Você está na página 1de 6

DAS TUTELAS PROVISÓRIAS DE URGÊNCIA E EVIDÊNCIA - NCPC

As tutelas jurisdicionais provisórias, como o próprio nome diz, são tutelas jurisdicionais não
definitivas, concedidas pelo Poder Judiciário em juízo de cognição sumária, que exigem,
necessariamente, confirmação posterior, através de sentença, proferida mediante cognição
exauriente.

As tutelas provisórias são o gênero, dos quais derivam duas espécies:

(1) tutela provisória de urgência e;


(2) tutela provisória da evidência.

Uma, exige urgência na concessão do Direito. O outro gênero é a tutela de evidência.

A tutela de urgência exige demonstração de probabilidade do direito e perigo de dano ou risco


ao resultado útil do processo (artigo 300).

A tutela da evidência independe de tais requisitos, porque ela é uma tutela “não urgente”
(artigo 311). Portanto, uma primeira forma de distingui-las é pensar sempre que uma delas, a
de urgência, depende da premência do tempo; já a outra, a da evidência, não.

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou
fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a
caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto,
sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer
outra medida idônea para asseguração do direito.

Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo
prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se:

I - a sentença lhe for desfavorável;

II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários


para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias;

III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal;

IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.

Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido
concedida, sempre que possível.
DAS TUTELAS DE URGÊNCIA

Começando pelas tutelas de urgência (que são espécie do gênero tutelas provisórias), é
preciso dizer que elas ainda são divididas em mais duas (sub) espécies:

(1) tutela provisória de urgência antecipada (ou satisfativa, como a doutrina vem
denominando) e;
(2) tutela provisória de urgência cautelar.

Em suma, as tutelas provisórias antecipadas, asseguram a efetividade do direito material; as


cautelares, do direito processual.

Nas tutelas antecipadas, eu preciso demonstrar para o juiz que, além da urgência, o meu
direito material estará em risco se eu não obtiver a concessão da medida. Já nas cautelares, eu
preciso demonstrar, além da emergência, que a efetividade de um futuro processo estará em
risco se eu não obtiver a medida de imediato.

Nas tutelas antecipadas, se eu obtiver a concessão da medida, eu não precisarei de mais nada,
além de sua mera confirmação, porque, em si, a tutela antecipada já me satisfaz (e garante o
meu direito material).

Um bom exemplo é o pedido de internação para a realização de cirurgia emergencial. Nesse


caso, eu preciso que o meu cliente seja internado imediatamente. Uma vez obtida a tutela
cautelar, o direito material estará satisfeito, pois o cliente, que já foi internado e operado,
sairá do hospital sem desejar nada além do que já obteve — a não ser, a confirmação da
tutela, que deverá ser transformada de provisória em definitiva, a fim de evitar que a
seguradora de saúde cobre dele os custos da internação e da cirurgia.

Já na tutela cautelar, o risco está na efetividade do processo futuro. Um bom exemplo: sou
credora de uma dívida e pretendo ajuizar ação de cobrança contra o devedor. Antes de
procurar o advogado que cuidará da ação de cobrança, verifico que o devedor, inadimplente,
está vendendo os únicos bens que possui e que garantiriam o pagamento da dívida que
pretendo cobrar. Ora, antes mesmo de um juiz vir a reconhecer o meu direito de crédito,
preciso tomar alguma medida que garanta a efetividade da sentença que será prolatada na
ação de cobrança, porque de nada adiantará vencer a ação de cobrança e não receber nada,
por ausência de bens que garantam o pagamento. Proponho, então, uma tutela provisória de
urgência cautelar, a fim de tornar indisponível o patrimônio do devedor e, com isso, garantir o
futuro pagamento da ação de cobrança que ainda será proposta. Neste caso, a
indisponibilidade do patrimônio visa a garantir o processo judicial de cobrança que ainda será
ajuizado.

Como se vê, as tutelas cautelares não garantem a si mesmas, estando sempre condicionadas a
assegurar o resultado útil de outro processo.

No exemplo que apresentei, verificamos a relação de interdependência entre o pedido


cautelar e o pedido principal. De um lado, a tutela cautelar, que torna indisponíveis os bens do
devedor, não me vale de nada se for considerada isoladamente (ao contrário da internação e
da cirurgia). Porém, de outro lado, tampouco me valerá uma sentença condenatória em ação
de cobrança promovida contra um devedor que não tem patrimônio.
Ou seja, as tutelas provisórias antecipadas e cautelares se distinguem pela função que têm no
mundo do direito, servindo a propósitos diferenciados: uma, ao direito material, que é
satisfeito com a própria concessão da tutela provisória; e outra, ao direito processual.

DAS TUTELAS DE EVIDÊNCIA

Por sua vez, as tutelas da evidência não têm uma classificação formalizada em (sub) espécies.
Porém, também é possível perceber que a sua concessão (disposta nos quatro incisos do artigo
311 do NCPC), ocorre segundo dois critérios básicos:

(1) quando o direito (material) da parte que pleiteia a tutela é evidente, daí o nome e;
(2) quando uma das partes está manifestamente protelando o processo ou abusando do
exercício do direito de defesa, caso em que a tutela da evidência está vinculada não
necessariamente à evidência do direito material pleiteado, mas à evidência de que é preciso
pôr um fim ao processo.

Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de


perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da


parte;

II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese


firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;

III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato


de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa;

IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do
direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente.

De algum modo, também aparece, nas tutelas da evidência, a serventia que se faz ora ao
direito material, ora ao direito processual (tal como nas cautelares).

Pois bem. Nas tutelas da evidência, eu preciso demonstrar para o juiz que,
independentemente da urgência, o meu direito é tão evidente, que o caminho do processo
pode ser encurtado. Ou então preciso demonstrar que o meu ex adverso está protelando
tanto o processo, que a sua maior punição será adiantá-lo, apressando os atos processuais que
ele está tentando retardar. Afinal, a maior sanção para quem obstaculiza o caminho do
processo é justamente pegar atalhos que levem mais rápido ao fim da estrada — isto é, à
sentença.

Exemplos de tutela da evidência: o autor propõe uma ação para obter a restituição de uma
taxa que, em sede de recurso repetitivo, foi reconhecida como devida. Por que o processo
deve tramitar segundo os rigores de todos os procedimentos, se já se sabe, de antemão, que o
direito material é devido? Antecipa-se a tutela, que é evidente, em razão da tese firmada em
recurso repetitivo.
Em outro caso, o réu, litigante habitual do Judiciário, apresenta defesa-padrão fundamentada
em jurisprudência ultrapassada e em leis declaradas inconstitucionais, além de não apresentar
impugnação específica, contestando pedidos que sequer constam da petição inicial e
requerendo a produção de diversas provas. Por que o juiz precisa observar todos os
procedimentos processuais e marcar audiência de instrução e julgamento, se, obviamente, a
intenção da defesa e dos pedidos de provas representam abuso do réu? Em caráter
sancionatório e diante do evidente propósito protelatório, o juiz pode antecipar a tutela.

Por fim, quanto ao momento em que são requeridas, vale dizer que a tutela de urgência pode
ser pleiteada em caráter antecedente ou incidente; e a da evidência, apenas incidentalmente.
Ou seja, é possível pleitear a tutela de urgência em caráter preparatório ou no curso de um
processo que já esteja em andamento.

No exemplo da internação para a realização de cirurgia, o advogado vai fazer a petição inicial
com pressa e depois vai aditá-la, não para agregar novos pedidos, como fazemos hoje, mas
para melhorar a sua argumentação, que foi elaborada em situação emergencial, e para juntar
novos documentos, requerendo, ao final, a confirmação da medida.

No exemplo da cautelar para arresto de bens do devedor, o advogado vai elaborar a sua inicial
de tutela de urgência, informando ao juiz o seu caráter assecuratório e, em 30 dias,
protocolizará o pedido principal (no caso, o de cobrança).

Caso a urgência ocorra no curso de algum processo, o advogado vai peticionar informando ao
juízo a emergência surgida e pleiteando, em caráter incidente, a tutela cautelar.

Na tutela da evidência não existe medida em caráter antecedente, pois, pela sua própria
natureza, a pretensão está relacionada com a antecipação da sentença de forma que, desde o
início do processo, a pretensão já foi elaborada com fins à obtenção de uma sentença de
mérito e sem urgência.

DO PROCEDIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE

Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode
limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a
exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado
útil do processo.
Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo:
- o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a
juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias
ou em outro prazo maior que o juiz fixar;
- o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de mediação na forma do art.
334;
- não havendo auto composição, o prazo para contestação será contado na forma do art. 335,
prazo de 15 dias.
Não realizado o aditamento o processo será extinto sem resolução do mérito. O aditamento
dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas custas processuais.
Na petição inicial, o autor terá de indicar o valor da causa, que deve levar em consideração o
pedido de tutela final.
Caso entenda que não há elementos para a concessão de tutela antecipada, o órgão
jurisdicional determinará a emenda da petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser
indeferida e de o processo ser extinto sem resolução de mérito.
A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a
conceder não for interposto o respectivo recurso.
Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar ou invalidar a
tutela antecipada estabilizada.
A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não revista, reformada ou invalidada por
decisão de mérito.
Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em que foi concedida a
medida, para instruir a petição inicial da ação, prevento o juízo em que a tutela antecipada foi
concedida.
O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no § 2º do art. 304,
extingue-se após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo.
A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos respectivos
efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar, proferida em ação
ajuizada por uma das partes, nos termos do § 2º do art. 304.

DO PROCEDIMENTO DA TUTELA CAUTELAR REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE

A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar em caráter antecedente
indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que se objetiva assegurar e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Caso entenda que o pedido a acima tem natureza antecipada, o juiz observará o disposto no
art. 303.
O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido e indicar as provas que
pretende produzir.
Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo réu
como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias.
Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o procedimento comum.
Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30
(trinta) dias, caso em que será apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de
tutela cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas processuais.
O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o pedido de tutela cautelar.
A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação do pedido principal.
Apresentado o pedido principal, as partes serão intimadas para a audiência de conciliação ou
de mediação, na forma do art. 334, por seus advogados ou pessoalmente, sem necessidade de
nova citação do réu.
Não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma do art. 335.
Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se:
- o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal;
- não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias;
- o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o processo
sem resolução de mérito.
Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é vedado à parte renovar o pedido,
salvo sob novo fundamento.
O indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte formule o pedido principal, nem
influi no julgamento desse, salvo se o motivo do indeferimento for o reconhecimento de
decadência ou de prescrição.

O recurso para recorrer sobre decisão que nega ou concede qualquer tipo de tutela é o agravo
de instrumento.

Você também pode gostar