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Direito Civil Esquematizado

Professor Stanley Costa

Aula 03 – Planos do Negócio Jurídico


Sumário: 1. Notas Introdutórias – 2. Plano da Existência – 3. Plano da Validade
– 3.1. Agente Capaz – 3.2. Objeto Lícito, Possível, Determinado ou
Determinável – 3.3. Forma Prescrita ou não Defesa em Lei – 3.4. Vontade Livre
e Desimpedida – 4. Plano da Eficácia

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS
Conforme doutrina desenvolvida por Pontes de Miranda e aceita por todo bom
doutrinador pátrio, a plena produção de efeitos do negócio jurídico está subordinada a
três planos (escada ponteana): a) existência; b) validade; c) eficácia. Para que o negócio
jurídico produza os efeitos pretendidos pelos agentes, é preciso que ele suba cada um
desses degraus.

Os referidos planos são autônomos e independentes, devendo ser analisados


individualmente. Apesar disso, existe uma relação de prejudicialidade entre os planos
da validade e eficácia em relação ao plano da existência. Não há que se falar em validade
ou eficácia se o negócio jurídico não for inicialmente existente. Entretanto, existindo o
negócio jurídico, é possível ser inválido e eficaz (ex.: negócio anulável) ou válido e
ineficaz (ex.: pendência de uma condição, termo ou encargo).

O próprio Pontes de Miranda lecionou que “existir, valer e ser eficaz são conceitos
tão inconfundíveis que o fato jurídico pode ser, valer e não ser eficaz, ou ser, não valer e
ser eficaz (...) o que se não pode dar é valer e ser eficaz, ou valer, ou ser eficaz, sem ser;
porque não há validade, ou eficácia do que não é”1.

Plano da
Eficácia
Plano da
Validade
Plano da
Existência

1
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado. 4 ed. São Paulo: RT, 1974.
t. III, p. 15.
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2. PLANO DA EXISTÊNCIA
Reconhecidos apenas pela doutrina, os pressupostos de existência são elementos
fundamentais do negócio jurídico. Tratam-se dos requisitos mínimos para que o negócio
pelo menos exista (plano do “ser”), sem pensar ainda na qualidade deles ou na
existência de eventual vício ou defeito. Assim sendo, os elementos de existência são
identificados como substantivos não adjetivados: VOAF - “vontade”, “objeto”,
“agente” e “forma”.

Para que o negócio jurídico exista, é precisa que um agente (ou agentes) manifeste
sua vontade, de alguma forma (expressa ou tácita), em busca de determinado objeto
(material ou imaterial).

É curioso destacar que o Código Civil de 2002, assim como o seu antecessor, não
dispõe expressamente sobre o plano da existência, mas inicia a regulamentação dos
negócios jurídicos (art. 104) já tratando acerca da validade. Não obstante, a doutrina
reconhece a relevância deste plano, notadamente como causa de prejudicialidade dos
demais. Se não existe, não pode ser válido ou eficaz. A ausência de apenas um desses
elementos torna o negócio jurídico inexistente.

Nas palavras de Luciano Figueiredo e Roberto Figueiredo2: “O plano da existência


configura o primeiro degrau da Escada Ponteana, porque por meio dele é que o fato
deixa de ser simplesmente material, extrajurídico e adentra no mundo do direito. Pela
via da existência ocorre a transmutação do fato material em fato jurídico”.

Especificamente sobre a vontade, cabe-nos fazer algumas observações


decorrentes da própria lei. A primeira nota especial diz respeito ao instituto da reserva
mental, conforme disposição do artigo 110 do Código Civil.

CC, Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja
feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o
destinatário tinha conhecimento.

2
Op. Cit., p. 433
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Fala-se em reserva mental quando um indivíduo manifesta a sua vontade através
de um negócio jurídico, mas sobre algo que não pretende cumprir, ou seja, um dos
declarantes oculta a sua verdadeira intenção, ele não quer o efeito que diz querer. De
acordo com Nelson Nery e Rosa Maria de Andrade Nery3, emite-se uma declaração de
vontade não querida em seu conteúdo (tampouco em seu resultado), tendo por único
objetivo enganar o declaratário.

O que levou o legislador do Código Civil de 2002, ao contrário do seu antecessor,


a regular o mencionado instituto foi determinar que aquilo que se passa na mente do
declarante é irrelevante para o direito. O que precisa ser investigado é se a pessoa a
quem foi dirigida a vontade não querida tinha ou não conhecimento da reserva mental.
Se o destinatário NÃO tinha conhecimento da reserva mental, independente da
intenção do declarante, subsistirá o negócio jurídico (ele existe) e produzirá os efeitos
não pretendidos. Do contrário, se o destinatário tinha conhecimento da reserva mental,
ou seja, sabia que o declarante não tinha a intenção de cumprir com a sua manifestação,
então o negócio jurídico será considerado inexistente.

Nesse sentido, Carlos Roberto Gonçalves4: “Infere-se que a reserva mental


desconhecida da outra parte é irrelevante para o direito. A vontade declarada produzirá
normalmente os seus efeitos, a despeito de estar conscientemente em conflito com o
íntimo desejo do declarante. Considera-se somente o que foi declarado. Se, no entanto,
o declaratário conhece a reserva, a solução é outra (...) a reserva mental conhecida da
outra parte não torna nula a declaração de vontade; esta inexiste, e, em consequência,
não se forma o negócio jurídico”.

A segunda observação que devemos fazer acerta da vontade, encontra-se no


artigo 111 do Código Civil. Para o direito, será que “quem cala consente”? Como regra,
não. O silêncio é considerado falta de manifestação de vontade, de modo que impede a
existência dos negócios jurídicos.

3
NERY, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. São Paulo, RT, 2007, p.
297.
4

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CC, Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os
usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.

Excepcionalmente, entretanto, existem situações em que o silêncio será


considerado consentimento, manifestação de vontade tácita. Assim acontece com a
doação, em que, se o doador fixar prazo para donatário declarar se aceita ou não a
liberalidade, o silêncio deste faz presumir que aceitou (CC, art. 539). Da mesma forma
acontece com a herança, pois, se o herdeiro for notificado e não dizer se aceita ou não
a herança, presumir-se-á que aceitou (CC, art. 1.807). Ainda, no contexto da assunção
de dívida a concordância do credor é requisito de existência, todavia, em se tratando de
imóvel hipotecado, se o adquirente quiser assumir o pagamento e credor, notificado,
não impugnar a transferência do débito, entender-se-á que foi dado assentimento (CC,
art. 303).

CC, Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita
ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça,
dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for
sujeita a encargo.
CC, Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a
herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo
razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob
pena de se haver a herança por aceita.
CC, Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o
pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em
trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.

3. PLANO DA VALIDADE
Alcançado o degrau da existência, o próximo passo é cumprir os requisitos de
validade, estes apontados expressamente pela própria lei. Validade corresponde à
adequação do negócio jurídico ao ordenamento jurídico, razão pela qual, didaticamente
afirma-se que esse plano qualifica os elementos de existência. No degrau da existência
tínhamos apenas substantivos, agora, no degrau da validade tais substantivos são
adjetivados.

São requisitos de validade do negócio jurídico, conforme previsto no artigo 104 do


Código Civil: i) o agente da existência deve ser CAPAZ; ii) o objeto da existência deve ser
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LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO ou DETERMINÁVEL; iii) a forma da existência deve
ser PRESCRITA ou NÃO DEFESA em lei. Apesar de o texto legal não comentar
expressamente, pelo estudo dos artigos que tratam sobre os defeitos do negócio
jurídico, é certo que também se apresente como elemento de validade, iv) a vontade da
existência deve ser LIVRE e DESIMPEDIDA (sem vícios).

CC, Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II -


objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou
não defesa em lei.

Segundo o magistério de Carlos Roberto Gonçalves:

O ato existente deve passar por uma triagem quanto à sua regularidade, para
ingressar no plano da validade, quando então se verificará se está perfeito
ou se encontra eivado de algum vício ou defeito inviabilizante. O
preenchimento de certos requisitos fáticos, como a capacidade do agente, a
licitude do objeto e a forma prescrita em lei, é indispensável para o
reconhecimento da validade do ato. Mesmo a invalidade pressupõe como
essencial a existência do fato jurídico. Este pode, portanto, existir e não ser
válido.

3.1. Agente Capaz

O primeiro requisito de validade do negócio jurídico é a capacidade genérica do


agente (requisito subjetivo). Conforme estudamos nas primeiras aulas de Direito Civil,
toda pessoa (sujeito dotado de personalidade) é dotada de capacidade de direito,
atributo que possibilita a aquisição de direitos e deveres na ordem civil, todavia, nem
toda pessoa tem capacidade de fato (ou de exercício), atributo que a possibilita exercer
pessoalmente os seus direitos e responder por suas obrigações.

Nos termos do artigo 3º do Código Civil, redação modificada pelo Estatuto da


Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/15), “são absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos”. Assim sendo,
de forma bastante objetiva, podemos afirmar que atualmente o único critério definidor
da incapacidade absoluta é o ETÁRIO. Isso significa que não existe absolutamente
incapaz maior de 16 (dezesseis) anos.

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O artigo 4º do Código Civil, que também sofreu sensível alteração em razão do
Estatuto da Pessoa com Deficiência, atualmente enuncia que são relativamente
incapazes para certos atos da vida civil: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito
anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa
transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Observe
que NÃO EXISTE QUALQUER MENÇÃO À DEFICIÊNCIA mental ou de qualquer outra
natureza como critério definidor da incapacidade. Para todos os efeitos, a pessoa com
deficiência passou a ser considerada, em regra, como plenamente capaz.

Como se pode notar, ao nos referirmos à capacidade como requisito de validade


dos negócios jurídicos, trata-se da capacidade de fato (ou de exercício), necessária para
que a pessoa exerça pessoalmente os atos da vida civil. Em regra, os absolutamente
incapazes e relativamente incapazes não podem celebrar negócios jurídicos.

Excepcionalmente, entretanto, a incapacidade para exercer os atos da vida civil


pode ser suprida pela representação ou assistência. Os absolutamente incapazes
dependem de representação para a realização dos atos jurídicos, condição que se não
for preenchida gera nulidade absoluta. Os relativamente incapazes dependem da
assistência para a realização de atos jurídicos, sob pena de anulabilidade (nulidade
relativa). Ressalta-se que o relativamente pode realizar alguns atos jurídicos sem
assistência, tais como, ser mandatário; eleitor; servir como testemunha de atos e
negócios jurídicos; e requerer seu registro de nascimento.

Urge destacar que, em algumas situações, o ordenamento jurídico exigirá mais do


que a capacidade plena, exigirá legitimação (capacidade específica). Assim, por
exemplo, para que o ascendente venda determinado bem a um dos descendentes, não
basta plena capacidade das partes, é necessário legitimação, o que se obterá através
do consentimento dos demais descendentes e do cônjuge do alienante (CC, art. 496).

Por derradeiro, insta fazer menção aos artigos 105 e 180 do Código Civil. O
primeiro artigo determina que a incapacidade relativa de uma das partes não pode ser
invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes,
salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.
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Dessa forma, se imaginarmos a situação em que de um lado do negócio jurídico o
sujeito é capaz, mas do outro lado temos dois sujeitos, um deles capaz e o outro
relativamente incapaz, o negócio será anulado parcialmente. A anulação por
incapacidade não beneficia os cointeressados capazes.

Com relação ao artigo 180, uma importante regra que privilegia o princípio da boa-
fé objetiva. Dispõe o legislador que o menor, relativamente incapaz (maior de 16 e
menor de 18 anos), não pode arguir a incapacidade para eximir-se de cumprir uma
obrigação, quando dolosamente a ocultou da outra parte ou declarou-se maior. Nesse
caso, ainda que relativamente e sem assistente, o menor será responsabilizado
civilmente.

CC, Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser
invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-
interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito
ou da obrigação comum.
CC, Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-
se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando
inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

RESUMO: Teoria da Incapacidade


ABSOLUTAMENTE
Art. 3º CC - Os menores de 16 (dezesseis) anos.
INCAPAZES

Art. 4º CC
I - Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
RELATIVAMENTE II - Os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
INCAPAZES III - Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade;
IV - Os pródigos.

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Incapacidade
Representação
Absoluta (Art. 3º)
Suprimento da
Incapacidade
Incapacidade Relativa
Assistência
(Art. 4º)

Incapacidade Nulidade
Absoluta (Art. 3º) (Art. 166, I)
Efeitos do ato
realizado sem
suprimento
Incapacidade Relativa Anulabilidade (Art.
(Art. 4º) 171, I)

3.2. Objeto Lícito, Possível, Determinado ou Determinável

O segundo requisito de validade dos negócios jurídicos é o requisito objetivo. Diz-


nos o texto legal que o objeto do negócio jurídico deverá ser lícito; possível e
determinado ou determinável.

Considera-se objeto lícito aquele que não atenta contra a lei, a moral e os bons
costumes. Nesse sentido são inválidos em razão da ilicitude do objeto, por exemplo, o
contrato de compra e venda de drogas; o ajuste de pagamento pelo assassinato de
alguém e etc.

A possibilidade do objeto pode analisada a partir de duas acepções, material


(física) e jurídica (legal). A impossibilidade material ocorre quando o objeto contraia as
leis da física ou leis naturais, por exemplo, a promessa de se trazer a lua como
recompensa por determinado serviço, de entregar um cachorro que fala, de colocar o
oceano num copo d’água. Por sua vez, a impossibilidade jurídica se configura quando a
lei proíbe expressamente o negócio jurídico envolvendo certo objeto que, a priori, é

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lícito. Neste caso, temos que é vedado a alienação da herança de pessoa viva (CC, art.
426); a alienação do bem de família convencional (CC, art. 1.717); e também a alienação
de bens fora do comércio ou gravados de inalienabilidade.

Perceba que não é tão fácil identificar a diferença entre objeto juridicamente
impossível e objeto ilícito. Por isso, nos valemos da dica do saudoso doutrinador,
Orlando Gomes, que assim leciona: o objeto juridicamente impossível é aquele que
simplesmente não é admitido por lei, e que se figurar no negócio jurídico causará apenas
a sua nulidade; diferentemente, o objeto ilícito é aquele proibido pela lei, de modo que
não causará apenas a nulidade do negócio jurídico, mas ensejará uma punição aos
agentes, vez que configurará uma contravenção penal ou crime.

Antes de passarmos ao próximo requisito objetivo, ressalta-se o conteúdo do


artigo 106 do Código Civil. De acordo com o mencionado artigo, a impossibilidade inicial
do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada
a condição a que ele estiver subordinado.

CC, Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio


jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele
estiver subordinado.

Quanto à determinação, a ideia central é de que objeto do negócio jurídico deve


ser individualizado (determinado), ou, pelo menos, passível de ser individualizado
(determinável).

De modo mais técnico, afirmamos que o objeto determinado é aquele definido


quanto ao gênero, quantidade e qualidade, trata-se do que em direito das obrigações
chamamos de COISA CERTA, individualizada e conhecida pelas partes desde a
celebração do negócio jurídico. O objeto determinável, por sua vez, é a COISA INCERTA
do direito obrigacional, aquele que não está absolutamente individualizado desde a
celebração do negócio jurídico, mas já possui algumas características mínimas, a saber
a quantidade e o gênero (CC, art. 243).

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Reconhecendo a relevância do tema para o direito obrigacional, Luciano
Figueiredo e Roberto Figueiredo5 fazem um interessante paralelo entre parte geral e
parte especial do Código Civil. Senão, vejamos:

Determinado é o objeto previamente individuado, em seu gênero,


quantidade e qualidade. É a obrigação de dar cosia certa prevista no art. 233
do Código Civil, a qual abrange, em regra, seus acessórios, a exceção das
pertenças, como estudado no capítulo de bens jurídicos. É o exemplo da
venda de um carro, da marca tal, modelo tal, placa policial tal.
Determinável é o objeto indicado apenas pelo gênero e pela quantidade,
ainda não individualizado. Configura-se uma obrigação de dar coisa incerta
ou genérica, nas pegadas do art. 243 do Código Civil. Exemplifica-se com a
venda de 10 (dez) sacas de café, ou feijão, ou arroz...

3.3. Forma Prescrita ou não Defesa em Lei

A forma deve ser prescrita ou não defesa em lei. Quanto a esse requisito, o nosso
ordenamento adotou o princípio da liberdade das formas, previsto no artigo 107 do
Código Civil, segundo o qual: “a validade da declaração de vontade não depende de
forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”.

Em regra, portanto, o negócio jurídico pode ser verbal ou escrito, por escritura
pública ou particular, com a presença de testemunhas ou não. A priori, nada disso
influencia a validade do negócio jurídico, embora possa dificultar a prova da sua
existência.

Excepcionalmente, existem negócio jurídicos que dependem da forma estipulada


em lei para a sua validade. Por exemplo, determina o artigo 108 do Código Civil que,
“não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no
País”.

O consensualismo é a regra, e o formalismo a exceção. Quando a lei, como no


artigo 108, exigir expressamente a forma, ela deverá ser observada sob pena de

5
Op. Cit., p. 435
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nulidade absoluta. Conforme inteligência do artigo 166 do Código Civil, nos incisos IV e
V, é nulo o negócio jurídico quando “não revestir a forma prescrita em lei” ou “for
preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade”.

Além da lei, é possível que as próprias partes determinem, por manifestação livre
da vontade, que o negócio jurídico dependerá de forma, que se for inobservada também
implicará em nulidade absoluta. Assim dispõe o artigo 109 do Código Civil: “no negócio
jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da
substância do ato”.

Concluindo a explanação referente a este requisito, a doutrina informa que a


forma pode ser ad probationem, uma mera questão de prova e que não influencia na
validade do negócio jurídico, ou ad substantiam (ad solemnitatem), forma que é
substância do negócio jurídico e que por isso deve ser observada sob pena de nulidade.
Se a forma for meramente ad probationem, nos termos do artigo 183 do Código Civil,
“a invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder
provar-se por outro meio”.

CC, Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma


especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
CC, Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial
à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência,
modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
CC, Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem
instrumento público, este é da substância do ato.

3.4. Vontade Livre e Desimpedida

O último requisito geral de validade dos negócios jurídicos determina que a


vontade manifestada deve ser livre de vícios. É de se observar que este requisito não
citado pelo legislador no corpo do artigo 104, entretanto, ninguém questiona a sua
qualificação como pressuposto de validade, principalmente porque, conforme
analisaremos mais adiante, o legislador elenca uma série defeitos do negócio jurídico
que podem causar a sua invalidade. Tais defeitos são organizados em dois grupos, os

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vícios de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão) e vícios sociais
(fraude contra credores e simulação).

4. PLANO DA EFICÁCIA
O terceiro plano do negócio jurídico é o da eficácia, onde os efeitos pretendidos
pelos agentes serão produzidos, ou seja, onde efetivamente o direito será criado,
modificado ou extinto em razão da relação jurídica. Dessa forma, por exemplo, o
contrato de compra e venda produz efeitos quando a propriedade do bem é transmitida
do vendedor para o comprador.

Devemos ter a devida atenção, porque algumas vezes o ordenamento jurídico


utiliza a expressão ineficácia em sentido amplo, referindo-se simultaneamente aos
planos da validade e da eficácia. Nesse contexto, a Súmula 332 do STJ afirma o seguinte:
“a fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da
garantia”. Claramente o STJ utiliza a expressão ineficácia em sentido amplo, vez que a
falta da outorga conjugal é hipótese de anulabilidade da fiança, portanto, influencia
diretamente na validade do negócio (CC, arts. 1.647, III, e 1.649).

Quando utilizamos a expressão ineficácia em sentido estrito, estamos nos


referindo exclusivamente ao terceiro degrau da escada ponteana. Como regra,
preenchidos os requisitos de existência e validade dos negócios jurídicos (requisitos
essenciais), geralmente eles produzirão seus efeitos de imediato. Em algumas situações,
contudo, o negócio jurídico é válido, mas os efeitos podem estar subordinados a algum
ELEMENTO ACIDENTAL (chama-se assim porque nem sempre ele estará presente).

São três os elementos acidentais que podem impedir a produção imediata dos
efeitos do negócio jurídico, todos de natureza acessória e não essenciais: a) Condição;
b) Termo; c) Encargo.

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