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PROCESSO PENAL

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

4) PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL


(...)

4.1.2 – Pressupostos subjetivos de admissibilidade recursal (ou requisitos


intrínsecos)

O conhecimento da impugnação recursal também depende da presença de determinados


pressupostos subjetivos. São, basicamente, a legitimidade e o interesse recursal.

a) Legitimidade recursal

Legitimidade é a pertinência subjetiva dos recursos, ou seja, somente se admitirá


recurso da parte que tenha interesse na reforma ou modificação da decisão.

Vide art. 577 do CPP (trata da legitimidade recursal).

Essa legitimidade é o que a doutrina chama de “legitimação ampla”, que são os


legitimados gerais, os quais podem interpor todo e qualquer recurso.

Questão: Quanto ao acusado, qual a diferença entre defesa técnica e autodefesa?

Ambas são formas de ampla defesa do acusado.

Defesa técnica é a exercida pelo advogado. Autodefesa é a exercida pelo próprio


acusado.

Assim, no processo penal, o acusado tem capacidade postulatória autônoma e o


defensor possui legitimação própria e autônoma (para interpor recursos, p. ex.).

O defensor não é um mero representante processual do acusado, exercendo um


verdadeiro munus público. Tamanha é a sua importância no processo penal que o
defensor pode apresentar recursos independentemente e até contra a vontade do
acusado.

Questão: Como o acusado pode realizar a autodefesa?

O acusado defende-se:

i) pelo seu direito de presença;


ii) pelo seu direito de audiência; e
iii) pela capacidade postulatória autônoma para interpor recursos, impetrar HC ou
provocar incidentes na execução, mesmo sem a presença de seu advogado. Todavia, em
virtude da ausência de conhecimentos técnicos, interposto o recurso, o juiz deve
nomear advogado para apresentar as razões recursais.

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Questão: Em que consiste a legitimação restrita e subsidiária do assistente de
acusação?

Assistente de acusação é a vítima. Quando ela ingressa na ação penal pública, passa a
ser chamada de assistente de acusação. Se morta, seus sucessores poderão se habilitar
no processo: cônjuge, descendentes, ascendentes e irmãos (“CADI”).

Vide art. 268 do CPP.

O assistente de acusação tem legitimação recursal restrita. Isso porque, como visto, o
CPP tem previsão expressa de recurso do assistente apenas nas hipóteses dos arts. 584,
§ 1º e art. 598.

Além de restrita, a legitimação recursal do assistente da acusação é subsidiária. Isso


significa dizer que a atuação dele depende da inércia do MP. O assistente da acusação
somente poderá interpor seu recurso se o MP não o fizer (art. 598, CPP).

Perceba que a lei prevê expressamente o cabimento de recurso do assistente apenas


em três hipóteses:

i) RESE contra a extinção da punibilidade;

ii) apelação contra impronúncia; e

iii) apelação contra sentença absolutória.

Esses são os recursos cuja interposição é expressamente permitida ao assistente pelo


CPP. Todavia, a jurisprudência tem admitido outras hipóteses, em vista da tendência de
crescente importância do papel do assistente no processo penal.

Exemplos:

i) recurso do assistente contra sentença condenatória objetivando o agravamento da


pena:

ii) RESE do assistente contra pronúncia, objetivando inclusão de qualificadora (STF HC


84.022):

Prazo para recurso do assistente de acusação - Súmula 448 do STF:


Súmula 448 - O prazo para o assistente recorrer, supletivamente,
começa a correr imediatamente após o transcurso do prazo do
ministério público.

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b) Interesse recursal

Recurso não serve para a discussão de teses acadêmicas. Para recorrer, deve o
recorrente demonstrar que possui algum tipo de interesse na reforma ou modificação da
decisão.

Interesse em recorrer significa dizer que a lesão ou ameaça ao direito que não foi
reparada pela decisão somente poderá ser convalescida se houver, novamente,
intervenção do Estado-juiz, agora, em segundo grau de jurisdição.

Trata do interesse recursal o art. 577, parágrafo único, do CPP.

Segundo a doutrina majoritária, o interesse deriva da sucumbência, que deve ser


compreendida como uma situação de desvantagem jurídica oriunda da emergente
decisão.

Ou seja, é demonstrar ao juízo ad quem que algo foi pedido e não concedido pela
instância inferior. Ex.: pedida a condenação, o juiz absolve, afasta qualificadora,
desclassifica, extingue a punibilidade etc.

Não demonstrada a sucumbência, o recurso não será conhecido.

Questão: A defesa tem interesse em impugnar uma sentença absolutória própria?

Sentença absolutória própria é aquela em que o sujeito é absolvido e dela não resulta
a imposição de medida de segurança.

A doutrina e a jurisprudência dizem que pode haver interesse da defesa na mudança do


fundamento da absolvição, de modo a fazer coisa julgada na esfera cível.

No processo penal, a depender do fundamento da absolvição, haverá ou não repercussão


na esfera cível.

A absolvição com base no in dubio pro reo não faz coisa julgada no cível.

No entanto, se a absolvição ocorre com o reconhecimento peremptório da inexistência


do fato, de não haver o acusado concorrido para a infração ou de uma excludente da
ilicitude real, essa decisão fará coisa julgada no cível.

Assim, se o acusado conseguir demonstrar que a mudança de fundamento do decreto


absolutório será mais favorável a ele, haverá sucumbência e, consequentemente,
interesse recursal.

Deve-se lembrar da chamada absolvição imprópria, aplicável ao inimputável do art.


26, caput, do CP. Essa sentença resulta na aplicação de medida de segurança. Não há
dúvidas acerca da presença de interesse recursal da defesa, no caso de absolvição
imprópria. O absolvido será submetido a uma internação.

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Questão: Mesmo diante da extinção da punibilidade (prescrição, p. ex.), pode o
acusado recorrer para buscar a análise do mérito (pode o acusado querer recorrer
para ser absolvido)?

No Brasil, não. Entende-se que a extinção da punibilidade, sobretudo a prescrição, é


matéria de ordem pública, que antecede a análise do mérito. Ademais, o acusado, para
todos os efeitos, é considerado inocente, em virtude da inexistência de uma sentença
penal condenatória.

O mesmo raciocínio aplica-se se, durante a tramitação do recurso, ocorre a extinção da


punibilidade pela prescrição.

Questão: (OAB/2018) Pablo e Leonardo foram condenados, em primeira instância,


pela prática do crime de furto qualificado, à pena de 02 anos e 06 meses de
reclusão e 12 dias-multa, por fatos que teriam ocorrido quando Pablo tinha 18
anos e Leonardo, 21 anos. A pena-base foi aumentada, não sendo reconhecidas
atenuantes ou agravantes nem causas de aumento ou diminuição.
Intimados da sentença, o promotor e o advogado de Leonardo não tiveram
interesse em apresentar recurso, mas o advogado de Pablo apresentou recurso de
apelação.
Por ocasião do julgamento do recurso, entenderam os desembargadores por
reconhecer que o crime restou tentado, bem como que deveria ser aplicada a
atenuante da menoridade relativa a Pablo.

Nesse caso, os efeitos dessa decisão podem incidir sobre o acusado Leonardo?

Vide art. 580 do CPP.

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