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Direito Processual Civil IV

Generalidades
Pronunciamentos judiciais (art. 203)
Art. 203. Os pronunciamentos do Juiz consistirão em sentenças, decisões
interlocutórias e despachos

§1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais,


sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos
arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como
extingue a execução.

§2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza


decisória que não se enquadre no §1º.

§3º São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no


processo, de ofício ou a requerimento da parte.

§4º Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória,


independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e
revistos pelo juiz quando necessário.

Para o entendimento da sistemática recursal brasileira é


imprescindível a definição dos pronunciamentos judiciais de
natureza decisória, também chamados genericamente de decisões,
sejam elas proferidas em primeiro ou segundo grau de jurisdição.

Desse modo, as decisões judiciais em 1ª instância, são


classificadas em sentenças e decisões interlocutórias (§§1º e 2º do
art. 203). Os despachos, também denominados como “de mero
expediente” e os atos ordinatórios, por não terem conteúdo
decisório, não são recorríveis.

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Em 2º grau de jurisdição, em regra, os acórdãos são as decisões
proferidas pelos órgãos colegiados dos tribunais e também haverá
decisões monocráticas, que são aquelas proferidas
unipessoalmente pelo relator.

Conceito e características dos recursos (remédio jurídico


processual/reexame)

Os recursos são o remédio voluntário e idôneo, desenvolvido


dentro do mesmo processo que possibilita, a reforma, a
invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial
que se impugna.

A principal característica dos meios de impugnação é provocar o


reexame dos pronunciamentos judiciais decisórios, realizados por
órgãos jurisdicionais, em regra.

Recursos admissíveis
1º Grau: apelação (apelante e apelado); agravo de instrumento (agravante e
agravado).

2º Grau: recurso extraordinário; recurso especial e agravo interno.

AMBAS AS INSTÂNCIAS: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (EMBARGANTE E


EMBARGADO) - TEM A “VANTAGEM” DE INTERROMPER O PRAZO PARA OS
DEMAIS RECURSOS.

Os recursos, também denominados meios de impugnação das


decisões judiciais, podem ser classificados de acordo com o grau
de jurisdição no qual foi proferida a decisão impugnada.

Portanto, por esse método, temos o agravo de instrumento e a


apelação cabíveis em primeira instância.

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No 2º grau de jurisdição são cabíveis: o agravo interno, o recurso
especial e o recurso extraordinário.

Por fim, considerada sua finalidade específica, caberão embargos


de declaração em qualquer instância e contra qualquer decisão
judicial, desde que atendidos seus pressupostos específicos.

Pressupostos objetivos
1. CABIMENTO/ADEQUAÇÃO;

2. TEMPESTIVIDADE;

3. REGULARIDADE PROCEDIMENTAL;

4. AUSÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO OU FATO EXTINTIVO DO DIREITO DE


RECORRER (AUTOCOMPOSIÇÃO, POR EXEMPLO).

Os pressupostos objetivos são aqueles inerentes ao próprio


processo e verificáveis com a simples análise dos autos. São eles:
o cabimento/adequação - o recurso deve ser cabível contra
aquela decisão e adequado à finalidade pretendida pelo recorrente;
a tempestividade - interposição dentre (ou antes do prazo legal),a
regularidade procedimental - está relacionada à motivação,
forma e eventual preparo de recurso; e a ausência de fato
impeditivo ou fato extintivo do direito de recorrer - é um
pressuposto negativo, devendo inexistir um fato que obste o
conhecimento do recurso, tal como acordo entre as partes,
cumprimento voluntário da obrigação etc.

Pressupostos subjetivos
1. LEGITIMIDADE;

2. INTERESSE DE RECORRER.

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Os pressupostos subjetivos são aqueles inerentes à pessoa do
recorrente, que deve ostentar legitimidade para a interposição do
recurso, sendo que esta deriva, em regra, do fato de ser parte do
processo.

O outro requisito subjetivo é o interesse de recorrer, que é uma


consequência da sucumbência, ou seja, somente tem interesse
aquele cuja decisão lhe foi desfavorável, ainda que parcialmente.

Objetivos/Juízos

Tal como ocorre na 1ª instância, cujo objeto é o pedido formulado


pelo autor na petição inicial, o objeto do recurso é aquilo que
pretende o recorrente, por isso também denominado pedido
recursal. Também do mesmo modo, o julgamento do recurso
estava adstrito/limitado ao pedido formulado pelo recorrente.

Em grau recursal havia dois juízos, sendo o primeiro o juízo de


admissibilidadei, no qual é verificado o preenchimento de todos
os requisitos (objetos, subjetivos e específicos). Ultrapassado o
juízo de admissibilidade, o feito prosseguirá para seja jugado o
mérito do recurso, isto é, para que o recurso seja conhecido.

Legitimação e Tempestividade

O pressuposto subjetivo da legitimação para recorrer decorre da


sucumbência, de modo que a parte poderá impugnar a decisão
judicial por meio do recurso desde que tenha sido vencida, ainda
que a decisão tenha sido desfavorável em mínima parte.

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Expecionalmente terão legitimidade para recorrer o Ministério
Público e o 3º prejudicado (Art. 996), que é aquele que poderia ter
intervindo como assistente (Arts. 119 a 124) na fase de
conhecimento.

Art. 996 - O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro
prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem
jurídica.

Art. 119 - Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro


juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá
intervir no processo para assisti-la.

PU - A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus


de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre.

Art. 120 - Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido do


assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar.

PU - Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para


intervir, o juíz decidirá o incidente, sem suspensão do processo.

Art. 121 - O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá
os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o
assistido.

PU - Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente


será considerado seu substituto processual.

Art. 122 - A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a
procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda
a ção ou transija sobre direitos controvertidos.

Art. 123 - Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o


assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão,
salvo se alegar e provar que:

I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos


do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na

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sentença;

II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido,


por dolo ou culpa, não se valeu.

Art. 124 - Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a


senteça influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.

Reformatio in pejus

Além do princípio da unirrecorribilidade, há também o princípio


segundo o qual é vedado reformar a decisão recorrida para piorar a
situação jurídica do recorrente, o que não se aplica quando
também houver recurso da parte contrária.

Efeitos dos Recursos


Devolutivo

Todos os recursos terão efeito devolutivo, uma vez que reabre-se a


oportunidade para nova manifestação judicial sobre a questão já
decidida, isto é, o recurso devolve a tutela jurisdicional
materializada pela decisão judicial para reexame.

Suspensivo (Art. 995)

De caráter excepcional, o efeito suspensivo é aquele que impede a


eficácia da decisão recorrida enquanto não julgado o recurso
interposto. Resumidamente, o recurso dotado de efeito suspensivo
impedirá a exigibilidade de obrigação eventualmente constante da
decisão impugnada.

Art. 995 - Os recursos não impedem a eficácia, salvo disposição legal ou decisão
judicial em sentido diverso.

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PU - A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator,
se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do
recurso.

Recurso Adesivo
Art. 997 - Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com
observância das exigências legais.

§1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá
aderir o outro;

§2 O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe


aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e
julgamento no tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o
seguinte:

I - Será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora


interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder;

II - Será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso


especial;

III - Não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for


ele considerado inadmissível.

Nos casos de sucumbência recíproca (parcial procedência da


ação), a parte que não recorreu no prazo legal, poderá aderir ao
recurso interposto pela parte contrária, no prazo que tem para
responder aquele recurso. Portanto, a parte apresentará
contrarrazões, e, paralelamente, apresentará as razões de seu
recurso, que será processado em caráter acessório.

Recorrer adesivamente é uma forma de apresentar o recurso em


espécie, sendo cabível apenas nos casos de apelação, recurso
especial e recurso extraordinário e tendo em vista seu caráter

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acessório, não será conhecido na hipótese do não conhecimento
do recurso principal (interposto ela parte contrária).

Recurso em espécie
Art. 1.009 - Da sentença cabe apelação.

§1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito


não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem
ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a
decisão final, ou nas contrarrazões.
§ 2º Se as questões referidas no §1º forem suscitadas em contrarrazões, o
recorrente será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito
delas.
§3º O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões
mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença.

Art. 1.010 - A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau,
conterá:

I - Os nomes e a qualificação das partes;

II - A exposição do fato e do direito;

III - As razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;

IV - O pedido de nova decisão.

§1º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15


(quinze) dias.
§2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para
apresentar contrarrazões.

§3º Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao


tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.

Art. 1.011 - Recebido o recurso de apelação no tribunal e distribuído


imediatamente, o relator:

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I - Decidi-lo-á monocraticamente apenas nas hipóteses do art. 932, inciso III a
V;

II - Se não for o caso de decisão monocrática, elaborará seu voto para


julgamento do recurso pelo órgão colegiado.

Art. 1.012 - A apelação terá efeito suspensivo:


§1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos
imediatamente após a sua publicação a sentença que:

I - Homologa divisão ou demarcação de terras;

II - Condena a pagar alimentos;

III - Extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos


do executado;

IV - Julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;

V - Confirma, concede ou revoga tutela provisória;

VI - Decreta a interdição.

§2º Nos casos do §1º, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento


provisório depois de publicada a sentença.
§3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do §1º poderá ser
formulado por requerimento dirigido ao:

I - Reformar a sentença fundada no art. 485;

II - Decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do pedido ou da causa de pedir;

III - Constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que


poderá julgá-lo;

IV - Decretar a nulidade de sentença por volta de fundamentação.

§4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o


tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem
determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau.

§5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é


impugnável na apelação.

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Art. 1.014 - As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser
suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de
força maior.

Apelação (arts. 1009 a 1014)


Conceito/Limitação

O recurso de apelação é o cabível contra a sentença (Art. 203,


§1º), independentemente dela ter apreciado o mérito (Art. 487) ou
não (Art. 485), cujo objetivo é a reforma, total ou parcial, da
decisão recorrida, ou mesmo ainda sua invalidação ou anulação.

Tal como ocorre na 1ª instância (princípio da adstrição) a apelação


limitará o tribunal de acordo com o pedido formulado pelo apelante,
ou seja, naquilo que a parte não manifestar o desejo de reforma
não incidirá a manifestação do tribunal.

Interposição/Requisitos
Art. 1.010 - A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau,
conterá:

I - Os nomes e a qualificação das partes;

II - A exposição do fato e do direito;

III - As razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;

IV - O pedido de nova decisão.

§1º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15


(quinze) dias.

§2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juízo intimará o apelante para


apresentar contrarrazões.
§3º Após as formalidades previstas nos §§1º e 2º, os autos serão remetidos ao
tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.

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O recurso de apelação será interposto junto ao juízo de primeiro
grau, o qual proferiu a sentença impugnada, sobretudo porque os
autos do processo se encontram na primeira instância.

A apelação deverá conter os requisitos elencados nos incisos do


artigo 1.010, dentre os quais podemos destacar as razões
recursais do apelante para a reforma ou decretação de nulidade do
julgado, bem como sua conclusão, que é o pedido formulado em
sede recursal.

Objetos (matéria de fato e de direito) e efeitos

O recurso de apelação admite amplo espectro de discussão pois


permite provocar o reexame de todas as matérias tratadas na
sentença, sejam elas de fato ou de direito. Portanto, o objeto da
apelação admite o reexame de todas as questões suscitadas e
discutidas no processo (Art. 1.013).

Art. 1.013 - A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria


impugnada.

§1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as


questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido
solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado.

§2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher


apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
§3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve
decidir desde logo o mérito quando:

I - Reformar a sentença fundada no art. 485;

II - Decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do pedido ou da causa de pedir;

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III - Constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que
poderá julgá-lo;

IV - Decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

Embora a regra geral dos recursos estabeleça que estes não


tenham efeito suspensivo (Art. 995), a norma específica do recurso
de apelação prevê que este terá o duplo efeito, ou seja, devolutivo
e suspensivo (Art. 1.012, caput). Contudo, haverá hipóteses
excepcionais nas quais a apelação será recebida apenas no efeito
devolutivo (§1º, art. 1.012).

Preliminares
Art. 1.009 - Da sentença cabe apelação.

§1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito


não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem
ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a
decisão final, ou nas contrarrazões.

Das decisões interlocutórias caberá, em regra, o recurso de


agravo de instrumento, desde que o conteúdo da decisão se
enquadre em alguma das hipóteses do artigo 1.015, ou seja,
proferida no processo mencionado em seu parágrafo único.

Procedimento/Prazo (Art. 1003, §5º)

Para a interposição de recurso de apelação, o procedimento a ser


adotado é aquele previsto no artigo 1.010, ou seja, deve ser
apresentado por meio de petição de interposição endereçada ao
juízo de 1º grau que proferiu a sentença impugnada. Tal petição
será acompanhada das razões recursais (peça anexa), devendo
ainda conter os requisitos previstos nos incisos do citado artigo.

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Ao receber a apelação, o juiz abrirá prazo para que o recorrido
apresente contrarrazões, sendo que o prazo para recorrer e para
responder ao recurso é de 15 dias (Art. 1.003, §5º).

Ultrapassado o prazo para a apresentação de contrarrazões, com


ou em elas, o juiz remeterá os autos ao tribunal, a quem cabe, por
meio do desembargador - relator, proferir o juízo de admissibilidade
(§3º, art. 1010), ou seja, verificará o preenchimento dos requisitos
do recurso, notadamente a tempestividade, a regularidade
procedimental e o recolhimento do preparo.

Julgamento imediato do recurso

Haverá hipóteses excepcionais nas quais o recurso de apelação


será julgado improvido já no despacho inicial do relator, sobretudo
nos casos em que houver flagrante nulidade ou omissão no
julgado.

Agravo de instrumento (Arts. 1.015 - 1.020)


Art. 1.015 - Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:

I - Tutelas provisórias;

II - Mérito do processo;

III - Rejeição de alegação de convenção de arbitragem;

IV - Incidente de desconsideração de personalidade jurídica;

V - Rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de


sua revogação;

VI - Exibição ou posse de documento ou coisa;

VII - Exclusão de litisconsorte;

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VIII - Rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;

IX - Admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X - Concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos


embargos à execução;

XI - Redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §1º;

XIII - Outros casos expressamente referidos em lei.

Conceito

Considerando que das decisões interlocutórias podem caber dos


meios de impugnação, conforme seu conteúdo e sendo a finalidade
infringente, as espécies de decisões interlocutórias elencadas no
art. 1.015 desafiam o recurso de agravo de instrumento.

Portanto, o agravo de instrumento é o recurso cabível contra as


decisões interlocutórias de natureza essencial e/ou urgente. Como
vimos, das demais decisões interlocutórias cabem impugnação por
meio de preliminar de apelação.

Cabimento

Dentre as decisões interlocutórias agraváveis, podemos destacar


aquelas referentes as tutelas provisórias (Arts. 294 a 311),
concedendo-as ou negando-as; a decisão parcial de mérito (art.
356) e assemelhadas; os referentes a gratuidade judicial, etc.

Também merece destaque o fato de que todas as decisões


interlocutórias proferidas em liquidação de sentença, cumprimento

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de sentença, processo de execução e em processo de inventário
sempre serão agraváveis, com exceção da decisão que extingue a
execução (Art. 203, §1º).

Procedimento

Diferentemente da apelação, o recurso de agravo de instrumento


será interposto diretamente no tribunal ao qual caberá o julgamento
do recurso.

O agravo de instrumento será apresentado por petição endereçada


ao presidente ou vice-presidente do tribunal competente, devendo
estar preenchidos os requisitos do artigo 1.016.

Embora não haja disposição expressa, poderá o relator do recurso


de agravo abrir prazo para que o agravado apresente
contrarrazões.

Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal


competente, por meio de petição com os seguintes requisitos:

I - Os nomes das partes;

II - A exposição do fato e do direito;

III - As razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio


pedido;

IV - O nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo.

Documentos e informações (obrigatórios e facultativos)

O artigo 1.017 enumera quais são os documentos obrigatórios que


devem ser juntados, instruindo a petição de Agravo de Instrumento,
que é dirigida diretamente ao tribunal. Também há a possibilidade

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da juntada de outras peças do processo e ainda outros
documentos que não estejam nos autos.

Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:

I - Obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da


petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da
certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e
do agravado;

II - Com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no


inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade
pessoal;

III - Facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.

§1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas


e do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos
tribunais.
§2º No prazo do recurso, o agravo será interposto por:

I - Protocolo realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo;

II - Protocolo realizado na própria comarca, seção ou subseção judiciárias;

III - Postagem, sob registro, com aviso de recebimento;

IV - Transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei;

V - Outra forma prevista em lei.

§3º Na falta de cópia de qualquer peça ou no caso de algum vício que


comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o
disposto no artigo 932, PU.
§4º Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac-
símile ou similar, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo da
petição original.
§5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas
nos incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos

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que entender úteis para a compreensão da controvérsia.

O artigo 1.018 prevê a informação sobre a interposição do Agravo


de Instrumento, prestada pelo agravante ao juízo de 1° grau, com a
finalidade de permitir eventual decisão de retratação e também
para ciência da parte contrária. Tal prestação de informação é
obrigatória em se tratando de autos físicos, podendo gerar até
mesmo sua inadmissibilidade (parágrafos e 2° e 3° do artigo
1.018). Se os autos forem eletrônicos, essa informação é
facultativa.

Art. 1.018 O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de


cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição
e da relação dos documentos que instruíram o recurso.
§1º Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator
considerará prejudicado o agravo de instrumento;

§ 2º Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista


no caput, no prazo de 3 (três) a contar da interposição do agravo de instrumento;
§3º O descumprimento da exigência de que trata o §2º, desde que arguido e
provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.

Efeitos

O Agravo de Instrumento obedecerá a regra geral do artigo 995,


caput, do CPC, ou seja, será recebido apenas no efeito devolutivo,
motivo pelo qual a decisão agravada continuará a gerar efeitos.

Art. 995 - Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal
ou decisão judicial em sentido diverso.
PU - A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator,
se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou

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impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do
recurso.

Excepcionalmente, poderá o relator do agravo conferir-lhe efeito


suspensivo (inciso I, art. 1.019), desde que preenchidos os
requisitos preconizados pelo PU do artigo 995.

Art. 1.019 - Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído


imediatamente (...) o relator, no prazo de 5 (cinco) dias:
I - Poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão.

Outras hipóteses

Também cabe agravo dirigido ao STJ e ao STF para o caso de


denegação de seguimento (pelo presidente ou vice-presidente do
tribunal recorrido (STJ ou STF) de recurso especial ou recurso
extraordinário, respectivamente.

Agravo Interno

Antes também denominado agravo regimental (agravinho), o


agravo interno é o recurso cabível contra as decisões monocráticas
do relator, sendo que o seu procedimento obedecerá as regras
previstas no regimento interno daquele tribunal.

O agravo interno será conhecido pelo órgão colegiado (turma ou


câmara) ao qual pertence o relator.

Embargos de Declaração
Conceito/Cabimento

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Os embargos de declaração são o recurso destinado a corrigir
possível defeito da decisão judicial, pois seu objetivo é afastar
obscuridade, suprir omissão ou eliminar contradição existente no
julgado.

Tal recurso é cabível contra qualquer decisão judicial de qualquer


grau de jurisdição d deverá ser interposto antes de outro recurso
que tenha finalidade infringente.

Prazo e procedimento (art. 1.023)


Art. 1.023 - Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição
dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e
não se sujeitam a reparo.

Diferentemente do prazo geral dos demais recursos (15 dias), o


prazo para a oposição dos Embargos de Declaração é de 5 dias a
contar da intimação da decisão embargada, o que deve ser feito
em petição endereçada ao juiz ou relator (da turma ou câmara que
proferiu a decisão) ao qual caberá conhecer e julgar os Embargos.

Caso os Embargos eventualmente tenham potencial infringente


(ataca o mérito), o embargado será intimado para se manifestar no
prazo de 5 dias.

Efeito interruptivo (§2º, art. 1.023)

A interposição dos Embargos Declaratórios interrompe a contagem


do prazo para interposição dos demais recursos, o qual voltará a
contar de seu início a partir da intimação do julgamento dos
embargos.

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Em razão dessa característica específica, a interposição de
embargos declaratórios manifestamente protelatórios poderá
acarretar a penalização do embargante, com multa de até 2%
sobre o valor da causa e de até 10% no caso de sua reiteração
(§§2º a 4º do art. 1.026).

Por fim, seguindo a regra geral (art. 995) e também a previsão


expressa do caput do artigo 1.026, os Embargos de declaração
não terão efeito suspensivo.

2º Bimestre
Recursos para o Supremo Tribunal Federal (STF) e para
o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Função Constitucional

A Constituição Federal estabelece as funções dos órgãos


jurisdicionais de superposição, que estão acima das instâncias
ordinárias formadas pelos juízes de primeiro grau e pelos tribunais
de segundo grau. Portanto, cabe ao STJ proferir decisão em última
instância, sobre matéria de direito relacionada à legislação federal
infraconstitucional.

Ao STF, por outro lado, compete proferir decisões, em última


instância, sobre matéria de direito prevista na Constituição Federal
(e suas emendas).

Formas de Atuação (Arts. 102, I, II e III; 105, I, II, III da Constituição


Federal)

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Tanto o Superior Tribunal de Justiça quanto o Supremo Tribunal
Federal atuarão de três diferentes maneiras, conforme
estabelecido constitucionalmente:

A primeira forma forma de atuar é nos casos de sua competência originária, nos
quais o processo se inicia e se desenvolve diretamente na corte.

Também atuarão julgando demandas como segundo grau de jurisdição, por meio
do recurso ordinário.

Por fim, o STJ e o STF julgarão os recursos extremos, denominados Recurso


Especial e Recurso Extraordinário, respectivamente, nas causas cíveis e criminais
de sua competência, de acordo com o texto constitucional.

Recurso Especial - STJ (Art. 105, III da Constituição


Federal e 1.029 a 1.035 do CPC)
Finalidade

O recurso especial tem a função de manter a autoridade e a


unidade interpretativa da legislação federal, sendo cabível perante
o STJ a quem cabe a última palavra sobre tais matérias de direito.
Portanto, o STJ, em recurso especial, uniformiza o entendimento
de legislação federal que pode ser aplicada por todos os juízes
brasileiros.

Cabimento/Prazo

O REsp. deverá ser interposto no prazo de 15 dias a contar do


acórdão, proferido pelos Tribunais de Justiça ou pelos Tribunais
Regionais Federais. A finalidade de tal recurso é a revisão da
decisão impugnada para sua alteração/reforma e/ou para sua
anulação.

Direito Processual Civil IV 21


Pressupostos Principais

Além dos requisitos genéricos (objetivos e subjetivos) já estudados,


a válida interposição do recurso especial (REsp) dependerá de
quatro outros pressupostos que são:

A) Decisão recorrida deve ter sido proferida por tribunal;

B) Esgotamento dos recursos ordinários;

C) Deve ter havido o prequestionamento pelo tribunal recorrido, no acórdão;

D) O recurso somente poderá versar sobre matéria de direito.

Recurso Extraordinário (STF) - arts. 1.025 a 1.035 do


CPC
Finalidade

Tal como ocorre com o Recurso Especial em relação à legislação


infraconstitucional, a finalidade do Recurso Extraordinário é manter,
dentro do sistema federal e descentralização do poder judiciário, a
autonomia, a autoridade e a unidade interpretativa da Constituição
Federal.

Prazo e Procedimento

O prazo do Recurso Extraordinário também é de 15 dias, contudo,


é simultâneo ao prazo para a interposição do Recurso Especial, de
modo que, sendo cabíveis ambos os recursos contra um mesmo
acórdão, estes serão apresentados em petições distintas, porém
conjuntamente (”vai que cola”).

Direito Processual Civil IV 22


A petição de interposição do recurso será endereçada ao
presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido, que é aquele no
qual fora proferido o acórdão, cabendo a eles proferir o juízo de
admissibilidade. Em caso de denegação de segmento, caberá
agravo em Recurso Especial e Recurso Extraordinário (art. 1.042).

Na hipótese de admissão do recurso, os autos serão remetidos ao


tribunal competente após a concessão de prazo para
contrarrazões, sendo interpostos e admitidos ambos os recursos os
autos serão remetidos primeiramente ao Superior Tribunal de
Justiça para posteriormente migrarem ao Supremo Tribunal
Federal (art. 1.031), excetuadas as hipóteses de prejudicialidade
do Recurso Extraordinário (§1º, art. 1.031) e a remessa direta do
STJ ao STF e seu possível retorno (arts. 1.032 e 1.033).

Pressupostos específicos e repercussão geral

Da mesma forma que ocorre com o especial para a válida


interposição do recurso extraordinário é necessário o
preenchimento dos mesmos quatro requisitos específicos: decisão
de tribunal; esgotamento de recursos; pré-questionamento;
matéria exclusivamente de direito (nesse caso, constitucional).

No caso do recurso extraordinário também é imprescindível a


existência e a demonstração de repercussão geral, que se
caracteriza pela relevância e efeitos que extrapolam as partes do
processo, sob o ponto de vista econômico, social, político e jurídico
(art. 1.035).

Mandado de segurança

Direito Processual Civil IV 23


Noções Gerais (arts. 1º, 5º, 7º, 14, 18, 22, 22) Lei 12.016/2009

Conceito

É o remédio constitucional destinado a garantir direito líquido e


certo, contra abuso de autoridade ou ato ilegal, não protegido por
habeas corpus. Portanto, em resumo, o mandado de segurança é a
ação judicial prevista constitucionalmente e em lei especial,
promovida pelo particular contra o representante do poder público
(ou assemelhado), para correção de ilegalidade ou ato abusivo que
fira ou esteja na iminência de ferir direito líquido e certo.

Direito líquido e certo

O direito líquido e certo protegido pelo mandamus é aquele


demonstrado já na petição inicial, em razão de prova pré-
constituída, de modo que são os documentos e a argumentação do
impetrante imprescindíveis para o convencimento do magistrado
acerca de sua existência.

Caso o direito invocado não seja flagrante, evidente, e


suficientemente comprovado já na petição inicial, acarretará o
indeferimento da segurança, ao menos em caráter liminar.

Para alguns, o direito líquido e certo se assemelha ao requisito da


tutela de urgência denominado “probabilidade do direito” (art. 300),
bem como ao termo latino fumus boni iuris e periculum in mora.

Legitimidade

Terá legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança toda a


pessoa, física ou jurídica, que entender ter havido lesão (ou

Direito Processual Civil IV 24


ameaça) a direito líquido e certo devendo figurar no polo passivo
da demanda a autoridade apontada como coatora (personificada).

Particular (art. 1º, §1º, Lei 12.016/2009)

Embora o mandado de segurança não possa ser manejado contra


um particular, a Lei Especial estabelece exceções, admitindo-se a
impetração do mandado contra o particular, quando este estiver no
exercício do poder público, isto é, caberá mandado de segurança
contra aquele que, por concessão, autorização ou qualquer outro
meio de delegação, exercer atividade estatal.

Vedações

Haverá situações nas quais a própria legislação específica vedará


a interposição do mandado de segurança como nos atos de gestão
comercial ou empresarial (º2º, art. 1º), quando couber recurso
administrativo com efeito suspensivo e quando a decisão judicial
for recorrível ou já tiver transitado em julgado.

Procedimento
Propositura

O mandado de segurança deverá ser proposto com a observância


dos requisitos da lei processual (art. 319, CPC), devendo também
indicar a autoridade coatora, descrevendo e comprovando o direito
líquido e certo que foi lesado ou esteja na iminência de sê-lo. A
petição inicial deverá ser acompanhada de todas as provas
(documentais) necessárias à prova do fato.

Concessão Liminar

Direito Processual Civil IV 25


Considerando que o mandado de segurança será apreciado em
dois momentos, a concessão de liminar (ao início do processo)
dependerá do preenchimento dos requisitos de urgência e de
probabilidade ou plausibilidade do direito invocado, de modo que o
impetrante deverá demonstrar e comprovar o direito líquido e certo
e o perigo na demora que se caracteriza pela possibilidade da não
concessão da segurança causar danos irreparáveis ou de difícil e
incerta reparação caso o provimento jurisdicional somente seja
dado posteriormente.

Mérito/Conteúdo Probatório

Transcorrida a tramitação do mandado de segurança (apreciação


da liminar; notificação; informações; manifestação do Ministério
Público), este se findará com a sentença de mérito, na qual o
magistrado, apreciando todos os elementos trazidos aos autos
após o momento da liminar, confirmará ou revogará a segurança
antes concedida, podem também alterá-la ou mesmo conceder-lhe
apenas no julgamento de mérito.

Prazo Decadencial

Diferentemente do prazo prescricional, que é aquele que ocasiona


a perda do próprio direito (arts. 189 a 206 do CC), o prazo
decadencial a que alude o artigo 23 da Lei 12.016 está
relacionado a direito de ação, ou seja, pera que seja possível
impetrar o Mandado de Segurança, a ação deve ser proposta
dentro do prazo de 120 dias, contados da data da ciência do ato
impugnado.

Direito Processual Civil IV 26


Inventário e Partilha (arts. 610, 615 a 618 e 659)
Conceito

O processo de inventário é o meio pelo qual a herança é


transmitida aos herdeiros e sucessores, isto é, com a morte de
alguém que possui bens, denominado autor da herança decorre a
necessidade de um processo para a individualização dos bens e
direitos da herança, cujos quinhões, abatidas as dívidas, serão
transmitidos aos herdeiros (legítimos ou testamentários) e
sucessores. O procedimento de transmissão da herança também
poderá ocorrer extrajudicialmente, desde que obedecidos certos
requisitos.

Legitimidade/Inventariante

A legitimidade para abertura do processo de inventário é ampla,


embora haja uma primeira referência legal à pessoa que estiver na
posse e administração dos bens do espólio (art. 610). Contudo,
haverá legitimidade concorrente de várias outras pessoas,
conforme o rol estabelecido pelos incisos do artigo 616.

No inventário judicial, assim como no extrajudicial, haverá


nomeação de inventariante, que segue a ordem descrita no artigo
617, em regra. Cabe ao inventariante uma série de ações,
responsabilidades e direitos (arts. 618 e 619), dentre os quais
destacam-se a prestação de todas as informações necessárias ao
andamento e desfecho do processo do inventário e à
representação do espólio, ativa ou passivamente, em juízo ou fora
dele.

Direito Processual Civil IV 27


Partilha (arts. 647-658)

O objetivo maior do processo de inventário é a partilha, que se


constitui na atribuição dos quinhões aos herdeiros e sucessores,
sendo que a partilha somente ocorrerá após a quitação das dívidas
do espólio e do próprio autor da herança.

O documento que se extrai do processo de inventário é o formal de


partilha, que é constituído por cópias das primeiras peças do
processo, servindo para efetiva transmissão dos bens, junto aos
respectivos órgãos de registro, tais como o cartório de registro de
imóveis, o DETRAN etc.

Independentemente da expedição do formal de partilha, o


magistrado poderá conceder alvará, para que o inventariante aliene
algum bem ou levante determinada quantia, para fins de quitação
de débitos do próprio espólio, devendo posteriormente prestar
conta dessas ações.

Arrolamento (arts. 659 a 667)

O arrolamento é uma modalidade mais célere de inventário na qual


os atos processuais são resumidos e/ou condensados. Portanto, o
inventário é processado na modalidade de arrolamento, sendo
possível nos casos de herdeiro único quando a partilha for
amigável entre as partes capazes, e quando o valor do bem foi
inferior a 1.000 salários mínimos.

Extrajudicial (§§6º a 10º)

Direito Processual Civil IV 28


O inventário poderá ser realizado extrajudicialmente, por meio de
escritura pública lavrada por tabelião de notas, sendo que referido
documento terá os mesmos efeitos do formal de partilha, sendo
eficaz para a transferência da propriedade do de cujus aos seus
herdeiros e sucessores.

Para que seja possível o processamento do inventário extrajudicial


devem estar preenchidos dois requisitos legais: que haja
consenso entre as partes envolvidas sobre a partilha e o
próprio inventário e que todos sejam civilmente capazes. Além
de tais requisitos, o ato celebrado em cartório deve ser a presença
e assistência de advogado (único ou múltiplos), assim como no
divórcio.

Ações de Família
Aplicação (arts. 693 a 699)

O novo CPC estabelece normas que visam a cultura da


conciliação, dispondo, nos artigos 693 a 699, regras e diretrizes
cuja finalidade é a autocomposição das partes em litígio. Portanto,
tais regras não se aplicam às ações de família consensuais, sendo
que, não se chegado a um acordo entres as partes litigantes, o
processo retomará o seu curso normal, pelo procedimento comum,
de natureza contenciosa, isto é, com a oportunidade de
apresentação de contestação (art. 335) e demais atos do processo,
até que se chegue a uma sentença de mérito.

Divórcio
Conceito

Direito Processual Civil IV 29


O casamento somente se extingue com a morte ou com o divórcio,
embora a separação seja causa de extinção dos direitos e deveres
do casamento.

A união estável é a entidade familiar equiparada ao casamento,


protegida legal e constitucionalmente e seus efeitos são idênticos
aos do casamento (formal), entretanto sua extinção não poderá
ocorrer por meio do divórcio.

Consensual e Litigioso

O divórcio judicial pode ocorrer consensualmente, o que ocorre


quando as partes (cônjuges) apresentam-se em juízo pleiteando a
homologação de seu divórcio, o que pode acontecer por petição
conjunta e até mesmo em audiência. Do divórcio consensual
deverão constar as disposições enumeradas no artigo 731 do CPC.

Caso não haja consenso, qualquer dos cônjuges poderá iniciar a


ação de divórcio, por isso chamada de litigiosa ou contenciosa, o
que não impede que as partes a qualquer momento cheguem a um
acordo, o qual será objeto de sentença homologatória, tal como a
petição conjunta do divórcio consensual.

Extrajudicial

Tal como acontece com o inventário, o divórcio também pode ser


realizado extrajudicialmente, cujos requisitos são similares, ou seja,
além de constar as disposições enumeradas nos incisos do artigo
731, os cônjuges devem estar em consenso e não pode haver
interessados incapazes, sendo igualmente necessária a
assistência e participação de advogado.

Direito Processual Civil IV 30


Também a união estável poderá ser dissolvida (e reconhecida) por
escritura pública obedecidas as mesmas condições.

União Estável

Sendo a união estável equivalente ao casamento, na hipótese de


ruptura do vínculo, poderá ser promovida ação judicial para
dissolução da união estável, com todas as consequências
patrimoniais e familiares também inerentes ao divórcio. Caso não
haja prévia e formal constituição da união estável (escritura ou
instrumento particular), a ação será para reconhecimento e
dissolução da união estável.

Ação de alimentos (Lei 5.478/68)


Procedimento/Finalidade

Além dos procedimentos executivos relacionados aos alimentos já


estudados (arts. 528 e 911), a ação de alimentos é o procedimento
especial, regulado em legislação própria, cuja finalidade é a fixação
dos alimentos, devidos por força da filiação. Naquilo que a lei
especial for omissa, aplicar-se-ão as regras gerais (CPC), sendo
que a legitimidade ativa para essa ação é tanto do credor quanto
do devedor.

Alimentos provisórios e audiência

Mesmo que não haja pedido expresso do autor quanto aos


alimentos provisórios, a lei de regência estabelece que o
magistrado os fixe, havendo prova pré-constituída do vínculo
jurídico de filiação.

Direito Processual Civil IV 31


Também por força do procedimento especial, ao despachar a inicial
o juiz designará audiência, na qual será tentada a conciliação e, se
infrutífera, o réu apresentará defesa e se seguirá com a instrução
do feito.

Sentença/Critérios

Embora sempre seja possível a conciliação das partes, a fixação


dos alimentos deve obedecer aos critérios da necessidade do
credor e da possibilidade do devedor, também por isso
denominado binômio. Para alguns ainda se trata de um trinômio,
pois há a proporcionalidade que deve ser observada nessa
fixação.

Por fim, a sentença da ação de alimentos fixará os alimentos


definitivos, que serão devidos a partir da citação e que terá eficácia
imediata, mesmo com a interposição de apelação (art. 1.012, §1º,
inciso II).

Ação Revisional
O único procedimento especial previsto na lei de alimentos é
aquele da ação para fixação da pensão alimentícia, sendo a ação
revisional e a exoneratória regidas pelo procedimento comum.

A ação para revisão dos alimentos pode ser proposta tanto pelo
credor quanto pelo devedor da verba alimentada, cujo fundamento
é a alteração na situação econômica das partes, isto é, mudança
na necessidade e/ou possibilidade.

Direito Processual Civil IV 32


A legitimidade ativa é de ambos, sendo a consequência da
procedência da ação ou aumento ou diminuição da pensão
alimentícia, retroagindo à citação.

Ação de exoneração
Tendo em vista que a finalidade da ação de exoneração de
alimentos é desobrigar o devedor do pagamento da pensão, este
terá legitimidade ativa para promovê-la, sendo que o fundamento
dessa ação também se referirá ao binômio necessidade-
possibilidade.

Direito Processual Civil IV 33

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