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1. NOTAS INTRODUTÓRIAS
O novo CPC dedica o Livro V da Parte Geral à regulamentação das TUTELAS
PROVISÓRIAS, apresentando variadas novidades, quando comparado com código
anterior. Apesar de destinar um livro próprio para a sua regulamentação, o NCPC não
apresenta um conceito específico de tutela provisória, cabendo à doutrina apresentá-
lo, considerando as disposições que a lei faz sobre as regras, naturezas e razões pelas
quais a tutela pode ser concedida.
A Tutela Provisória é uma tutela diferenciada, uma vez que o juiz a concederá (ou
não) em cognição sumária – e não exauriente – ou seja, fundada na probabilidade
substancial e no perigo da demora na prestação jurisdicional ou, ainda, quando houver
evidência, mesmo inexistindo o risco do tempo. No momento em que o juiz a concede,
ele não tem acesso a todas as informações necessárias para resolver a lide, ainda não
exauriu o seu conhecimento para dizer ou mandar executar o direito no caso concreto,
por isso a referida tutela é sempre provisória.
1
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. São Paulo: Atlas, 2017, p. 456.
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Complementarmente, colacionamos o conceito apresentado por Marcus Vinicius
Rios Gonçalves2, em seu curso esquematizado de Direito Processual Civil: “tutela
diferenciada, emitida em cognição superficial e caráter provisório, que satisfaz
antecipadamente ou assegura e protege uma ou mais pretensões formuladas, e que
pode ser deferida em situação de urgência ou nos casos de evidência”.
2
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado, 8ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 368.
3
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. Salvador:
Ed. JusPodivm, 2017, p. 483.
4
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado, 8ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 436.
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Em suma, no novo modelo processual civil, as tutelas provisórias jamais implicarão
em formação de processo autônomo. O deferimento de tutela provisória, antecedente
ou incidental, será sempre em processo de conhecimento ou de execução. Até mesmo
em fase recursal e nos processos de competência originária dos tribunais é possível a
concessão de tutelas provisórias. Nos recursos, receberá o nome de tutela antecipatória
recursal, mas, apesar da diferente nomenclatura, a essência continua a mesma.
Antecedente
Antecipadas
Incidental
Tutelas de
Urgência
Tutelas Antecedente
Provisórias
Cautelares
Tutelas de Incidental
Evidência
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O grande processualista contemporâneo, Fredie Didier Jr., ensina que a tutela
provisória deve ser estudada em três dimensões:
5
DIDIER JR., Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandre. Curso de Direito Processual
Civil – v. 2. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, p. 583.
6
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. Salvador:
Ed. JusPodivm, 2017, p. 486.
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tempo, não se submetendo à preclusão temporal. (Grupo: Tutela de urgência
e tutela de evidência)
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
III - à decisão prevista no art. 701.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de
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se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício.
4. TUTELAS DE URGÊNCIA
Ao extinguir o processo autônomo cautelar, o Novo CPC atenuou
significativamente a necessidade de distinguirmos a tutela antecipada e a tutela
cautelar. Além de regular essas duas espécies num mesmo livro, foi instituído um
tratamento legislativo bastante uniforme, inclusive quanto aos elementos de concessão,
entretanto, ainda persistem algumas diferenças que valem a pena ser destacadas.
A tutela de urgência cautelar, por sua vez, tem por objetivo garantir o futuro
resultado útil do processo, nos casos em que uma situação de perigo põe em risco a sua
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efetividade. O juiz não defere os efeitos do pedido, mas determina medida protetiva,
assecuratória, que preserve o direito da parte para ao final, sendo procedente o pedido,
a tutela definitiva satisfazer sua pretensão. Desse modo, a tutela cautelar está
relacionada com a efetividade do processo. Doutrinariamente, fala-se que a tutela
cautelar garante para satisfazer, enquanto a tutela antecipada satisfaz para garantir.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
§1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso,
exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra
parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.
§3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando
houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
De acordo com o artigo 300, as duas espécies exigem para a sua concessão,
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo. Foi superada a diferença entre tutela antecipada e tutela
cautelar, ao menos quanto aos fundamentos para a concessão.
a) Requerimento da Parte
Embora não tenhamos identificado acima, é certo que o primeiro requisito para a
concessão da tutela provisória é o requerimento da parte interessada. Muito se tem
discutido sobre a possibilidade de a tutela provisória ser concedida de ofício, existindo
grandes nomes de ambos os lados do debate. Cássio Scarpinella Bueno defende que “à
luz do modelo constitucional do processo civil”7 deveria ser autorizado a concessão de
ofício da tutela provisória; em sentido contrário, Nelson e Rosa Nery asseguram que
“somente diante de pedido expresso do autor é que pode o juiz conceder a medida 8”.
b) Probabilidade do Direito
7
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva,
2009, p. 11.
8
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Còdigo de Processo Civil –
novo CPC. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
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a verdade dos fatos é provável e que também é provável a subsunção destes fatos à
norma jurídica invocada9.
Há quem afirme que basta a “mera” probabilidade para que o magistrado possa
deferir a medida, entretanto, é certo que a proporção desta probabilidade varia de
acordo com o caso concreto e está inquestionavelmente relacionada à urgência do que
se requer. Quanto mais urgente for o pedido, menos rigoroso deverá ser o magistrado
na análise deste requisito; quando menos urgente for o pedido, mais rigoroso deverá
ser o magistrado.
O fumus boni juris não pode ser examinado isoladamente, mas depende da
situação de perigo e dos valores jurídicos em disputa (proporcionalidade).
Conquanto não possa afastar o requisito da verossimilhança, o juiz pode,
eventualmente, atenuá-lo, quando a urgência e os bens jurídicos o
recomendarem10.
c) Perigo da Demora
9
DIDIER JR., Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandre. Curso de Direito Processual
Civil – v. 2. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, p. 609.
10
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado, 8ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p 385
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Com relação à fundamentação, a única diferença entre a tutela de urgência
antecipada e a tutela de urgência cautelar é o requisito da reversibilidade. Nos termos
do parágrafo terceiro, do artigo 300 do NCPC, “a tutela de urgência de natureza
ANTECIPADA não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisão”.
Citando novamente, Fredie Didier Jr.: “Conceder uma tutela provisória satisfativa
irreversível seria conceder a própria tutela definitiva – uma contradição em termos.
Equivaleria a antecipar a própria vitória definitiva do autor, sem assegurar ao réu o
devido processo legal e o contraditório (...)”.11
11
DIDIER JR., Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandre. Curso de Direito
Processual Civil – v. 2. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, p. 613.
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tutela de urgência cujos efeitos possam ser irreversíveis (art. 300, §3º, do CPC/2015)
pode ser afastada no caso concreto com base na garantia do acesso à justiça “art. 5º,
XXXV, da CRFB)”.
A irreversibilidade deve ser levada em conta tanto para negar quanto para
conceder a tutela. Se a concessão gerar situação irreversível, e a denegação
não, o juiz deve denegá-la; se a denegação gerar situação irreversível, e a
concessão não, o juiz deve concedê-la; mas se ambas gerarem situação
irreversível, a solução será aplicar o princípio da proporcionalidade12.
Na Justiça Federa, por exemplo, não são incomuns pedidos para liberação de
mercadorias perecíveis, retidas na alfândega para exame sanitário que, por
alguma razão (greve dos servidores, por exemplo), não é realizado. Nesses
casos, a concessão liminar da tutela pedida compromete irremediavelmente
o direito à segurança jurídica a que faz jus o demandado (liberada e
comercializada a mercadoria, já não há que se falar em seu exame
fitossanitário); seu indeferimento torna letra morta o direito à efetividade do
processo, porque, deteriorando-se o produto, inútil será sua posterior
liberação. Em casos dessa natureza, um dos direitos fundamentais colidentes
será sacrificado, não por vontade do juiz, mas pela própria natureza das
coisas. (...) Caberá ao juiz, com redobrada prudência, ponderar
adequadamente os bens e valores colidentes e tomar a decisão em favor dos
que, em cada caso, puderem ser considerados prevalentes à luz do direito13.
5. TUTELA DE EVIDÊNCIA
12
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado, 8ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p 386
13
ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação de Tutela. 2 ed., São Paulo: Saraiva, 1999, p. 98.
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É de conhecimento comum que, regra geral, os ônus da demora processual
recaem sobre o autor da demanda, ele é que normalmente aguarda o desfecho do
processo e que se desanima com o judiciário a cada interposição de alguma das variadas
espécies recursais previstas na lei. Do lado oposto, o réu geralmente não tem qualquer
interesse na solução célere da lide.
Pois bem. É neste cenário que o legislador pensou a tutela de evidência, tipificando
algumas hipóteses em que será autorizado ao magistrado conceder a medida, não como
forma de afastar eventual perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, mas
para transferir ao réu os ônus da morosidade processual.
14
DIDIER JR., Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandre. Curso de Direito
Processual Civil – v. 2. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, p. 631.
15
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado. Salvador:
JusPodivm, 2016, p. 508.
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(NCPC, art. 562), dos embargos de terceiro (NCPC, art. 678) e da ação monitória (NCPC,
art. 700).
16
DIDIER JR., Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandre. Curso de Direito
Processual Civil – v. 2. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, p. 633.
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a) Abuso do Direito de Defesa ou Manifesto Propósito Protelatório da
Parte
O inciso III do artigo 311 do NCPC nos remete para o contexto da ação de depósito,
prevista como de procedimento especial no antigo código e que, atualmente, é
processada pelo procedimento comum. Assim sendo, pedido reipersecutório traduz a
pretensão do autor de reaver determinada coisa que foi entregue em depósito para
outrem. Como elucida Elpídio Donizetti: “Por pedido reipersecutório deve se entender a
pretensão de tutela que tem por objetivo reaver (perseguir) a coisa. ‘Rei’ (do latim res),
na acepção empregada, significa coisa. ‘Persecutoriu’ indica que acompanha, que segue,
persegue com vistas a reaver, a buscar e apreender”17.
Neste caso, assim como na hipótese do inciso I, o magistrado não poderá conceder
a tutela de evidência liminarmente, visto que o requisito está diretamente relacionado
ao comportamento do réu.
17
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. São Paulo: Atlas, 2017, p. 506.
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magistrado deveria julgar antecipadamente o mérito, total ou parcialmente. Conforme
as lições de Marcus Vinicius Rios Gonçalves: “(...) pressupõe, também, que, em tese, com
o prosseguimento do processo, essa situação possa, ainda que com pouca probabilidade,
ser revertida ou alterada, pois do contrário, a decisão do juiz não deve ter natureza
provisória, e sim definitiva”18.
18
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado, 8ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p 392.