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EXMO. SR. DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...

VARA CÍVEL DA
COMARCA DE PESQUEIRA – PE.

RICARDO DE SIQUEIRA
CAVALCANTE, brasileiro, solteiro, comerciante, natural de
Alagoinha/PE, portador da Carteira de Identidade nº 7.998.763
SSP/PE e CPF nº 081.142.884-26, residente e domiciliado no
Sítio Cafundó, 888, Zona Rural, CEP 55260-000, Alagoinha/PE,
por seus advogados infra-assinados constituídos por
instrumento procuratório anexo (doc. 01), com endereço
indicado no timbre desta vestibular para fins do Art. 39, I do
Código de Processo Civil, vêm respeitosamente à presença de
Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 282 e segs. do CPC,
art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, art. 186 Código Civil
e art. 6º, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor
promover a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA C/C


SUSTAÇÃO DE PROTESTO E DANOS MORAIS,

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em face de

BANCO BRADESCO S/A, pessoa


jurídica de direito privado, CNPJ nº 60746948/0001-12, com
endereço à Praça Getúlio Vargas, nº 19, Pesqueira/PE, pelos
fatos e fundamentos abaixo aduzidos:

I. DOS FATOS

O requerente teve seu nome


inscrito no órgão de proteção ao crédito /SERASA, por título
protestado indevidamente pelo banco requerido.

Tratava-se de financiamento de
veículo, FIAT STRADA, Placa KLN 7175, que fora devolvido ao
Bradesco pelo requerente, que não pôde por razões pessoais e
financeiras prosseguir com o referido financiamento.

Devolvido o bem, a instituição


bancária não entregou carta de anuência ou quaisquer
documentos acerca da operação de devolução do bem.

O requerente ficou no aguardo,


mas quando procurou o banco em momento posterior lhe fora
negado documento que comprovasse a entrega do bem, sob a
alegação de que naquele momento o banco não poderia lhe dá
quitação.

Apesar de não receber quaisquer


documentos, a funcionária do banco afirmou de forma verbal,
que estava “tudo certo”, ou seja, que a devolução extinguiria
a dívida.

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Passaram-se alguns meses e o
requerente prestou vestibular e obteve êxito. Diante disso,
pleiteou junto a Caixa Econômica Federal, crédito estudantil
denominado FIES e fora nessa ocasião que descobrira que seu
nome estava no SERASA.

Inscrito nos órgãos de proteção


de crédito, não fora possível sua aprovação no FIES e
consequentemente a efetivação de matrícula, já que dependia
do crédito estudantil, tendo em vista insuficiência de recursos
financeiros.

Diante da frustração sofrida, com


o nome “sujo na praça”, o autor solicitou Certidão no Cartório
de Notas e Protestos desta cidade (doc. 05). Na qual consta
Instrumento de Protesto feito no dia 04/04/2011, com Cédula
de Crédito Bancário nº 002.452.153, no valor de R$
12.217,50 (doze mil duzentos e dezessete reais e cinquenta
centavos), com vencimento em 06/02/2013.

Ocorre que o requerente jamais


fora informado acerca do débito e muito menos recebera
quaisquer advertências por parte do banco requerido, quanto
à possibilidade de inscrição do seu nome no SERASA.

II. DOS FUNDAMENTOS

PRELIMINAR

O Requerente pleiteia os
benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurada pela Lei
1060/50, tendo em vista não poder arcar com as despesas
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processuais, pelo que faz juntar Declaração de Pobreza
(doc.02), bem como conta de energia na qual se enquadra
como consumidor de ‘baixa renda’ (doc. 04).

E, diante do pleito, entender de


outra forma seria impedir o acesso à Justiça daqueles que são
desprovidos de recursos financeiros; e sendo garantia maior
dos cidadãos no Estado de Direito, corolário do princípio
constitucional da inafastabilidade da jurisdição, art. 5º,
XXXV da Constituição Federal, necessária se faz tal
concessão.

Do Objeto da Ação

Esta ação tem por objetivo obter


provimento jurisdicional que declare a inexigibilidade da
dívida inscrita sob o instrumento de protesto em anexo (doc.
05), bem como a sustação do protesto apontado, com a
retirada do nome do requerente dos órgãos de proteção ao
crédito, como medida cautelar. E que ao final, seja
condenada a parte requerida ao pagamento de indenização
por danos morais, tendo em vista a inscrição no SERASA de
dívida vincenda e ainda mais, extinta pelo adimplemento
consubstanciado na entrega ‘devolução’ do objeto.

Da boa-fé do autor e má-fé da ré

O autor, assim que se viu diante


da impossibilidade de honrar o financiamento contratado,

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mesmo após pagar algumas das prestações convencionadas,
prontificou-se voluntariamente a restituir o automóvel
financiado, denotando transparência e boa-fé.

A boa-fé objetiva se apresenta


como uma exigência de lealdade, modelo objetivo de conduta,
arquétipo social pelo qual impõe o poder – dever de que cada
pessoa ajuste a própria conduta a esse exemplo, agindo como
agiria uma pessoa honesta e leal.

Já a ré, ao retomar e aceitá-lo


em devolução, negando ao autor documento escrito
comprovando a operação realizada, age em contrário ao
princípio da boa-fé. Não poderia douto magistrado, o autor
compelir o banco a entregar-lhe comprovante escrito, como
também não poderia presumir que após a devolução do bem
seu nome estaria no rol dos inadimplentes! Afinal, se há algo
que se deve presumir é a boa fé.

O requerente é pessoa simples,


que trabalha num pequeno ponto comercial pertencente ao
seu pai, que fica localizado na zona rural do município de
Alagoinha-PE e na sua localidade não se deve negar fé à
palavra das pessoas. Essa é a sua realidade, por isso acreditou
na palavra da funcionária do Bradesco, que lhe afirmou no
momento da devolução do carro, que estava tudo certo, mas
que, depois, se negou a ajuda-lo quando buscou
esclarecimentos acerca do protesto em seu nome.

Vê-se que há algo errado na


conduta do banco requerido, Douto Magistrado. O requerente
não pode arcar com o ônus de provar a entrega do bem em
quitação da dívida, se não tem meios ao seu alcance para isso.

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Nesse diapasão cabe ressaltar que
o requerido não pode alegar exercício legal do seu direito
quando não deu ciência do débito ao devedor. Corroborando
com a tese ora expendida, vejamos o entendimento
jurisprudencial in litteris:

DA INEXISTÊNCIA DE EXERCÍCIO
REGULAR DE DIREITO PELA
NEGATIVAÇÃO NO SERASA –
CONDUTA ILICITA.

Não merece prosperar qualquer


alegação da ré no sentido de que
agiu em exercício regular de
direito, visto que não existe mais
débito a ser pago pelo autor.

Mesmo que existisse algum


débito, o fato da ré não
comunicar previamente ao autor
da existência de saldo devedor,
já é suficiente para
descaracterizar o exercício
regular do direito, uma vez que
o mesmo não tomou
conhecimento de que era
devedor. (grifo nosso)

Sendo assim, ao invés de


exercício regular de direito, a ré praticou ato ilícito!

Nesse sentido, manifestam-se os


tribunais, in litteris:

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2006.001.20192 – APELACAO
CIVEL – 1ª Ementa
DES. JOSE MOTA FILHO –
Julgamento: 30/05/2006 – SETIMA
CAMARA CIVEL
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE
DESCONSTITUIÇÃO DE NEGÓCIO
JURÍDICO, C/C COM DECLARAÇÃO
DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA E
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
JULGADA PROCEDENTE.
SENTENÇA FUNDAMENTADA EM
LIVRE EXAME DA PROVA.
AUSÊNCIA DE NULIDADE
PROCESSUAL. CONTRATO DE
ARRENDAMENTO MERCANTIL.
TERMO DE ENTREGA AMIGÁVEL
DO VEÍCULO ESTABELECENDO A
OBRIGATORIEDADE DE
COMUNICAR EXISTÊNCIA DE
SALDO DEVEDOR.
INOBSERVÂNCIA. NEGATIVAÇÃO
NO SERASA. EXERCÍCIO REGULAR
DE DIREITO NÃO POSITIVADO.
DANO MORAL CARACTERIZADO.
VERBA FIXADA NA IMPORTÂNCIA
MODESTA DE R$ 2.000,00 (DOIS
MIL REAIS) QUE NÃO PODE SER
ELEVADA, NA AUSÊNCIA DE
RECURSO DA PARTE INTERESSADA.
DESPROVIMENTO DO RECURSO.
DECISÃO UNÂNIME

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Dos Danos Morais

É notório e pacífico que uma


pessoa que tem seu nome mantido no cadastro de restrição ao
crédito sofre um dano moral, pois é vista pela praça como mal
pagadora e impedida de efetuar diversos tipos de transações
comerciais.

No caso em tela, o requerente


teve a oportunidade de conseguir um crédito estudantil (FIES)
negada porque seu nome estava vinculado ao SERASA. Ou seja,
seu prejuízo foi latente! Não foram só planos adiados, mas
sim, o perecimento de uma oportunidade que pode demorar a
se repetir.

Consoante este entendimento o


Egrégio Tribunal de Justiça do RJ editou a súmula n° 89 que
considera razoável indenizar quem teve o nome inserido
ilegalmente no cadastro restritivo de crédito.

Súmula nº 89 – APONTE DO NOME


COMO DEVEDOR INADIMPLENTE –
INDENIZAÇÃO – FIXAÇÃO DO
VALOR – FIXAÇÃO EM MOEDA
CORRENTE

“Razoável, em princípio, a
fixação de verba compensatória
no patamar de até 40 (quarenta)
salários mínimos, em moeda
corrente, fundada
exclusivamente na indevida
negativação do nome do

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consumidor em cadastro
restritivo de crédito”.

Se o banco requerido agiu


ilicitamente ao inserir o nome do requerente no rol dos maus
pagadores sem efetuar as devidas comunicações e
advertências, imagine Douto Magistrado, quão negligente fora
ao fazê-lo baseado em dívida vincenda!

Como se verifica na Certidão


emita pelo cartório, a suposta dívida venceria em 2013, ou
seja, o banco requerido não teve a mínima cautela ao inserir o
nome do autor SERASA. Eis o DANO MORAL! Com a reputação
creditícia abalada, não resta dúvida que configurada está à
lesão.

Para isso, o Código de Defesa do


Consumidor, define como direitos básicos do consumidor o
direito “à efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos” (art.
6º, VI).

No que tange a inserção de


devedor com lastro em dívida que ainda está por vencer,
vejamos o julgado in verbis:

Apelação Cível n. 2010.031553-1,


de Itajaí
Relator: Des. Subst. Altamiro de
Oliveira
APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO
CONDENATÓRIA A INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS.
NEGATIVAÇÃO DE CONSUMIDOR
POR DÍVIDA VINCENDA. PEDIDOS
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JULGADOS PROCEDENTES.
RECURSO DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. ALEGAÇÃO DE
LEGALIDADE DA RESTRIÇÃO
CREDITÍCIA. NEGATIVAÇÃO QUE
CORRESPONDEU À INADIMPLÊNCIA
DO DEVEDOR. EXERCÍCIO
REGULAR DE DIREITO NÃO
EVIDENCIADO. DECLARAÇÕES DA
FINANCEIRA ACOSTADAS À
PREAMBULAR. COMPROVAÇÃO DE
DILAÇÃO DE PRAZO PARA
PAGAMENTO DA OBRIGAÇÃO.
NEXO DE CAUSA E EFEITO ENTRE
A CONDUTA PERPETRADA E O
DANO CAUSADO AO
CONSUMIDOR. PATENTE DEVER
DE INDENIZAR. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO.
APELO DO CONSUMIDOR.
QUANTUM COMPENSATÓRIO.
CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. EFEITO
PEDAGÓGICO NÃO VERIFICADO.
MAJORAÇÃO QUE SE IMPÕE.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
(grisso nosso)

Da inversão do ônus da prova

Nas relações de consumo sabe-se


que o consumidor se apresenta frágil, impotente diante da
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empresa que detém maior poder econômico, técnico e até
mesmo do poder de reter as provas documentais que
lastreariam a veracidade das alegações.
Pautado por este princípio, da
vulnerabilidade, é que o requerente deve ser beneficiado pela
inversão do ônus da prova, pelo que reza o inciso VIII do artigo
6º, também do CDC, uma vez que a narrativa dos fatos dão
"ares de verdade", ou seja, dão verossimilhança ao seu pedido.

Versa o dispositivo elencado no


Código de Defesa do Consumidor, a saber:

"Art. 6º. São direitos básicos do


consumidor:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de
seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando,
a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de
experiências;"

A citada norma define, que o


serviço bancário deve ser agasalhado pelas regras e os
entendimentos do Código de Defesa do Consumidor. Vejamos
in verbis:

"Art. 3º. Fornecedor é toda


pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que

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desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação,
construção, transformação,
importação, exportação,
distribuição ou comercialização
de produtos ou prestações de
serviços. (...)

§ 2º Serviço é qualquer atividade


fornecida no mercado de
consumo, mediante
remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de
caráter trabalhista." (grifo nosso)

Ademais, destaca-se que a


responsabilidade do fornecedor nas relações de prestação de
serviços – qual seja, a relação banco-correntista – também é
regulada pelo diploma de Defesa do Consumidor,
precisamente no caput de seu artigo 14, que versa:

"Art. 14. O fornecedor de serviços


responde, independentemente da
existência de culpa, pela
reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos
serviços, bem como por
informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição
e riscos." (grifo nosso)

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LIMINAR “inaldita altera pars”

Diante dos fundamentos


relacionados, REQUER a concessão de medida cautelar
“inaldita altera pars” no sentido que retirar o nome do
requerente dos órgãos de proteção ao crédito, pois essa
providência jurisdicional assegurará a efetividade do
provimento definitivo.
Também requer liminarmente a
sustação do protesto, por ser medida inadiável, pois os
prejuízos decorrentes da negativação do nome do requerente
são evidentes e o perigo da demora não pode ficar sobre os
ombros do requerente, que já sofreu bastante com tal
situação.

Presentes os requisitos legais do


“fumus boni iuris” e do “pericullum in mora”, a concessão
LIMINAR se impõe como medida assecuratória de futura
satisfação dirigida à prevenção de um dano ocasionado pela
demora.

III. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, REQUER:

a) O recebimento, registro e
autuação da presente Ação DECLARATÓRIA DE
INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA C/C SUSTAÇÃO DE PROTESTO E
DANOS MORAIS;

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b) A citação do requerido para,
querendo, apresentar a defesa que entender pertinente;
c) A produção de todos os meios
de prova admitidos, notadamente a prova testemunhal e o
depoimento pessoal do autor;
d) A declaração da inexistência
da dívida inscrita no Cartório de Notas e Protesto de
Pesqueira/PE, em protesto apontado do livro 09 sob o nº
49.136 do Banco Bradesco Financiamento;
f) A condenação do Banco
Bradesco,
f1) ao pagamento de indenização
por danos morais;
f2) a condenação da requerida
em custas, despesas processuais e honorários advocatícios;
g) Preliminarmente, a concessão
da Gratuidade da Justiça;
h) Como medida de URGÊNCIA,
requer o deferimento das LIMINARES: de sustação do protesto
e retirada o nome do autor dos cadastros dos órgãos de
proteção ao crédito.
Dá-se à causa o valor de R$
1.000,00, para efeitos fiscais.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Pesqueira, 29 de Agosto de 2012.

Alexandre De Almeida e Silva


OAB/PE 17.915

Michelle Jully Holanda B. Maia


OAB/PE 32.637
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ROL DE TESTEMUNHAS:

1) Rosimere Siqueira da Silva


Sítio Cafundó, Zona Rural de Alagoinha/PE

2) Antônio Gomes da Silva


Sítio Liberal, Zona Rural de Pesqueira/PE

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