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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE

DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA COMARCA DE MÁRINGA/PR.

PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO: IDOSO

MARLENE LEITE DA SILVA, pessoa física, brasileira, casada,


aposentada, inscrita no CPF sob o n° 92921582953, e RG n° MG –
49922701, residente e domiciliada na rua Alexandra, nº 91, ap. 14,
bloco 14 e quadra 100 no Parque Residencial Patricia em Maringá/PR,
com endereço eletrônico em leitemarlene357@gmail.com e telefone para
contato 44 98048243, através de sua procuradora que a esta subscreve
(procuração em anexo), vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO


C/C DANOS MORAIS COM PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA
PARTS

em face do BANCO BMG S/A, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob nº 61.186.680/0001-74, com
sede na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, nº 1830, 13º
andar – Torre 1, São Paulo – SP, CEP: 04543 – 000, com
endereço eletrônico atendimentobmg@bancobmg.com.br , pelas
razões de fato e de direito a seguir expostas.

1
I. DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, requer a V. Exª, seja deferido o benefício de


Gratuidade de Justiça, com fulcro na Lei nº 1.060/50, com as
alterações introduzidas pela lei nº 7.510/86, por não ter a Autora
condições de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios
sem prejuízo do seu sustento.

A autora que recebe apenas um salário-mínimo de


aposentadoria, também possui empréstimos, inclusive este em que
pleiteia a alteração contratual e despesas pessoais que no total
comprometem mais de 60% da sua renda.

Destarte, requer, portanto, com fundamento no art. 5º, inciso


LXXIV da Constituição Federal e no art. 98 e seguintes do Código de
Processo Civil, a concessão dos benefícios da assistência judiciária
gratuita.

II. DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO

Para fins do presente pedido, junta em anexo cópia do


documento de identidade comprovando que o Requerente é pessoa
idosa, contando com mais de 60 (sessenta) anos, razão pela tem direito
à prioridade da tramitação da presente demanda, nos termos da Lei nº
10.741/2013 (Estatuto do Idoso) e do art. 1.048, inciso I, do CPC.

Assim, considerando que o Requerente já dispõe de 64 anos,


não dispondo de muita saúde para aguardar o trâmite normal do
processo, requer prioridade na tramitação dos atos processuais
seguintes.

2
III. DO DESINTERESSE DA AUDIÊNCIA CONCILIATÓRIA (art. 331,
§ 4º, I CPC):

A parte Autora manifesta desinteresse na Audiência


conciliatória, requerendo desde já sua retirada da pauta.

Menciona também que no prazo do artigo 335, I do CPC irá


apresentar sua réplica, caso haja a contestação da parte Ré.

Ademais, observa-se que presente demanda se insere entre


aquelas em que, por sua natureza ou parte(s), é público, notório e
incontestável, que a tentativa de solução amigável do litígio costuma ser
infrutífera.

Sendo assim, pode-se afirmar que a designação audiências de


conciliação e/ou instrução e julgamento não se mostram compatíveis
com os princípios da informalidade, celeridade, economia processual e
simplicidade, todos, previstos no art. 2º da Lei nº. 9.099/95, e nem com
o princípio constitucional da eficiência. Bom lembrar, ainda, que por
força do advento do NCPC, tal procedimento encontra-se, do mesmo
modo, em conflito com os princípios da adequação e cooperação, não
sendo necessária por tanto sua designação.

IV. DOS FATOS

A Requerente, que é aposentado do INSS, contratou junto ao


Banco Réu, um empréstimo consignado, nº 850239655-2, na
modalidade consignação em folha de pagamento, com início de contrato
em 23 de setembro de 2015.

O valor do empréstimo consignado foi de R$ 788,00 (setecentos


e oitenta e oito reais), em uma oferta de 18 meses, com parcelas fixas
no valor de R$ 52,25 (cinquenta e dois reais e vinte e cinco centavos).

O valor liberado foi depositado via TED na conta corrente em que


a Autora recebe o benefício previdenciário.

3
Ocorre que, após o prazo de 18 meses de descontos, ao invés de
findar o contrato, as parcelas continuam sendo descontadas do
benefício da Autora.

Inconformado, o consumidor entrou em contato com o INSS,


para ter acesso ao seu histórico de crédito, e foi informado que os
descontos se referiam a contratação de empréstimo modalidade cartão
de crédito RMC, o qual é descontado mês a mês, sem data fim pré-
fixada:

Em que pese a boa-fé, importante ressaltar que a Autora


celebrou SIM contrato de empréstimo consignado com desconto em seu
benefício junto ao Banco Réu. No entanto, NUNCA SOLICITOU OU
CONTRATOU CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO, pois fora em
busca de um empréstimo consignado COMUM e assim acreditou ter
contratado. Até porque a contratação do empréstimo se deu como todos
os outros anteriores que o aposentado já realizou. Ou seja, houve
especificação do valor liberado, parcelas fixas com data início e fim
para acabar e o valor contratado foi depositado na conta corrente
em que o aposentado recebe seu benefício.

Ocorre que, o Réu, objetivando lucro a qualquer custo, embutiu


a Autora um Cartão de Crédito Consignado maquiado de Empréstimo
Consignado, denominado de “Reserva de Margem Consignada (RMC), o
qual vem sendo descontado até então.

Cumpre destacar também que a Autora jamais autorizou tais


descontos em seu benefício previdenciário ou tinha interesse nesse tipo
de reserva, e, como de praxe, sequer foi informado pela instituição
financeira acerca da constituição da Reserva de Margem Consignável,
inclusive sobre o percentual que seria averbado em seu benefício
previdenciário.

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Dessa forma, por não ter autorizado o desconto, tampouco
recebeu/desbloqueou/utilizou cartão que justificasse o débito! Logo, o
Banco Réu NÃO DEVERIA estar descontando do consumidor valores a
título de Empréstimo sobre a RMC e de Reserva de Margem de Crédito
(RMC).

O Autor acreditava que os valores descontados do seu benefício


eram referentes ao pagamento do empréstimo consignado comum
contratado, mas descobriu recentemente que foi ENGANADO, levado a
crer, durante todo o período após a contratação – 23/09/2015 -, que
seu empréstimo estava sendo amortizado mês a mês e findando as 18
parcelas cessariam os descontos, reestabelecendo o valor da sua
Aposentadoria.

Excelência, o Autor jamais concordaria em contratar a


modalidade de cartão de crédito RMC ou descontar valores a maior
de seu benefício previdenciário, haja vista que ele necessita de
cada centavo para garantir sua subsistência, razão pela qual, assim
que teve conhecimento da conduta fraudulenta da instituição
financeira, imediatamente decidiu por ingressar com a presente ação no
intuito de solicitar a alteração da modalidade cartão de crédito RMC
para empréstimo consignado comum e reaver os valores descontados
indevidamente e sem qualquer autorização.

Ademais, é sabido que a modalidade de empréstimo de cartão de


crédito RMC, sem a autorização do consumidor, se trata de DÍVIDA
ETERNA, haja vista que a reserva da margem de 5% (cinco por cento) e
os descontos do valor mínimo dos vencimentos previdenciários do Autor
geram lucro desmedido e exorbitante para o Banco e torna a dívida do
Autor IMPAGÁVEL. Frisa-se ainda que o valor que é descontado de 5%,
para o aposentado, é um valor muito expressivo, pois recebe apenas um
salário-mínimo e já possui o desconto de R$ 191,10 (cento e noventa e
um reais e dez centavos) de empréstimos consignáveis. Percebendo o
valor total de R$ 856,65 (oitocentos e cinquenta e seis reais e sessenta

5
e cinco centavos) para arcar com dívidas alimentares, remédios e
moradia.

Ora, o aposentado já recebe um valor extremamente insuficiente


para satisfazer todas as necessidades de uma subsistência digna.
Agora, por favor, digne-se Excelência, como esse mesmo
aposentado poderia contratar de própria vontade e consentimento
um empréstimo com anatocismo, cujas parcelas não têm data fim
para acabar e o montante pago no decorrer dos anos podem
ultrapassar 3 vezes o valor liberado? De fato, é inconcebível tal
suposição.

A situação fatídica demonstra que desde setembro de 2015 até a


presente data o autor já pagou 72 parcelas de R$ 52,25 (cinquenta e
dois reais e vinte e cinco centavos), totalizando R$ 3.762,00 (três mil e
setecentos e sessenta e dois reais), ao Banco Réu, ou seja, mais de 04
(quatro) vezes o valor depositado, cuja quantia sequer abateu o valor
liberado de R$ 788,00 (setecentos e oitenta e oito reais), implicando
certamente em enriquecimento sem causa à Instituição Financeira e de
imensurável prejuízo a parte Autora.

Portanto, Excelência, além do Banco Réu ter agido com má-


fé por embutir produto não contratado ao consumidor, o débito em
comento jamais será pago se prosseguir na modalidade Cartão de
crédito RMC, vez que os descontos mensais são apenas juros e
encargos da dívida, gerando descontos da verba remuneratória do
consumidor por prazo indeterminado.

Para elucidar melhor a situação, o referido empréstimo foi


submetido à análise pericial, conforme parecer técnico/jurídico juntado
nos autos, oportunidade em que se faz prova a planilha/cálculo
demonstrativa (documento anexo), apontando diversas irregularidades.

Destaca-se que a ANÁLISE PERICIAL, realizou o comparativo


entre as duas modalidades de empréstimos – consignado tradicional

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(comum) e cartão de crédito RMC, sob o prisma de verificar as reais
condições praticadas pela instituição financeira.

Com o resultado de tal apuração financeira, feita consulta na


calculadora do cidadão no Site do Banco Central, ficou evidenciada, que
o negócio jurídico não foi pautado sob o princípio da boa-fé, vez que, o
Banco Réu convencionou ao Autor produto prejudicial e diferente do
solicitado. Conforme se comprova:

COLAR AQUI ETAPAS DO CÁLCULO PERICIAL

● Logo, é notório reconhecer que as demais 54 (cinquenta e

quatro) parcelas de R$ 52,25 (cinquenta e dois reais e vinte e cinco


centavos), foram cobradas indevidamente, uma vez que o contrato de
empréstimo foi quitado com 18 (dezoito) parcelas. Devendo, portanto, o
Banco Réu, além de alterar a modalidade cartão de crédito RMC para
empréstimo consignado comum, também indenizar o autor pelo
indébito em dobro no valor de R$ 5.643,00 (cinco mil e seiscentos
e quarenta e três reais). Todos os detalhes dos cálculos estão
elencados no Parecer técnico/jurídico e planilhas anexas.

Ressalta-se que, como o contrato não tem “data fim”, as


parcelas pagas após a 18ª prestação, até o momento, somam o valor
de R$ 2.821,50 (dois mil e oitocentos e vinte e um reais e cinquenta
centavos), cabendo indébito em dobro sobre o valor pago
indevidamente, totalizando o valor de R$ 5.643,00 (cinco mil e
seiscentos e quarenta e três reais) a serem pagos ao consumidor
prejudicado.

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Diante disso, ora Excelência, a parte autora não quer de modo
algum levar vantagem contra o Banco Réu, porém não pode ser lesada
somente pela magnitude de atuação da instituição financeira. A
intenção do Autor não é se eximir de suas obrigações, mas, e está
cabalmente DEMONSTRADO e COMPROVADO com o CÁLCULO
PERICIAL, que os princípios de lealdade e de boa-fé não foram
observados pelo Banco-Réu, pois não resta dúvidas que a intenção do
autor não era a contratação de um cartão de crédito consignado, mas
sim de um empréstimo consignado tradicional (comum) a ser pago em
parcelas fixas e determinadas.

Por esta razão, serve a presente demanda para requerer que


seja declarado nulo o contrato de nº 850239655-2, com a
transformação da dívida em empréstimo consignado tradicional,
devendo assim, o contrato ser recalculado pela média do mercado
posto que mais vantajoso ao mutuário.

Portanto, Vossa Excelência, mediante a conduta ardilosa


apresentada pelo banco Réu, a parte Autora requer que seja
aplicado a esta operação a Taxa Média de juros utilizada no
mercado e consequentemente reconheça e reenquadre o valor ao
contrato.

V. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

a) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Inicialmente, cabe ressaltar que se trata de questões


circunstanciais às relações de consumo, justificando a escolha desse
foro para apreciá-la, a teor do artigo 101, I do CDC 1, prevendo a
1
Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II
deste título, serão observadas as seguintes normas:
I – a ação pode ser proposta no domicílio do Autor.
Dispõe a Constituição Federal de 1988 (CF/88) em seu artigo 5º, inciso XXXII, que “o Estado promoverá, na forma da
lei, a defesa do consumidor”. A defesa de seus direitos é, portanto, garantia constitucional.
Dessa forma, por meio da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, o Estado Brasileiro instituiu o CDC, que regulamenta
as formas de proteção do consumidor, com normas de ordem pública e interesse social, em consonância com a CF/88

8
possibilidade de propositura da demanda no domicílio do Autor
porquanto reconhecidamente hipossuficiente.

Entre os direitos básicos previstos no CDC está à garantia de


reparação dos danos patrimoniais e morais, o acesso à justiça e a
inversão do ônus da prova em favor do consumidor, nos termos do
artigo 6º, incisos VI, VII e VIII.

Cumpre destacar, em relação ao artigo 6º, VIII, do CDC, que o


Autor encontra-se em nítida desvantagem em relação ao Réu, o que por
si só autoriza a inversão do ônus probandi, uma vez que se trata de
aplicação do direito básico do consumidor, inerente à facilitação de sua
defesa em juízo.

Sobre a relação de consumo, as partes enquadram-se nos


conceitos de consumidor e fornecedor conforme dispõem os artigos 2º e
3º do CDC, vez que o Autor é consumidor final e o Réu instituição
financeira, nos termos da Súmula 297 do STJ.2

Sendo assim, inexistem maiores dificuldades em se concluir pela


aplicabilidade do referido Código, visto que a norma pretende aplicar-se
a todas as relações desenvolvidas no mercado brasileiro que envolvam
um consumidor e um fornecedor.

Portanto, requer desde logo que o caso seja analisado e julgado


sob o prisma da relação de consumo, deferindo-se em favor do Autor o
benefício da inversão do ônus da prova consoante artigo 6º, VIII, do
CDC3, ante a manifesta hipossuficiência técnica e financeira em relação
ao Réu.

2
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.
3
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

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Assim, o princípio da força obrigatória contratual (pacta sunt
servanda) deve ceder e se coadunar com a sistemática do Código de
Defesa do Consumidor.

a.1) Dos vícios de informação

O Código de Defesa do Consumidor, orientado pelo princípio da


boa-fé contratual, estabelece de forma clara, em seu art.6°, III, ser
direito básico do consumidor “a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os
riscos que apresentem”.

Decorrente deste direito à informação encontra-se a obrigação


legal do contratado de fornecer todo esclarecimento e informações ao
consumidor, possibilitando sua compreensão plena e real acerca dos
termos acordados.

Ressalta ainda que a obrigatoriedade da transparência nas


relações jurídicas não precisa estar explicitada no contrato, porquanto o
comportamento probo dos contratantes na execução das obrigações
pactuadas constitui premissa maior inserida no padrão genérico exigível
de conduta. Neste sentido, vejamos:

“Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não


obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a
oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo,
ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a
dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.”

O STJ já se posicionou diversas vezes sobre o tema, decidindo


que informação adequada, nos termos do art. 6º, III, CDC, é aquela que
se apresenta simultaneamente completa, gratuita, útil, vedada, neste
último caso, a diluição da comunicação efetivamente relevante pelo uso
de informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer

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serventia para o consumidor (STJ, Resp 586.316, Rel. Min. Herman
Benjamin, 2ª T., DJ 19/03/2009).

Não há que se negar que o Autor tenha mencionado expressa


autorização em permitir ser realizado o desconto consignado em
seu benefício previdenciário, mas somente da forma como fora
pactuado.

O consumidor, como tantos brasileiros, não detém (nem deveria


deter) conhecimento técnico apto a compreender todas as vicissitudes
do contrato.

Porquanto, é dever do BANCO, pela sua incomparável estrutura


técnica e econômica, esclarecer aos consumidores.

Vejamos o que diz o Código do Consumidor sobre o assunto:

“Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham


sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem
que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.

§ 3° Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos


claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da
fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua
compreensão pelo consumidor

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do


consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo
sua imediata e fácil compreensão.”

Por fim, veja-se da abusividade da prática elencada:

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços,


dentre outras práticas abusivas:

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor,


tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição
social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços
que:

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IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas,
que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;”.

Do exposto, conclui-se que o Réu não presta a devida


informação aos consumidores impedindo a compreensão e
questionamento da modalidade de empréstimo contratada.

Como já afirmado, o não esclarecimento enseja vício insanável


destas cláusulas que não obedecem às regras legais de dever de
informação, podendo ser revistas, sem prejuízos de multa a ser
cominada para a Instituição Financeira descumpridora de suas
obrigações.

a.2) Lei 14.181/21 (Lei do Superendividamento)

Acerca da relevância do dever de informação, já erigido a


principio no Código de Defesa do Consumidor, calha destacar a recém
sancionada Lei 14.181/21 (Lei do Superendividamento), que altera a lei
consumerista, inserindo dispositivos que buscam reiterar ainda mais tal
dever.

A exemplo, os incisos XI e XII do artigo 6º do CDC, que foram


incluídos com a seguinte redação:

XI - a garantia de práticas de crédito responsável, de educação


financeira e de prevenção e tratamento de situações de
superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos
termos da regulamentação, por meio da revisão e da
repactuação da dívida, entre outras medidas;

XII - a preservação do mínimo existencial, nos termos da


regulamentação, na repactuação de dívidas e na concessão de
crédito

A propósito, o artigo 54-B do CDC, também incluído pela lei do


superendividamento, traz uma preocupação ainda maior quanto à

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oferta do crédito e o esclarecimento do consumidor no momento da
contratação, senão vejamos:

Art. 54-B. No fornecimento de crédito e na venda a prazo, além


das informações obrigatórias previstas no art. 52 deste Código
e na legislação aplicável à matéria, o fornecedor ou o
intermediário deverá informar o consumidor, prévia e
adequadamente, no momento da oferta, sobre:

I - o custo efetivo total e a descrição dos elementos que o


compõem;

II - a taxa efetiva mensal de juros, bem como a taxa dos juros


de mora e o total de encargos, de qualquer natureza, previstos
para o atraso no pagamento;

III - o montante das prestações e o prazo de validade da


oferta, que deve ser, no mínimo, de 2 (dois) dias;

IV - o nome e o endereço, inclusive o eletrônico, do fornecedor;

V - o direito do consumidor à liquidação antecipada e não


onerosa do débito, nos termos do § 2º do art. 52 deste Código e
da regulamentação em vigor.

§ 1º As informações referidas no art. 52 deste Código e no


caput deste artigo devem constar de forma clara e
resumida do próprio contrato, da fatura ou de instrumento
apartado, de fácil acesso ao consumidor.

§ 2º Para efeitos deste Código, o custo efetivo total da operação


de crédito ao consumidor consistirá em taxa percentual anual e
compreenderá todos os valores cobrados do consumidor, sem
prejuízo do cálculo padronizado pela autoridade reguladora do
sistema financeiro.

§ 3º Sem prejuízo do disposto no art. 37 deste Código, a oferta


de crédito ao consumidor e a oferta de venda a prazo, ou a
fatura mensal, conforme o caso, devem indicar, no mínimo,
o custo efetivo total, o agente financiador e a soma total a
pagar, com e sem financiamento.'

Complementando, constitui prática totalmente repudiada pela lei


consumerista a publicidade e oferta de produtos que dificultem a
compreensão do consumidor acerca dos ônus e riscos da contratação do
crédito, devendo o fornecedor informar e esclarecer adequadamente,
levando-se em consideração a idade, sobre a natureza e modalidade do
crédito oferecido.

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Não se olvide que as maiores “vítimas” desta modalidade
contratual são aposentados, pessoas idosas, muitas vezes analfabetos,
ou seja, HIPERVULNERÁVEIS, que já recebem uma parca renda e, em
busca de crédito, acreditam na promessa “milagrosa” da concessão de
um crédito a longo prazo, com parcelas reduzidas, mas desconhecem as
reais condições de contratação.

A propósito em razão da relevância e da inovação, transcreve-se


o mencionado nos artigos 54-C e 54-D incluídos no CDC que
demonstram claramente a preocupação do legislador em preservar o
consumidor principalmente na fase pré-contratual. Ressalte-se que
todas as disposições inseridas, já decorriam de dever de informação
preconizado no artigo 6º do CDC, porém, diante da relutância de
aplicação por muitos e diante da baixa efetividade, tornou-se necessário
constas explicitamente na legislação o que já era de hialina clareza:

Art. 54-C. É vedado, expressa ou implicitamente, na oferta de


crédito ao consumidor, publicitária ou não:

I - (VETADO);

II - indicar que a operação de crédito poderá ser concluída sem


consulta a serviços de proteção ao crédito ou sem avaliação da
situação financeira do consumidor;

III - ocultar ou dificultar a compreensão sobre os ônus e os


riscos da contratação do crédito ou da venda a prazo;

IV - assediar ou pressionar o consumidor para contratar o


fornecimento de produto, serviço ou crédito, principalmente
se se tratar de consumidor idoso, analfabeto, doente ou em
estado de vulnerabilidade agravada ou se a contratação
envolver prêmio;

V - condicionar o atendimento de pretensões do consumidor ou


o início de tratativas à renúncia ou à desistência de demandas
judiciais, ao pagamento de honorários advocatícios ou a
depósitos judiciais.

Parágrafo único. (VETADO).'

'Art. 54-D. Na oferta de crédito, previamente à contratação, o


fornecedor ou o intermediário deverá, entre outras condutas:

I - informar e esclarecer adequadamente o consumidor,


considerada sua idade, sobre a natureza e a modalidade do
crédito oferecido, sobre todos os custos incidentes,
observado o disposto nos arts. 52 e 54-B deste Código, e

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sobre as consequências genéricas e específicas do
inadimplemento;

II - avaliar, de forma responsável, as condições de crédito


do consumidor, mediante análise das informações
disponíveis em bancos de dados de proteção ao crédito,
observado o disposto neste Código e na legislação sobre
proteção de dados;

III - informar a identidade do agente financiador e entregar ao


consumidor,ao garante e a outros coobrigados cópia do
contrato de crédito.

Parágrafo único. O descumprimento de qualquer dos deveres


previstos no caput deste artigo e nos arts. 52 e 54-C deste
Código poderá acarretar judicialmente a redução dos juros,
dos encargos ou de qualquer acréscimo ao principal e a
dilação do prazo de pagamento previsto no contrato
original, conforme a gravidade da conduta do fornecedor e
as possibilidades financeiras do consumidor, sem prejuízo
de outras sanções e de indenização por perdas e danos,
patrimoniais e morais, ao consumidor.'

Relevante mencionar o disposto do parágrafo único do artigo 54-


D. O dispositivo prevê como regra impositiva e não alternativa
INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS, PATRIMONIAIS E MORAIS no
caso de oferta de crédito que não observe as regras dos artigos 52 e 54-
C, ou seja, que violem o dever de INFORMAÇÃO.

Aliás, não é demais mencionar que o artigo 46 da lei


consumerista preconiza que os contratos que regulam as relações de
consumo NÃO OBRIGARÃO os consumidores, se não lhes for dada a
oportunidade de tomar conhecimento PRÉVIO de seu conteúdo, ou se
os seus respectivos instrumentos forem redigidos de modo a
DIFICULTAR A COMPREENSÃO DE SEU SENTIDO OU ALCANCE.

Conforme entendimentos dos tribunais:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INDENIZAÇÃO. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
CONSIGNADO - SAQUE. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA.APELO DO BANCO. CONSUMIDOR QUE
PRETENDIA CONTRATAR EMPRÉSTIMO CONSIGNADO E
OBTEVE O NUMERÁRIO POR MEIO DE SAQUE EM CARTÃO
DE CRÉDITO CONSIGNADO. MODALIDADE CONTRATADA –
SAQUE POR CARTÃO DE CRÉDITO – EXTREMAMENTE
ONEROSO QUANDO COMPARADO COM A MODALIDADE
PRETENDIDA – EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. FALHA NO

15
DEVER DE INFORMAÇÃO. CONTRATAÇÃO QUE COLOCA O
CONSUMIDOR EM DESVANTAGEM EXAGERADA.
INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 39, IV, V, E 51, IV E § 1º, DO
CDC. NULIDADE DO CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
DIANTE DA IMPOSSIBILIDADE DE INTEGRAÇÃO. RETORNO
DAS PARTES AO STATUS QUO ANTE. DEVER DO
CONSUMIDOR DE DEVOLVER OU COMPENSAR OS VALORES
RECEBIDOS PELO CONTRATO NULIFICADO, CORRIGIDOS
MONETARIAMENTE. DEVOLUÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO
POR PARTE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, CORRIGIDOS
MONETARIAMENTE E ACRESCIDO DE JUROS DE MORA.
POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO. DANOS MORAIS
DECORRENTES DA CONDUTA DO BANCO. VERIFICAÇÃO.
ATITUDE ALTAMENTE REPROVÁVEL DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. OFERTA DE CONTRATO EXTREMAMENTE
DESVANTAJOSO, EM DETRIMENTO DE CONTRATO
SOLICITADO PELO CONSUMIDOR. QUANTUM FIXADO
ABAIXO DA UTILIZAÇÃO DO MÉTODO BIFÁSICO UTILIZADO
POR ESTA CÂMARA. DECISÃO MANTIDA.APELAÇÃO CÍVEL
CONHECIDA E NÃO PROVIDA. (TJPR - 13ª C.Cível - 0007401-
30.2018.8.16.0024 - Almirante Tamandaré - Rel.:
DESEMBARGADORA ROSANA ANDRIGUETTO DE CARVALHO
- J. 19.06.2020)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C REPETIÇÃO


DE INDÉBITO CONTRATO NA MODALIDADE DE CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO EM FOLHA DE PAGAMENTO.
DESCONTO SOMENTE DO MÍNIMO DA FATURA MENSAL.
REFINANCIAMENTO DO VALOR TOTAL DEVIDO TODO MÊS.
VIOLAÇÃO DO DEVER DE TRANSPARÊNCIA. CONDUTA
ABUSIVA. SÚMULA 63 DO TJGO. REVISÃO DO PACTO EM
FAVOR DA PARTE HIPOSSUFICIENTE. JUROS
REMUNERATÓRIOS. TAXA MÉDIA DE MERCADO.
REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO EM EVENTUAL
RESTITUIÇÃO. DANO MORAL DEVIDO. MULTA
COMINATÓRIA. POSSIBILIDADE. [...]. 3. De acordo com o
recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a
repetição de débito em dobro, baseada no CDC, pode
ocorrer quando presente o pagamento indevido
independente da má-fé do fornecedor. Embora o
entendimento seja pela restituição em dobro, a sentença
determinou de forma simples, cabendo assim a sua reforma
nesse ponto. 4. São devidos danos morais consubstanciados
pelos débitos infindáveis cobrados mensalmente, os quais
foram fixados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 5. Fixada a
multa cominatória dentro dos parâmetros de razoabilidade e
proporcionalidade, adequando-se aos contornos do caso
concreto, deve ser mantida incólume, uma vez que a coação
tem que ser efetiva, pois o que se pretende preservar é a
autoridade do comando estatal para a efetividade e eficácia da
prestação da tutela jurisdicional. 6. Majoração dos honorários

16
advocatícios em grau recursal, com fulcro no art. 85, §11, do
CPC. PRIMEIRO APELO CONHECIDO E DESPROVIDO.
SEGUNDO APELO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.
SENTENÇA REFORMADA. (TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO
TRABALHO -> Recursos -> Apelação Cível, 0315926-
75.2016.8.09.0093,Minha Relatoria, 5ª Câmara Cível, julgado
em 10/05/2021, DJe de 10/05/2021)
[…]
6. A restituição em dobro do indébito (parágrafo único do
artigo 42 do CDC) independe da natureza do elemento
volitivo do fornecedor que cobrou valor indevido,
revelando-se cabível quando a cobrança indevida
consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva.
Precedentes STJ. 7. Como o cartão de crédito não foi utilizado
pela consumidora para compras, demonstrando que ela
realmente fechou o negócio imaginando ter contraído
empréstimo pessoal, o dano moral deve ser fixado, in casu, no
valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), devendo incidir juros de
mora de 1% ao mês a contar da citação e correção monetária
pelo INPC a partir do arbitramento (Súmula 362/STJ). 8.
Relegado exclusivamente à ré, ora primeira apelante, a
responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios
fixados à ocasião da sentença. 9. APELAÇÕES CÍVEIS
CONHECIDAS. 1ª APELAÇÃO DESPROVIDA. 2ª APELAÇÃO
PROVIDA.(TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO ->
Recursos -> Apelação Cível 5284290-82.2020.8.09.0087, Rel.
Des(a). GUILHERME GUTEMBERG ISAC PINTO, 5ª Câmara
Cível, julgado em 27/04/2021, DJe de 27/04/2021)

b) DOS JUROS REMUNERATÓRIOS E A TAXA MÉDIA DE


MERCADO

No julgamento do Recurso Especial Repetitivo n.º 1.061.530/RS,


2ª Seção, DJe de 10/03/2009, adotaram-se as seguintes orientações
quanto aos juros remuneratórios:

a) as instituições financeiras não se sujeitam à limitação


dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto
22.626/33), Súmula 596/STF;

b) a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12%


ao ano, por si só, não indica abusividade;

c) são inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos


de mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art. 406 do
CC/02;

d) é admitida, em relações de consumo, a revisão das taxas


de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde
que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em
desvantagem exagerada – art. 51, §1º, do CDC) fique

17
cabalmente demonstrada, ante as peculiaridades do
julgamento em concreto.

Todavia, no referido julgamento, não foi abordada a legalidade


da cobrança de juros remuneratórios devidos em contratos bancários,
quando não há prova da taxa pactuada ou a cláusula ajustada entre as
partes não tenha indicado o percentual a ser observado.

Destarte, passa-se a analisar essa questão, nos termos do art.


543-C do CPC.

A 2ª Seção desta Corte pacificou o entendimento de que é nula a


cláusula contratual que prevê a incidência de juros remuneratórios,
sem precisar a respectiva taxa, visto que fica ao exclusivo arbítrio da
instituição financeira o preenchimento de seu conteúdo. A fixação dos
juros, porém, não fica adstrita ao limite de 12% ao ano, mas deve ser
feita segundo a taxa média de mercado nas operações da espécie.:

Sobre a matéria, nota-se que o precedente uniformizador da


jurisprudência é o REsp 715.894/PR, de minha relatoria, 2ª Seção,
DJ de 19/03/2007, assim ementado:

“Direito bancário. Contrato de abertura de crédito em conta


corrente. Juros remuneratórios. Previsão em contrato sem a
fixação do respectivo montante. Abusividade, uma vez que o
preenchimento do conteúdo da cláusula é deixado ao arbítrio
da instituição financeira (cláusula potestativa pura). Limitação
dos juros à média de mercado (arts. 112 e 113 do CC/02). Art.
6º da LICC. Questão constitucional. Honorários advocatícios.
Ação condenatória. Estabelecimento em valor fixo.
Impossibilidade. Necessidade de observância da regra do art.
20, §3º, do CPC. - As instituições financeiras não se sujeitam
ao limite de 12% para a cobrança de juros remuneratórios, na
esteira da jurisprudência consolidada do STJ. - Na hipótese de
o contrato prever a incidência de juros remuneratórios, porém
sem lhe precisar o montante, está correta a decisão que
considera nula tal cláusula porque fica ao exclusivo arbítrio da
instituição financeira o preenchimento de seu conteúdo. A
fixação dos juros, porém, não deve ficar adstrita ao limite
de 12% ao ano, mas deve ser feita segundo a média de
mercado nas operações da espécie. Preenchimento do
conteúdo da cláusula de acordo com os usos e costumes, e
com o princípio da boa fé (arts. 112 e 133 do CC/02). - A

18
norma do art. 6º da LICC foi alçada a patamar constitucional,
de modo que sua violação não pode ser discutida em sede de
recurso especial. Precedentes. - Tratando-se de ação
condenatória, os honorários advocatícios têm de ser fixados
conforme os parâmetros estabelecidos no art. 20, §3º do CPC.
Merece reforma, portanto, a decisão que os estabelece em valor
fixo. Precedentes. Recursos especiais da autora e do réu
conhecidos e parcialmente providos.”

Nesse precedente, declarou-se a nulidade da cláusula inserida


em contrato de abertura de crédito em conta corrente que previa a
incidência de juros remuneratórios sem definir a respectiva taxa,
determinando-se a aplicação da taxa média de mercado em
operações da espécie. A nulidade da cláusula em comento evidencia-se
seja por abusividade (art. 51, X, do CDC) seja por ser potestativa (art.
122, do CC/02; 115 do CC/16).

A jurisprudência do STJ tem utilizado para esse fim a taxa


média de mercado.

Essa taxa é adequada, porque é medida segundo as informações


prestadas por diversas instituições financeiras e, por isso, representa o
ponto de equilíbrio nas forças do mercado. Além disso, traz embutida
em si o custo médio das instituições financeiras e seu lucro médio, ou
seja, um spread médio.

A adoção da taxa média de mercado ganhou força quando o


Banco Central do Brasil passou, em outubro de 1999, a divulgar as
taxas médias, ponderadas segundo o volume de crédito concedido, para
os juros praticados pelas instituições financeiras nas operações de
crédito realizadas com recursos livres (conf. Circular nº 2.957, de
30.12.1999).

As informações divulgadas por aquela autarquia, as quais são


acessíveis a qualquer pessoa por meio da Internet (conforme
http://www.bcb.gov.br/?ecoimpom; ou http://www.bcb.gov.br/?TXCREDMES,
acesso em 07.04.2010), são agrupadas de acordo com o tipo de encargo
(prefixado, pós-fixado, taxas flutuantes e índices de preços), com a

19
categoria do tomador (pessoas físicas e jurídicas) e com a modalidade de
empréstimo realizada (hot money, desconto de duplicatas, desconto de
notas promissórias, capital de giro, conta garantida, financiamento
imobiliário, aquisição de bens, 'vendor', cheque especial, crédito
pessoal, entre outros).

Ausente a fixação da taxa no contrato, deve o juiz limitar os


juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo
Bacen. Esses são os usos e costumes, e é essa a solução que recomenda
a boa-fé.

Ressalta-se que a taxa média somente não deverá prevalecer


nas hipóteses em que o efetivo índice praticado pelo banco se
mostrar inferior a ela e, portanto, mais vantajoso para o cliente.

É certo, ainda, que o cálculo da taxa média não é completo, na


medida em que não abrange todas as modalidades de concessão de
crédito, mas, sem dúvida, presta-se como parâmetro de tendência das
taxas de juros. Dessa forma, nas hipóteses em que não houver a
divulgação pelo Bacen da taxa média relativa a um contrato específico,
nada impede o juiz de acolher, com base em regras de experiência,
a média adotada pelo mercado em contratos similares.

No presente caso, a taxa média do mercado para a operação


realizada pelo autor/requerente encontra-se evidenciada na taxa média
dos 20 melhores bancos para o período de contratação, e que
evidenciou-se que a média do mercado ficou em 2,12 % ao mês
contrastando com as taxas que vem sendo aplicada, é de, 3,99% ao
mês. Corrobora também o entendimento do STJ sobre a matéria:

STJ - Súmula 530

Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de


juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou pela
falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média

20
de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da
mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o
devedor.

O Superior Tribunal de Justiça, consolidou o entendimento de


que:

a) nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital é


imediata, deve ser consignado no respectivo instrumento o montante
dos juros remuneratórios praticados. Ausente a fixação da taxa no
contrato, deve o juiz limitar os juros à média de mercado nas
operações da espécie, divulgada pelo Bacen, salvo se a taxa cobrada
for mais vantajosa para o cliente.

b) em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média


se for verificada abusividade nos juros remuneratórios
praticados.

No presente caso, de acordo com o Parecer, demonstra-se


os valores descontados no benefício do autor pela calculadora do
cidadão do BACEN para o período compreendido do contrato
entabulado.

COLOCAR ETAPA DO CÁLCULO PERICIAL

c) DIREITO À RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO – VEDAÇÃO DO


ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA.

Portanto, mediante a conduta ardilosa apresentada pela


instituição financeira, o autor requer o RESSARCIMENTO EM DOBRO
dos valores cobrados indevidamente, como a medida da mais lidima
justiça.

Excelência, em sessão realizada dia 21 de outubro de 2020 a


Corte Especial do STJ chegou a um consenso sobre a matéria, uma das

21
mais controvertidas em instância especial. Os ministros aprovaram
tese4 que visa pacificar a interpretação do parágrafo único do artigo 42
do Código de Defesa do Consumidor.

A norma diz que o consumidor cobrado em quantia indevida tem


direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável, restando a seguinte tese aprovada:

“1. A restituição em dobro do indébito (parágrafo único do


artigo 42 do CDC) independe da natureza do elemento
volitivo do fornecedor que cobrou valor indevido,
revelando-se cabível quando a cobrança indevida
consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva.”

Portanto, no caso sob comento, o direito do autor à restituição


de valores que foram descontados a mais do seu benefício, deverá ser
em dobro, como previsto no artigo 42 do CDC, estatuto que, ao
contrário de lei civil, não exige prova da má-fé no ato da cobrança da
dívida, sendo suficiente o pagamento indevido, por débito inexistente,
até porque a obrigação só resta excluída se comprovado que a cobrança
decorreu de engano justificável, o que não ocorreu.

Cláudia Lima Marques, refere, em Comentários ao Código de


Defesa do Consumidor, que:

“(...) A devolução simples do cobrado indevidamente é para


casos de erros escusáveis dos contratos entre iguais, dois civis
ou dois empresários, e está prevista no CC/2002. No sistema
do CDC, todo o engano na cobrança de consumo é, em
princípio injustificável, mesmo o baseado em cláusulas
abusivas inseridas no contrato de adesão, ex vi o disposto no
parágrafo único do art. 42. Cabe ao fornecedor provar que seu
engano na cobrança, no caso concreto, foi justificado. Já em
caso de uso de método abusivo, como o envio do nome do
consumidor para os bancos de dados, sem aviso prévio, este é –
em minha opinião – sempre injustificado e abusivo, causando
dano moral puro (...)”.MARQUES, Cláudia Lima. in:
Comentários ao código de defesa do consumidor, 2. ed., RT,
São Paulo-SP, 2006, pág. 593. (grifo nosso)

22
Também dispõe o § único, do art. 42, do CDC:

Art. 42 (...)

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida


tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do
que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros
legais, salvo hipótese de engano justificável.

Ainda, de acordo com o CÁLCULO PERICIAL, é possível


perceber que o consumidor, quitou o contrato de empréstimo na
18ª parcela. Dessa forma, todas as demais parcelas de R$ 55,00
(cinquenta e cinco reaus) foram cobradas indevidamente, cabendo
restituição do indébito em dobro no valor de R$ 5.940,00 (cinco
mil e novecentos e quarenta reais) a serem pagos ao consumidor
prejudicado.

d) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Data vênia, torna-se necessário a declaração da inversão do


ônus da prova, devendo ser atribuída ao banco à incumbência de
produzir provas contrárias às alegações iniciais do autor.

Isso porque o autor está em condição de vulnerabilidade como


consumidor, pois, além de ser idoso e leigo, no momento da
contratação, o produto solicitado foi EMPRÉSTIMO CONSIGNADO
COMUM, mas foi concluída de forma ardilosa pelo Banco Réu a adesão
ao cartão de crédito consignado RMC.

Em que pese a questão da vulnerabilidade técnica, a instituição


financeira deveria instruir e informar corretamente todos os clientes,
principalmente àqueles consumidores que mais necessitam de clareza e
que geralmente são os segurados idosos, leigos, sem muita instrução
escolar, analfabetos e/ou as pessoas visivelmente “desesperadas” pelo
valor ofertado.

23
Com o máximo respeito, Excelência, ser idoso não é
sinônimo de ser tolo, e em nenhum momento aferimos tratamento
discriminatório indevido, apenas enfatizamos que, pelo uso do bom
senso, a pessoa idosa, na sua grande maioria, possui pouco ou
nenhum esclarecimento ou discernimento sobre esse tipo de
operação financeira. De modo igual, até mesmo algumas pessoas bem
instruídas e jovens não possui total conhecimento sobre as
funcionalidades do sistema bancário e seus produtos/serviços.

Porém, o que se nota é que no momento da contratação houve


uma imposição de cláusulas em contrato padronizado, de adesão,
redigidas unilateralmente pelo Banco Réu, tornando-se, o consumidor,
submisso, sem poder alterar, ou mesmo opinar sobre as condições
impostas coercitivamente. Estando presente a vulnerabilidade (técnica
jurídica ou fática – socioeconômica) como demonstrada retro, não foi o
autor tutelado pelos preceitos do CDC., ficando “expostos” às práticas
previstas nos capítulos V e VI do CDC.

Com a inversão do ônus da prova estará o M.M. Juiz garantindo


a proteção legal/contratual e o acesso pelo autor parte mais fraca na
relação obrigacional, ao Poder Judiciário, facilitando o direito de ação
conforme preceito contido no art. 6º, VIII do CDC, que se requer seja
declarado ab initio em vista da oportunidade da instrução processual
que objetivará apurar o equilíbrio contratual e a licitude das cobranças
ocorridas por parte do banco.

e) ALTERAÇÃO CONTRATUAL

Conforme consta no Extrato de Empréstimos Consignados do


beneficiário, verifica-se que o Banco Réu, acabou por entregar produto
diverso do pretendido pelo Autor na contratação, o que afronta os
princípios da transparência e da informação dispostos no Código de
Defesa do Consumidor.

24
Nesse sentido, observe-se que, aparentemente para o
consumidor, o empréstimo consignado e o saque em cartão de crédito
consignado em nada se diferem, visto que o aposentado busca a
instituição financeira, assina um contrato com autorização de desconto
no benefício previdenciário e recebe o numerário em sua conta corrente.

Contudo, em uma análise técnica (frise-se, impossível para o


consumidor no momento da contratação), observa-se apenas
vantagens para a instituição de crédito.

A situação foi compreendida e explanada pelo Tribunal de


Justiça do Estado do Paraná5:

“Utilizando-me dos cálculos efetuados em autos outros, de


minha Relatoria, que discutia empréstimo com características
praticamente idênticas a este (apelação cível nº 0015084-
25.2019.8.16.0173), fica evidenciada a vantagem
desproporcional que o Banco obtém nessa modalidade de
operação: “Em primeiro lugar, embora a instituição financeira
tenha colacionado diversos supostos depósitos na conta
corrente do mutuário (mov. 13.2 a 13.19), pelas faturas por ela
colacionadas (mov. 13.24) verifica-se apenas um saque em
10/11/2015 no valor de R$1.299,18 (mil duzentos e noventa e
nove reais e dezoito centavos), a uma taxa mensal de 3,06%
(três vírgula zero seis por cento) ao mês, no benefício
previdenciário de nº 1321862382 (mov. 23.1). 48 Entretanto,
com base nas faturas fornecidas pelo Banco (mov. 13.23),
observando-se os saldos devedores e os valores médios dos
descontos mínimos – R$54,20 – entre os meses de [1]
10/07/2008 a 10/10/2008, obtém-se uma amortização média
mensal de R$ 1,18 (um real e [2] dezoito centavos),
considerando apenas o saque de R$1.299,18 (mil duzentos e
noventa e nove reais e dezoito centavos). Com base nessa

5
Apelação Cível n° 0011730-94.2017.8.16.0194 15ª Vara Cível de Curitiba Apelante(s): IRACEMA DOS SANTOS
ONORATO Apelado(s): BANCO OLE BONSUCESSO CONSIGNADO S.A. Relator: Desembargadora Rosana
Andriguetto de Carvalho – data do julgamento: 28 de agosto de 2020

25
amortização real, sem considerar qualquer correção de valores,
conclui-se que o consumidor adimpliria o valor do saque –
R$1.299,18 (mil duzentos e noventa e nove reais e dezoito
centavos) – em mais de 1.000 parcelas, ou seja, em cerca de
91 anos, bem como pagaria, no total, R$ 59.674,20 (cinquenta
e nove mil seiscentos e setenta e quatro reais e vinte centavos).
Agora, suponha que o consumidor obtivesse o numerário
mutuado da forma como pretendia – empréstimo
consignado –, utilizando-se as mesmas variáveis, ou seja, o
empréstimo de R$1.299,18 (mil duzentos e noventa e nove
reais e dezoito centavos), a uma taxa mensal de 3,06% (três
vírgula zero seis por cento) ao mês, com parcelas de R$54,20
(cinquenta e quatro reais e vinte centavos), conclui-se que o
consumidor adimpliria o valor mutuado em cerca de 44
parcelas, ou seja, em menos de 4 anos, bem como pagaria,
no total, R$ 2.384,80 (dois mil trezentos e oitenta e quatro
reais e oitenta centavos)
COLAR ETAPA DO CÁLCULO PERICIAL
Questiona-se: apresentados, da forma como feita acima, ambas
as formas de contratação ao consumidor – saque por meio do
cartão de crédito consignado ou empréstimo consignado –
quem em sã consciência optaria por pagar 1.000 parcelas a
mais, por 87 anos a mais e um valor R$ 57.289,40
(cinquenta e sete mil duzentos e oitenta e nove reais e quarenta
centavos) mais caro que a outra forma de contratação?” Por
óbvio, não há qualquer vantagem ao consumidor. A
contrário, do seu ponto de vista, só há desvantagens em
optar pelo saque em cartão de crédito consignado em
detrimento do empréstimo consignado, ainda mais porque
em ambos os casos receberia o mesmo valor mutuado”.
(grifo nosso)

Noutro canto, a prática mencionada não acarreta a nulidade da


contratação em si, uma vez que o contrato pode e deve ser preservado.

Nos termos do que dispõe o artigo 51, § 2º, do CDC, "a nulidade
de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto

26
quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer
ônus excessivo a qualquer das partes".

Aplica-se ao caso o disposto no artigo 170 do Código Civil, que


estabelece que: "se o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro,
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que
o teriam querido se houvessem previsto a nulidade".

À vista disso, tem sido pacificado pela jurisprudência:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE


VALORES E INDENIZAÇÃO POR DANO ‘1 ‘MORAL -
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO -
CONTRATAÇÃO COMPROVADA - PEDIDO ALTERNATIVO -
READEQUAÇÃO DO CONTRATO - POSSIBILIDADE -
DESCONTO MINIMO EM FOLHA DE PAGAMENTO
- ABUSIVIDADE - OFENSA AO DEVER DE BOA-FÉ E DE
INFORMAÇÃO - READEQUAÇÃO A MODALIDADE DE
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. (...)Demonstrada a ocorrência
de erro na contratação, por força do art. 171 do Código
Civil é possível a readequação do contrato à modalidade de
empréstimo consignado. (grifo nosso)

Em consonância com o julgado acima e a situação de fato,


requer o Autor, a fim de se restabelecer o equilíbrio contratual, bem
como observando a vedação ao enriquecimento sem causa - artigo 884
do Código Civil -, que seja determinada a revisão do contrato de cartão
de crédito consignado, adequando-o ao empréstimo consignado em
folha de pagamento, aplicando-se a taxa média de juros do empréstimo
praticado pelo BACEN à época da contratação do crédito, de modo a
prestigiar a verdadeira vontade das partes.

f) DO DANO MORAL

O pedido de indenização por danos morais está pautado no fato


de que houve ausência de boa-fé contratual por parte da Ré, quando da

27
realização do negócio jurídico, na taxa de juros pactuada e na falta de
interrupção do desconto, mesmo o contrato estando quitado.

Assim, estando evidente a conduta ilícita da instituição


financeira (impor ao consumidor produto diferente do solicitado) e o
dano moral (desvirtuar contrato de empréstimo consignado e submeter
o consumidor à dívida impagável), resta caracterizado o nexo de
causalidade, uma vez que a falha na prestação de serviço deu causa ao
dano, ou seja, é uma relação lógica jurídica, de causa e efeito.

A atitude ilícita realizada pelo Banco Réu, apesar de caracterizar


nítida má-fé, vem sendo repetida por várias instituições financeiras,
como se vê relatada na mídia:

Fonte: https://migalhas.uol.com.br/quentes/329401/aposentada-que-
contratou-emprestimo-consignado-mas-sofreu-desconto-de-cartao-sera-
indenizada

28
A notícia acima, informa sobre abertura de processos
administrativos instaurados pelo Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor (DPDC) contra Instituições Financeiras, quanto as
contratações de empréstimos realizadas via telefone, todavia também
enfatiza:

Fonte: https://extra.globo.com/economia/bancos-serao-investigados-
por-se-aproveitar-da-vulnerabilidade-de-idosos-para-oferecer-
consignado-23818748.html

29
As reportagens acima são apenas uma pequena demonstração
em meio há milhares de reclamações realizadas por consumidores e
órgãos de proteção que repudiam o engano, a má-fé e a ilegalidade
cometida por alguns Bancos referente à contratação de
empréstimos consignados, RESSALTA-SE NO CASO EM QUESTÃO, o
cartão de crédito RMC.

Logo, a ilegalidade praticada é perfeitamente passível de


indenização por danos morais à vítima, nesse caso, ao Autor.

Quanto à previsão legislativa, o dever de indenizar é


fundamentado tanto pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso
V, como pelo Código de Defesa do Consumidor presente no artigo 14.
Depreende-se de seu texto, a imputação direta, independentemente de
culpa, da reparação do dano causado ao consumidor oriundo de
“defeito” relativo à prestação do serviço.

Tais situações deverão ser indenizadas independentemente de


prova, pois presumem-se. Além do que, o CDC consagra a
responsabilidade objetiva, onde somente se levará em consideração o
nexo causal e o dano. Ambos, in casu, estão sobejamente
caracterizados. Dessa maneira, estando presentes os pressupostos
ensejadores do instituto jurídico da responsabilidade civil,
fundamentado está o pedido de reparação de danos, seja ele motivado
por prejuízo material ou moral.

Sobre o assunto, leciona Maria Helena Diniz:

“Para que se configure o ato ilícito, será imprescindível que haja:


a) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência; b) ocorrência de
um dano patrimonial ou moral; c) nexo de causalidade entre o
dano e o comportamento do agente”. (in Código Civil Anotado,
10 ed., São Paulo, Editora Saraiva, 2004, p. 196 e 197).

O doutrinador Carlos Alberto Bittar conclui:

30
Assim sendo, para que haja ato ilícito, necessária se faz a
conjugação dos seguintes fatores: a existência de uma ação; a
violação da ordem jurídica; a imputabilidade; a penetração na
esfera de outrem. Desse modo, deve haver um comportamento
do agente, positivo (ação) ou negativo (omissão), que,
desrespeitando a ordem jurídica, cause prejuízo a outrem, pela
ofensa à bem ou a direito deste. Esse comportamento (comissivo
ou omissivo) deve ser imputável à consciência do agente, por
dolo (intenção) ou por culpa (negligência, imprudência,
imperícia), contrariando, seja um dever geral do ordenamento
jurídico (delito civil), seja uma obrigação em concreto (inexecução
da obrigação ou de contrato). [...] Deve, pois, o agente recompor o
patrimônio (moral ou econômico) do lesado, ressarcindo-lhe os
prejuízos acarretados, à causa do seu próprio, desde que
represente a subjetividade do ilícito. Bittar, Carlos Alberto . A
Responsabilidade Civil - Doutrina e jurisprudência, Saraiva, 20
ed., p. 93/95 (grifo nosso)

Destaco, aqui também, que o autor é pessoa idosa e depende do


benefício previdenciário para seu sustento, sendo evidente que qualquer
quantia indevidamente descontada da sua aposentadoria é capaz de
comprometer sua subsistência e de sua família.

A esse respeito, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais


posiciona-se no sentido de que, havendo retenção indevida de salário ou
de proventos de aposentadoria, o dano moral tem caráter in re ipsa e
independe de comprovação, pois fere valores existenciais e compromete
a verba destinada à subsistência da família, vindo a causar dor,
sofrimento, humilhação, e preocupação pela perda injustificada de
significativo montante da fonte alimentar do ser humano. 6

Constatado o ato do Banco Réu e o nexo de causalidade, resta


perquirir a extensão do prejuízo, não para garantir o recebimento da
indenização, mas para que o valor seja arbitrado com fundamento no
artigo 944 do Código Civil, onde a indenização mede-se pelas
circunstâncias do caso concreto, a gravidade da conduta, o alcance da
ofensa e a capacidade econômica do ofensor e do ofendido.

6
(TJMG - Apelação Cível 1.0153.13.004951-0/001, Relator(a): Des.(a) José Arthur Filho , 9ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 20/06/2018, publicação da súmula em 10/07/2018)

31
Além disso, é certo que o valor da indenização deve atender aos
princípios da proporcionalidade e razoabilidade, mostrando-se
suficiente para compensar a vítima pelo dano sofrido e, ao mesmo
tempo, para sancionar o causador do prejuízo e servir de desestímulo à
repetição do ato ilícito, sem, contudo, causar locupletamento indevido.

Nesta senda, ante a clara abusividade do contrato firmado e


violação da boa-fé e dos princípios da transparência, da informação, da
lealdade e da cooperação, o consumidor deve ser reparado de forma
integral, ou seja, material (com a restituição de eventuais valores) e
moral.

Obviamente, o desconto reiterado de parcelas, mormente quando


não se coloca a data do término, é apto a gerar mais que o dano
efetivamente material, pois cria um sentimento de impotência naquele
que contrata o crédito com a instituição financeira, pois nunca chega ao
fim, sendo necessário o desgaste nas vias administrativas e judiciais
para quitar a tal obrigação, o que refoge ao largo mero dissabor do dia a
dia.

Conforme entendimento:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE


CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS
MORAIS. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.
CARTÃO DE CRÉDITO. DESCONTO MÍNIMO NA FATURA.
DÍVIDA IMPAGÁVEL. ABUSIVIDADE CONSTATADA. DANO
MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
RAZOABILIDADE. SENTENÇA MANTIDA. I Verificado nos autos
que foi realizado empréstimo bancário na modalidade de
Contrato de Cartão de Crédito Consignado em Folha de
Pagamento, com descontos no valor mínimo da fatura, sem
terem sido observados os princípios da Informação e da
Transparência, além de normas legais de regência, tornando a
dívida impagável, impõe-se a intervenção judicial em benefício
do consumidor hipossuficiente para rescindir o pacto e apurar
a dívida em liquidação de sentença. II – Os descontos
indevidos em folha de pagamento de parcelas referentes a
contrato de empréstimo abusivo, caracteriza o dano moral,
que independe de prova do prejuízo, uma vez que decorre
do próprio evento danoso. III - A fixação do valor a ser pago a
título de danos morais fica ao prudente arbítrio do julgador que
levou em consideração as circunstâncias específicas do caso e
observou os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade,
sem fomentar o enriquecimento ilícito, devendo ser mantido o

32
quantum arbitrado. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJGO, Apelação (CPC) 502410663.2017.8.09.0051, Rel.
Leobino Valente Chaves, 3ª Câmara Cível, julgado em
21/09/2018, DJe de 21/09/2018) - grifei

APELAÇÃO. AÇÃO DE DECLARATÓRIA C/C INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. CONTRATO FIRMADO NA
MODALIDADE DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO EM
CONTRACHEQUE. ABUSIVIDADE E ONEROSIDADE
EXCESSIVAS. DESCONTO DO MÍNIMO DA FATURA MENSAL.
DÍVIDA IMPAGÁVEL. NÃO PACTUAÇÃO DO VALOR E DA
QUANTIDADE DAS PARCELAS. EQUIPARAÇÃO AO
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. JUROS REMUNERATÓRIOS À
TAXA MÉDIA DE MERCADO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. 1. Se no
momento da contratação não foi dada ao consumidor ciência
da real natureza do negócio, modalidade contratual que
combina duas operações distintas, o empréstimo consignado e
o cartão de crédito, e sem a clara estipulação do número e dos
valores das parcelas, as cláusulas contratuais devem ser
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor (CDC,
art. 47), com a modificação do contrato para empréstimo
consignado. 2. Se no contrato foram cobrados juros
remuneratórios acima da taxa média de mercado, referente ao
crédito pessoal consignado, deve o percentual ser adequado ao
patamar à referida média. 3. A ausência de transparência das
cláusulas contratuais e a excessiva onerosidade imposta ao
consumidor configura ato ilícito passível de reparação a
título de danos morais. 4. A fixação dos danos morais deve
obedecer aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, servindo como forma de compensação
da dor sofrida sem representar enriquecimento ilícito do
beneficiário. 5. Se a parte autora logrou êxito na maioria de
seus pedidos iniciais, deve a ré arcar na integralidade com o
ônus da sucumbência. Apelação cível conhecida e provida.
Sentença reformada. (TJGO, APELAÇÃO 0200522-
23.2014.8.09.0100, Rel. ITAMAR DE LIMA, 3ª Câmara Cível,
julgado em 08/02/2019, DJe de 08/02/2019) – grifei

Além do mais, o fato do Autor já ter adimplido mais do triplo


do valor incialmente contratado, é com certeza, um dano
significativo, que causou prejuízos para além da ordem patrimonial,
motivo que se requer a fixação da indenização no montante de R$
15.000,00 (quinze mil reais), consoante o abalo psíquico
experimentado.

g) DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

33
Requer a antecipação da tutela pretendida, para que se digne V.
Exa. em determinar, inaudita altera parte e nos termos do art. 300 do
CPC7, bem como do art. 84 do CDC 8, à vista dos elementos trazidos
aos autos e do arcabouço de provas lançadas a configurar o “fumus
boni juris”, e principalmente o ´´periculum in mora´´ que seja
determinada a consequente suspensão dos descontos relacionados
ao contrato nº 850239655-2, em seus proventos benefício
previdenciário, SOB CASO HAVER DESOBEDIÊNCIA, seja aplicada
multa diária enquanto não comprovar a baixa do empréstimo,
restabelecendo o valor dos proventos recebidos pelo o autor.

Excelência, diante dos fatos narrados e com base no cálculo


pericial, restou claro que o consumidor solicitou contrato diferente do
averbado pelo Banco Réu. Em nenhum momento houve a contratação
do cartão de crédito RMC, pois o produto solicitado foi o empréstimo
consignado comum.

Ademais, de acordo com o CÁLCULO PERICIAL anexo, o


contrato de empréstimo já foi quitado. Resumidamente:

COLOCAR A TELA DO CÁLCULO PERICIAL FASE FINAL

Conforme Taxa Média do Mercado:

Todavia, os descontos perduram até o momento. Por esse


motivo, caracteriza-se o PERICULUM IN MORA, na qual o risco da
demora fica demonstrado diante da continuidade da cobrança indevida

7
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

8
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.

34
e dos descontos no benefício do Autor, fato que vem gerando inúmeros
transtornos e constrangimentos.

Se nos atentarmos tão somente, quanto ao valor da parcela


que vem sendo descontada, INDEVIDAMENTE, qual seja de R$
52,25 (cinquenta e dois reais e vinte e cinco centavos), não será
possível entender a extensão do dano que acomete ao Autor, mas
se levarmos em conta que o Autor, pessoa idosa, com pouquíssimos
recursos financeiros, recebe apenas um salário mínimo e desse
valor ainda são descontados outros empréstimos que teve a
necessidade de adquirir, V. Exa. Excelência perceberá que a falta
dos mesmos R$ 52,25 é de extrema importância à quem necessita
garantir sua subsistência com menos de um salário mínimo que o
aposentado percebe líquido por mês.

Portanto Excelência, requer a cessação dos descontos da parcela


de R$ 52,25 referente ao contrato supracitado, uma vez que
COMPROVADAMENTE o Autor já pagou sua dívida, não restando
nenhuma pendência com a instituição financeira. De outro modo, como
mencionado acima, a manutenção do desconto continuará
prejudicando, E MUITO, a situação econômica do consumidor.

Dando continuidade, o instituto processual da tutela de


evidência está disciplinado no artigo 311 do CPC, in verbis:

Art. 311. A tutela da evidencia será concedida,


independentemente da demonstração de perigo de dano ou de
risco ao resultado útil do processo quando:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o


manifesto propósito protelatório da parte;

II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas


documentalmente e houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em súmula vinculante;

III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova


documental adequada do contrato de depósito, caso em que
será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa;

35
IV - a petição inicial for instruída com prova documental
suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a
que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida
razoável.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz


poderá decidir liminarmente.(grifos nosso).

As normas que orientam o sistema jurídico vigente, expostas no


decorrer desta peça, não deixam dúvidas quanto à existência do direito
pleiteado – FUMUS BUNI IURIS -, corroborado com os dispositivos da
Lei Federal nº 8078/90, bem como o Código Civil e texto constitucional
em seu art. 170, V e ADCT em seu art. 48, o que conduz à certeza de
que o autor tem o direito.

Como se observa, para que ocorra o deferimento da tutela da


evidência, cujo objeto é assegurar à parte um direito que, para sua
concessão, somente seria alcançado ao final da lide, é imprescindível
que ocorra a observância dos requisitos legais, os quais, conforme será
demonstrado, estão presentes no caso em apreço com farta
documentação e decisões em casos repetitivos, como já colacionados.

Por outro aspecto, verifica-se, ainda, que a matéria trazida à


discussão é eminentemente de direito, o que confere às alegações
deduzidas uma clareza incontroversa, não havendo necessidade de
produção de outras provas, nos termos do art. 355 do novo CPC,
como in verbis:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo


sentença com resolução de mérito, quando:

I - não houver necessidade de produção de outras provas;

II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não


houver requerimento de prova, na forma do art. 349.rizada
diante da demonstração inequívoca de que o débito junto ao
Banco Réu já foi quitado.

Assim, conforme destaca a doutrina, não há razão lógica para


aguardar o desfecho do processo, quando diante de direito inequívoco:

36
"Se o fato constitutivo é incontroverso não há racionalidade em
obrigar o autor a esperar o tempo necessário à produção da
provas dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos, uma
vez que o autor já se desincumbiu do ônus da prova e a demora
inerente à prova dos fatos, cuja prova incumbe ao réu
certamente o beneficia." (MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de
Urgência e Tutela da Evidência. Editora RT, 2017. p.284)

A pretensão do requerente é legítima, vez que a manutenção dos


descontos no seu benefício previdenciário é ilícita e continuará o
prejudicando financeiramente até o deslinde do caso.

Por fim, cabe destacar que o presente pedido NÃO caracteriza


conduta irreversível, não conferindo nenhum dano ao réu.

Assim, verificando-se preenchidos os requisitos exigidos para


o deferimento da antecipação da tutela, quais sejam probabilidade
do direito e o perigo de dano bem como a contemporaneidade da
urgência, requer seja, em antecipação de tutela, o Banco Réu
compelido a cessar os descontos realizados mensalmente, referente
ao contrato nº 850239655-2.

De mais a mais, a concessão da tutela antecipatória é medida


que se impõe.

Verifica-se, Excelência, que a situação do Autor atende


perfeitamente a todos os requisitos esperados para a concessão da
medida antecipatória, pelo que se busca, antes da decisão do mérito em
si, a ordem judicial para cessação dos débitos, e para tanto, requer-se
de Vossa Excelência, se digne determinar a expedição de Ofício ao
Banco Réu, nesse sentido.

VI. DOS PEDIDOS

Ante ao exposto, requer:

37
a. O recebimento da presente demanda, com todos os documentos
que a acompanham;

b. Seja deferido o benefício da Gratuidade Judiciária;

c. Seja deferida a prioridade no trâmite processual, uma vez que a


autora conta hoje com 65 anos de idade, fazendo, por isso, jus ao
benefício da prioridade na tramitação de procedimentos judiciais, nos
termos do art. 1.048 do Código de Processo Civil e art. 71 do Estatuto
do Idoso;

d. Seja deferida a concessão da Tutela Antecipada, "inaldita altera


parte", para que sejam suspendidos os descontos realizados do referido
cartão de crédito RMC, contrato nº850239655-2 do benefício
previdenciário da autora, no valor de R$ 52,25 (cinquenta e dois reais e
vinte e cinco centavos) até final de julgamento, oportunidade em que os
mesmos serão declarados ilícitos, ficando impedida a prática de
qualquer ato direto ou indireto de cobrança, em (03) três dias, sob
pena de multa diária a ser arbitrada por esse Douto Juízo;

e. A citação do Banco Réu, para, querendo, oferecer sua defesa na


fase processual oportuna, sob pena de revelia e confissão ficta da
matéria de fato, com o consequente julgamento antecipado da lide;

f. O julgamento antecipado da lide, consoante o artigo 355, I do


CPC, por constar nos autos provas documentais suficientes, sendo seu
o ônus probatório em conformidade com o artigo 6º, VIII do CDC;

g. A condenação do Requerido a indenizar a Autora pelos DANOS


MORAIS sofridos no importe de R$ 15.000,00 (quinze mil reais),
com atenção aos efeitos pedagógico e reparatório da medida, usando
como norte os preceitos acima mencionados, principalmente o efeito do

38
desestímulo tendo em vista se tratar de atos lesivos aos direitos do
consumidor, e com vista ao relevante poder econômico da parte;

h. A condenação do Banco Réu em custas judiciais e honorários


advocatícios, no importe de 20% sobre o valor da condenação;

i. Requer a produção de todos os meios de prova em direito


admitidos, especialmente pela documentação que segue acostada.

j. Seja aplicada, caso entenda cabível, a inversão do ônus da prova;

k. Sejam julgados totalmente procedentes os pedidos, condenando o


Banco Réu à devolução em dobro dos valores descontados
indevidamente do benefício do autor, no importe de R$ 5.643,00 (cinco
mil e seiscentos e quarenta e três reais);

l. Seja determinada a alteração do contrato de cartão de crédito


RMC, adequando-o ao empréstimo consignado em folha de
pagamento, aplicando-se a taxa média de juros do empréstimo
praticado pelo BACEN à época da contratação do crédito.

Dá-se à causa, o valor de R$ 20.640,00 (vinte mil e seiscentos e


quarenta e três reais).

Termos em que

Pede e espera deferimento

CIDADE, 11 de maio de 2023

39
ADVO
OAB 000000

40

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