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ACÓRDÃO
Classe : Apelação n.º 0007312-64.2011.8.05.0248
Foro de Origem : Foro de comarca Serrinha
Órgão : Primeira Câmara Cível
Relator(a) : Desª. Pilar Celia Tobio de Claro
Apelante : Sul America Companhia Nacional de Seguros
Advogado : Erica Barbosa Noronha (OAB: 32577/BA)
Advogado : Jose Carlos Coelho Wasconcelos Junior (OAB: 17432/BA)
Advogado : Bruno Henrique de Oliveira Vanderlei (OAB: 21678/PE)
Advogado : vera lúcia silva de sousa (OAB: 14712/PE)
Advogado : Verusk de Oliveira Vanderlei (OAB: 27070/PE)
Advogado : Josafá Paranhos de Melo (OAB: 28849/PE)
Apelado : Wander Pereira de Matos
Advogado : Jamylle Gama Oliveira Argolo (OAB: 20839/BA)
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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA JG: NÃO
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Primeira Câmara Cível
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº
0007312-64.2011.8.05.0248, sendo parte Apelante, Sul América Companhia Nacional
de Seguros e Apelado, Wander Pereira de Matos.
Acordam os Desembargadores componentes da Primeira Câmara Cível
do Tribunal de Justiça da Bahia, à unanimidade, em conhecer do recurso, negar
provimento ao apelo, nos termos do voto condutor.
RELATÓRIO
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ser aplicada a regra contida nos artigos 17 e 18 do CPC. Pede, em suma, a reforma
da sentença, julgando-se improcedentes os pedidos da exordial.
É o bastante relatório.
VOTO
Conheço do recurso de apelação por atender os pressupostos
intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade exigidos sob o CPC/73.
Cinge-se a controvérsia na verificação da possibilidade do Apelado,
terceiro envolvido em acidente de trânsito, poder pleitear judicialmente indenização
por lucros cessantes, mesmo após ter celebrado negociação extrajudicial com a
seguradora Apelante e emitido quitação.
No caso concreto, o Apelado pleiteia a diferença entre o valor total
segurado e o que entende devido em razão do veículo ter ficado 71 dias parado para
conserto, sendo seu instrumento de trabalho, porque é motorista e aufere cerca de
R$420,00 de diária, enquanto que o valor depositado pela apelante foi de R$5.603,85
(cinco mil, seiscentos e três reais e oitenta e cinco centavos).
Primeiramente, vale lembrar que a relação ora discutida é de cunho
consumerista. O § 2º do art. 3º do CDC esclarece que serviço é qualquer atividade
fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, com a exceção expressa das
decorrentes das relações de caráter trabalhista.
O Apelado deve ser equiparado a consumidor, nos termos do artigo 17
do CDC, sendo vítima do dano que lhe foi causado pelo contratante direto do seguro
em questão, independentemente da aquisição ou não de produtos como destinatário
final.
Tecidas tais premissas, analisando de forma acurada os elementos
constantes nos fólios, notadamente as mensagens trocadas através de e-mail de fls.
94/146, percebe-se que desde 25/02/2011 as negociações para liquidação do sinistro
foram iniciadas e que o apelado informou nas tratativas que o valor da diária
pretendida era R$420,00.
Extrai-se da mensagem de fls. 146, datada de 01/08/2011, que a
seguradora declarou que ocorreram falhas no sistema e solicitou o envio dos dados
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bancários para efetuar o crédito. O Apelado, ao responder, pontuou que se sentiu por
demais prejudicado com a falta de brevidade na solução do impasse e que iria
resolver a questão pela via judicial.
Em contrapartida, registra-se que o documento de fls. 143, titulado
como termo de pagamento e quitação fora assinado em 21/07/2011, constando na
cláusula 2 que a disponibilização da quantia seria feita naquele ato, todavia, conforme
alhures demonstrado no parágrafo anterior, a própria seguradora confessou dias
depois que o pagamento não havia sido feito por ausência de dados bancários.
Pois bem. Ante o panorama delineado aos autos, chega-se à conclusão
de que o Apelado ficou durante cinco meses à mercê das conclusões e boa vontade
da seguradora Apelante para pagar-lhe os lucros cessantes.
Infere-se, ainda, a privação por 71 dias do uso do veículo, instrumento
de trabalho do Apelado, que logrou êxito em provar que é motorista, faz fretes, tudo
conforme recibos de profissional autônomo colacionados às fls. 32/93 e o contrato de
prestação de serviços de transporte de cargas de fls.21/23.
Sobre este aspecto, o documento de fls. 113 emitido pela Oficina
Borges comprova que o veículo Scania L.76, placa GXA 4178, pertencente ao
Apelado chegou na oficina no dia 18/02/2011 para reparos, com o término dos
serviços na data de 29/04/2011, após realização da vistoria.
Neste contexto, dúvidas não pairam acerca da necessidade do Apelado,
que se viu impossibilitado de auferir seu sustento e o de sua família por 71 dias,
motivos estes que elucidam de forma cabal o estado de necessidade que vivia e o
desespero para receber a quantia ofertada a título de lucros cessantes, a fim de
amenizar, mesmo que momentaneamente, sua carência financeira.
Como exemplo da hipossuficiência financeira do Apelado, cita-se que a
testemunha André Marcos Carneiro Carvalho, no termo de audiência fls. 289,
declarou que deu ajuda em dinheiro ao colega de trabalho que ficou sem conseguir
trabalhar.
De mais a mais, insta destacar que a seguradora, impôs um termo de
quitação unilateralmente confeccionado, valendo-se do estado de necessidade do
Apelado, e ainda, descumpriu os prazos para proceder o pagamento, obtendo
vantagem exagerada da situação.
Pois bem. Não se pode considerar razoável, diante de todo contexto
aqui apresentado, máxime a demora no pagamento pela seguradora, agravando ainda
mais a situação da parte vulnerável na relação, que o Apelado tenha que se contentar
com o valor recebido e que este montante sirva de irrevogável quitação. Ora, os
prejuízos sofridos foram evidentes e a situação vivida pela parte o afligiu de tal
maneira que tornou inviável recusar a quantia que foi creditada em sua conta.
Deveras, no caso em exame, a quitação se deu tão somente nos limites
do pagamento, de sorte que se reputa adimplida apenas a parcela do montante
indenizatório efetivamente entregue ao Apelado, qual seja, R$ R$5.603,85 (cinco mil,
seiscentos e três reais e oitenta e cinco centavos).
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À propósito do tema:
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Por fim, não havendo qualquer irresignação recursal acerca dos valores
dos lucros cessantes pleiteados pelo Apelado, torna-se despicienda tal análise na
espécie, impondo-se, a confirmação, na íntegra, da sentença primeva.
Presidente
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