11, sem ter que discutir a validade fica excluída ou limitada em virtude do do contrato ou demonstrar que não perecimento ou deterioração da coisa consentiu na venda. Também não parece recebida. Trata-se da aplicação do limite que esta nulidade possa ser do enriquecimento (479º/2) a esta oficiosamente declarada pelo tribunal, restituição, o que é confirmado, em uma vez que tal redundaria numa forma virtude de no 894º/2 se prever que, caso de elidir as proibições da sua invocação12. ocorra proveito para o comprador em Também a obrigação de restituição na virtude da perda ou diminuição do valor venda de bens alheios é sujeita a regras dos bens, esse proveito deve ser abatido especiais, distintas do que se prevê no na restituição ou indemnização a pagar 289º, dado que o 894º consagra um pelo vendedor. A lei determina assim, regime bastante afastado da obrigação de para a parte que está de boa fé, apenas a restituição por invalidade do negócio e restituição do enriquecimento, obrigando próximo da restituição por enriquecimento a restituir o obtido à custa de outrem para sem causa, prevista nos arts. 479º e 480º, a parte de má fé, o que leva a concluir na medida em que faz variar o conteúdo que o 894º determina uma restituição por da obrigação de restituição, consoante enriquecimento sem causa, que em tudo exista ou não boa fé do obrigado. se harmoniza com os arts.479º e 480º. Se o comprador estiver de má fé, por O prof. M.L. discorda da tese de M.C. argumento a contrario do 894º/1, não que considera aplicável o 1269º no âmbito poderá pedir a restituição do preço da da venda de bens alheios, restringindo em venda, mas apenas o enriquecimento do consequência a aplicação do 894º/1, se o vendedor, conforme defende comprador de boa fé danificar com culpa unanimemente a doutrina. Caso o os bens. M.L. concorda com Pires de L. e comprador esteja de boa fé, pode pedir a Antunes V., quando aplicam esta restituição do preço. A restrição da parte disposição, mesmo à perda ou final do nº1 é dificilmente compreensível deterioração culposa dos bens por parte em sede de invalidade, uma vez que no do comprador, por considerarem que o âmbito dos arts. 289º e 290º uma situação comprador tem neste caso uma proteção deste tipo não impede o comprador de superior à que resultaria da sua simples exigir a restituição do preço, obrigando-o condição de possuidor de boa fé, e que apenas a restituir simultaneamente o valor não deve responder por tais eventos, correspondente à coisa recebida. O 894º porque, julgando que a coisa ou o direito só se compreende se se entender que, ao lhe pertence, se não podem exigir dele os contrário do que resulta do 289º, neste cuidados que em regra se devem ter na guarda e conservação da coisa alheia. Ao 11 Neste sentido, embora com algumas contrário do que sucede na posse (1269º), hesitações, Romano M.. Em sentido diferente, no âmbito do enriquecimento sem causa o Pedro O. C. considera que o tribunal não pode conhecer oficiosamente da nulidade, mas devedor de boa fé não responde pela também não pode obrigar o vendedor a perda ou deterioração culposa do objeto a entregar a coisa que não lhe pertence. restituir, mas apenas pelo seu 12 Para o prof. M.L. o regime da nulidade aqui enriquecimento (479º/2), só lhe aplicando é dispensável. Para Galvão T. a existência desta obrigação não contradiz o regime da aquela responsabilidade em caso de má nulidade, por não se tratar de uma obrigação fé (480º). Sendo assim, a solução legal é contratual mas antes legal. Para Batista L. distinta da aplicação do regime da posse, considera que na venda de bens a. não existe não podendo aceitar-se uma interpretação uma verdadeira nulidade mas sim uma invalidade mista. restritiva do 894º. venha a ser posteriormente produzido, 2. Eventual convalidação do contrato adquirindo um direito de crédito sobre o Ao contrário do que ocorre no regime vendedor a que este proceda à aquisição geral, a nulidade da venda de bens do bem, o que determina a convalidação alheios pode ser sanada se se verificar a do contrato e a consequente transmissão posterior aquisição da propriedade pelo da propriedade para o comprador (895º). alienante. Sendo a coisa vendida como O cumprimento desta obrigação própria, o contrato só não produz o efeito dependerá da concordância do titular do translativo que o deveria caracterizar direito. (879º, a)) em virtude de se verificar o A obrigação do vendedor só é cumprida impedimento originário de a coisa vendida se for o próprio vendedor a adquirir o não pertencer ao vendedor. Desaparecido bem, em ordem a que se possa produzir a esse impedimento, não há motivo para convalidação da venda. Se o vendedor deixar de atribuir ao contrato os efeitos proporcionar ao comprador a aquisição da que este originariamente devia produzir, propriedade por outra via (ex, por daí o 895º determinar a convalidação do transmissão ao comprador da coisa pelo contrato, com a consequente verificação seu efetivo proprietário), a situação da transferência da propriedade. corresponderá antes a uma dação em A lei estabelece no 896º algumas cumprimento. restrições à convalidação da venda de Nos casos em que o vendedor esteja bens a., enumerando situações em que obrigado à convalidação do contrato, o esta não ocorre, mesmo que o vendedor comprador pode solicitar judicialmente a venha posteriormente a adquirir o bem declaração de nulidade do contrato vendido. apenas a título subsidiário, para a Assim, na venda de bens a. a nulidade hipótese em que o vendedor não proceda instituída é uma nulidade provisória, que a essa convalidação no prazo que lhe for pode ser sanada mediante a aquisição da fixado pelo tribunal (897º/2). propriedade pelo vendedor, salvo se ocorrer alguma das situações referidas no 3. Indemnização 894º. Verificando-se a sanação da Outra consequência da venda de bens invalidade, o contrato produz alheios é a possibilidade de atribuição de imediatamente o seu efeito translativo, uma indemnização pelos danos ficando assim o comprador investido na eventualmente sofridos. O nosso titularidade do bem. legislador estabelece 3 fundamentos de indemnização, no âmbito dos quais se 3. Obrigação de convalidação estabelece um concurso de pretensões: A lei determina que em caso de boa fé a) indemnização por qualquer das do comprador, o vendedor seja obrigado a partes em caso de dolo: sanar a nulidade da venda, adquirindo a A indemnização em caso de dolo propriedade da coisa ou o direito vendido encontra-se prevista no 898º. A (897º)13. Quando o comprador está de boa expressão «dolo» encontra-se fé tem direito a que o efeito translativo utilizada no mesmo sentido do que o referido no 253º, também 13 Há aqui uma restrição ao 564º/1. No designada «má fé», não âmbito da venda de bens a. o vendedor não pressupondo apenas o ilícito responderá objetivamente pelo facto de, em intencional, mas também o consequência da nulidade da venda, o praticado com negligência comprador ter perdido a oportunidade de revender com lucro o bem comprado. consciente. Está aqui em causa a dissimulação do caráter alheio da estabelecer uma responsabilidade coisa através do emprego de objetiva pelos danos causados ao sugestões ou artifícios com o fim comprador, a qual, não atribui uma de enganar ou manter um erro a reparação integral - responde outra parte. Estando esta de boa objetivamente pelos danos fé, adquire o direito de ser emergentes, mas não pelos lucros indemnizada pelos danos cessantes14, sofridos pelo causados variando a comprador em virtude da sua falta indemnização consoante a de legitimidade, desde que não nulidade da venda de b.a. tenha tenham resultado de despesas sido sanada ou não. No 1º caso, a voluptuárias (216º/3). Em relação indemnização toma por base os a estas, bem como os lucros danos por o contrato não ser ab cessantes, a sua initio válido, abrangendo assim o indemnizabilidade depende do interesse contratual positivo. No 2º facto de o vendedor ter atuado caso a indemnização limita-se aos com dolo ou negligência15. A quem danos que não ocorreriam se o deve competir o ónus da prova da contrato não tivesse sido culpa do vendedor? Estando em celebrado - interesse contratual causa o incumprimento de uma negativo, o que constitui uma garantia, o vendedor deve-se solução típica da culpa in presumir culpado (799º), pelo que contrahendo (227º). Sendo nulo o a limitação da sua contrato não se justifica incluir o responsabilidade aos danos interesse de cumprimento no emergentes não resultantes de âmbito da indemnização. Tal despesas voluptuárias dependerá pressupõe a constituição do direito de ele ter ilidido a presunção que de crédito, para o que se exige a sobre ele recairá. convalidação do contrato. c) indemnização pelo vendedor ao Se não existir dolo de qualquer comprador de boa fé por das partes, por ambas se incumprimento da obrigação de encontrarem em erro sobre o convalidar o contrato: caráter alheio da coisa, nenhuma Em caso de boa fé do comprador, delas poderá ser responsabilizada o vendedor é obrigado a sanar a nos termos do 898º, mesmo que nulidade da venda, adquirindo a tenha atuado com culpa. Se a propriedade da coisa ou o direito culpa pela celebração da venda de vendido (897º/1). Sendo esta uma b.a. for do comprador, ele não obrigação como qualquer outra será sujeito a qualquer espécie de (397º), o vendedor estará sujeito, responsabilidade. Se for do nos termos gerais à vendedor, a situação é responsabilidade obrigacional, em enquadrada no âmbito do 899º. caso de incumprimento (798º ss), b) indemnização pelo vendedor ao impossibilidade culposa (801º ss) comprador de boa fé, com ou mora no cumprimento (804º fundamento na garantia da sua legitimidade: Em relação ao vendedor, uma vez 14 No sentido do 899º. 15 A qual, no entanto, é objeto de um que ele é obrigado a garantir a sua direito de preferência atribuído aos legitimidade, o 899º vem restantes titulares – 1410º e 2130º. ss). Esta indemnização abrange o dado que é o proprietário que adquire o interesse contratual positivo. benefício correspondente às benfeitorias. Nada impede o comprador de boa fé de exigir indemnização ao CASOS ESPECIAIS vendedor com este fundamento, o Venda de bens parcialmente alheios qual é cumulável com os No caso de os bens serem parcialmente anteriormente referidos. O 900º/1 alheios, o 902º admite a possibilidade de admite um concurso de o contrato valer na parte restante por pretensões neste âmbito. Esta aplicação do 292º, determinando que cumulação vem a ser excluída em nesse caso aplicar-se-ão as disposições relação à indemnização por lucros antecedentes quanto à parte nula e cessantes resultantes de dolo do reduzir-se-á proporcionalmente o preço vendedor (898º), admitindo-se aí estipulado. apenas um concurso alternativo de A venda de bens p.a. pode ocorrer em 2 pretensões, dado o 900º/2. situações: garantia da restituição por 1. O vendedor aliena toda uma benfeitorias coisa, quando apenas é dono de uma Em face do 1273º, tanto o possuidor de parte material da mesma – ex, o vendedor boa fé como o de má fé têm direito a ser inclui na venda do seu edifício o indemnizados das benfeitorias logradouro pertencente a um vizinho ou necessárias que hajam feito e a levantar fazer abranger na venda de uma as benfeitorias úteis realizadas na coisa, biblioteca alguns livros pertencentes a 3º; desde que o possam fazer sem 2. O vendedor aliena toda a coisa, detrimento dela (nº1). Quando, para evitar quando é dono apenas de uma quota o detrimento da coisa, não haja lugar ao abstrata da mesma, como sucede na levantamento de benfeitorias, satisfará o compropriedade. Aqui não será aplicável titular do direito ao possuidor o valor o 902º, uma vez que o 1408º/2 considera delas, calculado segundo as regras do integralmente aplicável o regime da venda enriquecimento sem c. (nº2). de coisa alheia. Adquirindo o comprador, na venda de A situação que ocorre aqui é a de b.a., a posse titulada do bem (1259º), terá apenas se ter verificado parte do efeito direito assim, independentemente da sua translativo que se encontrava estipulado boa ou má fé, a exigir do proprietário a no contrato, o que constitui uma hipótese restituição das benfeitorias, necessárias de invalidade parcial, havendo que aplicar ou úteis, que tenha feito na coisa, o 292º que determina que o negócio só podendo ter direito de retenção da coisa será totalmente nulo se se puder conclur (754º), salvo se estiver de má fé (756º, b). que ele não teria sido celebrado sem a O direito do comprador ao reembolso das parte viciada, aplicando-se totalmente o benfeitorias ocorre no âmbito das regime da venda de bens alheios. Caso, relações proprietário-possuidor, às quais porém, se admita a redução do negócio, o vendedor seria estranho. No entanto, o haverá que proceder a uma limitação de 901º atribui ao comprador de boa fé a aplicação desse regime à parte viciada, possibilidade de exigir, não apenas ao mantendo-se vigente o negócio quanto à proprietário, mas também ao vendedor o parte válida, com uma redução do preço seu direito ao reembolso das benfeitorias. respetivo, que se opera através de uma O vendedor pode exercer posteriormente diminuição da quantia devida na exata contra o proprietário o direito de regresso medida em que não se verificou o efeito em relação a tudo o que houver pago, translativo. consortes considerado o negócio como Venda de coisa indivisa por apenas 1 ineficaz, a menos que dêem o seu dos seus titulares consentimento, pelo que estas não Tal sucede, por ex, quando um dos seus carecem de solicitar a declaração de co-titulares vende uma parte especificada invalidade do negócio, podendo ou a totalidade da coisa, sem comportar-se como se não tivesse sido consentimento dos restantes. Uma vez celebrado. que a lei exige a unanimidade dos co- titulares para os atos de disposição sobre Restrições convencionais ao regime da a coisa indivisa (1408º/1 e 2091º), apenas venda de bens alheios permitindo a disposiçõ isolada da própria O 903º vem estabelecer a possibilidade quota (1408º/1 e 2124º ss)16 é manifesto das partes, ao abrigo da sua autonomia que haverá também falta de legitimidade, privada, estabelecerem um regime para efeitos do 892º, sempre que um ato diferente de garantia contra a falta de de disposição sobre a totalidade ou parte legitimidade do vendedor, regime esse da coisa indivisa seja praticado sem o que pode passar pelo aumento ou pela consentimento dos restantes titulares. diminuição dos termos legais dessa Assim, no âmbito da compropriedade, a garantia – 894º, 897º/1, 899º, 900º/1 e lei prevê expressamente que se o 901º. Excetua-se a situação de o comproprietário vier a alienar ou onerar contraente a quem a convenção parte especificada da coisa comum, sem aproveitaria houver atuado com dolo e de consentimento dos outros consortes, tal boa fé o outro estipulante, uma vez que será considerado como alienação ou nesse caso não se estará perante um oneração de coisa alheia (1408º/2) à efetivo exercício da autonomia privada. A aplicar-se-á aos casos em que o lei não admite a derrogação do 898º. comproprietário resolva alienar toda a Haverá, no entanto, limites à estipulação coisa comum. O prof.M.L. discorda, então, das partes já que, se a responsabilidade da tese defendida por Vaz Serra e Ribeiro do vendedor por facto próprio for de Faria que admitem, para estes casos, totalmente excluída, tal constituirá uma uma conversão e redução simultânea do cláusula de exclusão da responsabilidade, negócio, convertendo-se a venda da proibida pelo 809º. comum na venda da quota ideal e Uma das formas de derrogar a aplicação reduzindo-se o contrato à venda dessa do regime da venda de b.a. consiste na quota-parte. Para M.L. deverá aplicar-se cláusula em que o vendedor declara que integralmente o regime da venda de b.a., não garante a sua legitimidade ou não que implicará a nulidade integral do responde pela evicção17 - 903º/2. negócio (894º), salvo se o vendedor vier a Consequentemente, essa cláusula adquirir as quotas dos restantes consortes apenas se traduz numa exclusão da (895º). responsabilidade pelos danos, mas não A aplicação do regime da venda de b.a. verifica-se apenas em relação às partes, 17 Relativamente à superfície, defendem sendo também em relação aos outros Pires L. e Antunes V. (905º/3) que, em virtude de esta envolver a separação entre 2 16 Apesar de o legislador ter pretendido abolir domínios (o solo e a obra ou plantação), não essa garantia, o regime da venda de b.a. se deverá aplicar o regime da venda de bens continua a basear-se na imposição de uma onerados, mas antes o da venda de b.a., quer garantia relativa à situação de proprietário do quando seja o proprietário do solo a efetuar a vendedor, sendo que deixa de ser aplicado a sua venda como o implante, quer quando seja partir do momento em que as partes o superficiário a vender o implante, estabelecem a inexistência dessa garantia. juntamente com a propriedade do solo. exonera o vendedor da obrigação de objeto de expropriação por utilidade restituir integralmente o preço recebido, a pública por, por ex, já tiver sido objeto de compensar com um eventual declaração de utilidade pública ou estar enriquecimento do comprador. Essa prevista a sua afetação a esse fim em derrogação apenas pode ocorrer na plano diretor. As restrições impostas ao hipótese de convenção expressa, que gozo dos bens por vínculos de interesse torne essa venda «a risco e perigo do histórico, artístico ou paisagístico, por comprador», como na situação da venda razões ambientais e as servidões militares de bens em que se assuma também poderão desencadear a expressamente o caráter incerto na sua aplicação do regime da venda de bens titularidade, em que o comprador se onerados. O facto de a coisa vendida mantém vinculado ao pagamento do infringir direitos intelectuais de outrem, preço (881º). como os direitos de autor ou a propriedade industrial, deve igualmente considerar-se suscetível de determinar a VENDA DE BENS ONERADOS aplicação deste regime, na medida em Pressupostos da venda de bens que as possibilidades de aplicação e onerados comercialização da coisa pelo comprador Encontra-se prevista no 905º. O que ficarão consideravelmente reduzidas. caracteriza a venda de bens onerados é a Pelo contrário, já não poderão existência de ónus ou limitações no direito determinar a aplicação deste regime, por transmitido, que constituem vícios do constituírem limites normais aos direitos direito, afetando assim a situação j. e não da mesma categoria, as restrições as qualidades fáticas da coisa. Mas, para derivadas das relações de vizinhança poderem determinar a aplicação do (1346º ss), as servidões legais ou as regime da venda de b.o., esses ónus ou restrições à edificabilidade impostas por limitações têm que exceder os limites planos diretores. normais inerentes aos direitos da mesma Poderá aplicar-se à existência de categoria. irregularidades j. no bem vendido, que Aqui se compreendem, por ex, a impeçam o gozo ou a disposição deste existência de direitos reais de gozo pelo comprador, desde que a situação na (usufruto, uso e habitação e servidões seja por lei sujeita a considerações prediais)18 ou de garantia sobre a coisa especiais. Caso se trate de venda de vendida (consignação de rendimentos, veículos automóveis, em que ocorra a penhor, hipoteca, privilégios ou retenção), falta, viciações ou alterações dos o facto de ela ter sido locada a outrem19 respetivos documentos, poderá ou objeto de apreensão judicial (penhora, considerar-se a situação como arresto, arrolamento). Poderá também incumprimento da obrigação de entrega incluir-se a susceptibilidade de o bem ser (882º/2), não se justificando a aplicação do regime da venda de bens onerados. 18 Inclui-se quer a locação voluntária, quer os Este regime poderá ser aplicado à venda arrendamentos impostos, como o de imóveis construídos sem a respetiva arrendamento judicial da casa da morada de licença de construção ou utilização20. família (1793º). 19 No mesmo sentido Romano M.; em sentido A lei não contemplou, no entanto, a contrário Dionísio Correia (Ac. STJ 6/4/2000), hipótese de o vendedor assegurar ao considerou-se integrar a figura geral do comprador a existência de especiais cumprimento defeituoso a não obtenção prévia da licença de utilização na venda de imóvel. 20 Pires de L. e Antunes V. vantagens j. em relação à coisa, que a extinção do vício não sana automaticamente excedam o normal nos direitos da mesma a anulabilidade, apenas permitindo ao categoria, mas que depois se verifica não interessado confirmar o negócio. No âmbito da existirem (ex, servidões ativas sobre o venda de bens onerados, apesar de a lei fazer prédio vizinho, benefícios fiscais, ou assentar o fundamento de anulação do contrato edificabilidade com certas características). na viciação da vontade do comprador por erro Na doutrina italiana tem sido defendida, ou dolo (905º), também entende que a neste caso, a aplicabilidade do regime de posterior extinção dos ónus ou limitações venda de bens onerados por analogia. retira ao comprador o interesse em solicitar a Entre nós, uma posição considerou a anulação do negócio, pelo que estabelece situação enquadrável no regime da venda automaticamente a sua convalescença, em de coisas defeituosas21, enquanto que caso de ocorrer a extinção dos vícios do direito para outra haveria que aplicar o regime → solução artificial (M.L.), pois a geral do incumprimento com os matizes convalescença depende de a posição do impostos pela proximidade com a venda comprador não ter sido por alguma forma de bens onerados22. afetada em consequência dos vícios do direito. A lei dispõe que a anulab. persiste se a existência dos ónus ou limitações já houver EFEITOS DA VENDA DE BENS causado prejuízo ao comprador, ou se este já ONERADOS tiver pedido em juízo a anulação da compra e anulabilidade do contrato por erro ou v. (906º/2). Assim, se o comprador deixou de dolo receber o rendimento que contava obter pelo O 1º remédio que a lei confere ao bem, em consequência de este ser obejto de comprador é a anulação do contrato. um usufruto ou locação, ou se viu obrigado a → desvalor menos grave para a venda de bens pagar juros ao credor pignoratício ou onerados em comparação à venda de bens hipotecário, em ordem a evitar a imediata alheios. O contrato é anulável por erro ou execução, o direito à anulação do contrato não dolo, desde que se verifiquem no caso será afetado. Também se o comprador solicitar concreto os requisitos legais da anulabilidade. em juízo a anulação da compra e v., a Em caso de erro exige-se a essencialidade a anulabilidade subsiste, apesar da extinção dos cognoscibilidade dessa essencialidade do erro ónus ou limit.. Por analogia com o 897º/2, essa para o declaratário (251º e 247º). Em caso de anulação pode ser pedida a título subsidiário, dolo basta que o dolo tenha sido determinante para a hipótese de o vendedor não realizar a da vontade do declarante (254º/1), salvo se expurgação no prazo a que seja obrigado provier de 3º, caso em que se exige que o (907º/1). Nessa hipótese, a extinção dos ónus destinatário conhecesse ou devesse conhecer a ou limitações levará à convalescença do situação (254º/2). contrato.
eventual convalescença do contrato obrigação de fazer convalescer o
No entanto, esta anulabilidade é objeto de contrato e de cancelamento dos uma regulação especial, uma vez que o 906º/1 registos admite que esta fique sanada se vierem a A lei estabelece ainda para o vendedor desaparecer por qualquer modo os ónus ou a obrigação de sanar a anulab. do limitações a que o direito estava sujeito: o 906º contrato, mediante a expurgação dos desvia-se da regra do 288º, que estabelece que ónus ou limitações existentes (907º/1). Pode assim o comprador requerer em 21 Carneiro de Frada. lugar da anulação a expurgação dos ónus 22 Defendido por João Batista M. e Romano M., Carneiro da Frada e Menezes C.. ou limit.. A obrigação de efetuar a expurgação depende da existência de contrahendo (227º). Esta erro do comprador relativamente à indemnização permite abranger existência de ónus ou limit., já que, se o tanto danos emergentes como comprador tivesse conhecimento da lucros cessantes, incluindo os existência dos mesmos, tal significaria prejuízos causados pela privação que o bem foi vendido nessas condições, do capital correspondente ao tendo o seu preço sido fixado tomando pagamento do preço, o facto de em consideração a desvalorização que os não ter podido aplicar esse capital ónus ou limitações implicam. numa operação mais vantajosa, as Constituindo a expurgação uma despesas judiciais com a ação de obrigação do vendedor, cabe ao anulação, etc.; comprador exigir-lhe o cumprimento, não b) Indemnização em caso de simples lhe sendo permitido substituir-se ao erro: vendedor nesse ato para efeitos de exigir- Existindo simples erro do lhe o posterior reembolso do que tivesse comprador, mesmo perante a despendido. Nada impede, porém, o ausência de dolo do vendedor, o comprador de proceder à expurgação à 909º não deixa de estabelecer, em sua própria custa. caso de anulação do contrato, a responsabilidade objetiva do indemnização vendedor pelos danos causados Outro efeito da venda de b.o. é a ao comprador, a qual não atribui possibilidade de atribuição ao comprador uma reparação integral. O de uma indemnização pelos danos vendedor responde objetivamente eventualmente sofridos. 3 fundamentos pelos danos emergentes e não de indemnização, no âmbito dos quais se pelos lucros c.. O fundamento estabelece um concurso de pretensões: desta responsabilização é o a) Indemnização em caso de dolo: pressuposto de o vendedor, no Encontra-se prevista no 908º. A momento em que procede à venda expressão «dolo» encontra-se do bem, dever garantir, aqui utilizada no mesmo sentido independentemente de culpa sua, que no 253º (má fé), não que o bem vendido se encontre pressupondo apenas o ilícito livre de ónus ou encargos, intencional mas também o respondendo pelos danos se tal praticado com negligência não se verificar. consciente. Está em causa a Ao contrário do que se dissimulação pelo vendedor dos estabeleceu no 899º admite-se, ónus ou limit. existentes na coisa neste caso, que os danos através do emprego de sugestões emergentes abranjam a realização ou artifícios com o fim de enganar de despesas voluptuárias; ou manter em erro o comprador. c) Indemnização por incumprimento Sendo anulado o contrato com da obrigação de fazer convalescer esse fundamento, este adquire o o contrato: direito a ser indemnizado pelos O vendedor é ainda obrigado a danos causados, limitando-se aos fazer convalescer o contrato, danos que não ocorreriam se o mediante a expurgação dos ónus contrato se não tivesse sido ou limit. existentes (907º/1). Sendo celebrado - interesse contratual esta uma obrigação como negativo, solução típica da culpa in qualquer outra (397º), o vendedor estará sujeito, nos termos gerais, à exista dolo do vendedor (908º) ou simples responsabilidade obrigacional, em erro (909º). caso de incumprimento (798º ss), impossibilidade culposa (801º ss) restrições convencionais a este ou mora no cumprimento (804º regime ss). À semelhança do que sucede com a Nada impede o comprador de venda de b.a., o 912º estabelece a exigir indemnização ao vendedor possibilidade de as partes, ao abrigo da também com este fundamento, o autonomia privada, estabelecerem um qual é cumulável com os regime diferente de garantia contra a anteriormente referidos, exceto em existência de ónus ou encargos no direito relação à indemnização por lucros transmitido - pode passar pelo aumento cessantes resultantes de dolo do ou diminuição dos termos legais dessa vendedor (908º), admitindo-se aí garantia (907º/1 e 3, 909º, 910º/1). apenas um concurso alternativo de Excetua-se, porém, a situação de o pretensões (900º/2). contraente a quem a convenção aproveitaria houver atuado com dolo e de redução do preço boa fé o outro estipulante, não se estando 911º/1: a redução no preço aparece perante um efetivo exercício de como uma alternativa à anulação do autonomia p. nesse caso. contrato em consequência do erro ou do dolo estabelecida no 905º, alternativa que é imposta ao comprador sempre que se VENDA DE COISAS DEFEITUOSAS possa comprovar que o ónus ou Este regime é tratado no CC com base limitações não influiriam na sua decisão numa diferenciação dogmática. Se a de adquirir o bem, mas apenas no preço venda é realizada sendo a propriedade da que ele pagaria. Cabe ao vendedor, coisa logo transmitida ao comprador e confrontado com uma ação de anulação e esta já é defeituosa ao tempo da pretendendo a subsistência do contrato, o celebração do contrato, então estaremos ónus da prova de que o comprador teria perante uma situação de erro do igualmente adquirido os bens por preço comprador ao adquirir uma coisa com inferior. Nada impede o comprador de defeitos, sendo o contrato anulável por solicitar imediatamente a redução do erro nos termos gerais (913º e 905º). Se o preço, caso esteja apenas interessado defeito na coisa ocorre após a celebração nesta e não na anulação, podendo do contrato e esta é entregue nessas também efetuá-la a título subsidiário para condições estaremos perante uma a hipótese de não proceder o pedido de situação de cumprimento defeituoso, se o anulação. defeito é imputável ao vendedor (918º), ou Uma vez que a redução do preço de risco, a princípio a cargo do aparece em alternativa à anulação do comprador, na hipótese contrária (796º/1). contrato, exclui esta (905º), bem como a É também considerada como obrigação de fazer convalescer o contrato incumprimento da obrigação de entrega (907º) e a indemnização pelo não as situações de entrega de coisa cumprimento dessa obrigação (910º). defeituosa, nos casos em que a venda Caberá apenas ao comprador, além da respeita a coisa futura ou a coisa própria redução do preço, a indeterminada de certo género (918º) - indemnização, cujo conteúdo varia caso uma vez que a coisa ainda não existe ou não está determinada no momento da celebração do contrato, não pode haver O 913º já não abrange situações de erro do comprador. deficiência quantitativa da coisa, que Esta dualidade de regimes implica correspondem ou a casos de graves disparidades de tratamento. incumprimento parcial na venda genérica Assim, se o comprador escolher numa (918º) ou desencadearão a aplicação do ourivesaria uma anel de brilhantes e 887º ss. posteriormente descobrir nele um risco, A aplicação do regime da venda de tem que demonstrar um erro seu para coisas defeituosas assenta em 2 anular o negócio e apenas tem direito à pressupostos de natureza diferente, restituição do preço e a uma sendo o 1º a ocorrência de um defeito e o indemnização pelos danos emergentes 2º a existência de determinadas com base no interesse contratual negativo repercussões desse defeito no âmbito do (915º, 909º). Se, porém, se limitar a programa contratual. encomendar um anel de brilhantes à Quanto ao 1º pressuposto, a lei faz ourivesaria e o vendedor entregar o anel incluir quer os vícios da coisa, quer a falta riscado, considera-se haver de qualidades asseguradas ou incumprimento do vendedor (918º) e a necessárias: «vícios» tendo um conteúdo indemnização abrange o interesse pejorativo, abrangerá as características contratual positivo. Por esse motivo, da coisa que levam a que esta seja existem na doutrina posições que vão valorada negativamente, enquanto que a contra esta dualidade de regimes w e «falta de qualidades», embora não propugnam igualmente o enquadramento implicando a valoração negativa da coisa, da venda de coisa específica no regime a coloca em desconformidade com o do incumprimento, através da defesa de contrato. que o erro referido no 913º e 905º ss diz Em relação ao 2º pressuposto, para que respeito não à fase de formação, mas da os defeitos da coisa possam desencadear execução do contrato23. Outros autores a aplicação do regime da venda de coisas mantém o entendimento de que o regime defeituosas, torna-se necessário que eles da venda específica de coisas defeituosas se repercutam no programa contratual, não se reconduz ao cumprimento originando uma de 3 situações: a defeituoso, exigindo antes um erro em desvalorização da coisa (refere-se aos sentido técnico24. vícios); a não correspondência como que foi assegurado pelo vendedor (‘’ à falta de pressupostos de aplicação do regime qualidades) e a sua inaptidão para o fim a da venda específica de coisas que é destinada (abrange as 2 situações). defeituosas A desvalorização da coisa enquadra-se numa Há no 913º quatro tipos de situações: conceção objetiva de defeito, resultando do a) Vícios que desvalorizem a coisa; facto de o vício implicar que a coisa valha b) Vícios que impeçam a realização menos do que sucederia se não o tivesse. do fim a que é destinada; Exige-se que a desvalorização tenha algum c) Falta de qualidades asseguradas significado, recusando-se a aplicação do pelo vendedor; regime da venda de coisas defeituosas, quando d) Falta de qualidades necessárias à esta seja insignificante. realização daquele fim. A não correspondência com o que foi assegurado pelo vendedor ocorre sempre que este tenha certificado ao comprador a 23 Defendido por Pires de L. e Antunes V. e, existência de certas qualidades na coisa e tal em certa medida por Menezes L. 24 Carlos Ferreira de Almeida. não corresponda à realidade → conceção objetiva de defeito. A certificação pelo venda de coisas def.. Assim, o comprador vendedor de que a coisa tem certas qualidades, que tiver adquirido a coisa com defeito tanto pode ser efetuada expressa como pode solicitar a anulação do contrato, por tacitamente nos termos gerais (217º), podendo erro ou dolo, desde que se verifiquem no essa certificação resultar da exibição de caso concreto os requisitos legais da amostra ou modelo (919º). anulabilidade. Assim, em caso de erro, O impedimento da realização do fim a exige-se a essencialidade e a que a coisa se destina corresponde, pelo cognoscibilidade dessa essencialidade do contrário, a uma conceção subjetiva do erro para o declaratário (251º e 247º). Em defeito, estando em causa as utilidades caso de dolo, basta que o dolo tenha sido específicas que o comprador pretende determinante da vontade do declarante que lhe sejam proporcionadas pela coisa. (254º/1), salvo se provier de 3º, caso em Esta indicação do fim tem que ser aceite que se exige igualmente que o pelo vendedor, ainda que tal possa destinatário conhecesse ou devesse ocorrer tacitamente, como no caso de o conhecer a situação (254º/2). comprador indicar ao vendedor que pretende dar um uso específico ao bem, reparação ou substituição da coisa concordando ele com esse facto. Se, no No âmbito da venda de b.o., o vendedor entanto, não houver aceitação de uma é obrigado a sanar a anulabilidade destinação específica da coisa pelo através da expurgação dos ónus ou vendedor, entende-se que a coisa se limitações, ou do cancelamento dos destina à função normal das coisas da registos, no caos de eles lá constarem mesma natureza (913º/2). sem efetivamente existirem (907º). No âmbito da venda de coisas defeituosas, essa obrigação é substituída pela de EFEITOS DA VENDA ESPECÍFICAS DE reparar os defeitos da coisa, ou de a COISAS DEFEITUOSAS substituir, no caso de ser necessário, e O 913º in fine estabelece, em caso de esta tiver natureza fungível (914º). O venda de coisas def., a aplicação do fundamento desta obrigação é a garantia regime da venda de bens onerados, em edilícia prestada pelo vendedor, no âmbito tudo o que não for modificado pelas da qual resulta que ele garante disposições do próprio regime da venda tacitamente a inexistência de defeitos no de coisas def.. Aplicam-se também à bem vendido, tendo assim que o reparar venda de coisas def. os remédios da ou substituir, salvo se o vendedor tiver anulação do contrato por erro ou dolo ou conhecimento do vício ou da falta de da redução do preço, podendo ainda ser qualidades da coisa. Do 914º resulta uma exigida do vendedor a competente primazia da solução da reparação da responsabilidade c. pelos danos coisa pela solução da substituição, causados. Já a obrigação de expurgação apenas sendo esta última aplicável se se dos ónus ou encargos é substituída pela tornar efetivamente necessário e a coisa correspondente obrigação de reparação tiver natureza fungível. ou substituição da coisa. Refere o 914º in fine que essa obrigação não existe se o vendedor desconhecia anulação do contrato por erro ou dolo sem culpa o vício ou a falta de qualidade O 913º remete para a venda de bens de que a coisa padece. Para M.L., o onerados, sendo assim aplicável o 905º regime da garantia edilícia não assenta ss, com exceção do que for modificado numa responsabilidade objetiva do pelas próprias disposições do regime va vendedor, mas sim numa presunção de culpa relativamente à venda da coisa com danos emergentes do contrato, defeitos, que pode ser elidida mediante a 909º (incluindo as despesas demonstração de que o vendedor se voluptuárias), mas não dos lucros encontrava numa situação de cessantes, resultantes da desconhecimento não culposo dos aquisição da coisa com defeito. No defeitos da coisa, o que não impede o entanto o 915º vem restringir as comprador de solicitar a anulação do condições em que pode ser contrato por erro ou por dolo, verificados exercida essa indemnização, ao os pressupostos. referir que ela não é devida nos casos em que o vendedor indemnização ignorava sem culpa o vício ou a Em virtude da remissão do 913º in fine é falta de qualidade de que a coisa também aplicável à venda de coisas def. padece. Em sede de venda de o 908º ss, que determinam a possibilidade coisas defeituosas não há uma de atribuição ao comprador uma responsabilidade integralmente indemnização pelos danos eventualmente objetiva do vendedor, admitindo o sofridos, havendo apenas em sede de 915º que o vendedor se possa venda de coisas def. uma especialidade - exonerar de responsabilidade, 915º. Há também, nesta sede, 3 demonstrando que desconhecia fundamentos de indemnização, no âmbito sem culpa o vício ou a falta de das quais se estabelece um concurso de qualidade da coisa. pretensões: c) Indemnização por incumprimento a) Indemnização em caso de dolo: da obrigação de fazer convalescer Encontra-se prevista no 908º, o contrato: norma que se aplica integralmente Também em virtude da remissão nesta sede por não ser objeto de do 913º in fine, aplica-se em sede qualquer derrogação, por força da de venda de coisas def. o 907º, remissão do 913º in fine. Assim, sendo a referência ao sempre que o vendedor tiver atuado incumprimento da obrigação de com dolo (253º) e abrangendo casos fazer convalescer o contrato de negligência consciente, deve substituída pela referência à indemnizar o comprador do prejuízo obrigação de reparar ou substituir que este não sofreria se a compra e a coisa - 914º. Sendo esta venda não tivesse sido celebrada. Esta obrigação como outra qualquer indemnização, embora abrangendo (397º), o vendedor estará sujeito, danos emergentes e lucros cessantes, é nos termos gerais à resp. limitada aos danos que não teriam obrigacional, em caso de ocorrido se o contrato não tivesse sido incumprimento (798º ss), celebrado, ou seja, ao interesse impossibilidade culposa (801º ss) contratual negativo → solução típica ou mora no cumprimento (804ºss). da culpa in contrahendo (227º); O 910º/1, aplicável por força do b) Indemnização em caso de simples 913º admite um concurso de erro: pretensões neste âmbito. Esta Encontra-se prevista, por força da cumulação vem a ser excluída em remissão do 913º em sede de relação à indemnização por lucros venda de coisas def. uma cessantes resultantes de dolo do indemnização pelo vendededor ao vendedor, nos termos do 908º, comprador, ainda que limitada aos aplicável por força do 913º, admitindo-se aí apenas um cumulativamente, pelo que, se não for concurso alternativo de observado qualquer deles, caducarão os pretensões, dado o disposto no direitos conferidos ao comprador que 910º/2. pressupõe a denúncia dos defeitos. Enquanto o prazo a contar da descoberta dos defeitos vale redução do preço independentemente para cada defeito e que se Por força do 913º também é aplicável pode renovar sempre que forem descobertos em sede de venda de coisas def. a ação novos defeitos, o prazo a contar da entrega da de redução do preço, estabelecida no coisa vale para a generalidade dos defeitos 911º/1. Esta ação constitui uma desta. Para que esse prazo se inicie é alternativa à anulação do contrato em necessário que a entrega da coisa seja material, consequência do erro ou do dolo - 905º - uma vez que em caso de entrega simbólica ou alternativa essa que é imposta ao formal o comprador não ficará em condições comprador sempre que se possa de se aperceber dos defeitos da coisa - 922º. comprovar que os vícios ou falta de Em caso de não cumprimento destes qualidades que a coisa padece não prazos, caducam todos os direitos influiriam na sua decisão de aquirir o bem, conferidos ao comprador em caso de mas apenas no preço que estaria disposto simples erro, ou seja, a anulação com a pagar por ele. esse fundamento, a redução do preço, a reparação ou substituição e a forma e prazos de exercício do direito indemnização em caso de simples erro, A lei regula especificamente a forma de devendo ainda ser instaurada no prazo de exercício dos direitos pelo comprador de coisa 6 meses, salvo se o contrato ainda não defeituosa, uma vez que o 916º/1 estabelece estiver integralmente cumprido, caso em que o comprador deve denunciar ao vendedor que poderá ser instaurada a todo o tempo o vício ou a falta de qualidade da coisa, exceto (917º e 287º/2). Para M.L., apesar de a lei se este tiver usado de dolo → imposição ao se restringir à ação de anulação, este comprador de um ónus de denúncia dos prazo deverá ser aplicado em relação a defeitos, que é excluído apenas em caso de todas as ações conferidas ao comprador dolo do vendedor, o que se compreende uma com base em simples erro, uma vez que vez que se ele, através de sugestões ou não se justifica a divergência de regime artifícios, dissimulou os efeitos na coisa de se aplicar a estas o prazo geral da vendida, nada justifica que pudesse exigir uma prescrição. prévia denúncia desses defeitos. Caberá ao Em caso de dolo do vendedor não há comprador a prova de ter cumprido o ónus da qualquer ónus de o comprador efetuar a denúncia ou de que se verificou o dolo por denúncia dos defeitos, pelo que a ação de parte do vendedor. anulação pode ser instaurada dentro do Aplica-se o regime geral da liberdade de prazo de 1 ano a contar da cessação do forma (219º), podendo a denúncia ser vício (287º/1), sendo este prazo aplicável realizada tacitamente (217º). à redução do preço e Os prazos para a denúncia dos defeitos variam à reparação ou substituição da coisa. Em consoante se trate de bens móveis ou imóveis. relação à indemnização por dolo, vale o Em relação aos bens móveis, o prazo de regime geral de prescrição da denúncia é de 30 dias depois de conhecido o responsabilidade pré-contratual (227º e defeito e dentro de 6 meses após a entrega da 498º/2). coisa (916º/2). Em caso de imóveis esses prazos sobem para respetivamente 1 e 5 cláusulas de exclusão da garantia (916º/3). Esses prazos aplicam-se À semelhança do que sucede com a sobre as qualidades do objeto vendido, a venda de bens onerados, também na lei considera estipulada a existência de venda de coisas def. podem ser admitidas qualidades iguais às da amostra no bem estipulações contrárias à garantia, a não vendido, o que determinará a aplicação ser que o vendedor tenha procedido com do regime da venda de coisas def. (913º dolo e as cláusulas contrárias àquelas ss), no caso de essas qualidades afinal normas visem beneficiá-lo (912º aplicável não se verificarem. por força do 913º). Admite-se, porém, que da convenção ou dos usos possa resultar que a amostra o regime dos defeitos supervenientes não tenha efeito vinculativo, servindo e dos defeitos na venda de coisa futura apenas para indicar de modo aproximado ou na venda de coisa genérica as qualidades do objeto. Nessa situação, Do 918º resulta que, sempre que os o vendedor assegurará ao comprador defeitos da coisa não correspondam a apenas qualidades próximas da amostra, vícios da coisa específica comprada, já e não as exatas qualidades desta. existentes no momento da venda, não é aplicável o regime do 913º ss. Antes se VENDA DE ANIMAIS manda aplicar o regime do não O 920º refere-nos que ficam ressalvadas cumprimento das obrigações. as leis especiais ou, na falta destas, os Por força desta remissão, haverá que usos, sobre a venda de animais def.. distinguir se os vícios na coisa entregue Existe um regime especial relativo a são imputáveis ao vendedor ou não, animais defeituosos, composto ou pela devendo-se presumir a 1ª situação, por legislação especial que a eles se refere força do 799º. Sendo o vício imputado ao ou pelos usos da venda destes animais o vendedor, este responde pelos danos que implica que as disposições do CC causados ao comprador (798º ss), relativas à venda de coisas def. só se podendo ele consequentemente exigir a apliquem neste caso subsidiariamente em indemnização correspondente aos tudo o que não for contrariado pelas prejuízos que lhe causou o cumprimento disposições constantes do regime defeituoso ou resolver o contrato sem especial. prejuízo de reclamar a correspondente Relativamente aos animais, a grande indemnização pelos prejuízos resultantes controvérsia ocorrida diz respeito à da sua celebração (801º). Demonstrando- possibilidade de considerar como vícios se que os vícios não são imputáveis ao dos mesmos outras doenças, que não vendedor, temos uma questão de risco constantes no DL 16 dezembro de 1886. pela perda ou deterioração da coisa, o A posição inicial da jurisprudência foi a de qual corre por conta do comprador nos que a enumeração dessas doenças era casos de defeito superveniente e por taxativa. Contra esta posição, Pedro conta do vendedor, no caso de venda de Romano M., que qualificou esta referência coisa futura ou genérica (408º/2 e 540º). como meramente indicativa, considerando aplicável o DL, não apenas a outras VENDA SOBRE AMOSTRA doenças, mas também a outros animais, Referido no 919º (e 469º CCom.). não previstos. A jurisprudência recente Estamos numa situação em que a venda manteve, porém, a posição de não de uma coisa específica é realizada por consideração de outras doenças que não referência a outro objeto, indicado como previstas neste diploma. amostra ou modelo. Mesmo que não Para M.L., do 920º resulta a intenção de exista qualquer estipulação das partes não regular a compra e v. de animais def. pelas regras do CC, mas apenas pelas autores como promessa ao público25 e por leis especiais ou, na falta destas, pelos outros como contrato unilateral de usos. Então, 1º recorre-se à legislação garantia (italianos), mas que, em qualquer especial; 2º aos usos; só depois ao CC. caso, institui uma relação direta entre produtor e consumidor, à qual o vendedor GARANTIA DE BOM permanece estranho e que não exclui FUNCIONAMENTO nem limita as garantias por ele prestadas. O 921º prevê a denominada garantia de Em relação aos remédios que a lei bom funcionamento. Na atual sociedade concede ao comprador, faz-se referência tecnológica o bom funcionamento dos à reparação ou substituição da coisa, produtos aparece como imprescindível ao independentemente de culpa do vendedor seu uso normal. A jurisprudência tem ou de erro do comprador, mas não à facilmente considerado a existência de anulação do contrato ou redução do garantias de bom funcionamento com preço, nem indemnização. Nenhum base em meras declarações assertivas do destes remédios ficará excluído caso se vendedor, o que tem atenuado os ónus verifiquem os respetivos pressupostos. A que o CC faz recair sobre o comprador. A maioria da doutrina considera que o 921º aplicação do 921º é objeto de uma consagra uma responsabilidade especial extensão para além do que o legislador do vendedor de natureza objetiva que tem inicialmente teria pretendido. por base a assunção por este do risco Se da convenção das partes ou dos relativo a defeitos de funcionamento da usos resulta uma garantia de bom coisa. funcionamento, cabe ao vendedor reparar a coisa ou substituí-la quando seja O REGIME DA VENDA DE BENS DE necessário e a coisa tenha natureza CONSUMO fungível, independentemente de culpa sua O regime civil tradicional relativo às ou de erro do comprador (921º/1). A perturbações na prestação no contrato de garantia vigora pelo prazo estipulado no compra e venda tem vindo a perder a contrato ou imposto pelos usos, sendo aplicação no âmbito das relações de que na ausência de estipulação ou de consumo. O regime consagrado no CC uso, aplica-se o prazo de 6 meses, para o cumprimento defeituoso do contados da entrega da coisa (nº2) ou da contrato de compra e v. apresenta quase sua efetiva receção pelo comprador, sempre distorções em prejuízo dos quando se trate de coisas objeto de consumidores. A 1ª distorção consiste na transporte (922º). Nesses casos, o defeito própria noção do cumprimento defeituoso de funcionamento deve ser denunciado que deveria ser puramente equiparado ao ao vendedor, dentro do prazo de garantia incumprimento, quando pela lei é tratado e, salvo estipulação em contrário, até 30 ainda como cumprimento. A 2ª distorção dias depois de conhecido (921º/3), consiste em excluir a responsabilidade do caducando a ação logo que finde o tempo vendedor quando ele não tenha tido culpa para a denúncia sem o comprador a ter no defeito da prestação, fazendo assim efetuado, ou passados 6 meses sobre a sobre o comprador esse risco, a que data em que a denúncia foi efetuada acresce o facto de normalmente o (nº4). vendedor não ser responsabilizado pelos Dado que apenas se refere ao vendedor, o 921º não abrange os casos em que a 25 Por ex, se um advogado venda a um garantia é prestada pelo fabricante, particular um computador usado do seu escritório, não parece que esta garantia se situação que é qualificada por alguns possa aplicar. vícios aparentes da coisa, sujeitando-se o profissional. Tem sido controvertida a comprador a um excessivo ónus de questão da aplicação deste regime aos verificação das qualidades e idoneidade casos de bens adquiridos com fins da coisa para o fim previsto, quando a simultaneamente profissionais e não tutela da confiança provocada pelo profissionais. Para o prof. M.L., qualquer vendedor deveria antes instituir uma aplicação profissional do bem, mesmo garantia edilícia contra defeitos da coisa. que não exclusiva, implicará a não Nos neg.j. de consumo a tutela do aplicação do regime desta garantia, que consumidor é, por esse motivo, também não se poderá aplicar a casos de assegurada de uma forma distinta do que aquisição de um bem de consumo a um corresponde ao modelo clássico do profissional, quando este não esteja a cumprimento defeituoso. No direito atuar no âmbito da sua atividade normal.26 português rege neste aspeto a Lei 24/96 Do DL resulta a imposição de uma alterada pelo DL 67/2003. obrigação de entrega dos bens de O âmbito de aplicação da garantia consumo em conformidade com o contratual de bens de consumo aparece contrato (2º/1), estabelecendo-se assim indicado no art.1º do DL. Abrangem-se uma garantia contratual relativamente aos aqui não apenas os contratos relativos à bens de consumo. Trata-se de um critério transmissão de bens, mas também os que que tem vindo a ser adotado para unificar envolvem o seu fabrico e produção, a nível internacional as diversas soluções incluindo contratos típicos de empreitada existentes nos vários ordenamentos sobre e ainda a locação de bens de consumo a garantia edilícia. Para interpretar o art. (introduzido pelo legislador português). 2º haverá que esclarecer o que se Esta garantia é, no entanto, restrita aos entende por conformidade. Nas palavras contratos celebrados entre pessoas que de Ferreira de Almeida «relação deôntica fornecem bens de consumo com caráter entre o referente, segundo o texto e profissional no exercício de uma atividade objeto do ato executivo». A falta de económica que visa a obtenção de conformidade não pressupõe uma benefícios e consumidores, pessoas que apreciação negativa da situação como adquirem bens de consumo com fins não sucede com o conceito de defeito da profissionais. Daqui resulta que se exclui coisa (913º), havendo, por ex, falta de do âmbito de aplicação deste regime 3 conformidade, quando se encomenda um tipos de contratos: os contratos celebrados entre profissionais (ex, venda 26 divergência doutrinária quando estando em entre comerciantes ou empresas); os falta 2 prest. o montante total não exceda um oitavo: Batista Lopes - neste caso continuaria contratos celebrados entre não a não haver lugar à perda do benefício do profissionais (ex, venda de bens em 2ª prazo e eventual resolução do contrato; mão por um consumidor a outro); e os Pires de Lima/Antunes V./M.L. - faltando o contratos de «venda de bens de consumo comprador ao pagamento de 2 prest., a falta de confiança do vendedor na realização das invertida», em que um profissional compra prest. futuras é total, pelo que não se justifica um objeto a um consumidor, podendo ou estender a essa hipótese o benefício do 934º. não vender-lhe simultaneamente outro Se, no entanto, o que ocorrer for uma mera bem. reiteração do incumprimento (ex, devedor faltar pela 2ª vez ou 3ª ao pagamento de 1ª Estão assim em causa os negócios que prest. depois de ter liquidado tardiamente as se estabeleçam entre profissionais, outras que se encontrassem em dívida), o atuando no âmbito da sua atividade 934º continuar-se-á a aplicar. Nesse caso, a profissional, dos quais resulte a aquisição liquidação tardia sana os efeitos do incumprimento ulterior, pelo que continua a de bens, destinados a uso não estar em falta 1 só prestação. veículo fabricado este ano e é entregue envio (797º), quer do regime da mora do um modelo do ano anterior. Parece existir credor (814º/1). igualmente falta de conformidade se é entregue um objeto diferente da coisa direitos do consumidor perante a falta vendida, hipótese que entre nós seriam de conformidade qualificada pura e simplesmente como O art. 4º vem admitir direitos do incumprimento. Em face do art.2º parece consumidor perante a falta de claro que a venda de bens onerados conformidade do bem adquirido: constituirá uma hipótese de a) reparação; desconformidade. b) substituição; Face ao novo regime da venda de bens c) redução do preço; de consumo, a averiguação do estado da d) resolução do contrato. coisa que compete ao comprador deixa A estes direitos acresce ainda a indemnização de ser imposta ao consumidor para ser (12º/1 L24/96). A Diretiva 1999/44/CE objeto de uma garantia específica, procede a um escalonamento dos 1ºs 4 prestada pelo vendedor, cabendo a ele o direitos, distinguindo 2 níveis de reação do ónus da prova, segundo as regras gerais, consumidor. No 1º nível são colocados a a) e de ter cumprido essa obrigação de b) e no 2º nível o c) e o d) → tem lógica, já garantia. que o princípio do aproveitamento dos neg.j. deve impor a prevalência das soluções que presunção de não conformidade conduzem à integral execução do negócio Essa garantia, no entanto, é objeto de sobre soluções que implicam uma sua uma presunção ilidível relativamente às ineficácia total ou parcial. O 914º afasta-se situações mais correntes. desta solução, admitindo apenas a substituição Mesmo que se verifique que os bens de em lugar da reparação, se tal for necessário e consumo possuem todas as somente em relação a coisas fungíveis, características referidas no 2º/2, tal não excluindo-a em qualquer caso sempre que o demonstrará o cumprimento da obrigação vendedor ignorar sem culpa o vício ou a falta de conformidade com o contrato referida de qualidade de que a coisa padece. no 2º/1, mas antes funcionará como Em relação à impossibilidade de presunção de existência dessa reparação, esta acontece sempre que o conformidade, aligeirando-se o ónus da bem se tenha tornado inaproveitável para prova que recai sobre o vendedor o consumidor, mesmo após qualquer relativamente ao cumprimento da intervenção do vendedor. Em relação à obrigação. impossibilidade da substituição, ao contrário do disposto no 914º, ela não momento relevante para a verificação decorrerá automaticamente da natureza da conformidade infungível do bem, ainda que esta na De acordo com o que resulta do 3º/1, a maioria dos casos possa efetivamente conformidade deve verificar-se no originar a impossibilidade de substituição. momento em que a coisa é entregue ao Admite-se, porém, que devido à natureza consumidor, o que implica passarem a específica de certos bens seja impossível correr por conta do vendedor os riscos a ocorrência da substituição, como relativos a defeitos da coisa ocorridos sucederá em relação à maioria dos bens entre a venda e a entrega ao consumidor. em 2ª mão, ou relativamente aos bens Tal parece implicar uma derrogação, construídos com materiais fornecidos pelo neste âmbito, quer do regime geral do consumidor. Também pode ocorrer a 796º/1, quer do regime da promessa de impossibilidade de substituição por motivos como o bem se encontrar esgotado no mercado. Relativamente à Caráter injuntivo do regime da venda hipótese de a solução constituir abuso de de bens de consumo direito, opera a remissão para o 334º? O As disposições de proteção ao prof.M.L. discorda, pois o conceito da consumidor caracterizam-se pelo seu diretiva é + preciso, assentando numa caráter injuntivo, uma vez que, sendo esta ponderação de custos para ambas as a parte + fraca, leiga ou profana, partes. naturalmente que seria fácil a um O 4º DL 67/2003 esclarece qual a forma profissional obter dele a derrogação das de cumprimento da reparação ou normas supletivas instituídas em seu substituição, informando que qualquer benefício. A nulidade é atípica uma vez delas ser realizada sem encargos, ou que apenas pode ser invocada pelo seja, suportando o vendedor as despesas consumidor ou seus representantes. Esta necessárias para repor a conformidade do proibição de derrogação sofre uma bem, dentro de um prazo razoável. Em atenuação em relação aos bens em 2ª lugar da reparação/substituição o mão. consumidor poderá pedir uma redução adequada do preço ou a resolução do contrato, a menos que tal seja DOS CONTRATOS DE manifestamente impossível ou constitua CONCESSÃO DE GOZO abuso de direito. Conforme resulta da diretiva, o vendedor pode sempre oferecer DO CONTRATO DE LOCAÇÃO uma outra solução ao comprador que, se A locação encontra-se referida nos arts. for por este aceite, derroga o art. 4º. 1022º a 1063º. Da definição do 1022º resulta logo que o contrato de locação se Prazos caracteriza por uma específica prestação: O 5º da diretiva vem estabelecer um a de proporcionar a outrem o gozo de prazo de 2 anos a contar da entrega do uma coisa corpórea, bem como pela bem, durante o qual tem que se estipulação de uma contrapartida manifestar a falta de conformidade. O 5º pecuniária para essa obrigação. DL estabelece um prazo semelhante para Caracteriza-se pelo seu caráter móveis e 5 anos para imóveis. transitório, uma vez que apenas pode ser celebrada por período temporário. Responsabilidade direta do produtor A locação desempenha uma importante O nosso legislador consagrou este função económica, na medida em que regime no 6º DL. Os custos dos defeitos permite ao titular de direitos de gozo dos produtos devem ser ressarcidos por sobre determinada coisa obter quem os causou rendimento, concedendo temporariamente o gozo dessa coisa a outrem,o que pode O direito de regresso do vendedor fazer sem abdicar do direito final correspondente. Por outro lado, permite a Consagrado no 4º diretiva e transposto quem não tem capacidade económica para o 7º DL. Não depende da para adquirir os bens de que necessita demonstração da culpa dos demais da obter o gozo correspondente aos culpa dos demais participantes na cadeia mesmos, mediante o pagamento de uma contratual, sendo antes uma quantia inferior ao que lhe custaria a sua responsabilidade solidária por garantia, aquisição. Por fim, a locação facilita o independentemente de culpa. aproveitamento económico dos bens, na a) Obrigação de proporcionar a medida em que estes, em caso de não outrem o gozo de uma coisa; utilização pelo seu titular, em lugar de b) Caráter temporário; ficarem inativos, podem ser aplicados à c) Retribuição. satisfação de necessidades alheias. Porém, nem sempre a relação locatícia Obrigação de proporcionar a outrem o tem que resultar de um contrato. Na lei gozo de uma coisa atual admite-se a constituição da relação Essa obrigação constitui a prestação de arrendamento através de sentença característica do contrato de locação, judicial, que o 1793º prevê para a sendo referida no 1031º, b) como uma hipótese de divórcio (ou separação obrigação de conteúdo positivo. judicial de bens, 1794º), estendendo-se à Tem sido controvertida na doutrina a união de facto. Prevê-se ainda hipóteses configuração da locação como instituindo de arrendamentos impostos por órgãos uma efetiva obrigação de o locador públicos, os quais por isso não se assegurar ao locatário o gozo da coisa. poderão considerar como tendo a sua Alguns autores, propugnando a natureza fonte em contratos. É também objeto de real do direito do locatário, contestaram controvérsia na doutrina a possibilidade que o gozo da coisa conferido pelo de constituição do direito do locatário por contrato resultasse de uma obrigação do usucapião. locador, entendendo existir antes um Nos termos do 1023º é possível direito de gozo do locatário inerente à distinguir entre 2 modalidades de locação: coisa e dotado de sequela, que por isso o aluguer e o arrendamento. A locação é se poderia considerar como real27. Outros, denominada de aluguer quando recai defendendo que não faria sentido sobre coisa móvel e arrendamento quanto considerar o locador vinculado recai sobre coisa imóvel. O arrendamento positivamente a assegurar o gozo da admite várias modalidades. Consoante coisa ao locatário, vieram sustentar que a recaia sobre prédios urbanos ou prédios sua obrigação teria antes conteúdo rústicos, poderemos falar em negativo, podendo ser considerada ou arrendamento urbano (pode ser para fins como uma prestação de pati (tolerar o habitacionais ou não habitacionais) ou gozo da coisa pelo locatário) ou non rústico (pode constituir arrendamento rural facere (não perturbar esse gozo)28. Para consoante o seu fim seja a exploração M.L., tende a aceitar a qualificação legal, agrícola ou pecuária ou arrendamento entendendo assim que ao locador é florestal, se o seu fim for a habitação atribuída no 1031º,b) uma obrigação de florestal). Caso o arrendamento de conteúdo positivo de assegurar o gozo da prédios rústicos seja realizado para outros coisa ao locatário, diferentemente do que fins é sujeito ao regime do arrendamento sucede no comodato em que, atenta a urbano para fins não habitacionais, natureza gratuita do contrato, é antes conjuntamente com o regime geral da locação (1108º, in fine). 27 É a posição de Oliveira A., embora restrita ao arrendamento. Era também a de M.C., mas este veio a rever a sua posição, sustentando ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO agora que sendo a locação estruturalmente CONTRATO DE LOCAÇÃO real, mantém-se, porém, como um direito obrigacional, uma vez que historicamente Em face do 1022º é possível considerar deriva de uma situação j. que no Direito Romano era defendida por actiones in os seguintes elementos constitutivos do personam. contrato de locação: 28 Pinto Furtado. atribuída a essa obrigação um conteúdo indeterminada. Este tipo de contratos não negativo (1133º/1). No entanto, o facto de coloca, porém, obstáculos à natureza ser uma obrigação com conteúdo positivo temporária do arrendamento30. Além de o não implica que o locador esteja arrendamento se poder sempre extinguir continuadamente a assegurar o gozo da por denúncia (1100º ss e 1110º), são coisa ao locatário, uma vez que, tendo a limitadas as possibilidades de este se coisa lhe sido entregue, e estando ele transmitir por morte (1106º e 1113º). consequentemente na sua posse, torna- se desnecessária qualquer intervenção do Retribuição locador para assegurar esse gozo, A locação é um contrato essencialmente bastando normalmente a sua abstenção oneroso, surgindo como contrapartida das em praticar atos que o impeçam ou prestações do locador uma diminuam (1037º/1), a não ser em casos contraprestação do locatário, de pagar a excecionais, como na hipótese de haver renda ou aluguer (1038º,a)). Normalmente necessidade de fazer reparações na coisa a obrigação de locatário tem por objeto locada (1036º). A lei é, aliás, expressa no uma prestação pecuniária de quantidade, sentido de que o locador não tem que se caracteriza pelo seu caráter obrigação de assegurar o gozo da coisa periódico, mas não é obrigatório que tal contra atos de 3º (1037º/1 in fine), suceda, uma vez que ao abrigo do cabendo antes ao locatário o uso das princípio da liberdade contratual as partes ações possessórias para a sua tutela poderão estipular outro objeto para a (1037º/2). prestação do locatário. Apenas no arrendamento urbano (1075º/1) se afasta Caráter temporário a possibilidade de as partes não a fixarem Esta situação resulta logo do 1022º e em dinheiro, ainda que se admita a sua encontra-se expressamente determinada fixação em moeda específica (552ºss) ou no 1025º a proibição de a locação não em moeda estrangeira (558º). poder celebrar-se por + de 30 anos, sendo reduzida a esse limite, quando CARACTERÍSTICAS QUALIFICATIVAS celebrada por tempo superior ou como DO CONTRATO DE LOCAÇÃO contrato perpétuo. Este prazo corresponde apenas ao limite máximo do A locação como contrato nominado e prazo inicial do contrato e não ao seu típico limite de duração, pelo que nos casos de A locação é um contrato nominado uma arrendamentos sujeitos a renovação vez que a lei o reconhece como categoria forçada (1054º), nada impedirá que o jogo j., e típico porque estabelece para ele um das renovações leve a que o contrato de regime, quer no âmbito do CC (1022º ss), arrendamento tenha uma duração quer em diversos diplomas especiais máxima superior a 30 anos29. O NRAU (Novo Regime do Arrendamento Urbano, veio ainda permitir, nos termos do 1099º Regime do Arrendamento Rural e o ss, que o arrendamento possa ser Regime do Arrendamento Florestal). celebrado como contrato de duração A locação como contrato consensual 29 Em sentido contrário, Pinto F., Pires L. e Antunes V., sustentam que a renovação A locação deve ser entendida como forçada dos arrendamentos só é possível contrato consensual (por oposição a real enquanto não for esgotado o prazo máximo do 1025º que instituiria assim não apenas um 30 Já neste sentido, em relação aos antigos prazo máximo inicial, mas também um limite arrendamentos de prédios rústicos por tempo de duração de arrendamento. indeterminado, Galvão T. quoad constitutionem). A noção legal de defendida por Oliveira A. e M.C. numa 1ª locação do 1022º não inclui a entrega fase do seu pensamento, sustentou a como elemento necessário à constituição natureza real do direito do locatário. do contrato e o 1031º, al.a) faz referência A favor da tese personalista tem-se expressa à obrigação do locador de afirmado que a locação não aparece entregar ao locatário a coisa locada. Isto colocada na parte do CC para os direitos só por si demonstra que a locação se reais, como se imporia se o legislador lhe constitui antes da entrega da coisa quisesse atribuir essa natureza. Por outro locada. lado, o 1031º, al.b) expressamente qualifica o gozo da coisa como A locação como contrato correspondente a uma obrigação por primordialmente não formal parte do locador, o que naturalmente A lei não sujeita genericamente o corresponde a um direito de crédito do contrato de locação a uma forma especial locatário. Por outro lado, noutras (219º). Há, no entanto, algumas exceções disposições o legislador vem a esta solução. Exige-se a forma escrita expressamente qualificar o direito do para os contratos de arrendamento locatário como correspondendo a uma urbano com duração superior a 6 meses direito pessoal de gozo (1682º-A, nº1, (1069º), arrendamento rural (3º/1 RAR) e al.a) e nº2). arrendamento florestal (4º RAF). Assim, A favor da tese realista tem-se afirmado que em relação ao arrendamento vigora o 1037º/2 atribui ao locatário o direito a genericamente a sujeição a forma escrita, utilizar, mesmo contra o locador, as ações salvo para os arrendamentos urbanos por atribuídas ao possuidor no 1276º ss. Ora, como prazo inferior a 6 meses e, que, por isso, a toda a ação corresponde um direito, o direito deverão ser sujeitos à regra geral da subjacente a estas só poderia ser a posse e, consensualidade. sendo a posse restrita pelo 1251º aos direitos Também o aluguer é sujeito à regra reais, parece que por essa via teria que se geral da consensualidade. Em certos qualificar a locação como um direito real. Por casos exige-se, no entanto, forma escrita, outro lado, o 1057º vem determinar que a como sucede com o aluguer de veículos locação não é prejudicada no caso de o bem sem condutor. locado vier a ser adquirido por 3º → corresponderia à sequela, típica dos direitos A locação como contrato reais. obrigacional. O problema da natureza A posição que M.L. tem vindo a defender do direito do locatário passa, porém, pela adesão à tese Uma das grandes controvérsias no personalista. O facto de a lei conceder as âmbito do contrato de locação diz respeito ações possessórias ao locatário nada à sua qualificação ou não como contrato demonstra, uma vez que essas ações têm real quoad effectum. Esta discussão sido concedidas noutras sit.em que nunca prende-se com a controvérsia em torno da se considerou existir um direito real, como natureza j. do direito do locatário. em relação ao parceiro pensador Enquanto que para a posição clássica - (1125º/2), ao comodatário (1133º/2) e ao M.L., Galvão T., Pires L. e Antunes V., depositário (1188º/2). Por outro lado, Romano M. e Januário Gomes - o apesar da referência no 1251º, nada locatário é meramente titular de um direito justifica que o regime da posse não possa pessoal de gozo, não produzindo ser estendido a outras situações que não consequentemente o contrato de locação a dos direitos reais, pelo que a atribuição quaisquer efeitos reais. Outra posição de posse ao locatário não constitui necessariamente argumento no sentido Uma vez que a obrigação do locador de do caráter real do seu direito. Também o proporcionar ao locatário o gozo da coisa 1057º nada demonstra, uma vez que essa (1031º,b)) tem como correspetivo a norma não constitui uma hipótese de obrigação de pagar a renda ou aluguer sequela, mas antes a de uma transmissão (1038º,a)), ficando ambos os contraentes imposta da obrigação do locador (sub- sujeitos a obrigações recíprocas. rogação legal), dado que tem como pressuposto a aquisição do direito com A locação como contrato comutativo base no qual foi celebrado o contrato, ou Uma vez que as atribuições patrimoniais seja, uma aquisição derivada, não tendo de ambas as partes se apresentam como que se demonstrar a válida constituição certas e não como aleatórias. desse direito através de uma aquisição originária, ao contrário do que sucede nos A locação como contrato de execução direitos reais. Não há assim traços duradoura característicos da realidade no direito do Uma vez que as prestações de qualquer locatário. das partes aparecem relacionadas com Antes pelo contrário, verifica-se que a lei um certo período de tempo que delimita o atual estrutura a locação como um direito seu conteúdo e extensão. A prestação do pessoal de gozo, contraposto a uma locador de proporcionar o gozo da coisa obrigação positiva do locador (1031º,b)). ao locatário (1031º,a)) constitui uma Dessa solução resultam várias prestação contínua, uma vez que não consequências de regime. 1 delas é o sofre qualquer interrupção. Já a prestação facto de o locador poder constituir do locatário de pagar a renda ou aluguer validamente o contrato, mesmo não (1038º,a)) constitui uma prestação de sendo proprietário da coisa locada, natureza periódica, uma vez que não é apenas respondendo por incumprimento executada ininterruptamente, mas antes se não conseguir proporcionar o gozo da se renova em sucessivos períodos de mesma ao locatário (1034º). Outra é a tempo. circunstância de o direito do locatário não ser tutelável através da ação de OBJETO DA LOCAÇÃO reinvindicação (1311º), como sucede com Nos termos do 1023º, podem ser objeto os direitos reais, mas antes através da de locação tanto as coisas imóveis como ação de cumprimento (817º). Para M.L., a as móveis, denominando-se a locação de atribuição de caráter pessoal ao direito do arrendamento no 1º caso e de aluguer no locatário é a qualificação que melhor se 2º. Esta classificação restringe-se às harmoniza com o regime legal. coisas corpóreas, embora possam ser objeto de locação coisas incorpóreas A locação como contrato oneroso como o estabelecimento comercial Uma vez que implica sacrifícios (1109º). económicos para ambas as partes. A locação pode abranger tanto a Enquanto que o locador abdica do gozo totalidade como parte de uma coisa. da coisa, o locatário abdica do Assim, nos prédios urbanos podem ser correspondente preço locativo, assumindo arrendados separadamente partes do assim ambas as partes sacrifícios prédio ou até apenas muros e terraços económicos equivalentes. (para publicidade) ou janelas (para assistir a um cortejo). Nos prédios rústicos podem A locação como contrato ser arrendados separadamente a várias sinalagmático pessoas as diversas culturas existentes interditos (138º ss) ou inabilitados (152º no prédio. ss), estão impedidos de celebrar contratos de locação. Nestes casos será o FORMA DO CONTRATO DE LOCAÇÃO representante legal (pais, tutor, curador Apesar de a locação não exigir ou administrador de bens) que poderá genericamente forma especial, tal pode celebrar os respetivos contratos. Nesse acontecer em certos casos. caso, no entanto, o contrato de locação É em 1º lugar exigida forma escrita para caducará com a cessação dos poderes o contrato de arrendamento urbano, legais de administração (1051º/1,c)). No desde que tenha duração superior a 6 caso de o maior de 16 anos adquirir bens meses (1069º). O referido documento com o produto do seu trabalho pode obedece a determinadas formalidades, validamente administrar e dispor deles como prévia obtenção de licença de (127º/1,a)), pelo que nesse caso terá utilização do imóvel, quando exigível capacidade. (1070º/1) e a inclusão no contrato de toda Em relação às pessoas coletivas (160º), uma série de elementos, constantes de não há em princípio obstáculos para que diploma especial (1070º/2). celebrem contratos de locação, quer Também o arrendamento rural deve ser como locadora, quer como locatária. Essa celebrado por escrito (3º/1 RAR). A não legitimidade ocorre mesmo em relação ao redução a escrito não afetará a parte que arrendamento para habitação, uma vez se pretenda prevalecer do contrato. que a pessoa coletiva apenas não pode Igualmente em relação ao arrendamento celebrar contratos de arrendamento para florestal (4º RAF), sendo a falta de forma habitação própria, podendo ser for alheia. suprida se …(5º). Quanto ao aluguer, embora Legitimidade para a celebração do normalmente sujeito à regra de contrato de locação consensualidade, em certos casos, a lei Uma vez que a locação constitui um ato vem exigir que seja celebrado por escrito, de administração ordinária para o locador, como sucede com o aluguer de veículos sempre que seja celebrada por prazo sem condutor, em que se exige a redução inferior a 6 anos, pode o respetivo do contrato a escrito…(art.17º DL 354/86). contrato ser celebrado por mandatário com poderes gerais de administração FORMAÇÃO DO CONTRATO DE (1159º/1), bem como todos os que LOCAÇÃO possuam esses poderes, como os pais, tutores, curadores ou adm.dos bens dos Capacidade para a celebração do menores, interditos ou inabilitados contrato de locação (1889º,m), a contrario, 1935º, 1971º, 139º Refere o 1024º/1 que a locação constitui e 154º), os curadores provisórios (94º) ou para o locador um ato de administração definitivos do ausente (110º), o ordinária, sempre que for celebrada por consignatário de rendimentos (661º,b)): o prazo inferior a 6 anos. cabeça de casal (2087º/1) e os Consequentemente, têm capacidade para administradores de sociedades e outras celebrar contratos de locação até esse pessoas coletivas. prazo todos os que podem contratar e Há, no entanto, algumas sit.de administrar os seus bens, o que ocorre pluralidade de titulares do imóvel em que genericamente em relação às pessoas a lei exige o consentimento de todos eles singulares (67º). Apenas os incapazes de para se poder celebrar um contrato de contratar, como os menores (122º ss), arrendamento. Estando em causa um arrendamento de prédio indiviso feito pelo prazo superior a 6 anos e um ato de adm. consorte(s) adm., este só será extraordinária se celebrado por prazo considerado válido se os restantes inferior. O autor defende que o comproprietários manifestarem, antes ou arrendamento não pode ser celebrado por depois do contrato, o seu assentimento mandatário sem poderes especiais (1024º/2). Também carece do (1159º) e que os pais (1889º/1,h) e m)), o consentimento de ambos os cônjuges, tutor (1938º), o adm. de bens (1971º) e o salvo se entre eles vigorar o regime da curador (94º) só podem tomar de separação de bens, o arrendamento de arrendamento com autorização do tribunal imóveis próprios ou comuns (atualmente MP). Para ML a locação é (1682º-A/1,a)), sendo sempre exigido para o locatário uma simples assunção de esse consentimento, se o arrendamento obrigações como contrapartida do gozo incidir sobre a casa de morada de família. de uma coisa, pelo que, desde que não No caso de arrendamento com prazo seja celebrada por um prazo excessivo ou certo superior a 6 anos ou com duração desproporcionado, pode ser considerada indeterminada, já não é, porém, um ato de mera adm. Pode ser celebrada admissível a sua celebração por quem por mandatário com poderes gerais de tenha apenas comp. para administrar o adm. (1159º) e só não pode ser celebrada prédio, exigindo-se poderes de adm. pelos pais se as obrigações se o prazo extraordinária ou de disposição. Nesse estipulado ultrapassar a maioridade do caso o arrendamento apenas poderá ser menor (1889º,h)). Em relação ao tutor, celebrado pelo proprietário (1305º), ser-lhe-á permitido tomar de usufrutuário (1444º), fiduciário (2290º) ou arrendamento, se for para assegurar procuradores destes com poderes habitação ao pupilo (o que é uma especiais para o ato. O arrendamento componente do seu direito a alimentos) pode ainda ser celebrado pelo ou tal se mostre necessário à adm. do arrendatário, no caso de este se encontrar património dele (1938º/1, d)), sendo este autorizado a subarrendar o prédio, total regime igualmente aplicável ao adm. de ou parcialmente. bens (1971º) e curador (94º). Já em relação ao locatário, a lei não toma posição expressa sobre a sua O contrato-promessa de locação qualificação como ato de administração Também a locação pode ser objeto de ou disposição, o que originou certa contrato-promessa nos termos gerais do controvérsia doutrinária. Para Cunha G., a 410º. O contrato-p. de locação é, em locação deveria ser considerada em princípio, consensual, só tendo que ser relação ao locatário sempre como um ato celebrado por documento escrito, de mera adm., uma vez que, seja qual for assinado pela parte que se vincula, no o prazo, este só tem a lucrar com a caso em que para o contrato definitivo locação. Já Galvão T. considerou que a seja exigida forma especial (410º/2), o celebração do arrendamento nunca se que já se viu ocorrer normalmente para a poderia considerar, em relação ao locação de imóveis (1069º, 3º e 5 RAF). arrendatário, como ato de mera adm., Não é, porém, aplicável à promessa de uma vez que não se destina à arrendamento o 410º/3, uma vez que o conservação ou mera frutificação de bens, arrendamento não constitui um direito antes implicando a assunção de real. Em caso de não cumprimento da obrigações pelo locatário. Já para promessa de locação, deve entender-se Januário Gomes, o arrendamento é um que a mesma estará normalmente sujeita ato de disposição quando celebrado por à execução específica (830º), uma vez que a natureza da obrigação assumida direito do locatário é o direito de gozo da não é incompatível com essa figura. Não coisa locada. Constituindo esse um direito estando perante uma das promessas a pessoal de gozo, estrutura-se com base que se refere o 410º/3, a execução numa obrigação do senhorio. A verdade é específica pode ser afastada pelas partes que não deixa de conferir ao locatário a (830º/1 e 3 a contrario), o que se posse da coisa locada, sendo-lhe presumirá se tiver sido estipulado sinal ou consequentemente atribuída a fixada uma pena para o não cumprimento possibilidade de, em caso de ser privado da promessa. do gozo da coisa, ou perturbado no exercício dos seus direitos, utilizar as EFEITOS ESSENCIAIS DA LOCAÇÃO ações possessórias (1276º ss), ainda que OBRIGAÇÕES DO LOCADOR contra o próprio dono. O locatário tem posse em nome próprio da coisa locada, Obrigação de entrega correspondente ao seu direito de gozo Refere o 1031º,a) que a 1ª obrigação do sobre ela31, tendo ainda posse em nome locador é a de entregar ao locatário a alheio do direito do locador (1253º,c)). coisa locada. Ao contrário do que sucede Nos termos gerais pode sempre exigir do na compra e venda (882º) e na doação locador que cumpra a sua obrigação de (955º) a lei não concretiza o regime da lhe assegurar o gozo da coisa locada. obrigação de entrega no âmbito do Essa obrigação pode implicar a contrato de locação. Essa solução necessidade de o locador fazer explica-se pelo facto de não se justificar reparações e outras despesas instituir uma obrigação de custódia do necessárias à conservação da coisa locador em relação à coisa após a locada (1036º). O locatário pode assim celebração do contrato, uma vez que o exigir do locador que as efetue. Caso o locador responde sempre por vícios da locador entre em mora quanto a essa coisa locada que datem no momento da obrigação, se as despesas ou as entrega, se não provar que os reparações, pela sua urgência, se não desconhecia sem culpa (1032º,b)) ou que compadecerem com as delongas de um os defeitos eram conhecidos ou processo judicial, pode o locatário fazê-las cognoscíveis pelo locatário (1033º,a) e extrajudicialmente, com direito ao seu b)). Também não se justifica estabelecer reembolso (1036º/1). Caso a urgência não supletivamente a que a obrigação de consinta qualquer dilação, o locatário entrega abranja os frutos pendentes e as pode efetuar as reparações e despesas, partes integrantes, e muito menos os independentemente de mora do locador, documentos relativos à coisa ou direito, contando que o avise a tempo (1036º/2). uma vez que caberá às partes determinar a extensão da locação. A entrega da Pagamento dos encargos da coisa coisa pode ser material ou simbólica, locada sendo esta última a + comum De acordo com o 1030º incide sobre o relativamente a imóveis. locador a obrigação de suportar os encargos da coisa locada, a menos que a Obrigação de assegurar ao locatário o lei disponha coisa diferente. Não parece gozo da coisa para os fins a que esta possível admitir a derrogação desta se destina O locador é ainda obrigado a assegurar 31 Trata-se de uma posse correspondente ao exercício de um direito pessoal de gozo e não ao locatário o gozo da coisa para os fins a de um direito real. Galvão T. e Romano M. que esta se destina (1031º,b)). O principal disposição por convenção em contrário, faz correr por conta do senhorio, o tendo em conta o caráter injuntivo da locatário é equiparado, salvo estipulação norma32. Para efeitos desta disposição, em contrário, ao possuidor de má fé constituem encargos da coisa locada os quanto a benfeitorias que haja efetuado impostos prediais, as taxas, os prémios na coisa locada. O locatário tem direito a de seguro e os encargos de condomínio. ser indemnizado das benfeitorias No âmbito do arrendamento rural e do necessárias que haja efetuado bem como arrendamento florestal, os art.4º,b) do levantar as benfeitorias úteis, se tal puder RAR e 8º,b) do RAF consideram ser efetuado sem detrimento da coisa, expressamente como nula a cláusula pela havendo lugar à restituição do qual o arrendatário se obrigue ao enriquecimento por despesas no caso pagamento de prémio de seguro contra contrário (1273º). O locatário não tem incêndios de edifícios, bem como de direito ao levantamento de benfeitorias contribuições, impostos ou taxas que voluptuárias (1275º). A solução é incidam sobre prédios compreendidos no exceptuada em relação ao aluguer de arrendamento e que sejam devidas pelo animais (1046º/2). senhorio. Há ainda a considerar os regimes No âmbito do arrendamento urbano, a especiais relativos aos diversos casos de solução é diferente, dado que o 1078º/1 arrendamento. Em relação ao a.urbano. remete para a estipulação escrita das Do 1074º/2 e 3 resulta que a realização partes o regime dos encargos da coisa de obras pelo arrendatário depende de locada, os impostos prediais, as taxas, os cláusula do contrato ou de autorização prémios, os encargos de condomínio, por escrito do senhorio, salvo se se bem como o pagamento de bens ou verificar a mora do senhorio ou uma serviços relativos ao local arrendado. urgência improrrogável na realização das Estes encargos ficarão a cargo de quem obras, caso em que o arrendatário pode forem contratualmente atribuídos. Eles proceder à sua realização, com direito a devem ser contratados por aquele que for reembolso. Nesta situação, o arrendatário responsável pelo seu pagamento pode efectuar a compensação pelo valor (1078º/4). das despesas com a obrigação de No arrendamento de fracção autónoma, a pagamento da renda (1074º/3 in fine lei presume que ficam a cargo do juntando os respetivos comprovativos senhorio os encargos e despesas (1074º/4). No caso de o arrendatário referentes à adm., conservação e fruição efetuar licitamente as obras terá direito, de partes comuns do edifício, bem como no final do contrato, a uma do pagamento de serviços comuns «compensação» por essas obras, nos (1078º/3). Se nada for estipulado em termos aplicáveis às benfeitorias contrário, o senhorio será responsável realizadas pelo possuidor de boa fé pelo pagamento dessas despesas. (1074º/5). O arrendatário terá direito ao reembolso das benfeitorias necessárias e Obrigação de reembolso de ao levantamento das benfeitorias úteis, benfeitorias quando este possa ser efetuado sem O 1046º/1 estabelece que, salvo quanto detrimento da coisa, tendo direito à às obras, reparações e despesas que a lei restituição do enriquecimento por despesas no caso contrário (1273º). Pode 32 Em sentido contrário Pires L e Antunes V. ainda levantar as benfeitorias voluptuárias que, no entanto, reconhecem estar a que tenha feito, não se dando o interpretar esta expressão em sentido diferente do habitual, e também Romano M. detrimento da coisa, perdendo as mesmas na hipótese contrária (1275º/1)33. arrendamento, em caso de caducidade do O arrendatário terá ainda direito de seu contrato por ter cessado o direito ou retenção(754º). A lei admite estipulação terem findado os poderes legais de adm. em contrário pelo que este regime poderá com base nos quais o contrato foi ser derrogado por convenção, celebrado (1091º/1,b)). Neste último caso, designadamente estabelecendo que o a obrigação de preferência só se mantém arrendatário não terá direito a qualquer enquanto não for exigível a restituição do indemnização pelas obras que venha a prédio - 1053º (1091º/2). O direito de fazer no prédio, o que aliás costuma ser preferência do arrendatário é graduado estabelecido nas CCG relativas ao imediatamente acima do direito de arrendamento urbano. preferência conferido ao proprietário do No âmbito do arrendamento rural, o solo pelo 1535º (1091º/3) e sujeito ao 14º/1 RAR estabelece que o arrendatário regime geral do 416º a 418º e 1410º apenas pode fazer no prédio(s) (1091º/4). arrendado(s) benfeitorias úteis com o No âmbito do arrendamento rural o 28º/1 consentimento escrito do senhorio ou, na RAR atribui aos arrendatários com, pelo falta deste, mediante um plano de menos 3 anos de vigência do contrato, o exploração, a aprovar pelos serviços direito de preferirem na transmissão do regionais...Em relação às benfeitorias prédio arrendado, em caso de venda ou necessárias, poderão ser realizadas pelo dação em cumprimento do mesmo, direito arrendatário, independentemente de esse que é graduado abaixo do direito do consentimento do senhorio. No entanto, co-herdeiro ou comproprietário (28º/2 este último só é obrigado ao reembolso RAR). O exercício da preferência vai de benfeitorias caso o contrato termine obrigar o arrendatário a cultivar o prédio antes do seu prazo normal (15º RAR). Ver diretamente, como seu proprietário, restantes arts. + âmbito do arrendamento durante pelo menos 5 anos, salvo em florestal – 14º, 15º RAF. caso de força maior (28º/3). Caso o arrendatário incumpra essa obrigação, Obrigação de preferência fica vinculado a pagar ao anterior Outra obrigação para o locador, no proprietário o valor equivalente ao âmbito do arrendamento, é a de dar quíntuplo da última renda vencida e a preferência ao arrendatário, na venda ou transmitir a propriedade ao preterido com dação em cumprimento do prédio o exercício da preferência, se este o arrendado. A obrigação de dar preferência desejar, pelo preço que este adquiriu o encontra-se estabelecida em todas as prédio (28º/4). modalidades de arrendamento, ainda que com regimes diferentes. OBRIGAÇÕES DO LOCATÁRIO No âmbito do arrendamento urbano, no caso de compra e venda ou dação em Obrigação de pagamento da renda ou cump. Do prédio arrendado há + de 3 aluguer anos (1091º/1,a)), assim como na A principal obrigação do locatário é a celebração de novo contrato de obrigação de pagamento da renda ou aluguer. Em relação à locação em geral, a 33 Para M.C. a interpretação literal do preceito implicaria o pagamento de uma obrigação de pagamento da renda compensação por todas as benfeitorias. Para encontra-se no 1039º ss, sendo essa M.L. a remissão para a posse de boa fé obrigação objeto de regras específicas em implica a sujeição ao respetivo regime, relação às diversas modalidades de estando a expressão «compensação» utilizada em sentido impróprio. arrendamento, referidas no 1075º ss e 7º Apenas no caso de ausência de estipulação, a ss RAR. lei determina que a renda é atualizada Resultando o contrato de locação da anualmente (1077º/2,al.a)), podendo a 1ª autonomia privada das partes, é também atualização ser exigida 1 ano após a vigência em princípio por convenção entre elas do contrato e as seguintes, sucessivamente, 1 que é fixado o montante da renda ou ano após a atualização anterior (1077º/2,al.b)) aluguer, bem como o seu objeto. Há, no → 24º e 25º NRAU. Para efeitos de entanto, algumas restrições legais. atualização, o senhorio deve comunicar, por - Arrendamento urbano escrito e com antecedência mínima de 30 dias, Resultando o contrato de arrendamento o coeficiente de atualização e a nova renda urbano da autonomia privada das partes, dele resultante (1077º/2,c)), tendo essa é também em princípio por convenção comunicação que obedecer ao 9º ss NRAU. entre elas que é fixado o montante da - Arrendamento rural renda. Pode, porém, questionar-se se o O 7º/1 RAR vem estabelecer que a arrendamento se pode considerar renda será sempre estipulada em validamente celebrado, se as partes nada dinheiro, a menos que as partes a fixem estipularam sobre o montante da renda. expressamente em géneros e em dinheiro Para ML, a renda não tem que estar simultaneamente. Art. mencionados: 7º; determinada, no momento da celebração 8º; 9º; 10º; 11º. do contrato, bastando que seja determinável34, sendo aplicável a essa Tempo do cumprimento determinação os critérios do 883º, por Em relação ao tempo do pagamento, a força do art. 939º35. renda nunca constitui uma obrigação pura Em relação ao objeto da renda, o (777º/1), uma vez que sendo uma 1075º/1 determina apenas que ele obrigação periódica, haverá sempre que corresponde a uma prestação pecuniária estipular o momento do seu vencimento, periódica (550º ss), sendo hoje de novo podendo este resultar das disposições admissíveis as cláusulas de pagamento supletivas da lei. Em relação à locação da renda em moeda específica (552º ss) em geral, refere o 1039º/1 que o ou em moeda estrangeira (558º). pagamento deve ser efetuado no último Uma vez fixada a renda, o seu montante dia da vigência do contrato ou do período pode ser objeto de alteração. A 1º sit. em a que respeita, se as partes ou os usos que tal ocorre respeita à atualização da não fixarem outro regime. renda, que se encontra estabelecida no Esta solução não corresponde à que 1077º/1 que remete para a estipulação vigora nas diversas modalidades de das partes a possibilidade de atualização arrendamento, uma vez que neste âmbito da renda e o respetivo regime. É é costume estipular antecipação de renda, perfeitamente admissível a convenção de pelo que no arrendamento urbano a lei rendas escalonadas, em que as partes consagra mesmo supletivamente a regra determinam previamente um incremento da antecipação. A regra do 1075º/2 é do valor da renda, ao longo da vigência supletiva, mas a lei estabelece limites às do contrato. convenções de antecipação, proibindo as partes de estipularem antecipações de 34 Neste sentido, Pinto Loureiro. Em sentido contrário, defendendo a necessidade de renda por período superior a 3 meses fixação da renda aquando da celebração do (1076º/1). Já no âmbito do arrend.rural - contrato, Galvão T. 7º/4 RAR. 35 Pinto Furtado, considerando aplicáveis estes critérios ao contrato de locação, apesar de este não se enquadrar no 939º. Lugar do cumprimento Este encontra-se estabelecido para a pagamento de rendas. Nada impede as locação em geral no 1039º/1, que nos partes de estipular uma cláusula penal refere que esse pagamento deve ser moratória para cobrir o atraso no efetuado no domicílio do locatário à data pagamento das rendas, mesmo em caso do vencimento, se as partes ou os usos de resolução do contrato. não fixarem outro regime. A renda ou E uma vez que o 1042º/2 determina que o aluguer constitui uma obrigação de direito à indemnização ou à resolução do colocação, sendo por esta via derrogado contrato cessa se o locatário fizer cessar o regime geral do 774º que estabelece a mora no prazo de 8 dias após o seu como lugar de cump. das obrigações começo36, existe uma tolerância legal em pecuniárias o domicílio do credor à data relação à mora do arrendatário durante do vencimento. esse prazo, a qual não tem A regra supletiva do 1039º não costuma consequências para ele. ser observada em relação ao A mora acarreta consequências mais arrendamento onde, por força de gravosas para o locatário no âmbito do estipulação ou usos, é comum arrendamento florestal - 13º RAF. estabelecer que o lugar do pagamento seja no domicílio do senhorio ou de Garantias de pagamento procurador por ele designado. Na falta de A obrigação de pagamento da renda conv. ou uso é essa, no entanto, a regra pode, nos termos gerais, ser objeto de que vigora, pelo que, coerentemente, o qualquer garantia que as partes venham a 1039º/2 vem estabelecer que se o estipular para a hipótese de pagamento não tiver sido efetuado, incumprimento pelo locatário. Esta regra presume-se que o locador não veio nem encontra-se expressamente formulada no mandou receber a prest. no dia do seu âmbito do arrend.urbano - 1076º/2 - trata- vencimento. se de uma caução de fonte negocial, pelo A regra do 1039º/1 é excetuada em que o 624º/1 admite que ela seja prestada relação ao arrendamento rural (7º/5 RAR). por qualquer garantia, real ou pessoal. A forma + comum de garantia do Consequências da mora do locatário pagamento das obrigações do O 1041º estabelece um regime arrendatário é a prestação de fiança, com específico para a mora do locatário, renúncia do fiador ao benefício da prevendo que, em lugar dos tradicionais execução. Face à revogação do 655º CC juros moratórios fixados no 806º, o pelo 2º/1 NRAU, deixa de existir qualquer locador tem o direito de exigir, além das presunção de limitação da fiança ao rendas ou alugueres em atraso uma período inicial de duração do indemnização correspondente a 50% do arrendamento, e qualquer limite à que for devido, salvo se o contrato for estipulação das partes relativamente ao resolvido com base na falta de respetivo prazo, na ausência de nova pagamento. O atraso do locatário pode convenção. Assim, se for prestada fiança determinar uma indemnização de 50% em relação ao pagamento da renda, esta das rendas em dívida que apenas não manter-se-á durante todo o período de será devida se o locador resolver o vigência do arrendamento, incluindo as contrato com base na falta de pagamento. suas renovações. Nada obsta que as Neste último caso, a lei considera a partes convencionem que o fiador apenas resolução como sanção suficiente para o se obriga pelo período inicial de duração locatário pelo que não se estabelece juros 36 Nos termos do 297º e 279º,d) esse prazo é de mora suplementares pelo atraso de havido como correspondendo a uma semana. do contrato, excluindo as suas ao RAF, sendo, quando sejam arrendados renovações, ou que a fiança se extinga com outros fins, sujeitos ao regime do logo que ocorra qualquer alteração da arrend.urbano, conjuntamente com o renda. regime geral da locação civil (1108º in fine). Obrigação de facultar ao locador o O NRAU limita-se a distinguir entre o exame da coisa locada arrendamento para fim habitacional e o Encontra-se prevista no 1038º,b): arrendamento para fim não habitacional situação que visa permitir ao locador (1067º/1), regendo-se o 1º controlar o bom estado da coisa, e especificamente pelos arts.1092º ss, e o eventualmente suprir deficiências ou 2º pelo 1108º ss, ainda que neste último exigir responsabilidade pelos danos a caso continue a haver algumas esta causados. Trata-se de um direito que diferenciações de regime entre o tem que ser exercido em termos arrendamento para comércio e indústria e moderados, uma vez que constantes e para o exercício de profissão liberal sucessivos exames da coisa locada (1112º). Caso as partes não estipulem o corresponderiam a uma perturbação do fim do contrato de arrendamento urbano, gozo pelo locatário. Nesse caso, a determina o 1067º/2 que o local exigência do locador será ilegítima, por arrendado pode ser usado no âmbito das abuso de direito (334º), caso em que suas aptidões, tal como resultem da poderá naturalmente o locatário obstar a licença de utilização. Na falta desta, o essa perturbação do gozo. arrendamento vale como habitacional se o local for habitável ou como não Obrigação de não aplicar a coisa a fim habitacional se o não for, salvo se outro diverso daquele a que ela se destina destino lhe tiver vindo a ser dado É normal no contrato de locação a (1067º/3). determinação do fim a que se destina a coisa locada, com base no qual se Obrigação de não fazer da coisa delimitam as possibilidades da sua locada uma utilização imprudente utilização pelo locatário. As partes devem Esta obrigação do locatário vem referida proceder à sua estipulação contratual. Se no 1038º,d) e encontra-se explicitada no não o fizerem, e das respetivas 1043º/1. O dever de não efetuar uma circunstâncias não resultar o fim a que a utilização imprudente corresponde assim coisa locada se destina, estabelece o para o locatário a um dever de 1027º que passa a ser permitido ao manutenção da coisa no mesmo estado locatário aplicá-la a quaisquer fins lícitos, em que foi recebida, uma vez que a dentro da função normal das coisas de locação não deve implicar para o locador igual natureza. qualquer deterioração da coisa. A Especialmente importante se mostra a descrição do estado da coisa ao tempo da determinação do fim nos arrendamentos, entrega deve ser efetuada pelas partes que gera a aplicação de regimes em documento, presumindo o legislador, específicos. na falta desse documento, que a coisa foi Os prédios rústicos podem ser entregue ao locatário em bom estado de arrendados para fins de exploração conservação (1043º/2). Se ocorrer a agrícola ou pecuária, caso em que perda da coisa ou deteriorações desta constituem arrend.rural, sujeito ao RAR, não correspondentes a uma prudente ou para fins de exploração florestal, caso utilização, a lei presume a em que constituem arrend.florestal, sujeito responsabilidade do locatário, podendo, porém, este ilidir a presunção consentimento do senhorio. É o que demonstrando que não resultaram de sucede no arrendamento urbano para fins causa que lhe seja imputável nem a 3º a não habitacionais nos casos de locação quem tenha permitido a utilização da de estabelecimento comercial ou coisa (1044º). industrial (1109º), trespasse do No âmbito dos regimes especiais de estabelecimento comercial ou industrial arrendamento, a lei vem, porém, efetuar (1112º/1,a)) e cessão da posição do alguma concretização e por vezes arrendatário para o exercício de profissão atenuação deste dever que incumbe liberal (1112º/1,b)). Para além disso, no sobre o locatário - 1073º. arrend. para habitação é permitido que habitem com o arrendatário, para além de Obrigação de tolerar as reparações todas as pessoas que com ele vivam em urgentes, bem como quaisquer outras economia comum, um máximo de 3 que sejam ordenadas por autoridade hóspedes, salvo cláusula em contrário pública (1093º). Consequentemente, nestas sit. Efetivamente, pode haver necessidade não se considerará infringida a proibição de reparações urgentes para evitar a do 1038º,f). deterioração da coisa locada, sendo que Ocorrendo o consentimento do locador, por vezes a própria autoridade pública é possível ao arrendatário proceder à impõe essas reparações para evitar cessão do gozo da coisa a 3º. Tratando- maiores riscos. Nestes casos, terá se de arrendamento urbano, o naturalmente o locatário que suportar consentimento do senhorio para essa perturbação no gozo da coisa em subarrendar o prédio deve ser dado por ordem a evitar maiores riscos para o escrito (1088º/1). prédio. O 1049º vem, porém, estabelecer que locador não tem direito à resolução do Obrigação de não proporcionar a contrato com fundamento na violação do outrem o gozo total ou parcial da coisa disposto nas al.f) e g) do 1038º se tiver por meio de cessão onerosa ou reconhecido o beneficiário da cedência gratuita da sua posição j., sublocação como tal, pelo que se o locador vier a ou comodato, exceto se a lei o permitir reconhecer o beneficiário da cedência, ou o locador o autorizar deixa de poder obter a resolução do O contrato de locação é visto em relação contrato com esse fundamento. à pessoa do locatário como um contrato intuitu personae, considerando-se assim Obrigação de comunicar ao locador, que o locador se obriga apenas a dentro de 15 dias, a cedência do gozo proporcionar o gozo da coisa ao locatário da coisa, sempre que esta seja e não a 3º. É, por isso, vedado ao permitida ou autorizada locatário proceder à transmissão do gozo Mesmo quando a lei permite ou o da coisa a 3º, seja qual for o título j. pelo locador autoriza o locatário a ceder o qual essa transmissão se opere, como gozo da coisa a 3º, está o locatário seja a cessão onerosa ou gratuita da sua obrigado a comunicar que efetuou essa posição j., a sublocação ou o comodato. cedência no prazo de 15 dias após a sua Essa proibição só cessa, caso a lei venha verificação (1038º,g)), sem o que a a permitir essa cessão ou o locador a cedência será ineficaz em relação ao venha a autorizar. locador e lhe permitirá resolver o contrato Em certos casos a lei permite a (no arrend.urbano, 1083º/2,e)). transmissão do gozo da coisa a 3º sem Estabelece, no entanto, o 1049º que o compensação adequada para o atraso na locador não tem direito à resolução do restituição da coisa. As partes não contrato com fundamento na violação do estarão impedidas, nos termos do 810º, disposto nas al.f) e g)n se tiver de estabelecer uma cláusula penal para o reconhecido o beneficiário da cedência atraso na restituição de montante superior como tal, ou ainda, no caso da al.g), se a a este, desde que não seja de montante comunicação lhe tiver sido feita por este, manifestamente excessivo (812º). pelo que, se houver reconhecimento do novo locatário ou tiver sido este a cumprir a obrigação de comunicar no prazo de 15 PROIBIÇÕES DA LOCAÇÃO dias a cedência, perderá o senhorio a possibilidade de resolver o contrato. Existe uma única proibição específica de locação, que respeita ao arrendamento de Obrigação de avisar imediatamente o bens do incapaz a favor dos seus pais, locador, sempre que tenha tutor, curador, administrador legal, de conhecimento de vícios na coisa, ou bens ou protutor que exerça as funções saiba que a ameaça algum perigo, ou de tutor. Refere o 1892º que sem que 3ºs se arrogam direitos em relação autorização do M.P. não podem os pais a ela, desde que o facto seja ignorado tomar de arrendamento, ainda que por pelo locador intermédio de hasta pública, dos bens do Trata-se de uma obrigação que é filho sujeito ao poder paternal, exceto nos imposta ao locatário (1038º,h)) em virtude casos de sub-rogação legal, de licitação de lhe ser atribuída a posse da coisa em processo de inventário ou de outorga locada, que lhe implica um dever de em partilha judicialmente autorizada. Esta custódia mínimo da mesma, concretizado proibição abrange o arrendamento na imposição de um aviso ao senhorio celebrado por interposta pessoa o que sempre que o locatário venha a ter ocorrerá nos casos referidos no 579º/2 conhecimento de riscos para a coisa. (1892º/2). A lei não prevê a resolução do contrato No caso de ser celebrado sem como sanção para o incump. desta autorização do M.P., o arrendamento é obrigação, mas estabelece que o senhorio anulável a requerimento do menor, até 1 deixa de responder pelos vícios da coisa ano depois de atingir a maioridade ou ser locada, ao contrário do que normalmente emancipado, ou, se ele entretanto falecer, a lei prevê (1032º), se o locatário não pelos seus herdeiros, excluídos os avisou do defeito o locador, como lhe próprios pais responsáveis, no prazo de 1 competia (1033º,d)). ano a contar da morte do filho (1893º/1). A anulação pode continuar a ser requerida Obrigação de restituir a coisa locada, após este prazo se for demonstrado que findo o contrato só se teve conhecimento do referido Constitui igualmente uma obrigação do arrendamento nos 6 meses anteriores à locatário (1038º,i)), surgindo como proposição da ação (nº2). Enquanto o consequência da natureza temporária da menor não atingir a maioridade ou for locação (1022º). No âmbito do emancipado, pode a ação de anulação arrendamento urbano, essa obrigação ser instaurada pelas pessoas com legitim. encontra-se regulada no 1081º. Segundo para requerer a anulação do poder o 1045º/1 é estabelecida uma paternal…(nº3). indemnização equivalente ao montante da Apesar de não autorizado, o renda devida, que se presume ser a arrendamento pode ser objeto de confirmação pelo tribunal (1894º), caso sobre o bem locado deve dar-se a em que se extinguirá o direito de transmissão da posição de locador para o anulação. novo titular no caso de esse novo direito Já em relação ao tutor o 1937º,b) veda- implicar a exclusividade do gozo sobre a lhe em absoluto a possibilidade de tomar coisa locada (ex: a constituição de um de arrendamento, diretamente ou por usufruto). Mais controversa tem sido a interposta pessoa, ainda que seja em questão da manutenção do direito do hasta púb., bens ou direitos do menor, locatário em caso de venda executiva do exceto nos casos de sub-rogação legal, bem, mas para ML a mesma deverá de licitação em processo de inventário ou igualmente ocorrer, uma vez que o direito de outorga em partilha judicialmente do locatário não se encontra incluído nos autorizada. Isto é extensivo ao curador direitos que caducam com essa venda - por força do 1971º/1 e também parece 824º/2 - bem como na alienação em dever sê-lo em relação ao protutor. processo de insolvência - 109º CIRE. Caso o arrendamento venha a ser Relativamente ao objeto da transmissão, celebrado a favor de qualquer destas salvo acordo em contrário, apenas se pessoas, o negócio será nulo, ainda que transmitirão para o adquirente os direitos se trate de uma nulidade sujeita a regime e obrigações do locador respeitantes à especial. É sanável mediante confirmação execução futura do contrato, do pupilo, depois da cessação da permanecendo na esfera do anterior incapacidade, mas somente enquanto não locador os direitos e obrigações for declarada por sentença transitada em respeitantes ao período locativo anterior à julgado (1939º). transmissão. A menos que ocorra simultaneamente uma cessão de créditos VICISSITUDES DO CONTRATO DE a rendas vencidas não poderá o novo LOCAÇÃO locador reclamar o pagamento de rendas respeitantes a períodos de tempo TRANSMISSÃO DA POSIÇÃO anteriores à transmissão, nem requerer a CONTRATUAL DO LOCADOR resolução do contrato com este O princípio do 1057º é que o locatário fundamento. O 1058º vem estabeler a pode sempre opor o seu direito em inoponibilidade da liberação ou cessão de relação a qualquer adquirente do direito rendas ou de alugueres não vencidos ao com base no qual foi celebrado o sucessor entre vivos do locador, na contrato, sujeitando-o a continuar com ele medida em que tais rendas ou alugueres o contrato de locação, mesmo que o respeitem a períodos de tempo não adquirente desconhecesse totalmente a decorridos à data da sucessão. existência desse contrato no momento que adquiriu o bem37. SUCESSÃO NA POSIÇÃO DE Pressuposto de aplicação do 1057º é LOCADOR apenas a aquisição do direito com base Dado que o contrato de locação não é no qual foi celebrado o contrato, considerado como intuitu personae em independentemente da forma como essa relação ao locador, verifica-se em caso de transmissão se opere, seja por ato entre morte deste a sucessão dos seus vivos, seja mortis causa. Também no herdeiros na relação de arrendamento caso de constituição de um novo direito (2024º).
37 Caberá, nessa hipótese, ao adquirente a TRANSMISSÃO DA POSIÇÃO
aplicação do regime da venda de bens onerados (905º ss). CONTRATUAL DO LOCATÁRIO sob pena de nulidade (1112º/3), e Nos termos do 1059º/2, remete-se depende do consentimento do outro integralmente para o regime geral da cônjuge, salvo se o regime do casamento cessão da posição contratual, o que for o da sep.de bens (1682º-A/1,b)). implica que esta só possa ser O trespasse por venda ou dação em normalmente realizada com o cump. do estabelecimento com. atribui ao consentimento do senhorio (424º), senhorio direito de preferência, mas as podendo este resolver o contrato se a partes podem excluí-lo por convenção cessão for efetuada sem o seu (1112º/4). consentimento (1083º/2,e)). Caso o Mesmo que permitida por lei, a arrendamento tenha por objeto a casa da transm.da posição de arrendatário deve morada de família, a cessão da posição ser comunicada ao senhorio no prazo de contratual do arrendatário depende ainda 15 dias (1038º,g) e 1112º/3, in fine)38, sem do consentimento do seu cônjuge (1682º- o que essa transm. será ineficaz em B,c)). relação ao senhorio, podendo este Admite-se na lei casos em que a resolver o contrato (1083º/2,e)), a menos transmissão da posição contratual do que tenha reconhecido o beneficiário da arrendatário não depende do cedência como tal ou que a comunicação consentimento do senhorio. lhe tenha sido efetuada por este (1049º). No âmbito do arrend.urbano para Apenas no caso previsto no 1105º se habitação ocorre 1 dessas sit., como no estabelece que a notificação deve ser 1105º/1, onde se refere que, incidindo o efetuada oficiosamente ao senhorio pelo arrend.sobre casa de morada de família juiz ou conservador do registo c. os cônjuges podem em caso de divórcio (1105º/3), pelo que a sua omissão não ou de sep.judicial de pessoas e bens terá quaisquer consequências para o decidir o seu destino, podendo optar pela arrendatário. transmissão do arrendamento ou pela sua concentração a favor de 1 deles. Na falta SUCESSÃO NA POSIÇÃO DO de acordo, admite-se que o tribunal possa LOCATÁRIO determinar essa transm.ou concentração, tendo em conta a necessidade de cada Ao contrário do que sucede em relação um, os interesses dos filhos e outros ao locador, a locação é qualificada como fatores relevantes (1105º/2). Esse regime um contrato intuitu personae em relação aplica-se igualmente em caso de ao locatário, pelo que habitualmente separação dos membros da união de caduca por morte deste ou, tratando-se facto (60º/2 NRAU). de uma pessoa coletiva, pela extinção No âmbito do arrend.para fim não desta (1051º,d)). Admite-se, porém, habitacional é igualmente permitida a convenção em contrário, pelo que as transm.da posição contratual do partes poderão afastar esse cariz, arrendatário, sem consentimento do estabelecendo a transm. por morte do senhorio, no caso de trespasse de direito do locatário. estabelecimento comercial ou industrial (1112º/1,a)), ou de cessão do arrend.para 38 Em sentido contrário, sustenta Gravato Morais que o prazo de comunicação do o exercício de profissão liberal a pessoa trespasse será de 1 mês por aplicação que no prédio arrendado continue a analógica do 1109º/2, relativo à locação de exercer a mesma prof.lib., ou a sociedade estabelecimento. Para ML trata-se de prof.de objeto equivalente (1112º/1,b)). A realidades distintas e que o CC impõe que sempre que a lei não preveja prazo diferente, transm. deve ser celebrada por escrito, se aplique o praxo geral de 15 dias (1038º,g)). O cariz intuitu p. é, no entanto, objeto de A transm. ou a concentração do arrend. alguma atenuação no âmbito do por morte do arrendatário deve ser arrendamento urbano onde atualmente comunicada ao senhorio, com cópia dos ocorre uma comunicação do direito em doc.comprovativos, no prazo de 3 meses relação ao respetivo cônjuge, nos termos a contar da ocorrência (1107º/1), devendo gerais e de acordo com o regime de bens a comunicação obedecer aos formalismos vigente (1068º). Da mesma forma, são do 9º ss NRAU. A inobservância deste previstas algumas hipóteses de prazo não prejudica a transm. do contrato, transmissão por morte do direito do mas obriga o transmissário a indemnizar arrendatário. por todos os danos resultantes da A 1ª sit. de transmissão ocorre por morte omissão (1107º/2). da posição de arrendatário ocorre no Há menos condicionalismos à transm.do arrend.urbano para habitação, onde o arrend.urbano para comércio e indústria - 1106º/1 estabelece que este não caduca 1113º/1. Parece que se exige igualmente por morte do arrendatário quando lhe que a transm. seja comunicada, sob pena sobreviva: cônjuge com residência no de responsabilização do transmissário locado ou pessoa que com o arrendatário pelos danos resultantes da omissão. tivesse no locado em união de facto há + de 1 ano; pessoa que com ele residisse SUBLOCAÇÃO em economia comum há + de 1 ano. Do 1106º/2 resulta que a ordem da Uma outra vicissitude do contrato de transm. abrange, em 1º lugar, o cônjuge locação consiste na sublocação regulada sobrevivo ou pessoa que com o falecido genericamente quanto à locação no 1060º vivesse em união de f.. Em 2º lugar, surge ss e depois quanto às diversas o parente ou afim + próximo, preferindo, modalidades de arrend. de entre esses, em igualdade de A sublocação consiste num subcontrato, circunstâncias, o + velho. Na falta de já que, tendo por base um anterior parentes ou afins são chamadas as contrato de locação em que é locatário, o pessoas que viviam em economia comum sublocador celebra um novo contrato de com o arrendatário, preferindo a + velha. locação com pessoas diferente (o Atualmente deixou de limitar a 1 sublocatário), contrato esse que se transm.por morte do arrend.para sobrepõe ao anterior, mas que dele fica habitação, podendo esta ocorrer dependente e portanto a ele se subordina. sucessivamente, caso exista alguém em A sublocação pode ser total ou parcial, condições de lhe suceder - 1106º. consoante o sublocador conceda ao Atualmente, no entanto, a transm.por sublocatário todo o gozo do bem locado morte do arrendamento não afeta a ou apenas uma parte dele. duração normal do contrato, pelo que se Uma vez que é obrigação do locatário este for celebrado por prazo certo, a não proporcionar o gozo da coisa a 3º, transmissão por morte não impede a naturalmente que a sublocação denúncia pelo senhorio - 1097º. No pressupõe o consentimento do senhorio, entanto, se a morte do arrendatário tiver sendo proibida sem esse consentimento ocorrido nos 6 meses anteriores à data da (1038º,f) e 1088º; 13º RAR). Nos termos cessação do contrato, esta dá ao do 1088º a autorização para subarrendar transmissário o direito de permanecer no o prédio deve ser dada por escrito. local por período não inferior a + meses a Mesmo ocorrendo autorização para a contar do decesso (1106º/3). sublocação deve a mesma ser comunicada ao senhorio no prazo de 15 dias após a sua verificação (1038º,g)). estabelecer que o subarrend.caduca com Dispensa-se quer a autorização quer a a extinção do contrato de arrend… comunicação se o locador reconhecer o sublocatário como tal (1049º,1061º e 1088º/2 RAU). Apenas após a O REGIME DAS PERTURBAÇÕES DA comunicação ou o reconhecimento do PRESTAÇÃO NO CONTRATO DE sublocatário pelo locador é que a LOCAÇÃO sublocação se considera eficaz em relação ao locador (1060º). Não sendo Vícios da coisa locada eficaz, a sua realização dá-lhe o direito a A existência de vícios na coisa locada resolver o contrato (1083º/2,e)). corresponde a uma perturbação da Sendo a sublocação uma relação prestação no contrato de locação, dado locatícia como qualquer outra, é-lhe que o locador é obrigado a assegurar ao aplicável o regime da locação. Há, porém, locatário o gozo da coisa para os fins a algumas especialidades a considerar. Em que esta se destina (1031º,b)). 1º lugar, e para evitar a especulação, o Coerentemente com este enquadramento, legislador vem colocar um limite à renda o 1032º vem estabelecere que, quando a que pode ser cobrada di sublocatário, coisa locada padecer de vício que não lhe estabelecendo que esta não deve ser permita realizar cabalmente o fim a que é «superior ou proporcionalmente superior destinada, ou carecer das qualidades ao que é devido pelo contrato de locação, necessárias a esse fim ou asseguradas aumentado de 20%, salvo se outra coisa pelo locador, considera-se o contrato não tiver sido convencionada» (1062º. Por cumprido, desque que ocorra uma das outro lado, a lei admite que o locador seguintes sit.: o defeito datar, pelo menos possa exigir diretamente do sublocatário a do momento da entrega e o locador não prestação que lhe é devida, se tanto o provar que o desconhecia sem culpa; o locatário como o sublocatário estiverem defeito surgir posteriormente à entrega, em mora quanto às respetivas prestações por culpa do locador. de renda ou aluguer (1063º)39. No âmbito A lei distingue entre vícios e falta de do arrend.urbano, admite-se mesmo no qualidades. A expressão «vícios», tendo caso de subarrendamento total, que o um conteúdo pejorativo, abrangerá as senhorio se possa fazer substituir ao características da coisa que levam a que arrendatário, mediante notificação judicial, esta seja valorada negativamente, considerando-se resolvido o 1º arredam. e enquanto que a «falta de qualidades», passando o subarrendatário a embora não implicando a valoração arrendatário direto (1090º/1). Da mesma negativa da coisa, a coloca em forma se o senhorio receber alguma desconformidade com o contrato. Há renda do subarrendatário e lhe passar assim vício sempre que a coisa apresente recibo após a extinção do arrendamento, objetivamente imperfeições, as quais que será o subarrendatário havido como têm que ser suficientemente graves para arrendatário direto (1090º/2). A impedir o fim a que a coisa é destinada, o sublocação depende da manutenção do qual é estipulado pelas partes ou resulta contrato de locação, pelo que, no âmbito das normas supletivas legais. Há, pelo do arrend.urbano, o 1089º vem contrário, falta de qualidades sempre que a coisa, não sendo objetivamente defeituosa, não tenha a idoneidade 39 Para ML não se trata da mera aplicação da necessária para realizar o fim pretendido ação sub-rogatória, referida no 606º, sendo antes uma hipótese de ação direta. pelas partes ou não tenha as características que foram asseguradas convencionarem o arrendamento de pelo locador. prédios «no estado em que se Para desencadearem a responsabilidade encontram», o que implica ser assumido do locador, o vício ou a falta de inicialmente que o prédio não está em qualidades têm que resultar de culpa sua condições de servir para o fim a que é (798º), a qual se presume nos termos destinado, implicando consequentemente gerais (799º). A lei distingue as sit. de que o locatário fará à sua conta as defeitos datados do momento da entrega, reparações e melhoramentos necessários em relação aos quais compete ao locador para lhe permitir a utilização da coisa provar que os desconhecia sem culpa locada41. (1032º,a)), dos defeitos surgidos Também se considera que o locador não posteriormente à entrega por culpa do deve responder por defeitos facilmente locador (1032º,b)). Estes últimos são de reconhecíveis, dado que cabe ao locatário verificação rara, pelo que se compreende o ónus de verificar o estado da coisa, que seja o locatário a ter de demonstrar salvo se o locador assegurar a que o locador teve culpa na sua inexistência de defeitos ou usado de dolo verificação. Não sendo estabelecida a para os ocultar, uma vez que nesse caso culpa do locador em relação aos defeitos ele tem uma respons.específica pelo facto da coisa, não será da sua de o locatário ter aceite celebrar o responsabilidade a violação da obrigação contrato nessas condições. do 1031º,b), pelo que o locatário nada + A respons.do locador também não se poderá exigir ao locador40. verifica se o defeito for da respons.do Para além disso, o 1033º estabelece que locatário, dado que nesse caso é o o locador deixa de responder pelos locatário que coloca a coisa com vícios ou defeitos da coisa nas seguintes sit.: se o sem as qualidades necessárias à locatário conhecia o defeito quando realização do fim do contrato, pelo que celebrou o contrato ou recebeu a coisa; deve, por sua conta, repor o bem em se o defeito já existia ao tempo da condições de satisfazer o fim contratual. celebração do contrato e era facilmente Finalmente, a respons.cessa se o reconhecível, a não ser que o locador locatário não avisou do defeito o locador, tenha assegurado a sua inexistência ou como lhe competia. Estando o locatário usado de dolo para o ocultar; se o defeito obrigado a avisar imediatamente o for da responsabilidade do locatário; se locador, sempre que tenha conhecimento este não avisou do defeito o locador, de vícios na coisa (1038º,h), compreende- como lhe cumpria. se que o incump.deste dever seja O conhecimento dos defeitos pelo sancionado com a irrespons.do locador locatário leva ao afastamento da por esses defeitos. respons.do locador, uma vez que nesses O 1035º estabelece que o regime das casos, o locatário aceita conscientemente perturbações da prestação no contrato de celebrar o contrato de locação nessas locação não obsta à anulação desse condições. É, aliás, frequente as partes contrato por erro ou dolo, nos termos gerais. Ao contrário do que sucede na 40 Em sentido contrário Pires L./Antunes V, venda de coisas defeituosas, em que a que sustentam que a demonstração de que o devedor desconhecia sem culpa os defeitos anteriores ou que o defeito posterior não se 41 Tem-se entendido que, caso essa cláusula deve a culpa do locador não isenta este do seja convencionada, o locatário não adquire cump. da obrigação do 1031º,b), pelo que o direito ao reembolso das despesas efetuadas, locatário poderá exigir-lhe que repare os uma vez que elas são compensadas pelo defeitos, sob pena de responder por incump. baixo valor estipulado para a renda, Cunha G. existência de defeitos na coisa é locador, mas a sit.já não é de invalidade, primordialmente enquadrado no regime mas antes de incump. do contrato. do erro ou do dolo (913º e 905º), em O 1035º admite que o locatário possa relação à locação esses defeitos são também nestes casos proceder à enquadráveis no regime do incump.,o que anulação do contrato por erro ou dolo, nos é explicável em função da qualificação termos gerais. como pessoal do direito do locatário. Não há obstáculos a que o locatário proceda à O REGIME ESPECÍFICO DA LOCAÇÃO anulação do contrato por erro ou dolo, DE BENS DE CONSUMO caso estejam verificados os respetivos pressupostos, que são em relação ao erro O 1º/2 do DL 67/2003 vem determinar a sua essencialidade e cognoscibilidade que o regime das garantias nas vendas para o declaratário (251º e 247º) e quanto de bens de consumo é ainda aplicável à ao dolo a essencialidade e intenção ou locação de bens de consumo. Estando consciência de induzir ou manter em erro em causa uma locação de bens de o declaratário (253º). consumo, o regime do 1032º ss é substituído pela aplicação com as Ilegitimidade do locador ou necessárias adaptações do regime do DL. deficiência do seu direito O locador tem o dever de que o bem dado O 1034º acrescenta que são aplicáveis em locação seja conforme com o contrato as disposições relativas aos vícios da (2º/1), o que se presumirá não se verificar coisa locada a sit.correspondentes à sempre que ocorra algum dos factos ilegitimidade do locador ou deficiência do negativos referidos no 2º/2. Caso se seu direito, como nas hipóteses de o verifique essa não conformidade com o locador não ter a faculdade de contrato, o locatário tem direito a que a proporcionar a outrem o gozo da coisa conformidade seja reposta sem encargos, locada (1034º,a)): o seu direito não ser de por meio de reparação ou de substituição, propriedade ou estar sujeito a alguns a uma redução adequada da renda ou à ónus ou limitações que excedam os resolução do contrato (4º). limites normais inerentes a este direito EXTINÇÃO DO CONTRATO DE (1034º,b); ou o direito não possuir os LOCAÇÃO atributos que o locador assegurou ou estes atributos cessarem posteriormente O contrato de locação por culpa dele (1034º,c), ainda que está sujeito às causas gerais de extinção qualquer destas sit. só se considere falta dos contrato, abrangendo assim tanto a de cump. do contrato quando determinar revogação, como a resolução, a a privação, definitiva ou temporária, do caducidade, a denúncia ou a oposição à gozo da coisa por parte do locatário renovação (para o arrend.urbano o (1034º/2). 1079º). O regime da cessação do contrato Ao contrário do que sucede com a venda de arrendamento tem natureza injuntiva, o de bens alheios, que é nula (892º), a que se compreende, face à importância locação de bens alheios é considerada dos interesses em jogo (1080º). válida, solução compreensível perante um contrato que não é translativo de direitos, REVOGAÇÃO mas antes constitutivo de obrigações. A 1ª forma de extinção do contrato de Apenas quando o locatário é privado do locação corresponde à revogação, gozo da coisa é que pode reagir perante o situação em que as partes põem termo ao contrato celebrando um contrato extintivo, o que é admissível nos termos gerais por resolução, o incump. das obrigações da mútuo consenso, ao abrigo da autonomia contraparte (1083º/1), que, pela sua privada (406º/1). Em consequência, no gravidade e consequências, torne âmbito do arrend.urbano vem prever-se inexigível à outra parte a manutenção do que «as partes podem, a todo o tempo, arrend. (1083º/2). revogar o contrato, mediante acordo a Em relação ao senhorio, a lei indica a tanto dirigido» (1082º/1). Nos termos do título exemplificativo alguns fundamentos 1082º/2 a revogação do arrendamento de resolução do arrend.urbano: 1083º/3 e urbano está sujeita à forma escrita, 1048º; 1083º/3 e 1084º/4; 1083º/2,a); sempre que o acordo não seja 1083º/2,b), c), d), e), f) e g) e 1049º. imediatamente executado ou contenha Atendendo ao caráter exemplificativo cláusulas compensatórias (como o dos atuais fundamentos de resolução do pagamento ao arrendatário de uma arrend.urbano é manifesto que se quantia como contrapartida da cessação poderão enquadrar aqui outros casos de do arrend.) ou quaisquer outras cláusulas incump. pelo arrendatário, como a acessórias. Sendo o acordo realização de deteriorações e obras no imediatamente excecutavo (denominada imóvel, a violação dos limites legais ou revogação real do arrend.) nem sequer contratuais relativos a hóspedes e a exige qualquer forma. cobrança ao subarrendatário de renda superior à permitida. RESOLUÇÃO No âmbito do arrend.urbano, a resolução Resolução pelo locador do contrato tem que ser exercida no prazo O locador pode resolver o contrato com de 1 ano, a contar do conhecimento do fundamento no incump. das obrigações facto que lhe serve de fundamento, sob do locatário (801º), mas essa resolução é pena de caducidade. Tratando-se, no sujeita a certos condicionamentos. Não é entanto, de facto continuado ou todo e qualquer incump. das obrig. do duradouro, esse prazo conta-se a partir locatário que fundamenta a resolução, da data em que o facto tiver cessado exigindo-se cum incump. especialmente (1085º). grave, que no âmbito do arrend.urbano é inclusivamente objeto de uma tipificação Resolução pelo locatário exemplificativa de fundamentos (1083º/2 Ao contrário do que se prevê em relação ao e 3), a qual assume o mesmo caráter locador, em que o vinculismo vigente no taxativo no arrend.rural (21º RAR). Para arrend. determina a tipificação das causas de além disso, embora a resolução do resolução, em relação ao locatário não se contrato de locação possa ser feita tanto prevê qualquer tipificação semelhante, sendo judicial como extrajudicialmente (1047º), esta genericamente admissível nos casos de no âmbito do arrend.na maior parte das incumprimento da obrigação ou cump. vezes a lei exige o recurso à via judicial defeituoso (801º/2 e no âmbito do para promover essa resolução, através da arrend.urbano, 1083º/2). Coerentemente com denominada ação de despejo (1084º/2, esta formulação → 1050º42. No âmbito do 14º NRAU). Uma vez que se trata de um arrend.urbano, são igualmente referidos contrato de execução continuada, a casos específicos de resolução pelo resolução não opera retroativamente, pel que não obriga a restituir as prestações já 42 Romano M., pretende não estar aqui em realizadas (434º/2 RAU). causa uma verdadeira resolução, dado que No âmbito do arrend.urbano encontra-se não pressupõe a culpa do locador. Para ML, a culpa não é pressuposto da resolução, mas previsto, como fundamento genérico de apenas da indemnização. arrendatário no 1083º/4 e 5º/7 DL propriedade se consolidar na sua mão; b) 160/2006. o usufrutuário alienar o seu direito ou A resolução do locatário opera por renunciar a ele, casos em que o contrato declaração à outra parte, nos termos só caduca pelo termo normal do usufruto; gerais (436º/1 e 1084/1), a qual, no c) se for celebrado pelo cônjuge arrend.urbano, tem que obedecer aos administrador. Arrend.rural: 22º/2 RAR. formalismos do 9º ss NRAU. A 4ª causa é a morte do locatário ou, tratando-se de pessoa coletiva, a extinção CADUCIDADE desta, salvo convenção escrita em A caducidade consiste na extinção do contrário (1051º/1,d)). Há, porém, casos contrato em virtude da verificação de um em que a lei admite a transmissão por facto j. stricto sensu. No âmbito do morte do arrendamento (1106º e 1113º, contrato de locação as causas de 23º RAR). Relativamente à morte do caducidade encontram-se tipificadas no senhorio, esta não é normalmente 1051º. considerada causa de caducidade do A 1ª causa de caducidade é o decurso contrato (1057º, 22º/1 RAR e 19º/1 RAF). do prazo estipulado ou estabelecido por A 5ª causa de caducidade é a perda da lei (1051º/1,a)). Esta causa pressupõe coisa locada (1051º/1,e)). Neste caso, que não se tenha verificado a renovação dado que o contrato de locação fica sem do contrato, a qual é a regra no âmbito do objeto, ocorrerá a sua extinção por arrendamento (1054º). caducidade. A 2ª causa é ter-se verificado a condição Ocorre a caducidade no caso de a que as partes subordinaram o contrato, expropriação por utilidade pública, a não ou tornando-se certo que não pode ser que a expropriação se compadeça verificar-se, conforme a condição seja com a subsistência do contrato resolutiva ou suspensiva (1051º/1,b)). A (1051º/1,f)). verificação da condição resolutiva ou a Finalmente, ocorre a caducidade do certeza da não verificação da condição contrato de arrendamento caso se suspensiva levarão, nos termos do 270º verifique a cessação pelo arrendatário dos ss à extinção do contrato. A posição de serviços que determinaram que a coisa uma condição resolutiva aos contratos de locada lhe fosse entregue (1051º/1,g). arrendamento sofre, porém, alguma limitação, dado que a mesma não poderá Eventual renovação do contrato e ser usada para defraudar os fundamentos direito de preferência no futuro de resolução do contrato, atenta a arrendamento do prédio ou direito a natureza imperativa dos mesmos (1080º), novo arrendamento sendo mesmo as condições resolutivas A caducidade do arrendamento pode, no expressamente consideradas nulas no entanto, vir a ser sanada - 1056º. A arrendamento rural (4º,f) RAR). permanência pelo arrendatário do gozo da A 3ª causa é ter cessado o direito ou coisa, pelo prazo de 1 ano, sem oposição findarem os poderes de administração do senhorio, funciona como uma causa de com base nos quais o contrato foi renovação do contrato, mesmo após a celebrado (1051º/1,c)). A operatividade verificação da sua extinção, desta causa de caducidade é objeto de correspondendo a uma autêntica sanação alguma restrição pelo 1052º, que da caducidade. Parece, no entanto, que o estabelece que essa caducidade não âmbito desta norma é restrito às ocorrerá no caso de: a) o contrato ser hipóteses referidas nas al.a), b) e g) do celebrado pelo usufrutuário e a 1051º/1, há que não se pode aplicar nem à perda da coisa locada (1051º/1,e)), por Estabelece o 1054 genericamente a incompatível com a permanência do gozo matéria relativa à renovação. Nos termos pelo arrendatário, nem à expropriação por do 1055º, a denúncia tem que ser utilidade pública (1051º/1,f)), sob pena de comunicada ao outro contraente com a se pôr em causa a aplicação desta. Por antecedência mínima: a) 6 meses, se…; outro lado, uma vez que a lei exige que a b) 60 dias, se…; c) 30 dias, quando…; d) permanência do gozo seja do arrendatário ⅓ do prazo, quando… e que não haja oposição do senhorio (1056º), naturalmente que também esta Denúncia e oposição à renovação renovação não se aplicará em caso de pelo locador morte do arrendatário ou da sua extinção, - O regime do arrendamento urbano sendo pessoa coletiva (1051º/1,d)), onde Estas disposições relativas à locação em quem poderá gozar já não é o geral vêm a ser, porém, afastadas no arrendatário, nem de cessação do direito âmbito do arrend.urbano, onde ou dos poderes legais de administração atualmente a lei distingue entre os com base nos quais o contrato foi arrend.com prazo certo (1095º ss) e com celebrado (1051º/1,c)), onde a não duração indeterminada (1099º ss), sendo oposição do senhorio não tem qualquer aplicáveis aos primeiros normalmente a relevância, atento o facto de o direito ou oposição à renovação e aos segundos a os poderes que tinha terem cessado43 denúncia. Supletivamente, no arrend.para DENÚNCIA E OPOSIÇÃO À habitação, se as partes nada RENOVAÇÃO convencionarem, o contrato tem-se por celebrado com duração indeterminada Constituem igualmente formas de (1094º/3). Já no arrend.para fins não extinção do contrato de locação a habitacionais, em caso de ausência de denúncia e a oposição à renovação. Estas estipulação, considera-se o 2 figuras distinguem-se porque na 1ª, arrend.celebrado com prazo certo, pelo aplicável aos contratos de duração período de 10 anos (1110º/2). indeterminada, a declaração do senhorio - Os contratos com duração a pôr termo ao contrato pode ocorrer em indeterminada qualquer altura, enquanto na 2ª aplicável O arrend. com duração indeterminada aos contratos em relação aos quais tenha aproxima-se do regime tradicional dos sido estipulado um prazo renovável, arrend. vinculísticos, uma vez que, apenas pode ocorrer no fim desse prazo, enquanto admite amplamente a denúncia impedindo que o contrato se renove por pelo arrendatário, obrigando apenas a períodos subsequentes. uma antecedência mínima de 120 dias Uma vez que o contrato de locação é (1100º), restringe consideravelmente a sujeito a um prazo supletivo, mesmo que faculdade de denúncia do senhorio, as partes não o determinem (1026º), o continuando a limitá-la às hipóteses processo de extinção da relação locatícia tradicionais da da denúncia para para o futuro constitui normalmente um habitação (1101º,a)) e para a realização caso de oposição à renovação. de obra ou restauro profundos (1101º,b)), a que agora se acrescenta um novo 43 Em sentido contrário Romano M., parece fundamento: a comunicação ao admitir que nestes casos a renovação prevista arrendatário com antecedência não no 1056º, se opere mediante uma transmissão inferior a 5 anos sobre a data em que da posição contratual, que ML não vê estar em lugar algum consagrada. pretenda a cessação (1101,c)). É de referir o 1103º/7, regime que naturalmente O outro fundamento de denúncia pelo apenas parece aplicável à denúncia pelo senhorio (1101º,b)) é a demolição ou senhorio. realização de obra de remodelação ou O 1º fundamento de denúncia pelo restauro profundos. senhorio consiste na necessidade de O 1103º/3 determina que a denúncia habitação pelo próprio ou pelos seus com este fundamento obriga o senhorio, descendentes em 1º grau (1101º,a)). mediante acordo e em alternativa: Relativamente à denúncia para habitação a) Ao pagamento de todas as própria do senhorio, esta depende, para despesas e danos suportados pelo além do pagamento ao arrendatário do arrendatário, não podendo o valor montante equivalente a 1 ano de renda, da indemn.ser inferior ao de 2 de o senhorio «ser proprietário, anos de renda; comproprietário ou usufrutuário do prédio b) A garantir o realojamento do há + de 5 anos, ou, independentemente arrendatário no mesmo conselho, deste prazo, se o tiver adquirido por em condições análogas às que sucessão» (1102º/1,a)); e de «não ter, há este já detinha; + de 1 ano, ...» (al.b). Relativamente à c) A assegurar o realojamento denúncia para habitação dos temporário do arrendatário no descendentes, esta depende de mesmo conselho com vista a igualmente o senhorio possuir o mesmo permitir a reocupação do prédio, tempo de titularidade dos direitos acima em condições análogas às que referidos, salvo se tiver adquirido o prédio este já detinha. por sucessão, e da mesma ausência de casa que satisfaça as necessidades de Em bom rigor, ocorrendo a denúncia habitação, que neste caso é relativa antes com este fundamento, a alternativa ao descendente (1102º/3). Apesar de a coloca-se apenas entre as al.a) e b) do redação da lei não o sugerir, é manifesto 1103º, uma vez que a obrigação referida que a denúncia para habitação dos na al.c) relaciona-se antes com a descendentes obriga da mesma forma ao suspensão do contrato de arrendamento, pagamento do montante equivalente a 1 prevista no 5º e 9º RJOPA. A lei esclarece ano de renda ao arrendatário. Em que na falta de acordo prevalece a qualquer dos casos a indemnização solução prevista na al.a) do 1103º/4. devida pela denúncia deve ser paga no A denúncia com este fundamento é mês seguinte ao trânsito em julgado da objeto de legislação especial (1103º/8) - decisão que a determine (1103º/5). 5º ss RJOPA. A denúncia para habitação obriga ainda A lei atual institui um novo fundamento o senhorio a dar ao local a utilização de denúncia dos contratos de duração invocada no prazo de 6 meses e por um indeterminada pelo senhorio, consistente período mínimo de 3 anos (1103º/2). O na comunicação ao arrendatário com incump.desta obrigação, salvo caso de antecedência não inferior a 5 anos sobre forma maior torna o senhorio responsável a data em que pretenda a cessação por todas as despesas e demais danos, (1101º,c)). Para ML 5 anos é um prazo de patrimoniais e não patrimoniais, pré-aviso muito longo. Essa denúncia, nos ocasionados ao arrendatário, não termos do 1104º tem que ser confirmada podendo o valor da indemn.ser inferior ao pelo senhorio entre 15 a 12 meses antes de 2 anos de renda, e confere ao da cessação do contrato, sob pena de arrendatário o direito à reocupação do ineficácia, o que leva a que o próprio prédio (1103º/6). legislador considere que uma denúncia do contrato com uma antecedência de 5 Já no âmbito do arrend.não habitacional anos não é para levar a sério. o 1110º/1 coloca a fixação do prazo, A denúncia pelo senhorio baseada nos denúncia e oposição à renovação na fundamentos referidos no 1101º,al.a) e b) estipulação das partes, acrescentando o pressupõe a interposição por este de uma nº2 que «na falta de estipulação, o ação de despejo (1103º/1 e 16º ss contrato considera-se celebrado com NRAU). Já a denúncia pelo senhorio prazo certo, pelo período de 10 anos, não baseada no fundamento referido no podendo o arrendatário denunciá-lo com 1101º,c), bem como a denúncia pelo antecedência inferior a 1 ano». arrendatário (1100º) apenas exigem uma comunicação à outra parte, com a antecedência legalmente exigível, sendo respeitados os formalismos do 9º ss NRAU.
- Os contratos com prazo certo
No âmbito dos arrend.com prazo certo o 1095º/1 obriga a que o prazo conste de cláusula inserida no contrato, acrescentando o nº2, que esse prazo tem o limite mínimo de 5 e máximo de 30 anos, sendo reduzido para esses limites quando os ultrapasse (1095º/2). O limite mínimo não é, no entanto, aplicável aos contratos para habitação não permanente ou para fins especiais transitórios, designadamente por motivos profissionais, de educação e formação ou turísticos, neles exarados (nº3), os quais também não são sujeitos à renovação automática (1096º/1). Com exceção desse caso particular, os contratos com prazo certo são sujeitos a uma renovação automática (1096º/1), por períodos mínimos sucessivos de 3 anos, se outros não estiverem contratualmente previstos, sendo que qualquer das partes se pode opor à renovação (1096º/2), com a antecedência mínima de 1 ano para o senhorio (1097º) e 120 dias para o arrendatário, que passa a poder realizar a sua denúncia a todo o tempo após 6 meses de duração efetiva do contrato (1098º/2), sendo que em caso de inobservância do prazo, é obrigado a pagar as rendas correspondentes ao período de pré-aviso em falta (1098º/3).