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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DO

JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS

PROCESSO Nº.: 5016521-27.2022.8.13.0518

TEREZINHA EDNA SOUTO GARCIA, já qualificada nos autos supra vem


respeitosamente perante Vossa Excelência, haja vista que a Ré, Instituição
Financeira, externou fato impeditivo, modificativo e extintivo do direito em sua defesa,
para, tempestivamente (CPC, art. 350), apresentar

IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO, pelos motivos de fato e de direito que passa a


expor.

I - Das Considerações feitas na Defesa

Conforme às fls. 102/126 a defesa da Promovida (Banco PAN). Nessa,


levantam-se fatos e fundamentos jurídicos que impedem e/ou extinguem o direito da
parte Autora (CPC, art. 350).

Em síntese, a essência da defesa reserva os seguintes argumentos:

( I ) afirma ser parte ilegítima na formalização da relação jurídica entre a parte autora
e terceiros;
( II ) impugna a justiça gratuita requerida pela parte autora;

( III ) afirma a falta de interesse de agir pela parte autora;


( IV ) impugna pela concessão da liminar de tutela de urgência concedida a parte
autora;

No mérito resumidamente alega que: “a parte autora contratou empréstimo,


que o requerido não deve ser responsável pela devolução do indébito, ausência de
dano material, dano moral não configurado, ausência de indícios de fraude, bem como
a parte autora se beneficiou do valor do empréstimo, assinatura facial biométrica;

Contudo tais alegações não merecem prosperar, senão vejamos:

II - Dos Fatos
DA IRREGULARIDADE NA CONTRATAÇÃO

O contrato acostado pela ré sob o nº 364780598-9 e 368892558, as fls.


130/146, se trata somente de uma proposta e do inteiro teor de um contrato e não
dois, conforme menciona a ré sob as numerações citadas.

Está claro que não houve contratação, o contrato foi produzido de forma
unilateral, sem o consentimento da parte autora, que por ligação telefônica, foi
informado pela ré que a foto que estava sendo retirada da autora era devida para
cancelamento do contrato bancário, feito indevidamente.

Outro ponto que merece destaque, é que a ré tem que esclarecer como
apossou-se dos documentos da autora bem como seus dados pessoais, bancários e
previdenciários, pois aqui deveria ter obedecido a Lei Geral de Proteção de Dados,
tendo em vista que a autora jamais realizou qualquer autorização para o banco
requerido consultar seus dados. Dessa forma sofreu invasão ilícita dos dados
pessoais, bancários e previdenciários e o banco réu cometeu ilícito penal com fraude
praticada.

Mesmo assim quer a ré fazer crer válida a contratação ora discutida e que
agiu dentro do exercício regular do direito. Excelência a autora não realizou a
contratação do empréstimo consignado em discussão junto a ré.

No caso em tela mesmo após a ré ser devidamente citada, apresentou a


contestação e insiste na existência da contratação e de forma geral, fundamenta toda
sua defesa na validade do contrato supostamente assinado pela parte autora.

Ocorre Excelência, embora a Instituição Financeira ré tenha apresentado


defesa fundada exclusivamente na existência da contratação, o contrato acostado aos
autos está totalmente eivado de vícios passíveis de nulidade, a ré entrou em contato
várias vezes com a autora na qual em uma das ligações apossou de sua foto
afirmando a necessidade de obtê-la para dar prosseguimento no termo de
cancelamento.

As assinaturas de biometria facial não foram praticadas de forma legal para


a contratação dos serviços, conforme informa a ré, e não partiram da vontade
expressa da autora, eis que a foto anexa ao contrato se desviou totalmente da
finalidade para a qual foi solicitada.

Vem ainda a ré em sua defesa alegar que a assinatura de biometria facial


é de inteira responsabilidade da autora que agindo desta forma ainda utilizou-se do
aplicativo do banco para solicitar o empréstimo.

Ora, a autora nunca se utilizou de aplicativos até mesmo porque não tem
conhecimentos técnicos, além do mais foi enganada ao tirar a foto para o
cancelamento do contrato que a ré utilizou para montar uma proposta de adesão ao
empréstimo fraudulento.

E em se tratando de contrato fraudado a incumbência da apresentação da


prova é de quem produziu a fraude (CPC 429, II). Como vastamente relatado na
exordial a autora só tomou conhecimento quando se deparou com o crédito em sua
conta corrente, a partir deste momento entrou em contato com a ré por várias vezes
solicitando o cancelamento do empréstimo indevido.

Ainda assim a ré alega que há falta de interesse de agir pela autora


questionando que não foi informado qualquer tipo de protocolo e informação de
tentativa de solução da problemática em vias administrativas.

A ré tenta desconsiderar veemente toda a documentação juntada a


exordial, principalmente no tocante as conversas obtidas entre autora e ré e até
mesmo com a auditoria da Instituição Financeira.

Ademais, a autora é pessoa simples, humilde, de grandes dificuldades para


entender que tudo isso não passava de uma fraude, pois caso fosse o contrário não
teria em momento algum fornecido seu documento através do WhatsApp para
cancelamento do empréstimo, pois dessa forma a ré utilizou-se dos documentos para
simular um falso empréstimo.

E ainda mais, como teria contato com o Banco PAN, situado no Estado de
São Paulo?

Ora Excelência não seria muito mais fácil a autora solicitar um empréstimo
para o Banco onde recebe seu benefício e possui um ótimo relacionamento, com sede
no mesmo Município?

Portanto, diante da notória falha na prestação de serviços pela ré, verifica-


se que existiu fraude na contratação da operação, falha gravíssima no serviço
prestado, desta forma responde objetivamente nos termos do art. 14 do CDC, bem
como pelo ilícito praticado por terceiro que a representa, conforme súmula 479 do
STJ,

Dessa forma, em razão dos vícios apontados, requer seja acolhida a tese
inicial, declarando-se a violação dos dados pessoais, bancários e previdenciários,
bem como a fraude praticada pela Instituição Financeira ré na realização do suposto
contrato, condenando a reparação civil pretendida na inicial.

DA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE POR PARTE DA AUTORA

Lê-se na contestação nas fls. 102/126, que teria a autora manifestado sua
vontade de contratar de forma livre e consciente. Portanto, afirma a ré, que não há
nos autos hipótese de indícios de vícios do consentimento.

Primeiramente é bom frisar que não houve qualquer manifestação de


vontade, elemento nuclear dos atos jurídicos lato sensu. Em segundo, não há lógica
em abordá-la como livre e consciente, uma vez que ausente sua expressão de
vontade.

Nenhuma fé merecem os documentos acostados a defesa, no tocante a


Cédula de Crédito Bancário, ao apontar uma ilusória contratação de crédito
consignado onde consta supostas assinaturas por biometria facial da autora. As
imagens lá apostas são escancaradamente artificiosas, cuja finalidade era para obter-
se o cancelamento do “falso” empréstimo de que se valeu a ré para “montar” a
proposta de adesão.

Caso este juízo não se sinta convencido quanto à inautenticidade da


contratação, pede-se que a questão seja resolvida incidentalmente, por apresentação
de provas como;

* contrato assinado pela autora de forma escrita, de acordo com seus documentos e
ainda assim constatada sua autenticidade mediante perícia grafotécnica;
* ligações telefônicas gravadas na qual a autora solicita e autoriza o empréstimo junto
a ré.

No mesmo sentido, vejamos posicionamento dos tribunais:

“Tratando-se de contestação de assinatura, o ônus da prova da sua veracidade cabe


à parte que produziu o documento. A fé do documento particular cessa com a
impugnação do pretenso assinante, e a eficácia probatória do documento não se
manifestará enquanto não comprovada a sua veracidade” (STJ-3aT., Ag em REsp
151-216-AgRg-EDcl, Min. João Otávio, j. 17.9.3, DJ 20.9.13).

Desta feita, requer a inversão do ônus da prova, pugnando pela


apresentação de gravações telefônicas e contrato devidamente assinado pela autora,
solicitando e/ou autorizando o empréstimo.

DA VENDA DOS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS

Inicialmente há de ressaltar que a ré não esclarece de forma correta como


os contratos de empréstimo consignado são comercializados.

Os contratos de empréstimo consignados são contratados para as


Instituições Financeiras através de correspondentes bancários ou intermediários
bancários, os quais representam diversas Instituições Financeiras, ou seja, terceiros
que atuam em nome das instituições financeiras na captação, prospecção e
formalização dos contratos de empréstimos novos, portabilidade, refinanciamentos,
cartão de crédito, dentre outros, os quais são remunerados conforme a produção.

Pelo grande número de ações distribuídas contra o banco réu, para resolver
problemas de contratações inautênticas, tudo leva a crer que esta Instituição
estimulou seus correspondentes bancários a praticar fraude contra aposentados e
pensionistas de maneira generalizada.

Há que se observar que as Instituições Financeiras transferem a


responsabilidade para terceiros e consequentemente, esses terceiros, possuem
vínculos profissionais autônomos para realização desses contratos, desta forma
constroem uma cadeia de vendas, com grande margem para golpes, fraudes etc., tudo
isso aos olhos das Instituições Financeiras e com seu tácito consentimento.

O motivo para que fraudes, golpes aconteça é o alto valor da remuneração


paga pelas Instituições Financeiras a esses terceiros, que aproveitando da falta de
sabedoria e da inocência de aposentados e pensionistas encontram terreno fértil para
praticar atos danosos.

As Instituições Financeiras autorizadas a atuar na modalidade de crédito


consignado, não ficam com prejuízo em caso de fraude, transferindo os para os
correspondentes bancários e intermediários, os quais ficam com a comissão retida até
o valor da fraude, porém em momento algum, criam mecanismos para impedir fraudes
e os golpes que afetam essa modalidade de contrato mantendo inclusive impunes os
que aproveitam dos idosos e das pessoas leigas.

Resta patente que as Instituições Financeiras não possuem interesse em


melhorar os mecanismos utilizados para a formação do contrato, nem os
procedimentos adotados para regular as condutas e posturas dos seus
correspondentes, basta a apresentação da documentação solicitada e o contrato
assinado, inclusive supostamente assinados (fraudados).

DO VALOR LIBERADO

Alega a ré a suposta existência de relação contratual havida, e que os


valores foram creditados em conta corrente onde a autora recebe seu benefício
previdenciário, juntando cópia dos valores depositados.

No entanto, apenas com os créditos em sua conta bancária é que a autora


tomou conhecimento dos fatos e pôde entrar em contato com a ré, solicitando a
devolução do valor e o cancelamento dos empréstimos.

Embora, a parte ré traga em sua defesa que em nenhum momento solicitou


a devolução do valor para uma empresa terceira, a autora realizou a devolução do
crédito, conforme procedimentos repassados pelo Banco PAN.

Ora, como a autora poderia fazer a devolução do dinheiro para uma


empresa terceira sem autorização da Instituição Financeira, se nem ao menos teria
conhecimento da existência desta empresa?

De plano cumpre destacar exaustivamente que a autora não firmou


contrato com a ré, que o contrato juntado e a assinaturas de biometria facial não
partiram de sua vontade expressa, pois em nenhum momento fora informada que as
suas imagens seriam utilizadas para formalização dos empréstimos, mas sim para seu
cancelamento.

DA INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO

A autora sofreu transtornos pela cobrança indevida e não contratada,


levado a débito em seu benefício previdenciário pela parte Ré, portanto gerando o
direito de cobrança.
No presente caso a ilicitude, a má fé por parte da ré e seu correspondente
bancário, esteve presente na formação do contrato, pois a assinatura por biometria
facial lá apostas, como já mencionado, não teve seu consentimento.

Não se pode perder de vista que no caso em tela trata-se de uma relação
de consumo, autora consumidora (art. 2º) e a ré fornecedora de serviços bancários
(art. 3º) do CDC, portanto a ré atuou em flagrante desrespeito aos art. 39, inciso III,
enviando produto/serviço não solicitado e art. 46 do mesmo diploma legal, pois a
autora sequer sabia da existência do contrato, portanto, não lhe foi dado oportunidade
de ter conhecimento prévio do contrato. Assim a consequente inversão do ônus
probatório em favor da autora é o que se espera.

Diante disto a nulidade do contrato em face das irregularidades


apresentadas, e sua inexigibilidade, resta cristalina.

Assim a declaração de inexigibilidade do débito discutido, bem como a


procedência da ação é medida de rigor que se impõe.

DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

Como vastamente demonstrado a autora foi submetida a uma fraude. Ato


doloso cometido por correspondente bancário de confiança da ré.

Portanto fica amplamente evidenciado a falha na prestação de serviços


praticadas pela ré.

Dessa forma o contrato deve ser declarado inexistente em virtude de fraude


praticada e da falha na prestação do serviço.

Como exposto o banco réu agiu com conduta contrária a boa-fé objetiva,
devendo devolver a autora os valores indevidamente descontados em benefício
previdenciário, inclusive de forma dobrada conforme o § único do art. 42 do CDC.

De acordo com o STJ, a repetição em dobro dos valores cobrados indevidamente do


consumidor, independe de comprovação de que o fornecedor agiu com má-fé. É
cabível quando configurar como no caso em tela conduta contraria a boa-fé objetiva,
como fraudar contrato.

Abaixo, relação de descontos:


Porém, ao contrário do que quer a ré, estamos diante de caso, preciso e
rigoroso, sobre o qual deve incidir a repetição do indébito, no montante de R$ 8.056,16
(Oito mil, cinquenta e seis reais e dezesseis centavos).

DO DANO MORAL

Sustenta a ré que não teria lugar qualquer indenização por dano moral,
porquanto tenha agido dentro da licitude, que os débitos são oriundos de contrato
firmado com o BANCO PAN, e estaria ele resguardado pelo exercício regular do direito
de cobrança.

Ora, não nos parece que impor o desconto de valores no benefício


previdenciário de qualquer indivíduo seja algo sustentado pela legitimidade e licitude,
ao contrário atentou contra o patrimônio e liberdade negocial da parte autora.
Aproveitou-se da sua vulnerabilidade e fraudou cédula de crédito bancário para
empréstimo com desconto em folha de pagamento (crédito consignado), portanto o
contrato apresentado não possui respaldo legal.

Excelência o banco réu aproveitando-se da hipossuficiência da autora criou


contrato totalmente fraudado e daí decorre a presente ação. Se o Réu tivesse agido
de boa-fé, e realmente negociado com a autora a contratação da operação
questionada colhendo as assinaturas, explicando as cláusulas contratuais, não
estaríamos aqui a discutir o contrato.

Contestações contratuais, insatisfações cotidianas com relações jurídicas,


de fato, todos passam e a maioria não excede a ponto de violar qualquer direito de
personalidade.

Nesse caso, a autora teve sua intimidade agredida, invadiram seu benefício
previdenciário, retiveram indevidamente verba alimentar, não se pode atribuir isso aos
incômodos contratuais corriqueiros, até porque não partem de qualquer contrato, não
tem base em fato jurídico, mas em imposições disparadas, exigências
despropositadas.

Além disso, não parece mero dissabor, mera contrariedade rotineira, ver-
se alvo de contratações inautênticas, ser compelido por alguém e a algo que nunca
teve notícia, procurar de todas as maneiras possíveis libertar-se daquilo a que não se
obrigou, ver-se às cegas, sem saber como e a quem reclamar. Ser vítima de fato
inexplicável, como esse aqui debatido, abala o estado de espírito, incendeia o dia e
acalora os ânimos negativamente.

Ora, se a conduta da parte Ré prejudicou a liberdade contratual da autora,


gerou abalos de espírito que transcendem o aceitável, porquanto o tenha vitimado
com imposições sem fundamento, e se é dever de todos dirigir o devido respeito e
tratamento digno às pessoas idosas, está claro que houve violação da personalidade,
dano extrapatrimonial a merecer indenização.

Nesse sentido, apenas uma condenação expressiva seria legitima como


forma de punição.

Não se olvide que no presente caso trata-se de dano in ré ipsa.

Portanto requer que a parte ré seja condenada ao pagamento postulado a


título de danos morais.

DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA EM FAVOR DA PARTE AUTORA

No que pese todos os argumentos elencados na exordial, a parte ré


contesta pela concessão da gratuidade de justiça em favor da autora.

Conforme já mencionado, a autora possui somente como renda mensal a


pensão de seu falecido esposo utilizada como verba alimentar e para seu próprio
sustento e de sua família.
A parte autora não tem condições de arcar com as custas processuais,
frisa-se que com os descontos indevidos em seu benefício, a autora vem passando
por dificuldades financeiras, razão pela qual, tal situação deve ser considerada por
Vossa Excelência.

Diante do exposto, requer-se a concessão do benefício da gratuidade da


justiça, vez que restou exaustivamente comprovado nos autos a condição
hipossuficiente da parte autora que faz jus à concessão da benesse.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto Requer:

1. Seja a relação jurídica em debate declarada inexistente, com a consequente


devolução em dobro dos valores cobrados, no montante de R$ 8.056,16 (Oito mil,
cinquenta e seis reais e dezesseis centavos).

2. Seja condenada ao pagamento de danos morais no valor a ser arbitrado pelo D


Juizo.

3. Seja declarada cessada a fé dos documentos de fls. 129/148, nos termos do art.
428, inciso I do CPC, resolvendo incidentalmente a arguição de falsidade
documental, em virtude da assinatura biométrica facial aposta no documento no
qual a autora não consentiu e tampouco autorizou.

4. Caso seja contrário o entendimento de Vossa Excelência, requer que seja


determinado que a ré apresente as gravações telefônicas e o contrato de cédula de
crédito bancário com a assinatura da autora e gravações telefônicas onde a autora
tenha expressado sua vontade.

5. Reitera todos os termos expostos na inicial bem como, requer o provimento total
dos demais pedidos da exordial, incluindo a condenação da parte ré em honorários
advocatícios e outras verbas sucumbenciais.

Nestes termos,
P. deferimento.

Ipuiuna, 09 de março de 2023.

Vando da Silva Flemingues


OAB/MG 81.478

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