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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DOS RECURSOS

PROFESSORA RENATA MACEDO DE SOUZA

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

Recurso é o remédio jurídico-processual de provocar, no mesmo


processo, o reexame de matéria já decidida. Através do recurso se
admite o reexame de uma controvérsia já dirimida de modo não
definitivo.

Conclui-se, assim, que o pressuposto fundamental de todo e qualquer


recurso é exatamente a sucumbência, que se traduz na lesividade do
vencido e no seu interesse em recorrer. A existência do recurso se dá
em razão do inconformismo da parte vencida.

Ressalta-se que o duplo grau de jurisdição não se trata de


princípio absoluto, pois há decisões que não são passíveis de
recurso, por exemplo: a decisão que recebe a denúncia ou a
queixa; da que denega a suspensão do processo em razão de
questão prejudicial, etc.

CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS

Quanto a fonte

Constitucionais: são os recursos que emanam do texto


Constitucional como o Recurso Extraordinário, Ordinário, Especial, a
ação de habeas corpus, etc. Embora os procedimentos e prazos
sejam estabelecidos por leis ordinárias, são oriundos da Constituição
Federal.

Legais: são os que têm origem no Código de Processo Penal ou de


legislação especial, quais sejam: recursos de apelação, recurso em
sentido estrito, embargos, infringentes, etc.

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Quanto a iniciativa

Recurso voluntário: exprime a conveniência da parte sucumbente de


manifestar ou não seu inconformismo junto ao órgão de jurisdição
mais elevada. O não exercício do direito de recorrer redundará no
trânsito em julgado da decisão para a parte que não recorreu.

Recurso necessário/anômalos ou de ofício: em alguns casos o


legislador determina que o próprio julgador recorra de sua decisão
para o Tribunal.

a) Da decisão que conceder habeas corpus


b) Quando em segundo grau o relator indefere liminarmente a revisão
criminal
c) Quando em segundo grau o presidente do tribunal indefere
liminarmente habeas corpus.
d) Decisão concessiva da reabilitação
e) Decisão que absolve sumariamente o réu
f) Decisão que defere mandado de segurança

Também está previsto o recurso necessário quando for julgada


improcedente ação penal por crime contra a economia popular ou
for determinado o arquivamento do respectivo inquérito policial
(art. 7° da Lei n° 1.521/51)

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PRESSUPOSTOS DOS RECURSOS

Um recurso só pode ser admitido quando presentes todos os


pressupostos. A ausência de qualquer deles leva à rejeição do
recurso. Os pressupostos recursais são classificados em
objetivos e subjetivos

PRESSUPOSTOS OBJETIVOS

Previsão legal/cabimento: não será admissível o recurso se não


houver fundamento ou autorização legal.

Pode ocorrer ainda, que a parte interessada interponha o recurso


errado, mas mesmo assim pode ser recebido como sendo o
recurso correto é o denominado princípio da fungibilidade
recursal – art. 579 do CPP -. Referido princípio não se aplica,
entretanto, quando fica caracterizada a má-fé por parte de quem
recorreu. A má-fé presume-se, por exemplo, quando já se havia
encerrado o prazo do recurso correto e a parte interpõe recurso
que admite maior prazo apenas para tentar ludibriar o juiz.

Tempestividade: o prazo para a interposição de recurso segue a


norma do art. 798 do CPP. O termo inicial é o da intimação e não
o da juntada do mandado de intimação cumprido aos autos.

No processo penal não se computa no prazo o dia da intimação,


incluindo-se a data do vencimento. Exemplo: intimação em uma
sexta-feira. O prazo inicia-se no primeiro dia útil seguinte e a partir
do início da contagem não há qualquer interrupção por feriados ou
final de semana. Se o último dia do prazo cair num feriado ou final
de semana prorroga-se para o primeiro dia útil seguinte.

EXCEÇÃO

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O artigo 128, I da Lei Complementar n. 80/94, concede o prazo em
dobro para os defensores públicos.

Adequação e regularidade procedimental: para cada espécie de


decisão há um tipo de recurso, e respectivamente um
processamento definido em lei. Por exemplo: o recurso de apelação
é composto de duas partes: 1) por termo nos autos (ocorre quando
se dá oralmente pelo interessado e é certificada por escrito –
reduzida a termo – ou por petição (mais comum); 2) oferecimento
das razões e/ou contrarrazões (lembrando que a parte que contra-
arrazoa não precisa oferecer o termo recursal).

PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS

Interesse: para o exercício do direito de recorrer, a parte deve ter


interesse na reforma ou modificação da decisão, a teor do art. 577
do CPP. Assim, é possível recorrer de uma sentença absolutória
perquirindo uma outra fundamentação. O interesse em recorrer
está ligado a ideia de sucumbência e prejuízo.

Legitimidade: é a pertinência subjetiva do recurso. Podem recorrer


o Ministério Público, o assistente de acusação e o acusado, além
do querelante (ação penal privada). Como fiscal da lei, pode o
membro do Ministério Público recorrer, quer das sentenças
absolutórias quer das condenatórias (se não houve a correta
aplicação da lei penal). De fato, se cabe ao Ministério Público
salvaguardar a busca da verdade real, indo além de sua função de
titular da ação penal pública, nenhum interesse teria o Estado
representado por esta Instituição, de manter uma decisão injusta,
embora existam entendimentos diversos.

Quando o órgão do Ministério Público não recorrer, poderá fazê-lo,


supletivamente o assistente de acusação. Nessa hipótese, o prazo
para a interposição do recurso de apelação será de 15 dias,

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contados da data em que se expirar o prazo para o órgão titular da
ação penal (art. 598, parág. único do CPP). Poderão habilitar-se
como assistentes de acusação o ofendido ou, se este estiver
morto, seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmãos. Se
comparecerem dois ou mais legitimados para a interposição de
recurso, prevalecerá a ordem de preferência do art. 31 do CPP.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE OU DE PRELIBAÇÃO

O juiz, ao receber a petição de interposição do recurso, traçará um


juízo de admissibilidade (juízo da prelibação), ou seja, verificará se
estão presentes os pressupostos recursais. Se não estiverem
presentes os pressupostos, o julgador proferirá decisão deixando de
receber o recurso. Nessa hipótese haverá nova sucumbência,
passível de recurso em sentido estrito.

Atente-se que se não estiverem presentes os pressupostos recursais


o Tribunal a quem competir o julgamento não o conhecerá. Presentes
os pressupostos, será analisado o mérito do recurso, que, se
improcedente, não será provido.

EXTINÇÃO NORMAL E ANORMAL DOS RECURSOS

A extinção normal de um recurso dá-se com o julgamento do mérito


pelo tribunal ad quem.

É possível, entretanto, que esse recurso, após ser recebido, não


chegue até tal julgamento, ocorrendo então, a extinção anormal das
vias recursais.

Há duas hipóteses

Desistência – Artigo 576: ocorre quando, após a interposição e o


recebimento do recurso pelo juízo a quo, o responsável por sua

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interposição desiste formalmente do seu prosseguimento. Essa
desistência só é possível por parte do querelante, do assistente de
acusação e da defesa, uma vez que o Ministério Público não pode
desistir do recurso interposto.

Falta de preparo - art. 806, parág. 2°: a falta de preparo significa o


não pagamento antecipado das despesas para a propositura do
recurso nas hipóteses em que seja necessário. O preparo só é exigível
nos recursos interpostos pelo querelante nos crimes de ação penal
privada exclusiva ou personalíssima. Não há preparo nos crimes de
ação penal pública em atenção ao princípio da ampla defesa.

EFEITOS DOS RECURSOS

Devolutivo: o conhecimento da matéria impugnada é devolvido para


o tribunal, na medida da irresignação. Trata-se de efeito comum a toda
e qualquer espécie de recurso. Nesse tema, é possível falar-se, ainda,
em efeito devolutivo inverso, quando a decisão é devolvida ao próprio
órgão que a prolatou.

Suspensivo: efeito suspensivo é uma qualidade do recurso que adia


a produção dos efeitos da decisão impugnada, impedindo a execução
do comando dela emergente até que seja julgado o recurso. Essa
eficácia é, por consequência, a de impedir que a decisão recorrida
produza efeitos desde logo.

Efeito regressivo/retratação: por vezes, a decisão é devolvida ao


mesmo órgão que a prolatou. É, como se disse, o chamado efeito
devolutivo inverso, iterativo

Extensivo: diz o art. 580 do CPP: “no caso de concurso de agentes,


a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em
motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal,
aproveitará a todos”.

As circunstâncias de caráter objetivo se comunicam, por exemplo,


atipicidade do fato ou inexistência deste, etc. O disposto no citado
artigo aplica-se igualmente às ações de habeas corpus e revisão
criminal.

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Evidentemente, que as circunstâncias pessoais não se comunicam,
como por exemplo, menoridade, primariedade, etc.

REFORMATIO IN PEJUS

É a possibilidade de o Tribunal prejudicar a situação do réu, em


recurso exclusivo da defesa. O artigo 617 do CPP proíbe a reformatio
in pejus, ao dispor que o tribunal não pode agravar a pena quando só
o réu tiver apelado.

Reformatio in pejus no Juízo Singular: seria a imposição de pena


superior àquela que havia sido imposta na sentença condenatória
anteriormente proferida no mesmo processo, e que fora anulada a
pedido do réu. Assim, se o condenado a uma pena de 10 anos de
reclusão, e o mesmo recorre, e a defesa consegue a anulação do
primeiro julgamento, no segundo julgamento o juízo singular fica
proibido de prolatar uma sentença com condenação superior àquela
proferida no primeiro julgamento, pois em tal situação estaria
ocorrendo uma reformatio in pejus indireta, o que seria vedado pelo
ordenamento jurídico, por ferir o princípio da ampla defesa,
contraditório e causar insegurança jurídica.

Reformatio in pejus no Tribunal do Júri: Há divergência doutrinária


e jurisprudencial acerca da possibilidade de, anulado o primeiro
julgamento proferido pelo Conselho de Sentença, piorar a situação do
acusado em recurso exclusivo da defesa.

Primeiramente, temos que analisar o tema à luz da soberania dos


veredictos, garantia constitucional dada pelo art. 5º, inciso XXXVIII da
Constituição da República Federativa do Brasil, que dispõe: “é
reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a
soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida”. Assim, a instituição do Júri funciona
como garantia constitucional de o acusado ser julgado por seus
semelhantes, pessoas que convivem em sua realidade, um tribunal
popular.

A dúvida surge se, anulado o primeiro julgamento pelo Tribunal,


pode ou não o segundo julgamento, que será proferido por um

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novo Conselho de Sentença, ficar adstrito ao limite da pena do
primeiro frente a recurso exclusivo da defesa.

Tem-se que a soberania significa que o Tribunal do Júri deve ser o


poder máximo para decidir o que lhe é competente, não podendo o
Tribunal modificar o decisum de forma diversa ao decidido pelo
Conselho de Sentença. O que pode haver é a anulação da primeira
sentença, para que outra seja proferida, mas novamente pelo Tribunal
Popular, e não por Juízes togados.

O Supremo Tribunal Federal decidiu que a possibilidade de


exacerbação da pena fere o princípio da ampla defesa e confere
natureza acusatória ao recurso exclusivo do réu. Por isso, embora
os Jurados possam votar com bem entenderem no segundo
julgamento, o juiz, ao aplicar a pena, em hipótese alguma poderá
aplicá-la em patamar superior ao do primeiro. Assim, anulado o
julgamento pelo tribunal do júri e a correspondente sentença
condenatória, transitada em julgado para a acusação, não pode o
acusado, na renovação do julgamento, vir a ser condenado a pena
maior do que a imposta na sentença anulada, ainda que com base em
circunstâncias não ventiladas no julgamento anterior (STF-HC 89.544
– 2ª. Turma – Rel. Min. Cezar Peluso – Dje-89-p.197)

REFORMATIO IN MELIUS

Questão polêmica na doutrina e na jurisprudência diz respeito à


possibilidade da reforma da situação do acusado para melhor em
recurso exclusivo da acusação, e não tendo a mesma feito pedido
nesse sentido. Trata-se da possibilidade da adoção da reformatio in
mellius.

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Assim, não tendo o réu apresentado recurso, e somente o Ministério
Público, e não tendo feito o mesmo pedido de melhora da situação do
acusado, poderia o Tribunal reformar a decisão de ofício,
beneficiando-o? A questão é controvertida.

A doutrina e a jurisprudência dividem-se em duas correntes. A


corrente majoritária, desta fazendo parte o Superior Tribunal de
Justiça, entende ser possível a melhora da situação do réu em
recurso exclusivo da acusação, fundamentando tal posicionamento no
fato de que se o Tribunal verificou erro na condenação ou na
dosimetria da pena, não pode estar impedido de corrigi-la em favor do
réu, vez que o art. 617 apenas veda a reformatio in pejus, e não a
reformatio in mellius.

Já o Supremo Tribunal Federal não admite a possibilidade de


reforma da situação do acusado para melhor quando somente o
Ministério Público tenha recorrido alegando a violação ao princípio do
tantum devolutum quantum apellatum.

Fator importante é que quando ocorrer a anulação de julgamento


em virtude da incompetência absoluta do juízo, mesmo por
ocasião de recurso exclusivo da defesa, o novo julgamento não
fica vinculado aos limites da primeira sentença, não havendo que
se falar em reformatio in pejus, pois a sentença anterior é
considerada inexistente.

ARTIGOS 581 A 592 DO CPP - DO RECURSO EM SENTIDO


ESTRITO

Trata-se de recurso inominado, adequado para que a parte se insurja


contra as decisões interlocutórias mistas e simples e de algumas
terminativas. Referido recurso permite ao próprio prolator da decisão
o reexame da matéria - juízo da retratação - é o chamado efeito
misto (iterativo e reiterativo).

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O RESE é um recurso de instância mista, pois no primeiro
momento apresenta o efeito iterado (o julgamento do recurso
compete ao próprio órgão que prolatou a decisão). Num segundo
momento apresenta o efeito reiterado (o julgamento do mesmo
compete a órgão diverso daquele que prolatou a sentença).

HIPÓTESES DE CABIMENTO

Antes de tudo, é importante ressaltar que os incisos XI, XII, XVII,


XIX, XX, XXI, XXII, XXIII e XXIV (REVOGADO), todos do art. 581 do
CPP, originariamente atacáveis pelo recurso em sentido estrito,
hoje dão ensejo ao Agravo em Execução1, conforme preceitua o
art. 197 da Lei de Execução Penal. Assim, toda decisão que tiver
sido proferida pelo Juiz da Vara de Execuções Criminais, o
recurso a interpor é o agravo e não o recurso em sentido estrito.
Os incisos IV (impronúncia) e VI (absolvição sumária) de acordo
com a Lei 11.689/2008 deixaram de ser impugnáveis pelo recurso
em sentido em estrito, passando a acatar recurso de apelação art.
416 do CPP.

Na hipótese m que o juiz pronuncia e a defesa interpõe o RESE e o


juiz se retrata ocorre a chamada despronúncia – que equivale à
impronúncia – diz-se que à parte inconformada cabe requerer, por
simples petição, a subida dos autos à Instância Superior (isto porque,
antes da reforma do CPP, da impronúncia cabia também o RESE.

Após a reforma, da impronúncia é cabível o recurso de apelação, razão pela qual o assunto vem
causando controvérsias, ou seja, não seria mais possível uma simples petição, mas sim a
interposição do recurso de apelação.

Inciso I – se rejeita a denúncia ou a queixa: a denúncia ou a queixa


é rejeitada quando inepta, por não conter os requisitos do art. 41 do
1
Note-se que, no caso do pedido de reabilitação ser negado o recurso cabível é a apelação, já que referido
pedido não é formulado perante o juízo das execuções, mas sim perante a Vara que tramitou o processo.

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CPP. O recurso é apenas da decisão que repele a denúncia ou a
queixa; da decisão que recebe a denúncia ou a queixa não cabe
recurso em sentido estrito, mas habeas-corpus, conforme o caso
para trancamento da ação penal. Na Lei 9.099/95 – Juizados
Especiais – do não recebimento da denúncia é cabível recurso de
apelação.

Inciso II – que concluir pela incompetência do juízo: é o caso do


reconhecimento de ofício da incompetência pelo próprio juiz, que
determina a remessa dos autos ao juízo competente, nos termos do
art. 109 do CPP. Se o juiz se dá por incompetente, acolhendo a
exceção arguida pela parte, aplica-se o inciso III e não o inciso
em comento. Da decisão do juiz, dando-se por competente, não cabe
qualquer recurso, podendo a parte prejudicada questionar em grau de
recurso ou ainda impetrar ordem de habeas corpus.

Inciso III – que julgam procedentes as exceções, salvo a de


suspeição: o art. 95 do CPP enumera as cinco exceções (suspeição,
incompetência, ilegitimidade de parte, litispendência e coisa julgada).
As exceções devem ser opostas no prazo da defesa inicial (resposta
à acusação). Em seguida será ouvido o Ministério Público, e o juiz
decidirá. As exceções são autuadas em apartado e não suspenderão,
via de regra, o andamento da ação penal. Das decisões que julgam
procedentes as exceções é cabível o RESE, com exceção da
suspeição. Das decisões que julgam improcedentes as exceções não
é cabível nenhum recurso, quando muito, o assunto deve ser
questionado em grau de recurso ou ainda pode-se impetrar ordem de
habeas corpus.

A exceção de suspeição por afetar a imparcialidade do juiz, precederá


a qualquer outra e pode ser arguida em qualquer das hipóteses
previstas no art. 254 do CPP. Deve o juiz dar-se espontaneamente por
suspeito, porém, não aceitando a suspeição, mandará autuar em
apartado a petição, dará sua resposta em três dias, podendo oferecer
rol de testemunhas, e, em seguida, remeterá os autos ao tribunal.

Inciso IV – que pronunciar o réu: no caso do réu ser pronunciado a


defesa pode recorrer. Caso, no juízo da retratação o julgador decida
impronunciar o réu, cabe ao Ministério Público ingressar com o
recurso de apelação e não simples petição para requerer a subida dos

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autos (art. 589, parágrafo único), vez que a impronúncia, com a
alteração ocorrida, não cabe mais o RESE, mas sim apelação
(assunto controvertido).

 Da impronúncia cabe recurso de apelação (art. 416 do CPP) e


não mais o RESE, de acordo com a Lei 11.689/08

Inciso V – que conceder negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea


a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou relaxar
prisão em flagrante: A cassação da fiança pode se dar em qualquer
fase do processo, desde que se verifique não ser cabível à espécie ou
desde que haja alteração na classificação do delito que o torne
inafiançável. Fiança julgada inidônea é a insuficiente, que deve ser
reforçada. Nos casos de infração cuja pena máxima privativa de
liberdade não seja superior a 4 anos, a concessão fica a cargo da
autoridade policial, nos demais casos ficará a cargo do juiz. O
arbitramento do valor da fiança atenderá ao disposto no artigo 325
do CPP. Cabe recurso em sentido estrito da decisão que confirma o
arbitramento da fiança feito pela autoridade.

Não cabe recurso da decisão que decreta a prisão preventiva ou


indefere pedido de liberdade provisória ou relaxamento da prisão.
Note-se que é cabível recurso, apenas quando o juiz não decreta, ou
seja, indefere o requerimento da prisão preventiva

Inciso VII – que julgar quebrada a fiança ou perdido seu valor: a


fiança é quebrada quando o acusado regularmente intimado para ato
do processo, deixar de comparecer, sem motivo justo;
deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do
processo; descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com
a fiança; resistir injustificadamente a ordem judicial; praticar nova
infração penal dolosa. O perdimento do valor total da fiança ocorrerá
se, condenado, o acusado não se apresentar para dar início ao
cumprimento da pena definitiva imposta.

A decisão de quebra e perda da fiança é de competência exclusiva do


juiz. O recurso do despacho de perda tem efeito suspensivo, e o do
de quebra suspenderá unicamente a perda de metade de seu valor.

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Inciso VIII – que decretar a prescrição ou julgar por outro modo
extinta a punibilidade: as causa extintivas da punibilidade são
aquelas que levam o Estado à perda do dever de punir. Estão
relacionadas no art.107 do CP.

Inciso IX – que indeferir o pedido de reconhecimento da


prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade: este inciso
completa o anterior; cabe recurso tanto da decisão que denega como
da que declara extinta a punibilidade. No caso anterior (que julga
extinta a punibilidade). O RESE não tem efeito suspensivo, e aos
autos deverão permanecer na instância inferior, subindo o recurso por
traslado (cópias)

Inciso X – que conceder ou negar ordem de habeas corpus: da


decisão que concede ordem de habeas-corpus é obrigatório o
recurso de ofício (do juiz, art. 574, I, do CPP). O RESE é cabível
da decisão de primeira instância. Em segunda instância é o
Recurso Ordinário Constitucional – ROC.

Inciso XIII – que anular o processo da instrução criminal, no todo


ou em parte: a parte que tem interesse é a que for prejudicada com a
anulação.

Inciso XIV – que incluir jurado na lista geral ou desta excluir:


diversamente do que acontece nos demais casos do RESE, aqui o
prazo para recorrer é de 20 (vinte) dias, contado da publicação
definitiva da lista. Para organizar o tribunal do júri, o juiz constituirá,
anualmente, a lista geral de jurados, que se publicará em 10 de
outubro e poderá ser alterada de ofício ou por reclamação de qualquer
do povo, até a publicação da lista definitiva, que ocorre no dia 10 de
novembro. A lista definitiva pode, então, ser impugnada por via de
recurso em sentido estrito, que deverá ser interposto no prazo de 20
dias dirigido ao Presidente do Tribunal de Justiça.

Inciso XV – que denegar a apelação ou a julgar deserta: o juiz a


quo pode efetuar juízo de prelibação negativo da apelação, pode
deixar de recebê-la (denegá-la), se entender não preenchido algum
pressuposto recursal. Nesse caso cabe o RESE. Caso o recurso em

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sentido estrito também tenha denegado o seu prosseguimento, caberá
carta testemunhável dirigida ao escrivão (art. 640 CPP).

A segunda parte do dispositivo que prevê o cabimento do recurso em


sentido estrito para desafiar a decisão que julga deserta a apelação
em caso de fuga da prisão após interposição do apelo, uma vez que a
Lei 12.403/11 revogou o artigo 595 do Código de Processo Penal, que
determinava a declaração de deserção em tal hipótese.

Inciso XVI – que ordenar a suspensão do processo em virtude de


questão prejudicial: da que nega não cabe o RESE – pode impetrar
habeas-corpus.

Questões prejudiciais são aquelas que devem ser avaliadas pelo juiz
com valoração penal ou extrapenal e devem ser decididas antes do
mérito da ação principal. Elas funcionam como elementar da infração
penal.

Com base na interpretação extensiva a jurisprudência entende ser


também cabível o referido recurso contra decisão que, com
fundamento no artigo 366 do Código de processo Penal, determina a
suspensão do processo.

Inciso XVIII – que decidir o incidente de falsidade: o incidente de


falsidade é uma arguição por escrito e autuada em apartado da
falsidade de documento constante doas autos (art. 145 e incisos do
CPP). O requerimento de instauração do incidente deve ser dirigido
ao juiz, o qual se limitará a determinar a sua autuação em apartado.
Em seguida, a parte contrária se manifestará em 48 horas,
contestando ou não a falsidade do documento.

Inciso XXIV – que converter a multa em detenção: revogado. Não


é mais possível a conversão da pena de multa em privativa de
liberdade, face a redação do art. 51 do CP modificada pela Lei
9.268/96. A multa não paga será considerada dívida de valor, a ela
aplicando-se as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública.

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Inciso XXV – que recusar homologação à proposta de acordo de
não persecução penal previsto no art. 28-A (Lei 13.964/19)

Em apertada síntese, podemos defini-lo como uma combinação dos


interesses das partes integrantes de uma relação processual. O
Ministério Público, atuando concomitantemente como órgão acusador
e fiscal da lei, propõe os termos necessários e suficientes para a
reprovação e a prevenção do crime, resguardando, assim, os
interesses do Estado e da vítima. Por sua vez, o investigado, ao
aceitá-los, é beneficiado com uma reprimenda mais branda do que
aquela que seria estabelecida em uma sentença penal condenatória,
afastando-se, por óbvio, eventual reconhecimento da reincidência
delitiva.

FORMA DE INTERPOSIÇÃO

O recurso em sentido estrito é composto de duas peças:


interposição (prazo de 5 dias) e razões e contrarrazões (prazo de
dois dias), a contar da intimação, salvo no que diz respeito à decisão
que incluir jurado na lista geral ou desta ao excluir, hipótese em que o
recurso (termo) deve ser interposto no prazo de 20 dias (art. 586,
parág. único do CPP). Outra exceção: será de 15 dias, o prazo para o
ofendido não habilitado como assistente recorrer supletivamente da
decisão que declara extinta a punibilidade (art. 584, parág. 1º do CPP),
a contar do término do prazo para o Ministério Público (art. 598, parág.
único do CPP).

A interposição será endereçada ao próprio juiz que prolatou a decisão,


despacho ou sentença, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da
intimação da decisão impugnada, e este irá fazer o juízo de prelibação,
isto é, analisar os pressupostos de admissibilidade deste recurso.
Exemplo: se o recurso é adequado, se é tempestivo etc.

Caso o juiz denegue a interposição (ou seja, o prosseguimento do


recurso e não a improcedência), o recorrente poderá dispor de outro
recurso que é a carta testemunhável.

Quando interposto o recurso e não prejudicar o andamento do


processo, subirá nos próprios autos (art. 583, I, CPP). Por exemplo,
a decisão que rejeitar a denúncia ou queixa pode ser rechaçada

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através desse recurso e, nessa hipótese, não há por que não subir nos
próprios autos; ao reverso, quando o feito tiver de prosseguir, o
recurso subirá por traslado (cópias), devendo as partes indicar as
peças que formarão o instrumento, conforme art. 587 do CPP.

Se o juiz mantiver a sua decisão, o recurso subirá ao Tribunal


competente para reexame da matéria, bem como, se o juiz se
retratar, mas ocorrer a impugnação da nova decisão (retratação) os
autos subirão à Superior Instância.

O termo deve ser endereçado ao juiz prolator da sentença


recorrida. As razões e contrarrazões são dirigidas ao Tribunal
competente

ARTIGOS 593 A 605 – DO RECURSO DE APELAÇÃO

O recurso de apelação pode ser interposto por petição ou termo nos


autos, no prazo de cinco dias, e as razões ou contrarrazões no prazo
de oito dias. No caso de contravenção penal o prazo para apresentar
as razões e contrarrazões é de três dias. Nos Juizados Especiais o
prazo é de dez dias – não há termo

Pode acontecer, também, do apelante desejar apresentar as razões


ao Tribunal. Nessa hipótese, no termo de apelação deverá consignar
essa vontade (art. 600, parág. 4° CPP). Em sendo assim, os autos
serão remetidos ao Tribunal, onde será aberta vista dos autos, pelo
prazo legal, para a apresentação das razões e contrarrazões. A
intimação se dará pela publicação oficial.

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O recurso de apelação pode ser total ou parcial. É total quando a
parte pleiteia a reforma total da sentença, ao passo que o recurso
parcial, propõe a reforma parcial da sentença.

HIPÓTESES DE CABIMENTO - ART. 593 DO CPP

a) Contra sentenças definitivas de condenação ou absolvição


proferidas por juiz singular. Não há maior dificuldade de
compreensão, pois se trata de apelação interposta contra sentença
que julgou procedente ou improcedente a ação penal (total ou
parcialmente).

b) Contra decisões definitivas ou com força de definitivas,


proferidas por juiz singular. Cabe apelação das decisões
definitivas ou com força de definitivas, quando esta não puder ser
reformada com a utilização do recurso em sentido estrito. Decisão
definitiva (ou com força de definitiva) é aquela que resolve
determinada questão, em seu mérito, não podendo mais ser
renovada. São exemplos de sentenças definitivas ou com forças de
definitivas, dentre outras: aquela que indefere a justificação; que
indefere o pedido de explicações; que decide a restituição de coisa
apreendida; que deixa de homologar o laudo na hipótese de crime
contra a propriedade imaterial.

c) Das decisões do Tribunal do Júri, quando:

 Ocorrer nulidade posterior à pronúncia; seja ela absoluta ou


relativa. Deve ser arguida logo após o pregão das partes na
Sessão Plenária

 For a sentença do Juiz-Presidente contrária à lei expressa ou à


decisão dos jurados; Exemplo: quando os jurados reconhecem
uma qualificadora e o juiz-presidente condena o acusado por
homicídio simples

 Houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou


medida de segurança; Exemplo: aplicação da pena aquém do
mínimo legal, etc.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DOS RECURSOS
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 For a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos
autos.

Com relação à apelação com fundamento na letra “d”, do inciso


III do artigo em estudo, a situação é distinta, pois na hipótese, a
apelação tem caráter restritivo, pois as Decisões proferidas pelo
Conselho de Sentença são soberanas, não pode o juízo ad quem
dar provimento à apelação e condenar ou absolver.

Para não ferir a soberania da decisão é possível, apenas, a


anulação do julgamento, submetendo-se o réu a novo julgamento
e, mesmo assim, sem se perder de vista que a decisão deve ser
manifestamente contrária à prova dos autos e a anulação por esse
fundamento só poderá ser utilizado uma única vez (art. 593,
parág. 3°), portanto, não se admite segunda apelação pelo mesmo
fundamento, pelo mérito, nem mesmo quando for oposta pela parte
contrária, que dela ainda não se utilizou.

Assim é que, se num primeiro julgamento o réu for absolvido e


o Ministério Público, sustentando ser a decisão
manifestamente contrária à prova dos autos, recorreu e obteve
sucesso no apelo, não pode, em novo julgamento, que
culminou numa condenação, a defesa se valer do mesmo
fundamento, pleiteando novo julgamento.

PRAZO

O prazo para apelar, - termo: 5 (cinco) dias, a contar da data da


intimação. No caso de intimação por edital, o prazo começa a correr a
partir do escoamento do prazo do edital, que é de 60 (sessenta) dias,
se imposta pena inferior a 1 (um) ano, e de 90 (noventa) dias, se
imposta penal igual ou superior a 1 (um) ano. No caso de intimação
por carta precatória, o prazo é contado da data da intimação e não da
juntada da carta precatória aos autos, conforme Súmula 710 do STF.

O termo é dirigido ao próprio juiz prolator da sentença

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DOS RECURSOS
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Prazo para oferecer as razões ou contrarrazões: prazo de 8 (oito)
dias (prevê o CPP que o prazo para oferecer as razões ou
contrarrazões no caso de contravenção penal o prazo é de 3 dias.

As razões e contrarrazões devem ser dirigidas ao Tribunal


competente

Caso tenha sido denegado o seu prosseguimento (e não o


julgamento do mérito), cabe à parte prejudicada interpor o recurso
em sentido estrito, pleiteando o prosseguimento do recurso de
apelação.

As partes podem usar do artigo 600, parágrafo 4º do CPP

RECURSOS NO PROCEDIMENTO DAS INFRAÇÕES DE MENOR


POTENCIAL OFENSIVO – LEI 9.099/95

Os recursos poderão ser enviados às turmas recursais (compostas por


três juízes togados em exercício no primeiro grau de jurisdição, sendo
vedada a participação no julgamento do magistrado prolator de
decisão em exame. Não se trata de um tribunal de segundo grau, uma
vez que os recursos são julgados pelos próprios juízes de primeira
instância, reunidos em colegiado na própria sede do juizado. No
Ministério Público de primeiro grau, o promotor e não o procurador
atuará como custus legis

APELAÇÃO NA LEI 9.099/95

O recurso deverá ser interposto, no prazo de 10 (dez) dias mediante


petição escrita acompanhada necessariamente das razões, sob pena

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DOS RECURSOS
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de não conhecimento. Se acaso for interposta a apelação sem as
razões, elas deverão ser oferecidas antes do término do prazo de 10
(dez) dias, independentemente de nova intimação. Em seguida, o
recorrido será intimado a oferecer a sua resposta (contrarrazões)
também no prazo de 10 dias. Na hipótese de a sentença ser
confirmada pelos seus próprios fundamentos, não há
necessidade de acórdão, mas de simples ementa remissiva –
denega-se provimento à apelação, confirmando-se a r. sentença,
por seus próprios e jurídicos fundamentos

A apelação terá cabimento nas seguintes hipóteses:

 Rejeição da denúncia ou queixa – art. 82, caput


 Sentença homologatória da transação – art. 76, parágrafo 5º
 Sentença de mérito – art. 82, caput

EMBARGOS DECLARATÓRIOS NA LEI 9.099/95

Recursos destinados a integrar, completar e corrigir a sentença ou o


acórdão, sempre que neles houver obscuridade, contradição, omissão
ou dúvida. Se houver simples erro material, não há necessidade dos
embargos, podendo o próprio juiz corrigir o erro de ofício (art. 83,
parág. 3º).

O recurso poderá ser interposto oralmente ou por escrito, dentro do


prazo de 5 (cinco) dias, a contar da ciência da decisão. Não há
contrarrazões, pois se trata de simples forma de integração da
sentença ou acórdão, sem possibilidade de modificação do mérito.
Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração
suspenderão o prazo para recurso – art. 83, parágrafo 2º, de maneira
que, julgados os embargos, o prazo para eventual apelação continua
a correr pelo tempo que faltava.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO NA LEI 9.099/95

Cabe recurso extraordinário contra decisão das turmas recursais, uma


vez que a CF, em seu art. 102, III, ao tratar desse recurso, limita sua
possibilidade apenas contra decisão de tribunais, mas não contra
qualquer outra decisão.

O recurso especial não é admitido, uma vez que o art. 105, III, só o
permite nas hipóteses de cisão de “tribunais e a turma julgadora não
é tribunal – Súmula 203 do STJ.

HABEAS CORPUS CONTRA DECISÃO DE TURMA RECURSAL

Segundo entendimento do STF é cabível perante o Tribunal de Justiça


competente. Para o STJ a competência é da Turma recursal dos
Juizados.

MANDADO DE SEGURANÇA

Consoante o teor da Súmula 376 do STJ compete à turma recursal


processar e julgar o MS contra ato de juizado especial.

ARTIGOS 607 E 608 DO CPP - DO PROTESTO POR NOVO JÚRI -


REVOGADOS

Referidos artigos foram revogados pela Lei n. 11.689/2008

ARTIGO 609 - DOS EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE


(RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA)

O Tribunal decidirá por maioria de votos (art. 615, caput, CPP).


Quando a decisão não for unânime e, ainda, desfavorável ao réu,
poderão ser opostos embargos infringentes e de nulidade. Trata-se de
recurso próprio exclusivo da defesa, proposto em segunda
instância, devendo ser oposto dentro do prazo de 10 (dez) dias, a
contar da publicação do acórdão, artigo 609, parág. único do CPP.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DOS RECURSOS
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A publicação do acórdão se dá, não na sessão de julgamento, mas
pela imprensa oficial, prescindindo de intimação pessoal do réu ou seu
defensor.

Somente o acusado pode interpor os embargos infringentes e de


nulidade, sendo vedados, portanto, ao Ministério Público, ao
querelante e ao assistente de acusação.

Segundo Fernando da Costa Tourinho Filho, os embargos serão de


nulidade quando a divergência na decisão não unânime desfavorável
ao réu “versar sobre matéria estritamente processual, capaz de tornar
inválido o processo...” Exemplo: se o Tribunal rechaçar a preliminar
de nulidade (arguida no recurso de apelação ou do recurso em sentido
estrito) por incompetência do juízo, e o voto vencido vier a acolhê-la,
a defesa poderá propor embargos de nulidade. Continua o mestre
esclarecendo que serão embargos infringentes quando a divergência
desfavorável ao réu referir-se ao mérito do recurso”. Exemplo: se o
voto vencido versa sobre roubo na forma tentada (e não consumada,
conforme votos dos demais), o pedido deve ser formulado ao Relator
(pois a matéria é devolvida para reexame ao mesmo órgão julgador,
que então poderá retratar-se) do acórdão, para que o delito seja
considerado na forma tentada, que é o voto vencido. No exemplo
dado, não se deve requerer a absolvição ou qualquer outra coisa
que o valha, pois o voto vencido não fala sobre absolvição. Assim,
o pedido da defesa deve ser fundamentado nos exatos termos do voto
vencido, favorável ao réu.

A jurisprudência dominante entende serem oponíveis os


embargos infringentes e de nulidade apenas quanto ao
julgamento de apelação e recurso em sentido estrito.

É de se ver também que a Lei de Execução penal criou um novo


recurso contra as decisões proferidas na fase executória; o agravo
(art. 197 da LEP), que revogou os já citados incisos do art. 581 do
CPP. E se a decisão proferida em agravo pelos tribunais não for
unânime, quer nos parecer que deverão ser admitidos os embargos
infringentes, pois esse recurso veio substituir justamente o recurso em
sentido estrito, que comporta os referidos embargos e que tende a

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desaparecer no futuro processo penal, o que implicaria a supressão
de mais de uma via recursal ao condenado.

EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE NA JUSTIÇA


MILITAR – ART. 538 DO CPPM Se a decisão no Superior Tribunal
Militar não for unânime, pouco importando se favorável ou
desfavorável ao réu, poderão ser opostos embargos infringentes
e/ou de nulidade. Na primeira hipótese, parte legítima para
interpô-los é o Ministério Público; se desfavorável, o réu é
legítimo para propor. Na Justiça Militar, os embargos
infringentes deixam de ser recurso exclusivo da defesa.

ARTIGOS 619 E 620 - DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Constituem um recurso contra acórdão dirigido ao próprio órgão


prolator da decisão, que não visam à reforma do julgado, mas ao
esclarecimento de ambiguidade, obscuridade, contradição ou
omissão.

Deve ser interposto no prazo de dois dias, contado da publicação da


decisão (acórdão), art. 619, do CPP. A sua interposição suspende o
prazo para interposição de outro recurso. No caso da Lei 9.099/95, o
prazo é interrompido (e não suspenso), ou seja, o prazo para a
propositura de outro recurso é contado novamente em sua
integralidade.

Nos embargos de declaração não se abre vista para a parte contrária


- inaudita altera pars - visto que não há modificação da decisão,
apenas explicações.

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Em algumas situações especiais, porém, têm-se admitido a possibilidade de
modificação. É a hipótese, por exemplo, de omissão que, uma vez suprida,
pode, eventualmente, alterar a conclusão do acórdão. Assim, se reconhecida
a prescrição na declaração, fica prejudicada a decisão que condenava o
acusado.

Não preenchidos os requisitos para a interposição dos embargos de


declaração, o relator indeferirá de plano o requerimento. Contra o
indeferimento liminar pode caber agravo regimental, se houver
previsão no regimento interno do tribunal.

Contra sentença de juiz de 1a. Instância cabe pedido de declaração


para o mesmo fim e no mesmo prazo (art. 382, CPP) -
"embarguinho".

Os embargos de declaração podem ser opostos contra os acórdãos


(art. 619) ou sentença (art. 382) que contenham obscuridade,
omissão, contradição ou ambiguidade.

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL - ROC

TEMOS TRÊS MODALIDADES DE RECURSO ORDINÁRIO


CONSTITUCIONAL

a) Para o Supremo Tribunal Federal, na hipótese do art. 102, II, "a", da


CF.
b) Para o Supremo Tribunal Federal, na hipótese do art. 102, II, "b", da
CF.
c) Para o Superior Tribunal de Justiça, na hipótese do art. 105, II, "a"
e "b" da CF.

O recurso ordinário constitucional é interposto através de petição


dirigida ao Presidente do Tribunal que denegou a ordem de habeas-
corpus em segunda instância, dentro do prazo de cinco dias,
contado da data da intimação. Com a petição, apresentam-se as
razões do pedido de reforma. Recebido o recurso, o Presidente do
Tribunal determina sua juntada aos autos respectivos e sua imediata
remessa ao Superior Tribunal de Justiça - STJ. Neste momento o

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representante do Ministério Público não se manifesta. Há, porém,
manifestação do representante do Ministério Público, no Superior
Tribunal de Justiça.

Se a presidência do Tribunal que denegou a ordem de habeas-corpus,


não acatar a remessa do recurso ordinário constitucional para o
Superior Tribunal de Justiça, o recurso a ser proposto é o agravo de
instrumento, no prazo de cinco dias. Na hipótese de o tribunal também
não receber o agravo, caberá "reclamação", seja para o Superior
Tribunal de Justiça, seja para o Supremo Tribunal Federal, conforme
a competência.

Denegada a ordem de habeas corpus em primeira instância o


recurso cabível é o RESE. Denegada a ordem de habeas corpus
em segunda instância, o recurso cabível é o ROC.

ARTIGOS 639 A 646 - DA CARTA TESTEMUNHÁVEL

Carta testemunhável é uma das espécies de recurso no processo


penal, que tem por objetivo levar ao conhecimento da segunda
instância recurso cujo seguimento foi denegado no juízo a quo. Dar-
se-á carta testemunhável da decisão que denegar recurso (que não
dá prosseguimento, que não deve ser confundido com julgamento de
improcedência ou procedência) ou daquela que o recebendo negar
seguimento, a teor do art. 639 do CPP.

Quando a decisão denegar o recurso de apelação, caberá recurso em


sentido estrito (art. 581, inciso XV do CPP), e não carta
testemunhável. Por exemplo: se o recurso denegado for o de
apelação, cabível é o RESE e se neste também for negado o
prosseguimento, admissível será a carta testemunhável.

INTERPOSIÇÃO E PROCESSAMENTO

Esse recurso será requerido ao escrivão, dentro do prazo de 48


(quarenta e oito) horas da intimação do despacho que denegar o

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recurso. Na oportunidade, deverá o recorrente indicar as peças que
deseja sejam trasladadas (art. 640 do CPP). Admite o juízo da
retratação.

O escrivão dará recibo à parte e, no prazo máximo de 5 (cinco) dias,


concertados e conferido os autos, fará entrega da carta ao
testemunhante, para que, no prazo de 2 (dois) dias (art. 588, CPP),
apresente as razões, abrindo-se vista, em seguida, à parte contrária
para o contra-arrazoado.

Em seguida, os autos irão conclusos ao juiz que, também no prazo de


2 (dois) dias, poderá reformar o despacho que denegou o recurso ou
mantê-lo, mandando instruir o recurso com as peças faltantes que
entenda necessárias (art. 589, CPP). Se o juiz reformar o despacho
denegatório, à parte contrária restará conformar-se com a decisão, eis
que nenhum recurso cabe contra a decisão de recebimento de
recursos.

Interessante acentuar que o testemunhante deverá requerer o traslado


de peças suficientes, não só para a instrução da carta, mas também
da matéria abordada no próprio recurso denegado, tendo em vista que
o tribunal, a câmara ou a turma a quem competir o julgamento poderá,
não só determinar o processamento do recurso denegado, como
também, analisando-lhe o mérito, dar-lhe provimento, a teor do art.
644 do CPP.

ARTIGO 197 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL N° 7.210/84 - LEP - DO


AGRAVO EM EXECUÇÃO

O agravo em execução é recurso cabível de todas as decisões dos


juízes das varas de execução criminal.

É cabível nas situações descritas no art. 581 do CPP, nos seguintes


incisos: XI, XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, XVIII, XXIV.

PROCEDIMENTO

O prazo para sua interposição é de cinco dias, conforme Súmula 700


do STF: “é de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DOS RECURSOS
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decisão do juiz da execução penal”, e deve ser indicada as peças para
traslado (cópia). Deve ser dirigida ao juízo das execuções, até porque
se admite a retratação. Às partes dão-se o nome de agravante e
agravado.

Admite-se que o réu faça diretamente, por termo, desde que, em


seguida, o juiz determine a abertura de vista ao advogado, para a
apresentação de razões, garantindo-se a ampla defesa.

O efeito do recurso é meramente devolutivo. Inexiste o efeito


suspensivo, salvo em um caso: quando o juiz expedir ordem para
desinternar ou liberar o indivíduo sujeito a medida de segurança (art.
197 da LEP). No mais, em casos de soltura equivocada, pode o
Ministério Público valer-se do mandado de segurança.

ARTIGOS 621 A 631 - DA REVISÃO – AÇÃO EXCLUSIVA DA


DEFESA

A atividade jurisdicional está sujeita a erros na apreciação da causa.


Para tanto, em um primeiro momento, prevê a lei inúmeros recursos
para os órgãos jurisdicionais superiores. Todavia, se as partes não
interpuseram recurso para o reexame das questões ou, se interpostos
os recursos, esgotarem-se até última instância, a decisão judicial,
justa ou não, torna-se imutável, transformando-se em coisa julgada.

NATUREZA JURÍDICA

Não só pela sua inserção no título alusivo aos dos recursos no


processo penal, como também pelas demais características a seguir
mencionadas, já se discutiu se a natureza jurídica da revisão era de
recurso ou ação penal de caráter desconstitutivo.

LEGITIMIDADE ATIVA

Dispõe o art. 623 do CPP, a revisão poderá ser pedida pelo próprio
réu ou por seu procurador legalmente habilitado ou, no caso da morte
do condenado, por seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

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O autor não precisa constituir um advogado para formular o pedido de
revisão. Se assim desejar e for pobre, o Juiz de Direito nomeará um
advogado para o réu, nos termos do art. 32 do CPP. O réu menor de
21 anos não necessita de curador para ajuizamento do pedido. Pode
o réu também optar pela constituição de um procurador legalmente
habilitado, que pode ser um advogado municiado com a procuração
ad judicia, prescindindo-se de poderes especiais, ou mesmo aquele
sem capacidade postulatória, mas com procuração com poderes
especiais.

Não há previsão legal de que o membro do Ministério Público


proponha tal pedido, contudo, como fiscal da correta aplicação da lei,
tem o promotor legitimidade para tanto, à semelhança do que já se
admite em relação à possibilidade de recurso em favor do réu ou
mesmo de formular pedido de habeas corpus.

O condenado não precisa recolher-se à prisão para formular o pedido


revisional, ainda que haja sido expedido mandado de prisão em
decorrência da sentença condenatória (Súmula 393 do STF).

MOMENTO DO PEDIDO

Conforme o art. 622 do CPP, a revisão pode ser requerida a qualquer


momento, após o trânsito em julgado da sentença condenatória,
pouco importando tenha o réu cumprido ou não a pena, já que
expressamente pode ser pleiteada antes ou após a extinção da pena,
podendo estar o condenado, inclusive, morto, hipótese em que seus
sucessores poderão pleitear a reapreciação da causa.

Assim é porque a revisão não pretende somente a desconstituição de


uma sentença, mas também corrigir um erro judiciário, restituir ao
condenado e aos familiares a respeitabilidade social e a recomposição
do prejuízo daí decorrente por meio de uma indenização.

Com base nesse fundamento, é cabível a revisão criminal mesmo


após a concessão da graça ou do indulto, porque, em ambos os casos,
a dignidade do réu foi ofendida anteriormente à concessão do
benefício e tais causas extintivas da punibilidade têm aplicabilidade já
durante a fase de execução da pena.

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CABIMENTO DA REVISÃO

1) Sentença condenatória e absolutória imprópria: a medida de


segurança somente é aplicável àquele que tenha praticado uma
infração penal e as provas assim o demonstrarem. É possível,
porém, que a sentença reconhecendo a autoria tenha se
encaminhado em uma das hipóteses de admissibilidade da revisão,
quando, então, ela poderá ser desconstituída, levando até a
absolvição.

Hélio Tornaghi discorda da possibilidade de ser revista a sentença


que aplica medida de segurança, que não constitui pena e não faz
parte da condenação. Assim é porque o art. 626, parág, único do
CPP não prevê a extinção ou modificação da medida de segurança
imposta, mas apenas como resultado da revisão a alteração da
tipificação penal, a absolvição do réu, a modificação da pena ou a
anulação do processo.

No caso de sentença absolutória própria, não é cabível a revisão,


mesmo para modificar o seu fundamento. Igualmente, não se
permite pedido revisional de sentença de pronúncia, já que se exige
uma condenação transitada em julgado. Também não cabe a
revisão criminal para reformar acórdão que tenha condenado o réu,
mas reconhecido a chamada “prescrição retroativa” já que atinge a
própria pretensão punitiva e, consequentemente, todos os efeitos
da condenação, principais e secundários.

2. Revisão e decisão do júri: admite-se a revisão da decisão


condenatória prolatada pelo Tribunal do Júri, uma vez que a
soberania do veredicto somente existe como garantia individual e
constitucional do indivíduo (art. 5°, inciso XXXVIII, CF), em seu
benefício, para resguardar sua liberdade. Assim, seria injusto
manter essa intangibilidade se a decisão dos jurados fosse
manifestamente incorreta, ofendendo o direito individual do
condenado e, assim, a própria garantia de sua liberdade.

3. Revisão pro societate: a nossa lei penal somente admite a revisão


pro reo (em favor do réu). Assim é porque a coisa julgada vem para
garantir a ordem pública, a segurança do indivíduo contra o Estado,

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DOS RECURSOS
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que seria abalada se a qualquer momento pudesse a acusação
reiniciar um processo contra o suspeito da infração penal. Assim,
mesmo que se descubram novas evidências da culpa do
acusado, após o trânsito em julgado da sentença absolutória,
a acusação não pode utilizar a revisão criminal.

HIPÓTESES DE ADMISSIBILIDADE

1) Sentença contrária à lei ou evidência dos autos - art. 621, inciso


I, CPP: por exemplo, a decisão que condena o réu por fato atípico
ou a aplicação de uma pena acima do limite permitido por lei.
Todavia, a sentença não será contrária ao texto de lei se decorrer
de interpretação do mesmo, desde que respeitadas as regras e
princípios da hermenêutica. Assim, não caberá a revisão se a
decisão tem respaldo numa corrente doutrinária ou jurisprudencial
minoritária.

A revisão criminal não é o meio adequado para aplicar uma lei penal
posterior que de qualquer forma favoreça o condenado, competindo
ao Juízo das Execuções Penais sua incidência no caso do trânsito
em julgado.

A decisão contrária à evidência dos autos é aquela que, desde logo,


antagoniza-se com as provas colhidas na instrução criminal. A
condenação, nesse caso, não pode estar amparada em nenhuma
prova, ou seja, se existirem elementos de convicção pró e contra e
a sentença se basear em um deles, já não será contra a evidência
dos autos.

2) Falsidade de documentos, exames e depoimentos - art. 621,


inciso II, CPP:

A prova falsa deve ser fundamental para a condenação para se


justificar o remédio jurídico. É essencial que ela tenha influído na
formação da convicção do julgador e que este, ao pronunciar sua
decisão, tenha se lastreado exclusivamente no depoimento, no
exame pericial ou no documento comprovadamente falso.

30
DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DOS RECURSOS
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A evidência da falsidade do depoimento, do exame pericial ou do
documento deve vir acompanhando o pedido inicial, sendo
descabida a pretensão de se produzir prova da falsidade no curso
do processo revisional. Nada impede, contudo, que o Tribunal
determine a realização de diligências imprescindíveis ao bom
julgamento da causa, notadamente porque o que se busca é a
verdade real.

3) Surgimento de novas provas de inocência - art. 621, inciso III,


CPP: a revisão não se presta para mera reapreciação das provas já
examinadas pelo Juiz de Direito ou pelo Tribunal, em grau de
recurso, exigindo-se que novos elementos para a formação da
convicção sejam adicionados àqueles já produzidos durante a
instrução. Essas provas novas podem até preexistir à condenação
do réu, mas somente podem ser consideradas desde que não
apreciadas em nenhum momento anterior do processo.

As circunstâncias que podem favorecer o réu são as atenuantes ou


formas privilegiadas do crime, previstas no Código Penal, na Parte
Geral ou Especial ou na legislação extravagante. Também se
considera a prova nova para se desclassificar a infração penal da
sua forma consumada para a tentada.

Se esses novos elementos de convicção não se tratarem por


documentos ou exames periciais, mas sim por depoimentos ou
declarações, devem ser estes produzidos em justificação prévia
perante o Juízo de primeiro grau.

REITERAÇÃO DO PEDIDO - ART. 622, PARÁG. ÚNICO DO CPP

A reiteração do pedido de revisão é possível, desde que o condenado


o faça por outro fundamento. Se o primeiro pedido revisional baseou-
se na sentença contrária à evidência dos autos, o segundo pode ser
com base em novas provas da inocência do réu.

COMPETÊNCIA

O STF e o STJ julgarão as revisões criminais de seus próprios


julgados, conforme, respectivamente, os arts. 102, inciso I, letra j, e

31
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105, inciso I, letra e, da CF. Nos demais casos, as revisões serão
julgadas pelos Tribunais com competência penal - Tribunais Regionais
Federais, Tribunais de Justiça.

PROCESSAMENTO - ART. 625 A 631 DO CPP

O requerimento será distribuído a um relator e a um revisor que não


tenham participado do julgamento do processo, em qualquer de suas
fases. O pedido será instruído com a certidão de trânsito em julgado
da sentença condenatória e com as demais peças necessárias à
comprovação do arguido. Admite-se o apensamento dos autos
originais do processo, desde que não haja prejuízo para a execução
da decisão combatida.

O relator pode indeferir liminarmente o requerimento desde que


insuficientemente instruído, caso em que recorre de ofício para as
câmaras reunidas ou para o plenário conforme o caso (art. 625, parág.
3° CPP).

Se o pedido inicial não for indeferido, será aberta vista ao Procurador


de Justiça para oferecer seu parecer em 10 (dez) dias e, após, por
igual prazo, ao relator e revisor para exame dos autos e posterior
julgamento.

CONSEQUÊNCIAS DA PROCEDÊNCIA DA REVISÃO

1. Das decisões proferidas em revisão: julgada procedente a


revisão, o Tribunal poderá absolver o réu, alterar a classificação do
delito, modificar a pena (reconhecendo, por exemplo, uma
atenuante ou forma privilegiada), anular o processo em face de
nulidade absoluta ou relativa (neste último caso, demonstrado o
prejuízo). A absolvição restabelece qualquer direito perdido do réu
em virtude da condenação (art. 627, CPP).

2. Reformatio in pejus indireta: se, anulado o processo, sobrevier


uma nova condenação do réu, sua pena não poderá ser mais
gravosa que a anteriormente cassada pela revisão. Anote-se que
mesmo na hipótese de anulação com nova definição jurídica ao fato,

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atribuindo um crime mais grave ao condenado, não será possível
situação prejudicial ao réu, com respaldo no art. 626, parág. único
do CPP, que diz: “de qualquer maneira, não poderá ser agravada a
pena imposta pela decisão revista...”.

3. Revisão e sua extensão ao corréu: caso seja julgada procedente


a revisão em relação a um dos corréus, tal decisão estender-se-á
aos demais, ainda que estes não tenham ingressado com o pedido,
se a reforma da sentença não se baseou em caráter exclusivamente
pessoal, assim, se for reconhecida a tentativa de infração penal ou
uma causa excludente da ilicitude, o correu irá beneficiar-se dessa
decisão. Agora, se a revisão reconhecer a menoridade do
condenado ou uma participação sua de menor importância na
prática criminosa, por exemplo, eventual minoração de sua
situação não se estenderá aos demais coautores.

4. Indenização: se o interessado requerer, o Tribunal poderá


reconhecer o direito a uma justa indenização pelos prejuízos
sofridos. Entretanto, essa indenização não será devida se o erro ou
injustiça decorrer de ato ou falha imputável ao próprio réu, como a
confissão ou a ocultação de prova em seu poder (art. 630, parág.
2°, CPP). Cumpre ressaltar que se a confissão foi produzida
mediante coação, não se estenderá a proibição do dispositivo.

Dispõe o art. 630, parág. 2°, letra b, do CPP que a indenização não
será devida quando a condenação decorrer de ação de iniciativa
privada (por meio de queixa-crime). Contudo, a Constituição
Federal em seu art. 5°, inciso LXXV determinou ao Estado a
indenização por erro judiciário, sem fazer qualquer restrição no
tocante à espécie da ação.

Não existindo requerimento o tribunal deixa de declarar o direito à


justa indenização, mas não há impedimento para o ingresso, no
juízo especial da Fazenda Pública, quando houver, ou outro juízo
cível, de ação contra o Estado para a reparação do dano.

ARTIGOS 647 A 667 - DO HABEAS CORPUS

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NATUREZA JURÍDICA

Como instrumento tutelar da liberdade individual de locomoção (direito


de ir, vir e permanecer) - e por isso mesmo de caráter restritivo - o
habeas corpus é remédio jurídico constitucional destinado a prevenir
e reprimir ameaça, violência ou coação àquela forma de liberdade
pública, por ilegalidade ou abuso de poder.

O instituto emana diretamente da Constituição Federal que, no seu


art. 5°, inciso LXVIII, dispõe expressamente: “conceder-se-á habeas
corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade
ou abuso de poder...”

Por outro lado, muito já se discutiu sobre a natureza jurídica do habeas


corpus. Trata-se de recurso ou uma verdadeira ação? Hoje, parece
não haver mais dúvida tratar-se realmente de ação mandamental.
Embora o remédio jurídico esteja encartado no capítulo dos recursos,
certas características o afastam do conceito de recurso. O recurso
pressupõe uma decisão judicial recorrível, já o habeas corpus pode
ser impetrado mesmo após o trânsito em julgado da sentença, se
houver qualquer constrangimento ilegal no processo-crime que a
precedeu; recurso exige a decisão judicial, enquanto que para o
habeas-corpus, muitas vezes, bastará a simples ameaça de violência
ou coação na liberdade de locomoção, não consubstanciada
necessariamente em qualquer ato de jurisdição.

ESPÉCIES

Do texto constitucional depreende-se que o habeas corpus


poderá ser liberatório ou preventivo.

 Liberatório ou repressivo: quando a coação ilegal, ou abuso de


poder, já se consumou. A impetração, nesse caso, visa corrigir uma
ilegalidade já cristalizada.

 Preventivo: quando há ameaça de violência ou coação à liberdade


de locomoção por abuso de poder ou ilegalidade. Nesse caso, a

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ameaça deve ser séria e efetiva. O mero temor ou suspeita vaga
não autorizam a concessão do “salvo conduto” (direito de se
locomover sem constrangimento). Deve existir, para a concessão
da ordem, um mínimo de viabilidade fática.

O salvo conduto tem por finalidade evitar ameaça de violência ou


coação ilegal à liberdade de ir e vir (art. 600, parág. 4°, do CPP),
mas ameaça entendida como real, efetiva, nunca assentada em
meras presunções. Desse modo a decisão que a conceder deve ser
objetiva quanto a indicar a autoridade tida como coatora e no
mencionar a ameaça de coação ilegal a ela imputada, não bastando
fazer referência aos direitos e garantias fundamentais a todos os
cidadãos estabelecidos pela Constituição Federal em seu art. 5°,
XI e LXI.

DENOMINAÇÃO/ESTRUTURA

Paciente: pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer um


constrangimento ilegal. A pessoa a favor de quem se impetra a ação
de habeas corpus

Impetrante: para designar a pessoa que impetra (propõe) a ação de


habeas corpus. O próprio paciente quando a ordem é por ele
impetrada, ou a terceira pessoa que impetra a ordem em favor do
paciente.

Coator: para designar a pessoa que exerce ou ameaça de exercer a


coação, a violência, em suma, o constrangimento ilegal.

HABEAS CORPUS CONTRA ATO DE PARTICULAR: o habeas


corpus, em princípio, deve ser utilizado contra ato daqueles que
exerçam função pública, máxime porque contra ato de particular, em
regra, cabe ação da autoridade policial ou administrativa, por
exemplo, a apuração dos crimes de constrangimento ilegal, ameaça
ou cárcere privado, decorrentes de cerceamento ou ameaça à
liberdade de locomoção, praticados por particular, autorizando,
conforme o caso, até mesmo a prisão em flagrante, o que, por si só,
já seria suficiente para pôr termo à coação ilegal.

“NÃO” CABIMENTO DO HABEAS CORPUS

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1. Estado de sítio: não é possível a impetração do remédio heroico


para sanar coação determinada durante estado de sítio. O art. 139
da CF elenca situações que, inequivocadamente, representam
restrição ao direito de locomoção e nem por isso passíveis de
proteção de habeas-corpus no período ora tratado, dentre elas: a)
obrigação de permanência em localidade determinada; b) detenção
em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes
comuns; c) restrições relativas à inviolabilidade de correspondência,
ao sigilo das comunicações, à prestação de informações à liberdade
de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; d) suspensão
da liberdade de reunião e) busca e apreensão em domicílio.

CABIMENTO DO HABEAS CORPUS - SEM PREVISÃO LEGAL

1. Prisão civil: a CF, art. 5°, inciso LXVII admite a prisão civil por
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentar.
Nessas hipóteses, a decretação da medida coercitiva, tal como
ocorre na esfera criminal, pode estar eivada de ilegalidade e,
portanto, a utilização do habeas corpus ressurge adequada para a
cessação de eventual constrangimento.

CABIMENTO DO HABEAS CORPUS - COM PREVISÃO LEGAL

O art. 647 do CPP dispõe que “sempre que alguém sofrer ou se achar
na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de
ir e vir” caberá habeas corpus.

A violência é um constrangimento físico a que é submetido o indivíduo,


por exemplo, prisão; e a coação é o constrangimento físico ou moral
para abrigar alguém fazer ou não fazer alguma coisa.

Referido artigo arrola algumas situações onde o constrangimento é


considerado ilegal. Vicente Greco Filho observa que não se trata de
enumeração taxativa, até porque a falta de justa causa é
suficientemente ampla para abranger outros casos não previstos.

1) QUANDO NÃO HOUVER JUSTA CAUSA - ART. 648, INCISO I:


quando a coação não tem base legal, falta justa causa. A CF

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assegura ao indivíduo o relaxamento da prisão pela autoridade
judiciária, sempre que esta for ilegal (art. 5°, inciso LXV).
Entretanto, para o trancamento da ação penal ou do inquérito
policial, por falta de justa causa, ela deve resultar nítida, patente,
incontroversa nos autos, não autorizando análise mais profunda e
acurada da prova.

EXCESSO DE PRAZO NO INQUÉRITO: o habeas corpus é meio


idôneo para apreciar várias hipóteses caracterizadoras de coação
ilegal, sem que necessariamente sua concessão leve ao
trancamento do inquérito policial.

2) PRESO POR MAIS TEMPO DO QUE A LEI DETERMINA - ART.


648, INCISO II: a prisão do autor da infração pode ser provisória ou
definitiva. Condenado, a constrição de sua liberdade, não pode
exceder o prazo fixado na sentença. Se provisória, decorrente de
preventiva, por pronúncia ou temporária, a manutenção da custódia
não poderá, como regra, exceder a soma dos prazos dos atos
procedimentais necessários à formação da culpa.

3) INCOMPETÊNCIA PARA DETERMINAR A MEDIDA - ART. 648,


INCISO III: consagra-se, aqui, o princípio do Juiz Natural. A
competência é a medida da jurisdição. Todo juiz tem jurisdição, isto
é, pode dizer o direito no caso concreto. Todavia, nem todo juiz tem
competência para processar e julgar determinado caso. Em
princípio, descumpridas as regras para a determinação e
prorrogação da competência, caberá o exercício da defesa contra
o processo, por meio da exceção de incompetência. Essa exceção
é sempre oposta contra o órgão jurisdicional que, sem ter
competência, tomou conhecimento do feito. Nada obsta,
entretanto, que o interessado utilize-se do pedido de ordem de
habeas corpus.

4) CESSAÇÃO DO MOTIVO QUE AUTORIZOU A COAÇÃO - ART.


648, INCISO IV: encontra-se respaldada, também, na falta de justa
causa. Cessada a causa determinante da coação, a liberdade de ir

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e vir deve ser assegurada ao indivíduo, sob pena de
constrangimento ilegal.

5) NÃO CONCESSÃO DE FIANÇA ADMITIDA POR LEI - ART. 648,


INCISO V: a CF, art. 5°, inciso LXVI, assegura ao preso o direito
de obter liberdade provisória, com ou sem fiança, quando a lei
admitir. É que a liberdade, antes da sentença condenatória com
trânsito em julgado, é a regra, em face do princípio de estado de
inocência. A denegação injustificada ou não fundamentada de
liberdade provisória caracteriza coação ilegal, sanável com a
utilização do “remédio constitucional”. A ilegalidade e o abuso de
poder devem vir demonstrados de forma clara, de modo a não
requestar o cotejo dos elementos probatórios coligidos num ou
noutro sentido.

6) QUANDO O PROCESSO FOR MANIFESTAMENTE NULO - ART.


648, INCISO VI: a nulidade deve ser manifesta, evidente, provada
de plano, de forma estreme de dúvidas.

INÉPCIA DA DENÚNCIA: a errônea classificação do crime da


denúncia não acarretará sua rejeição se os fatos estiverem bem
descritos. Como é sabido, o réu se defende dos fatos articulados na
denúncia e não da classificação do crime, até porque o juiz pode
dar ao fato definição jurídica diversa (art. 383, CPP). Anote-se,
outrossim, que as circunstâncias do fato delituoso representa, por si
só, lesão ao contraditório. O acusado não pode exercer na sua
amplitude seu direito de defesa e a própria acusação não é clara e
bem definida. A ação penal iniciada nesses moldes é nula de pleno
direito e o defeito insanável e improrrogável da peça acusatória
pode ser reconhecido, a qualquer tempo, por meio do pedido de
ordem de habeas corpus, acarretando a nulidade de todos os atos
subsequentes que com ele guardem relação (art. 573, parágs. 1° e
2° do CPP). Assim é, que um processo iniciado nesses termos não
tem qualquer aptidão para atingir validamente os fins a que se
destina, isto é, a satisfação da pretensão punitiva Estatal.

AUSÊNCIA DE DEFESA: analisando-se o processo no seu aspecto


teleológico pode-se afirmar que é um conjunto de atos tendentes a
concretizar o direito de ação. Tais atos são concatenados por meio

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de procedimentos e nas formas previstas em lei. O procedimento é
uma garantia do exercício do direito de defesa, daí por que a
Constituição estabeleceu que: ninguém será privado de sua
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (art. 5°,
inciso LIV, CF).

7) QUANDO ESTIVER EXTINTA A PUNIBILIDADE - ART. 648,


INCISO VII: extinta a punibilidade do indivíduo, desaparece o
direito do Estado de iniciar ou continuar a persecução penal ou,
ainda de executar eventual pena aplicada, pois já não tem mais
aqui a pretensão punitiva ou executória. Assim, deve ser
reconhecida, sob pena de coação ilegal.

COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO

O mandamus deve ser apresentado a uma autoridade superior àquela


coatora, conforme se depreende do art. 650, parág. 1°, do CPP.
Sempre que a autoridade de quem emanou a ordem for de jurisdição
igual ou superior jurisdição em relação àquela para quem o pedido for
apresentado, cessará a competência desta.

1. Supremo Tribunal Federal - art. 102, letras d e i: tem competência


para julgar originariamente o habeas corpus, quando o coator for
Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade
ou funcionários cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição
do STF, ou se trata de crime sujeito à mesma jurisdição em uma
única instância. Em grau de recurso ordinário (inciso II, letra a), os
habeas corpus decididos em última instância nos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão.

2. Superior Tribunal de Justiça - art. 105, letras a e c: processará e


julgará, originariamente o habeas corpus quando o coator ou o
paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea “a” do
art. 105, inciso I, da CF (Governador do Estado ou do Distrito
Federal, Desembargador de Tribunal de Justiça, membro do
Tribunal de Contas do Estado ou do Distrito Federal, membro dos
Tribunais Regionais Federais ou Eleitorais ou do Trabalho, membro
de Conselho ou Tribunal de Conta de Município ou do Ministério

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Público da União), que oficie perante tribunal. Também se o coator
for tribunal, sujeito a sua jurisdição, ou Ministro de Estado. Em
recurso ordinário, o STJ julgará o habeas corpus denegatório
oriundo dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios.

3. Tribunais Regionais Federais - arts. 108, inciso I, letra d, e 109,


inciso VII, CF: julgarão o habeas corpus quando a autoridade
coatora for o Juiz Federal e este apreciará o mandamus, em matéria
criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier
de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra
jurisdição.

4. Tribunais de Justiça do Estado: sua competência é fixada pelas


Constituições Estaduais e, essencialmente, julgarão os atos dos
juízes criminais de primeiro grau de jurisdição e estes nos demais
casos, como por exemplo, quando a autoridade coatora for o
Delegado de Polícia. No entanto, se a autoridade policial instaurar
o inquérito policial por requisição judicial, a autoridade coatora será
o Juiz de Direito.

REQUISITOS DA PETIÇÃO E PROCEDIMENTO – ARTIGO 654 DO


CPP

Despachada a petição inicial, se contiver todos os requisitos exigidos,


o juiz ou o relator requisitará, se julgar necessário, as informações da
autoridade coatora, decidindo em 24 horas, podendo, ainda,
determinar que o paciente lhe seja apresentado.

Embora sem previsão legal expressa, tem sido amplamente admitido


pela doutrina e jurisprudência a concessão de liminar no pedido de
ordem de habeas corpus até o julgamento definitivo, a exemplo do que
ocorre com o mandado de segurança.

Finalmente, em primeira instância não há previsão legal para


manifestação do órgão do Ministério Público. Nos Tribunais, ao
reverso, o Decreto-lei n° 552/69 determinou a abertura de vista ao
órgão do Ministério Público de segunda instância, para emissão de
parecer, antes da prolação da decisão.

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DOS RECURSOS EM FACE DA DECISÃO EM HABEAS CORPUS

A decisão concessiva de habeas corpus em primeira instância


comporta o chamado recurso de ofício ou necessário, termos do art.
574, inciso I, do CPP. Contra a decisão denegatória ou concessiva do
habeas corpus em primeira instância caberá, ainda, o recurso em
sentido estrito, nos termos do art. 581, inciso X, do CPP. Na hipótese
de denegação admite-se a impetração de novo pedido, com o mesmo
objeto, em segunda instância, já que o juiz, ao indeferir o pedido,
passou a ser autoridade coatora.

A decisão denegatória de habeas corpus em segunda instância, no


entanto, admite, conforme o caso, o recurso ordinário e o recurso
especial (art. 105, incisos II, alínea a, e III, da CF, e arts, 244 e 255 do
RI do STJ), ou ainda, se pertinente, o recurso Ordinário-Constitucional
(art. 102, inciso II, alínea a, da CF). Não se conhecerá, portanto, a
princípio, do pedido de ordem de habeas corpus decorrente de
decisão proferida em segunda instância, denegatória da ordem, se for
substitutivo de recurso não utilizado pela parte.

SENTENÇA CONDENATÓRIA E HABEAS CORPUS

O habeas corpus também se presta à anulação ou corrigendas na


forma de fixação da pena, quando se verificar, de plano, uma
ilegalidade, seja por erro, seja pela ausência ou deficiência de
fundamentação.

REITERAÇÃO DO PEDIDO

A sentença denegatória do habeas corpus não faz coisa julgada. É


permitida, portanto, a reiteração do pedido, desde que, por novos
motivos, outros documentos. Se a reiteração for mera repetição de
motivos e argumentos já anteriormente aduzidos, a medida se
mostrará inócua, até porque a Câmara que apreciou a primeira
impetração estará preventa, não havendo razão alguma para
modificação, sem que se verifique qualquer alteração do panorama
que, na primeira oportunidade, o ensejou. Os Tribunais superiores não

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têm conhecido os habeas corpus impetrados, pela falta de interesse
de agir.

HABEAS CORPUS E REVISÃO CRIMINAL

À toda evidência, após o trânsito em julgado de sentença condenatória


cabível é a revisão criminal, entretanto, não raro, nos deparamos com
situações onde pode ser admitido o habeas corpus após o trânsito em
julgado da sentença condenatória. Por exemplo, em determinado
processo, com sentença condenatória já transitada em julgado para
as partes, tenha o Magistrado fixado a pena acima do limite máximo
previsto para a espécie. Uma decisão nesses termos seria passível de
correção mediante o pedido revisional. Indaga-se, no entanto, se é
razoável exigir-se de pessoa constrita na sua liberdade de locomoção,
em decorrência dessa sentença absolutamente nula, que aguarde o
processamento da revisão criminal, quando o erro pode ser corrigido
- até mesmo liminarmente - por meio de um pedido de ordem de
habeas corpus?

Não seria, contudo, factível a utilização desse mesmo raciocínio se o


vício decorresse de sentença condenatória transitada em julgado
contrária à evidência dos autos, pois nesse caso o exame do processo
requestaria a análise valorativa e interpretativa da prova, o que não é
possível em sede de habeas corpus.

HABEAS CORPUS E MANDADO DE SEGURANÇA

O habeas corpus e o mandado de segurança, decorrentes da ordem


constitucional, prestam-se à tutela dos direitos individuais, conforme
art. 5°, inciso LXIX, da CF. Em suma, o habeas corpus é utilizável
quando o bem lesado for a “liberdade de locomoção”, já que quando
este não for o direito ameaçado, o remédio jurídico adequado será o
mandado de segurança, ou ainda o habeas data.

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HABEAS CORPUS NO PROCESSO DE EXECUÇÃO

O processo de execução gera um conflito natural entre o Estado,


objetivando a satisfação da pretensão executória, e o condenado, com
expectativa de obter a liberdade, por meio de um sistema gradativo de
cumprimento de pena, com a progressão de regime mais rigoroso para
o sistema de “liberdade com responsabilidade”.

Não se tem admitido a impetração de habeas corpus com pedidos


de progressão nos regimes de cumprimento de pena, ainda
quando há demora na sua apreciação em primeira instância,
primeiramente, porque o pedido de ordem de habeas corpus não
é substitutivo de recurso, até porque, não raro, perquirem-se
questões atinentes ao mérito do condenado, com a cogente
análise de requisitos de ordem subjetiva, nem sempre passíveis
de exame pela estreita via do mandamus.

Entretanto, em havendo coação ilegal manifesta é cabível o “remédio


constitucional”, por exemplo, se um condenado, no curso da
execução, praticar fato definido como crime doloso ou falta grave,
estará sujeito a regressão, desde que ouvido previamente (art. 118,
inciso I e parág. 2°, LEP). Não observada tal regra nula de pleno direito
será a decisão que determinar a regressão e, nessas condições,
ressurgindo evidente prejuízo, a invalidade do ato poderá ser
reconhecida pela via do habeas corpus.

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LEI 12.016/09 MANDADO DE SEGURANÇA

O mandado de segurança é ação constitucional de índole


precipuamente civil, mas pode ser utilizado, em determinadas
hipóteses, contra ato jurisdicional penal.

Cuida-se de ação de impugnação, valendo de instrumento para coibir


ilegalidade ou abuso de poder que atinja direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, desde que se trate de
ato proveniente de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público (art. 5°, LXIX, CF). Não se
encontra previsto no Código de Processo Penal

Tem sido posição dominante nos tribunais admitir-se o emprego do


mandado de segurança para assegurar direito líquido e certo da
acusação ou da defesa, quando não é o caso de impetração de
habeas corpus

Na maioria das vezes, o mandado de segurança operará na via


preventiva, visando a suspender a eficácia de um provimento
jurisdicional, que consubstancia portanto ameaça de dano irreparável
ou de difícil reparação à parte, tanto que se pode pleitear a medida
com pedido de liminar.

Exemplos: apreensão de mercadorias em quantidade superior à


necessária para a feitura do laudo

O prazo para sua interposição é DECADENCIAL, sendo de 120


dias contado da data em que se tomou ciência de uma "decisão".
É cabível o pedido de liminar, a qual é concedida se provado o fumus
boni iuris e o periculum in mora.

O mandado de segurança deve ser interposto contra ato da autoridade


coatora, tal qual no habeas corpus, seguindo o mesmo
processamento, ou seja, deve ser dirigido para uma autoridade
imediatamente superior àquela que pratica o abuso.

Da sentença, concedendo ou denegando o mandado, cabe apelação

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PROCEDIMENTO

Ao receber a petição o juiz ou tribunal, se não a indeferir liminarmente


notificará o coautor, para que, em 10 dias preste informações. Findo o
prazo de 10 dias será ouvido o Ministério Público também no prazo de
10 dias. Após o juiz decidirá no prazo de 30 dias.

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