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AO JUÍZO DA 10ª VARA CÍVEL E EMPRESARIAL DE

BELÉM/PA.

AUTOS Nº 0829515-55.2020.8.14.0301

LEANDRO MATIAS DOS SANTOS, brasileiro, união estável,


autônomo(mototaxista), inscrito no CPF sob o no 939.959.702-49, portador do RG no
4815470 PC/PA, residente e domiciliado sito à Pass Santo Antônio, no 514, Barreiro,
CEP 66117440 Belém – Pará, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência
por intermédio de suas Advogadas que subscrevem com fundamento na CF/88, CDC
e código civil, nos autos em que colide com direito líquido e certo, à presença de
Vossa Excelência apresentar:

APELAÇÃO

Da r. sentença de ID: n° 108077719, nos termos que seguem. Requerendo,


para tanto, que o recurso seja recebido no duplo efeito, determinando-se a sua remessa
ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Pará, para que dela conheça e profira
nova decisão.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Belém/PA, 28 de fevereiro de 2024.
Renata Adriana de Nazaré Barbosa
OAB/PA 29.389
CAMILA VANZELER TAVARES
OAB/PA N.º 29.866
EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL

Apelante: Leandro Matias dos Santos


Apelada: Cooperativa Mista Jockey Club de São Paulo
Processo Origem: 0829515-55.2020.8.14.0301

Egrégio Tribunal
Colenda Turma.
Eméritos Desembargadores,

I. DO PREPARO

O presente recurso é isento de preparo, eis que o Apelante obteve a concessão


da gratuidade da justiça em primeiro grau, consoante previsão expressa do art. 98,
VIII, do CPC/15.

II – RESUMO DOS FATOS:

O autor, ora apelante pleiteou a rescisão de contrato de consórcio, com


repetição de indébito e indenização por danos morais em virtude da alegação de
propaganda enganosa realizada pela apelada, que assegurou ser um contrato para
adquirir a liberação da carta de crédito para compra de bem imóvel, prometendo
inclusive que após o deposito realizado pelo apelante a entrega do montante seria
liberada em três dias.
Em sede de Contestação a ré, ora apelada alegou situações infrutíferas, como
por exemplo que fora explicado as regras do contrato de consorcio, porém em nenhum
momento foi dito ao apelante que se tratava de um consorcio, a apelada praticamente
armou uma cilada para o apelante, deixando todos os sonhos futuros frustrados por
mentiras e omissões praticadas.
Vale ressaltar, que após dois meses sem receber o valor prometido o apelante
voltou por vezes a sede da empresa para fazer o cancelamento, porém o vendedor que
o atendeu já não se encontrava mais, e outros funcionários só falavam que não
poderiam fazer nada. Cansado de tantas idas infrutíferas na sede da apelada, decidiu
procurar uma delegacia, ao falar com a delegada a mesma já conhecia a empresa uma
vez que outras pessoas lesadas haviam procurado a delegacia com casos semelhantes.
Inclusive a delegada já havia entrado em contato com tal empresa via ligação
telefônica, porém quando a apelada era chamada a comparecer a delegacia seu
advogado mostrava uma gravação na qual o cliente afirmava tudo que lhe era
perguntado. Então a delegada falou para o apelante ir novamente a apelada pedir para
assinar a carta de cancelamento (anexada aos autos). Após a apelada ser intimada, e
marcada audiência una, no momento da audiência compareceu um preposto que não
soube responder nenhuma das perguntas que lhe fora feito tanto pelo magistrado,
quanto pela advogada do apelante. Restando infrutífera tentativa de conciliação.
Apesar de tantos transtornos sofridos pelo apelante, seu pedido foi julgado
improcedente pelo juízo a quo, afirmando entre outros argumentos, que a restituição
dos valores pagos pelo consorciado desistente deveria o correr de acordo com a
legislação pertinente ao consórcio, seguindo o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça.

III- DA SENTENÇA
A r. sentença prolatada pelo julgador monocrático de primeiro grau, julgou
improcedente os pedidos do apelante, merecendo ser reformada, pois, não se coaduna
com as provas dos autos, tampouco repara o bem lesado de forma, senão vejamos:

“ SENTENÇA:
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido do
requerente,extinguindo o processo com resolução do mérito,
na forma do art. 487, inciso I do novo CPC. Sem custas em
razão da gratuidade. Condeno o autor ao pagamento de

honorários advocatícios em 10% sobre o valor da causa,


porém suspendo sua exigibilidade na forma do artigo 90, §
3o do CPC. Após o trânsito em julgado, certifiquem-se e
arquivem-se.

Com efeito, o digníssimo julgador de primeira instância, ao julgar o mérito da


ação, indeferiu os pedidos, de indenização por dano moral por entender que a
pretensão do dano é descabida, alegando ainda que o requerente possuía cópia do
contrato celebrado entre as partes, que anexou aos autos, no qual existe previsão
expressa acerca das contemplações, dos sorteios e dos lances, de forma que não se
pode concluir que o consorciado foi enganado ou não teve ciência de tais fatos.

No mais, o motivo pelo qual o Apelante se sentiu enganado e foi alvo de


propaganda enganosa refere-se exatamente as promessas feitas pelo representante da
empresa apelada no qual prestou informações inverídicas a respeito da adesão ao
grupo respectivo, induzindo o consumidor a contratar o serviço na expectativa de
receber em pouco tempo, qual seja em 3(Três) dias a contemplação do bem objeto do
contrato, entregando inclusive documento de próprio punho informando ao
consumidor o prazo de contemplação, documento que foi juntado aos autos do
processo, tudo concreto e com respaldo, conforme será demonstrado a seguir, sendo
inquestionável moral sofrido pelo Apelante.
Sendo assim, resta claro que a falsa promessa a qual o apelante foi submetido o
levou a enfrentar constrangimento ilegítimo, gerando o dever de indenizá-lo de forma
que repare o dano experimentado.

IV- RAZÕES DA SENTENÇA SE REFORMADA

DA VONTADE VICIADA/ DA PROPAGANDA ENGANOSA COMPROVADA

A sentença julgou improcedentes os pedidos da inicial, entretanto nos termos do


alegado em inicial e em audiência de instrução o funcionário da empresa no momento da
venda garantiu ao Requerente que o valor total da carta de crédito seria liberado com até
três dias, a partir da assinatura do contrato.
Nos autos inclusive foram juntados anotações de próprio punho feitos pelo
representante da empresa que no momento da contratação prestou informações inverídicas a
respeito da adesão ao grupo respectivo, induzindo o consumidor a contratar o serviço na
expectativa de receber em pouco tempo, qual seja em 3(Três) dias a contemplação do bem
objeto do contrato, se não vejamos:

Como se observa, restou provado que a adesão ao referido contrato teve a sua
vontade viciada, sendo impositivo o reconhecimento da nulidade do contrato, com a
consequente devolução dos valores adimplidos pelo aderente., haja vista que a promessa
conforme próprios esboços escritos pelo representante do consórcio era de que a entrega da
carta de crédito seria com três dias, nessa expectativa o autor assim assinou o contrato.
Somado a isso basta uma simples consulta para se comprovar que a empresa por
muitas vezes agiu da mesma forma com outros consumidores, ludibriando e enganando-os
usando o mesmo argumento de que a entrega da carta de crédito sairia em curto prazo de
tempo, foi assim alvo de ação civil pública, senão vejamos:

Conforme trecho da matéria publicada em 27/10/2020, A empresa Jockey Club


Consórcio foi acusada pelo Ministério Público estadual, em ação civil pública de divulgar
informações enganosas, descumprir prazos contratuais, levando clientes a cláusulas
abusivas e impossibilitar a devolução de valores pagos por produtos não entregues.
Nobres julgadores, resta claro que não se trata de uma reclamação isolada por parte
do autor, haja vista que, conforme relatos dos consumidores afetados, a mesma história foi
contada a todos os clientes, corroborando que a autor foi sim vitima de propaganda
enganosa, quanto a entrega da coisa, embora tenha assinado o contrato fez na expectativa
de receber a carta de crédito no prazo determinado pelo representante da empresa, ao passo
que a sentença de forma contrária afirma que não restou comprovado a engano, não
bastasse as provas juntadas e as jurisprudências que confirmam que a empresa agiu de
forma enganosa não só com o apelante assim como com milhares de consumidores.
Logo, resta claro que tendo a administradora de consórcios agido de forma
negligente para prevenir a fraude perpetrada pela intermediadora, que induziu o consumidor
em erro, em afronta ao disposto no artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor , não há
como negar que incorreu em responsabilidade pelo serviço prestado de forma defeituosa
pela sua representante, nos termos do artigo 34 do CDC.
É visível que o Apelante sofreu grande prejuízo e abalo emocional, visto que nunca
fez o contrato com intuito de esperar por meses uma contemplação, ao contrário acreditou
na promessa de que receberia a carta em até três dias.
Além disso, o Código de Defesa do Consumidor se preocupou em garantir a
reparação de danos sofridos pelo consumidor, conforme o artigo 6º, inciso VI:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difuso.

Em relação ao quantum indenizatório, Caio Rogério Costa, citando Maria Helena


Diniz, afirma que:

“Na reparação do dano moral o juiz determina, por equidade, levando


em conta as circunstâncias de cada caso, o quantum da indenização
devida, que deverá corresponder à lesão, e não ser equivalente, por ser
impossível a equivalência. (COSTA, Caio Rogério apud DINIZ, Maria
Helena, 2005).

Nobres doutores a reforma da Sentença é medida necessária, haja vista que, é


evidente que a Apelada causou danos ao Apelante, devendo, conforme a lei, repará-los,
posto que o fato de prometer e repassar informações inverídicas quanto a contratação já
gera direitos imediatos para o Apelante de indenizá-lo, posto isso, requer o mesmo a
reforma da R. sentença com a condenação da Apelada ao valor descrito em sua exordial,
sendo o valor justo para a reparação do dano, reformando assim a sentença de primeiro
grau, visto que a sentença não guarda razoabilidade e tão pouco proporcionalidade ao dano
sofrido.
V. DA LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA APLICÁVEIS AO CASO

Nobres julgadores, não foi outro o entendimento em casos análogos, conforme


será demonstrado a seguir:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE NULIDADE


CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS-CONSÓRCIO - PROMESSA DE
CONTEMPLAÇÃO IMEDIATA - COMPROVAÇÃO -
VÍCIO DE CONSENTIMENTO - QUANTUM
INDENIZATÓRIO - CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO -
PROCEDÊNCIA. 1. A anulação de ato jurídico depende da
demonstração inequívoca da existência de vício do
consentimento, resultante de erro, dolo ou coação capaz de
atingir a manifestação de vontade do agente, interferindo
na elaboração do negócio jurídico que se pretende anular.
2Comprovado nos autos que o representante da empresa
de consórcio formulou falsa promessa de contemplação
imediata ao contratante, é de se reconhecer a nulidade do
negócio jurídico com o retorno das partes ao status quo
ante. 3Para a fixação da indenização por danos morais,
deve ser considerada a dupla finalidade do instituto, cujos
objetivos são, por um lado, a punição do ofensor, como
forma de coibir a sua reincidência na prática delituosa
epor outro, a compensação da vítima pela dor e sofrimento
vivenciados. 4Sentença mantida
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE ANULAÇÃO
DE NEGÓCIO JURÍDICO C/C DEVOLUÇÃO DE
VALORES C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -
CONTRATO DE CONSÓRCIO - AUTORA VÍTIMA DO
DENOMINADO "GOLPE DO CONSÓCIO" - PRETESÃO
DE ADQUIRIR IMÓVEL CERTO E COM PRAZO DE
ENTREGA DETERMINADO - VÍCIO DE
CONSENTIMENTO CONFIGURADO - NULIDADE DO
PACTO - RESTITUIÇÃO DAS PARCELAS PAGAS-
DANOS MORAIS DEVIDOS- CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO
DO VALOR. I-Se objetivo do consumidor, no momento da
contratação, era adquirir um imóvel certo e com prazo de
entrega determinado, mas, induzido a erro, acaba por celebrar
um contrato de consórcio, incorre em erro substancial quanto
ao objeto do contrato, que enseja a nulidade do pacto. II -
Frente a nulidade da avença, por vício de consentimento, faz
jus o contratante à restituição dos valores pagosIII - Frustradas
as expectativas da parte, que fora enganada quanto à
contratação do imóvel que pretendia, experimentado
sentimentos de angústia, insegurança e aflição, restam violados
os direitos da personalidade. IV - Na fixação de indenização
por danos morais deve-se analisar a fundo a qualidade da
relação estabelecida entre as partes, atentando-se para a
capacidade econômica do ofensor, bem como para a
repercussão do fato na vida do ofendido, eis que só assim será
possível se chegar a uma quantificação justa, que venha
compensar a vítima.

EMENTA

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO


CONSUMIDOR.ADMINISTRADORA DE
CONSÓRCIOS. VÍCIO DE CONSENTIMENTO.
RESOLUÇÃO DO CONTRATO. RESTITUIÇÃO
INTEGRAL E IMEDIATA DE VALORES. SENTENÇA
MANTIDA.
1. Ao ponderar as provas carreadas, verificou-se que restou
demonstrado nos autos que a parte autora foi convencida
pela consultora da ré de que se tratava de um contrato de
empréstimo e não de um consórcio devendo ser anulado o
contrato firmado entre as partes com a consequente
condenação da ré a restituir à autora o valor total
pago.2. Negou-se provimento ao apelo.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma


Civel do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios, ARQUIBAL DO CARNEIRO - Relator,
SONRIA ROCHA CAMPOS D'ASSUN??O - 1º

Vogal e VERA ANDRIGHI - 2º Vogal, sob a Presidência do


Senhor Desembargador LEONARDO ROSCOE BESSA,

em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO.


DESPROVIDO. UNANIME., de acordo com a ata do
julgamento e notas autográficas. Brasília (DF), 29 de Junho
de 2023 Desembargador ARQUIBALDO CARNEIRO
Relator

VI. DOS REQUERIMENTOS FINAIS:

Isto posto, que certamente será suprido pelo notório saber jurídico de Vossas
Excelências, requer o recebimento e processamento das presentes razões recursais, a fim de
conhecer o apelo e dar-lhe provimento no sentido de modificar a r. decisão monocrática de
primeiro grau, concedendo a reforma da decisão, para que o apelado seja condenado a
pagar a título de dano moral o valor de R$ 10.000,00 ( dez mil reais) ou valor que este
juízo entenda como razoável e proporcional ao abalo sofrido pela Apelante, por ser esta a
medida que mais se coaduna com o direito e a JUSTIÇA!
Requer ainda a modificação da r. decisão monocrática, concedendo a reforma da
decisão, para que a Apelada seja condenada a reembolsar o Requerente dos valores
recebidos já pagos do consórcio, ou seja, o valor de R$22.914,00(vinte e dois mil
novecentos e quatorze reais),por ser valor proporcional e por absoluto amparo legal, o que
desde já requer.

Termos em que,
Pede e espera deferimento

Belém/PA, de 28 fevereiro de 2024.

Renata Adriana de Nazaré Barbosa


OAB/PA 29.389
CAMILA VANZELER TAVARES
OAB/PA N.º 29.866

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