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EXMO. (A) SR. (A) DR.

(A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 1ª VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE PESQUEIRA/PE

Processo-Crime nº. 2049-51.2011


Autora: Justiça Pública
Acusado: Cláudio Roberto Tavares dos Santos
Vítima: A sociedade
Alegações Finais

CLÁUDIO ROBERTO TAVERES DOS


SANTOS, já devidamente qualificado nos autos do Processo-
Crime nº. 2049-51.2011, nos presentes autos, por seu
advogado in fine assinado, vem mui respeitosamente perante
V. Exa., no prazo legal, apresentar suas

ALEGAÇÕES FINAIS

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nos termos a seguir aduzidos:
Douto e Ínclito Julgador:

A Representante do Ministério
Público desta comarca ofereceu e foi recebida denúncia
contra o acusado, que ora faz suas últimas alegações, ao qual
foi imputada a conduta descrita no art. 157, § 3º, in fine, e
Art. 288, parágrafo único, do Código Penal, e Art. 244-B c/c
o art. 29, ambos do Código Penal Brasileiro.

Relata a acusação, na tarde de 22


de julho deste ano de 2011, na estrada que dá acesso ao
Distrito de Papagaio, neste Município, localidade conhecida
como Rio do Bálsamo, o Sr. Edmilson Pires de Freitas, vitima
nestes autos, conduzia sua motocicleta Yamaha, cor preta,
ocasião em que o adolescente Vitor Urna da Conceição,
portando uma espingarda soca-soca, atravessou-se na estrada,
anunciando um assalto, estando acompanhado do também
adolescente Diego Felipe de Oliveira, este armado de faca
peixeira.

Aduz a peça acusatória que, a arma


de fogo utilizada para a pratica do delito foi fornecida pelo
defendente, o qual costumeiramente “empresta” armas aos
adolescentes, para que os mesmos pratiquem assaltos nesta
cidade, sendo que é repassado ao defendente parte do
produto de cada roubo.

2
Segundo a denuncia, verifica-se
ainda, que a vitima deste feito, assustada com a investida dos
adolescentes, desceu da moto, fazendo menção de correr,
ocasião em que o adolescente Diego Felipe desferiu um golpe
de faca-peixeira em seu pescoço, caindo a vitima ao chão,
havendo Vitor subtraído do seu bolso um celular, quebrado o
“chip”, saindo Diego a guiar a mato levando no bagageiro a
pessoa de Vitor.

Sendo, que Edmilson Pires de Freitas


não resistiu à lesão sofrida sobrevindo a sua morte ainda no
local do delito.

Afirma o parquet, que, consoante as


informações colhidas no I.P., Diego Felipe de Oliveira e Vitor
Lima da Conceição, receberam à espingarda soca-soca do
adolescente João Paulo Santos Gomes, que por sua vez,
recebera a referida arma das mãos do defendente Cláudio
Roberto Tavares dos Santos, possuindo João Paulo e o
defendente pleno conhecimento de que a arma seria
empregada em um assalto.

Aduz a denuncia que, o defendente,


juntamente com os adolescentes já mencionados reuniam-se
para a prática de assaltos nessa cidade, estando o defendente
a corromper menores para a pratica de delitos, fornecendo
armas e recebendo parte do produto dos assaltos.

Por fim, a condenação do


defendente nas penas Art. 157, § 3º, in fine, e Art. 288,

3
Parágrafo único do Código Penal, e Art. 244-B c/c o art. 29
ambos do Código Penal Brasileiro.

1. PRELIMINAR DE NULIDADE EM RAZÃO DE


CONSIDERAÇÃO DE PROVA EMPRESTADA EM PROCEDIMENTO
REFERENTE A MENOR INFRATOR E A INSTRUÇÃO
PROCESSUAL PARA REQUERIMENTO DE CONDENAÇÃO

Para exercer esse poder-dever de


punir o Estado pelos meios legais e previamente instituídos,
exerce o jus persequedi ou jus persecutionis, isto é, o direito
público subjetivo de perseguir o acusado até o resultado final
de seu direito, através de um processo, instrumento público
subjetivo de que possui para fazer valer a lei penal.

Mas o Estado não pode punir de


qualquer maneira. O processo penal é o ramo que contém o
arcabouço a ser observado no exercício da função punitiva.
Evidentemente que tal ciência não serve como um meio de
impor caprichos ou ordens pelos detentores de poder; ao
revés, deve respeito aos direitos fundamentais.

Esse processo, que se desenvolve


através de um procedimento, deve respeitar as leis estatais e
principalmente a Lei Constitucional, com o respeito aos
direitos fundamentais do indivíduo, garantindo a eficácia do
princípio do devido processo legal, esse reconhecidamente
um direito fundamental.

4
Na verdade, o que se busca para a
máxima efetividade do processo penal é o ponto de equilíbrio
entre a eficiência da coerção estatal e o respeito aos direitos
fundamentais consagrados na Constituição Federal.

Brilhante o comentário de Rui


Pinheiro e Artur Maurício “O processo penal atinge a perfeição
desejável no ponto de encontro do interesse público da
repressão criminal rápida e segura, e do interesse particular
dos arguidos numa justiça que lhes ofereça suficientes
garantias de defesa contra uma condenação injusta. (...) Aos
interesses sociais da prevenção geral contra o crime e especial
contra determinado delinquente, corresponde parte desta
necessidade de um processo justo e garante da sua defesa
contra eventuais prepotências do titular da ação penal, o
Estado”.

Essa então a pedra de toque acerca


da finalidade do processo penal.

O renomado jurista Antonio


Scarance Fernandes destaca que existem três correntes
fundamentais sobre a finalidade do processo penal, a saber:
“Uma atribui ao processo penal a finalidade de assegurar a
defesa do acusado. Sustenta que historicamente, o processo
penal se afirmou como instrumento necessário para evitar que
se impusesse a alguém uma pena sem que se pudesse
defender-se. Seria então eficiente o processo que assegurasse
ao acusado meios para o exercício de sua defesa, de modo a
impedir condenações injustas. (...) Para outra corrente, a

5
finalidade do processo é permitir aos órgãos de persecução a
apuração da verdade e a punição dos autores de infrações
penais. Essa posição de maior predominância a acusação do
que a defesa do acusado, pois eficiente seria o processo que
permitisse aos órgãos de persecução penal a apuração dos
fatos criminosos e a condenação dos seus autores. (...)
Finalmente, terceira posição entende que a finalidade do
processo penal é a obtenção de um resultado justo que se
legitime pelo procedimento adequado. Deve equilibrar as
posições das partes, sem dar predominância a qualquer delas,
procurando compensar eventuais desigualdades naturais ou
jurídicas entre elas. Eficiente, nessa ótica, é o processo justo
que assegure a ambas as partes os exercícios de seus direitos e
as proteja com as garantias constitucionais”.

Desta forma, entendemos que o


equilíbrio necessário para satisfação dos fins desejados pelo
Estado seria a formalização de um processo penal justo, que
para se chegar à verdade real, onde nos limites impostos se
deveria dar às partes as mesmas armas e a mesma igualdade,
assegurando sempre a eficiência da justiça criminal e a
efetividade dos direitos e garantias fundamentais.

Para se exercitar o direito-dever de


punir deve observar o Estado-Juiz os direitos e garantias
individuais do cidadão. Entre elas está a do due processo of
law, garantia esta assegurada pela Constituição Federal de
1988.

Dispõe o inciso LV do art. 5º da


Constituição Federal de 1988, in verbis:

6
“ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal”

O devido processo legal configura


dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito
material de proteção do direito de liberdade e propriedade
quanto ao âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de
condições com o Estado- persecutor e plenitude de defesa
(direito à defesa técnica, à publicidade do processo, à
citação, de produção ampla de provas, de ser processado e
julgado pelo juiz competente, aos recursos, à decisão
imutável, à revisão criminal).

Na prática jurídica do Supremo


Tribunal Federal, se reconhece a extrema ligação entre o
devido processo legal, o princípio do contraditório e da ampla
defesa, senão vejamos, in litteris:

O devido processo legal tem como


corolários a ampla defesa e o
contraditório, que deverão ser
assegurados aos litigantes, em
processo judicial criminal e civil
ou em procedimento
administrativo, inclusive nos
militares (STF – 2ª. T. – Agravo

7
Regimental em agravo de
instrumento n. 142.847; SP – rel.
Min. Marco Aurélio, Diário da
Justiça, Seção I, 5 fev. 1993, p.
849), e aos acusados em geral,
conforme texto constitucional
expresso (art.5, LV).

Para que a garantia da plenitude de


defesa seja uma realidade, ao direito a informação e atuação,
e ao contraditório, deve ser somado o direito à prova, mais
especificamente o direito à prova legitimamente obtida ou
produzida, que, por certo, se faz ínsito ao contraditoriedade
da instrução criminal.

No caso in baila, em que pese o


desenvolvimento do processo, há nulidade insanável, quanto a
instrução processual, e o direito de defesa do ora defendente,
o que reflete na garantia acima epigrafada do devido processo
legal, no que diz respeito a a

2. DAS PROVAS

Oferecida as alegações finais pelo


Ministério Público, em que apenas se baseou em afirmações

8
colhidas em sede de “Termo de apresentação de
adolescente” e em “declarações prestadas na delegacia”.

Nota-se ainda, que as declarações


dadas pelos menores (fls. 224/227), a Representante do
parquet, não tem valor probatório, principalmente por que
ausente o direito ao contraditório.

Salienta-se, assim que o direito à


prova é aspecto de particular importância no quadro do
contraditório, uma vez que a atividade probatória representa
o momento central do processo: estritamente ligada à
alegação e à indicação dos fatos, visa ela a possibilitar a
demonstração da verdade, revestindo-se de particular
relevância para o conteúdo do provimento jurisdicional.

A Lei nº 11.690/008, dando nova


redação ao art.155 do CPP, acolheu essas idéias. Ao dizer que
o “juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
proa produzida em contraditório judicial”.

Em última analise, tanto será


viciada a prova que for colhida sem a presença do juiz,
como o será a prova colhida pelo juiz, sem a presença das
partes.

3. DA CONDIÇÃO DE VALIDADE DAS PROVAS

9
É invalida a prova produzida sem a
presença do juiz.

No processo penal, na medida em


que as provas constantes, quer do inquérito policial, quer de
procedimentos ou sindicâncias administrativas em geral, não
se prestam senão à formação da opinio delicti, para efeito de
oferecimento da denúncia.

E, oferecida a denúncia, cabe ao


Ministério Público provar o que alega, sendo inaceitável que
alguém seja condenado apenas com base nos elementos do
inquérito policial ou de quaisquer outros procedimentos
administrativos.

Essa posição, inconteste na doutrina


brasileira, é corroborada por julgados sem conta dos tribunais,
afiançando que prova suficiente para a condenação é aquela
colhida em juízo.

Veja-se o acórdão do Supremo


Tribunal Federal, rel. Min. Soares Muños, in RT 540/412. Em
decisão mais recente, o STF acentuou que “a peça
inquisitorial serve para formar a opinio delicti e alicerçar a
instauração da ação penal. Não pode ser a base ou
fundamento de uma decisão condenatória, isto é, sem
respaldo em elemento probante produzido durante a
instrução criminal, sob pena de ferir o principio
constitucional do contraditório” (RE 331.133-PR, rel. Min.
Sepúlvede Pertence, DJU 25.02.2004).

10
E recorde-se, ainda, a percuciente
observação de Alberto Silva Franco, quando o Juiz do Tribunal
de Alçada Criminal de São Paulo, que ponderou, “com lógica
irredutível, que se uma condenação pudesse ter por
suporte probatório apenas elementos retirados do inquérito
policial, ficaria o Ministério Público, no limiar das própria
ação penal, exonerado de comprovar a acusação, dando por
provado o que pretendia provar, e a instrução criminal se
transformaria numa atividade inconseqüente (TACrim,
julgados. 66/454)”.

Sendo assim, a prova obtida sem a


presença do Juiz é ilícita, principalmente quando se trata de
menor, sendo nulidade absoluta do processo com isso é
evidente e flagrante a gravidade do ato, em regra o prejuízo é
manifesto e que sua permanência acarreta para a efetividade
do contraditório e para a justiça da decisão, pois o vicio
atinge o próprio interesse público de correta aplicação do
direito, por isso, percebida a irregularidade, o próprio juiz, de
oficio, deve decretar a invalidade.

4. SOBRE A PROVA EMPRESTADA

Consoante mostrado em sede de


alegações finais oferecida pelo Ministério Público a Promotora
usou como prova para embasar a condenação do acusado,
prova de um processo em que o mesmo não participou.

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Entende-se por prova emprestada
aquela que é produzida num processo, sendo depois
transportada documentalmente para outro, visando a gerar
efeitos neste.

Por isso mesmo, o primeiro requisito


constitucional de admissibilidade da prova emprestada é o de
ter sido produzida em processo formado entre as mesmas
partes ou, ao menos, em processo em que tenha figurado
como parte aquele contra quem se pretenda fazer valer a
prova.

Isso porque o principio


constitucional do contraditório exige que a prova emprestada
somente possa ter valia se produzida, no primeiro processo,
perante quem suportará seus efeitos no segundo, com a
possibilidade de ter contado, naquele, com todos os meios
possíveis de contrariá-la.

Em hipótese alguma poderá a


prova emprestada gerar efeitos contra quem não tenha
participado da prova no processo originário.

No sentido do texto, decidiu o TJSP


que “a prova emprestada somente poderá surtir efeito se
originalmente colhida em processo entre as mesmas partes
ou no qual figure como parte quem será por ela atingido.
Em hipótese alguma, por violar o principio constitucional do
contraditório, gerará efeitos contra quem não tenha
figurado como uma das partes do processo originário”

12
(TJSP, Ap. 84.806-3, 6ª C., j. 21.11.1990, rel. Des. Reynaldo
Ayrosa, RT 667/267).

Também ficou ressaltado em


julgado do TJSP que esse tipo de prova “é muito perigosa
para embasar um decreto condenatório, uma vez que o
julgador não tem a oportunidade de sentir as reações físicas
apresentadas pelo depoente”, não podendo aferir se a
testemunha está mentindo ou não (TJSP, AP. 348.834-3/5-
00, 1ª C. Extr., rel. Des. Machado de Andrade, RT 834/547).

Ainda, STF, HC 67.707-0- RS, com


a ressalva de que não ocorre cerceamento de defesa se,
inobstante a existência de prova testemunhal emprestada,
não foi ela a única a fundamentar a sentença de pronuncia
(rel. Min. Celso de Mello, RT 690/380).

Malgrado haja dissensão


jurisprudencial acerca do uso da prova emprestada no
processo-crime, em certo ponto a jurisprudência é unânime, a
saber:

“... admite-se a utilização de


prova emprestada no processo
penal, desde que sobre ela seja
possibilitado o amplo exercício do
contraditório....” (STJ - AgRg no Ag
1081379 / RS – Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho – Dje 15/03/2010)
(grifei)

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Também nesta mesma linha, o
Superior Tribunal de Justiça. In Litteres:

“Havendo indícios de que a


produção de provas não foi
realizada sob a presidência do Juiz
do processo, em ato do qual não
participaram as partes, com
patente inobservância do devido
processo legal e do contraditório,
a prova emprestada deve ser
qualificada como ilícita,
desprovida de qualquer eficácia,
eivada de nulidade absoluta,
insusceptível de ser sanada por
força da preclusão" (STJ -REsp -Rel.
Min. Vicente Leal -RT 743/589).

[...] A prova emprestada de outra


ação penal somente pode ser
valorada se ambas as partes
tiveram integral ciência e a
possibilidade do exercício do
contraditório. (...) (STJ - RHC
20.372/SP - Relatora Ministra Maria
Thereza de Assis Moura - Sexta
Turma - DJ de 11.06.2007, p. 378).

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No mais como demonstrada pelas
Jurisprudências pátrias, é ilícita a prova emprestada em que a parte
não tenha participado do processo originário, bem como que a
prova não foi realizada pelo Juiz Presidente.

5. DA NEGATIVA DE AUTORIA

Em momento algum, durante a


instrução do processo foram apresentadas provas que
pudessem incriminar o defendente.

Registre-se, que o defendente, não


foi mencionado na instrução processual como participante,
autor ou co-autor do delito descrito pela denúncia, com o que
impossível é empresta-se foros de agnição a denúncia, a qual
fenece e falece ante a inexistência de prova hábil e idônea a
confortá-la.

O acusado não participou de


qualquer forma da empreitada criminosa narrada pelo
parquet, uma vez que não se encontrava no local dos fatos,
tampouco ficou provado que emprestava armas para os
menores cometerem crimes, como quer fazer crer o Ministério
Público.

No entanto, há inúmeras
contradições acerca das Alegações Finais oferecidas pelo
Ministério Público em que pede a lavra de douta representante
do ministério público.

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Em depoimento prestado em se de
audiência de instrução o menor Diego Felipe de Oliveira,
declarou que João pegou a arma com o acusado Cláudio. Já
nas palavras do menor Vitor, João Paulo comprou a arma
“umas duas semanas antes” e que a faca não veio de
Claudio.

Ainda, o menor Vitor relata: “que a


arma foi vendida por Cláudio a João Paulo e Claudio não
sabia que era para isso e, sim, para caçar”.

Acerca desse tema a jurisprudencial


é unânime. in litteres:

“Roubo – Agente que empresta a


arma com que o crime é realizado,
sem saber das intenções do
tomador – Co-participação delitiva
– É impossível condenar por roubo
o agente que empresta a arma com
que o crime é realizado, se não há
prova alguma nos autos de que
estava este ciente das reais
intenções daquele que lhe pediu a
arma, em conseqüência do que
não se pode afirmar da existência
do vinculo psicológico unindo-o
aos agentes ativos do delito,
circunstância indispensável para

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a caracterização da co-
participação delitiva.” (TACreimSP
– Ap. 1.034.819/1 – Órgão Julgador:
12ª Cãmara – Rel. João Morenghi –
RJTACrim 34/335).

Em nenhum momento o acusado


manteve qualquer contato prévio com os menores que
apareceram de súbito no local onde se encontrava a vitima,
não sabendo por qual motivo estavam os menores naquele
local.

Conforme interrogatório do acusado


(fls. 236 a 238) “declarou que conhecia João Paulo desde
pequeno, quando cortava “algaroba” alega que Vitor não
esteve em sua casa e que ele o acusado estava
trabalhando”. Ainda, alega que “tinha uma soca-soca tendo
vendido a João Paulo há uns (03) três meses – vendido a
arma por R$ 30,00 (trinta reais)”.

Em que pese à acusação sobre o


acusado, este no dia do ilícito penal, e se encontrava
trabalhando.

No que pertine as jurisprudências


colacionadas pelo Ministério Público em suas alegações finais,
que servem de base ao pedido de condenação, é de se antever
que não tratam de casos de latrocínio semelhantes a este, mas
nos casos em que o co-autor ou partícipe apesar de não
participar ativamente da empreitada, tem papel na execução

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do delito, como o que não dispara arma de fogo contra a
vítima, mas estava no local, armado, ou não, e aquele que é
responsável por guiar um automóvel em momento de assalto,
e há morte de vítima.

Entender como possível à


condenação de acusado, por vendido uma arma há mais de
duas semanas, a pessoa que sequer participou do assalto, mas
que apenas a emprestou para cometimento do delito, é
entender possível a responsabilidade objetiva em direito
penal.

Fosse assim, quem vendesse arma é


pessoa que pratica homicídio, mesmo sem ter aquiescência
subjetiva da conduta praticada, responderia por homicídio.

É a conditio sine qua non que


determina a relação de causalidade, ou seja, a concausa
preexistente, totalmente independente da conduta, é onde
verificamos que a conduta não contribuiu em nada para a
produção do evento.
Evidentemente, não haverá de se
falar em imputação ao agente do resultado para o qual
concorram causas anteriores concomitantes ou
supervenientes absolutamente independentes da sua
conduta.

Nessa hipótese, é a própria


causalidade que resta excluída (art. 13, caput, do CP), não
cabendo indagar sobre sua relevância penal (art. 13, §1º, do
CP). Quanto às concausas supervenientes relativamente

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independentes, a lei é expressa ao declarar que excluem a
responsabilidade do agente para o qual tenham por si só
contribuído.

A Doutrina é unanime sobre o


assunto: In Litteres:

“O princípio, no entanto,
permanece um só. A lei não
pretende que a conduta seja
subjugada por fatores outros,
sejam antecedentes, sejam
concomitantes ou supervenientes.
Aquilo que importa é que a conduta,
no complexo do processo causal,
consiga manter sua posição
determinante na produção do
resultado (COSTA JR., 1996, p.
110)”.

No mais, o acusado quando da data


do fato e as circunstâncias não cometeu qualquer crime, vez
que não contribuiu na inteireza ao que consta na denúncia.

6. DO IN DUBIO PRO RÉU

Por ter o Ministério Público em fase


de alegações finais, apenas ter se baseado em depoimentos

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dados pelos menores, sem o crivo do contraditório, deixa
duvidas acerta da co-participação do acusado.

Então nos resta demonstrar que são


unânimes as decisões do Tribunal de Justiça do Estado de
Pernambuco, acerca do tema: In litteres:

PENAL E PROCESSO PENAL. ROUBO


QUALIFICADO E RESISTÊNCIA (ART.
157, §2º, I E II C/C ART. 71 E ART.
329, DO CP). NEGATIVA DE
AUTORIA EM RELAÇÃO A UM DOS
ROUBOS. CABIMENTO. NÃO
RECONHECIMENTO PELA VÍTIMA.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO IN
DUBIO PRO RÉU. ABSOLVIÇÃO.
MANUTENÇÃO DA REPRIMENDA
DEFINITIVA FIXADA NA SENTENÇA
EM FACE DA INCIDÊNCIA DA REGRA
PREVISTA NO ART. 71 DO CP.
APELO PROVIDO. DECISÃO
UNÂNIME.

PENAL E PROCESSUAL PENAL.


APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO
QUALIFICADO. NEGATIVA DE
AUTORIA. INCIDÊNCIA DO
PRINCÍPIO "IN DUBIO PRO REO".
PROVAS INSUFICIENTES PARA
FUNDAMENTAR A CONDENAÇÃO.

20
REFORMA DA SENTENÇA. RECURSO
PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.

1. Da análise dos autos, verifica-se


que não há certeza da participação
do apelante na prática do delito,
tendo em vista que as provas dos
autos são insuficientes para
embasar a sua condenação.

2. O princípio in dubio pro reo


tem cabimento quando há dúvida
acerca da autoria e materialidade
do crime. Assim, o princípio in
dubio pro reo deve reger o
presente caso ante a falta de
elementos fáticos probantes da
participação do apelante no crime
de roubo.
3. Recurso provido. Decisão
unânime.

Em obediência ao princípio do in
dubio pro réu, não há juízo de certeza quanto à efetiva
participação do acusado no roubo da vítima, mormente por
não existir conteúdo probatório acerca de sua co-
participação.

Não procede, assim, a acusação


ministerial de que o acusado teria participado da conduta que
levou a subtração da motocicleta e morte da vitima.

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É clara a falta de conteúdo
probatório, em que se pedi a condenação do acusado.

Entendendo desta forma, por


imperativo legal e constitucional deve V.Exa., deve ABSOLVER
o ora defendente das acusações que lhes são imputadas,
como demonstrado, sem que tenha contribuído para o assalto
e nem muito menos para a morte da vitima.

Ademais, visamos o cumprimento da


lei que rege a matéria, que caso permaneça infringida poderá
causar outros transtornos, além dos já causados ao ora
defendente.

Visamos, ainda, a efetividade do


preceito constitucional que assegura a duração razoável do
processo, que no caso estaria sufragado e desrespeitado.

NO MÉRITO

Caso entenda este juízo, o que não


concordamos, com a rejeição da preliminar argüida, deve ser
ABSOLVIDO o ora defendente, em que este não praticou
nenhum crime.

Sofreu coação moral irresistível


durante este processo por ser acusado de um crime em que

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não praticou e nem participou, e não poderia ter outra
conduta, senão prova a sua inocência.

Ademais, é réu primário, sem


antecedentes criminais, e tem endereço fixo nesta comarca.

Ex positis, requeremos a V. Exa.,


que ACOLHA A PRELIMINAR ARGUIDA DE NULIDADE DO
PROCESSO, EM FASE DA INEXISTÊNCIA DE PROVAS,
ABSOLVENDO das acusações constantes da denúncia, julgando
como improcedente a ação penal, com arrimo normativo e
jurisprudencial, por ser de direito.

Nestes Termos,
Pede e espera deferimento.
Pesqueira, 27 de Janeiro de 2012.

Alexandre De Almeida e Silva


OAB nº 17915

Ezequiel Ivan Santos de Lima


Acadêmico de Direito

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