Você está na página 1de 5

08/03/2023, 09:09 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.

DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CONTRATO

I - DA COMPRA E VENDA

I.1.- Conceito:

A definição do instituto pode ser extraída do art. 481, CC: “Pelo contrato de
compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa
coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”.
Assim, trata-se de um contrato donde defluem obrigações recíprocas para cada
uma das partes. Para o vendedor, a obrigação de transferir o domínio da coisa;
para o comprador, a de entregar o preço.

I.2) O caráter obrigacional da compra e venda

No direito brasileiro, os efeitos derivados do contrato são meramente


obrigacionais, e não reais, pois a compra e venda não transfere, por si só, o
domínio da coisa vendida, mas apenas gera para o vendedor a obrigação de
transferi-lo.
Há a necessidade, portanto, no tocante aos bens móveis, da tradição para a
transferência da propriedade.
Demonstra tal tese o art. 1.267, CC, que afirma que a propriedade das coisas não
se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.
Seguiu o nosso código a orientação do direito romano, desprezando a tradição
francesa para quem do contrato de compra e venda derivam efeitos reais, visto
que, através dele, e sem outras formalidades, o comprador adquire o domínio.

I.3) Natureza Jurídica

A compra e venda é contrato:


Consensual; em oposição aos contratos reais, se aperfeiçoa independentemente
da entrega do objeto, pela mera coincidência da vontade das partes sobre o preço
da coisa (art. 482, CC)

Sinalagmático; envolve prestações recíprocas de ambas as partes;


Oneroso; implica sacrifício patrimonial para ambos os contratantes;
Comutativo; a estimativa da prestação a ser recebida por qualquer das partes
pode ser feita no ato mesmo em que o contato se aperfeiçoa.

Em alguns casos, no entanto, nos deparamos com contratos aleatórios – art. 458,
CC e art. 459, CC. Exemplificamos a questão com a “venda de coisa futura”:
frutos de uma colheita esperada.
Alguns casos sujeito à forma prescrita em lei, mas no mais das vezes
independendo de qualquer formalidade.

https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1/5
08/03/2023, 09:09 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.

I.4) Elementos da Compra e Venda

Extrai-se do art. 482, CC três elementos:


a) consensualismo: basta o acordo de vontades, deve recair sobre o objeto e
sobre o preço;
b) preço: deve ser em dinheiro sob pena, em determinados casos, de caracterizar
contrato de troca; deve também ser sério sob pena de ser entendido como
doação.
Deve ser determinado ou, ao menos, determinável. Nesse sentido, a lei autoriza
que as partes deixem a sua fixação a critério de terceiros (art. 485, CC), ou a taxa
de mercado (art. 486, CC).
Não se admite, porém, que uma das partes exclusivamente posso fixar o preço
(art. 489, NCC)
c) coisa: engloba todas as coisas móveis e imóveis que não estejam fora do
comércio.(escapam as insuscetíveis de apropriação e as legalmente inalienáveis).

I.5) Da Venda de Coisa Alheia:

De regra é nula, pois ninguém pode alienar o que não é seu. Duas exceções:
a) o vendedor, ao depois e antes que o comprador sofra a evicção, torne-se
proprietário da coisa.
b) se as partes souberem desde o início que a coisa pertence a terceiro, o negócio
valerá como promessa de fato de terceiro, uma vez que o alienante estará
prometendo que obterá a anuência do proprietário para vender a coisa.

I.6) Conseqüências subsidiárias decorrentes da compra e venda:

a) obrigações acessórias: responsabilidade pela evicção e pelos vícios redibitórios:


O alienante responde pela perda que o adquirente venha a sofrer ao ser privado
da coisa comprada, em virtude de sentença judicial que a atribuir a terceiro, como
também responde pelos vícios ocultos de que a coisa vendida por acaso seja
portadora.
b) despesas do contrato:
As partes podem fixar quem deverá arcar com as despesas mas, no silêncio, o art.
490, CC, determina que as despesas de escritura ficarão a cargo do comprador e
as de tradição a cargo do vendedor.
c) o problema dos riscos:
O art. 492, CC, determina que “até o momento da tradição, os riscos da coisa
correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador”
O parágrafo 1o. do art. 492 estipula que os casos fortuitos ocorridos no ato de
contar, marcar ou assinalar coisa que já estiverem a disposição do comprador,
correrão por conta destes. Veremos exceção a esta regra quando o comprador
estiver em mora de receber a coisa comprada (parág. 2o. do art. 492, CC)
d) a questão da garantia:
Por seu um contrato bilateral, não sendo ajustado prazo diferenciado, a permuta
das prestações deve ser simultânea. Nesse sentido, o art. 491, CC. Verifica-se,
aqui, que a lei mune o vendedor de uma “direito de retenção”.
O art. 495, CC, determina que o vendedor poderá sobrestar a entrega da coisa

https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 2/5
08/03/2023, 09:09 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.

pactuada a termo sempre que o comprador estiver em insolvência, exigindo


caução. Este artigo deve ser lido em consonância com o artigo art. 477, CC.

II.- Cláusulas especiais à compra e venda:

a) Retrovenda

A retrovenda é a cláusula adjeta à compra e venda pela qual o vendedor se


reserva ao direito de reaver, em certo prazo, o imóvel alienado, restituindo ao
comprador o preço ou valor recebido, mais as despesas por ele realizadas durante
o período de resgate, desde que autorizadas por escrito, inclusive as empregadas
em melhoramentos necessários do imóvel.
Apenas admissível nas propriedades de bens imóveis.
O adquirente terá propriedade resolúvel que se extinguirá no instante em que o
alienante exercer o seu direito de reaver o bem.
O CC, em seu art. 512, fala que o prazo para a resgate ou retrato é de três anos.
Se as partes fixarem prazo com excesso será considerado não escrito.
Se a coisa vier a perecer em virtude de caso fortuito ou força maior, extingue-se o
direito de resgate, uma vez que houve perda do bem para o comprador, sem que
ele seja obrigado a pagar o seu valor, e do direito para o vendedor. Se o imóvel se
deteriorar, o vendedor não terá direito à redução proporcional do preço, que
deverá restituir ao comprador.
O comprador, enquanto detiver a propriedade sob condição resolutiva, terá
direitos aos frutos e rendimentos do imóvel, não respondendo pelas deteriorações
surgidas dentro do prazo reservado para resgate, salvo se agir dolosamente.
Se a cláusula de retrovenda for nula, tal nulidade não afetará a validade da
obrigação principal.
Na retrovenda, o vendedor conserva a sua ação contra terceiros adquirentes da
coisa retrovendida, ainda que eles não conhecessem a cláusula de retrato (art.
507, CC). Assim, se o vendedor fizer uso do seu direito de retrato, resolver-se-á a
posterior alienação do imóvel feita pelo adquirente a terceiro, mesmo que o pacto
de retrovenda não tenha sido averbado no registro imobiliário.

b) Venda a Contento

É a que se realiza sob a condição de só se tornar perfeita e obrigatória se o


comprador declarar que a coisa adquirida lhe satisfaz.
O negócio somente se aperfeiçoa com a manifestação de agrado da coisa pelo
adquirente.
O vendedor não poderá discutir a manifestação de desagrado do comprador que
tem julgamento de caráter subjetivo e interno.
Destina-se geralmente àqueles negócios que têm por objeto gêneros que se
costumam provar, medir, pesar ou experimentar antes de aceitos.
A matéria vem tratada nos artigos 509 a 512 do CC.
O CC (art. 509) entende que é uma venda realizada sob condição suspensiva
(ainda que a coisa lhe tenha sido entregue), somente se aperfeiçoando se o
adquirente manifestar sua vontade.

Consequências:
a) enquanto não advier a manifestação de concordância do adquirente, e a
despeito de ter havido a tradição, o domínio continua com o alienante, que sofre
as perdas advindas do fortuito;
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 3/5
08/03/2023, 09:09 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.

b) não tendo adquirido o domínio, o comprador é, antes da ocorrência da tradição,


mero comodatária, com o dever de restituir o bem respondendo por perdas e
danos por culpa, sem ter direito a cobrar as despesas de conservação (salvo
extraordinárias).
A lei não determina tempo para a manifestação de interesse do comprador. Assim,
se no contrato não tiver prazo, poderá o vendedor intimar o adquirente para que,
num intervalo improrrogável, declare se a coisa lhe satisfaz ou não, sob pena de
considerar perfeita venda (art. 512, CC)

c) Preempção
Preempção ou preferência é o pacto adjeto à compra e venda em que o
comprador de uma coisa móvel ou imóvel fica com a obrigação de oferecê-la a
quem lhe vendeu, para que este use de seu direito de prelação em igualdade de
condições, no caso de pretender vendê-la ou dá-la em pagamento.
Somente existirá se o comprador resolver vender a coisa, o vendedor quiser
adquiri-la, e estivermos dentro de um prazo determinado. Caso contrário, não
será exigível.
A matéria vem regulada nos artigos 513 a 520 do CC.
Alteração: art. 513, parágrafo único: o prazo para exercício do direito de
preferência não poderá exceder 180 dias se for bem móvel ou 2 anos se for bem
imóvel.
O vendedor pode também exercer o seu direito de prelação, tendo conhecimento
de que a coisa vai ser vendida, intimando o vendedor. (art. 514, CC)
Não observado o direito de preempção, não se inibe a venda feita a terceiro mas
responderá o alienante por perdas e danos. (art. 518, CC)
Segundo o art. 516, CC, inexistindo outro prazo, o direito de preempção caducará
se não exercido em 3 dias (bens móveis) ou 60 dias (bens imóveis).
O art. 519, CC, estipula que se a coisa expropriada para fins de utilidade pública
ou interesse social, se não for adotada para o destino desapropriatório, conferirá
ao expropriado o direito de preempção pelo preço atual da coisa.

Diferenças para a Retrovenda:


a) enquanto na retrovenda o negócio original se resolve, no pacto de preferência
há uma aquisição feita pelo vendedor primitivo ao primitivo comprador;
b) enquanto a retrovenda recai tão-só sobre bens imóveis, o pacto de preferência
não sofre igual restrição;
c) enquanto que na retrovenda o vendedor conserva o direito de readquirir a
coisa, desde que o queira e pelo preço que vendeu, na preempção o pretendente
só pode recomprar a coisa se o proprietário a quiser vender e pelo preço que for
alcançado no mercado.

d) Reserva de Domínio
A matéria vem regulada no CC nos artigos 521 a 528.
Tem-se a reserva de domínio quando se estipula, contrato de compra e venda, em
regra de coisa móvel infungível, que o vendedor reserva para si a sua propriedade
até o momento em que se realize o pagamento integral do preço.
O comprador só adquire o domínio da coisa se integralizar o preço, momento em
que o negócio terá plena eficácia.
Negócio confere ampla garantia ao vendedor uma vez que, se não for pago o
preço, poderá optar entre reclamar o preço ou reaver a coisa, por meio de ação de
busca e apreensão ou reintegração de posse.
Caso decida pela recuperação do bem, nos termos do art. 527, CC, poderá reter
as prestações pagas até o necessário para cobrir a depreciação da coisa, as
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 4/5
08/03/2023, 09:09 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.

despesas feitas e o mais de direito que lhe for devido, sendo o excedente
devolvido ao comprador.
Deverá ser o devedor constituído em mora mediante o protesto do título ou
interpelação judicial antes do ajuizamento de qualquer ação.
O comprador deverá suportar os riscos da coisa durante todo o período em que
estiver como bem (pode se utilizar até de interditos), uma vez que, embora o
vendedor conserve o domínio, com a tradição passou o adquirente a usar e gozar
do bem, retirando todas as vantagens que a coisa puder lhe oferecer.
A cláusula de reserva de domínio não impede que a coisa seja vendida a terceiro,
desde que haja permissão do alienante, situação em que o ônus se transmitirá.

e) Venda sobre documentos

Em razão da ampla utilização nos negócios de importação e exportação da venda


contra documentos, a matéria vem regulada pelo CC em seus artigos 529 a 532.
A grande novidade é justamente a substituição da figura da tradição da coisa pela
entrega de seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo
contrato.
O pagamento, salvo estipulação em contrário deverá ser feitos no ato da entrega
dos documentos, e o comprador não poderá recusar-se ao pagamento, alegando
defeito de qualidade ou de estado na coisa vendida, exceto se o vício já estiver
comprovado.

Exercício resolvido:
O que significa o caráter obrigacional do contrato de compra e venda?
No direito brasileiro, os efeitos derivados do contrato são meramente
obrigacionais, e não reais, pois a compra e venda não transfere, por si só, o
domínio da coisa vendida, mas apenas gera para o vendedor a obrigação de
transferi-lo. Há a necessidade, portanto, no tocante aos bens móveis, da tradição
para a transferência da propriedade. Demonstra tal tese o art. 1.267, CC, que
afirma que a propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos
antes da tradição. Seguiu o nosso código a orientação do direito romano,
desprezando a tradição francesa para quem do contrato de compra e venda
derivam efeitos reais, visto que, através dele, e sem outras formalidades, o
comprador adquire o domínio.

https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 5/5

Você também pode gostar