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1. CONCEITO:
2. NATUREZA JURÍDICA:
Em nosso sistema, a ação penal está prevista no Código Penal e Código de Processo Penal.
Para Tourinho Filho, Hélio Tornaghi, José Antônio Paganella Boschi e Frederico Marques, o direito
de ação tem conteúdo processual, pois as normas previstas na lei adjetiva se destinam a regular o
jus puniendi. Para outros, a exemplo de Jorge Alberto Romeiro e Vicente de Azevedo, pertence ao
campo comum do Direito Penal e Processual Penal.
a) Caráter público: a ação penal é direito público, pois, do ponto de vista subjetivo, é exercido
em face do Poder Público (Estado). Do ponto de vista objetivo, contém uma pretensão de significativa
relevância social (uma pretensão punitiva, baseada em direito material-penal). O direito de ação é
sempre exercido em face do Estado, pois somente ele pode impor o jus puniendi.
b) Constitui direito subjetivo: o direito de propositura da ação penal constitui uma faculdade
– ou dever, no caso de ação penal pública – de agir, com o fito de alcançar a tutela de determinado
interesse. Em essência, o titular pode exigir do Estado-Juiz a prestação jurisdicional.
c) É direito autônomo: não se confunde com o direito material que se pretende tutelar. A sua
existência e a possibilidade de que seja exercido independem de qualquer relação jurídica material.
Decorre da própria autonomia do direito processual.
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d) É um direito abstrato: esta característica decorre da autonomia do direito de ação em
relação ao direito material. Esta doutrina contrapõe-se à corrente antes dominante que encarava
como direito concreto, segundo o qual o direito de ação surge da situação concreta em que ocorra
violação de um direito material. É um direito abstrato, pois pode ser exercido por qualquer pessoa
que tenha capacidade de agir, ainda que nenhuma violação a direito tenha ocorrido. A circunstância
de que o autor da ação não tenha razão, ou de que não se tenham preenchido os requisitos
necessários para que obtenha a tutela pleiteada não obsta a concretização do direito de ação, pois o
Poder Judiciário estará obrigado a manifestar-se, ainda que para decidir contrariamente aos
interesses do autor da ação. Portanto, é direito abstrato porque independe do provimento
jurisdicional, seja ele favorável ou desfavorável, justo ou injusto.
O pedido veiculado por meio da ação penal deve ser, ao menos em tese, passível de
atendimento pelo Poder Judiciário. Para que o pedido seja juridicamente possível, é preciso que haja
um dispositivo de lei determinando que a conduta descrita pelo acusador e imputada ao acusado
constitua infração penal (crime ou contravenção). É preciso haver um tipo penal incriminando a
conduta que, segundo o acusador, foi praticada pelo acusado.
Por isso o artigo 43, inc. I, do CPP dispõe que a denúncia será rejeitada quando o fato narrado
evidentemente não constituir crime. Assim, analisa-se o fato tal como narrado na inicial acusatória,
sem se indagar se a imputação é ou não a verdadeira realidade. Relega-se para o mérito a análise
dos fatos provados. Aprecia-se apenas a “causa petendi” considerada em tese, desvinculada de
qualquer prova porventura existente.
b) Interesse de agir.
A pretensão punitiva somente deve ser iniciada nos casos concretos em que há interesse
público estatal na solução da lide.
Nucci e Capez desdobram o interesse de agir no trinômio necessidade, utilidade e adequação
à causa. Necessidade é relativa ao processo penal, haja vista a impossibilidade de se punir alguém
sem o devido processo legal. No âmbito cível, diferentemente, a pretensão poderá ser satisfeita
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espontaneamente pela parte. O infrator penal jamais poderá submeter-se a uma sanção penal sem
o devido processo penal e condenação. Atualmente, excepciona-se com a transação penal. Por isso,
a denúncia não pode ser recebida se já estiver extinta a punibilidade do agente (art. 43, II, CPP).
Utilidade representa a eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor. A ação
penal tem por objetivo impor pena ao acusado. Se por qualquer motivo essa pena não mais possa
ser imposta (prescrição), então o ajuizamento da ação será inútil, faltando interesse de agir. Apesar
de tema controvertido, existe posicionamento apregoando a falta de interesse de agir (devido à
inutilidade do processo) quando se projetar a prescrição (prescrição virtual ou antecipada) em
concreto antes do oferecimento da denúncia, podendo ser promovido o arquivamento 1 . Outra
situação muito controvertida é a situação dos crimes de bagatela, quando parte da doutrina e
jurisprudência apregoam que não se poderá obter resultado útil da formação de um juízo sentencial
condenatório. A adequação reside no processo penal condenatório e no pedido de aplicação de
sanção penal de acordo com os parâmetros do tipo penal incriminador. Narrada uma conduta típica,
o acusador deve pleitear a condenação do acusado conforme os parâmetros do tipo incriminador. O
desinteresse de agir pode ocorrer, ainda, pela inexistência de provas mínimas idôneas a embasar a
ação penal. Na medida em que o processo penal é, por si, causa de constrangimento, deve ser
instaurado diante da existência de mínimos elementos de prova idôneos em torno da conduta típica.
Evidentemente que a admissibilidade da ação penal não demanda provas robustas. Basta que as
provas sejam capazes de despertar um juízo de suspeita, o suficiente para demonstrar que a
acusação não é fruto de criação cerebrina ou mero capricho.
Também falará interesse de agir quando estiver evidenciada alguma excludente da ilicitude
(art. 43, inc. I, CPP).
Consiste em existir previsão legal para que as partes que figuram no processo ocupem suas
respectivas posições processuais. Fala-se, pois, em legitimidade ativa e passiva. Via de regra, a
legitimidade ativa é do Estado, por meio do Ministério Público (art. 129, I, CF), mas também pode ser
exercida pelo ofendido. Há, também, a legitimidade ad processum, isto é, para atuar no processo
1 Não afeta o interesse de agir, uma vez que é impossível a rejeição da denúncia face ao reconhecimento antecipado da
prescrição retroativa, vez que isso implicaria em antecipação de tutela jurisdicional, inadmissível em sede penal. STF,
RHC 76.153-2. STJ, REsp 196003. Ademais, o art. 43, II, do CPP, afirma que a peça acusatória não será recebida quando
“já estiver extinta a punibilidade” e não quando a causa extintiva for provável.
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penal. Ex.: maiores de 18 anos, por seus procuradores. Menores de 18 anos deverão ser
representados.
Parte da doutrina aventa a possibilidade de a justa causa ser uma condição da ação autônoma.
Consistiria na obrigatoriedade de que exista, no momento do ajuizamento da ação penal, prova
acerca da materialidade do delito e, ao menos, indícios da autoria, permitindo fundada suspeita
quanto à prática de um fato de natureza penal. Trata-se de posição altamente controvertida. A
despeito, encontram-se diversos autores sustentando, efetivamente, que a justa causa representa
uma condição da ação, referindo-se à existência de elementos mínimos de provas para autorizar o
ajuizamento da ação penal. Ocorre que o legislador, com a reforma inserida por meio da Lei n.º
11.719/08, explicitamente distinguiu as condições da ação da justa causa ao estabelecer no artigo
395 do CPP os incisos II e III. Portanto, altamente questionável a conclusão no sentido de que a justa
causa está contida dentre as condições da ação penal.
A despeito desta sustentação, a justa causa não representa mais do que a existência, em cada
caso concreto, do interesse de agir e da legitimidade passiva ad causam. Ora, as provas quanto à
materialidade demonstram a necessidade de que seja instaurado um processo para que se apure o
fato narrado. Os indícios de autoria, por sua vez, é que tornarão possível determinar, mesmo que de
forma relativamente imprecisa, a pessoa que deverá constar no pólo passivo da demanda. A falta de
justa causa, entretanto, constitui ilegalidade e autoriza propositura de habeas corpus, conforme art.
648, I, do CPP.
A justa causa, pois, exige prova da materialidade do delito e indícios da autoria. Entretanto,
a jurisprudência nacional vem ampliando o conceito de justa causa para reconhecer a sua ausência
não só pela falta de prova da materialidade ou indícios da autoria, mas também nas hipóteses de
evidente atipicidade ou de extinção da punibilidade (STJ RHC 14718/ES, j. 03/06/04). Nesta
hipótese, a decisão é de mérito, impedindo a propositura de nova ação. Quando faltarem provas da
materialidade ou indícios da autoria, a decisão não é de mérito.
Guilherme Nucci cita conceito no sentido de que a justa causa, em verdade, espelha uma
síntese das condições da ação.
As condições da ação não se confundem com as escusas absolutórias, que atingem
diretamente o direito de punir do Estado, fazendo com que a pena deixe de ser imposta por
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circunstâncias pessoais do agente. Ex.: artigos 181 e 348, § 2º do Código Penal e 53 da Constituição
Federal (imunidades parlamentares).
a) Pública incondicionada;
b) Pública condicionada à representação;
c) Pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça;
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d) Privada
e) Privada subsidiária da pública
f) Ação penal popular – crimes de responsabilidade do Presidente da República, Ministros
de Estado, etc. Artigo 14 da Lei 1.079/50. Qualquer cidadão poderá propor ação perante a Câmara
dos Deputados. Tourinho Filho e Ada Pelegrini Grinnove a admitem. Predomina, entretanto, que não
se trata de ação penal, pois a expressão crimes de responsabilidade representam meras infrações
administrativas, a partir do conceito de crime previsto na Lei de Introdução ao Código Penal. Seriam
“crimes” de responsabilidade impróprios. Somente os crimes próprios, com pena de reclusão ou
detenção, autorizam ação penal (ex. peculato).
2 HC 85949/MS, Julgamento em 22/08/2006, Primeira Turma. EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL
PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. REPRESENTAÇÃO FISCAL. SUSPENSÃO DO CURSO DA AÇÃO
PENAL. DECISÃO DEFINITIVA DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL. CONDIÇÃO DE
PROCEDIBILIDADE DA AÇÃO PENAL. LAVAGEM DE DINHEIRO. CRIME AUTÔNOMO. 1. Denúncia carente de justa
causa quanto ao crime tributário, pois não precedeu da investigação fiscal administrativa definitiva a apurar a efetiva
sonegação fiscal. Nesses crimes, por serem materiais, é necessária a comprovação do efetivo dano ao bem jurídico
tutelado. A existência do crédito tributário é pressuposto para a caracterização do crime contra a ordem tributária, não
se podendo admitir denúncia penal enquanto pendente o efeito preclusivo da decisão definitiva em processo
administrativo. Precedentes. 2. O crime de lavagem de dinheiro, por ser autônomo, não depende da instauração de
processo administrativo-fiscal. Os fatos descritos na denúncia, se comprovados, podem tipificar o crime descrito na
norma penal vigente, devendo, quanto a este, prosseguir a ação penal. Precedentes. 3. Habeas corpus parcialmente
concedido.
7.1. Titularidade: do Ministério Público (artigos 129, I, CF, e 25, III, da Lei n. 8.625/93 (LONMP).
A Constituição prevê única exceção, em seu artigo 5º, LIX, no caso do Ministério Público não
oferecer denúncia no prazo legal, admitindo-se ação penal privada subsidiária, proposta pelo
ofendido ou representante legal. Mesma ressalva é encontrada no artigo 29 do CPP e 100, § 3º, do
CP.
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Desta forma, ficam revogados os artigos 26 e 531 do CPP, que previam o procedimento
judicialiforme, cuja titularidade era conferida à autoridade policial ou Juiz, iniciando pelo auto de
prisão em flagrante ou mediante portaria, nos casos de contravenções.
7.2. Princípios:
c) Princípio da indisponibilidade: O Ministério Público não pode desistir da ação penal (art.
42 CPP). É mais um desdobramento do princípio da obrigatoriedade. Aliás, não pode desistir do
recurso que haja interposto (art. 576 CPP). Este princípio está mitigado frente ao benefício da
suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95). Este é, sem dúvida, um ato de
disposição da ação penal. Este princípio tem sido adotado, também, pela jurisprudência para impedir
o reconhecimento da prescrição retroativa antecipada (prescrição em perspectiva). TRF/3ª Região –
HC 15874-SP, 5ª Turma, j. 26/04/2004, DJU 01/06/04, p. 292.
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É posição majoritária da jurisprudência, inclusive pacífica no STF e STJ2, que para a ação
penal pública não se aplica o princípio da indivisibilidade, porquanto para ela existe o princípio da
obrigatoriedade.
e) Princípio da intranscendência: A ação penal somente pode ser proposta contra a pessoa
a quem se atribui o cometimento da infração penal.
f) Princípio da suficiência da ação penal: Nas hipóteses em que não existir alguma
questão prejudicial (É toda questão cujo deslinde implica um pré-julgamento do mérito. Questões
prejudiciais podem estar relacionadas com o estado de pessoas (vivo, morto, parente ou não, casado
ou não). Nestas hipóteses, o juiz será obrigado a suspender o processo criminal até que a polêmica
seja solucionada no juízo cível. Ex.: Crime contra o patrimônio sem violência ou grave ameaça
cometido por ascendente contra descendente ou vice-versa). O parentesco terá relevância, pois o
autor ficará isento de pena, diante da escusa absolutória do art. 181, II, CP. A prejudicialidade é
facultativa quando não disser respeito ao estado de pessoas. No caso, o juiz criminal não estará
obrigado, mas apenas poderá suspender o processo, aguardando a solução no âmbito cível. Ex.:
antes de saber se houve o furto, é necessário decidir se a coisa subtraída pertence ou não ao agente,
já que inexiste furto de coisa própria. Se houver ação cível discutindo a titularidade, o juízo penal não
precisará aguardar a solução da demanda na esfera extrapenal, conforme art. 93 do CPP.
É aí que se fala em princípio da suficiência da ação penal. A demanda penal é suficiente para
solver a questão prejudicial não ligada ao estado de pessoas, sendo desnecessário aguardar a
solução no juízo cível.
Exceções:
a) Lei 1.521/51 – crimes contra a Economia Popular – 2 dias (art. 10, § 2º).
b) Lei 4.737/65 – Código Eleitoral – 10 dias (art. 357)
2
STF, RTJ, 91/477, 94/137 e 95/1389, HC 74.661-6, 74.333-1; STJ, RSTJ, 23/145.
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c) Lei 4.898/67 – 48 horas (art. 13) Entretanto, entende-se que será processado nos JEcrim.
d) Lei 11.343/06 – Delitos de drogas – 10 dias (art. 54)
7.4. A DENÚNCIA
a) a exposição do fato com todas as suas circunstâncias. Quanto a este requisito, observar
que as agravantes e majorantes podem ser reconhecidas na sentença, mesmo quando não
capituladas na denúncia ou queixa, desde que a inicial acusatória as descreva, no mínimo, quando
da narrativa do contexto fático. Atinente às agravantes, há norma expressa a respeito (artigo 385 do
CPP, final).
As qualificadoras também devem ser descritas faticamente, não podendo ser reconhecidas
pelo juiz sem imputação expressa, sob pena de violação do princípios do contraditório e da ampla
defesa.
Ademais, o réu defende-se dos fatos, não da capitulação efetuada na denúncia. Por isso, se
houver alguma deficiência na capitulação, não proporciona qualquer nulidade.
3
Ver STF, HC 222340, 1ª Turma, 30/10/2001.
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Quanto à conduta dos agentes, na hipótese de concurso de pessoas, há necessidade de ser
individualizada, sempre que possível. Nos crimes societários, há tendência da jurisprudência atual
em exigir a narrativa individualizada da conduta de todos os coautores ou partícipes, vinculando-os
à prática dos fatos imputados. Ou seja, não basta ser membro da empresa, por exemplo, ou ter
posição de comando.
É possível ao juiz corrigir a capitulação da denúncia no ato de recebimento?
Predomina, absolutamente, o entendimento no sentido de que é vedado ao Juiz alterar a
capitulação conferida pelo Ministério Público, ou mesmo pelo querelante, na denúncia ou queixa.
Guilherme Nucci entende que o Juiz pode corrigir a denúncia ao recebê-la. Esta possibilidade
somente pode ocorrer em momento posterior, na sentença (artigo 383 CPP), por meio da emendatio
libelli. Guilherme Nucci, por exemplo, entende que o Juiz pode corrigir a capitulação da denúncia no
ato de seu recebimento.
Entretanto, com o advento do benefício da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei
n.º 9.099/95), não se descarta a admissibilidade de tal conduta do juiz. Digamos que o delito imputado
na denúncia ou queixa não admita tal benefício, mas o juiz entenda que os fatos correspondem a
delito menos grave, que comporta a benesse. Ex.: denúncia por lesões gravíssimas quando o fato
configura lesão corporal apenas grave. Mesmo assim, trata-se de tese muito incipiente. De qualquer
sorte, reafirma-se que o juiz poderá conferir outra classificação ao delito na sentença (art. 386),
abrindo vista ao Ministério Público para que ofereça, se cabível, a suspensão condicional do
processo.
DENÚNCIA ALTERNATIVA
É entendimento tranquilo na doutrina e jurisprudência que a denúncia não pode ser alternativa,
por violar os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório.
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Há que se fazer ressalva nas hipóteses em que o procedimento preveja a ocorrência de defesa
preliminar (alegações escritas ou orais) antes do recebimento da denúncia (ex.: lei de drogas, delitos
funcionais e Juizado Especial Criminal). Nesses casos, evidentemente, o Juiz, para receber a
denúncia (ou queixa), deverá rechaçar as alegações preliminares efetuadas pela defesa. Por isso,
acabará se manifestando. No entanto, deve atentar para não manifestar-se acerca do mérito da ação
penal.
Também deverá manifestar-se nos processos de competência originária dos Tribunais,
consoante dispõe o artigo 6º da Lei n.º 8.038/90.
ADITAMENTO À DENÚNCIA
O permissivo legal para tanto encontra-se no artigo 569 do CPP: As omissões da denúncia
ou da queixa, da representação, ou nos processos das contravenções penais, da portaria ou do
auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas a todo o tempo, antes da sentença final.
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c) Inclusão de uma elementar não referida na denúncia. Pode ocorrer que a instrução
criminal demonstra a ocorrência de fatos que alterem a definição jurídica do delito inicialmente
imputado. Por exemplo: incluindo uma qualificadora.
Neste caso, em tese, o recebimento do aditamento interrompe a prescrição, desaparecendo
a interrupção anteriormente ocorrida quando do recebimento da denúncia. O prazo prescricional,
também, passa a ser regulado pela nova pena.
No dizer dos artigos 24 do CPP e 100, § 1º, do CP, a ação penal pode depender de
representação do ofendido ou representante legal, de requisição do Ministro da Justiça ou de
requisição do Ministério Militar a que estiver subordinado o militar quando praticar os crimes previstos
nos artigos 136 a 141 do Código Penal Militar.
Diverge a doutrina acerca da natureza da manifestação de vontade que condiciona o
ajuizamento da ação penal. Ora é classificada como condição suspensiva de procedibilidade, ora
como condição objetiva de punibilidade, ou mesmo como condição de procedibilidade. O
entendimento majoritário é no sentido de que a representação e a requisição do Ministro da Justiça
constituem condição processual e não material.
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A representação é uma autorização concedida pelo ofendido ou quem tenha capacidade
para representá-lo a fim de que o Ministério Público possa promover a ação penal a ela
condicionada. Sem a representação, a autoridade policial não poderá sequer instaurar o inquérito
policial (art. 5º, § 4º, CPP).
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Se o ofendido for incapaz, pode o Juiz nomear curador especial para analisar a
conveniência de oferecer a representação.
Também poderá ser nomeado curador se os interesses do incapaz colidirem com
representante (art. 33 CPP). STF HC 76311, DJU 07/08/98, p. 20.
As pessoas jurídicas também poderão oferecer representação, por meio da pessoa indicada
no respectivo contrato ou estatuto social.
Forma – Não há forma explícita para a representação. Não precisa sequer ser expressa. A
simples circunstância de que o ofendido se dirija à Delegacia relatando a existência dos fatos
demonstra sua concordância, podendo ser tomada como exercício da representação. Ver, neste
sentido, HC 88274, de 17/2/07 do STF, reconhecendo a validade da representação com o
comparecimento da vítima à Delegacia de Polícia relatando os fatos.
Deve conter todas as informações que possam servir ao esclarecimento do fato e da autoria
(art. 39, § 2º, do CPP).
Feita a representação contra apenas um suspeito, esta se estenderá aos demais,
autorizando o Ministério Público a propor a ação contra todos. Isso decorre do princípio da
indivisibilidade da ação penal, corolário do princípio da obrigatoriedade. É o que se chama de eficácia
objetiva da representação.
Se representar apenas com relação a um crime, não se estende ao outro porventura contido
na mesma investigação. É o entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência.
Prazo – O prazo decadencial é de 6 meses contados do dia em que o ofendido ou quem tenha
qualidade para representá-lo vier a saber quem é o autor do crime (art. 38 CPP e 103 CP).
Quando morto o ofendido, o prazo começa a correr do dia do falecimento quando conhecido o
ofensor, ou do dia em que o titular do direito de representação venha a conhecer o autor do crime,
nos casos em que isso somente venha a ocorrer após a morte ou ausência do ofendido, desde que
já não tenha fluído para o falecido, evidentemente.
O direito de representação dos familiares do ofendido, pois, independeria, no que diz respeito
ao prazo, do direito do próprio ofendido. Os familiares do art. 24, § 1º, pois, teriam também 6 meses
para ofertarem a representação. Parte da doutrina, entretanto, argumenta que, com a morte de um
legitimado (ex.: cônjuge), o direito de representação transfere-se ao próximo por sucessão (ex.:
ascendente), sub-rogando-se o novo legitimado ao direito do legitimado anterior. Segundo esse
entendimento, o prazo decadencial continuaria a fluir, restando ao novo legitimado apenas a parcela
de prazo que ainda faltava escoar com relação ao legitimado anterior.
A partir da entrada em vigor do novo Código Civil, não tem mais aplicação os artigos 34 e
50, parágrafo único, do CPP, no que diz respeito ao curador ao menor entre 18 e 21 anos de idade.
Da mesma forma, a Súmula 594 do STF está prejudicada para os fatos contra ofendido entre 18 e 21
anos de idade (estabelecia que os direitos de queixa e representação podiam ser exercidos,
independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal”, quando aquele fosse menor entre
18 e 21 anos).
Entretanto, quando o ofendido é menor de 18 anos, a Súmula deve prosseguir sendo aplicada,
pois os prazos são individuais. Do menor, começará a correr após os 18 anos. Neste caso, não da
data em que tomar conhecimento de quem é o autor do fato, mas da data em que implementar 18
anos. Mesmo que tenha contado o fato ao representante legal antes dos 18 anos, o ofendido, ao
completar 18 anos de idade poderá exercer pessoalmente o direito, que somente inicia a partir de
então. Damásio e Tourinho, entretanto, entendem diferentemente, apregoando que o direito de
representação é um só. Se o representação legal do menor souber do fato antes dos 18 anos do
ofendido e para ele decair, o ofendido, ao completar 18 anos, não poderá mais exercer o direito de
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representação. Não é a posição que se extrai da Súmula 594 do STF. Segundo esta Súmula, os
prazos são distintos, nada impedindo que o ofendido, quando completar 18 anos, exerça o direito de
representação (ou queixa). É o entendimento majoritário.
De qualquer sorte, o prazo decadencial é contado conforme o artigo 10 do CP, incluindo na
contagem o dia do começo.
Renúncia à representação – Na Lei n.º 9.099/95, por meio da composição civil dos danos
homologada pelo Juiz de Direito, ocorre a renúncia ao direito de representação (artigo 74, § ún., e
79). Quando a infração for cometida por mais de um dos agentes (ex.: lesões corporais leves
praticadas por dois ou mais contra a mesma vítima), pode ocorrer composição civil dos danos
somente com algum dos agressores. Neste caso, a renúncia somente valerá contra este, não
ocorrendo contra os demais. Contra estes, poderá haver representação. Quanto houver várias
vítimas, a composição feita por uma delas não representa renúncia por parte das demais que não
compuseram o dano.
Além disso, com a entrada em vigor da Lei n.º 11.340/06 (Mª da Penha), há previsão no artigo
16 no sentido de que a renúncia à representação da ofendida somente poderá ocorrer em juízo, em
audiência especialmente designada para tanto. Por isso, também em crimes de violência doméstica
e familiar contra a mulher, surgiu o fenômeno da renúncia ao direito à representação, porém somente
perante o Juiz. De qualquer forma, pode-se entender que a expressão renúncia à representação
utilizada nesta Lei é inadequada. Renuncia-se a algo ainda inexistente. Não se pode renunciar ao
direito já exercido (no caso, a representação já ofertada). Por isso, melhor é entender que a expressão
correta na Lei n.º 11.340/06 é retratação da representação, porquanto já teria havido a representação
e a vítima pode retratar-se em juízo, até ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA neste caso. É
uma exceção.
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Portanto, existe no Brasil, o fenômeno da renúncia ao direito de representação, mas somente
nesses casos. Quando ocorrer, extingue a punibilidade (art. 107, inc. V, do CP)
A ação penal é pública, mas depende de requisição do Ministro da Justiça para o Ministério
Público agir.
A requisição é um ato de conveniência política.
Requisição é autorização, não exigindo forma especial. Não vincula o Ministério Público.
O seu conteúdo deve informar, ao menos, dados sobre a exposição dos fatos e sua autoria.
Diferentemente da representação, não há previsão quanto ao prazo para o seu oferecimento.
Assim, não há que se falar em prazo decadencial. O Ministro da Justiça poderá ofertá-la enquanto
não houver a prescrição.
Quanto à possibilidade de retratação, há duas correntes. Uma admitindo-a, aplicando-se
por analogia os dispositivos relativos à retratação da representação. Neste sentido, Jorge Alberto
Romeiro e Guilherme Nucci. Outra, não a admitindo, pois não há previsão legal acerca da retratação
da requisição, ao contrário da representação. Neste sentido, Capez e Tourinho Filho.
Ocorre em crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil (CP, art. 7º, § 3º,
“b”), crimes contra a honra de chefe de governo estrangeiro e do Presidente da República (CP, art.
141 I, c/c 145, § ún.), crimes contra chefe de Estado ou governo estrangeiro ou seus representantes
diplomáticos (art. 23, I, c/c o art. 40, I, “a”, Lei n.º 5.250/67).
Conceito - É aquela em que o Estado, titular exclusivo do jus puniendi, delega a legitimidade
para a demanda penal à vítima ou seu representante legal por razões de política criminal.
Justifica-se a sua existência para evitar que o streptus judicii (transtorno ou escândalo do
processo) proporcione à vítima um mal ainda maior do que a impunidade do criminoso, decorrente
da não-propositura da ação penal.
Princípios –
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a) Princípio da oportunidade ou conveniência: O ofendido tem a faculdade de propor ou
não a ação penal conforme sua conveniência, contrariamente à ação penal pública. Contrapõe-se ao
princípio da obrigatoriedade. Por isso, se a autoridade policial constatar a ocorrência de uma situação
de flagrante delito, somente poderá proceder se houver autorização do particular ofendido. Deste
princípio resultam a renúncia e a decadência.
a) o perdão recusado por algum dos querelados faz prosseguir a ação contra aquele que
recusou;
b) Acordo cível com um e não com os demais autores nos Juizados Especiais Criminais.
Permite a ação penal contra aqueles que não efetuaram o acordo.
c) Não identificação de todos os autores quando da propositura da queixa.
d) Quando ocorrer a extinção da punibilidade com relação a um dos autores do crime e
não com referência ao outro.
e) Princípio da intranscendência: a ação penal somente pode ser proposta contra o autor
ou partícipe da infração cometida, não podendo atingir quaisquer outras pessoas. Aliás, princípio
consagrado na Constituição (art. 5º, XLV).
a) Ação privada personalíssima – somente poderá ser promovida pelo próprio ofendido,
sem que, por sua morte ou ausência, o direito seja estendido aos sucessores do artigo 31 do CPP.
Atualmente, apenas o delito de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento ao
casamento (art. 236, par. Ún., CP) é de ação penal privada personalíssima. O adultério (art. 240 CP)
foi revogado.
Na hipótese de ofendido incapaz, menor de 18 anos ou em razão de enfermidade mental, a
queixa não poderá ser exercida, em virtude da incapacidade processual e a impossibilidade de o
direito ser exercido por representante legal ou curador especial nomeado pelo juiz. Neste caso, a
decadência não corre contra o ofendido pois está impedido de exercer o direito de que é titular.
Deverá aguardar a cessação de sua incapacidade.
c) Ação penal privada subsidiária da pública (artigos 29 CPP, 100, § 3º, CP e 5º, LIX CF)
– proposta quando o Ministério Público deixar de exercer o direito de ação no prazo legal e mantiver-
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se inerte. É a única exceção, inclusive prevista na Constituição Federal, à ação penal pública
condicionada ou incondicionada.
Constitui-se em uma mitigação ao artigo 129, I, da CF, que institui a ação penal pública com
titularidade exclusiva para o Ministério Público.
d) Ação penal privada concorrente - Nos crimes contra a honra, conforme dispõe o artigo
145 do Código Penal, quando cometidos contra funcionários públicos em razão do exercício de sua
função, a ação penal é pública condicionada à representação. Entretanto, é pacífico o entendimento
na jurisprudência no sentido de que pode o funcionário público, neste caso, optar entre representar
ou oferecer queixa-crime. Esta posição, aliás, gerou a Súmula 714 do STF.
e) Ação penal secundária – trata-se de expressão cunhada por Fernando Capez nas
hipóteses em que o legislador prevê determinada natureza de ação penal para algum delito, mas
diante do surgimento de circunstâncias especiais, admite outra natureza. Exemplo é os crimes contra
os costumes. Lá, a regra é que a ação penal seja privada. No entanto, se a vítima ou seus
responsáveis forem pobres, dependerá de representação. Se o autor do delito abusar da relação do
poder familiar (pai ou mãe), for tutor, curador ou padrasto, a ação penal é pública incondicionada. Se
o estupro ou o atentado violento ao pudor forem cometidos com violência real, a ação é pública
incondicionada (Súmula 608 STF). Outro exemplo seria crimes contra a honra (art. 145). A ação penal
é privada, mas na injúria real com lesões é pública incondicionada.
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Prazo da ação penal privada:
O prazo para o exercício do direito de queixa é de seis meses contados do dia em que vierem
a saber quem foi o autor do crime (art. 38 CPP).
Exceções:
O prazo decadencial pode ser exercido pelo ofendido ou representante, quando menor de 18
anos ou incapaz. Não se cogita mais de relativamente capaz entre 18 e 21 anos, a partir do Código
Civil em vigor. Com isso, os artigos 34 e 50, § ún., CPP, estão sem efeito. A Súmula 594 do STF, da
mesma forma. Quanto à Súmula, apenas permanece em vigor se a sua leitura for no sentido de que
os prazos são distintos, para o menor de 18 anos inicia-se quando implementar esta idade. Enquanto
isso, somente seu representante pode exercer o direito de queixa.
O artigo 35 do CPP, que exigia autorização do marido para a mulher casada intentar a queixa,
foi revogado pelo art. 226, § 5º, da CF e pela Lei n.º 9.520/97.
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No caso de morte ou ausência do ofendido, o prazo decadencial de seis meses começará a
correr a partir da data em que qualquer dos sucessores elencados no art. 31 do CPP tomar
conhecimento da autoria (art. 38, § ún., CPP), salvo se, quando a vítima morreu, já havia se operado
a decadência.
O prazo decadencial cessa pelo oferecimento (protocolização) da queixa, e não da data de
seu recebimento (STF RHC 63.665).
O prazo para a propositura da queixa-crime na ação penal privada subsidiária da pública é de
seis meses, contados do esgotamento do prazo para o Ministério Público, por analogia ao artigo 38
do CPP. Em se tratando de crimes falimentares ou de recuperação judicial de empresas, o prazo
também é de 6 meses, conforme agora previsto no artigo 184, § ún., da Lei 11.101/05.
O pedido de instauração de inquérito policial não interrompe o prazo decadencial.
Aliás, o prazo decadencial, por natureza, não se interrompe ou suspende.
A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do
instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, exceto quando
esses esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas ao Juiz.
(artigo 44 CPP).
Artigo 31 CPP – No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente
descendente ou irmão.
Perdão do ofendido:
Consiste na desistência da ação penal pelo autor após a sua propositura. Não existe perdão
antes da propositura da ação penal.
Diversamente da renúncia, o perdão não é ato unilateral, é bilateral. Uma vez ajuizada a ação
penal, o querelado tem o direito de ser processado até sentença final, pois tem legítimo interesse em
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provar sua inocência. Por isso, o perdão somente produzirá efeitos quando aceito (art. 107, inc. IV,
final, CP, e 51 CPP).
O perdão somente tem cabimento na ação penal privada exclusiva (art. 105 CP), jamais na
ação penal privada subsidiária da pública.
Seu fundamento é a disponibilidade da ação penal privada.
O perdão do querelante não se confunde com o perdão judicial, concedido por sentença (ex.:
art. 121, § 5º, CP).
a) forma: pode ser expresso ou tácito. Expresso quando assinado pelo próprio querelante,
seu representante legal ou procurador com poderes especiais. Tácito quando resultar da prática de
ato inequivocamente incompatível com a vontade de prosseguir na ação (art. 106, par. 1º, CP). O
perdão pode ser processual ou extraprocessual.
c) aceitação: Uma vez concedido, por meio de declaração expressa do querelante nos
autos, o querelado será intimado a manifestar-se, no prazo de 3 dias, dizendo se o aceita ou não (art.
58, “caput”, do CPP).
Da mesma forma como o perdão, a aceitação pode ser processual ou extraprocessual. Em
ambos os casos, entretanto, para que produza efeito extintivo da punibilidade, sua ocorrência deverá
ser demonstrada nos autos. Por isso, o art. 59 do CPP estabelece que a aceitação do perdão por
parte do querelado, quando fora dos autos, deverá ser comprovada por intermédio de declaração
assinada pelo querelado, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais. Isso
quando a aceitação for expressa. Quando tácita, ocorrerá se o querelado deixar de se manifestar no
tríduo legal.
Se o querelado for mentalmente enfermo ou portador de desenvolvimento mental incompleto,
e não tendo representante legal, havendo colidência de interesses entre o querelado e quem o
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represente, competirá ao juiz nomear-lhe curador especial para que decida acerca da aceitação do
perdão (art. 53 CPP).
Perempção:
III – Quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do
processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações
finais.
Neste caso, há divergências quanto ao não-comparecimento do querelante à audiência
preliminar a que alude o artigo 520 do CPP, no procedimento especial para crimes contra a honra
que não são da competência dos Juizados Especiais Criminais (art. 138, c/c 141, 140, § 3º, e nas
hipóteses de violência doméstica ou familiar contra a mulher, art. 7º, IV, Lei 11.340/06). Há uma
corrente que entende ocorrer perempção, pois essa audiência seria um ato relativo ao processo,
configurando condição de procedibilidade da ação. É majoritária ainda. Outra, entende que a aludida
audiência ocorre em momento anterior à própria propositura da ação penal, não constituindo ato
processual. Assim, não haveria perempção. STF HC 31028-MT. STJ HC 32577, 05/08/04.
IV – Quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
Se existir sucessor, terá este o prazo de 60 dias para, substituindo o querelante extinto, assumir a
ação.
Decadência:
Como regra geral, estatuída nos artigos 38 do CPP e 103 do CP, o prazo decadencial é de 6
meses contados do momento em que a vítima tomou conhecimento acerca de quem é o autor do fato
para o exercício do direito de queixa ou representação.
O mesmo se pode dizer para o exercício do direito de queixa crime subsidiária à denúncia,
quando se conta o prazo do dia em que se esgotar o prazo legal para que o Ministério Público ofereça
a inicial acusatória.
Exceções:
a) aditar a queixa;
b) repudiá-la;
c) oferecer denúncia substitutiva.
EMENDATIO LIBELLI
Previsão legal - Art. 383 CPP: O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da que
constar da queixa ou da denúncia, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.
MUTATIO LIBELLI
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Art. 384. Se o juiz reconhecer a possibilidade de nova definição jurídica do fato, em
conseqüência de prova existente nos autos de circunstância elementar, não contida, explícita ou
implicitamente, na denúncia ou na queixa, baixará o processo, a fim de que a defesa, no prazo de 8
dias, fale e, se quiser, produza prova, podendo ser ouvidas até três testemunhas.
Par. Ún. Se houver possibilidade de nova definição jurídica que importe aplicação de pena
mais grave, o juiz baixará o processo, a fim de que o Ministério Público possa aditar a denúncia ou a
queixa, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, abrindo-
se, em seguida, o prazo de 3 dias à defesa, que poderá oferecer prova arrolando até três
testemunhas.
Agora, trata-se de nova definição jurídica, em conseqüência de fato não narrado na denúncia,
explicita ou implicitamente. Exemplo: Em um processo por furto com descrição de fatos imputando
furto ao réu, surgirem provas da ocorrência de grave ameaça ou violência para subtrair,
caracterizando o roubo.
CONSEQÜÊNCIAS:
b) Se a nova definição jurídica acarretar aumento da pena, o juiz deverá intimar o Ministério
Público a tomar as providências que entender cabíveis, isto é, o aditamento da denúncia. Após, abrir
prazo de 3 dias à defesa para oferecer provas e arrolar até 3 testemunhas. Neste caso, o aditamento
é obrigatório, não podendo o juiz corrigir a nova imputação sem esta providência, sob pena de
nulidade. Se o Ministério Público não promover o aditamento, o juiz deve absolver o réu. (art. 384,
par. Ún.).
Pode ocorrer que a mutatio libelli leve à modificação da competência para o processo e
julgamento. Ex.: lesões dolosas leves (JECrim) para lesões graves (juízo comum).
A inobservância das formalidades do parágrafo único do art. 384 do CPP leva à nulidade da
sentença condenatória.
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Se a necessidade de alteração prevista no art. 384, par. Único, CPP, der-se em grau recursal,
no Tribunal, não poderá ocorrer, devendo o Tribunal absolver o réu, não podendo anular a sentença.
Sumula 453 STF – Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do CPP, que
possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não
contida explicita ou implicitamente na denúncia ou queixa. Entretanto, esta súmula não se aplica aos
processos de competência originária dos Tribunais (ex.: foro privilegiado).
RATIFICAÇÃO DA DENÚNCIA
“No crime de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada.”
Por primeiro, relevante destacar que esta súmula tem sido aplicada, pacificamente, por
analogia, ao crime de atentado violento ao pudor.
O delito de injúria real (art. 140, § 2º) com violência (lesões corporais), consoante dispõe o
artigo 145 do Código Penal, é de ação penal pública incondicionada. Observar, com cuidado, que
injúria real com vias de fato, portanto, é delito de ação penal privada (art. 145).
Ocorre que, a partir da entrada em vigor do artigo 88 da Lei n.º 9.099/95, que estabelece a
ação penal pública condicionada à representação para o delito de lesões corporais de natureza leve,
passou-se a questionar se o delito de injúria real com lesões leves também seria de ação penal
pública condicionada à representação. Nesse sentido, Fernando Capez e Bitencourt entendem que
a injúria real com lesões leves é delito de ação penal pública condicionada à representação.
Guilherme de Souza Nucci, por sua vez, entendendo que é crime complexo, sustenta que continua
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sendo delito de ação penal pública incondicionada. Entende que deve haver alteração legislativa. Os
demais autores silenciam.
Em 07 de agosto de 2006, surgiu a Lei n.º 11.340, que criou mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher.
No artigo 5º, define que configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação
ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico
e dano moral ou patrimonial:
I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual.
No artigo 7º, encontramos estabelecidas quais são as formas de violência doméstica e familiar
contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou
saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou
que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio
que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
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III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar,
a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou
uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto
ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.
Pois bem.
Na Lei n.º 11.340/06, não há qualquer previsão acerca do procedimento a ser adotado nas
hipóteses de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Entretanto.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Ou seja. Todos os delitos que configurarem violência doméstica e familiar contra a mulher
(violência física: lesões corporais; violência sexual: estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual
mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude, assédio sexual, corrupção de menores,
seqüestro ou cárcere privado; violência patrimonial: delitos contra o patrimônio; violência moral:
calúnia, difamação ou injúria), isto é, artigo 5º combinado com o artigo 7º, não serão da
COMPETÊNCIA dos Juizados Especiais Criminais, mas sim do Juízo Criminal Comum. No Juízo
comum, não poderão ser aplicados os benefícios da composição dos danos civis, transação e
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suspensão condicional do processo, pois todos previstos na Lei n.º 9.099/95. Em síntese, é VEDADA
a aplicação da Lei n.º 9.099/95 aos delitos de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro
da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem
prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata
esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Ora. Passaram os delitos tipificados como violência doméstica e familiar a depender de
representação da ofendida?
Aparentemente, sim.
Qual o sentido de a autoridade policial, nas hipóteses de violência doméstica e familiar dever
colher a representação da ofendida se não passaram a depender de representação? Qual o sentido
de haver previsão quanto ao direito de representação somente poder ocorrer em juízo, em audiência
especial?
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Sendo dependentes de representação, pode-se imaginar a seguinte hipótese: calúnia,
difamação e injúria entre sogra e nora, do genro contra a sogra, entre mãe e filha, do marido contra
a mulher, agora dependem de representação.
Furto de filho contra a mãe, a avó, bisavó, do marido contra a esposa, do companheiro contra
a companheira, do ex-companheiro contra a ex-companheira agora dependem de representação.
Desta forma, certamente está alterado o artigo 181 do Código Penal que prevê imunidade material
absoluta em crimes contra o patrimônio (exceto se com violência ou grave ameaça, para terceiros e
se a vítima tiver idade igual ou superior a 60 anos) praticados em prejuízo entre ascendentes e
descendentes e cônjuges na constância da sociedade conjugal, desde que a vítima seja a mulher.
Passaram a depender de representação. A imunidade é agora relativa?
Todas as lesões corporais contra a mulher (do artigo 129, § 9º, graves, gravíssimas ou
seguidas de morte?), nas hipóteses de violência doméstica e familiar, agora dependem de
representação?
Todos os delitos contra a liberdade sexual contra a mulher, desde que caracterizem violência
doméstica e familiar, dependem de representação?
Certamente o legislador não imaginou tamanhas conseqüências.
Entretanto, por mais inusitadas que tais situações possam parecer, agora estão previstas em
lei.
A polêmica não tem mais sentido de existir a partir de decisão do Supremo Tribunal
Federal que, por maioria de votos, vencido o Presidente, Ministro Cezar Peluso, julgou no dia
09.02.2012 procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 4424, ajuizada pela
Procuradoria-Geral da República, quanto aos artigos 12, inc. I, 16 e 41 da Lei Maria da Penha,
entendendo que a ação penal é pública incondicionada.
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