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PRINCÍPIOS

Professor Gilson Miguel Gomes da Silva


Princípios que regem o Direito Processual Penal:

O Processo Penal é regido por uma série de princípios e regras que


outra coisa não representam senão postulados fundamentais da
política processual penal de um Estado.

A depender do nível democracia vivenciada, tem-se uma maior


variável do processo como instrumento da liberdade individual.
Considerando que o processo penal desponta como uma expressão
de cultura, civilização e que reflete determinado momento político,
evidente que os seus princípios oscilam à medida que os regimes
políticos se alteram.
Princípio da verdade real ou processual:
A pretensão punitiva estatal deve ser dirigida àquele que, realmente, tenha cometido uma
infração; portanto, o Processo Penal deve tender à averiguação e descobrimento da
verdade real, da verdade material, com fundamento da sentença.

Lembra-se que no campo extrapenal, porque de regras discutem-se direitos disponíveis,


as partes podem transacionar, submeter-se à vontade da parte adversária, o que torna
impossível a restauração real dos fatos. O art. 334 do CPC dispõe que os fatos
incontroversos não podem ser objeto de prova. Todavia, em sede de Processo Penal, o
fenômeno mostra-se inverso, como se abstrai dos artigos 209 e 156, do CPP, dentre
outros. Excepcionalmente, o juízo penal curva-se à verdade formal, não dispondo de
meios para assegurar o império da verdade. A propósito, há previsão sobre a
impossibilidade de revisão pro societate, hipóteses de transação, segundo a Lei 9.099/95
e várias restrições à produção probatória, com as trazidas pelos artigos 155, parágrafo
único, 206 e 207 do CPP.

Cumpre observar que ao se pretender a verdade real, não se exige a totalmente


verdadeira, porquanto somente o Ente Divino a consegue, mas significa que o
ordenamento confere ao Juiz penal mais poderes na coleta de provas em relação ao Juiz
não penal. Assim, diante da falibilidade humana e restrições à construção das provas,
fala-se em “verdade processual” ou “verdade forense”.
Princípio da Imparcialidade do Juiz:

O Estado trouxe a si a tarefa de distribuir a justiça, entregando a cada


um o que é seu, logo, a missão não seria cumprida se o Juiz fosse
parcial.

Para alcançar a imparcialidade, exige-se independência, ou seja, o


juiz não pode ficar sujeito a coações, influências constrangedoras, de
forma a fazê-lo temer a perda do cargo. Portanto, a Constituição
Federal bem atribuiu garantias à Magistratura: vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios.
Princípio da Imparcialidade do Juiz:

Além disso, caso advenha algum motivo que interfira na


imparcialidade do Juiz, qualquer das partes pode excepcionar-lhe o
impedimento, incompatibilidade ou suspeição, a teor dos arts. 252,
254 e 112, todos do CPP, caso ele próprio não se antecipou,
abstendo-se de atuar no feito.

Tourinho sustenta que melhor seria se o legislador disciplinasse a


atividade instrutória conferida ao Juiz, impedindo-o de produzir
provas e de decretar medidas cautelares pessoais ou reais, mas
atribuindo-lhe o papel de recolher as provas apresentadas, e após
valorá-las, proclamar a quem assiste o direito. Daí resultaria a
imparcialidade incontestável em harmonia com o nosso Estado
Democrático de Direito.
Princípio do Contraditório:

Dispõe o artigo 5º, inciso LV, da CF: aos litigantes, em processo


judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes.

Além disso, prevê o inciso LIV: ninguém será privado da liberdade


ou de seus bens sem o devido processo legal. Daí se fala na
expressão due process of law.

Segundo tal princípio o acusado goza do direito “primário e


absoluto” de defesa. O réu deve conhecer a acusação que lhe é
imputada e poder contrariá-la, jamais podendo ser condenado sem
oportunidade real de ser ouvido e produzir provas contrárias
daquelas trazidas pela parte adversária.
Princípio do Contraditório:

Em outras palavras se um documento é juntado pela acusação,


direito assiste ao acusado conhece-lo e fruir de momento processual
para combater a sua pretensão.

Impende consignar que o princípio atinge ambas as partes, ou seja,


também a acusação possui o direito de saber das provas carreadas
aos autos pela defesa, e sobre essa manifestar-se, podendo produzir
contraprova.

Lembra-se que a Acusação e Defesa estão situadas no mesmo plano,


em igualdade de condições, e acima delas, o órgão Jurisdicional,
como órgão “superpartes”, para após a oitiva das alegações das
partes e da apreciação da prova, “dar a cada um o que é seu”.
Princípio do Contraditório:

Assim, a Defesa pode produzir as provas que bem entender, desde


que não proibidas, como corolário da “ampla defesa”. Tem a
faculdade de se manifestar sobre todos os atos praticados pela
Acusação, como: responder a denúncia; opor exceções (art. 95, CP) e
questões prejudiciais; recorrer; contra-arrazoar os recursos etc.

Destaca-se a existência obrigatória da defesa técnica (art. 261 e 263,


CPP), aquele decorrente de profissional habilitado ao exercício do
direito, e a defesa material, efetivada pelo próprio réu em seu
interrogatório (álibi, excludente de ilicitude...), mas esta última
sempre facultativa ao acusado.
Princípio do Contraditório:

Acrescenta-se, todavia, que alguns atos a lei confere com exclusividade à


Defesa, como os embargos infringentes ou de nulidade e até mesmo a
revisão criminal; além disso, a proibição da reformatio in pejus (art. 617,
CPP); produção de provas ilícitas em favor da defesa; absolvição por falta
de provas suficientes, decorrente do in dubio pro reo contra civitatem (na
dívida, a favor do réu contra a sociedade).

Nem sempre é a defesa que se manifesta por último, pois se foi ela quem
produziu a prova, falará derradeiramente a acusação, e vice-versa.

Tourinho tem posição no sentido de que se o Ministério Público recorre,


após as contrarrazões da Defesa, não deveria o Procurador de justiça , ao
opinar sobre o processo, manifestar-se sobre o mérito, mas somente sobre
a regularidade formal do feito, de forma a afastar duas manifestações do
MP, porque pode não agir com imparcialidade que é própria do fiscal da
lei.
Princípio do Contraditório: Quanto ao Inquérito Policial:

O contraditório e a ampla defesa são assegurados aos processos


judicial e administrativo. Este último entendido como processo
instaurado pela Administração Pública para apurar infrações
administrativas e fiscais, onde poderá haver sanção: multa de
trânsito, decretação de perdimento de bens, demissões de servidores.
Nesses casos, sempre assistirá ao processado o direito de contraditar
as provas e se valer da ampla defesa.

Todavia, o Inquérito Policial (IP) não é considerado um processo


administrativo, porque nenhuma pena pode ser imposta ao indiciado.
Inexistindo acusação, não se concebe o contraditório naquela fase
meramente informativa e até dispensável.
Princípio do Contraditório: Quanto ao Inquérito Policial:

Em caso de prisão provisória (flagrante, temporária, preventiva etc.), o


investigado tem a sua disposição o remédio constitucional do habeas
corpus, e somente nesta hipótese será possível a ampla defesa).

Não há admissão de decreto condenatório com base, exclusivamente, nas


provas apuradas na etapa pré-processual (IP). A Autoridade Policial não
acusa, apenas investiga.

Inobstante tudo isso, o Estatuto da Advocacia confere o direito ao


Advogado de “examinar, em qualquer repartição policial, mesmo sem
procuração, autos de flagrante ou de inquérito, findos ou em andamento,
ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomas
apontamentos”. Contudo, isso não representa o exercício do contraditório.
Princípio da Igualdade das Partes:
No processo as partes situam-se no mesmo plano, embora estejam
em lados opostos, gozando dos mesmos direitos, ônus, obrigações e
faculdades. A Constituição elevou a acusação e a defesa à categoria
de funções essenciais à administração da Justiça (arts. 127 e 133).

A igualdade entre as partes traz o necessário equilíbrio diante do


Juiz. Por isso, existe a previsão da defesa técnica, por profissional
habilitado, para que a defesa e acusação não fiquem desniveladas.

Esse princípio traduz, no processo, a norma constitucional de que


todos são iguais perante a lei (caput, art. 5º, CF).
Princípio da paridade de armas ou da par conditio:

Para que se alcance a igualdade é indispensável que as partes


disponham das mesmas armas. É o princípio da par conditio ou da
equality of arms.

Colocada a questão sob outros termos, os direitos e poderes


concedidos à Acusação não podem ser negados à Defesa.

Por vezes, a Defesa se vale de mais, como embargos infringentes,


revisão criminal etc., mas na fase inquisitiva, pré-processual, no IP,
há desigualdade em desfavor do investigado, que usufrui somente
das garantias inerentes à sua integridade física e de sua liberdade
ambulatória.
Princípio da persuasão racional ou do livre convencimento:

Princípio consagrado no art. 155 do CPP, impede que o Juiz possa julgar com o
conhecimento que eventualmente tenha extra-autos (quod nen est in actis non
est in hoc mundo – o que não está nos autos não está no mundo).

O processo representa o mundo para o Juiz, de forma a garantir julgamentos


parciais. O julgador possui plena liberdade de julgar, valorando as provas,
colhidas em regular contraditório, como quiser, mas sem arredar-se dos autos.

Impõe-se ao Juiz a fundamentação do seu convencimento. Inexistente a


motivação, não há sentença válida, eis que não se sabe os motivos que levaram
o Magistrado a proferir a decisão.

O Juiz não pode ser arbitrário, e confundir a certeza que deve ser alcançada de
maneira universal, ou seja, de que todos devem participar, com a certeza
subjetiva do julgador (menção de Tourinho sobre ilustres juristas).
Princípio da Publicidade:

Os atos são públicos. Vigora no ordenamento pátrio a princípio da


publicidade absoluta, como regra (art. 792, CPP), sem se olvidar da
previsão constitucional: “a lei só poderá restringir a publicidade
dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
social o exigirem” (art. LX, CF).

Portanto, a sociedade foi chamada a perceber que a Justiça não é


feita entre paredes e portas cerradas, mas transparente.

Qualquer pessoa pode, assim, ingressar na sala de audiência e


assistir os trabalhos, com as ressalvas abaixo.
Princípio da Publicidade:

As exceções ficam a cargo de limitações a processos do júri (voto


secreto), mas de envergadura também constitucional (art. 5º, XXXVIII,
“b”, CF). Esta uma cláusula pétrea que afasta a intensão de alguns em
permitir uma reunião entre os jurados para deliberarem antes de
responderem aos quesitos, pois iriam revelar cada um seu voto.

Ainda, em feitos envolvendo crime sexual, tomada de depoimento de


crianças, matéria atinente à família (divórcio, guarda, partilha), busca-se
preservar a intimidade da vítima sexual de constrangimento perante
curiosos, e similarmente, quanto aos demais citados.

A publicidade não alcança o Inquérito Policial, muito embora é direito


do investigado entrevistar-se com o seu advogado, antes do seu
depoimento, dentro ou fora da delegacia.
Princípio da iniciativa das partes, ou do ne procedat judex ex
oficio (o Juiz não pode dar início ao processo):

O princípio estabelece que incumbem às partes provocar a prestação


jurisdicional (nemo judex sine actore – não há Juiz sem autor; ou ne
procedat judex ex officio (o Juiz não pode dar início ao processo sem a
provocação da parte).

Contudo, o Código permite ao Juiz conceder habeas corpus de ofício


(habeas corpus é uma espécie de ação popular). Permite-lhe decretar, de
ofício, a prisão preventiva (cautelar), produzir provas.

O art. 26 do CPP remonta à época de que o Juiz poderia iniciar o


processo sumário por portaria, mas não se mostra mais possível, com o
advento da CF, que destinou ao MP a função de promover
privativamente a ação penal pública, logo, o dispositivo não foi
recepcionado pela nova ordem constitucional.
Princípio do ne eat judex ultra petita partium (Juiz não pode ir
além do que lhe foi pedido):

Iniciada a ação, fixam-se os contornos da res in judicio deducta (do pedido


formulado em juízo). Dessa forma, ao juiz não é permitido pronunciar-se senão
sobre o pedido e dos limites deste. Igualmente, no que toca às exceções
trazidas pelo réu.

Em homenagem à máxima narra mihi factum dabo tibi jus (narra o fato que
dou o direito), o CPP, em seu artigo 383, permite ao Juiz aplicar nova
qualificação jurídico-penal, caso os fatos narrados na denúncia ou queixa não
se coadunam com a tipificação inicial, mesmo que a pena fique mais severa.
Isso porque o réu se defende dos fatos contidos na peça de ingresso, não contra
o tipo penal ali mencionado. Exemplo, se a narrativa na exordial acusatória
descreve uma subtração de coisa alheia móvel, mediante violência, e indica o
artigo 155 do CP (furto), poderá o Juiz manejar o artigo 383 do CPP, para
classificar a conduta no tipo disposto no artigo 157 do CP (roubo). Da mesma
forma em crimes do júri. Ex.: a denúncia descreve homicídio e indica o art. 123
(infanticídio), poderá o Juiz valer-se do artigo 418 do CPP e aplicar o tipo do
art. 121 do CP (homicídio).
Princípio do ne eat judex ultra petita partium (Juiz não pode ir
além do que lhe foi pedido):

Caso o MP descreva um infanticídio, qualifica o fato como


infanticídio, e na instrução se apure que o infante foi morto pela
mãe que não estava sob efeito do estado puerperal, cumpre o Juiz,
agora, aplicar a regra do art. 384 e seus parágrafos, para depois do
aditamento e manifestação das partes, proferir a pronúncia, se for o
caso. Isso porque no art. 383 há “definição diversa”, sem
modificação dos fatos narrados na denúncia; já no art. 384 ocorre
“nova definição”, em consequência de prova existente nos autos de
elemento ou circunstância da infração penal não contida na
acusação.

Diferente será caso na denúncia haja imputação ao réu de


determinado crime e na instrução se apura que o fato foi outro,
ocasião que o Juiz deve absolver o réu, posto que não pode sair do
perímetro traçado pelo Órgão Acusador.
Princípio da Identidade física do Juiz:

Em suma, o Juiz que presidiu a instrução criminal deverá proferir a


sentença, a teor do artigo 399, § 2º, do CPP, reproduzindo parte da
regra do art. 132 do CPC, mas lá, há maior tolerância, uma vez que
diz: “O Juiz que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver
convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido
ou aposentado...”.

A par disso, segundo o CPP, numa leitura fiel, infere-se que


mesmo aposentado deve o juiz julgar o processo que presidiu.

Não se poderia utilizar por analogia o art. 132 do CPC, porque esta
ferramenta se presta para preencher lacunas da lei, e no caso, há
previsão expressa no CPP.
Princípio da Identidade física do Juiz:

Mas a doutrina e jurisprudência acabam por aceitar os termos do


art. 132 do CPC, porquanto mais coerente, considerando que o erro
do legislador, na espécie, foi imenso.

Nada impede, porém que se aplicado o § 2º, do art. 399, do CPP,


seja também observada a disposição contida no parágrafo único, do
art. 132, do CPC: “Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a
sentença, se entender necessário, poderá mandar repetir as provas
já produzidas”.
Princípio do devido processo legal:

Como visto, a CF, em seu art. 5º, inciso LIV, dispõe: ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal.(due process law).

O devido processo legal relaciona-se com uma série de direitos e


garantias constitucionais, tais como a presunção de não culpa ou
inocência, duplo grau de jurisdição, direito de ser citado, intimado
de todas as decisões que comportem recurso, ampla defesa,
contraditório, publicidade, Juiz natural e imparcial, direito recursal,
proibição da reformatio in pejus, respeito a coisa julgada,
litispendência, vedação das provas ilícitas, motivação das
sentenças, celeridade processual, retroatividade da lei penal
benigna, dignidade humana, integridade física, liberdade e
igualdade.
Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios
ilícitos e das ilícitas por derivação. Fonte independente:

Antes da CF/88 não havia, no país, qualquer regra impeditiva de se


produzir em juízo “prova obtida através de transgressões a normas de
direito material”. Apenas, o art. 233 do CPP.

Agora, a vedação encontra guarida no art. 5º, inciso LVI, da CF, bem
como no art. 157 do CPP: São inadmissíveis, devendo ser
desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as
obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. Ex.: busca e
apreensão ilegal, interceptação telefônica sem autorização judicial,
tortura. Assim, qualquer afronta à Constituição, seja em desrespeito ao
direito material ou processual, a prova não será admitida em juízo.

Parece evidente que o princípio presta-se a resguardar o réu; sendo


assim, caso juntadas provas ilícitas para sua defesa, estas serão aceitas,
pois princípio da proporcionalidade firma que entre o direito a liberdade
da pessoa e o direito sacrificado, sobressai o de maior relevância, no
caso o primeiro.
Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios
ilícitos e das ilícitas por derivação. Prova ilícita por derivação:

A inadmissibilidade não se restringe às provas ilícitas, mas também àquelas


que destas derivaram.

Tem-se como prova ilícita por derivação, quando para descobri-la, embora
legalmente, o agente antes fez emprego de meio ilícito. Ex.: para se localizar a
res furtiva, o agente torturou o suspeito (meio ilícito), obteve a confissão e
apreendeu regularmente a coisa.

A doutrina americana usa a expressão fruits of poisonous tree (frutos da árvore


envenenada).

Todavia, se a comprovação do fato ocorrer também através de outro meio


probatório completa e absolutamente desvinculado da prova obtida
ilicitamente, esta não pode nem deve contaminar o processo (art. 157, § 1º,
CPP – fonte independente).

O § 2º, do 157, parece descrever outra forma, denominada “encontro


inevitável”.
Princípio do favor rei:

Tourinho cita Giuseppe Betiol, que por uma ótica, coloca que o favor rei
é o princípio base de toda legislação processual penal de um Estado,
inspirado na sua vida política e no seu ordenamento jurídico por um
critério de superior liberdade.

Variadas são as disposições que consagram o princípio do favor


innocentiae, favor libertatis ou favor rei. Como já comentado, a
proibição da reformatio in pejus (art. 617, CPP), os embargos
infringentes ou de nulidade, a revisão criminal, e o coroamento pelo
princípio da presunção de inocência ou não culpa.

Alguns autores incluem o art. 386, VII, do CPP, como exemplo de favor
rei, que impõe a absolvição do réu por insuficiência probatória. Mas
Tourinho, sabiamente, menciona Santiago Sentís Melendo que traz o
entendimento que o Juiz ao absolver, por falta de provas, diz in dubio
pro reo, portanto, não há dúvida quando absolve, está firmemente seguro
que lhe faltam provas para a condenação, razão pela qual não se cuida de
“favor” sim de justiça.
Princípio do nemo tenettur se detegere (ninguém é obrigado a
acusar a si próprio). Direito ao silêncio:
De acordo com o artigo 5º, LXIII, da CF, o preso será informado
de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado.

O direito de permanecer calado, deriva de uma espécie do nemo


tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a fazer
prova contra si mesmo. Também está previsto no Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 143, g), e na
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8º, § 2º, g).

Cuida-se de uma forma passiva de defesa, mediante a inércia do


acusado, no que toca tão somente a autodefesa, pois a defesa
técnica é impositiva.
Princípio do nemo tenettur se detegere (ninguém é obrigado a
acusar a si próprio). Direito ao silêncio:
Decorre disso, a proibição de qualquer forma de intimidação do réu ou sua
coerção para que colabore com a prática de atos que lhe possam acarretar a
condenação.

O titular do direito de não produzir provas contra si é qualquer pessoa que


possa se autoincriminar.

Muito embora a testemunha compromissada tenha o dever de dizer a verdade e


não calar daquilo que sabe, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho, o referido princípio possibilita a ela que não se manifeste sobre
questões que lhe possam incriminar.

Não obstante todos devam conhecer a lei, por si, isto não permite à Autoridade
abdicar de advertir o investigado/acusado sobre o direito que a ele assiste em
permanecer em silêncio, sem que isso lhe acarrete prejuízo, fruto de garantia
constitucional, tudo para se evitar a autoincriminação involuntária por força do
desconhecimento da lei, sob pena de se macular de ilicitude a prova colhida.
Princípio do nemo tenettur se detegere (ninguém é obrigado a
acusar a si próprio). Direito ao silêncio:

Desdobramento:

a)Direito ao silêncio ou de ficar calado;


b)Direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito
penal;
c)Inexigibilidade de dizer a verdade (não pode acusar outrem
inocente);
d)Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa
incriminá-lo (fornecer padrões vocais; material para exame grafotécnico;
não obrigatoriedade em participar da reconstituição do crime);
e)Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva
Princípio do nemo tenettur se detegere (ninguém é obrigado a
acusar a si próprio). Direito ao silêncio:

Obs.: o direito de não produzir prova contra si não alberga o ato


praticado para encobrir outro crime. Por ex.: o agente ao praticar
um crime, inova artificialmente o estado de lugar, de coisa, ou de
pessoa, com a finalidade de induzir ao erro o Juiz, perito, ainda
que não tenha sido indiciado, mas pretende efeito em processo
penal.

Esse comportamento não constitui exercício regular de um direito,


porquanto o nemo tenetur se detegere não serve como princípio
para não punibilidade de crimes conexos praticados para encobrir a
prática de outros. Fosse assim, um crime de homicídio praticado
contra a testemunha de um crime antecedente, poderia ser
considerado exercício regular de direito.
Princípio da inocência ou da não culpa:

CF, art. 5º, LVII: ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória.

Retrata o coroamento do devido processo legal. Representa um ato de fé


no valor ético da pessoa, próprio de toda sociedade livre. Reconhece os
princípios do direito natural, como fundamento da sociedade, que
aliados à soberania do povo e ao culto da liberdade, constituem os
elementos essenciais da democracia.

Remonta ao art. 9º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


proclamada em Paris em 26/08/1789, com raízes no iluminismo, ou
“Século das Luzes”, que teve à frente, dentre outros, o Marquês de
Beccaria, Voltaire, Montesquieu, Rosseau. O movimento rompeu com a
mentalidade da época, em que, além das acusações secretas e das
torturas, o acusado era tido como objeto do processo e não tinha
nenhuma garantia.
Princípio da inocência ou da não culpa:

Mais tarde, a Assembleia das Nações Unidas, reunida em Paris, 10/12/1948,


proclamou o pensamento já existente.

Significa, pois que, enquanto não definitivamente condenado, presume-se o réu


inocente. Não se interpreta literalmente, porque obstaria até a instauração de
inquéritos e processos. Sendo a pessoa presumidamente inocente, sua prisão
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória implicaria antecipação
da pena.

Destarte, a prisão antecipada à condenação definitiva, somente se justifica


atualmente, como espécie de medida cautelar, ou seja, por conveniência da
instrução criminal (ex. réu ameaçando testemunhas); assegurar a aplicação da
lei penal (dados concretos dão conta de que o réu pretende fuga); ainda, para a
garantia da ordem pública e econômica (obstar reiteração). Tudo ao sabor da
previsão insculpida no artigo 312 do CPP, autorizado constitucionalmente pelo
art. 5º, inciso LXI: ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.
Princípio do duplo grau de jurisdição. O Pacto de São José da
Costa Rica:
Sabemos que os Juízes, como humanos que são, estão sujeitos a erro. Por isso,
o Estado criou órgãos a eles superiores, a fim de rever suas decisões, em grau
de recurso. Isso se infere do art. 92 da CF ao falar em Tribunais e Juízes
Federais, Tribunais e Juízes Eleitorais. Também o art. 93, III, da CF, faz alusão
ao “Acesso aos tribunais de segundo grau”.

O art. 93, XV, CF determina a imediata distribuição de processos em todos os


graus de jurisdição.

Ainda, o § 2º, do artigo 5º, fixa que os direitos e garantias nela expressos não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais de que o Brasil seja parte, e se levando em conta que o
Brasil aderiu através do Decreto 678 de 06/11/1992, ao ato internacional da
Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
Rica), considerando que o art. 8º, 2, h, desta Convenção dispõe que toda pessoa
tem direito, em plena igualdade, a uma série de garantias mínimas, dentre estas
a de recorrer da sentença para Juiz ou Tribunal Superior, pode-se concluir que
o duplo grau de jurisdição é garantia constitucional.
Princípio do duplo grau de jurisdição. O Pacto de São José da
Costa Rica:

Evidente, contudo, que nas ações penais originárias, não há duplo


grau, embora fosse possível, com alerta Tourinho. Prefeitos
jugados pelas Câmaras, logo, poderia haver recurso ao órgão
Especial, por exemplo.

Os Recursos Especial, ao STJ, e Extraordinário, este ao Supremo,


não implicam em se dizer que há duplo grau ao foro com
prerrogativa, pois, na verdade, não aferem questões de fato, apenas
se restringem, respectivamente, verificar se houve afronta à Lei
Federal e a Constituição.

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