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DIREITO CIVIL III

CONTRATOS

Prof. Sarah Jamel Matrak

1. CONTRATO DE COMPRA E VENDA

1.1. Conceito

Contrato de compra e venda é o contrato pelo qual o vendedor se obriga a


entregar um bem corpóreo ou incorpóreo, e o comprador compromete-se a pagar o
preço em dinheiro ou valor fiduciário correspondente (título de crédito).

Negócio Jurídico em que se pretende a aquisição de determinada coisa,


mediante pagamento do preço. (Pablo Stolze)

Contrato Bilateral pelo qual umas das partes (vendedor) se obriga a transferir o
domínio de uma coisa à outra ( comprador), mediante contraprestação de certo preço
em dinheiro. (Carlos Roberto Gonçalves).

1.2 Partes

Vendedor : se obriga a transferir o domínio


Comprador: se obriga ao pagamento do preço

1.3 Características do Contrato de Compra e Venda

1.3.1Bilateral: gera obrigação para ambos os contratantes. Sinalagmático: o


preço é devido porque a coisa é devida. Mútua Dependência de Obrigações. No
autocontrato não perde a característica da bilateralidade.

1.3.2Oneroso: os contraentes auferem vantagem que corresponde a um


sacrifício, existindo equilíbrio econômico; implica em ganho e diminuição
patrimonial. Vendedor: ganha o preço e perde a coisa, já o comprador: ganha a
coisa e perde o preço. (obs: nestes o vendedor responde pela evicção e pelos
vícios redibitórios, se o defeito for conjunto, não implica devolução de todas as
coisas (art. 503 CC), salvo se integrante. Ex: brincos, par de sapatos).

1.3.3Consensual: a manifestação de vontade torna perfeito o contrato,


independe da tradição (artigo 482 do Código Civil);
Informal: não exige forma predeterminada, salvo se o bem for imóvel;

1.3.4Comutativo e aleatório: em princípio é comutativo (prestações certas)–


pode-se antever as obrigações das partes; no entanto, será aleatório na
incidência dos artigos 458 a 461 do Código Civil.

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Contrato aleatório, como o próprio nome explica, é aquele que possui uma álea
(risco, sorte) que torna impossível a previsão da prestação de uma ou das duas partes.
Há dois tipos de álea no contrato de compra e venda (art 483 c/c 484 CC c/c 35 do
CDC).

a) Álea de coisa futura

É aquela em que o risco recai sobre um objeto que não existe no plano real, no
momento da manifestação de vontade. Existem duas hipóteses de coisa futura:

Artigo 458 do Código Civil – emptio spei (esperança de venda): o objeto é


imaterial, existindo mera probabilidade de sua existência. No momento do
cumprimento da obrigação (por exemplo, lançar a rede para pegar os
peixes), o comprador obriga-se a pagar pelo lanço, ainda que nada
advenha.
Artigo 459 do Código Civil – emptio rei speratae (esperança sobre a coisa
vendida): compra-se um objeto futuro indeterminado em sua quantidade
(diz a lei) e qualidade (acrescenta a doutrina). Tomando o exemplo
anterior, o comprador obriga-se a pagar pelo peixe, não pelo lanço da rede,
o que traz maior segurança para o comprador.

b) Álea de coisa exposta a risco

O objeto é certo e determinado; porém nem o comprador nem o vendedor


conhecem sua qualidade no momento do cumprimento da prestação.

Dispõe o artigo 460 do Código Civil que, se o risco for assumido pelo
adquirente, o alienante terá direito ao preço, ainda que a coisa não exista, no todo ou
em parte, no instante do cumprimento do contrato – por exemplo, envio de
mercadoria por meio de transporte de segurança duvidosa.

1.3.5 Contrato translativo de propriedade: Vendedor tem a obrigação principal


de transferir o domínio da coisa e o comprador o preço.

1.3.6 Contrato Principal

1.3.7 Paritário (existe negociação) ou de adesão (cláusulas pré-fixadas,


impostas).

1.3.8 Contrato Típico e Nominal, podendo ser utilizado no âmbito Contrato


civil, comercial, consumerista, administrativo.

1.3.9 Contrato Individual e Impessoal: ainda que haja grande número de partes
será caracterizado como individual, pela possibilidade de individualização das
partes. E impessoal porque interessa o resultado e não a pessoa.

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1.3.10 Contrato Causal: será declarado inválido se o motivo determinante foi
inexistente, ilícito ou imoral.

1.3.11 Contrato instantâneo de execução imediata ou diferida.

1.4. Elementos Essenciais do Contrato de Compra e Venda (art. 482 CC)

1.4.1. Consentimento

Feitas as negociações, firmado o preço o contrato reputa-se formado


independente de forma, salvo art.108 CC. Diferente do contrato de compromisso de
compra de venda que pode ser particular (art. 1417 CC).

O consentimento é uma limitação subjetiva ao poder de contratar e requer


capacidade das partes para vender e comprar e deve ser livre e espontâneo.

1.4.1.1 Questões especiais/ Limitação à Compra e Venda.

Em determinados casos apesar da capacidade das partes estas não são


legitimas para celebrar contratos, é o caso dos exemplos que se transcreve a seguir:

a) Falta de Legitimidade: Por exemplo: O tutor não pode adquirir bem do


tutelado (art. 497 CC c/c 1521, IV, 1749, I CC).

b) Um cônjuge não pode alienar bem imóvel ao outro cônjuge, salvo de forem
os bens excluídos da comunhão. (art.499 CC). Não pode ferir o regime de
bens, no caso da Comunhão Universal não há possibilidade pela obviedade
do acervo comum. (art. 1667 CC). Dissolvido o casamento, não há qualquer
impossibilidade. Ainda: um cônjuge somente poderá alienar um bem
imóvel com expressa autorização do outro. (art. 1647, c/c 1648 do CC e art.
226, parágrafo 5º da CF).

c) O ascendente, para alienar um bem a um descendente, precisa da expressa


anuência dos demais descendentes e do cônjuge e companheiro (art. 1725
CC), dispensado o consentimento do cônjuge no caso de separação
obrigatória, sob pena da anulabilidade da compra e venda. (art. 496 CC). A
anuência deve ser expressa. (art. 220 CC). Súmula n 494 do STF: “A ação
para anular a venda de ascendente à descendente, sem consentimento dos
demais prescreve em 20 anos, contados da data do ato”. Se houver a
venda com intuito de transferir à descendente, implica em nulidade,
provada a simulação. Se não houve intenção de fraudar nada impede que
posteriormente um descendente venha adquirir o bem. Pelo art. 179 CC
seria apenas de 2 anos

d) A venda à condômino: é regulada no art. 504 CC. Cabe em 180 dias o


direito à propositura de Ação de Preempção ( exercer o direito de
preferência)

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1.4.2. Preço (art 485 à 489 CC)

a) Pecuniariedade
O bem deve permitir sua conversão imediata em dinheiro.

b) Seriedade
Seriedade é a equivalência do preço com o objeto. Aqui temos a autonomia de
vontade submetida à equivalência material das prestações e o preço deve ser sério. Se
assim não for, poderia até ser considerada uma doação camuflada.
Pode ser considerado nulo o contrato se o preço for fixado ao arbítrio
exclusivo de uma das partes (art. 489 CC)= Condição puramente potestativa e difere
da simplesmente potestativa ( submetida a fatores externos).

c) Certeza. Determinado ou Determinável


É a determinação do preço no momento da manifestação de vontade das
partes. Exceções:
quando houver fator de indexação (preço estabelecido em bolsa ou mercado
de balcão);
quando as partes nomearem árbitro, mandatário, para fixar o preço. Esse
mandato é irrevogável.

1.4.3. Objeto

a)Existência
A existência deve ser real ou potencial.

b) Comerciabilidade

O objeto deve estar no comércio. Estará fora do comércio se a lei, a ordem


natural ou a vontade das partes (cláusula de inalienabilidade – artigo 1.911 do Código
Civil) assim estipular. Não se pode colocar cláusula de inalienabilidade em negócio
oneroso; somente em doação ou testamento.
Não pode ser objeto honra, a integridade física, a vida, etc.

c) Exeqüibilidade
O objeto deve ser possível de ser levado à hasta pública e possuir liquidez; para
isso deve-se conhecer o gênero e a quantidade. O objeto deve ser certo ou
determinável.

Nos contratos aleatórios, temos a existência potencial (ou seja o objeto não
existe, mas há probabilidade de existir). (Exemplo: a vaca penha ou no caso de
produtos fabricados em série art. 483 CC), pode ainda não ser determinando, mas,
determinável. Coisa incerta indicada pelo gênero e pela quantidade (243 c/c 252 CC).

No caso da venda por amostras, protótipos ou modelos (art. 482 c/c 35 CDC). –
O vendedor assegura ter a coisa as qualidades que elas correspondem.

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d) Transferibilidade

Poder que o vendedor tem sobre a coisa para transmiti-la ao comprador.


Exceção: transferibilidade retroativa – ocorre quando o alienante transfere a
propriedade de um bem que adquirirá posteriormente. Exemplo: A empresta uma
caneta para B, que a vende para C (alienação de coisa alheia, não permitida pelo nosso
Direito); acontece que, em ato seguinte, A vende a caneta a B – deu-se, então, a
superveniência do domínio que torna perfeita a alienação de B para C.

1.5. Efeitos do Contrato de Compra e Venda

1.5.1. Efeitos principais:

a) Geração de obrigações recíprocas (vendedor – transfere o


domínio e comprador- paga o preço). Tem- se a garantia dos vícios redibitórios
e da evicção.

b) O contrato de compra e venda NÃO É CONTRATO


TRANSLATIVO- NÃO transfere a propriedade, apenas promete transferir:
trata-se de um justo título, uma causa para que a propriedade se transmita. O
artigo 481 do Código Civil demonstra que o acordo apenas obriga as partes
reciprocamente, ocorrendo a transmissão do domínio com a tradição (para
bens móveis, artigo 1.267, parágrafo único, do Código Civil), ou registro (para
imóveis, artigo 1226 e 1.246 do Código Civil).Trata-se de contrato de efeitos
obrigacionais, não operando per si a transferência da propriedade e sim a
obrigação de fazê-lo.

Vale ressaltar que a tradição pode ser: real (entrega efetiva e material),
simbólica (ato que traduz a alienação- entrega das chaves), ficta ( vendedor
transfere, mas permanece como locatário do bem).

1.5.2 Efeitos secundários:

a) Se houver ausência de determinação no contrato, o comprador


deve pagar primeiro, seguindo-se a entrega do objeto pelo vendedor (artigo
491 do Código Civil c/c 476 CC). O vendedor, não sendo venda à crédito, não é
obrigado a entregar a coisa antes de recebido o preço (art. 491 CC).
Ou pode ainda, reter a coisa em caso de Insolvência do Comprador (art. 495
CC) (Exceptio non adimplendi contratus)- Exceção de Contrato não cumprido,
prevista no art. 476 CC e 477 CC.

b) No caso de perecimento do bem, quem perde é o vendedor (res


perit domino – a coisa perece para o dono), se ainda não ocorreu a tradição da
coisa móvel ou o registro do imóvel. Mas se o comprador estava em mora
quanto ao recebimento da coisa. (art 492 e parágrafos do CC c/c 400 CC)
Elemento básico: Transferência somente se opera quando da sua tradição ou

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registro. A tradição deve ser feita no local da venda (art. 493 CC), se for
expedida para local diverso por ordem do comprador, correm por conta do
mesmo os riscos, salvo se o vendedor não seguir as instruções do comprador
( art. 494 CC).

c) Despesas do contrato de compra e venda (art. 490 CC c/c 502


CC). Pele estipulação do presente artigo, subentende-se que Despesas relativas
ao pagamento de tributos de transmissão correm por conta do comprador.
Quanto as despesas de tradição estas correrão por conta do vendedor. Mas é
comum a cobrança de frete por parte dos fornecedores atualmente. Vale
Lembrar que o dispositivo não é imperativo, podendo haver determinação em
contrário. Ele é apenas orientador de conduta.

No caso se imóveis, as taxas de condomínio anteriores devem ter sido pagas


pelo vendedor, mas se o comprador não verificou a adimplência das mesmas ele
responde.

Nada impede que a entrega do bem se efetue em local diverso do da realização


a compra e venda. (art 493 c/c 494 CC)

1.6. Compra e Venda de Imóveis

a) Ad corpus

As referências foram meramente elucidativas, ou sem descrição ou


especificação por preço. O conteúdo prevalece e não o formalismo.

É aquela em que o comprador adquire um bem certo e determinado,


independentemente da metragem desse objeto, como, por exemplo, compra do
imóvel X, seja qual for sua medida. Compra de uma casa no Setor Bueno, na rua X,
numero X, independente de metragem.

c) Ad mensuram (art. 500 CC)

O alienante cuida de especificar ou discriminar a área vendida ou o preço por


indicar medida.
A metragem é fator essencial do negócio; o preço é avaliado com base na
extensão do imóvel.
O nosso sistema autorizou as duas hipóteses: quando houver dúvida, o juiz
deve considerar a venda como um todo, ad corpus, sendo a referência dimensional
apenas enunciativa, conforme dispõe o § 1.º e § 3º do artigo 500, do Código Civil.
A ação a ser proposta seria a Ação Ex Empto ou Ex Vendito, não cabe a Ação
Redibitória ou Estimatória.
O Código de Defesa do Consumidor considera a compra e venda ad mensuram
e não reconhece a compra e venda ad corpus, pois a publicidade e as informações são
sempre essenciais. Aplica-se nestes casos os art. 6º, IV, 19, 30, 31, 37 CDC.

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O Código Civil, no artigo 501, estabeleceu que o prazo para propor ação
redibitória ou ação "quanti minoris" ou mesmo a "actio ex empto" (complemento da
área) é de um (1) ano decaindo a contar do registro do título. Lembre que o prazo
anterior era de 20 (vinte) anos.

1.7 Promessa/Compromisso de Compra e Venda

Compra e Venda: É o contrato principal pelo qual uma das partes (vendedora)
se obriga a transferir a propriedade de coisa, móvel ou imóvel à outra(compradora)
mediante pagamento de preço.
Compromisso de Compra e Venda, é um contrato preliminar que tem por
objeto um futuro contrato de venda e compra. Vendedor permanece com domínio.
(art 1417 e 1418 CC). O objeto é o contrato de compra e venda, cuja prestação se
resume na obrigação de fazer um contrato de compra e venda.

O Compromisso de compra e venda, não é um contrato preliminar comum, é


uma promessa su generis, porque gera eficácia real (art 1225, VIII CC) e comporta
execução específica, denominada de Adjudicação Compulsória. Dentre as vantagens
da promessa de compra e venda, temos a de que esta pode ser feita por instrumento
particular.

A partir do momento que se tem um contrato de Compromisso de Compra e


Venda a parte tem direito à escritura definitiva, desde que comprovado que houve
pagamento integral do preço. Se a outra parte se nega a transferir a propriedade o
Promitente Comprador pode protocolar a Ação de Adjudicação Compulsória ( Decreto
Lei nº 58/1937), em que o juiz irá suprir a omissão do Promitente Vendedor. Esse
direito prevalece ainda que não haja registro, conforme entendimento do STF nas
Súmulas 84 e 239 c/c 639 CC e 461 CC.
Nesse momento não há mais necessidade de outorga uxória ou marital, vez que
quando da feitura do contrato de compromisso de compra e venda todos os requisitos
para a validade do negocio jurídico já forma analisados.

Diante disto pergunta-se. Em caso de separação judicial ou divórcio, a esposa


pode pedir meação depois do casamento de um imóvel compromissado anteriormente
e só integrante do patrimônio depois da separação? Em regra não, visto que a data da
separação a esposa só teria direito a meação das parcelas já pagas. Dali para frente ela
não é mais meeira. (art 1661 CC)

1.8. Cláusulas Especiais da Compra e Venda

São elementos acidentais do contrato de compra e venda, não afetam a priori a


sua existência ou validade, mas sim o campo de eficácia do negócio jurídico pretendido
e celebrado, subordinando, em geral, à eventos futuros e incertos.

Cláusulas especiais da compra e venda são preceitos que implicam uma


variabilidade no contrato de compra e venda, dando poder de disposição às partes
contratantes. As cláusulas podem ser adjetas ou adjetivas.

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1.8.1. Retrovenda (Art 505 CC)

Pacto acessório por meio do qual o vendedor se resguarda da garantia de


resolver o negócio, restituindo o preço e reembolsando comprador pelas despesas.

Cláusula acessória, acidental ou adjeta é a que vem unida ou jungida à


principal, estando subordinada a ela. A retrovenda ou pactum de retrovendum é a
cláusula adjeta à compra e venda, pela qual o vendedor se reserva o direito de reaver,
em certo prazo, o imóvel alienado, restituindo ao comprador o preço, mais as despesas
por ele realizadas, inclusive as empregadas em melhoramentos do imóvel (artigos 505
e seguintes. do Código Civil).

Exemplo: Pedro, em dificuldade financeira transitória para arranjar capital,


vende seu imóvel a Saulo, sob a condição de recobrá-lo no prazo pactuado ou legal,
mediante restituição do preço e demais despesas feita pelo comprador.

Justo Preço - em regra não se restitui benfeitorias úteis e voluptuárias, salvo se


autorizadas. O Código estabelece tal regra para evitar que sejam feitas para impedir a
retrovenda.

O pacto de retrovenda só é admissível se o objeto for bem imóvel e torna a


propriedade resolúvel, já que tem o condão de restituir as partes ao status quo ante. O
imóvel vendido retorna ao patrimônio do alienante que restituir ao adquirente o preço
e todas as demais despesas, inclusive as de escritura, impostos de transmissão de bens
imóveis, emolumentos de registro e melhoramentos.

O vendedor conserva ação contra terceiros adquirentes do imóvel em que se


estipulou a retrovenda. Para Pablo Stolze este deve ter sido registrado ou terceiro teria
que ter ciência. (artigo 507 do Código Civil); isso ocorre porque o comprador tem
propriedade resolúvel do imóvel (artigo 1.359 do Código Civil). É o próprio exercício do
direito de seqüela do vendedor que, pelo princípio da aderência, buscará o bem onde
quer que se encontre. Resolve-se a propriedade mesmo que o pacto de retrovenda
não tenha sido averbado no Registro Imobiliário. Pela regra do art.507 subentende-se
que não é possível a cessão por ato entre vivos, admite apenas para os herdeiros.

Dispõe o artigo 505 do Código Civil que o prazo para o retrato não pode
exceder três anos, reputando-se não-escrito o excesso convencionado pelas partes e
presumindo-se estipulado o máximo do tempo se os contratantes silenciarem. Trata-se
de direito personalíssimo do Vendedor.

No caso de perecimento do objeto, o comprador não tem que restituir o valor


ao vendedor, mas este tem que restituir o que o comprador pagou. O ônus pela perda
é do proprietário.

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1.8.2. Venda a contento e sujeita a prova (art 509 à 512 CC).

São as que possuem condição suspensiva, relativa ao agrado ou adequação do


bem à finalidade desejada. Só depois da satisfação do credor será perfeito e
obrigatório o contrato.

A venda a contento é a cláusula que subordina o contrato à condição de ficar


desfeito o negócio se o bem não agradar o comprador. É a venda que se realiza sob a
condição de só se tornar perfeita e obrigatória se o comprador declarar que a coisa
adquirida lhe satisfaz. O comprador precisa aceitar o bem alienado.

A cláusula terá mais eficácia nos contratos de gêneros que se costuma provar,
medir, pesar, ou experimentar antes de aceitos (artigo 509 do Código Civil). Exemplo:
venda de roupas sob medida.

Nesses contratos estabelece-se uma condição suspensiva, não se


aperfeiçoando a avença até que o adquirente se sinta satisfeito. É possível, porém, o
estabelecimento de cláusula resolutiva, dissolvendo-se o contrato ante o desagrado do
comprador. Se estabelecida a condição suspensiva, o comprador assume a condição de
comodatário (artigo 511 do Código Civil), com o dever de restituir a coisa que lhe foi
emprestada, respondendo por perdas e danos em caso de culpa ou mora. O
comprador não se responsabiliza pelo caso fortuito.

1.8.3. Preempção (art 513 à 520 CC)- Não gera eficácia real, Prelação ou Pacto
Promiseos

Em regra, vendido o bem, não há mais vinculação entre os contratantes, a não


ser que se estipule cláusula de perempção, que deve ser expressa.

A preempção ou preferência, de acordo com Caio Mário, é o pacto adjeto à


compra e venda em que o comprador de coisa móvel ou imóvel fica com a obrigação
de oferecê-la a quem lha vendeu, para que esse use de seus direitos de prelação em
igualdade de condições, no caso de pretender vendê-la ou dá-la em pagamento (artigo
513 do Código Civil). Tal cláusula dá ao vendedor a condição de readquirir o bem que
já foi seu, caso o comprador resolva aliená-lo.

O prazo decadencial varia conforme a natureza do objeto: tratando-se de bem


móvel, decai em três dias; se bem imóvel, em sessenta dias, contados da oferta, isto é,
da data em que o comprador notifica o vendedor (artigo 516 do Código Civil). Ressalte-
se que o prazo anterior para o bem imóvel era de 30 dias segundo o velho artigo 1.153.
Após esse prazo, o comprador poderá vender a terceiros.

P.: É possível a prelação parcial?


R.: Segundo Caio Mário, não é possível. Porém, se a pessoa adquiriu cotas
ideais de diversos condôminos, a preferência poderá ser exercida pró-parte.

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Se o comprador não notificar o vendedor da alienação, responderá por perdas
e danos (artigo 518 do Código Civil).

O vendedor pode exercer o direito de preempção independente de notificação


e deve pagar no mesmo preço e nas mesmas condições. O atual dispositivo legal
acresceu que o adquirente responde solidariamente quando procede de má-fé. O
mesmo ocorre na desapropriação, caso o poder expropriante pretender vender o
imóvel expropriado e deixar de oferecê-lo ao ex-proprietário pelo mesmo preço. O
expropriado tem cinco anos para mover ação de retrocessão, pleiteando perdas e
danos – que consistem no valor do bem no instante que deveria ter sido oferecido ao
expropriado, caso o expropriante respeitasse a preferência.

As diferenças entre preferência e retrovenda, enquanto na primeira há uma


nova aquisição, pode ser aplicada para móveis e imóveis e o comprador não é
obrigado a vender e não se transfere aos herdeiros, na segunda o negócio original se
resolve, aplica-se apenas para imóveis, o comprador é obrigado a vender e se
transfere aos herdeiros.

1.8.4. Pacto de melhor comprador

O instituto foi revogado pelo atual Código Civil, porém era previsto no sistema
anterior e deve ser mantido apenas para um conhecimento histórico –evolutivo.
O pacto de melhor comprador ou pactum addictiones in diem era a estipulação
em que se dispunha que a venda de imóvel ficaria desfeita caso se apresente, dentro
do prazo não superior a um ano, outro comprador oferecendo preço mais vantajoso.
O prazo de um ano era decadencial, não se prorrogando nem se suspendendo.

1.8.5.Venda com reserva de domínio (art 521 à 528 CC)

Na Compra e Venda com reserva de domínio subordina-se a transferência


efetiva ao pagamento integral do preço.

Difere-se da alienação fiduciária que é definida como todo negócio jurídico em


que uma das partes (fiduciante) aliena a propriedade de uma coisa móvel ou imóvel ao
financiador (fiduciário) ate que se extinga o contrato pelo pagamento ou inexecução

Diferenças estão no fato de que:

Na venda com reserva de domínio, há uma venda com cláusula suspensiva,


entrega-se a posse, mas a entrega da propriedade fica suspensa. O vendedor só
cumpre a parte dele de entregar a propriedade se o comprador pagar. Há sempre
vendedor e comprador. Somente para moveis.

Na alienação, há condição resolutiva se houver pagamento do preço se


consolida a propriedade. Comprador só devolve a propriedade se não pagar. Há
sempre instituição financeira. Para moveis e imóveis.

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1.8.6. Da venda sobre documento

É uma nova cláusula especial estabelecida nos artigos 529 a 532 do Código Civil.
É uma modalidade de compra e venda na qual a tradição da coisa é ficta, isto é, é
substituída pela entrega de um título que representa o objeto do contrato de compra e
venda.
O comprador ao receber o documento, que corresponde ao objeto não pode se
recusar em pagar o preço. O pagamento deve ser feito na data e no local da entrega
do documento, já que a entrega do documento é a entrega do próprio objeto.

2. CONTRATO DE TROCA OU PERMUTA

2.1. Conceito

Segundo Clóvis Bevilácqua, contrato de troca ou permuta é o contrato pelo qual


as partes se obrigam dar uma coisa por outra que não seja dinheiro.

2.2. Características

É um contrato bilateral, oneroso, comutativo, consensual e informal (salvo se


um dos bens for imóvel, quando será realizado por escritura pública).
A propriedade não se transfere com o contrato, mas sim com a tradição (bem
móvel) ou registro (bem imóvel).

2.3. Objeto
São dois os bens objeto da permuta. Não haverá escambo se a obrigação de
uma das partes for a prestação de serviços. São objetos de troca todas as coisas que
podem ser alienadas, não precisando haver uma correlação precisa de valores.
Exemplo: um móvel por um imóvel.

2.4. Relação com a Compra e Venda

A troca tem a mesma natureza da compra e venda, dela diferenciando-se em


primeiro lugar porque a prestação das partes é sempre em espécie. A segunda
diferença é que, no contrato de troca, a parte tem direito de pedir de volta o que deu,
caso não tenha recebido o outro objeto. No contrato de compra e venda isso não é
possível, já que a inexecução de uma das partes gera perdas e danos. A troca encerra
uma dupla venda, enquanto a compra e venda encerra uma única venda.

O artigo 533 do Código Civil dispõe que: “Aplicam-se à troca as disposições


referentes à compra e venda, com as seguintes modificações: I – salvo disposição em
contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o
instrumento da troca; II – é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e
descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do
alienante”.

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