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RECURSOS

Em uma ação penal de primeiro grau, os únicos recursos cabíveis são a apelação contra a
sentença condenatória/absolutória e o recurso em sentido estrito para as decisões interlocutórias
tomadas no curso do processo.

Nos processos de execução penal, isto é, após o trânsito em julgado de uma sentença
condenatória, haverá uma execução penal, no qual é cabível apenas um recurso possível, que é
o agravo em execução. Contra as decisões tomadas por um juiz na fase de execução, caberá
agravo em execução.

Na segunda instância são possíveis os embargos infringentes e de nulidades das decisões


tomadas em julgamento de apelações e recursos em sentido estrito quando as decisões não
sejam unânimes e sejam desfavoráveis ao réu, todavia, são hipóteses raras. É um recurso
exclusivo da defesa, que leva em conta um único voto favorável a defesa.

RECURSOS DE INDOLE ORDINÁRIA E RECURSOS EXTRAODINÁRIOS

Os RECURSOS ORDINÁRIOS permitem uma revisão ordinária da matéria recorrida. Nas


revisões ordinárias há a possibilidade devolução ampla da matéria objeto da decisão. Assim, é
possível que o juiz condene e o tribunal absolva, ou que a pena seja diminuída etc.

Exemplo: apelação, agravo de execução, recursos em sentido estrito, recurso ordinário em


habeas corpus, embargos de declaração, etc.

Os RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS não permitem uma revisão ordinária ampla das decisões
judiciais, pois estão restritos a discussão de matérias constitucionais no caso do STF ou de lei
federais, no caso do STJ. Não há discussão acerca do fato ocorrido, o que se discute é a lei, sua
interpretação, sua aplicação no caso concreto. A ideia é que esses tribunais possam interpretar a
constituição ou as leis federais, a fim de dar força positiva e unidade de interpretação das normas
constitucionais e das leis federais.

Exemplo: recurso extraordinário e recurso especial.

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Os recursos extraordinários estão previstos nos artigos 102 e 105 da Constituição Federal e na
Lei 8.038/90. São a mesma coisa do Processo Civil e o que os diferencia é o objeto do recurso.
Os embargos de declaração não são recursos, todavia, são tratados como se fossem.

A revisão criminal e o habeas corpus também não são recursos.

Todos os recursos possuem pressupostos para seu cabimento e reconhecimento.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

O cabimento e o reconhecimento de um recurso dependem de pressupostos. É o chamado juízo


de prelibação, é o juízo sobre os pressupostos de admissibilidade do recurso. Quando um
desembargador diz que conhece do recurso, significa dizer que ele reconhece a existência dos
pressupostos de admissibilidade do recurso.

Juízo de delibação é o juízo feito acerca do mérito de um recurso.

PRESSUPOSTOS OBJETIVOS: previsão legal, isto é, o recurso deve estar previsto em lei e
deve ser o recurso adequado a combater determinada decisão.

PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE: é possível a aplicação do princípio da fungibilidade nos


recursos, de modo que se a parte interpor o recurso errado, nada impede que o recurso seja
conhecido pelo tribunal como se fosse o recurso adequado. Todavia, para que isso aconteça não
pode haver má-fé.

Exemplo: a parte interpõe um recurso fora do prazo, assim, não será possível aplicar a
fungibilidade. O recurso adequado tem prazo de 5 dias, todavia, a parte interpõe o recurso errado
que tem prazo de 10 dias e o faz no oitavo dia. Neste caso, o tribunal não poderá proceder com a
fungibilidade do recurso, uma vez que já até ocorreu o trânsito em julgado da decisão.

Para a ocorrência da fungibilidade, é necessário que a parte tenha interposto o recurso errado
dentro do prazo do recurso adequado.

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O recurso deve ser interposto na forma prevista na lei. Não é possível interpor recurso oralmente,
o recurso deve ser interposto na forma escrita. Em alguns casos, a lei prevê que a interposição
pode ser feita por petição ou por termo, isto é, reduzida a termo pelo escrivão.

A TEMPESTIVIDADE é a observância da interposição no prazo previsto em lei. Esse prazo da lei


varia conforme o recurso.

Apelação: 5 dias.

Recursos em sentido estrito: 5 dias.

Agravo em Execução: 5 dias.

O PREPARO não é um problema no processo penal, pois nas ações penais públicas, o MP e a
parte acusada não recolhem custas, pois elas são objeto de condenação ao final, ou seja, se ele
é absolvido, o réu não pagará custas, porém, se for condenado, ele pagará as custas.

O PREPARO, em regra, não é exigido no processo penal. Somente nas ações penais privadas
que o preparo será exigido.

Antigamente, era comum que as apelações só fossem conhecidas caso o réu que tivesse sua
prisão decretada se recolhesse a prisão, ou seja, a prisão era uma condição para o réu apelar.

Exemplo: foi proferida sentença condenatória e o réu se encontrava foragido. Neste caso, o
recurso de apelação interposto seria julgado deserto, pois o réu não se recolheu a prisão.

Hoje em dia isso não acontece mais, uma vez que em razão dos princípios do estado de
inocência e do duplo grau de jurisdição não é possível exigir que o réu fique preso como condição
para o conhecimento do recurso.

PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS

O primeiro deles é a LEGITIMIDADE, é preciso ser parte legítima para interpor o recurso, uma
vez que a ilegitimidade da parte faz com que o recurso não seja conhecido.

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Art. 577. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou
seu defensor.
Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da
decisão.

Todas as pessoas do artigo 577 tem legitimidade para interpor recursos de maneira autônoma.
Ou seja, tanto o réu pode interpor recurso quanto o seu defensor pode interpor recurso em seu
nome.

Porém, não basta apenas ser parte legítima, também é necessário como pressuposto do recurso
que haja o interesse na reforma da decisão.

É necessário que haja INTERESSE na reforma da decisão. O interesse dá a identidade subjetiva


do recurso interposto com a parte que o interpõe. Logo, não basta ser parte legítima, é necessário
ter o interesse na reforma da decisão.

Exemplo: em regra, não é possível que o MP interponha recurso para a absolvição do réu. Assim
como não é possível que a defesa interponha recurso contra a sentença absolutória.

O MP não é obrigado a interpor recurso, nem mesmo contra as decisões que ele tenha interesse
na reforma, todavia, se o interpuser, o MP não poderá desistir do recurso:

Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.

Poderia a defesa interpor recurso contra a sentença absolutória, pedindo para que seja reformada
a decisão a fim de que o réu seja absolvido por um outro fundamento? Sim, é possível, uma vez
que a depender do fundamento da absolvição é possível que o réu seja demandado no juízo cível
para reparar os danos da vítima, pois as sentenças penais produzem efeitos civis.

Exemplo: a legítima defesa putativa enseja reparação de danos no âmbito civil. Todavia, a
legítima defesa própria não gera efeitos no âmbito civil.

SUCUMBÊNCIA: é a desconformidade entre o que a parte pleiteia e o que a sentença concede.


Sucumbe aquele que perde. A identidade da parte com o recurso surge a partir da sucumbência.

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Exemplo: o MP pleiteia uma condenação. A sentença absolve o réu. O MP sucumbiu no
processo, ele possui legitimidade e a partir da sentença absolutória, ele passa a ter o interesse na
reforma da decisão. A defesa tem legitimidade, mas não tem interesse na reforma da decisão.

O assistente do MP tem interesse para interpor recurso com o intuito de aumentar a pena do réu
que foi condenado? Existe uma controvérsia acerca desse assunto. Durante algum tempo,
compreendia-se que o interesse do assistente do MP no processo baseava-se na justa
indenização, isto é, a sentença condenatória constitui um título extrajudicial que poderá ser
executado no âmbito civil.

Parte da doutrina entendia que o assistente do MP não poderá interpor recurso para majorar a
pena do réu, pois o seu interesse está limitado na indenização. Atualmente, compreende-se que
além do interesse na indenização, há o interesse na justa condenação, ou seja, se o réu tem
direito a uma sentença justa, a vítima também tem direito a uma sentença justa, logo, entende-se
que a justiça na sentença não se encontra apenas na condenação, mas também na pena imposta
até certo limite.

Então, existe o interesse do assistente em majorar penas por meio de recursos.

Exemplo: o réu é condenado a uma pena x. O promotor fica satisfeito com a pena, mas o
assistente fica inconformado com a quantidade de pena. Assim, ele irá interpor um recurso de
apelação para majorar a pena.

O assistente do MP não pode interpor todo e qualquer recurso, porém, ele pode interpor apelação
e o recurso em sentido estrito em alguns casos. Ademais, ele será parte adjunta nos recursos
interpostos pelo MP.

Quando o MP não interpor recurso de apelação ou, em alguns casos, o recurso em sentido
estrito, o assistente poderá interpô-los.

Se o MP como titular da ação pede a absolvição, o juiz não poderia condenar. Todavia, se o MP
não pode desistir da ação, como ele poderá pedir a absolvição do réu? Há o entendimento de que
se o MP pede a absolvição do réu nas alegações finais e o juiz condena, o MP poderia interpor
recurso contra a decisão proferida, não no interesse do réu, mas sim em seu próprio interesse.

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SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA: eventualmente, tanto a acusação quanto a defesa podem
sucumbir no processo.

Exemplo: a acusação pede a condenação em determinados termos e a defesa pede a absolvição.


O juiz desqualifica o crime e condena o réu por um tipo mais brando. Tanto a defesa como a
acusação sucumbiram nessa decisão, dessa forma, surge para ambos o interesse em recorrer
para reformar a decisão.

SUCUMBÊNCIA PARALELA: quando corréus na mesma ação possuem o interesse em recorrer


da decisão.

RECURSOS EM ESPÉCIE

APELAÇÃO

O artigo 593 prevê as hipóteses em que caberá apelação:

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:


I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no
Capítulo anterior;
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
§ 1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos,
o tribunal ad quem fará a devida retificação.
§ 2o Interposta a apelação com fundamento no no III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der provimento,
retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança.
§ 3o Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos
jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento;
não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.
§ 4o Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da
decisão se recorra.

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Com base no inciso I, caberá apelação contra as sentenças estrito sensu que absolvem ou
condenam, proferidas por um juiz singular.

O inciso II trata do cabimento residual do recurso de apelação, uma vez que o capítulo anterior
trata do recurso em sentido estrito, este que possui rol taxativo. A apelação é cabível,
residualmente, as decisões definitivas ou com força de definitiva que não estejam previstas no
capítulo anterior.

Os incisos I e II não estabelecem o objeto do recurso, ou seja, não limitam as fundamentações da


apelação. A interposição não estabelece o limite do objeto do recurso.

No inciso III, no âmbito do tribunal do júri, são específicas as hipóteses em que caberá a
apelação.

No júri, a interposição do recurso já contém a fundamentação do pedido de reforma, diferente da


interposição do recurso de apelação feito com base nos incisos I ou II do artigo 593. As alíneas
do inciso III já estabelecem o limite do objeto do recurso no momento de sua interposição.
Posteriormente, serão apresentadas as razões, de modo que elas não podem ir além do que já foi
estabelecido na interposição.

Exemplo: a parte interpõe um recurso somente com base na alínea d. Ela não poderá discutir em
suas razões aspectos relacionados as alíneas a, b e c.

Os tribunais não têm conhecido dos recursos cujas razões ampliem o objeto estabelecido
na interposição do recurso.

As nulidades anteriores a pronúncia são sanadas pela própria pronúncia. Todavia, as nulidades
ocorridas posteriormente a pronúncia, poderão ser discutidas em sede de apelação.

Nas alíneas b e c é possível a reforma completa da decisão do juiz presidente.

A alínea b trata da hipótese em que a sentença proferida pelo juiz é expressamente contrária a
decisão dos jurados. Assim, o tribunal de justiça poderá reformar a decisão do juiz para que ela
se adeque ao que foi decidido pelos jurados.

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Exemplo: os jurados decotam uma das qualificadoras, reduzindo a pena do acusado. Porém, o
juiz contraria tal decisão e profere sentença com a qualificadora. Dessa forma, caberá apelação
dessa sentença para que seja modificada, a fim de se adequar a decisão dos jurados.

A alínea c trata da hipótese em que a pena fixada pelo juiz não condiz com que o que foi
demonstrado ao longo do processo e com a decisão tomada pelos jurados. Assim, caberá recurso
de apelação.

Exemplo: juiz fixa uma pena muito alta e desproporcional.

Na alínea d surge um problema, uma vez que o júri é soberano em seus vereditos. A vontade
popular é soberana, porém, se a decisão dos jurados for manifestamente contrária a prova
produzida nos autos, caberá recurso de apelação para que o tribunal casse o veredito do júri e
manda o réu a nova júri popular. O Tribunal de Justiça não pode reformar a decisão do júri, mas
pode revê-la e cassar o veredito para que haja um segundo julgamento.

Não basta ser contrária a prova dos autos, a decisão do júri precisa ser MANIFESTAMENTE
contrária a prova dos autos.

Exemplo: o réu assume que matou a vítima com disparos de uma arma de fogo. Porém, os
jurados o absolvem dizendo que ele não matou a vítima com uma arma do fogo. Nesse caso, a
decisão está manifestamente contrária a prova dos autos.

A apelação fundamentada com base na alínea d só é cabível uma única vez. Portanto, se o
segundo júri decidir da mesma forma ou de forma diversa que o primeiro, não caberá uma nova
apelação fundamentada na alínea d.

O §1º prevê que o tribunal de justiça fará a retificação da sentença no caso de apelação
interposta com base na alínea b. O §2º prevê que o tribunal de justiça fará a retificação da
sentença no caso de apelação interposta com base na alínea b.

Transitada em julgado a segunda decisão do júri que condenou o réu, caberá a ação de revisão
criminal caso a condenação seja injusta. Só cabe revisão criminal das decisões condenatórias
transitadas em julgado, isto é, nas decisões desfavoráveis ao réu.

TODOS OS RECURSOS POSSUEM EFEITO DEVOLUTIVO.


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A apelação pode ser AMPLA ou LIMITADA. Ser ampla significa que ela devolver toda a matéria,
enquanto a limitada devolver apenas parte da matéria, tudo dependerá do objeto da devolução.

EFEITO SUSPENSIVO: a apelação tem efeito suspensivo como regra. Ou seja, a apelação
suspende os efeitos da decisão, de modo que a sentença não produz efeitos enquanto o recurso
não for julgado.

O recurso de apelação contra sentença absolutória não possuí efeito suspensivo. A apelação não
possui EFEITO REGRESSIVO, pois ela só é dirigida a instância superior.

EFEITO REGRESSIVO: o próprio juiz prolator da decisão poderá retratar de sua decisão. O
recurso devolve ao próprio órgão prolator a matéria decidida para que ele se retrate ou mantenha
sua decisão.
O recurso em sentido estrito tem efeito regressivo e em algumas hipóteses terá efeito suspensivo.

Nas hipóteses de recurso em sentido estrito, o próprio código diz quando haverá efeito
suspensivo, e geralmente terá quando estiver associado a uma prejudicialidade no julgamento.
No geral, não há efeito suspensivo para o recurso em sentido estrito.

EFEITO EXTENSIVO: não é um efeito do recurso, mas sim da decisão.

Exemplo: dois réus acusados de um crime são condenados, porém só um deles recorreu. O
tribunal ao julgar o recurso dá provimento a ele. Assim, a absolvição poderá ser estendida ao réu
que não apelou. Todavia, o efeito extensivo só ocorrerá caso as razões apresentadas no recurso
também sejam cabíveis ao outro réu, isto é, se os fundamento do recurso também puderem ser
aproveitados pelo outro réu.

A devolução do objeto do recurso é o limite para a decisão do recurso. É o princípio do tantum


devolutum quantum apelatum. Ou seja, a devolução objeto do recurso é o limite para a decisão
do recurso.

O tribunal não pode apreciar matéria favorável a acusação que não tenha sido alegada no
recurso do MP.

Poderia o tribunal apreciar algo que não foi alegado no recurso defensivo capaz de absolver o
réu? É possível a identificação de elementos favoráveis a defesa que não tenham sido alegados
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na apelação, o que não é possível é que no recurso da defesa é que o tribunal faça uma reforma
da decisão para pior.

O tribunal não pode piorar a situação do réu no recurso da defesa, isto é, não é possível a
reformatio in pejus no recurso de defesa.

Exemplo: o MP interpõe recurso para majorar a pena do acusado. Todavia, o tribunal nega
provimento ao recurso e ainda reconhece uma causa de diminuição da pena e a aplica no
acórdão.

É possível a reformatio in mellius no recurso da acusação? A jurisprudência admite essa melhora


da situação do réu no caso de recurso interposto pela acusação.

TRAMITAÇÃO DA APELAÇÃO

Prazo de 5 dias para a interposição do recurso e 8 dias para a apresentação das razões.

A parte tem 5 dias para interpor o recurso da data da intimação da sentença. O prazo de
interposição do recurso é fatal, todavia, o prazo para apresentar as razões não é fatal. Assim, o
prazo para apresentar as razões poderá ser extemporâneo, uma vez que tal prazo não está
sujeito a perempção.

O dia do começo é o primeiro dia útil subsequente ao dia da intimação.

Todos os recursos no processo penal são interpostos perante o juiz a quo, isto é, perante o
próprio juiz prolator da decisão. O juiz a quo prepara o recurso para ser remetido ao tribunal, ou
seja, o juiz a quo faz o primeiro juízo de prelibação. As razões também são apresentadas perante
o juiz a quo.

A interposição da apelação nunca se dá no tribunal.

O juiz a quo poderá impedir a subida do recurso de apelação se verificar a ausência dos
requisitos de admissibilidade. Dessa decisão caberá recurso em sentido estrito, que será julgado
pelo tribunal para saber se o recurso de apelação deve subir ou não.

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Da decisão que não aceita a apelação, caberá recurso em sentido estrito. Das decisões que não
aceitarem os demais recursos, caberá carta testemunhável.

Exemplo: uma decisão não conhece o recurso de apelação. Dessa forma, a parte interpõe
recurso em sentido estrito e este não é conhecido. Assim, a parte poderá interpor carta
testemunhável para que seja conhecido o seu recurso em sentido estrito e, posteriormente, o
recurso em sentido estrito será julgado para saber se o recurso de apelação será conhecido.

CARTA TESTEMUNHÁVEL: serve para forçar a subida do recurso não conhecido pelo juiz a
quo.

É possível interpor o recurso de apelação no juízo a quo e apresentar as razões no tribunal ad


quem.

Pode ser que uma decisão judicial dê várias deliberações, isto é, decida diversas coisas.
Exemplo: uma sentença decide diversas coisas, e uma delas é negar a aplicação do sursis.

A apelação é o recurso prevalente mesmo que se queira recorrer apenas de parte da decisão.

O artigo 583 do CPP distingue os recursos voluntários e os obrigatórios (ex officio):

Art. 583. Subirão nos próprios autos os recursos:


I - quando interpostos de oficio;
II - nos casos do art. 581, I, III, IV, VI, VIII e X;
III - quando o recurso não prejudicar o andamento do processo.
Parágrafo único. O recurso da pronúncia subirá em traslado, quando, havendo dois ou mais réus, qualquer deles se
conformar com a decisão ou todos não tiverem sido ainda intimados da pronúncia.

Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de
ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o
réu de pena, nos termos do art. 411.

Os recursos obrigatórios ocorrem em algumas hipóteses no qual o juiz profere uma decisão em
um determinado sentido e o próprio juiz recorre dessa decisão. O professor acredito que o
recurso de ofício não é um recurso, pois não está sujeito a tempestividade, não é interposto por
parte interessada, todavia, é uma exigência que decorre da lei.
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O MP não é obrigado a interpor recurso, mas uma vez interposto, o MP não pode desistir do
recurso:

Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.

Os recursos devem ser interpostos sempre por forma escrita por termo ou petição. Em alguns
casos, o recurso só poderá ser interposto por petição.

Art. 578. O recurso será interposto por petição ou por termo nos autos, assinado pelo recorrente ou por seu
representante.
§ 1o Não sabendo ou não podendo o réu assinar o nome, o termo será assinado por alguém, a seu rogo, na
presença de duas testemunhas.
§ 2o A petição de interposição de recurso, com o despacho do juiz, será, até o dia seguinte ao último do prazo,
entregue ao escrivão, que certificará no termo da juntada a data da entrega.
§ 3o Interposto por termo o recurso, o escrivão, sob pena de suspensão por dez a trinta dias, fará conclusos os
autos ao juiz, até o dia seguinte ao último do prazo.

No parágrafo §3ª, a parte chega até o escrivão e diz que gostaria de interpor um recurso contra a
decisão. Dessa forma, o escrivão reduz a termo a interposição de recurso da parte.

O princípio da fungibilidade dos recursos está previsto no artigo 579 do CPP:

Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro.
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará
processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.

Desde que a parte esteja de boa-fé, é possível reconhecer um recurso por outro. A má-fé é
verificada pelo prazo em que a parte interpôs o recurso.

O efeito extensivo está previsto no artigo 580:

Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um dos réus,
se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros.

O professor entende que o efeito não é do recurso, mas sim da decisão. Mesmo que o réu não
tenha recorrido, a decisão proferida do recurso do corréu poderá ser aplicada a ele, desde que as
circunstâncias sejam iguais para ambos.

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Art. 596. A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade.
Parágrafo único. A apelação não suspenderá a execução da medida de segurança aplicada provisoriamente.

Em regra, as apelações têm efeito suspensivo, todavia, no caso de sentença absolutória, não é
possível que o recurso da parte contrária suspenda os efeitos de absolvição da sentença
favorável ao acusado.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Está previsto no artigo 581:

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:


I - que não receber a denúncia ou a queixa;
II - que concluir pela incompetência do juízo;
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
IV – que pronunciar o réu;
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou
revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade;
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
XVII - que decidir sobre a unificação de penas;
XVIII - que decidir o incidente de falsidade;
XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;
XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;
XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;
XXII - que revogar a medida de segurança;
XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação;
XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.

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O rol do artigo 581 é taxativo. A lei esgotou as hipóteses de cabimento de recurso em sentido
estrito, uma vez que a lei estabeleceu que quando não couber recurso em sentido estrito, o
recurso cabível será o de apelação.

Algumas das hipóteses referentes a execução que eram passíveis de serem atacadas pelo
recurso em sentido estrito foram revogadas, pois foi criado o recurso de agravo em execução.

O recurso em sentido estrito é cabível contra muitas decisões que afetam o estado de liberdade
do réu. Inobstante o cabimento do recurso em sentido estrito, também é possível a impetração de
habeas corpus substitutivo do recurso em sentido estrito. Assim, o recurso em sentido estrito, em
hipóteses taxativas, não é exclusivo, pois é possível optar por habeas corpus em alguns casos.

O recurso em sentido estrito pode ser interposto por petição ou por termo.

PRAZO: 5 dias para interpor o recurso e 2 dias para apresentar as razões.

O recurso em sentido estrito possui EFEITO REGRESSIVO, isto é, o próprio juiz prolator da
decisão poderá se retratar. O juiz a quo tem dever de dizer se mantem a decisão recorrida ou se
retratar da decisão.
Ao contrário da apelação, o recurso em sentido estrito não tem o efeito suspensivo como regra. A
regra é não ter efeito suspensivo.

EFEITO EFEITO EFEITO PRAZO PARA


RECURSO SUSPENSIVO REGRESSIVO DEVOLUTIVO INTERPOSIÇÃO
/ PRAZO PARA
AS RAZÕES
sim não sim 5 dias / 8 dias
Apelação Por petição ou
termo

Recurso em não sim sim 5 dias / 2 dias


sentido estrito Por petição ou
termo
Agravo em não sim sim 5 dias
Execução
Embargos sim sim sim 10 dias com
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Infringentes e de razões. Só pode
Nulidades (Art. ser por petição
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Da decisão que negar a liberdade provisória, será cabível recurso em sentido estrito ou habeas
corpus.

Da decisão que defere ou indefere a decretação da prescrição, caberá recurso em sentido estrito,
isto é, é cabível tanto para a acusação como para a defesa.

Da decisão que negar conhecimento à apelação, caberá recurso em sentido estrito. Da decisão
que negar conhecimento ao recurso em sentido estrito, caberá carta testemunhável.

Art. 583. Subirão nos próprios autos os recursos:


I - quando interpostos de oficio;
II - nos casos do art. 581, I, III, IV, VI, VIII e X;
III - quando o recurso não prejudicar o andamento do processo.
Parágrafo único. O recurso da pronúncia subirá em traslado, quando, havendo dois ou mais réus, qualquer deles se
conformar com a decisão ou todos não tiverem sido ainda intimados da pronúncia.

O inciso II do artigo 583 indica hipóteses do recurso em sentido estrito que não tem efeito
suspensivo, uma vez que se o recurso sobe nos próprios autos, significa que os autos não
prosseguirão enquanto o recurso não for julgado.

Quando o recurso não sobe nos próprios autos, significa dizer que será necessário transladar
peças, isto é, interposto o recurso em sentido estrito, o juiz irá transladar peças para forma o
instrumento e remeter o instrumento ao tribunal, de modo que o processo original permanece com
o juiz a quo.

O recurso em sentido estrito com efeito suspensivo suspende apenas o processo do réu que
tenha interposto o recurso, mas não dos demais corréus.

O recurso em sentido estrito poderá subir nos próprios autos ou por instrumento.

O artigo 584 estabelece as hipóteses em que haverá efeito suspensivo no recurso em sentido
estrito:

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Art. 584. Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão de livramento condicional
e dos ns. XV, XVII e XXIV do art. 581.
§ 1o Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do no VIII do art. 581, aplicar-se-á o disposto nos
arts. 596 e 598.
§ 2o O recurso da pronúncia suspenderá tão-somente o julgamento.
§ 3o O recurso do despacho que julgar quebrada a fiança suspenderá unicamente o efeito de perda da metade do
seu valor.

Art. 587. Quando o recurso houver de subir por instrumento, a parte indicará, no respectivo termo, ou em
requerimento avulso, as peças dos autos de que pretenda traslado.
Parágrafo único. O traslado será extraído, conferido e concertado no prazo de cinco dias, e dele constarão sempre
a decisão recorrida, a certidão de sua intimação, se por outra forma não for possível verificar-se a oportunidade do

recurso, e o termo de interposição.

Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois dias,
reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem
necessários.
Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá recorrer da
nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso, independentemente de novos
arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado.

EMBARGOS INFRINGENTES

É um recurso exclusivo da defesa, somente cabível quando as decisões tomadas em segunda


instância sejam proferidas em apelações e recursos em sentido estrito, tomadas por maioria
contra o réu.

Se a decisão do tribunal é não unânime e desfavorável ao réu, caberá embargos infringentes e de


nulidade. A matéria objeto da devolução é exclusivamente a matéria objeto da divergência.

O prazo é de 10 dias, sendo as razões interpostas em conjunto com a petição.

Tem efeito regressivo, pois os próprios desembargados que negaram a apelação ou o recurso em
sentido estrito participarão novamente do julgamento, de modo a alterar seus votos.

Turma composta de 3 julgadores julga o recurso de apelação ou recurso em sentido estrito.

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Uma vez interposto os embargos infringentes, a câmara inteira participará do julgamento dos
embargos infringentes, isto é, 5 julgadores tomarão parte no julgamento.

Os três principais recursos são: APELAÇÃO das decisões definitivas de condenação ou de


absolvição proferidas pelo juiz singular, das decisões definitivas ou com força de definitivas que
não as de condenação ou de absolvição quando não cabe recurso em sentido estrito, e as
decisões do júri (processo de conhecimento). RECURSO EM SENTIDO ESTRITO das decisões
interlocutórias em geral (processo de conhecimento). RECUROS DE AGRAVO das decisões
tomadas no curso da execução (processo de execução).

Os JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS trouxeram o recuso de APELAÇÃO. A apelação é o


único recurso dos juizados especiais criminais, pois não há recurso de sentido estrito, assim, o
recurso de apelação é cabível contra qualquer decisão tomada no âmbito dos juizados especiais
criminais.
Até mesmo porque a celeridade do processo nos juizados especiais criminais limita a
possibilidade de interposição de recursos no curso da instrução criminais, pois as audiências de
instrução são unas.

Além de a apelação ser o único recurso nos juizados especiais criminais, a apelação possui uma
tramitação diferente. Enquanto no processo penal comum, a apelação é interposta em 5 dias por
petição ou por termo nos autos, e as razões da apelação são apresentadas em outra
oportunidade, com abertura de vista especifica pelo prazo de 8 dias para apresentar as razões da
apelação. No processo do juizado especial criminal, a apelação tem o prazo de 10 dias para
interposição do recurso já acompanhado das razões, assim, a interposição do recurso de
apelação é apenas por petição, não por termo.

Os EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE são recursos exclusivos da defesa.


Se uma decisão não for unânime no órgão colegiado, cabem embargos infringentes e de
nulidade, pois a divergência constitui matéria de devolução dos embargos infringentes e de
nulidade para que o colegiado possa refletir sobre o voto divergente. Assim, somente as decisões
de 2ª instâncias tomadas por maioria de votos contra a defesa ensejam os embargos infringentes
e de nulidade.

O nome do recurso é EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE, as é possível separar em


EMBARGOS INFRINGENTES e EMBARGOS DE NULIDADE, pois a divergência do voto
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minoritário pode estar relacionada à apenas uma parte da decisão e, eventualmente, a parte
relacionada à uma nulidade ou a parte relacionada ao julgamento de mérito.

Exemplo 1: a turma julgadora rejeita uma nulidade de citação arguida pela defesa por 2 votos à 1.
E, no mérito, a turma julgadora mantém a condenação por 3 votos à 0. Assim, somente os
embargos de nulidade são cabíveis, pois o objeto da divergência está relacionado a uma
nulidade.

Exemplo 2: a turma julgadora rejeita uma nulidade de citação arguida pela defesa por 3 votos à 0.
E, no mérito, a turma julgadora mantém a condenação por 2 votos à 1. Assim, somente os
embargos infringentes são cabíveis, pois o objeto da divergência está relacionado ao mérito.

Exemplo 3: a turma julgadora rejeita uma nulidade de citação arguida pela defesa por 2 votos à 1.
E, no mérito, a turma julgadora mantém a condenação por 2 votos à 1. Assim, os embargos
infringentes e de nulidade são cabíveis, pois a matéria objeto da devolução se limita ao objeto da
divergência.

Os EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE já foram discutidos nos tribunais superiores.


Na ação penal 470 (mensalão), o STF discutiu tal possibilidade, pois havia uma dúvida quanto o
cabimento na ocorrência de divergência. A Lei 8.038/90, que trata do processo de competência
originária dos tribunais, não trouxe embargos infringentes e de nulidade. Assim, entendia-se que
os embargos infringentes e de nulidade do artigo 690 do CPP (apelação e recurso em sentido
estrito) são se aplicaria aos tribunais superiores.
Porém, o Regimento Interno do STF previa os embargos infringentes e de nulidade. Logo, é
preciso observar os regimentos internos dos tribunais para saber se existem outros recursos ou
não além dos recursos previstos no CPP.
No caso dos embargos infringentes e de nulidade no 2º grau à efeito devolutivo, pois a discussão
será sempre limitada ao objeto da divergência; efeito regressivo, pois devolve a matéria e permite
que o próprio julgador que tenha tomado parte do recurso por maioria participe do julgamento,
sustente seu voto; ampliação do colegiado, pois os embargos infringentes são julgados por uma
turma de 5 julgadores, diferente das decisões que são tomadas por turmas julgadoras de 3
julgadores; interposição é exclusivamente por petição já acompanhadas das razões no prazo de
10 dias.

A CARTA TESTEMUNHÁVEL é um recurso que força a “subida” de um recurso que não foi
admitido.
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Como os recursos não interpostos no juiz a quo (juiz prolator da decisão), assim, o juiz a quo é o
primeiro juiz a fazer o juízo de admissibilidade do recurso. Assim, se o juiz impedir a “subida” do
recurso, há um impasse, pois o juiz prolator da decisão recorrida impede que a decisão seja
submetida ao duplo grau de jurisdição.
A CARTA TESTEMUNHÁVEL é um recurso que se interpõe perante o ESCRIVÃO que não tem
outra coisa a fazer a não ser deixar o recurso “subir”.

Art. 639.  Dar-se-á carta testemunhável:


I - da decisão que denegar o recurso;
II - da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo ad quem.

Art. 640.  A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal, conforme o caso, nas
quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, indicando o requerente as peças do processo
que deverão ser trasladadas.

Art. 641.  O escrivão, ou o secretário do tribunal, dará recibo da petição à parte e, no prazo máximo de cinco dias, no
caso de recurso no sentido estrito, ou de sessenta dias, no caso de recurso extraordinário, fará entrega da carta,
devidamente conferida e concertada.

Art. 642.  O escrivão, ou o secretário do tribunal, que se negar a dar o recibo, ou deixar de entregar, sob qualquer
pretexto, o instrumento, será suspenso por trinta dias. O juiz, ou o presidente do Tribunal de Apelação, em face de
representação do testemunhante, imporá a pena e mandará que seja extraído o instrumento, sob a mesma sanção,
pelo substituto do escrivão ou do secretário do tribunal. Se o testemunhante não for atendido, poderá reclamar ao
presidente do tribunal ad quem, que avocará os autos, para o efeito do julgamento do recurso e imposição da pena.

Art. 643.  Extraído e autuado o instrumento, observar-se-á o disposto nos arts. 588 a 592, no caso de recurso em
sentido estrito, ou o processo estabelecido para o recurso extraordinário, se deste se tratar.

Art. 644.  O tribunal, câmara ou turma a que competir o julgamento da carta, se desta tomar conhecimento, mandará
processar o recurso, ou, se estiver suficientemente instruída, decidirá logo, de meritis.

Art. 645.  O processo da carta testemunhável na instância superior seguirá o processo do recurso denegado.

Art. 646.  A carta testemunhável não terá efeito suspensivo.

RECURSOS QUE NÃO SÃO RECURSOS:

Os EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (artigo 619 do CPP) não tem natureza de recurso, mas o
CPP, por dificuldade de sistematizar o tema, os colocou junto com os recursos.

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Art. 619. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos
de declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na sentença ambiguidade,
obscuridade, contradição ou omissão.

Art. 620.  Os embargos de declaração serão deduzidos em requerimento de que constem os pontos em que o
acórdão é ambíguo, obscuro, contraditório ou omisso.
§ 1o  O requerimento será apresentado pelo relator e julgado, independentemente de revisão, na primeira sessão.
§ 2o  Se não preenchidas as condições enumeradas neste artigo, o relator indeferirá desde logo o requerimento.

Os embargos de declaração contra a sentença de 1º grau estão previstos no artigo 382 do CPP
(capítulo que trata da sentença), logo, o que se percebe é que os embargos de declaração contra
a sentença do juiz de 1º grau não é recurso, pois não são tratados no capítulo dos recursos.
Os embargos de declaração são interpostos para provocar o juiz à esclarecer a sentença, não
modificando-a, apenas esclarecer a sentença para sanar uma obscuridade, para sanar uma
contradição, para sanar um ambiguidade, para sanar uma obscuridade, ou para suprir uma
omissão. Assim, não se trata de um recurso que permite uma retratação, pois o juiz apenas
confirma o julgado, mas não o modifica, e não vai ao 2º grau em nenhuma hipótese.
Os embargos de declaração estão sujeitos a tempestividade.

Ao suprir a omissão ou ao sanar uma contradição, pode ser que tal ajuste implique em
modificação.

Há também embargos de declaração para os acórdãos.

Os embargos de declaração são utilizados para explicitar o PRÉ-QUESTIONAMENTO, ou seja, é


comum utilizar os embargos de declaração para pré-questionar as decisões federais ou
constitucionais para ensejar a “subida” de recursos especiais e recursos extraordinário

O CPP acabou colocando, por erro ou falta de sistematização, as AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO (o


habeas corpus e a revisão criminal) no capítulo dos recursos.

O HABEAS CORPUS é uma ação de impugnação, não é recurso exatamente no CPP.


Mas, há o recurso ordinário em habeas corpus da Lei 8.038/90 que só é cabível contra as
decisões denegatórias de habeas corpus nos tribunais, em tal caso, o habeas corpus é impetrado
contra o acórdão e tem o prazo de 5 dias. Se a decisões denegatórias de habeas corpus por em
1º instância, cabe recurso em sentido estrito ou habeas corpus originário.

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O habeas corpus é uma ação, assim, não pressupõe uma decisão judicial.
O habeas corpus pode ser impetrado em face de uma condição fática (fato), uma decisão
administrativa de uma autoridade policial, uma decisão judicial que enseja a impetração de um
habeas corpus.
Não há tempestividade na impetração de habeas corpus, pois enquanto a situação de fato
ensejar um constrangimento ilegal à liberdade de locomoção, cabe habeas corpus. Enquanto a
situação de fato ensejar um iminente perigo/risco a liberdade de locomoção (constrangimento à
liberdade de locomoção), cabe habeas corpus.

Assim, o habeas corpus tem natura de ação, uma ação originária de habeas corpus. Porém, não
cabe dilação probatória, ou seja, não se produz prova, nem exame (revisão) aprofundada da
prova em habeas corpus, o habeas corpus é uma constatação de uma constrangimento efetivo ou
potência à liberdade de alguém.

A AÇÃO REVISIONAL à REVISÃO CRIMINAL também é uma ação de impugnação, não é um


recurso.

A revisão criminal se presta a reparar uma injustiça, impedir a perpetuação de uma injustiça em
favor do réu (em favor da defensa, nunca em favor da acusação), não tem prazo determinado
(não há limite).

Exemplo: a pena excessiva pode ser reduzida com a revisão criminal; o processo com uma
condenação criminal que tem uma nulidade processual pode ser anulado com a revisão criminal;
o réu que foi injustamente condenado pode ser absolvido com a revisão criminal.
Embora seja uma ação, a revisão criminal não comporta dilação probatória, assim, já se ajuíza a
ação revisão com “tudo” pronto, pois a ação revisional é um pedido de revisão criminal instruído
com todos os elementos de formação que sustentam a alegação de revisão. O poder judiciário
não marca audiência para ouvir pessoas e requisitar documentos.
No pedido de revisão criminal que já tem prova pré-constituída, há o pressuposto que é a certidão
de trânsito em julgado, ou seja, o pedido de revisão criminal precisa estar acompanhado da
certidão de trânsito em julgado e acompanhado de prova pré-constituída (autos), pois se houver
um recurso pendente (cabível), o recurso precisa ser resolvido.

Exemplo – prova pré-constituída: uma pessoa foi condenada exclusivamente com base no
depoimento da vítima, que foi o fundamento da condenação. Mas, a vítima arrependida, fala que
as coisas não aconteceram do jeito que ela tinha falado. Assim, é preciso ouvir a vítima e ajuizar
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a revisão criminal, não é possível que o juiz ouça a vítima. A vítima pode ser ouvida em cartório
ou ata notarial. É possível pedir as audiências de justificação para os juízes de 1º grau para
conceber provas/depoimentos em contraditório, que serão o material para a revisão criminal.

A ideia da revisão criminal é a ideia de um fato novo. Mas, o artigo 621 não diz respeito somente
a um fato novo.

Art. 621.  A revisão dos processos findos será admitida:


I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos;
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente
falsos;
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância
que determine ou autorize diminuição especial da pena.

A revisão criminal não está sujeita à tempestividade, não há limitação de vezes, mas não se pode
impetrar a revisão criminal com o mesmo objeto.
A revisão criminal pode ser impetrada pelo próprio interessado ou por outra pessoa.
A decisão de procedência da revisão criminal, o tribunal pode impor o dever de indenizar
(indenização por erro judicial), mas o paciente ou peticionário deve requerer a fixação de
indenização.

A indenização só é devida se a culpa pelo erro judiciário não por do próprio acusado.

Exemplo: um pai que assume a culpa por um crime para poupar seu filho.

Art. 622.  A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, antes da extinção da pena ou após.
Parágrafo único.  Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas.

Art. 623.  A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte
do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Pelo próprio réu à o réu também tem capacidade postulatória.

Art. 624.  As revisões criminais serão processadas e julgadas:         


I - pelo Supremo Tribunal Federal, quanto às condenações por ele proferidas;
II - pelo Tribunal Federal de Recursos, Tribunais de Justiça ou de Alçada, nos demais casos.         

O dispositivo está ultrapassado.

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Hoje, há o STJ e os Tribunais Regionais Federais, o STF.
      
§ 1o  No Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Federal de Recursos o processo e julgamento obedecerão ao que
for estabelecido no respectivo regimento interno.              
§ 2o  Nos Tribunais de Justiça ou de Alçada, o julgamento será efetuado pelas câmaras ou turmas criminais, reunidas
em sessão conjunta, quando houver mais de uma, e, no caso contrário, pelo tribunal pleno.               
§ 3o  Nos tribunais onde houver quatro ou mais câmaras ou turmas criminais, poderão ser constituídos dois ou mais
grupos de câmaras ou turmas para o julgamento de revisão, obedecido o que for estabelecido no respectivo
regimento interno.    

As revisões criminais devem ser julgadas por grupos de câmaras.


Art. 625.  O requerimento será distribuído a um relator e a um revisor, devendo funcionar como relator um
desembargador que não tenha pronunciado decisão em qualquer fase do processo.
§ 1o  O requerimento será instruído com a certidão de haver passado em julgado a sentença condenatória e com as
peças necessárias à comprovação dos fatos argüidos.

Pressuposto do trânsito em julgado.


Não é dilação probatória, a prova é pré-constituída.

§ 2o  O relator poderá determinar que se apensem os autos originais, se daí não advier dificuldade à execução
normal da sentença.

A revisão criminal pode se dar com peças dos autos.

§ 3o  Se o relator julgar insuficientemente instruído o pedido e inconveniente ao interesse da justiça que se apensem
os autos originais, indeferi-lo-á in limine, dando recurso para as câmaras reunidas ou para o tribunal, conforme o
caso (art. 624, parágrafo único).

A revisão criminal pode se indeferida liminarmente, há recurso para tal decisão com previsão nos
regimentos internos dos tribunais.

§ 4o  Interposto o recurso por petição e independentemente de termo, o relator apresentará o processo em mesa para
o julgamento e o relatará, sem tomar parte na discussão.

Há recurso contra a decisão que indefere a revisão criminal liminarmente.

§ 5o  Se o requerimento não for indeferido in limine, abrir-se-á vista dos autos ao procurador-geral, que dará parecer
no prazo de dez dias. Em seguida, examinados os autos, sucessivamente, em igual prazo, pelo relator e revisor,
julgar-se-á o pedido na sessão que o presidente designar.

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Art. 626.  Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu,
modificar a pena ou anular o processo.
Parágrafo único.  De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista.

Não é possível reformatio in pejus na revisão criminal.

Art. 627.  A absolvição implicará o restabelecimento de todos os direitos perdidos em virtude da condenação,


devendo o tribunal, se for caso, impor a medida de segurança cabível.

Art. 628.  Os regimentos internos dos Tribunais de Apelação estabelecerão as normas complementares para o
processo e julgamento das revisões criminais.

Art. 629.  À vista da certidão do acórdão que cassar a sentença condenatória, o juiz mandará juntá-la imediatamente
aos autos, para inteiro cumprimento da decisão.

É uma questão formal.

Art. 630.  O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização pelos
prejuízos sofridos.

É preciso provocar a indenização.

§ 1o  Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a condenação tiver sido
proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o tiver sido pela respectiva justiça.
§ 2o  A indenização não será devida:
a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio impetrante, como a confissão
ou a ocultação de prova em seu poder;
b) se a acusação houver sido meramente privada.

Há o dever de indenizar.

Art. 631.  Quando, no curso da revisão, falecer a pessoa, cuja condenação tiver de ser revista, o presidente do
tribunal nomeará curador para a defesa.

No caso de morte do peticionário, não há a extinção do processo, pois mesmo que o peticionário
morra, a revisão será julgada, pois o interesse não se esgota na material forma de pedir o
cumprimento da pena, mas no reconhecimento da declaração da inocência.

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