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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DOS


JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS DA COMARCA DE ITABUNA-BA.

TOP CLUBE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE IMTERNET- ME,


pessoa jurídica de direito privado, inscrita em CNPJ de nª 21145714000168, com sede na Rua
Carlos Gomes, 265 Edf. União, Bairro Dois de Julho, CEP: 40060-330, na cidade de
Salvador-Ba, neste ato representada pelos sócios Natália de Almeida Passos, brasileira,
solteira, administradora e devidamente inscrita no CPF/MF sob nº 025.724.135-31, residente e
domiciliada na Rua Rio de Janeiro, n°580, apt. 102, Pituba, Salvador/Bahia, CEP: 41.830-400
e Israel Passos Soares, brasileiro, solteiro, administrador, devidamente inscrito no CPF/MF de
nª 014.657.365-06, residente e domiciliado na Rua das Dálias, n° 540, Pituba, Salvador-
Bahia, CEP: 41.810-040, vem, por meio de sua advogada infrafirmada, perante Vossa
Excelência, propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MORAIS E REPETIÇÃO DE


INDEBITO

Em face da CIELO S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita em


CNPJ de nº 01.027.058/0001-91, com sede na Alameda Xingu, nº 512, andar 21 ao 25, Bairro
Alphavile Centro Industrial e Empresarial/ Alphav, sob o CEP- 06455-030, Barueri, São
Paulo e RECOVERY DO BRASIL CONSULTORIA S/A, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita em CNPJ de nº 05.0320.35.0001-26 com sede na Av. Paulista, nº 1294,
Andar 18, Bairro Bela Vista, CEP- 01310-100, na cidade da São Paulo, pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos:
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I. DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do artigo 300 do Código de Processo Civil – CPC/15, “a tutela


de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”

No presente caso, há o risco de a Autora prosseguir com restrição no Serasa,


o que compromete, destarte, a honra da empresa, a qual sempre honrou com todas as suas
obrigações e surpreendentemente teve seu nome inscrito no cadastro de maus pagadores, sem,
contudo, haver comunicação prévia.

Além disso, vale ressaltar que os sócios também encontram- se com seus
nome negativados ilicitamente, por sua vez tem desencadeado danos irreversíveis e por esta
razão, caso essa restrição se prolongue no tempo, maiores serão os danos causados às partes.

Desta forma, requer a concessão da tutela de urgência para reconhecer a


nulidade da dívida e consequente retirada do nome da Autora do cadastro de maus pagadores,
além da remoção da restrição do nome dos sócios, a fim de que possam retomar suas
atividades, sem o receio de cobranças indevidas futuras.

II. DA PRESCRIÇÃO

Inicialmente vale destacar que a suposta dívida que provocou a inclusão do


nome da Autora no cadastro de inadimplentes, teve origem em 04 de julho de 2015, ou seja,
há quase 9 anos atrás.

Nos termos do artigo 43 do Código de Defesa do Consumidor, o prazo


prescricional para cobrança seria de cinco anos, o que significa dizer que ainda que existisse a
dívida, as demandadas não poderiam mais incluir a Autora no cadastro de mais pagadores,
atestada, portanto, a conduta ilícita da parte ré. Veja-se:

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às
informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de
consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.
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§ 1º Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros,


verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter
informações negativas referentes a período superior a cinco anos.

Neste mesmo sentido, é que vem sendo pacificado pela jurisprudência


pátria:

RECURSO ESPECIAL. PRAZO PRESCRICIONAL. AÇÃO DE


COBRANÇA. BOLETO BANCÁRIO. RELAÇÃO CONTRATUAL.
DÍVIDA LÍQUIDA. INSTRUMENTO PÚBLICO OU PARTICULAR.
PRAZO QUINQUENAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA.
TERMO INICIAL. VENCIMENTO DA OBRIGAÇÃO. 1. Recurso especial
interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil
de 2015 (Enunciados Administrativos nº 2 e 3/STJ).

2. Cinge-se a controvérsia a discutir a) o prazo prescricional aplicável à


pretensão de cobrança, materializada em boleto bancário, ajuizada por
operadora do plano de saúde contra empresa que contratou o serviço de
assistência a médico-hospitalar para seus empregados e b) o termo inicial da
correção monetária e dos juros de mora.

3. Não se aplica a prescrição ânua (art. 206, § 1º, II, do Código Civil às ações
que discutem direitos oriundos de planos ou seguros de saúde. Precedentes.
4. Conforme disposição expressa do art. 205 do Código Civil, o prazo de
10 (dez) anos é residual, devendo ser aplicado apenas quando não houver
regra específica prevendo prazo inferior.

5. Na hipótese, apesar de existir relação contratual entre as partes, a cobrança


está amparada em boleto bancário, hipótese que atrai a incidência do disposto
no inciso I do § 5º do art. 206 do Código Civil, que prevê o prazo
prescricional de 5 (cinco) anos para a pretensão de cobrança de dívidas
líquidas constantes de instrumento público ou particular.

6. Nas dívidas líquidas com vencimento certo, a correção monetária e os


juros de mora incidem a partir da data do vencimento da obrigação, mesmo
quando se tratar de obrigação contratual.
Precedentes.
7. Recurso especial não provido.
(REsp 1763160/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 17/09/2019, DJe 20/09/2019)

Isto posto, de acordo com o entendimento legal e jurisprudencial,


havendo prescrição, não há que se falar em licitude na cobrança de dívida, é o que ocorre no
caso em tela.
Motivo pelo qual requer deste juízo seja declarada a inexigibilidade da
dívida, bem como a indenização da parte autora a título de danos morais por medida de
justiça, conforme será demonstrado adiante.

III. DA SÍNTESE DOS FATOS


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Em 2014 a Autora firmou contrato com a primeira Requerida para a


prestação de serviços ecommerce virtual. Em contraprestação ao serviço, os pagamentos à
Requerida eram efetuados via débito automático em cartão de crédito da própria empresa
Autora, o que fez com que durante todo o período de vigência do contrato, os representantes
da Autora acreditavam e acreditam estarem quites na obrigação contratual.

Ocorre que, mesmo havendo o débito em conta, anos depois, a primeira


Requerida alega haver um débito em nome da empresa e, sem qualquer notificação prévia ou
tentativa de solução administrativa, repassou o débito para segunda Requerida, que incluiu a
Autora no cadastro de inadimplentes. Ressalte-se, sem quer notificação prévia também.

Conforme já demonstrado alhures, a dívida tem data de origem em 04 de


julho de 2015, totalizando o valor de R$ 3.156,77 (três mil cento e cinquenta e seis reais e
setenta e sete centavos).
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A Ré alega que a dívida foi originada por uso de maquineta de cartão, no


entanto, a Autora nunca utilizou de maquineta para prestação de serviços da empresa.
Conforme atesta email colacionado aos autos, todo o processo da TOP Clube era realizado de
maneira virtual através do sítio da primeira requerida e, portanto, não há que se falar em
dívida por utilização ou aluguel de máquina.

Cumpre ressaltar que por decisão conjunta entre os sócios, a empresa


Autora tornou-se inativa em 09 de outubro de 2015, sendo o seu cadastro cancelado desde
então conforme documento de comprovação anexa. Desta forma, não há como haver dívida
pendente, uma vez que esta situação é incompatível com a baixa da empresa junto à
JUCEB, pois existindo inadimplência não haveria baixa da empresa. Resta nítida a
confusão da empresa ré que nem sequer tem documentos comprobatórios acerca da
inadimplência contratual da Autora.

Importante salientar que, a dívida só foi descoberta quando Nathalia,


sócia da empresa inativa, tentou cadastrar seu nome para pedido de cartão de crédito e foi
reprovado, em virtude de suposta dívida pendente, o que é comprovado por meio do print a
seguir:

Sem entender o motivo de seu nome estar incluso no cadastro de maus


pagadores e aproveitando o mutirão que estava havendo no Serasa, Natalia ao checar o que
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poderia ser, foi surpreendida com a referida dívida em nome de sua antiga empresa. Ao entrar
em contato com a Ré, a mesma informou que não saberia mais informar do que se tratava e
que o crédito já havia sido repassado para segunda Requerida. Pasmem, que também não
soube informar a origem real da dívida, tampouco ofertou solução administrativa.
Sendo assim, considerando que Natalia é subtabeliã de um cartório de
protesto, ou seja, não pode ter seu nome negativado, e que Israel precisava utilizar de seu
nome com urgência; afim de resolver a questão o mais rápido possível, mesmo diante do
desconhecimento da dívida, tomaram a iniciativa de aceitar o parcelamento da suposta dívida
ofertado pelo próprio site do Serasa, realizando um acordo no valor de R$1.544,30 (um mil
quinhentos e quarenta e quatro reais e trinta centavos) parcelado em 10 vezes, já tendo sido
pago o valor de R$308,86 (trezentos e oitos reais e oitenta e seis centavos), referente às duas
primeiras parcelas.

Como se não bastasse, todos os prejuízos decorrentes da conduta ilícita da


Ré, além da inviabilização de abrir crediário e realizar financiamento de imóvel ou qualquer
outra atividade comercial, a sócia da empresa trabalha em um cartório de protestos, havendo
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risco de a qualquer tempo ser proibida de exercer sua profissão por descaso da parte ré, uma
vez que seu ofício exige conduta ilibada, o que inclui inexistência de nome no Serasa.

Sendo assim, por várias razões já citadas, a dívida inexiste, não tendo
qualquer fundamento fático, nem legal para inscrição do nome dos sócios da empresa no
Serasa.

Importa destacar que, os sócios após a descoberta de que seus nomes


estavam inscritos no cadastro de restrição ao crédito procuraram a Ré para ter ciência de
dívida desconhecida por ambos, todavia não obteve qualquer êxito, havendo perda do seu
tempo útil e consequente dano moral.

Outrossim, mesmo que a empresa de fato estivesse inadimplente, não há


razão para a restrição do nome dos sócios, já que os patrimônios são distintos e a dívida que
porventura tem sido contraída pela pessoa jurídica não deve afetar a pessoa física dos seus
representantes.

Diante o exposto, após inúmeras tratativas administrativas sem êxito, a


Autora não viu outra alternativa senão propor a presente demanda, para seja ressarcida e
indenizada por todos os danos sofridos.

IV. DO DIREITO

IV.I. DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR E DA INVERSÃO DO ÕNUS DA PROVA

A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor, define, de forma


cristalina, que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado das condutas abusivas
de todo e qualquer fornecedor, nos termos do art. 3º do referido Código.
No presente caso, tem-se de forma nítida a relação consumerista
caracterizada, conforme dispositivos abaixo:
Lei. 8.078/90 - Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
Lei. 8.078/90 - Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
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Destarte, uma vez reconhecido a Autora como destinatária final dos


serviços contratados, e demonstrada sua hipossuficiência e vulnerabilidade ante as empresas
Rés, tem-se configurada a relação de consumo, consoante entendimento doutrinário sobre o
tema.

Superada a aplicabilidade de tal codex à presente demanda, cumpre salientar


ainda a necessidade de inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6.º, inciso VIII, do
Código de Defesa do Consumidor, in verbis:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

[...]

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;

Do referido artigo, depreende-se possível a inversão do ônus de prova, ainda


mais porque a Autora é parte hipossuficiente da relação de consumo, sendo incabível lhe ser
exigido a produção de provas negativas das quais possui acesso.

Por oportuno, salienta-se que a necessidade da inversão do onus probandi


também encontra amparo na distribuição dinâmica do ônus da prova, disposta no artigo 373,
parágrafo 1.º, do Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

[...]

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa


relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do
fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde
que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

Daí que, tendo em vista a hipossuficiência probatória da Autora, a inversão


do ônus da prova traduz-se na aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o qual todos
devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os limites de sua desigualdade.
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Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência da Requerente,


vez que disputa a lide com empresas de grande porte, é de rigor a inversão do ônus da prova,
o que se requer.

IV.II. DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

O direito à repetição do indébito nasce do pagamento de valor cobrado


indevidamente e no aludido caso, mesmo não reconhecendo a dívida, os sócios foram
obrigados a efetuarem o pagamento devido à restrição de seus nomes. A sócia Nathalia é sub
tabeliã e por isso, não pode ter seu nome negativado em virtude do exercício do cargo.

Ante os fatos apresentados, merece salientar que o Autora tem direito à


repetição do indébito, restituindo assim, as partes ao equilíbrio contratual rompido pela Ré.

Esse direito encontra respaldo no art.42§ único do CDC, que dispõe:

Art. 42. Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem


direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de
engano justificável.

No mesmo sentido, é o entendimento legal e jurisprudencial:

O art. 42, parágrafo único, do CDC dispõe que, sendo o consumidor


cobrado em quantia indevida, terá direito à repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável, que
deverá ser demonstrado pelo fornecedor a fim de afastar a sanção
imposta no mencionado dispositivo legal, o que não ocorreu nos
presentes autos. 7. Somente se configura erro justificável quando o
fornecedor dos serviços adota todas as cautelas possíveis para evitar
a cobrança indevida e esta ocorre por circunstâncias alheias ao seu controle, o
que não restou demonstrado nos autos. No caso, a própria empresa
ré/recorrida assume, em sua contestação, a existência de erros sistêmicos nas
transações comerciais modernas que, por vezes, causam inconvenientes
durante as relações de consumo. 8. Nesse descortino, constatado o
pagamento em duplicidade, impõe-se o dever de devolução em dobro,
nos termos do art. 42, parágrafo único, do CDC, segundo o qual não se
revela imprescindível, para o reconhecimento do direito à dobra, a
existência do dolo ou má-fé, sendo suficiente, para a incidência da
sanção, a constatação de erro injustificável.” (grifamos).
Acórdão 1237607, 07358258020198070016, Relator: CARLOS ALBERTO
MARTINS FILHO, Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais do
Distrito Federal, data de julgamento: 17/3/2020, publicado no PJe:
2/4/2020.
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Importa ressaltar, ainda, que independe de comprovação de má-fé, exigindo-


se tão somente o erro injustificável e a ocorrência da cobrança ilícita para que a mesma
configure dano material sujeito à reparação. É o que ocorre nos autos.
O Superior Tribunal de Justiça decide também de forma a considerar
ilícita a cobrança indevida, entendimento que se segue; “A repetição em dobro, prevista no
parágrafo único do art. 42 do CDC, é cabível quando a cobrança indevida consubstanciar
conduta contrária à boa-fé objetiva, ou seja, deve ocorrer independentemente da natureza do
elemento volitivo.”
Ademais, aplica-se, no presente caso, a teoria do risco e consequente
responsabilidade objetiva do consumidor, tendo em vista sua vulnerabilidade diante da pessoa
jurídica com a qual contrata, por esta razão, esta sanção civil aplicada à parte Ré prescinde de
dolo ou culpa. A sanção decorre do ilícito praticado, de forma que não havendo a condenação
no pagamento do indébito, haveria por parte da Ré o locupletamento ilícito, já que resultaria
em acréscimo ao seu patrimônio, em contrapartida o patrimônio do Autora sofreria um
decréscimo.
Sendo assim, considerando o acordo firmado em dez parcelas de R$
154,43 (cento e cinquenta e quatro reais e quarenta e três centavos), das quais duas já foram
pagas, no montante de R$ 308,86 (trezentos e oito reais e oitenta e seis centavos), mesmo
diante do desconhecimento da dívida e, ainda que essa existisse, estaria alcançada pelo
instituto da prescrição, é que requer a repetição de indébito no valor de R$ 617, 72 (seiscentos
e dezessete reais e setenta e dois centavos).

IV.III. DO DANO MORAL

Dano moral é toda dor, angústia, sofrimento psíquico, constrangimento


moral, ofensa à honra, a dignidade da pessoa humana proveniente de ato ilícito, não
amparado, por conseguinte, pelo Ordenamento Jurídico Pátrio.
Para Wilson Melo Da Silva, "danos morais são lesões sofridas pelo sujeito
físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio
ideal em contraposição ao material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de
valor econômico’”.
Da análise do exposto no presente caso, resta nítido que a conduta da Ré é
totalmente rechaçada pela doutrina majoritária, conforme prevê a Súmula 359 do Superior
Tribunal de Justiça e Art. 43 do CDC:
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“Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação


do devedor antes de proceder à inscrição.” Súmula 359.

“Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação


do devedor antes de proceder à inscrição.” Art. 43 do CDC.
Ademais, no tocante ao dano moral à pessoa jurídica, este é inquestionável,
conforme estabelece Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. Sendo
assim, a indenização é devida como forma de compensar pelo dano causado a sua imagem e
credibilidade perante terceiros, de modo que sirva como sanção pecuniária capaz de inibir a
reiteração da conduta.

No caso em apreço, o dano foi causado à honra subjetiva propriamente dita,


posto que a Autora ao ter o nome indevidamente cadastrado no SPC/SERASA teve sua honra,
bem como sua credibilidade afetadas, o que resultou também em danos reflexos causados aos
seus representantes.

Conforme já dito alhures, não houve qualquer notificação prévia por parte
da Ré, conduta essa, conforme previsão legal, é imprescindível para caracterizar o alegado
descumprimento contratual e possível inclusão no cadastro de inadimplentes. Ou seja, não há
dúvidas quanto a ilicitude na conduta das rés.

Outrossim, oportuno ainda rememorar que a Autora deixou de utilizar os


serviços da operadora desde 09 de outubro de 2015, mesma data de encerramento da empresa,
implicando, portanto, a cobrança em ilícito civil, apto a ensejar a condenação ao pagamento
de danos morais.

Portanto Excelência, ignorar a ilicitude do ato praticado pela Ré resultaria


em promover o locupletamento ilícito por parte da Ré, bem como, a reiteração de tal conduta,
prejudicando um número infindável de consumidores.

De igual sorte, houve por parte da Ré a inobservâncias da norma


consumerista e violação da boa- fé objetiva, a qual é inerente a toda e qualquer relação
contratual, que, por sua vez, se fundamenta no princípio do equilíbrio contratual resultando na
necessidade imperiosa de se compensar os danos provocados, haja vista o descumprimento
contratual e violação de direitos fundamentais, qual seja, a honra e a dignidade da Autora da
referida demanda.
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Ante o exposto e por se tratar de relação consumerista o dano é “in re ipsa”


dispensando, portanto, prova de sua ocorrência, sendo suficientes a ocorrência do dano, qual
seja, a inserção do nome da Autora e de seus sócios no SERASA, bem com, o nexo de
causalidade. Este é o entendimento normativo e jurisprudencial, conforme segue
entendimento disciplinado no Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Isso posto, a lei e jurisprudências pátrias estabelece o direito ao


ressarcimento dos danos morais decorrentes do sofrimento, da dor, do constrangimento, da
angústia por bens e serviços defeituosos ou inadequadamente fornecidos.
Outrossim, cabe destacar também tem a redação do Código de Defesa do
Consumidor, consoante discriminado nos artigos seguintes;

Art.6º.VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos;

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes
ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

É válido ainda ressaltar que, o valor da condenação à indenização por


danos morais deve observar a condição econômica das partes, a gravidade do ilícito praticado,
assim como, promover o equilíbrio contratual, observar ainda a vulnerabilidade do
consumidor diante da relação contratual firmada.

Logo, para arbitrar valor à condenação esta deve ainda, ser


suficientemente capaz de inibir a reiteração do ilícito por parte da Ré, tendo nesse aspecto
caráter sancionador e por outro lado deve buscar ressarcir ou compensar a Autora pelos danos
extrapatrimoniais que lhe foram causados, os quais embora não possam ser precificados, tem
como única forma de compensação, a pecuniária.

Neste sentido, é a lição do Exmo. Des. Cláudio Eduardo Regis de


Figueiredo e Silva, ao disciplinar o tema:
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"Importa dizer que o juiz,ao valorar o dano moral,deve arbitrar uma


quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio,seja compatível com a
reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento
experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do
dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que
se fizerem presentes" (Programa de responsabilidade civil. 6. ed., São
Paulo: Malheiros, 2005. p. 116). No mesmo sentido aponta a lição de
Humberto Theodoro Júnior: [...] "os parâmetros para a estimativa da
indenização devem levar em conta os recursos do ofensor e a situação
econômico-social do ofendido, de modo a não minimizar a sanção a tal
ponto que nada represente para o agente, e não exagerá-la, para que não
se transforme em especulação e enriquecimento injustificável para a
vítima. O bom senso é a regra máxima a observar por parte dos juízes"
(Dano moral. 6. ed., São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2009. p. 61).
Complementando tal entendimento, Carlos Alberto Bittar, elucida que"a
indenização por danos morais deve traduzir-se em montante que
represente advertência ao lesante e à sociedade de que se não se aceita o
comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se,
portanto, em importância compatível com o vulto dos interesses em
conflito, refletindo-se, de modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim
de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do
resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente
significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do
lesante"(Reparação Civil por Danos Morais, RT, 1993, p. 220). Tutela-se,
assim, o direito violado. (TJSC, Recurso Inominado n. 0302581-
94.2017.8.24.0091, da Capital - Eduardo Luz, rel. Des. Cláudio Eduardo
Regis de Figueiredo e Silva)

Durante o cumprimento contratual, em especial nos contratos de longa


duração, como nos contratos bancários e de cartão de crédito, os fornecedores devem cumprir
o dever de informar, e este é um dos defeitos na prestação dos serviços, posto que ainda que a
dívida existisse, fato este controverso, a Autora deveria ter sido previamente notificada de sua
existência, bem como do risco de ter seu nome inserido no SPC/SERASA, o que não ocorreu.
Em conformidade com o exposto tem-se entendimento jurisprudencial
no mesmo sentido do reconhecimento do dano moral, veja-se:
EMENTA
1. APELAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE
DÉBITO C.C. DANOS MORAIS. CONTRATO DE PREVIDÊNCIA
PRIVADA. INEXISTÊNCIA DE CONTRATAÇÃO. DESCONTOS
INDEVIDOS. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. RAZOABILIDADE E
DA PROPORCIONALIDADE.
1.1. A cobrança decorrente de contrato não firmado pelo consumidor
caracteriza prática abusiva, bem como má-prestação do serviço, o que
autoriza aindenização por danos morais.
1.2. O arbitramento no valor de cinco mil reais a título de danos morais é
justo, razoável e proporcional a extensão do dano sofrido, e servirá de
desestímulo a instituição bancária, sem promover enriquecimento a vítima.
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(TJTO, Apelação Cível, 0030612-30.2019.8.27.0000, Rel. MARCO


ANTHONY STEVESON VILLAS BOAS, 2ª TURMA DA 2ª CÂMARA
CÍVEL, julgado em 19/02/2020, DJe 27/02/2020 16:52:03).

De igual modo, o Supremo Tribunal de Justiça consolidou o


entendimento de que “a própria inclusão ou manutenção equivocada do nome do
consumidor, configura o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado à própria
existência do ilícito, cujos resultados são presumidos”, prescindindo, pois de prova de sua
ocorrência (Ag 1.379.761), tratando-se, por conseguinte, de dano moral presumido.

Ante o exposto, não havendo comunicação prévia de inclusão do nome


da Autora no rol do SERASA, importante destacar as jurisprudências a seguir, as quais
ratificam o descabimento da inclusão sem a notificação precedente:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO.


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DANO
MORAL. INSCRIÇÃO EM CADASTROS DE
INADIMPLÊNCIA. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO
PRÉVIA. VALOR. INEXISTÊNCIA DE IRRISÃO
.
1. Conforme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
firmada sob a sistemática dos recursos repetitivos "A ausência
de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu
nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art.
43, § 2º do CDC, enseja o direito à compensação por danos
morais, salvo quando preexista inscrição desabonadora
regularmente realizada" (REsp 1.061.134/RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, DJe 1º. 4.2009).
2. Admite a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
excepcionalmente, em recurso especial, reexaminar o valor
fixado a título de indenização por danos morais, quando ínfimo
ou exagerado.
Hipótese, todavia, em que o valor foi estabelecido na instância
ordinária, atendendo às circunstâncias de fato da causa, de forma
condizente com os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade.
Precedentes.
3. Agravo interno a que se nega provimento.
AgInt no AREsp 1466907 / SP

Em conformidade com o julgado, a notificação prévia ao consumidor de


inscrição do seu nome no SERASA/SPC é imprescindível. Sendo assim, a parte Ré não está
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desincumbida desse ônus, razão pela qual, incide sobre tal conduta o ART.186, 927 do
Código Civil e ART. 42 § 2 do CDC.
.
Além disso, importante frisar que pessoa jurídica tem autonomia
própria e patrimônio próprios. Em princípio, responde pelas dívidas da sociedade, não se
presumindo a solidariedade do sócio, pessoa física, razão pela qual o nome dos sócios não
poderia ser inscrito no SPC/SERASA por inadimplemento de dívida da empresa, caso, de
fato existisse dívida.

Não obstante as razões expostas, importante salientar que há credores


de pessoas jurídicas que insistem em exigir do sócio o pagamento de débito da sociedade e
inclusive com a descabida e imprópria negativação do nome da pessoa física no cadastro de
inadimplentes, medida inapropriada quando não houve a desconsideração da personalidade
jurídica. Essa conduta inadequada do certos credores viola direito líquido e certo do sócio,
implicando em danos morais, passíveis de reparação.

EMENTA

DECLARATÓRIA C/C INDENIZAÇÃO

- Danos morais - Contrato de empréstimo firmado entre


o banco e a empresa da qual o autor é sócio -
Negativação do nome do sócio - Inadmissibilidade -
Condição de avalista - Não verificação - Pessoa
jurídica tem autonomia própria - Não se confunde
com a pessoa física do sócio - Danos morais
caracterizados- Indenização devida - Impossibilidade
de exigir do sócio o pagamento do débito porquanto
não houve a desconsideração da personalidade
jurídica - Inversão do ônus da sucumbência - Recurso
provido/ (TJSP-Ap. Nº 9108478-71.2008.8.26.0000 –
16ª Câmara de Direito Privado – Relator Cândido
Alvim – SP, 30/07/2012.)

Por fim, haja vista toda exposição jurídica a respeito da presente demanda,
a conduta da rés não pode ser considerada como um mero aborrecimento, situação que obriga
a Autora a ingressar com demanda judicial na busca de reparação dos danos sofridos. O dano
moral advém da postura abusiva e desrespeitosa das empresas.
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Assim, considerando as situações que caracterizam dano indenizável a que


foi submetida a Autora, requer-se o arbitramento de valor indenizatório justo e adequado,
devendo o valor da indenização ser fixado no importe não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil
reais), por todo o dano experimentado pela Requerente lesada.

V. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer, respeitosamente, que;

a) Sejam citadas as Requeridas para se manifestarem na presente demanda


no prazo legal, sob pena de revelia e confissão, sem interesse em
conciliação, nos moldes do artigo 344 do Código de Processo Civil;
b) c) A inversão do ônus da prova, com fulcro no artigo 6º, VIII, do Código
de Defesa do Consumidor;
c) No mérito requer a procedência de todos os pedidos para que se condene
a ré ao pagamento de danos morais no valor não inferior a R$ 10.000,00
(dez mil reais) em prol do sofrimento experimentado pela autora em
razão da falha na prestação de serviços; além do ressarcimentos da
quantia paga indevidamente, em dobro, totalizando a importância de R$
308,86 (trezentos e oito reais e oitenta e seis centavos) por repetição de
indébito;
d) Por fim, a condenação da requerida ao pagamento de custas e honorários
advocatícios nos termos do artigo 85 do Código de Processo Civil.
e)
VI. DAS PROVAS

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas


e cabíveis à espécie, especialmente pelos documentos acostados, com inversão do ônus da
prova.

VII. DAS PUBLICAÇÕES

Sejam todas as publicações e intimações, referentes a este processo,


expedidas em nome do patrono que esta subscreve, Dra. Juliana Matos de Oliveira (OAB/BA
nº 60.989, sob pena de nulidade, nos termos do artigo 272 do Código de Processo Civil.
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XIII. DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à presente causa o valor de R$ 10.308,86 (dez mil trezentos e oito


reais e oitenta e seis centavos).

Nesses termos,
Pede e espera deferimento.

Salvador, 12 de março de 2024.

Dr.ª Juliana Matos de Oliveira Drª Dayane Cunha dos Santos


OAB/BA 60.989 OAB/BA 31721

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