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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ VARA

DE RELAÇÕES DE CONSUMO DA COMARCA DE SALVADOR, ESTADO DA BAHIA

JOSE MANOEL SODRÉ OLIVEIRA, brasileiro (a), aposentado (a), sem endereço de
e-mail, inscrito (a) no Cadastro Nacional de Pessoa Física sob o nº 173.853.505-34, residente e
domiciliado (a) na Rua Juruna, 16 G, CEP: 40800-180, São Tomé de Paripe - BA, por seus
advogados que ao final subscrevem, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no art. 319 e seguintes do CPC, propor:

AÇÃO ANULATÓRIA DE CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE


MARGEM CONSIGNÁVEL C/C RESTITUIÇÃO DE VALORES E REPARAÇÃO POR DANOS
MORAIS E TUTELA ANTECIPADA

em face do BANCO BMG SA, pessoa jurídica inscrita sob o CNPJ de nº


61.186.680/0001-74, com sede na Av. Brigadeiro Faria Lima, 3477, Bloco B, Andar 9, Bairro Itaim
Bibi, São Paulo – SP, CEP 04.538-133, endereço eletrônico: contencioso.bmg@bancobmg.com.br,
pelos fatos e fundamentos a seguir expendidos:

I – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A parte autora, verdadeiramente, não tem condições de arcar com as


despesas do processo. Uma vez que seus parcos recursos não lhe permitem o pagamento das
custas processuais, sem com isso prejudicar o sustento próprio e de sua família.

Trata-se de pessoa cujas economias são escassas, e que tem no


benefício previdenciário a fonte de renda que lhe garante a sobrevivência. Dessa forma,
requer seja concedido o benefício da justiça gratuita, pois, em caso contrário, o direito
fundamental de acesso à justiça da parte autora restará inviabilizado.

II – DA COMPETÊNCIA TERRITORIAL
Nos termos do art. 46 do CPC/15 é competente o foro do lugar onde está
a sede, para as ações em que a parte ré for pessoa jurídica.

Não obstante, cuidando-se de relação de consumo, a aplicação da regra


de competência para ajuizamento no foro do domicílio do consumidor deve nortear apenas a
conduta processual do fornecedor. O consumidor possui a faculdade de optar pelo foro onde
ajuizar a demanda, com fulcro no art. 101, I, do CDC c/c art. 94.

Cumpre ressaltar que o contrato firmado entre as partes foi realizado em


Salvador, sede da ré.

III – DOS FATOS

De imediato, saliente-se que a parte autora é beneficiária da previdência


social, e depende do valor que recebe mensalmente para pagar as contas e garantir a
sobrevivência. Assim, o ilícito cometido pela ré revela-se ainda mais grave, e como tal, deve
receber uma condenação à altura.

Por conta de determinados problemas financeiros, a parte autora contraiu


um empréstimo na modalidade Consignação em Folha junto a instituição bancária, ora ré. O valor
do contrato nº 12245751, datado de 01/06/2016 foi de aproximadamente R$ 1.000,00
(um mil reais), com parcelas a descontar mensalmente de seu benefício, direto na folha de
pagamento.

Ocorre que, o banco réu começou a descontar o valor de R$ 54,95


(cinquenta e quatro reais e noventa e cinco centavos), como se os empréstimos
estivessem sendo normalmente quitados. Todavia, a parte autora jamais fora informada sobre
aspectos essenciais desses contratos: a quantidade exata de parcelas, a taxa de juros
aplicada, a data da última parcela a ser adimplida, bem como o valor total do
“empréstimo consignado”.

Ao se dar conta dessas irregularidades, a parte autora entrou em contato


com a instituição bancária, ora ré, para questioná-las. Só então foi informada que se tratava de
empréstimo do tipo RMC – Reserva de Margem Consignável.
A parte ré creditou na conta da autora o valor contratado como
empréstimo consignado comum, e descontou o referido valor supra citado sem a sua devida
anuência, uma vez que não foi informada de todos os termos do contrato.

De modo que, desde o momento da contratação, é descontado do


benefício previdenciário mensalmente. Sem que a parte autora tivesse noção de que iria
ser cobrada por um prazo indeterminado.

É creditado na conta bancária do consumidor o valor solicitado para


empréstimo, sendo que a operação e os valores indevidos são descontados pela ré todos
os meses, independente do fato de a parte autora, sem a sua devida anuência.
Inclusive, cumpre ressaltar que a parte acionante nunca recebeu nenhum cartão em
sua residência!

Assim, é cobrado mensalmente do benefício previdenciário do consumidor


o valor supra citado, ou o limite da reserva de margem consignável (5% sobre seu benefício).

Tal conduta é manifestamente ilegal e acaba por gerar um enorme


prejuízo financeiro ao consumidor, uma vez que foi induzido a contrair uma dívida diversa da
pretendida. E ainda se vê obrigado a pagar tarifas e encargos sem que tenha autorizado
expressamente tais descontos.

Habituado a fazer empréstimos consignados, com taxa de juros baixas e


com desconto em folha, a parte autora jamais imaginou estar contraindo uma dívida sem termo
final definido e com rolagem do saldo devedor por meio de crédito rotativo com juros de cartão
de crédito.

A parte autora pensou ter celebrado um contrato de empréstimo


consignado como outro qualquer. Jamais imaginaria ter contraído uma dívida no cartão
de crédito verdadeiramente interminável. Isso porque não há limitação no número de
parcelas, sequer a definição estrita da taxa de juros aplicadas ou do valor global da contratação.

O empréstimo ora questionado foi contratado pela parte Autora no ano


de 2016. Desde então, já foram pagas 68 parcelas do presente contrato, totalizando o montante
de R$3.736,60 (três mil, setecentos e trinta e seis reais e sessenta centavos). Ressalta-
se que este somatório corresponde APENAS AO PAGAMENTO DE JUROS.
A partir dos números expostos acima, resta evidente que o valor
descontado da folha, com passar do tempo, JÁ ULTRAPASSOU EM DIVERSAS VEZES O
VALOR RETIRADO. Assim, caso não seja cessada imediatamente essa cobrança absurda e
indevida, a parte Ré irá enriquecer ilicitamente às custas do benefício previdenciário da parte
autora, até que esta venha a falecer.

Ressalte-se que, NÃO HÁ QUALQUER PREVISÃO PARA O FIM DOS


DESCONTOS. Destarte, diante da conduta abusiva da ré, a parte autora busca a tutela
jurisdicional para que sejam sanadas as irregularidades apontadas e ressarcidos os danos
materiais e morais.

IV – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A legislação consumerista é clara neste ponto. De forma precisa, o art.


6º, III, do CDC estabelece que é direito básico do consumidor a informação clara, adequada, com
especificação correta.

O art. 46 do CDC estabelece que, os contratos reguladores das relações


de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar
conhecimento prévio de seu conteúdo. O que também acontecerá caso o contrato tenha sido
redigido de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Assim, a partir do momento em que não consta de forma expressa no


contrato firmado entre as partes o prazo inicial e final para o fim dos descontos na folha de
pagamento, quantidade de parcelas e o valor total de pagamento com acréscimo de juros, resta
plenamente caracterizado o defeito na prestação do serviço e a abusividade em sua cobrança.

Destarte, conforme detalhadamente explanado acima, resta configurada


a conduta abusiva da instituição bancária. Uma vez que induziu o consumidor a firmar um
contrato de cartão de crédito, com juros e diversos encargos abusivos, travestido de um
empréstimo consignado comum. Ocorreu a subtração de informações obrigatórias e
essenciais que certamente impactariam na decisão do consumidor.

V – DAS PRÁTICAS ABUSIVAS

V.I - DA CONDUTA FRAUDULENTA E DA ONEROSIDADE EXCESSIVA


Ademais disso, para a constituição de Reserva de Margem Consignável
(RMC) requer autorização expressa do beneficiário, por escrito ou por meio eletrônico, nos
termos do que dispõe o Art. 3º, III, da Instrução Normativa INSS n. 28/2008, alterada pela
Instrução Normativa INSS n. 39/2009:

“Art. 3º Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão


por morte, pagos pela Previdência Social, poderão autorizar o
desconto no respectivo benefício dos valores referentes ao
pagamento de empréstimo pessoal e cartão de crédito
concedidos por instituições financeiras, desde que:

III - a autorização seja dada de forma expressa, por escrito


ou por meio eletrônico e em caráter irrevogável e irretratável,
não sendo aceita autorização dada por telefone e nem a
gravação de voz reconhecida como meio de prova de
ocorrência.”

O caso concreto deixa claro que a instituição financeira, de forma


maliciosa e fraudulenta, omitiu informações básicas na fase de contratação, na medida em que
a parte autora acreditou que teria firmado contrato de consignação “tradicional” com desconto
em folha, quando na verdade estava contratando cartão de crédito com reserva de margem
consignável – RMC (crédito rotativo).

Não fosse apenas a abusividade da instituição financeira de fazer com que


o consumidor “levasse gato por lebre”, a contratação equivocada realizada não indicava
informações mínimas quanto à data de início e fim das parcelas referente à obtenção de
empréstimo e taxas de juros aplicadas ao contrato, o que viola o art. 52 do CDC:

“Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que


envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao
consumidor, o fornecedor deverá, entre outros
requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de
juros;
III - acréscimos legalmente previstos;
IV - número e periodicidade das prestações;
V - soma total a pagar, com e sem financiamento.”
A promessa de crédito fácil cumulada com a esmagadora publicidade
direcionada aos aposentados e pensionistas acabam levando grande parcela dessas pessoas a
tomar empréstimos excessivamente onerosos, sem ter real noção do problema que seria
desencadeado em suas vidas.

Resta clara a inexistência do cumprimento do dever de informação e de


esclarecimento ao consumidor, sendo a legislação consumerista direta ao vedar este tipo de
prática nos termos do art. 39, V, do CDC.

V.II - DA NULIDADE DA CONTRATAÇÃO E DA DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES


DESCONTADOS

Dessa forma, é imperioso seja declarada a nulidade da contratação pela


modalidade de empréstimo de cartão de crédito com reserva de margem consignável, com
restituição em dobro dos valores descontados em folha em razão da comprovação da má-fé da
instituição financeira (art. 42, parágrafo único, do CDC), com a extinção da obrigação e
condenação em danos morais.

Por cautela, caso assim não entenda, requer seja modificado o contrato
firmado com a parte Ré, adaptando-o a um contrato tradicional de consignação em pagamento,
respeitando-se as taxas de juros aplicáveis a esta modalidade contratual à época da avença.

Por fim, imperioso observar que descabe aqui qualquer alegação quanto
à prevalência do princípio pacta sunt servanda, eis que na noção moderna dos contratos a
vontade das partes perdeu o status de barreira intransponível, devendo ser buscada a
concretização do real equilíbrio contratual e igualdade entre as partes.

V.III – DO DANO MORAL

Os danos morais são facilmente depreendidos da narrativa fática. Ora,


excelência, o caso em tela trata de uma instituição financeira de lucros gigantescos que
se utiliza de prática furtiva e ilegal para lesar, mensalmente, o benefício
previdenciário que garante a sobrevivência do consumidor.

Para mensurar o dano moral deve-se considerar as características do caso


concreto. Assim, a abismal diferença econômica entre as partes deve ser levada em consideração.
Ademais, deve-se ter em conta também as funções punitivas e pedagógicas dos danos morais.
Infelizmente os fatos ora narrados repetem-se aos montes, o que denota
que tal prática ilegal e abusiva é, em verdade, algo rotineiro para as instituições bancárias. Dessa
forma, impõe-se uma resposta enérgica do Poder Judiciário, visando limitar a ocorrência desse
tipo de ilícito.

Diante disso, a Ré deve ser condenada quanto aos danos morais


suportados pela parte autora em patamar razoável e condizente. O que não quer dizer que a
parte autora deva enriquecer com esta demanda, por outro lado, a condenação também não
deve ser muito baixa, caso contrário tal prática nefasta continuará a ocorrer rotineiramente, com
graves lesões aos consumidores.

V.IV – DA JURISPRUDÊNCIA RELATIVA AOS FATOS

Tais ocorrências já foram, objeto de apreciação judicial, as quais foram


certificadas como condutas ilegais, inclusive, passível de condenação por danos morais, bem
como devolução em dobro dos valores pagos indevidamente e, subsidiariamente, na forma
simples determinada por esse Egrégio Tribunal de Justiça do Estado Bahia, veja-se:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE NULIDADE. CARTÃO DE CRÉDITO
CONSIGNADO. ABUSIVIDADE CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE
INFORMAÇÃO CLARA E PRECISA. DESRESPEITO AO CDC.
NULIDADE CONTRATUAL RECONHECIDA. COMPENSAÇÃO.
POSSIBILIDADE. DANO MORAL
VERIFICADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. PROVIMENTO.
O código de proteção e defesa do consumidor, em seu art. 6º, inciso
IV, dispõe acerca dos direitos básicos do consumidor, destacando-
se o direito a informação e transparência acerca dos serviços
oferecidos. A autora sustenta que a instituição financeira,
aproveitando-se da sua intenção de realizar contrato de empréstimo
consignado, desvirtua este propósito e dissimula a contratação
pretendida com outra modalidade de negócio, que é o cartão de
crédito com reserva de margem consignada. Nesta modalidade a
utilização do crédito enseja a emissão de uma fatura para o mês
subsequente que, se não for paga, implica o desconto do percentual
previsto como margem consignável no salário/benefício do
contratante, sem prejuízo dos encargos incidentes sobre o débito
remanescente. As faturas anexadas demonstram que o cartão
jamais foi utilizado para fazer compras, corroborando a alegação da
autora de que não desejou contratar cartão de crédito. A ré não se
desincumbiu de seu ônus de demonstrar que apresentou as
informações de forma clara ao consumidor pois as cláusulas
contratuais, por si sós, não comprovam o cumprimento do dever de
informação a que o consumidor tem direito, pois não demonstram
de forma clara as consequências do pagamento mínimo através da
reserva de margem consignável, o que onera excessivamente o
consumidor. Rescisão contratual que importa em devolução dos
valores indevidamente cobrados. Permite-se ao apelado que deduza
da quantia devida aqueles valores disponibilizados à apelante
através do saque do cartão de crédito consignado, conforme
autorizado pelo art. 368 do Código Civil. As restrições sofridas pelo
autor devido aos descontos reiterados realizados em sua
remuneração, sem previsão de término e sem redução do valor
devido, trazem consequências graves em sua vida privada que
extrapolam o mero prejuízo patrimonial. No presente caso, seguindo
entendimento adotado pelas Câmaras Cíveis deste tribunal para
casos envolvendo fato do serviço prestado por instituições
financeiras, deve ser fixado valor de R$ 10.000,00. Recurso provido.

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR.


CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO. PRETENSÃO AUTORAL DE
REALIZAR EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. CONTRATAÇÃO
EFETIVA DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
MODALIDADE MAIS ONEROSA PARA O CONSUMIDOR.
AUSÊNCIA DE PROVA. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.
NECESSÁRIA READEQUAÇÃO DA MODALIDADE DE
CONTRATO. DANOS MORAIS FIXADOS EM R$5.000,00.
VALOR RAZOÁVEL ANTE AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO.
RESTITUIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES EVENTUALMENTE
PAGOS A MAIOR. NECESSÁRIO DECOTE. FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO QUE NÃO REPRESENTA POR SI SÓ
A OCORRÊNCIA DE MÁ FÉ. RESTITUIÇÃO QUE DEVE SE DAR
DE MANEIRA SIMPLES. RECURSO PROVIDO EM PARTE.
SENTENÇA REFORMADA. 1. A situação vertida nos autos remonta
à contratação não reconhecida pelo Autor/Apelação, de “cartão de
crédito consignado”, tendo este reportado que procurou o Apelante
para realizar, exclusivamente, a contratação de empréstimo
consignado, tendo sido surpreendido com a contratação do referido
cartão de crédito, sobre o qual passaram a incidir taxas e juros que
considerou abusivos. 2. Em sua argumentação recursal, cinge-se o
Recorrente a discorrer sobre a legalidade da contratação levada a
efeito para com o Autor, sem contudo fazer prova acerca de qual
modalidade efetivamente teria sido requestada pelo Apelado. 3. É
dizer, neste sentido, que não se constatam argumentos capazes de
desconstituir a decisão atacada, na medida em que persiste a
circunstância alusiva à ausência de prova da contratação nos moldes
em que alegado pelo Apelante. 4. Em sendo verossímeis as
alegações articuladas pela parte Autora, e considerando a sua
hipossuficiência em produzir os instrumentos probantes necessários,
se comparado ao Réu, agiu com acerto o magistrado de piso ao
determinar a inversão do ônus da prova, do qual, todavia, não se
desincumbiu o Apelante. 5. Na esteira do quanto assentado pelo Juiz
primevo, muito embora não se ignore as faturas de cartão de crédito
novamente trazidas aos autos pelo Apelante em sede do recurso
interposto, tais expedientes não tem o condão de comprovar que a
contratação pretendida pelo Autor era de cartão de crédito, e não
de empréstimo consignado, como a todo o instante afirmou. 6.
Assentada tal compreensão, não há como se acolher a pretensão de
reforma da decisão atacada nos capítulos atinentes à condenação
pelos danos morais experimentados, bem assim em relação à
determinação de recalculo e eventual restituição de valores pagos
indevidamente pelo Autor, em razão da oferta de crédito em
modalidade distinta daquela que pretendera o Apelado contratar, na
medida em que efetivamente existente a falha na prestação do
serviço, ao se ter implementado, repita-se, empréstimo através de
cartão de crédito, quando em verdade, fora o Acionante levado a
crer que estava contratando empréstimo consignado. 7. Quanto ao
valor em que fixada a indenização pelos danos anímicos
experimentados, tem-se que o montante de R$ 5.000,00 atende ao
necessário caráter pedagógico que deve nortear a fixação da
indenização, sem representar, lado outro, enriquecimento sem
causa da parte Autora. Em relação ao termo inicial dos juros que
devem incidir sobre o referido montante, tem-se que devem seguir
o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes
julgados: AgInt no AREsp nº 1.244.774/PE. (4ª Turma. Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira. DJe de 05.11.2019) e REsp nº
1.371.045/SP (4ª Turma. Rel. Min. Lázaro Guimarães – Convocado
TRF-5. Dje de 02.05.2018). 8. Assim, tratando-se de
responsabilidade contratual, a plica-se a correção monetária desde
o arbitramento para a indenização por danos morais (Súmula nº
362 do STJ), ao passo que os juros moratórios devem incidir da
citação, conforme art. 405 do Código Civil, como acertadamente
decidido pelo Juiz de piso. 9. Por fim, ante a reconhecida falha na
prestação de serviço, acertada a providência determinada na
sentença no sentido da readequação do contrato, com a necessária
restituição dos valores eventualmente pagos a maior pelo Autor, que
no entanto é de se dar de forma simples, e não em dobro como
entendeu o juízo a quo, posto que, ainda que a realização de
contratação de empréstimo em modalidade diversa daquela
pretendida pelo Autor configure, como visto, inequívoca falha na
prestação do serviço, não induz, por si só, à ocorrência de má-fé na
conduta da parte Acionada. 10. Todavia, é de ser refutada a
pretensão articulada pelo Recorrente de ser restituído dos valores
eventualmente sacados pelo Autor através de cartão de crédito, na
medida em que não consta que tenha o Apelado se omitido em
proceder ao regular pagamento do empréstimo contraído, inclusive
em valores superiores aos devidos, já que tomando-se por base
modalidade de empréstimo mais onerosa do que aquela que
efetivamente pretendera contratar. 11. Ao cabo, considerando que
sucumbira o Recorrente na quase totalidade dos pleitos articulados
em sede recursal, com exceção daquele atinente à obrigação de
restituição dos valores pagos a maior pelo Autor, é de ser
redistribuído o ônus sucumbencial, que ora majorado para 20% do
proveito econômico obtido pelo Autor, por força do comando inserto
no art. 85, §11 do CPC, é de ser suportado na proporção de 90%
para o Apelante, e 10% para o Apelado, sendo que em face deste
último resta a sua exigibilidade suspensa em razão do deferimento,
na origem, dos benefícios da assistência judiciária gratuita. 12.
Recurso Provido em parte.
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO
CONSUMIDOR. AÇÃO ANULATÓRIA DE CONTRATO
BANCÁRIO. CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO. CONSUMIDOR QUE CONTRATOU A
OPERAÇÃO ACREDITANDO SE TRATAR DE UM EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO COMUM. VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES
DA PARTE AUTORA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. FATURAS
QUE NÃO COMPROVAM A UTILIZAÇÃO DO CARTÃO. CONTRATO
FIRMADO DE FORMA VIRTUAL. CIRCUNSTÂNCIA QUE EXIGE
AINDA MAIOR CAUTELA DA INSTITUIÇÃO CONCEDENTE NA
PRESTAÇÃO DE TODAS AS INFORMAÇÕES PERTINENTES AO
CONSUMIDOR. FORNECEDOR QUE NÃO SE DESINCUMBIU DO
ÔNUS PROBATÓRIO A SEU ENCARGO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO. DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE INFORMAÇÃO
PRECONIZADO NO ARTIGO 6º, INCISO III, DO CDC. VIOLAÇÃO, EM
ÚLTIMA ANÁLISE, À FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E AOS
PRINCÍPIOS DA PROBIDADE E BOA-FÉ. DANO MORAL
CONFIGURADO. MAJORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO PARA O
IMPORTE DE R$10.000,00 (DEZ MIL REAIS), EM
OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE
E DA PROPORCIONALIDADE. HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS. MAJORAÇÃO EM SEDE RECURSAL. RECURSO
DO RÉU CONHECIDO E IMPROVIDO. APELO DO AUTOR
CONHECIDO E PROVIDO PARA MAJORAR A QUANTIA ARBITRADA
A TÍTULO DA DANO MORAL.

Assim sendo, com base em tudo que foi elucidado acima, bem como
precedentes deste Eminente órgão Julgador, requer a devolução em dobro, bem como o
arbitramento por danos morais.

VI – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A legislação consumerista faculta ao magistrado determinar a inversão do


ônus da prova em favor do consumidor conforme seu artigo 6º, VIII:

"Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII- A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando,
a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência".

Assim, estando presentes a verossimilhança do direito alegado, sobretudo


pelo material probatório acostado, bem como a hipossuficiência da parte autora, vide sua
documentação anexa, requer o deferimento da inversão do ônus da prova no presente caso.

Ademais o banco requerido detém todas as informações necessárias à


perquirição dos exatos termos do empréstimo, pois tem o dever de conservar a cópia do
instrumento contratual.

VIII – DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

Os pressupostos necessários à concessão da antecipação da tutela


requerida pelo Autor encontram-se devidamente demonstrados nos autos.

A probabilidade do direito invocado existe, uma vez que a parte autora


junta aos autos extrato financeiro, comprovando que o valor pago é muito superior a qualquer
contrato de empréstimo que se pretenda minimamente aceitável.

Bem como o perigo da demora, exteriorizado pelo fato de que a parte


autora sobrevive por meio do seu benefício previdenciário que está sendo lesado mensalmente.
SEM QUALQUER PREVISÃO PARA O FIM DOS DESCONTOS INDEVIDOS, portanto,
também sem qualquer previsão de quando a ação lesiva irá ter fim.

Assim, verifica-se que a situação da parte Autora atende perfeitamente a


todos os requisitos esperados para a concessão da medida antecipatória. Desta feita, requer a
tutela de urgência para que a instituição bancária ré seja obrigada, de imediato e sem sua oitiva,
a suspender as cobranças oriundas dos contratos de empréstimo RMC celebrados,
tendo em vista a inexistência do termo final, declarando-os nulos.

IX – DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

1. Os benefícios da justiça gratuita por ser a parte autora


juridicamente hipossuficiente (Art. 4º da Lei 1.060/50);

2. A citação da parte demandada, para, querendo, oferecer resposta,


no prazo legal, sob pena de revelia e confissão. Neste mesmo prazo seja a instituição financeira
intimada para trazer aos autos cópia original do contrato de empréstimo assinado pelo
consumidor, bem como todas faturas de cobrança emitidas no período do contrato, para que
possam ser submetidas à prova pericial;

3. Requer, liminarmente, a antecipação dos efeitos da tutela,


determinando que o Banco Réu, seja obrigado a suspender imediatamente as cobranças
oriundas dos contratos de empréstimo de cartão crédito travestido de empréstimos
consignados, tendo em vista a inexistência do termo final, bem como declarando-o nulo, sob
pena de multa diária a ser arbitrada por este r. juízo;

4. Sejam julgados procedentes os pedidos com a declaração de


nulidade da contratação questionada e extinção da obrigação;

5. Seja a ré condenada na devolução em dobro de todos os valores


descontados indevidamente desde a contratação até a elaboração do presente cálculo, no
montante de R$ 7.473,20 (sete mil, quatrocentos e setenta e três reais e vinte
centavos) bem como as parcelas vincendas, com juros e correção monetária;

6. Seja o Banco Requerido condenado na obrigação de fazer da


liberação imediata da reserva de margem consignável de 5%, e suspensão dos descontos na
folha de pagamento do benefício do requerente, sob pena de multa diária;

7. Seja o requerido condenado ao pagamento de indenização a título


de danos morais causados à parte requerente no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais),
conforme entendimento já pacificado neste Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da
Bahia;

8. Por fim, caso não entenda pela nulidade contratual, seja o requerido
condenado na obrigação de fazer de conversão da contratação em empréstimo consignado
“tradicional”. Respeitando-se as taxas de juros médias de mercado, aplicáveis a esta modalidade
contratual, sendo os valores já descontados a título de RMC utilizados para amortizar o saldo
devedor, o qual deverá ser feito com base no valor original liberado (negociado), com
manutenção dos pedidos ‘6’ (liberação imediata da reserva de margem) e ‘7’ (danos morais); e
devolução dos valores pagos indevidamente.

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito


admitidos, especialmente depoimento pessoal do representante legal da reclamada e juntada de
documentos, bem como a prova pericial para atestar a veracidade dos documentos acostados
pelas partes, em especial, O CONTRATO ORIGINAL DE CRÉDITO BANCÁRIO.

Valor da Causa: R$ 17.473,20 (dezessete mil, quatrocentos e


setenta e três reais e vinte centavos).

Termos em que, pede deferimento.

Salvador/BA, 31 de janeiro de 2022.

PEDRO SOLINO
OAB/BA 44759

JOÃO OLIVEIRA
OAB/BA 44774

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