Você está na página 1de 19

FACULDADE DE DESENVOLVIMENTO DO RIO GRANDE DO SUL (FADERGS)

CURSO DE DIREITO
PROCESSO PENAL - RITO COMUM

JOSÉ CARLOS BITTENCOURT GAUTÉRIO

ANÁLISE SOBRE ‘PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL’ SOB O


ENFOQUE ANALÍTICO DE JOSÉ NELSON DE MIRANDA COUTINHO

PORTO ALEGRE/RS
NOVEMBRO DE 2021
ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA

OPÇÃO DE ATIVIDADE 1 No caso desta disciplina será prevista como tal atividade
a leitura e discussão interpretativa de precedentes jurisprudenciais sobre a matéria do
Direito Processual Penal, especificamente sobre os princípios que norteiam o processo
penal, que serão devidamente indicados pelo professor em sala de aula.
A familiarização com o julgado será realizada em horário não presencial pelos
alunos, seguido da elaboração pelo aluno de texto descritivo que será postado no
ambiente virtual (Blackboard).

OPÇÃO DE ATIVIDADE 2 No caso desta disciplina será prevista como tal atividade
a leitura e discussão interpretativa de artigo em inglês cotejando com precedentes
jurisprudenciais sobre a matéria do Direito Processual Penal, especificamente sobre os
princípios que norteiam o processo penal, que serão devidamente indicados pelo
professor em sala de aula.
A familiarização com o texto será realizada em horário não presencial pelos alunos,
seguido da elaboração pelo aluno de texto descritivo que será postado no ambiente
virtual (Blackboard).
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL SOB O ENFOQUE ANALÍTICO
DE JOSÉ NELSON DE MIRANDA COUTINHO

I. Introdução

Considerações antes de adentrarmos no tema proposto.

O direito penal é uma área jurídica responsável por atribuir penas aos
delitos cometidos na sociedade, tendo como base as leis originadas do Poder
Legislativo. Os princípios do direito penal dão suporte para a área e facilitam a
compreensão de qualquer ramo do direito.

I.1. Princípio da ampla defesa

O princípio da ampla defesa manifesta a garantia de que ninguém pode sofrer as


consequências de uma sentença sem ter tido a possibilidade de ser parte do processo
da decisão judicial. Ou seja, todos possuem o direito de utilizar meios de prova para
fazer sua defesa.

I.2. Princípio da legalidade

O princípio da legalidade exprime a ideia de que não existe crime se não estiver
previsto em lei. É uma forma de limitar o direito penal, para que atue somente dentro
das leis vigentes.

I.3. Princípio da intervenção mínima

O princípio da intervenção mínima expressa que só se deve recorrer ao direito penal


se outros ramos jurídicos não forem suficientes. De modo geral, é a última opção,
para ser usado somente quando necessário.

I.4. Princípio da adequação social

O princípio da adequação social manifesta que o Direito deve estar em harmonia com
a realidade social do seu tempo, tomando como base os valores vigentes na sociedade
e adequando-se aos seus ditames.

I.5. Princípio da isonomia

O princípio da isonomia exprime que todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza. As situações iguais devem ser tratadas de modo igual, e
circunstâncias desiguais devem ser vistas desigualmente.

I.6. Princípio da presunção de inocência

O princípio da presunção de inocência ou de não culpabilidade implica que ninguém


será considerado culpado até que o julgamento em que se prove a culpabilidade seja
concluído e não caibam mais recursos. Somente após esse processo poderá ser
aplicada pena ao réu

I.7. Princípio da anterioridade da Lei Penal

Decorrente da reserva legal, o princípio da anterioridade veda a responsabilização


criminal dos indivíduos por fatos praticados antes da entrada em vigor da lei penal
que os define como crime e preveja a respectiva sanção.

I.8.Princípio da irretroatividade da Lei Penal mais severa

Previsto no artigo 5º, XL, da CF, o princípio da irretroatividade estabelece que as leis
penais mais severas não retroagirão para prejudicar o réu. Sendo assim, sobrevindo lei
que atribua pena mais grave a determinado crime ou que tipifique determinada
conduta, ela não será aplicada aos fatos anteriores à sua vigência.

No entanto, se a nova lei for mais benéfica, ela retroagirá em benefício do réu, sendo
aplicada aos fatos cometidos antes de sua vigência. Vale lembrar que essa regra não
se aplica aos casos de lei excepcional ou temporária.

I.9. Princípio da exclusiva proteção dos bens jurídicos ou fragmentariedade

Em um Estado Democrático de Direito, por estar associado à restrição de direitos


fundamentais, principalmente o de liberdade, o Direito Penal deve tutelar apenas os
bens jurídicos mais importantes para o convívio em sociedade. Por isso, diz-se que o
Direito Penal possui caráter fragmentário.]

I.10. Princípio do “ne bis in idem”

Embora não esteja previsto na CF, o princípio da vedação ao bis in idem vigora no
ordenamento jurídico brasileiro em decorrência de sua expressa previsão no Tratado
de Roma, do qual o Brasil é signatário.

Segundo a doutrina, esse princípio do Direito Penal tem três significados. No aspecto
processual, ele impede que um indivíduo seja processado mais de uma vez pelo
mesmo fato. Do ponto de vista material, ele impede que o Estado condene alguém
mais de uma vez pelo mesmo fato. Por sua vez, no viés execucional, o ne bis in
idem estabelece que ninguém pode ser executado duas ou mais vezes por condenações
relacionadas à mesma infração penal.

Vale lembrar que, assim como os demais princípios, o ne bis in idem não tem caráter
absoluto. No Brasil, a exceção está prevista no artigo 8º, do Código Penal, o qual
permite novos julgamento e condenação pelo mesmo fato nos casos de
extraterritorialidade.

I.11. Princípio da insignificância ou bagatela

Como você viu, o Direito Penal é o último instrumento a ser utilizado pelo Estado
para a pacificação social. Portanto, apenas as relevantes lesões aos bens jurídicos mais
importantes podem ensejar a incidência do poder punitivo estatal.
Desse modo, para que uma conduta seja reprimida na seara penal não basta que ela
seja considerada infração; é necessário que ela lese o bem jurídico protegido pela
norma. Por isso, condutas irrelevantes, como o furto de quantias irrisórias, não podem
ser punidas penalmente, visto que elas não ofendem o bem jurídico protegido.

É importante destacar que a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância


é analisada caso a caso. Para isso, segundo entendimento dos Tribunais Superiores,
devem ser levados em consideração a ofensividade da conduta, a reprovabilidade do
comportamento, as condições pessoais do agente e a expressividade da lesão jurídica.

II. Os princípios relativos aos sistemas processuais aplicados no Direito Penal

Princípios dispositivo e inquisitivo.

Os princípios dispositivo e inquisitivo são faces opostas de um mesmo


conceito, referem-se à atividade judicial no processo, ou melhor, aos limites da
iniciativa de certos atos processuais pelo juiz.

Em grande parte das doutrinas, ao tratar desse tema fala-se em verdade


real e verdade formal, e atrela-se a busca da verdade real ao princípio inquisitivo,
ou seja, o juiz, inconformado com a verdade formal construída no processo, busca
novas provas, produz provas, para instruir a demanda.

O princípio inquisitivo, portanto, trata do magistrado que toma


iniciativa de produção de provas dentro do processo, e o princípio dispositivo
trata da inércia judicial, do juiz que aguarda a iniciativa das partes pelos atos
processuais.

A atividade judicial, portanto, pode se dividir em três frentes:

i) Com relação à iniciativa para a propositura da demanda: nesse ponto, o


juiz depende da iniciativa das partes, que precisam provocar o Poder Judiciário,
exercendo seu direito de ação, decidindo não apenas se ingressarão, mas quando
ingressarão judicialmente.
ii) Na esfera criminal, em caso de ação penal pública ou pública
condicionada, é o Ministério Público quem provoca o Poder Judiciário, com o
oferecimento da denúncia; Com relação ao limite do conhecimento do juiz: o juiz
depende dos fatos e do direito alegados pelas partes, sobre os quais desejam que seja
exercida a função jurisdicional, dessa forma, cabe às partes fazer a análise de
conveniência da matéria a ser levado ao conhecimento do julgador.
iii) Na sentença, o juiz não pode conceder algo distinto ou além do que
foi pedido, nem pode deixar de analisar algum dos pedidos da parte, mesmo que não
vá acolhê-los.

Isso significa que o juiz pode, portanto, acolher um pedido apenas


parcialmente, o que ele não pode é não considerar todos os pedidos e justificar o
porque acolheu ou deixou de acolher uns e outros.

Com relação à produção de provas: a princípio, cabe às partes a produção


de provas para formar a convicção do julgador, entretanto, caso o processo chegue ao
momento da sentença sem estar devidamente instruído, com provas insuficientes para
que o juiz decida, parte majoritária da doutrina e da jurisprudência entendem que o
juiz poderia exercer poder de investigação e determinar a produção de provas que
achar necessárias para esclarecimento dos fatos, e as regras acerca do ônus da prova
devem ser utilizadas em caráter subsidiário.

A corrente minoritária entende que o ativismo judicial quebra a


imparcialidade, de forma que, em caso de lacuna e insuficiência de provas, as regras
acerca do ônus probatório devem completar o entendimento.

III. Princípios relativos à jurisidição

O termo jurisdição vem do latim, que significa dizer o direito


(juris=direito, dição=dizer). Trata-se do poder e prerrogativa de um órgão (no Brasil,
é o Poder Judiciário), de aplicar o direito, utilizando a força do Estado para que suas
decisões sejam eficazes.

Como supracitado, no Brasil o Poder Judiciário, em regra, é detentor do


monopólio desse poder, realizando a chamando jurisdição, garantindo o uso da
jurisdição de forma imparcial.

III.1. Princípio do Juiz Natural

Em um Estado Democrático de Direito é vedado a utilização dos tribunais de


exceções, ou seja, uma corte criada para o julgamento de um determinado caso
específico.

Nesse sentido, surge o Princípio do juiz natural que veda a criação de tribunal de
exceção, bem como, determina que o juiz deve ser competente para julgar, ou seja, ele
deve ter a atribuição legal para julgar aquela matéria e pessoa naquele local.

III.2. Princípio da investidura

Para a jurisdição ser exercida é necessário que alguém seja investido na função. A
investidura ocorre através de concurso público de provas e títulos, em observância a
CF/88.

Contudo essa regra não é absoluta tendo algumas exceções, por exemplo, a escolha
dos Ministros do STF ou ingresso nos tribunais pelo quinto constitucional[1], feitos
que independem de concurso público.

III.3. Princípio da indelegabilidade

A atividade jurisdicional é indelegável, somente podendo ser exercida, pelo órgão que
CF/88 estabeleceu como competente.

Assim sendo após o processo ser recebido por um Juiz, ele não poderá delegar o
julgamento a terceiro ou outro juiz.
III.4. Princípio da inevitabilidade

A lide, uma vez levada ao judiciário, não poderá às partes impedir a decisão do juiz.
Existindo uma decisão as partes devem cumpri-la, independente da satisfação das
partes sobre ela.

III.5. Princípio da inafastabilidade

Princípio de origem constitucional, previsto no art. 5º, XXXV, da CF/88, que


determina que toda lesão ou ameaça de direito não poderá ser afastada do
conhecimento do Poder Judiciário.

Entretanto existe uma exceção a qual se refere às questões da justiça desportivas, onde
há a necessidade do esgotamento das vias administrativas desportivas para a lide seja
levada ao Judiciário.

III.6. Princípio da inércia

As partes devem provocar a jurisdição, pois ela não age de oficio. Exceção: inventário,
previsto no artigo 989 do CPC. Esse princípio é considerado também uma
característica da jurisdição.

III.7. Princípio da aderência ao território

A jurisdição aderirá uma base territorial e será aplicada nessa base. Atenção, existem
tribunais que sua aderência será em todo o território nacional como o STF.

IV. Princípios que regem a ação Penal

O Direito Processual Penal é regido por uma série de princípios e o


conhecimento destes é de suma importância para a correta compreensão deste ramo
jurídico.

No Processo Penal brasileiro, os princípios representam os postulados


fundamentais da política processual penal do Estado e, como refletem as
características de determinado momento histórico, sofrem oscilações de acordo com
as alterações do regime político.

Como se vive sob a égide de um regime democrático, os princípios que


regem o Processo Penal devem estar em consonância com a liberdade individual,
valor tido como absoluto pela Carta Magna de 1988.

Os inúmeros princípios que norteiam o Processo Penal brasileiro


encontram-se determinados tanto pela Constituição Federal quanto pelo Código de
Processo Penal e serão agora, em artigos semanais, explanados com suas principais
características.

Como é sabido, a Ação Penal pode ser classificada como pública ou


privada em razão de sua iniciativa. Para cada espécie desta classificação aplicam-se
diferentes princípios, os quais serão estudados a seguir.
IV.1. Princípios que regem a Ação Penal Pública

São cinco os princípios que regem a ação penal pública: o da legalidade ou


obrigatoriedade; o da indisponibilidade; o da intranscendência; o da divisibilidade e o
da oficialidade.

IV.1.1 Princípio da legalidade ou da obrigatoriedade

Preliminarmente, nota-se que a doutrina não faz distinção entre as duas formas
terminológicas que se O conceito do princípio da obrigatoriedade da ação penal
pública encontra-se no artigo 24 do Código de Processo Penal, e diz que o Ministério
Público tem o dever de promover a ação penal tão só tenha ele notícia do crime e não
existam obstáculos que o impeça de atuar. Assim, verificando ser a conduta típica,
ilícita e culpável, o Ministério Público estará obrigado a oferecer a denúncia. Este
princípio funda-se na ideia latina “nec delicta maneant impunita”, ou seja, nenhum
crime deve ficar impune.

IV.1.2 Princípio da Indisponibilidade

Assim como em toda relação processual contenciosa, no processo penal há uma lide,
manifestada através do “jus puniendi” do Estado versus a pretensão de liberdade do
réu, na qual o Estado exerce sua pretensão punitiva.

Em regra, a ação penal é pública (CF/88, artigo 129, inciso I) e o Ministério Público é
o “dominis litis” da ação penal pública. Nos crimes processados e julgados nessa
condição, incidirá o princípio da obrigatoriedade, diferentemente da ação penal de
iniciativa privada, uma vez que o Ministério Público, verificando ser a conduta típica
e antijurídica, estará obrigado a oferecer a denúncia, na medida em que aquele não
poderá agir por conveniência, e o ato será vinculado, não podendo o MP optar por não
denunciar, mesmo por razões de políticas criminais.

Em decorrência deste princípio, temos o princípio da indisponibilidade, sendo que,


uma vez oferecida a denuncia o Ministério Público não poderá dispor da mesma,
conforme positivado no artigo 42 do Código de Processo Penal; também não poderá a
autoridade policial mandar arquivar o inquérito policial, consoante previsto no artigo
17 do mesmo “codex”. É nessa lógica que o Ministério Público não poderá desistir do
recurso que interpor. A dogmática da indisponibilidade e da obrigatoriedade é tão
presente que é possível observar os seus efeitos mesmo antes de recebida à denúncia,
e instaurada a relação processual, ainda na fase de investigação criminal, a exemplo
do que ocorre com o inquérito policial que é oficioso e obrigatório, e cabendo
somente ao Ministério Público promover o arquivamento, afinal, pela lógica, é este o
titular da ação (artigo 28, do CPP).

IV.1.3 Princípio da intranscendência

Por força do princípio da instranscendência, entende-se que a denúncia ou a queixa só


podem ser oferecidas contra o provável autor do fato delituoso. A sentença penal
condenatória não pode passar da pessoa do suposto autor do crime para incluir seus
familiares, que nenhuma participação tiveram na infração penal. Aplica-se também
especialmente à pena.
Esse princípio funciona como evidente desdobramento do princípio da pessoalidade
da pena, previsto no art. 5º, XLV, da Constituição Federal:

“XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de


reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido."

Esse princípio é aplicável tanto à ação penal pública quanto à ação penal de iniciativa
privada.

IV.1.4 Princípio da divisibilidade

Esse princípio autoriza que, já havendo uma ação penal pública em face de
determinado réu, será sempre possível que o MP intente outra ação pelo mesmo fato
em face de outro acusado.

Ainda em razão do mesmo princípio, é possível que o processo seja desmembrado em


tantos quantos forem os réus, não sendo necessária a persecução penal através de uma
única ação.

IV.1.5 Princípio da oficialidade

Este princípio estabelece que o Estado tem o dever soberano de agir e de determinar
as normas de conduta delituosa bem como a sanção penal correspondente, estando
inicialmente relacionado com os princípios da legalidade e da obrigatoriedade. A
diretriz da oficialidade funda-se no interesse público de defesa social.

Tal princípio consiste na atribuição da legitimidade para a persecução criminal aos


órgãos do Estado. Em outras palavras, a apuração das infrações penais fica, em regra,
a cargo da policia investigativa, enquanto que a promoção da ação penal pública
incumbe ao Ministério Público, nos exatos termos do art. 129, I, da Constituição
Federal. Aplica-se à ação penal pública, tanto na fase pré-processual, quanto na fase
processual. Em relação à ação penal de iniciativa privada, vigora apenas para a fase
pré-processual, já que prevalece o entendimento de que ao particular, pelo menos em
regra, não foram conferidos poderes investigatórios.

IV.2. Princípios que regem a Ação Penal Privada

São quatro os princípios que regem a ação penal privada: o da conveniência ou


oportunidade; o da disponibilidade; o da instranscendência; e o da indivisibilidade.

IV.2.1 Princípios da conveniência (ou oportunidade) e da disponibilidade

Basicamente significa que o ofendido ou seu representante legal não são obrigados a
propor a ação penal contra o autor do delito; exercerão o direito se quiserem conforme
a conveniência social ou a oportunidade política da medida. Uma vez proposta a ação
penal, em face desses princípios, dela poderão desistir, bem como de eventual recurso
interposto. Apenas para efeito de comparação é o posto do que ocorre com a ação
penal pública. O ofendido ou seu representante legal se despojam da ação penal
mediante certos atos, que constituem causas extintivas da punibilidade, a saber: a
decadência e a renúncia – ambos antes do exercício da ação – e a perempção, a
desistência e o perdão, estas últimas depois de seu exercício.

IV.2.2 Princípio da intranscendência

É o mesmo princípio que rege a ação penal pública tratado alhures, não havendo nada
a acrescentar.

IV.2.3 Princípio da indivisibilidade

O Princípio da indivisibilidade encontra-se previsto no Código de Processo Penal nos


artigos 48, 49 e 51, vejamos:

“Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao


processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
indivisibilidade.”

“Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a


um dos autores do crime, a todos se estenderá.”

“Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a


todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.”

Diante do exposto, não resta dúvida, pois, que a indivisibilidade rege a ação penal
privada e sua inobservância tem como consequência a extinção da punibilidade em
relação à todos os autores do crime. A causa extintiva será a renúncia (antes da ação)
ou perdão aceito ou ainda a desistência.

A desistência não encontra-se prevista no Código de Processo Penal, tampouco no rol


das causas extintivas de punibilidade insculpido no artigo 107, do Código Penal,
decorrendo de criação doutrinaria a qual revela que aquele rol é meramente
exemplificativo. A desistência será veiculada por petição ao juiz da causa e independe
de aceitação, porquanto consiste em ato unilateral.

V. Princípios relativos ao processo

Os princípios não estão no sistema em rol taxativo. Em verdade, diante


da atividade do jurista para a construção da norma jurídica, serão possíveis aplicações
que evidenciem tanto princípios constitucionais expressos como princípios
constitucionais decorrentes do sistema constitucional.

Princípios constitucionais e infraconstitucionais que incidem no direito


processual penal.

V.1. Principio da presunção da inocência ou da não culpabilidade

Presunção de inocência, presunção de não culpabilidade e estado de inocência são


denominações tratadas como sinônimas pela mais recente doutrina. Não há utilidade
pratica na distinção. Trata-se de principio que foi inserido expressamente no
ordenamento jurídico brasileiro pela CF/88. A CF cuidou do estado de inocência de
forma ampla, isto é, de forma mais abrangente que a Convenção Americana de
direitos humanos (ratificada pelo Brasil pelo decreto 678/92), na medida em que
estabeleceu que “toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma a sua
inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa” (art. 8, Item 2),
enquanto que a CF dispôs como limite da presunção da não culpabilidade o transito
em julgado da sentença penal condenatória.

De tal sorte o reconhecimento da autoria de uma infração criminal pressupõe sentença


condenatória

V.2. Principio da imparcialidade do Juiz

A imparcialidade – denominada por alguns de alheiabilidade – é entendida como


característica essencial do perfil do Juiz consistente em não poder ter vínculos
subjetivos com o processo de modo a lhe tirar o afastamento necessário para conduzi-
lo com isenção. Trata-se de decorrência imediata da CF/88, que veda o juízo ou
tribunal de exceção (art. 5º, inc. XXXVII) e garante que o processo e a sentença sejam
conduzidos pela autoridade competente (art. 5º, inc. LIII), representando exigência
indeclinável no Estado Democrático de Direito.

V.3. Principio da Igualdade Processual

Também tratado como principio da paridade de armas, consagra o tratamento


isonômico das partes no transcorrer processual, em decorrência do próprio art. 5º,
caput, da CF. O que deve prevalecer é a chamada igualdade material, leia-se, os
desiguais devem ser tratados desigualmente, na medida de suas desigualdades. O
referido princípio ganha força com as alterações introduzidas no art. 134 da CF
assegurando autonomia da Defensoria Publica.

V.4. Principio do contraditório ou bilateralidade de audiência

Traduzido no binômio ciência e participação, e de respaldo constitucional (art. 5º, inc


LV), impõe que ás partes deve ser dada a possibilidade de influir no convencimento
do magistrado, oportunizando-se a participação e manifestação sobre os atos que
constituem a evolução processual. O principio do contraditório, o qual esta aliado o da
ampla defesa, já existia de forma implícita no ordenamento jurídico brasileiro vigente
sob a égide das constituições anteriores a 1988. No entanto, sua positivação expressa
se deu com o advento da CF/88, reconhecendo-lhe a qualidade de direito de primeira
geração, de proteção a liberdade.

V.5. Principio da ampla defesa

Enquanto o contraditório é principio protetivo de ambas as partes (autor e réu), a


ampla defesa – que com o contraditório não se confunde – é garantia com destinatário
certo: o acusado.

A defesa pode ser subdividida em: defesa técnica, que é a defesa efetuada por
profissional habilitado; e autodefesa (defesa material ou genérica) que é a defesa
realizada pelo próprio imputado. A defesa técnica é sempre obrigatória, enquanto a
autodefesa pode ou não ser exercida pelo acusado, que pode optar por permanecer
inerte, invocando inclusive o silêncio. A autodefesa comporta também subdivisão,
representada pelo direito de audiência (oportunidade de influir na defesa por
intermédio do interrogatório), e no direito de presença, consistente na possibilidade de
o réu tomar posição, a todo momento, sobre o material produzido, sendo-lhe garantia
a imediação com o defensor, o juiz e as provas.

V.6. Principio da ação, demanda ou iniciativa das partes

Também conhecido como ne procedat judex ex officio, este principio significa que,
sendo a jurisdição inerte, cabe as partes a provocação do Poder Judiciário, exercendo
o direito de ação, no intuito da obtenção do provimento jurisdicional. Neste contexto,
o art. 26 do CPP não foi recepcionado pela CF, não se admitindo mais que nas
contravenções penais a ação tenha inicio por portaria baixada pelo delegado ou pelo
magistrado (que se chamava de processo judicialiforme). De fato, a partir da nova
ordem constitucional, a titularidade da ação passou a ser privativa do MP (129, I),
admitindo-se, nos casos previstos, a iniciativa privada.

V.7. Principio da oficialidade

Os órgãos incumbidos da persecução criminal (IP e processo), atividade


eminentemente publica, são órgãos oficiais por excelência, tendo a CF consagrado a
titularidade da ação penal publica ao MP (129, I), e disciplinado a policia judiciaria no
&4º, do art. 144 CPP.

V.8. Principio da oficiosidade

A atuação oficial na persecução criminal, como regra, ocorre sem necessidade de


autorização, isto é, prescinde de qualquer condição para agir, desempenhando suas
atividades ex officio. Excepcionalmente, o inicio da persecução penal pressupõe
autorização do legitimo interessado, como se dá na ação penal publica condicionada a
representação da vitima ou á requisição do Ministro da Justiça (24, CPP).

V.9. Principio da verdade real

O processo penal não se conforma com ilações fictícias ou afastadas da realidade. O


magistrado pauta o seu trabalho na reconstrução da verdade dos fatos, superando
eventual desídia das partes na colheita probatória, como forma de exarar um
provimento jurisdicional mais próximo possível do ideal de justiça. Todavia, a
proatividade judicial na produção probatória encontra forte resistência na doutrina em
razão do filtro constitucional desempenhado pela adoção do sistema acusatório,
limitando a atuação do julgador.

V.10. Principio da obrigatoriedade

Os órgãos incumbidos da persecução criminal, estando presentes os permissivos


legais, estão obrigados a atuar. A persecução criminal é de ordem publica, e não cabe
juízo de conveniência ou oportunidade. Assim, o delegado de policia e o promotor de
justiça, como regra, estão obrigados a agir, não podendo exercer juízo de
conveniência quanto ao inicio da persecução.
V.11. Principio da indisponibilidade

O principio da indisponibilidade é uma decorrência do principio da obrigatoriedade,


rezando que, uma vez iniciado o IP ou o processo penal, os órgãos incumbidos da
persecução criminal não podem deles dispor.

Com efeito, o delegado não pode arquivar os autos do IP (art. 17) e o promotor não
pode desistir da ação interposta (art. 42).

V.12. Principio do impulso oficial

Apesar da inercia da jurisdição, é imperativo afirmar que, uma vez iniciado o


processo, com o recebimento da inicial acusatória, cabe ao magistrado velar para que
este chegue ao seu final, marcando audiências, estipulando prazos, determinando
intimações, enfim, impulsionando o andamento do próprio procedimento.

V.13. Principio da motivação das decisões

Decorrência expressa do art. 93, IX, CF, assevera que o juiz é livre para decidir, desde
que o faça de forma motivada, sob pena de nulidade insanável.

Desse modo, a fundamentação no processo penal, deve se apoiar nos elementos


produzidos no contraditório judicial, ressalvando-se desta exigência, tão somente as
provas cautelares, realizadas antecipadamente e não sujeitas a repetição.

V.14. Principio da publicidade

A publicidade dos atos processuais, que pode ser definida como a garantia de todo e
qualquer cidadão aos atos praticados no curso do processo, é a regra. Todavia, o sigilo
é admissível quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5,
LX). O art. 792, do CPP prevê sigilo se da publicidade do ato puder ocorrer escândalo,
inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem (&1º).

V.15. Principio do duplo grau de jurisdição

Este principio assegura a possibilidade de revisão das decisões judiciais, através do


sistema recursal, onde as decisões do juízo a quo podem ser reapreciadas pelos
Tribunais.

Todavia, interessa sublinhar que o duplo grau de jurisdição não é principio


contemplado na CF, haja vista que processos existem sem que esse duplo grau incida,
a exemplo daqueles de competência originaria do STF. O duplo grau de jurisdição não
é enunciado normativo que incide indistintamente em todos os processos penais.

Por sua vez, O Pacto de São José da Costa Rica, em seu art. 8º, item 2, h, dispõe
acerca do direito de recorrer das decisões judiciais. Ocorre que o referido pacto, neste
ponto, é recebido como lei ordinária, já que o direito ao recurso não pode ser
enquadrado como expressão de direito fundamental, encontrando-se por consequência,
fragilizado, dentre das varias exceções existentes no sistema de decisões
simplesmente irrecorríveis.
V.16. Principio do Juiz natural

Tal principio consagra o direito de ser processado por juiz competente (art. 5, LIII) e a
vedação constitucional a criação de juízos ou tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII).
Em outras palavras, impede a criação casuística de tribunais pós-fato, para apreciar
um determinado caso.

VI. Análise do texto “ Introdução aos Princípios Gerais do Processo Penal


Brasileiro, de Jacinto Nelson de Miranda Coutinho

O texto argumenta criticamente sobre os sistemas inquisitivo, dispostivo


e misto, aplicados no país. Analisa os princípios relativos à jurisdição: imparcialidade,
juiz natural, indeclinabilidade e inércia da jurisidição. Realiza também crítica sobre os
princípios da ação: oficialidade e obrigatoriedade (legalidade). Há também análise dos
princípios relativos ao processo: contraditório, verdade material e do livre
convencimento.
A seguir transcrevemos integralmente a “Resenha do texto "Introdução
aos Princípios Gerais do Direito Processual Penal Brasileiro" elaborada por Pedro
Fernandes e José Henrique do texto de Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, com a
qual concordamos integralmente. É o texto:

O presente trabalho tem por escopo principal uma exposição crítica


acerca dos princípios gerais e do sistema que rege o direito processual penal pátrio.
Para devida fundamentação do seu texto, trouxe à baila opinião de autores como:
Carnelutti, Bobbio, Folcaut, Touinho Filho, dentre outros.

A nível de introdução, o autor afirma que o estudo sobre os princípios


gerais do Direito Processual Penal servem como base fundamental para o
entendimento da matéria como um todo. Em sua visão, tratar de motivo conceitual,
ainda que de um ponto de vista analítico pareça ser irrelevante, um mito, é necessário,
visto que, como ele mesmo afirma, “Sempre se teve presente que há algo que as
palavras não expressam; não conseguem dizer, isto é, há sempre um antes do primeiro
momento um lugar que é, mas do qual nada se sabe, a não ser depois, quando a
linguagem começa afazer sentido”.

Destacando a importância dos princípios, discorre que os valores


princípiológicos ultrapassam o que se extrai comumente nas instituições de ensino e
do senso comum. Entretanto, conforme opinião do autor, em que pese a ciência de sua
importância, é notório a dificuldade dos aplicadores do direito em entender o seu real
sentido, o que torna-se um problema quando se parte da premissa que os princípios
são pilares indispensáveis para a aplicação do direito, principalmente quando se está
em jogo a efetiva garantia de valores fundamentais. Assim, conclui seu pensamento
introdutório afirmando que o conhecimento dos princípios referentes à organização
dos sistemas processuais e dos princípios que estruturam a trilogia do Direito
processual penal, é indispensável para uma posterior compreensão a cerca dos valores
fundamentais.

No decorrer do texto, o autor destaca a importância do estudo dos


sistemas processuais inquisitório e acusatório, indispensáveis a devida compreensão
do direito Processual Penal. Segundo ele, trata-se de um estudo que deve ter como
base os princípios inquisitivo e dispositivo, afirmando ainda que o critério para
distinguir esses dois sistemas (acusatório e inquisitório) concentra-se na gestão da
prova, sendo que o sistema inquisitório, que tem por base o princípio inquisitivo,
caracteriza-se por uma plena concentração dos poderes nas mãos do juiz, que por sua
vez exerce o domínio sobre a gestão da prova, e o acusado pelo fato de ser o detentor
da verdade, com o status de mero objeto de investigação, tem o compromisso de
prestar contas ao inquisidor.

No que diz respeito ao sistema acusatório, o autor o conceitua como um


meio instrumental pelo qual se descobre uma verdade histórica, sendo que o juiz
decidirá exclusivamente com base nas provas produzidas pelas partes, aplicando
assim, o direito ao caso concreto.

Como forma de conclusão, após a análise dos dois sistemas, , o autor


deixa claro que em sua opinião o sistema processual brasileiro é de natureza
essencialmente inquisitória, tendo em vista que é regido pelo princípio inquisitivo,
competindo assim, ao juiz a gestão da prova. Entretanto, segundo sua análise, em
essência não existem sistemas processuais puros, mas sim sistemas mistos, todavia
não é possível verificar a existência de princípio misto, razão pela qual todo sistema
misto em essência é inquisitório ou acusatório. No sistema processual penal brasileiro,
muitos autores apontam o caráter acusatório pelo fato de o processo ser representado
por partes (defesa, acusação e Juiz). Porém, em opinião própria, o autor afirma que
trata-se de entendimento equivocado, visto que a mera existência de partes no
processo não o torna, em essência, acusatório.

A posteriori, Jacinto Coutinho discorre sobre os princípios relativos à


jurisdição. Segundo ele, a jurisdição é uma indispensável garantia constitucional do
cidadão, no entanto, existem críticas positiva no sentido de que faz-se necessário
refletir acerca de aperfeiçoamento do poder e dos órgãos que o exercem. Relaciona
como princípios inclusos nesta classificação os da imparcialidade, juiz natural,
indeclinabilidade e o princípio da inércia da jurisdição.

No tocante ao Princípio da imparcialidade, contemporaneamente, não há


mais que se falar em ação como predominância individualista, o processo passa a ser
um interesse público na resolução de conflitos, deixando de ser meramente ritos, o
Estado tem o escopo de garantir a igualdade, sendo o juiz, figura efetiva dentro do
processo. Ele passa a ser um órgão superior entre as partes, devendo se preservar a
ideia de neutralidade e imparcialidade, contudo é necessário se perguntar se essa
condição do juiz, de neutro e imparcial são reais.

O autor destaca ainda, o entendimento de alguns estudiosos, no sentido


de que é premissa para existência do judiciário, a devida imparcialidade e a aplicação
da lei aos sujeitos dentro da lide. Salientando que a jurisdição desenvolve sua
atividade de forma substitutiva, sendo necessário posicionamento face à demanda
judicial. Em sua opinião, é insustentável a tese de que o legislador e o juiz sejam
completamente neutros na relação processual, entretanto deve se buscar o
compromisso com as bases sociais, a imparcialidade não deve ser concebida
ingenuamente.

Em relação ao princípio do juiz natural, foi afirmado que: este tem suas
origens diretamente vinculadas a ideais iluministas, é corolário do princípio da
isonomia, e surgiu com a finalidade de exaurir os privilégios das justiças senhoriais,
bem como eliminar a possibilidade de tribunais de exceção, visto que um Juízo
natural, pressupõe competência para julgamento anteriormente estabelecida em lei.
Em visão crítica, foi destacado a necessidade de analisar esse princípio sob a ótica do
nosso sistema processual pátrio, haja vista que a Constituição de 1988 passou a o
prever como regra.

Pelo princípio da Indeclinabilidade, Jacinto aponta que com o fim da fase


de autotutela, onde as partes faziam justiça com suas próprias mãos, o Estado passou a
assumir o controle jurisdicional com exclusividade, daí surge a ideia de
indeclinabilidade do poder judiciário de dizer o direito, tornando esse princípio
indispensável na seara processual penal.

A luz do princípio da inércia da jurisdição, foi dito que essa caraterística


tem íntima ligação com o sistema acusatório, basicamente prever que a atuação
jurisdicional está diretamente subordinada ao ato de provocação decorrente das partes.
Em outras palavras, pelo princípio em comento, a atuação jurisdicional está
condicionada ao comportamento voluntário dos sujeitos em provocá-la.

Em relação aos princípios relativos à ação, vale salientar que conforme


anteriormente alertado, a atuação jurisdicional deve ser provocada. O autor trata da
ação como um direito para o ofendido e um dever para o Ministério Público, por se
tratar de órgão que tutela o interesse público. Dessa forma, tendo em vista a nítida
diferença na forma de agir do sujeito que exerce em relação ao que provoca a
jurisdição, foram destacados no texto alguns princípios indispensáveis.

Acerca do princípio da oficialidade, quanto à ação, o texto nos transmite


a ideia de que o processo se inicia por impulso oficial, em ações penais públicas, e
pela parte, em ações privadas.

O princípio da obrigatoriedade está diretamente vinculado com a ideia de


obrigação em dar início ou prosseguimento a ação penal pública. A objetividade desse
princípio, nas palavras de Jacinto, visa evitar qualquer espécie de manipulação entre
as partes envolvidas no processo, e decorre da independência do Ministério Público
no exercício de suas funções.

No tocante aos princípios relativos ao processo, foram elencados o


contraditório, a verdade material e o livre convencimento.

Referente ao princípio do contraditório, trata-se de um princípio inerente


a um processo de atuação das partes (sistema acusatório) visto que, é por meio deste
que as partes terão direito à participação efetiva no processo, por meio da produção de
provas que evidencie seu direito. Nas palavras do autor, este princípio diz respeito à
“possibilidade de as partes exporem suas razões e requererem a produção das provas
que julgarem importantes para a solução do caso penal, participando efetivamente do
processo.

Quanto ao princípio da Verdade Material, foi afirmado que essa verdade


tida como material, em regra, é algo inalcançável. Busca-se o reconhecimento da
verdade formal, esta sim pode ser alcançável, tendo em vista que o que deve se
almejar no decorrer do processo é um juízo de certeza, pois as ações intra-processuais
devem ser limitadas a impossibilidade de violação exacerbada dos direitos e garantias
do acusado. Isso se dá pelo fato de que a busca pela verdade como um todo sempre
legitimou meios bárbaros com o fito de concretizar essa ideia de verdade material,
algo que hoje é inadmissível, mormente no nosso sistema processual penal pátrio, em
virtude de estarmos sob a égide de um estado democrático de direito.

Por fim, no que diz respeito ao princípio do livre convencimento, o valor


da prova é concedido ao Juiz, que em um juízo de subjetividade, forma o seu livre
convencimento. Entretanto, o autor destacou o fato de que a decisão do magistrado
deve estar plenamente fundamentada para que se evite arbitrariedades. Assim,
conclui-se que ponderando a convicção intima com a certeza legal, o magistrado
chegará a sua convicção racional, proferindo a decisão.

VII. Conclusão

Conclusão dos autores da Resenha:

Mediante tudo que foi exposto, concluímos que: A despeito de o


doutrinador Jacinto Nelson de Miranda Coutinho entender que o sistema processual
pátrio é de caráter essencialmente inquisitivo, trata-se de entendimento que, data
vênia, nos parece equivocado. O sistema penal brasileiro, mormente sobre a égide de
um estado democrático de direito, caracteriza-se por ser de natureza essencialmente
acusatória.

Entretanto, não se pode negar a incidência de determinados institutos


inquisitivos, a exemplo do inquérito, que, em que pese ser um procedimento
administrativo, serve como base para a produção dos elementos substanciais a
garantia de uma persecução criminal devidamente fundamentada, e por sua essência é
de conteúdo inquisitivo. Nota-se também determinados dispositivos legais que e
violam o modelo acusatório do nosso sistema processual penal, a exemplo dos arts. 28
e 156 do CPP.

A propósito, no arsenal teórico a respeito desse assunto destaca-se


também o posicionamento de Guilherme de Souza Nucci, que entende ser o nosso
sistema processual pátrio de caráter misto, justamente pela existência do inquérito,
que conforme anteriormente alertado é de caráter inquisitivo. Entretanto, tal
entendimento também nos parece equivocado, na medida em que nosso sistema
processual pátrio rege-se por meio de uma divisão tripartite onde à defesa incumbe o
papel de defender, ao Ministério Público a acusação e ao Juiz a função de julgamento.

Assim, apesar de o inquérito e alguns institutos do Direito Processual


Penal ter caráter essencialmente inquisitivo, a grande maioria dos atos e institutos que
consubstanciam a ratio decidendi do modelo processual pátrio são de natureza
acusatória.

Em relação aos princípios regentes do nosso sistema processual penal,


concluímos que: é indiscutível seu elevado gral de importância, principalmente
quando se parte do pressuposto que o direito processual penal caracteriza-se por ser o
termômetro de um Estado democrático de direitos. Sejam estes princípios gerais do
direito, princípios processuais penais propriamente ditos ou princípios processuais
penais constitucionais, pode-se afirmar que são valores indispensáveis ao processo
criminal, visto que, em uma análise geral, são dotados das seguintes características:

a) Servem como base ou substância para a criação da lei.

Por meio desta característica, afirma-se que os princípios processuais


penais vinculam o legislador quando da elaboração das normas regra, de forma
negativa e positiva. Na forma negativa, não pode o legislador inovar o ordenamento
jurídico com dispositivos normativos que violem os princípios, visto que, em um juízo
de ponderação, estes estão em gral de superioridade. Entretanto, na forma positiva, o
legislador ao elaborar uma lei, deve partir da base principiológica norteadora do
sistema processual penal.

b) Restringem a aplicação e a interpretação da lei.

Por meio desta característica, afirma-se que a interpretação e a aplicação


da norma ao caso concreto, não podem ser feitas de maneira que violem os princípios
processuais penais, tendo em vista que tratam-se de valores ético-jurídicos, que
precisam ser respeitados.

c) Suprem lacunas da lei.

Os princípios processuais penais, pelo seu elevado gral de abstratividade


e generalidade, são meios de suprimento de eventuais lacunas existentes na lei. Isso
ocorre pois, as normas regras são de conteúdo silogístico, de forma que sua aplicação
sempre será ligada a existência do fato, conjugação dos valores, e imediata aplicação
da norma ao caso concreto (teoria tridimensional do direito de Miguel Reale).

Assim, pode-se afirmar que as normas são aplicáveis na medida do tudo


ou nada. Por essa razão, quando determinada norma não tem plena compatibilidade
com o caso em análise, surgem os princípios, como forma de suprimento dessas
eventuais lacunas.

d) Autolimitação do poder Estatal.

Por fim, dentre os princípios que regem o direito processual penal pátrio,
nota-se a existência de alguns princípios que autolimitam o poder de atuação estatal
na esfera individual do cidadão, ainda que quando sujeito passivo do jus puniendi
Estatal. Podem ser citados como exemplo o princípio do juiz natural, o princípio do
contraditório, o princípio da imparcialidade, dentre outros.

Assim, é inegável a importância dos valores principiológicos no direito


processual penal Brasileiro, sobretudo a partir da Constituição Federal de 1988,
momento em que o direito processual penal brasileiro passou a ter com uma das
principais características a sua democratização.
Fontes de consulta:
 https://phaf.jusbrasil.com.br/artigos/580558478/resenha-do-texto-introducao-aos-
principios-gerais-do-direito-processual-penal-brasileiro
 https://trilhante.com.br/curso/teoria-geral-e-principios-do-
processo/aula/principios-dispositivo-e-inquisitivo-2?viewtype=pdf
 https://blog.grancursosonline.com.br/direito-penal/
 https://douglascr.jusbrasil.com.br/artigos/133293355/principios-e-caracteristicas-
da-jurisdicao
 https://renato07.jusbrasil.com.br/artigos/245040816/os-principios-que-regem-a-
acao-penal
 https://jus.com.br/artigos/50458/principios-norteadores-do-processo-penal

Você também pode gostar