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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA

$[PROCESSO_VARA] VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


$[PROCESSO_COMARCA] - $[PROCESSO_UF]

Um culpado punido é exemplo para os


delinqüentes, um inocente condenado é
preocupação para todos os homens de bem.
(Azevedo Franceschine)

Processo: $[processo_numero_cnj]
Autor: Justiça Pública
Réu: $[parte_reu_nome_completo]

$[parte_reu_nome_completo], já qualificado nos autos do


processo criminal em epígrafe, por intermédio de sua
procuradora (procuração em anexo), vem respeitosamente,
perante Vossa Excelência, nos termos do art.396 do Código de
Processo Penal,
apresentar

RESPOSTA À ACUSAÇÃO
pelos substratos fáticos e jurídicos a seguir aduzidos:

DOS FATOS

Em síntese, consta do teor da denúncia oferecida pelo Ilustre Órgão


Ministerial, que o acusado durante o mês de julho do ano de 2004, na condição
de Sócio-Gerente e representante legal da empresa revendedora de combustível
$[geral_informacao_generica], nome fantasia “$[geral_informacao_generica]”,
revendeu aos consumidores combustível adquirido junto a empresa
distribuidora diversa, de nome “$[geral_informacao_generica]”.

Com efeito, pugna o douto Ministério Público pela aplicação do tipo penal
previsto no art.1º, inciso I, da Lei 8.176/91, em complemento com a portaria
116/2000, em decorrência da suposta aquisição irregular e conseqüente revenda
de combustível empreendidas pelo acusado em sua gestão no supracitado
estabelecimento.

DAS PRELIMINARES

I- DA NULIDADE “AB INITIO” PELA INÉPCIA DA DENÚNCIA

A constituição Federal texto maior do nosso ordenamento jurídico,


consagra, consoante dicção normativa respaldada em seu artigo 5º inciso LV o
Princípio do contraditório e da ampla defesa, norma que resguarda um perfeito
equilíbrio na relação estabelecida entre a pretensão punitiva do Estado e o direito
á liberdade bem como a manutenção do estado de inocência do acusado.
Com efeito, para que seja legítimo, o “jus puniendi” do Estado deve se
pautar em extrema observância as garantias constitucionais e
infraconstitucionais dadas ao denunciado.

Consoante traduz o art.41 do Código de Processo Penal, a denúncia deve


vir acompanhada com o mínimo embasamento probatório, apto a demonstrar, a
efetiva realização do ilícito penal por parte do denunciado.

Nesse diapasão, o orgão acusador deve alicerçar sua pretensão com um


suporte legitimador que revele de modo satisfatório e consistente a materialidade
do fato delituoso e a existência de indícios suficientes de autoria do crime,posto
que, não se revela admissível a imputação penal destituída de base idônea.

No caso sub ocullis, a peça vestibular acusatória é estritamente vaga e


imprecisa ao descrever fatos indefinidos, genéricos, em crítica discordância com
a verdade real, não alcançando de plano a tipicidade da conduta, inafastável na
apreciação da justa causa para persecução penal.

Segundo disposto na inicial acusatória, o denunciado teria supostamente


vendido em seu estabelecimento durante o mês de julho combustível fornecido
pelo distribuidor detentor diverso de marca comercial exibida, evidenciando tal
conduta com base exclusivamente em notas fiscais apresentadas pela Secretaria
da Fazenda nos autos do inquérito civil de nº $[geral_informacao_generica], não
existindo nos autos qualquer outro documento hábil a comprovar a desviada
conduta do denunciado.

No mesmo passo, é forçoso observar que a combatida denúncia se pautou


exclusivamente em informações contidas no Inquérito Civil instaurado pelo
parquet, instrumento investigatório que se pauta em um sistema
peremptoriamente inquisitório.
Para um melhor entendimento explica CORDERO:

“o sistema inquisitório são máquinas analíticas movidas por inesgotáveis curiosidades


experimentais voltadas de incertezas”(Franco.Procedimiento Penal, Vol. 2, p.40).

Ademais, é importante recordar que, no processo penal, a carga da prova


está inteiramente nas mãos do acusador, não porque a primeira afirmação é feita
por ele na peça acusatória, mas também porque o réu esta protegido pela
presunção de inocência garantida constitucionalmente.

Logo, no caso em tela, nos afigura concluir, um verdadeiro descompasso


com os princípios constitucionais, assim como as exigências legais esculpidas no
Código de Processo Penal.

O Caderno Processual Penal em seu art.43, inciso III preleciona que “a


denúncia ou queixa será rejeitada quando: III- for manifesta a ilegitimidade da
parte ou faltar condição exigida pela lei para o exercício da ação penal” (grifo),
requisito formal que deve estar presente na denúncia a fim de que possa ser ela
recebida, instaurando assim a ação penal condenatória.

Nesse contexto, como regra, à denúncia precisa conter minuciosamente


descrita a imputação formulada contra alguém, possibilitando, pois o exercício
do contraditório e da ampla defesa.

Neste mesmo sentido o doutrinador JÚLIO FABBRINI MIRABETE, em


sua obra Código de Processo Penal, 18ª ed., p. 112, enfatiza que:

“É inepta e não deve ser recebida a denúncia que não especifica, nem descreve, ainda
que sucintamente, o fato criminoso atribuído ao acusado, que seja vaga, imprecisa,
confusa, lacônica”.
Com efeito, não é outro entendimento do Supremo Tribunal Federal
consoante se pode verificar no seguinte julgado:

EMENTA: HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. ESTADO DE DIREITO.


DIREITOS FUNDAMENTAIS. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA. REQUISITOS DO ART. 41 DO CPP NÃO PREENCHIDOS. 1 - A
técnica da denúncia (art. 41 do Código de Processo Penal) tem merecido reflexão no
plano da dogmática constitucional, associada especialmente ao direito de defesa.
Precedentes. 2 - Denúncias genéricas, que não descrevem os fatos na sua devida
conformação, não se coadunam com os postulados básicos do Estado de Direito. 3 -
Violação ao princípio da dignidade da pessoa humana. Não é difícil perceber os danos
que a mera existência de uma ação penal impõe ao indivíduo. Necessidade de rigor e
prudência daqueles que têm o poder de iniciativa nas ações penais e daqueles que
podem decidir sobre o seu curso. 4 - Ordem deferida, por maioria, para trancar a ação
penal.

Assim, a desobediência a tal formalidade, uma vez que se constitui


elemento essencial do ato, nulifica, ex vi do art. 564, III, a do CPP, a denúncia, o
que contaminará, com o vírus insanável da nulidade absoluta, por conseguinte,
todo o processo .

Diante do exposto, outra solução não se apresenta, data maxima venia, a


Vossa Excelência, que a declaração de nulidade absoluta da presente denúncia.

II- DA NULIDADE PELA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


EM SENTIDO ESTRITO

A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXXIX, consagra o


princípio da legalidade ao dispor: "não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal", vedando, assim, a existência de crime e
pena sem lei anterior que os definam. Constitui, assim, uma garantia
constitucional dos direitos do homem.
Deste princípio é possível extrair algumas conseqüências, como, por
exemplo, à exigência de lei escrita anterior ao fato, ou seja, escrita e prévia. Outro
requisito seria exigência de lei certa, uma lei determinada.

A norma penal incriminadora deve ser precisa, ao descrever os elementos


do tipo, devendo o legislador utilizar-se de elementos objetivos, normativos e
subjetivos do injusto, apresentando com exatidão, a descrição do tipo.

Logo, de acordo com o referido princípio constitucional, deve o legislador,


previamente, balizar os contornos de cada tipo penal.

Todavia, diante da natureza da matéria a ser regulada, não pode o


legislador definir, de modo integral, todas as condutas delituosas, necessitando
de complementação por outra disposição legal ou regulamentar, como no caso
do art. 1º, inciso I, da Lei 8.176/91, necessitando que o intérprete recorra a um
complemento certo, taxativo, preciso para exigibilidade da norma, para a
definição e conceituação dos direitos protegidos, o que chamamos de “lei penal
em branco”.

In casu, a lei penal em branco (Lei 8.176/91) completada pelo § 2º da art.11


da Portaria 116/2000, desrespeita indubitavelmente os princípios da taxatividade
ou da legalidade, uma vez que, é imprescindível para complementação da norma
penal indefinida a apresentação de outra lei amoldada que a complete, e jamais
uma norma complementar genérica, constituída por um ato meramente
administrativo, trazendo em seu conteúdo notória indeterminação, como a citada
portaria.

Ora Excelência, deve prevalecer à garantia constitucional da legalidade


em sentido estrito em sua interpretação absolutamente restritiva, sendo
inadmissíveis tipificações penais vagas, indefinidas, as quais põem em jogo o
magno direito a liberdade do cidadão.

Por tais considerações, é forçoso concluir ante a flagrante violação do


Princípio da legalidade, pela nulidade absoluta do processo, por ser medida de
direito.

DO MÉRITO

DA ATIPICIDADE MATERIAL DO DÉLITO

Caso este honrado e ínclito Juízo Criminal não acate as preliminares de


nulidade, o que espera que não ocorra, ad cautelam, a título de argumentação,
adentraremos no mérito da quaestio.

No caso em vertente, a conduta perpetrada pela denunciado consistente


em vender combustível diverso da bandeira ostentada, inobstante formalmente
típica, não é antijurídica, numa idéia material da tipicidade penal. Nesse aspecto,
vale esclarecer que a tipicidade formal é a adequação de uma conduta à descrição
abstrata de um crime. Já a tipicidade material analisa a lesividade da ação
praticada pelo agente, em face do bem jurídico protegido pelo Direito penal.
Então, para ser delituoso um comportamento humano, além de subsumir-se a
uma norma incriminadora (estar expressamente previsto em lei como crime),
deve ter provocado uma ofensa relevante no bem jurídico tutelado, ou uma
significativa ameaça de lesão a ele.

O princípio da intervenção mínima ou direito penal mínimo propõe ao


ordenamento jurídico uma redução dos mecanismos punitivos do Estado ao
mínimo necessário. Portanto, a intervenção penal somente se justifica quando é
definitivamente indispensável à proteção dos cidadãos. O Direito penal deve
apenas penalizar as condutas mais graves e perigosas que lesem os bens jurídicos
de maior relevância. Dizer que a intervenção é mínima significa que o Direito
penal deve ser a ultima ratio, restringindo e direcionando o poder incriminador
do Estado. Dessa forma, o Direito penal somente deve atuar quando os demais
ramos do Direito forem insuficientes para proteger os bens jurídicos em conflito,
isto é, se outras formas de sanção ou controle social forem eficazes para a tutela
dos bens jurídicos, a sua criminalização não é recomendável conflitando com um
Direito penal simbólico que atualmente se insere no ordenamento jurídico
vigente.

O princípio da adequação social, por sua vez, surgiu como uma regra de
hermenêutica, ou seja, possibilita a exclusão de condutas que, embora se
amoldem formalmente a um tipo penal (tipicidade formal), não mais são objeto
de reprovação social, eis que se tornaram socialmente aceitas e adequadas. Esse
princípio possui uma dupla função: restringe o âmbito de aplicação do direito
penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas
socialmente adequadas e aceitas pela sociedade; orienta o legislador na eleição
das condutas que se deseja proibir ou impor, com a finalidade de proteger os
bens considerados mais importantes, seja incluindo novas condutas, seja
excluindo condutas não mais inadequadas à convivência em sociedade.

Na lição de Zaffaroni e Pierangeli:

"(...) a tipicidade conglobante consiste na averiguação da proibição através da


indagação do alcance proibitivo da norma, não considerada isoladamente, e sim
conglobada na ordem normativa. A tipicidade conglobante é um corretivo da
tipicidade legal, posto que pode excluir do âmbito do típico aquelas condutas que
apenas aparentemente estão proibidas" (in Manual de Direito Penal Brasileiro, 2ª ed,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 461-463).

Logo, a análise do tipo conglobante é a verificação do tipo legal, associada


às demais normas que compõem o sistema. Assim, algo pode preencher o tipo
penal, mas, avaliando-se a conduta conglobantemente, em conjunto com as
demais regras do ordenamento jurídico, verifica-se que o bem jurídico protegido
não foi afetado.

No caso em apreço, consoante se depreende de fls. 23/25 dos autos, o


acusado firmou compromisso de ajustamento de conduta com o Ministério
Público pagando a título de reparação civil a importância de R$ 6.550,00, já
assumindo civilmente a responsabilidade pela suposta conduta, sem implicar em
reconhecimento da responsabilidade penal como compromissado no TAC.

Assim sendo, é forçoso finalizar que a reparação civil já se mostra como


um mecanismo punitivo necessário, não existindo espaço ante a relevância
jurídica do bem supostamente violado, para punir criminalmente a conduta do
denunciado que se quer causou qualquer resultado naturalístico.

Com essas considerações, carece o fato de sua tipicidade material,


circunstância que nos remate a ATIPICIDADE da conduta.

DO REQUERIEMNTO

Diante de tudo o que foi exposto, das evidências aqui aduzidas, o autor
requer que seja decretada a anulação do processo “ab initio”, com fulcro nos
fundamentos do item I ou II, ou caso Vossa Excelência assim não entenda, que
seja determinada a absorvição sumária nos termos do art.397 do Código de
Processo Penal em virtude da ausência de justa causa para sustentar a persecução
penal, ou ainda que seja determinada a intimação das testemunhas a seguir
arroladas.
Nestes termos,

Pede deferimento.

$[advogado_cidade] $[geral_data_extenso],

$[advogado_assinatura]

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