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Aula 04

Direito Penal p/ Delegado de Polícia


2020 (Curso Regular)

Autor:
Michael Procopio
Aula 04

24 de Janeiro de 2020

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Michael Procopio
Aula 04

AULA 04

TEORIA GERAL DO CRIME: FATO TÍPICO E ILICITUDE

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SUMÁRIO
TEORIA GERAL DO CRIME: FATO TÍPICO E ILICITUDE ...................................................................... 1
SUMÁRIO ............................................................................................................................ 1
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................................. 3
2. RESULTADO ................................................................................................................... 3
3. NEXO CAUSAL ................................................................................................................ 5
3.1 TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES .......................................................................... 6
3.2 TEORIA DA ELIMINAÇÃO HIPOTÉTICA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS ................................................ 6
3.3 TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA ....................................................................................... 7
3.4 TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA ............................................................................................ 7
3.5 O NEXO CAUSAL E O DIREITO PENAL BRASILEIRO ....................................................................... 8
4. TIPICIDADE .................................................................................................................. 11
4.1 ESPÉCIES DE TIPICIDADE ....................................................................................................... 12
4.2 RELAÇÃO ENTRE TIPICIDADE E ILICITUDE .................................................................................. 14
5. ILICITUDE .................................................................................................................... 17
5.1 CONCEITO DE ILICITUDE ....................................................................................................... 17
5.2 INJUSTO PENAL .................................................................................................................. 18
5.3 ELEMENTOS DO INJUSTO PENAL............................................................................................. 19
6. CAUSAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE ................................................................................... 19
6.1 ESTADO DE NECESSIDADE ..................................................................................................... 20

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6.2 LEGÍTIMA DEFESA ............................................................................................................... 26


6.2.1 Classificações de legítima defesa................................................................. 27
6.3 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL.............................................................................. 30
6.4 EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO...................................................................................... 31
6.5 OFENDÍCULOS .................................................................................................................... 32
6.6 CAUSAS SUPRALEGAIS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE.................................................................... 32
6.7 EXCESSO PUNÍVEL............................................................................................................... 34
6.8 DESCRIMINANTES PUTATIVAS................................................................................................ 35
7. QUESTÕES ................................................................................................................... 36
7.1 LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS ................................................................................ 36
7.2 GABARITO ......................................................................................................................... 54
7.3 LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS................................................................................ 55
7.4 QUESTÃO DISSERTATIVA ...................................................................................................... 85
8. DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA ............................................................... 86
9. RESUMO ..................................................................................................................... 92
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 103

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Nesta aula, continuaremos o estudo da teoria geral do crime, com análise do resultado, do nexo
causal e da tipicidade, finalizando o substrato denominado fato típico. Na sequência,
adentraremos o substrato da ilicitude, sendo que o conteúdo abrangerá o conceito, a relação
entre tipicidade e ilicitude, as causas excludentes da ilicitude e o excesso punível. Teremos uma
aula que apresentará, como estrutura, os seguintes capítulos:

Resultado Nexo Causal Tipicidade

Causas Erro de
Ilicitude excludentes da proibição
ilicitude

Com essas matérias acima elencadas, encerraremos, ao final desta aula, os seguintes elementos
do crime: fato típico e ilicitude (também denominada antijuricidade). Para a teoria bipartida, já
teríamos visto todos os elementos para a configuração da infração penal. Entretanto, como se
adota, de forma majoritária, a teoria tripartida, falta, ainda, um substrato do conceito de crime
a ser visto na próxima aula, a culpabilidade.
Desejo mais uma ótima aula a todos! Espero que a continuidade do estudo da teoria do crime
deixe seu conceito e estrutura mais claros e continue provocando o seu interesse.
Antes de iniciar, mais uma vez, gostaria de deixar um convite: SIGA O PERFIL
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2. RESULTADO
De forma genérica, resultado é o que a conduta do agente produz. É o efeito ou a consequência da ação
ou omissão do sujeito ativo. De forma simples, resultado é o que o comportamento típico produz.
Mais especificamente, a doutrina possui duas teorias sobre o resultado:

 Teoria naturalística: o resultado é a modificação realizada no mundo exterior pela conduta,


comissiva ou omissiva, do agente. É o que a conduta produz no mundo dos fatos.
No caso do homicídio consumado, o resultado é a morte causada pelo agente.

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Tratar da teoria mais adotada para a doutrina. Segundo tal concepção, nem toda infração penal
possui resultado naturalístico.

 Teoria jurídica ou normativa: o resultado é a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico


tutelado pelo Direito Penal. Todo crime possui resultado jurídico, em razão do princípio da
ofensividade, segundo o qual só se pode considerar relevante para o Direito Penal a conduta
que cause significativa lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico.
No caso do homicídio consumado, por exemplo, o resultado, para a teoria normativa, é a lesão
à vida, bem jurídico que a norma visa a tutelar.

Nosso Código Penal, acerca do resultado, prevê o seguinte:


Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Nota-se que o Código Penal foi claro quanto à exigência de ocorrência de resultado para a existência
de crime. Como dito, de acordo com a teoria naturalística, nem todo crime possui resultado. Assim,
somente se compatibiliza perfeitamente com a legislação em vigor a teoria normativa, por preconizar
que todo crime possui resultado.
Para o professor Damásio de Jesus, o resultado pode ser físico, como seria o caso do crime de dano;
fisiológico, tal como ocorre no homicídio; ou psicológico, como nos crimes contra a honra.
Ainda que o Código Penal se adeque à teoria normativa, a teoria naturalística é muito usada pela
doutrina, especialmente porque possui grande utilidade no tocante à definição da possibilidade de
tentativa dos delitos.
Em decorrência da teoria naturalística, haverá crimes que produzem resultado naturalístico, crimes
que podem produzi-lo ou não e, por fim, crimes que jamais provocam modificação no mundo exterior.
Em razão disso, há a seguinte classificação das infrações penais:

 Crime material: é aquele que prevê a produção de resultado naturalístico, sem o qual o crime
não se consuma. Portanto, o resultado, consistente na produção de efeitos no mundo exterior,
é imprescindível para a consumação do delito. A conduta e o resultado são realizados em
momentos diferentes.
O exemplo típico é o homicídio, em que o resultado morte é essencial para que o crime se
considere consumado.

 Crime formal: é o que possui a previsão de resultado naturalístico, mas cuja produção é
irrelevante para a consumação do delito. Deste modo, o crime prevê um resultado possível, mas
sua ocorrência é indiferente para a sua consumação. Por isso, também é denominado de crime
de consumação antecipada, já que esta ocorre antes de eventual resultado. As normas penais
que preveem crimes formais contêm tipos incongruentes, assim chamados por prever que o
agente visa a um resultado que não é essencial para a definição dos limites entre o delito

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consumado e o tentado. Ou seja, o agente deve perseguir determinado resultado, mas usa
ocorrência é desnecessária para a consumação do delito.
O caso típico é o da extorsão mediante sequestro. Neste caso, a obtenção ou não do resgate
pelo sujeito ativo do delito não é relevante para configuração da consumação, pois o crime se
consuma com o sequestro da vítima. O que se exige para que exista o crime é a intenção de
obter vantagem com o sequestro, não a própria obtenção da vantagem.

 Crime de mera conduta: é aquele em que não se prevê a produção de resultado


naturalístico. Não há menção a qualquer resultado naturalístico na norma penal incriminadora.
Deste modo, não é possível que haja modificação no mundo exterior decorrente da conduta
típica realizada pelo agente.
São exemplos o crime de desobediência e de omissão de socorro.

Sob o critério da teoria normativa ou jurídica, os crimes são classificados segundo o resultado que
produzem:

 Crime de dano: é aquele que produz um resultado consistente na lesão ao bem jurídico.
Temos como exemplo o homicídio, o próprio crime de dano, o delito de lesão corporal etc.

 Crime de perigo: é aquele cuja ocorrência se verifica com a exposição do bem jurídico a um
perigo ou risco. São considerados subsidiários, já que, havendo a intenção do agente de praticar
um crime de dano, deve-se verificar, antes, se o delito de dano se configurou.
Os crimes de perigo se subdividem, conforme a necessidade ou não de se provar a efetiva
exposição do bem jurídico a um risco de dano:
_Crime de perigo abstrato: é aquele em que o legislador presumiu de modo absoluto a
ocorrência de perigo ao bem jurídico em determinada situação.
_Crime de perigo concreto: é aquele que, para se configurar, exige a demonstração de efetivo
risco de dano ao bem jurídico.

3. NEXO CAUSAL
Conceito: é a relação de causalidade entre a conduta e o resultado. É o vínculo ou elo físico, material
e natural que permite atribuir objetivamente o resultado ao comportamento do agente.
O nexo causal, no que se refere ao resultado naturalístico, é relevante apenas para os crimes materiais.
Nos crimes de mera conduta, não há resultado naturalístico. Nos crimes formais, o resultado é
irrelevante para a consumação, por se tratar de mero exaurimento do crime.
Nos crimes omissivos, o nexo causal é normativo, isto é, realizado com o intermédio de uma norma
que liga o resultado à conduta do agente, aquela que prevê o dever jurídico de agir.

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No caso de crime omissivo qualificado pelo resultado, como ocorre na omissão de socorro, é
imprescindível, entretanto, que se demonstre o nexo de causalidade entre a omissão e referido
resultado. O nexo etiológico, isto é, de causa e efeito, deve ser aferido entre o não impedimento do
resultado pelo agente e sua efetiva ocorrência. Assim ensina o Mestre Cezar Roberto Bitencourt.
Há diversas teorias para definição do nexo causal, entendido como o elo entre a conduta e o resultado
naturalístico. Estudemos cada uma das teorias na sequência.

3.1 TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES

Segundo a teoria da equivalência dos antecedentes, todo e qualquer fator que tenha contribuído para
o resultado deve ser considerado sua causa. A não ocorrência de qualquer dos fatores levaria à não
produção do resultado.
Possui conexão com a teoria da conditio sine qua non, pensada pelo filósofo utilitarista Stuart Mill.
Segundo tal teoria, um antecedente deve ser considerado causa de algo quando, sem sua ocorrência,
o resultado não seria produzido.
Referida teoria, da equivalência dos antecedentes, não estabelece diferença entre causa, condição e
concausa.
Uma crítica que foi feita em relação a tal teoria seria a possibilidade de se fazer o regressus ad infinitum,
isto é, de se buscar os antecedentes de forma infindável, inclusive antes do nascimento do agente.
Deste modo, a atitude dos pais de resolverem ter um filho seria um antecedente.
Foi elaborada pelo jurista Maximilian Von Buri.

3.2 TEORIA DA ELIMINAÇÃO HIPOTÉTICA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS

A teoria da eliminação hipotética dos antecedentes causais preconiza que causa é todo fato que, se for
eliminado no campo da suposição, leva à exclusão do resultado. Deste modo, caso se queira descobrir
se determinado antecedente é considerado causa do resultado, basta proceder à sua eliminação
hipotética e verificar se, mesmo assim, o resultado ocorreria. Se o resultado não ocorreria sem referido
antecedente, este deve ser considerado sua causa.
Assim como a teoria anterior, a questão é o ilimitado regresso, já que todo antecedente cuja eliminação
hipotética exclua o resultado seria considerado sua causa. Como consequência, os antecedentes
causais seriam ilimitados. Notem que a teoria da equivalência dos antecedentes causais e a teoria da
eliminação dos antecedentes causais possuem as mesmas bases e os mesmos efeitos, sendo aqui
separadas apenas para efeitos didáticos.
O professor sueco Johan Thyrén foi o responsável por sua elaboração.
A aplicação conjunta das teorias da equivalência dos antecedentes causais e da eliminação hipotética
geraria a denominada causalidade objetiva ou efetiva do resultado. Somente a causalidade psíquica,
entretanto, impede com que o regresso seja eterno, por considerar todos os antecedentes que como
causas do resultado provocado.

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3.3 TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA

A teoria da causalidade adequada determina que só deve ser considerada causa a condição que seja
idônea para produzir o resultado. Não basta que o antecedente seja uma conditio sine qua non, ou seja,
que, sem sua ocorrência, o resultado não ocorra. É necessário que o antecedente possua idoneidade
para a produção do resultado.
Exigem-se, deste modo, contribuição causal e idoneidade individual mínima. Não basta que o
antecedente seja um daqueles que, se eliminados, o resultado não ocorreria. É necessário que se
analise se o antecedente realmente possui idoneidade para a produção do resultado.
Imaginem o ato de amor dos pais que fez nascer uma pessoa que, quando maior de idade, briga com
alguém no trânsito e pratica um homicídio. O ato dos pais – ter um filho – não é um antecedente idôneo
a provocar a morte de alguém anos depois. Deste modo, os antecedentes causais ficam limitados
àqueles que possuam capacidade de efetivamente causar o resultado.
Entretanto, critica-se essa teoria em razão de eliminar o nexo causal e, portanto, a imputação causal
em casos de mínima probabilidade de a conduta do agente produzir o resultado.
Seria o caso, por exemplo, do sujeito que, em uma brincadeira com um amigo do trabalho, joga-o na
piscina muito rasa. Ocorre que o indivíduo possui uma doença raríssima, denominada urticária
aquagênica, que causa reação no contato à água. Ele leva a vítima ao hospital e, sem saber sobre os
medicamentos que ela usa, acompanha-a no tratamento e ela recebe um remédio cujo princípio ativo
reage com outro que tomava, por outro problema de saúde. Com isso, a vítima sofre uma reação e
falece. Percebam que, apesar de ser o responsável pela conduta, por seu comportamento culposo, sua
ação pode ser considerada inidônea para a produção do resultado já que, nas circunstâncias do caso,
era impossível que o sujeito se afogasse ou se lesionasse pela forma como foi lançado à piscina rasa.
Desta forma, não seria possível sua punição de acordo com a teoria da causalidade adequada.
Imaginem também um indivíduo que dirige seu carro sem verificar se os pneus já estão gastos. Naquele
dia, cai uma chuva inesperada e acima do previsto, tendo havido, ainda, um derramamento de produto
escorregadio na pista de rolamento. Ademais, havia obras na pista, sendo que os fortes ventos levaram
para o acostamento os cones de sinalização. Neste mesmo momento, um indivíduo prende seu pé no
buraco feito para conserto do asfalto, o que motiva o atropelamento, já que o veículo freia de forma
inadequada e mais lenta pelo estado de conservação dos pneus. O choque não é tão forte, mas o sujeito
possui hemofilia e, por isso, acaba por falecer, já que a ambulância, única da região, estava socorrendo
outro sujeito e demora chegar ao local. Ainda que muito específico, o exemplo demonstra que a
conduta do agente, que dirigia em velocidade reduzida, não se mostra idôneo, a princípio, para a
produção do resultado. Segundo os ensinamentos da teoria da causalidade adequada, a doutrina
aponta que não seria possível a responsabilização do agente por seu comportamento culposo.
Foi elaborada pelo professor alemão Johannes von Kries

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA


A teoria da imputação objetiva busca dar ao nexo causal um conteúdo jurídico, e não só naturalístico.
Não basta analisar o antecedente no modo das ciências exatas, da lei de causa e efeito. Deste modo, a

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análise dos antecedentes causais não deve se limitar a verificar se o antecedente foi necessário para a
produção do resultado, em razão de este não ocorrer em caso de o antecedente ser eliminado, por
hipótese. É imprescindível que se analise também o conteúdo jurídico do antecedente.
Deste modo, o fato típico depende de:
 Imputação objetiva: análise da causalidade naturalística, de que o antecedente seja causa
do resultado. Cuida-se de uma análise de causa e efeito.
 Imputação subjetiva: verificação sobre a existência do dolo ou da culpa, imprescindível à
consideração de que um antecedente é causa efetiva do resultado.
Exige-se, de todo modo, que a conduta crie um risco proibido para a produção do resultado. Não é todo
risco que enseja a responsabilidade penal, sendo que o fato de o sujeito presentear seu inimigo com
uma experiência de bungee jumping. Mesmo que se trate de um esporte radical e perigoso, seu
eventual falecimento, em decorrência da prática esportiva, não pode ensejar a responsabilização do
sujeito por sua conduta. Ele não seria responsável mesmo que tivesse desejado que a corda se
rompesse. Isto porque o risco de referida atividade esportiva é permitida socialmente, o que afasta a
imputação do resultado ao sujeito.
Em razão do exposto acima, só pode ser imputado a alguém o resultado que esteja na linha de
desdobramento normal da sua conduta, não sendo possível a responsabilização penal por um
comportamento socialmente aceito como permitido. Não se pode imaginar que um indivíduo receba
uma sanção penal por ter espirrado e, assim passado uma enfermidade para outrem, sem que tenha
feito nada fora do habitual.
Referida teoria foi formulado pelo jurista e filósofo alemão Karl Larenz.
A identificação do risco, segundo entendimento amplamente adotado pela doutrina, deve ocorrer por
meio de prognose póstuma objetiva. É um juízo de prognose, porque leva em conta o conhecimento
que o agente podia ter à época da conduta. É póstumo, porque é realizado pelo juiz, depois de a
conduta já ter sido praticada e ter sido possível analisar se o risco veio ou não a se concretizar. Por fim,
é objetiva porque leva em conta os dados conhecidos do ponto de vista de um comportamento de um
homem prudente, e não subjetiva, feita com base em critério pessoal do julgador quanto à assunção
do risco.

3.4 O NEXO CAUSAL E O DIREITO PENAL BRASILEIRO

O Código Penal, em relação ao nexo causal, prevê o seguinte, no caput seu artigo 13:
“O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.”

Percebe-se, da leitura do artigo 13 do Código Penal, que houve a adoção da teoria da equivalência das
condições. Sua base é a chamada regra da conditio sine qua non, isto é, deve ser considerada causa
aquele comportamento (comissivo ou omissivo) cuja ausência implicaria na não produção do resultado.

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Percebam que, conforme destacado no estudo da teoria da equivalência das condições, a adoção da
literalidade da norma levaria ao regressus ad infinitum. Poder-se-ia considerar, deste modo, que
haveria relação de causalidade entre o latrocínio e a conduta do fabricante da arma de fogo, já que,
sem ela, o agente não teria acesso à arma de fogo e, deste modo, não poderia ter disparado os projéteis
em direção à vítima de sua subtração.

Concausas
É possível que mais de uma causa auxilie na produção do resultado, bem como que uma concausa o
produza de forma total e absolutamente independente. Concausas, portanto, são antecedentes causais
de um mesmo resultado, são comportamentos cuja não ocorrência eliminaria o resultado.
Essas condições podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes, conforme a ordem
cronológica de sua ocorrência. A concausa pode ocorrer, em relação ao comportamento do agente
(ação ou omissão), antes, ao mesmo tempo ou depois.
Podem ser, ainda, absolutamente ou relativamente independentes:

 Absolutamente independentes: a causa do resultado não se origina, direta ou indiretamente,


da conduta. Possuem origem totalmente diversa. Rompem o nexo causal.
É o caso do sujeito que envenena sua sogra para se vingar dela. Entretanto, ao deixá-la bebendo
o café que preparou, cheio de estricnina, entra a vizinha dela, também sua inimiga, e dispara
cinco tiros de fuzil em sua direção, provocando sua morte instantânea. Percebam que a
concausa (os tiros de fuzil e os ferimentos por ele causados) são absolutamente independentes
do comportamento do agente (envenenamento). Tendo sido preparado ou não o café com
substância venenosa, a vizinha entraria para matar sua inimiga, por uma briga com relação à
cerca divisória das casas. Por isso, sua independência é absoluta. Um antecedente não
dependia do outro para ocorrer. Por isso, o nexo causal sempre é rompido, devendo o agente
responder pelos atos que já praticou. No caso do sujeito que aplicou veneno no café, deve
responder pela tentativa de homicídio, não podendo lhe ser imputado o resultado morte.

 Relativamente independentes: a causa do resultado não se situa na linha de desdobramento


causal da conduta. Entretanto, origina-se, mesmo que indiretamente, da conduta do agente.
É o caso do sujeito que é esfaqueado por outro, após uma partida de futebol, por
desentendimentos sobre a marcação ou não de um gol. A vítima é socorrida, mas, no hospital,
tem complicações, decorrentes de uma infecção hospitalar, e morre. A concausa (infecção
hospitalar) não é totalmente independente do antecedente, o comportamento do agente (os
golpes de faca). O indivíduo só foi parar no hospital e necessitou ser internado porque foi
lesionado pelo sujeito ativo. Deste modo, um antecedente dependeu do outro para ocorrer. Se
ele tivesse saído da partida de futebol e ido para casa jantar com sua esposa, não teria ido ao
hospital e, assim, contraído a infecção. Portanto, temos uma causa relativamente
independente que, em regra, não rompe o nexo causal.
No nosso exemplo dado, o sujeito deve responder pelo crime de homicídio consumado, já que
a concausa era apenas relativamente independente.

O parágrafo primeiro do artigo 13, do Código Penal, estipula o seguinte a respeito das concausas:

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A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu
o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

Existe, portanto, uma possibilidade de uma causa relativamente independente romper o nexo causal,
excluindo a imputação. Ela deve:
 Ser superveniente;
 Produzir por si só o resultado.
Imaginemos um sujeito que foi ferido em uma briga de bar e, por isso, está em uma ambulância. No
caminho para o hospital, cai um meteoro e destrói a ambulância, provocando sua morte. Apesar de
exagerado, o exemplo quer mostrar que a queda de um meteoro não estava na linha natural de
acontecimentos e, por isso, essa concausa rompe o nexo causal e produz, sozinha, o resultado. Mesmo
assim, devemos perceber que não é absolutamente independente, já que o sujeito só estava na
ambulância em razão de ter sido ferido na briga. A concausa é superveniente, pois ocorreu depois.
Entretanto, a concausa rompe o nexo causal, por não estar na linha de desdobramento da conduta, não
sendo sequer previsível que a ambulância pudesse ser atingida por algo vindo do espaço. Rompido o
nexo causal, cuida-se de hipótese em que, mesmo sendo a concausa relativamente independente, o
sujeito responde apenas pela tentativa de homicídio, e não pelo resultado morte.
Vejamos as diferenças entre as concausas e a possibilidade de responsabilização pelo resultado no
quadro abaixo:

Causas Espécie Responsabilização

Absolutamente Preexistente Rompem o nexo causal. O


Independentes agente responde somente
Concomitante pelos atos que praticou.

Superveniente

Relativamente Preexistente Não rompem o nexo


Independentes causal. O agente responde
Concomitante pelo resultado provocado.

Superveniente Que não produz o


resultado por si só
(soma de energias)

Que por si só não Rompe o nexo causal


produz o resultado

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(novo nexo de
causalisdade)

Logo, a causa absolutamente independente sempre rompe o nexo causal. No caso das concausas
relativamente independentes, só haverá o rompimento do nexo causal se ela for superveniente e
produzir, por si só o resultado. Deste modo, o agente não responde pelo resultado, respondendo,
entretanto, pela tentativa.

(MP-SC/MP-SC/Promotor de Justiça/2016)
O Código Penal, ao tratar da relação de causalidade, consignou que a superveniência de causa
relativamente independente somente afasta a imputação quando, por si só, produziu o resultado,
excluindo outras considerações quanto aos fatos anteriores ocorridos.
( ) Certo ( ) Errado
Comentários
A alternativa está ERRADA.
Quando trata da relação de causalidade e consigna que a causa superveniente, que seja relativamente
independente, só afasta a imputação quando por si só produz o resultado, está correta.
Entretanto, ao tratar dos fatos anteriores praticados, a questão está incorreta. Isto porque o Código
Penal não deixa a questão sem regulamentação, mas sim prevê, no parágrafo primeiro do seu artigo
13, que os fatos anteriores devem ser imputados a quem os praticou.

4. TIPICIDADE
Tipicidade é o enquadramento ou a sobreposição total de uma conduta praticada no mundo dos fatos
ao tipo legal, molde descritivo da lei penal. Ou seja, há uma conduta praticada no mundo dos fatos, na
vida real. De outro lado, existe uma hipótese de incidência na lei penal incriminadora, chamado de tipo
penal. O encaixe ou a subsunção entre os fatos e o tipo penal consiste na tipicidade.
Parte da doutrina diferencia tipicidade e adequação típica:
 Tipicidade, em princípio, seria a análise de correspondência formal entre a conduta e o tipo
penal. Analisaremos que há mais de um conceito de tipicidade, mas, de forma introdutória,
podemos adotar este.

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 Adequação típica seria uma análise mais aprofundada, passando pela subsunção formal e
fazendo análise da vontade ou da finalidade do agente.

4.1 ESPÉCIES DE TIPICIDADE

Como já dito, a doutrina diverge sobre a conceituação de tipicidade, qual a correspondência deve haver
entre o fato da realidade e a lei penal incriminadora para sua configuração.

Vejamos as correntes sobre o assunto:

 Doutrina Tradicional: tipicidade consiste na subsunção do fato ao tipo penal. É como um


encaixe de uma peça do brinquedo ®Lego, basta a correspondência formal entre o tipo penal e
a conduta do agente, os fatos da realidade. É chamada de tipicidade formal.

 Doutrina Moderna: a tipicidade possui um aspecto formal e um material. A tipicidade formal


é a subsunção entre os fatos da realidade e o tipo penal previsto na lei penal incriminadora. A
tipicidade material consiste em um juízo de valor, referente à relevância da lesão ou ameaça de
lesão.
Como estudamos na aula sobre princípios, o princípio da insignificância ou da bagatela própria
afasta a tipicidade material, quando a conduta acarreta lesão ou ameaça de lesão ao bem
jurídico sem relevância alguma.
Portanto, para essa teoria, mais atual, só é típico o fato que apresenta tipicidade formal e
tipicidade material, de forma concomitante.

 Teoria da Tipicidade Conglobante: esta teoria, elaborada pelo jurista Eugenio Raul
Zaffaroni, entende que o fato típico engloba a tipicidade formal, a tipicidade material e a
antinormatividade do fato. Não basta que haja a tipicidade formal (subsunção do fato à norma)
e a tipicidade material (relevância da lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico). É necessário
que o fato praticado contrarie o ordenamento típico como um todo. O eminente Zaffaroni
defende que, se um fato for permitido ou incentivado pelo ordenamento jurídico, mesmo que
por lei não penal, não pode ser considerado, ao mesmo tempo, como típico. A conduta do
agente não pode ser, por um lado, incentivada ou permitida por um ramo do Direito e, de outro,
considerada típica. Esta teoria busca uniformizar o Direito Penal e, além disso, o próprio
ordenamento jurídico como um todo.
Deste modo, as causas de exclusão da ilicitude referentes ao estrito cumprimento do dever
legal, ao exercício regular do direito e ao consentimento do ofendido deixam de integrar a
tipicidade formal, passando a se localizar no âmbito da antinomatividade. Sendo assim, temos
um esvaziamento do elemento ilicitude para apenas constar, como suas excludentes, a
legítima defesa e o estado de necessidade.
Deste modo, uma lesão praticada em uma luta de boxe, dentro das regras da competição,
sequer seria típica, já que o esporte é permitido. Não cabe pensar em ilicitude nem mesmo
analisar a culpabilidade. Assim, sequer chegaríamos à análise sobre a prática esportiva consistir

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em exercício regular de um direito, já que, de plano, a conduta não poderia ser considerada
típica.

Vistas as teorias acima, concluímos que todas elas passam pela tipicidade formal, seja como suficiente
para a configuração da tipicidade (teoria tradicional), seja como uma das etapas para se constatar a
tipicidade (teoria moderna e teoria da tipicidade conglobante). Cabe, então, estudarmos que a
tipicidade formal pode ser imediata (direta) ou ser mediata (indireta):
A tipicidade será imediata ou direta quando não depender de outra norma para sua configuração. Por
outro lado, a tipicidade será mediata ou indireta quando depender de uma norma de extensão, sem
a qual não há subsunção entre o fato e o tipo penal.

As normas de extensão são as seguintes:

Extensão temporal: a norma de extensão temporal diz respeito ao iter criminis. Sem a norma
de extensão, não haveria tipicidade em razão de não se ter atingido a consumação do crime. É
o caso dos crimes tentados, cuja norma de extensão está no artigo 14, inciso II, e parágrafo
único, do Código Penal:
Art. 14 - Diz-se o crime:
(...)
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
Imaginem o caso do sujeito que tenta praticar lesões corporais em um colega de trabalho, mas,
quando levanta um pedaço de madeira para acertá-lo, é impedido por outro. Por ser o tipo penal
“ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”, o sujeito não praticou o delito de lesões
corporais. Não há tipicidade. Entretanto, se uma outra norma penal previr que é punível a
tentativa, esta norma de extensão possibilita a tipicidade da conduta.

Extensão pessoal e espacial: a norma de extensão pessoal e especial diz respeito à punição de
quem não praticou diretamente a conduta prevista no tipo penal (o verbo, o núcleo do tipo),
bem como aquele que sequer estava no local do crime, mas contribuiu para sua prática. É o caso
do concurso de pessoas, cuja punição de todos os envolvidos só é possível em razão do que
prevê o caput do artigo 29 do Código Penal:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas,
na medida de sua culpabilidade.
Imaginem o sujeito que segura a vítima, menos de quatorze anos, para que seu comparsa a
estupre. O tipo penal do estupro de vulnerável é o seguinte: “Ter conjunção carnal ou praticar
outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”. O comparsa que segura a vítima não tem

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conduta que se amolda totalmente ao tipo penal, pois não tem conjunção carnal nem pratica
qualquer outro ato libidinoso. Entretanto, ele concorre para a prática do crime e, portanto, sua
conduta somente é típica quando a lei penal que prevê o estupro de vulnerável é conjugada
com a norma de extensão do artigo 29 do Código Penal.

Extensão causal: a norma de extensão causal é a que possibilita que um comportamento


omissivo seja a causa de um resultado naturalístico. A omissão, se adotada a teoria normativa
da omissão, é um nada e, deste modo, nada pode causar. Portanto, só se pode considerar que
um comportamento omissivo causou um resultado naturalístico, se adotarmos uma norma de
extensão. É o caso dos crimes omissivos impróprios, que são também denominados de crimes
comissivos por omissão. Como já estudados, são crimes naturalmente comissivos que, devido a
um dever jurídico específico do sujeito de impedir o resultado, são praticados por inércia do
agente. A cláusula de extensão está prevista no artigo 13, parágrafo segundo, do Código Penal:
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
(...)
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
É o caso do diretor de penitenciária, que tem o dever legal de cautela sobre os indivíduos lá
presos. Caso ele deixe de alimentar um preso, que está no regime disciplinar diferenciado, e ele
morra em razão disso, responderá pelo crime de homicídio. Percebam que sua conduta (deixar
de alimentar) não corresponde diretamente ao tipo penal do homicídio (matar alguém).
Somente quando sua conduta é somada à norma de extensão causal, verificamos que ele
possuía o dever de agir, derivado de lei. Por conseguinte, com a norma de extensão é possível
concluir pela existência de tipicidade.

Portanto, a tipicidade formal será direta ou imediata quando realizada diretamente entre o fato e o
tipo penal. Por sua vez, a tipicidade indireta ou mediata é aquela que depende de uma norma de
extensão, seja ela temporal, pessoal e espacial ou causal.

4.2 RELAÇÃO ENTRE TIPICIDADE E ILICITUDE

A relação entre tipicidade e ilicitude passa pelo estudo das chamadas fases do tipo penal. Verificada a
ocorrência de um fato típico, cumpre analisar qual a conclusão em relação à ilicitude, o que depende
da teoria adotada:

Fase da independência ou da autonomia do tipo: o fato típico não possui relação com a ilicitude, sendo
elementos não vinculados entre si. Também se faz referência ao tipo avalorado, à Teoria do Tipo
Neutro ou Teoria do Tipo Acromático.

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Nesta fase inicial, elaborada por Ernst Ludwig von Beling, a prova do fato típico e a demonstração de
sua ilicitude ocorrem em momentos diversos e de forma totalmente desconexa. A existência de fato
típico não induz à ilicitude, nem mesmo à presunção de sua ocorrência. Beling concebeu o tipo penal
como meramente objetivo, além de não ser valorativo (o juízo de valor seria feito pela ilicitude sobre o
fato típico, de modo que o tipo é objeto de valoração).
Essa fase do tipo ocorreu à época em que se adotava a teoria causalista, sendo que o dolo ou a culpa
eram analisados na culpabilidade. Deste modo, o exame do fato típico carecia de elemento subjetivo,
sendo constatado de forma objetiva. A tipicidade era concebida sob um critério formal, de mera
subsunção do fato à norma.
Deste modo, condutas como a do motorista que atropelava um suicida, que teria se jogado na frente
do carro sem tempo de se desviar dele, seriam típicas. O exame da ilicitude era feito de forma estanque,
separada, sem relação com a tipicidade.
Com o advento do finalismo, como já visto na aula passada, o elemento subjetivo do crime, consistente
no dolo ou culpa, migrou da culpabilidade para o fato típico. Deste modo, o exame do fato típico passou
a conter elemento subjetivo, inclusive com o aspecto da finalidade da conduta do agente. Com isso,
essa teoria perdeu prestígio.

Fase do caráter indiciário do tipo ou da ratio cognoscendi: Max Ernst Mayer, jusfilósofo alemão, passa
a defender a existência de um vínculo entre fato típico e ilicitude, ambos elementos do conceito
analítico de crime. O fato de alguém praticar uma conduta que se amolda ao previsto na lei penal
incriminadora, configurando um fato típico, já representa um comportamento contrário à ordem
jurídica, segundo o sentimento social. Já se espera que o fato típico, aquela conduta que se amolda ao
que o tipo penal prevê, seja contrário ao ordenamento jurídico.
Deste modo, nesta fase entende-se que todo fato típico possui um indício de ilicitude. Somente se
comprovada uma causa de exclusão da ilicitude o fato típico não será ilícito. Isto porque o tipo penal já
é uma seleção, feita pelo Direito Penal, dos comportamentos mais reprováveis para a sociedade, razão
pela qual sua prática já demonstra, de antemão, uma contradição com o ordenamento jurídico, a
violação do Direito.
Praticado um fato típico, já se presume que há ilicitude. Só não será ilícito o fato típico se demonstrada
a incidência de uma descriminante, uma causa excludente de ilicitude. Por isso, pode-se concluir que o
fato típico traz em si a presunção de ilicitude, que só será afastada se comprovada a existência de uma
causa excludente da antijuridicidade.
Para a doutrina majoritária, o Direito Penal Brasileiro adota a teoria da indiciariedade ou da ratio
cognoscendi do tipo penal.
Claus Roxin indica que tal teoria ganhou um impulso com o pensamento voltado ao valor (critério
axiológico) do neokantismo. Adverte o jurista alemão que as críticas se voltaram especialmente à
existência de elementos normativos do tipo, que representam uma conexão entre ilicitude e tipicidade.
Como exemplo, temos o termo “alheio” no tipo do furto, que representa um juízo de valor, e não uma
mera descrição de fato. Deste modo, a apreciação de questões voltadas à ilicitude no próprio tipo penal
colocaria em xeque a autonomia da categoria do tipo em relação à antijuridicidade, no âmbito do
sistema penal.

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Fase da absoluta dependência, da ratio essendi ou do tipo legal como essência da ilicitude: preconiza
que o tipo penal se funde com a ilicitude, tornando-o a “ilicitude tipificada”, como lembra Fernando
Capez. Os elementos fato típico e ilicitude continuam a ter definições próprias. Entretanto, o fato típico
e a antijuridicidade se fundem para a formação do tipo de injusto penal, em uma reunião indissolúvel.
Edmund Mezger e Wilhelm Sauer, defensores desta concepção do tipo, entendem que não é possível
fazer uma separação temporal na análise do fato típico e da antijuridicidade. Se o fato típico representa
um comportamento que viola a lei penal incriminadora, não pode ser analisado, como outro elemento,
se há ou não ilicitude em tal conduta. Ou a conduta viola a lei penal e, por isso é ilícita, ou a conduta
está acobertada por uma excludente de ilicitude e, por isso, não viola a lei penal, não sendo, portanto,
atípica.
Esta fase induz ao que alguns doutrinamos denominam de conceito do tipo total de injusto, o qual
consiste na reunião do fato típico e da ilicitude em um só elemento.

Teoria dos elementos negativos do tipo: defende a existência de elementos negativos no tipo penal,
consistentes na ausência das causas excludentes de ilicitude. Isto é, para que o fato seja típico, não
basta que a conduta do agente se amolde àquilo que a lei penal incriminadora prevê, sendo
imprescindível a análise sobre a não ocorrência de uma causa justificante, a qual afastaria a
configuração do fato típico. Foi preconizada por Adolf Merkel.
O tipo penal é, portanto, o comportamento que se amolda ao que prevê a lei penal incriminadora e
contraria o ordenamento jurídico, de forma concomitante. O tipo penal passa a conter elementos
positivos, expressos ou explícitos, que estão presentes na lei penal incriminadora, além dos elementos
negativos, tácitos ou implícitos, referentes à ausência das descriminantes (causas excludentes de
ilicitude).
Por exemplo, o tipo penal do furto abrangeria também as excludentes de ilicitude ou descriminantes,
que só estão localizadas na Parte Geral do Código por conveniência, não sendo necessário haver sua
repetição em cada um dos tipos da Parte Especial. A rigor, o tipo completo seria: “subtrair, para si ou
para outrem, coisa alheia móvel, desde que não atuando em estado de necessidade, legítima defesa,
exercício regular de um direito ou escrito cumprimento do dever legal”.
Os efeitos da teoria dos elementos negativos do tipo são exatamente os mesmos da teoria da ratio
essendi, razão pela qual alguns autores sequer as abordam separadamente. Haveria assim, um tipo
total ou global de injusto, abrangendo o fato típico e a ilicitude.
Com o tipo total do injusto, haveria uma estrutura bipartida do delito (injusto típico e culpabilidade).

Não confundir com o conceito bipartido de delito, defendido pelo


professor Damásio de Jesus, de que o crime é fato típico e ilícito. A
tese do penalista Damásio é de que a culpabilidade não é elemento
que compõe o conceito de crime, mas mero pressuposto de pena. A
tese de tipo global de injusto (de Lang-Hinrichsen) entende que a culpabilidade é elemento do
crime, mas que o fato típico e a ilicitude devem ser reunidos para uma análise conjunta, em que a
ilicitude se compõe de elementos negativos cuja ausência se verifica para a formação do injusto.

Como críticas ao tipo total de injusto, Claus Roxin apresenta duas vantagens na separação entre tipo
penal e ilicitude. A primeira diz respeito à sujeição dos elementos do tipo à estrita legalidade, à
taxatividade, já que a conduta incriminada deve ser bem delimitada pelo legislador. Por outro lado, as
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excludentes de ilicitude não se sujeitam a tais regras e, portanto, não devem ser tidas como
componentes do tipo, já que comportam uma interpretação mais ampla.
Em segundo lugar, diz o autor que o juízo do injusto recai sobre a conduta individual praticada pelo
agente, ou seja, pela “concreta danosidade social do acontecimento único”, como resultado de
valoração sobre os interesses juridicamente protegidos. Entretanto, as consequências de um fato ser
atípico e estar acobertado por uma descriminante são diversas. Um fato acobertado por uma
excludente de ilicitude (descriminante) é permitido pelo ordenamento jurídico, devendo ser suportado,
em princípio, pelo afetado (como a legítima defesa). Uma conduta atípica (como um dano a um carro
novo, realizado em um acidente automobilístico) não é necessariamente permitida, podendo ser
inclusive antijurídica (no caso do exemplo, um ilícito civil). Por isso, analisar conjuntamente fato típico
e ilicitude colocaria no mesmo nível categorias com consequências diferentes.
O autor alemão parece adotar uma posição intermediária entre ratio essendi e ratio cognossendi,
adotando o conceito de injusto, mas separando a análise do tipo e da ilicitude como elementos diversos,
com suas particularidades.

5. ILICITUDE
Passamos, então, ao estudo da ilicitude, o segundo substrato do conceito analítico de crime.

5.1 CONCEITO DE ILICITUDE

A ilicitude, também denominada antijuridicidade, é a análise de conformidade ou não com o


ordenamento jurídico. Ou seja, verifica-se, neste substrato do conceito analítico de crime, se a conduta
típica [primeiro substrato do conceito analítico de crime] é permitida pelo ordenamento jurídico ou se
é contrária a ele [segundo substrato do conceito analítico do crime].
A ilicitude pode ser concebida sob um critério subjetivo, em que somente seria contrária ao Direito a
conduta daqueles que possuem vontade livre e consciente de praticar a conduta, com capacidade de
se determinarem de acordo com sua finalidade.
Por outro lado, para outra teoria, a ilicitude deve ser concebida de uma forma objetiva, como mera
contrariedade da conduta em relação àquilo que o ordenamento jurídico determina, sem valoração do
aspecto subjetivo. A inimputabilidade, por exemplo, deve ser analisada na culpabilidade. Este é o
entendimento que parece prevalecer e será adotado para o estudo da ilicitude, o segundo substrato do
conceito analítico de crime.
Alguns autores consideram o termo antijuridicidade impróprio, preferindo a denominação ilicitude. Isto
porque ser antijurídico significaria não ser jurídico, sendo que o crime, conquanto uma violação da
norma penal, é um instituto nitidamente jurídico, próprio do Direito Penal. Entretanto, o uso dos
termos “ilícito” e “antijurídico”, de igual modo, é consagrado na doutrina, razão pela qual será adotado
no presente estudo.
De modo geral, podemos concluir que a ilicitude é o choque entre a conduta e o ordenamento jurídico.
É o segundo elemento do conceito analítico do crime, conforme a teoria tripartida:
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Como visto acima, a tipicidade, que é elemento do fato típico, possui relação com a ilicitude. Adotada
a teoria da ratio cognossendi ou a fase do caráter indiciário do tipo, vimos que há uma presunção de
que o fato típico é ilícito. Praticado um fato típico, presume-se que ele contraria o ordenamento
jurídico, a não ser que haja uma causa excludente de ilicitude.
O esquema a seguir mostra essa relação entre a tipicidade, elemento do fato típico, e a ilicitude:

Portanto, pelo entendimento tradicional da doutrina, se há fato típico, presume-se que há um


comportamento, comissivo ou omissivo, contrário ao ordenamento jurídico, ou seja, ilícito.

5.2 INJUSTO PENAL

Julio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabrini lecionam sobre o instituto do injusto penal:
Há uma distinção doutrinária entre antijuridicidade e injusto. Neste sentido, a antijuridicidade é
a contradição que se estabelece entre a conduta e uma norma jurídica, enquanto o injusto é a
conduta ilícita em si mesma, é a ação valorada como antijurídica.
Dentro dessa concepção, pode-se diferenciar o tipo legal, que é o fato típico, primeiro elemento do
crime, do tipo do injusto, que envolve a análise do fato típico e antijurídico. Isto levaria o primeiro a
ser um tipo de injusto condicionado à verificação de ausência de alguma descriminante, da falta de uma
excludente de ilicitude. O tipo de injusto, por sua vez, já englobaria os primeiros elementos do conceito
de crime, com a configuração de um fato típico e da ilicitude ou antijuridicidade.
Os autores já mencionados também ensinam que há um conceito material de antijuridicidade,
segundo o qual se deve considerar um enfoque sociológico da ilicitude. Nesta concepção, afasta-se da
ilicitude o comportamento permitido por qualquer ramo do Direito. A ilicitude dependeria de se
contrariar os valores morais, sociais e políticos. Notem que referido entendimento possui relação
íntima com a chamada teoria social da ação.

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A antijuridicidade formal, por outro lado, seria a mera contrariedade da conduta à norma penal. Assim,
o fato típico é formalmente antijurídico no caso de não estar presente nenhuma descriminante, ou seja,
nenhuma causa excludente de ilicitude.
Sob um conceito unitário, entende-se que não há a dualidade de antijuridicidade material e formal. A
contrariedade da conduta ao ordenamento jurídico já enseja a violação a um bem jurídico. Deste modo,
a antijuridicidade é a contrariedade do fato à norma, em razão de o fato ser típico e não haver
excludente de ilicitude. Como as normas penais incriminadoras visam a tutelar os bens jurídicos mais
relevantes à sociedade, a antijuridicidade configura um dano ao sentimento de justiça da sociedade,
causando lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado.
Em uma concepção subjetiva, a ilicitude envolve o elemento subjetivo do agente, envolvendo a
consciência da ilicitude. Se adotada essa conceituação, o inimputável não pode apresentar uma
conduta antijurídica.
Sob um ponto de vista objetivo, a ilicitude envolve apenas uma análise objetiva, sem análise do
elemento subjetivo que envolveu a conduta do agente. A questão de o sujeito ter ou não consciência
da ilicitude seria reservada para a culpabilidade, enquanto, para a antijuricidade, bastaria a análise da
contrariedade do fato à norma ou, de forma mais simples, a inexistência de causa excludente de
ilicitude.

5.3 ELEMENTOS DO INJUSTO PENAL

Tratamos aqui rapidamente dos elementos do injusto penal. O injusto penal possui os elementos do
fato típico (conduta, nexo causal, resultado e tipicidade) e da ilicitude (análise de ausência de
excludentes de ilicitude – critério negativo).
O injusto doloso assim, corresponde ao tipo penal doloso, já estudado. Por sua vez, o injusto culposo
refere-se ao tipo penal cujo elemento subjetivo é a imprudência, a negligência ou a imperícia.
Quando se fala em elemento subjetivo especial do injusto, cuida-se de nada mais do que do dolo
específico. É a exigência de uma intenção específica do agente, como no caso do crime de perigo de
contágio de moléstia grave. Seu tipo penal, previsto no artigo 131 do CP (“Praticar, com o fim de
transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio”), exige
que o agente tenha o objetivo de transmitir a outrem moléstia grave de que esteja contaminado. Cuida-
se da finalidade específica exigida do agente para a configuração do crime.

6. CAUSAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE


Como estudado, quando se tem um fato típico, presume-se configurada a ilicitude, em razão do caráter
indiciário da tipicidade. Deste modo, só ficará afastada a ilicitude se demonstra a existência de alguma
causa excludente de ilicitude. As causas excludentes de ilicitude também podem ser denominadas de
descriminantes ou de justificantes.
O artigo 23 do Código Penal elenca as causas excludentes da ilicitude:

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Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:


I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Presente alguma das situações acima elencadas, fica afastada a ilicitude do fato típico, ou seja, ele passa
a não contrariar a ordem jurídica. A causa excludente de ilicitude torna a conduta compatível com a
ordem jurídica.
Essas causas excludentes de ilicitude, por possuírem previsão expressa no Código Penal, são chamadas
de causas legais. Vejamos o esquema abaixo, em que as causas legais estão representadas:

Cabe ressaltar, entretanto, que a presença de uma causa excludente da ilicitude não permite o abuso,
como se nota do parágrafo único do artigo 23 do Código Penal:
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.
Passemos, agora, ao estudo de cada uma das causas excludentes de ilicitude:

6.1 ESTADO DE NECESSIDADE

Estado de necessidade é a causa excludente de ilicitude que se manifesta na colisão entre dois
interesses jurídicos colocados em perigo, sendo necessário o sacrifício de um para salvar o outro, por
quem não provocou a situação de perigo nem tenha o dever legal de enfrentá-lo.

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É uma faculdade do indivíduo, segundo Cezar Roberto Bitencourt, que pode salvar o bem jurídico, com
o sacrifício de outro, desde que referido sujeito não tenha por si mesmo colocado o bem jurídico em
risco, nem tenha o dever jurídico de agir. Nestes casos, de provocação de perigo ou de dever legal do
agente, há a incidência da cláusula de dever jurídico de agir, sendo que a inércia do agente em proteger
o bem jurídico pode ensejar a configuração do crime comissivo por omissão (crime omissivo impróprio).
Percebam que o sacrifício deve ser necessário. Se for possível que o agente fuja e evite o perigo, essa
deve ser sua opção, pois referida possibilidade afasta a necessidade de sacrifício do bem jurídico.
São dois bens jurídicos em perigo, sendo que um deles precisa ser sacrificado. Há divergência
doutrinária sobre a necessidade ou não de o bem jurídico salvo ter valor superior ao do interesse
jurídico protegido. Essa discussão levou a divergências, com existência de diferentes teorias para
explicação do estado de necessidade:

 Unitária: o estado de necessidade é sempre causa excludente da ilicitude. O agente não


precisa calcular o valor dos bens em conflito, basta que aja com razoabilidade.
Foi a adotada pelo Código Penal, que não exige que o agente proceda à valoração dos interesses
jurídicos em conflito.

 Diferenciadora: se o bem jurídico sacrificado tiver valor menor ao do protegido, tem-se o


estado de necessidade justificante, que é excludente da ilicitude. Se o bem sacrificado tiver valor
igual ou maior que o protegido, tem-se o estado de defesa exculpante, cuja natureza jurídica é
a de causa supralegal de exclusão da culpabilidade.

 Equidade: o fato não deve ser punido por razões de equidade. Possui base na teoria de
Immanuel Kant.

Vistas as teorias, devemos conferir o que o Código Penal prevê a respeito, sem seu artigo 24:
Art. 24 Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida
de um a dois terços.
Portanto, vimos que o nosso ordenamento jurídico não previu a necessidade de valoração dos bens
jurídicos em conflito, exigindo apenas um juízo de razoabilidade. Deste modo, não pode alegar estado
de necessidade um sujeito que visa a evitar o dano ao seu carro novo, em razão de uma moto
desgovernada que vem em sua direção, sem perigo de lhe causar danos físicos, e atropela um pedestre.
Não é razoável sacrificar a incolumidade físico-psíquica de alguém para a proteção de um automóvel
novo.
São requisitos do estado de necessidade:
 Perigo atual e inevitável;
 Não provocação voluntária do perigo;
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 O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio;


 Inevitabilidade do comportamento lesivo;
 Inexigibilidade do sacrifício do interesse ameaçado;
 Finalidade de salvar o bem do perigo, conhecimento da situação de fato exculpante (elemento
subjetivo);
 Ausência do dever legal de enfrentar o perigo.

Sobre a não provocação voluntária do perigo, há o questionamento, na doutrina, no caso de o perigo


ter provocado por culpa. Imaginem que o sujeito, por culpa, causou uma rachadura no casco do navio
em que se encontra. Lançado ao mar com outros passageiros, pode ele provocar o afogamento de
alguém que com ele disputa um colete salva-vidas? Há divergência sobre a possibilidade de ele invocar
o estado de necessidade.
De nossa parte, como o Código Penal diz que o perigo não pode ser sido praticado por vontade do
agente, entendemos que só se deve interpretar excluído do estado de necessidade aquele que
provocou a situação dolosamente. De todo modo, a regra do in dubio pro reo, derivado do próprio
princípio da presunção de inocência, deve levar à conclusão da possibilidade de se invocar o estado de
necessidade, caso se tenha provocado a situação de perigo por culpa (negligência, imprudência ou
imperícia).
Deve-se ressaltar, ainda, a exigência de elemento subjetivo na conduta do agente. Ele deve possuir
consciência de que está em situação de incidência da causa excludente de ilicitude, bem como agir com
a vontade de proteger o bem jurídico posto em perigo. Caso não haja esse elemento subjetivo, não se
configurará a situação de estado de necessidade.
Quanto à inexigibilidade do sacrifício, a ausência deste elemento afasta o estado de necessidade.
Entretanto, se o sacrifício do bem protegido pelo agente era razoavelmente exigível, há previsão de
uma causa de diminuição de pena no artigo 24, § 2º, do CP:
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida
de um a dois terços.
Logo, ainda que não configure a excludente de ilicitude, a atuação do agente para salvar do perigo um
bem, cujo sacrifício era razoável exigir, pode ensejar a incidência de uma minorante, ou seja, de uma
causa de diminuição de pena.

 Cabe estado de necessidade contra estado de necessidade?


A doutrina reconhece o estado de necessidade recíproco, em que duas pessoas estão em situação de
estado de necessidade e buscam o sacrifício do bem jurídico, um do outro, para salvar outro. Exemplo
típico é o de dois náufragos, que encontram apenas um salva-vidas. Ambos podem disputar o único
colete e seus comportamentos com o intuito de se salvarem estão acobertados pela excludente de
ilicitude.
 Furto famélico configura estado de necessidade?
O furto famélico é aquele realizado por quem busca se alimentar ou alimentar outrem. É a subtração
de algo por aquele que possui fome. Pode sim configurar estado de necessidade.
Não se deve confundir a atipicidade, por insignificância, com o estado de necessidade do furto famélico.
Há situações em que, apesar de afastada a insignificância, é possível a incidência do estado de
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necessidade em relação ao furto praticado por quem busca saciar a fome. Podemos pensar, por
exemplo, no reincidente em crimes dessa natureza. Assim já decidiu o STF:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. HC SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA
JULGAR HABEAS CORPUS: CF. ART. 102, I, “D” E “I”. ROL TAXATIVO. MATÉRIA DE DIREITO ESTRITO.
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: PARADOXO. ORGANICIDADE DO DIREITO. FURTO (ART. 155, CAPUT,
DO CP). REINCIDÊNCIA NA PRÁTICA CRIMINOSA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INAPLICABILIDADE. FURTO FAMÉLICO. ESTADO DE NECESSIDADE X INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA
DIVERSA. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O
princípio da insignificância incide quando presentes, cumulativamente, as seguintes condições
objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da
ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão
jurídica provocada. 2. A aplicação do princípio da insignificância deve, contudo, ser precedida de
criteriosa análise de cada caso, a fim de evitar que sua adoção indiscriminada constitua
verdadeiro incentivo à prática de pequenos delitos patrimoniais. 3. O valor da res furtiva não pode
ser o único parâmetro a ser avaliado, devendo ser analisadas as circunstâncias do fato para
decidir-se sobre seu efetivo enquadramento na hipótese de crime de bagatela, bem assim o reflexo
da conduta no âmbito da sociedade. 4. In casu, o paciente foi condenado pela prática do crime de
furto (art. 155, caput, do Código Penal) por ter subtraído 4 (quatro) galinhas caipiras, avaliadas
em R$ 40,00 (quarenta reais). As instâncias precedentes deixaram de aplicar o princípio da
insignificância em razão de ser o paciente contumaz na prática do crime de furto. 5. Trata-se de
condenado reincidente na prática de delitos contra o patrimônio. Destarte, o reconhecimento da
atipicidade da conduta do recorrente, pela adoção do princípio da insignificância, poderia, por via
transversa, imprimir nas consciências a ideia de estar sendo avalizada a prática de delitos e de
desvios de conduta. 6. O furto famélico subsiste com o princípio da insignificância, posto não
integrarem binômio inseparável. É possível que o reincidente cometa o delito famélico que induz
ao tratamento penal benéfico. 7. In casu, o paciente é conhecido - consta na denúncia - por
“Fernando Gatuno”, alcunha sugestiva de que se dedica à prática de crimes contra o patrimônio;
aliás, conforme comprovado por sua extensa ficha criminal, sendo certo que a quantidade de
galinhas furtadas (quatro), é apta a indicar que o fim visado pode não ser somente o de saciar a
fome à falta de outro meio para conseguir alimentos. 8. Agravo regimental em habeas corpus a
que se nega provimento.” (HC 115850 AgR/MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Julgamento:
24/09/2013).
Ainda que no caso acima apreciado, a Suprema Corte não tenha reconhecido o furto famélico, é de se
notar que ficou ressalvada, assim como em outros julgamentos (HC 119672/SP e HC 112262/MG, por
exemplo), a coexistência do estado de necessidade e do princípio da insignificância em relação ao
furto famélico.
A jurisprudência, entretanto, estipulou alguns requisitos para sua configuração:
a) furto praticado para matar a fome;
b) que seja o único recurso do agente;
c) que haja a subtração de bem a ser utilizado diretamente para a situação de emergência;
d) hipossuficiência financeira.
Deste modo, o furto de um pão, por quem está com fome e não possui recurso financeiro para comprá-
lo, em situação de urgência, pode configurar o estado de necessidade. Por outro lado, o furto de uma

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joia, sob a justificativa de não ter o que comer, dificilmente configurará a excludente de ilicitude, nos
termos da jurisprudência.
Entretanto, no seguinte precedente, o STJ entendeu que incidia o estado de necessidade, por furto
famélico, no caso de subtração de moedas no valor de R$ 12,00. Deve-se ressaltar, no entanto, que o
princípio da insignificância, que se relaciona à tipicidade material, também foi considerado:
“DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. (1) IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE
RECURSO ORDINÁRIO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. (2) INSIGNIFICÂNCIA NO CONTEXTO DE
CRIME FAMÉLICO. PROSSEGUIMENTO DA PERSECUÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE, SEJA PELA
ATIPICIDADE MATERIAL, SEJA PELA INCIDÊNCIA DA CAUSA DE JUSTIFICAÇÃO ESTADO DE
NECESSIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. É imperiosa
a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus, em prestígio ao âmbito de
cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal. In casu, foi
impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso ordinário (STF: HC 109956,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 07/08/2012, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 10-09-2012 PUBLIC 11-09-2012). 2. A insignificância afasta a
tipicidade material, tendo em vista a inexpressiva afetação do bem jurídico. Já o caráter famélico
do furto desveste o comportamento da antijuridicidade (RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Fundamentos
de Direito Penal brasileiro. São Paulo: Atlas, 2010, p. 229-230). Na espécie, além de a subtração
referir-se a um punhado de moedas, doze reais, o paciente (morador de rua) confessou o
assenhoramento do numerário, posteriormente reconduzido à posse da vítima, que seria
destinado à aquisição de gêneros alimentícios. 3. Ordem não conhecida, expedido habeas corpus
de ofício para trancar a persecução penal.” (STJ, HC 227474/MG, Rel. p/ acórdão Min. Maria
Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 01/07/2014).

 Admite-se estado de necessidade nos crimes habituais e permanentes? E no caso de


reiteração?
Não se admite, de forma majoritária, a configuração do estado de necessidade nesses casos, dada a
exigência de perigo atual, devendo ser analisado se era exigível conduta diversa. Parte da doutrina
admite em situações extremas.
No caso de reiteração, ressalve-se que o caso pode sim se configurar, como no caso do sujeito que
passa por dois naufrágios, por exemplo.

O estado de necessidade pode se classificar, conforme os seguintes critérios:


 Quanto à titularidade do interesse protegido:
_de interesse próprio: quando o agente busca a proteção de um bem jurídico de sua própria
titularidade.
_de interesse alheio: é o estado de necessidade em que o interesse jurídico salvo pelo sujeito é
de titularidade de outrem.

 Quanto ao elemento subjetivo:


_real: quando o agente busca a proteção de um bem jurídico que efetivamente está em perigo.
_putativo: ocorre quando a situação de perigo do bem jurídico só existe na cabeça do agente,
é imaginada ou suposta por ele.

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 Quanto à titularidade do interesse sacrificado:


_defensivo: quando o agente sacrifica um bem jurídico de sua própria titularidade ou de
titularidade de quem provocou o perigo para proteção de um interesse jurídico em perigo.
_agressivo: ocorre quando o agente sacrifica um bem jurídico alheio para salvar outro bem
jurídico que está em risco.
Esta última classificação é muito utilizada para a responsabilidade civil do agente que atua em estado
de necessidade. Vejamos o que diz o artigo 188 do CP a este respeito:
CC, Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo
iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o
tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção
do perigo.
No caso de legítima defesa agressivo, em que um terceiro tem seu bem jurídico sacrificado em nome
da proteção de um bem jurídico em perigo, a jurisprudência tem admitido a responsabilidade do
agente. De todo modo, ele pode se voltar, em ação regressiva, contra o causador da situação de risco:
"(...) O acórdão recorrido decidiu em conformidade com a jurisprudência deste Superior Tribunal
de Justiça em que a constatação do estado de necessidade, por si só, não exime o ocasionador
direto do dano de responder pela reparação a que faz jus a vítima, ficando com ação regressiva
contra o terceiro que deu origem à manobra determinante do evento lesivo. (AgRg no AREsp
55.751/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
11/06/2013, DJe 14/06/2013) (...)”.
(STJ, AgInt no AREsp 411909/ES, Rel. Min. Lázaro Guimarães, Quarta Turma, DJe 24/08/2018).

O esquema a seguir traz a classificação das modalidades de estado de necessidade:

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6.2 LEGÍTIMA DEFESA

Legítima defesa é a causa excludente de ilicitude que acoberta a conduta de repelir, de si mesmo ou de
outrem, uma injusta agressão, atual ou iminente. Neste caso, há uma injusta agressão, a qual torna
lícita a conduta que visa a neutralizar tal agressão.
Segundo Giuseppe Maria Bettiol, político e jurista italiano, é uma exigência natural a previsão da
legítima defesa como excludente de ilicitude. Como o Estado não pode sempre garantir a segurança
dos seus cidadãos, necessita permitir que se defendam de agressão injusta se não houver outro meio
de se salvar.
O Código Penal trata da legítima defesa no artigo 25:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Deste modo, há exclusão da ilicitude na conduta praticada com o fim de, dentro do uso moderado dos
meios, rechaçar agressão atual ou iminente ao seu próprio bem jurídico ou a um bem jurídico
pertencente a outrem.
Para configuração da legítima defesa, excludente da ilicitude, são necessários os seguintes requisitos:
 Agressão injusta;
 Agressão atual ou iminente;
 Proteção de direito próprio ou alheio;
 Uso moderado dos meios necessários;
 Conhecimento da situação de fato justificante.
O conhecimento da situação de fato justificante é o elemento subjetivo necessário para a configuração
da legítima defesa. É necessário que o agente saiba que está repelindo uma agressão injusta e possua
a vontade livre e consciente de neutralizá-la para defender bem jurídico seu ou alheio. Este elemento
subjetivo pode ser denominado de animus defendendi.
Caso a vítima tenha a opção de fugir ou de ficar e enfrentar o perigo, sua opção de correr da injusta
agressão é chamada de commodus discessus. Não se exige o commodus discessus, de modo que, se o
agente ficar e enfrentar a injusta agressão, não se descaracterizará a excludente de ilicitude.
Existe divergência doutrinária sobre a provocação ou o desafio da vítima ter ou não o condão de afastar
a legítima defesa. Entretanto, prevalece que a provocação ou o desafio não afastam, por si sós, a
configuração da excludente de ilicitude. O STJ parece entender que a provocação pode ser seguida de
uma conduta de defesa ou não, a depender do caso:
“Não há falar-se em incongruência na decisão do corpo de jurados que nega ter o réu agido em defesa
própria, afastando a tese da legítima defesa, e, logo após, afirma que o réu praticara o delito sob o

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domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. A emoção provocada
não impede que a ação posterior seja realizada sem estar o agente se defendendo.” (STJ, AgRg no
AREsp 463482/SP.
A Lei 13.694/2019 inseriu o parágrafo único ao artigo 25 do Código Penal, de seguinte teor:
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também
em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a
vítima mantida refém durante a prática de crimes.
Buscou-se destacar uma situação, por razões eminentemente políticas, que já estava
obviamente abrangida pela legítima defesa, que se configura justamente quando há a
necessidade de se repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito de outrem.

6.2.1 Classificações de legítima defesa


Existem algumas espécies de legítima defesa, assim denominadas pela doutrina:
Legítima defesa real ou própria: é a legítima defesa com todos os pressupostos preenchidos.
Legítima defesa putativa: como já visto, o termo putativo deriva do verbo latim putare, que significa
imaginar, supor. Portanto, legítima defesa putativa é aquela suposta, imaginada pelo agente. O agente
supõe, por erro de tipo ou de proibição, estar acobertado por legítima defesa. Deste modo, repele uma
agressão que só é injusta em razão do equívoco do sujeito.
Legítima defesa sucessiva: é a causa de excludente que acoberta o agente que, após provocar a injusta
agressão, busca repelir o excesso. Imaginem que o sujeito agride um outro com um tapa. O outro,
buscando se defender da agressão, pega um facão e começa a atacá-lo. Então, o primeiro agressor,
verificando esse excesso, se defende, pegando um outro facão para se defender. É um caso de legítima
defesa sucessiva, em que um agente se defende do excesso praticado pela vítima, a qual busca se
defender da agressão injusta daquele primeiro agente.
Legítima defesa subjetiva: é o excesso derivado de erro de tipo escusável ou inevitável. Neste caso, a
vítima se excede, ao se defender de uma injusta agressão, por interpretar a realidade de forma
equivocada, pensando necessitar de meios mais gravosos do que realmente necessita. Imaginem um
sujeito que está sendo agredido por um torcedor fanático, apenas por estar com a camisa do time rival.
Entretanto, a agressão consiste em alguns tapas. O agredido, a vítima, entra no carro e, então,
imaginando que as agressões não vão parar e imaginando que seu agressor está armado, joga o carro
em cima dele e o atropela. Na verdade, o torcedor fanático só queria a provocação com tapas e não
estava armado, o que tinha na sua cintura era uma buzina usada na torcida. Como a vítima da agressão
inicial não poderia imaginar que as agressões cessariam, imaginou que estava ainda em legítima defesa,
por erro de tipo que não poderia evitar. O erro de tipo é a falsa representação da realidade pelo
indivíduo que dirigiu seu carro. Como o erro de tipo é escusável, neste exemplo, há exclusão do dolo e
da culpa. O agente, em conclusão, agiu sob legítima defesa subjetiva.
E se houver erro de execução (aberratio ictus) na legítima defesa?
O agente responde como se tivesse atuado contra o agressor, nos termos do artigo 73 do Código Penal.
Como estudamos sobre o erro de execução, deve-se considerar a vítima que o agente buscava atingir
(vítima virtual), e não aquela que efetivamente atingiu (vítima real). Deste modo, considera-se como
tendo efetivamente agido em legítima defesa.
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Há divergências, pois parte da doutrina defende que há estado de necessidade neste caso.
Cabe legítima defesa recíproca?
A doutrina afasta a hipótese, por ser seu requisito a agressão injusta. Caso o sujeito inicie uma agressão
injusta e a vítima se defenda (legítima defesa), não é possível que o sujeito que iniciou a agressão
invoque a legítima defesa, pois a agressão da vítima é legítima.
São cabíveis, entretanto, a legítima defesa sucessiva e a legítima defesa putativa recíproca. A legítima
defesa sucessiva é aquela em que a vítima da agressão injusta, ao se defender, se excede nos meios, o
que enseja ao agente que iniciou a agressão injusta a possibilidade de se defender. Isto porque o
excesso configura também agressão ilegítima.
Legítima defesa putativa é aquela suposta, em que o indivíduo imagina que estão configurados os
requisitos da legítima defesa. Deste modo, é possível que a agressão de dois sujeitos seja injusta ao
mesmo tempo, sendo que ambos imaginam que está em legítima defesa. É o caso de dois indivíduos
que possuem porte de arma e brigam por causa de uma namorada. Após se ameaçarem, encontram-se
uma semana depois, em uma rua escura, e ambos se assustam, tocam em suas armas e se aproximam
para verificar quem está lá. Entretanto, um olha para o outro e imagina que haverá uma agressão
injusta, o que faz com que ambos disparem e causem lesões um no outro. Há, portanto, legítima defesa
putativa (suposta) da parte dos dois, o que a torna recíproca.
É possível a ocorrência conjunta de estado de necessidade e legítima defesa?
Sim. Um exemplo dado pela doutrina é a do agente que, para se defender de um assaltante, subtrai a
arma de fogo do vigilante do banco, deixada no chão, sem autorização. Portanto, age em estado de
necessidade para a subtração da arma e, quanto ao assaltante armado, age em legítima defesa ao atirar
nele para se defender.
Em algumas situações, não é cabível a invocação da legítima defesa contra:
 Legítima defesa real: não cabe legítima defesa recíproca, pois uma das agressões será injusta.
 Estado de necessidade real: se o sujeito age em estado de necessidade, não há como se repelir
sua agressão a título de legítima defesa, pois a atitude dele não será injusta. É possível,
entretanto, estado de necessidade recíproco.
 Exercício regular do direito: se alguém está agindo conforme um direito seu, sua conduta não
pode ser classificada como injusta agressão e, por isso, não pode ser repelida a título de legítima
defesa.
 Estrito cumprimento do dever legal: do mesmo modo que o exercício regular de um direito, o
agente que atua em estrito cumprimento do seu dever legal não pratica injusta agressão, por
agir em conformidade com um dever que lhe é dado. Deste modo, ausente agressão injusta,
não há que se falar em legítima defesa.

As hipóteses de não cabimento de legítima defesa estão resumidas na ilustração abaixo:

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Por outro lado, cabe a análise das hipóteses em que é cabível a legítima defesa. Utilizaremos um quadro
para melhor visualização:

É cabível

Legítima defesa Agressão injusta de inimputável ou acobertado


por outra excludente de culpabilidade

Legítima defesa real Legítima defesa putativa

Legítima defesa putativa Legítima defesa putativa

Legítima defesa putativa Legítima defesa real

Legítima defesa real Legítima defesa putativa por erro de tipo


evitável

Legítima defesa real Legítima defesa subjetiva (excesso)

É cabível a chamada agressão omissiva? Pode o agente defender-


se, de forma legítima, de uma omissão que configura uma
agressão injusta?

Há divergência na doutrina quanto a isso, sendo que podemos apontar três posições:

 1ª Posição: não seria possível a chamada agressão omissiva. A agressão exigiria um


comportamento positivo, ou seja, uma conduta comissiva. Por isso, um non facere (não fazer)
não poderia configurar uma omissão.

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 2ª Posição: qualquer omissão pode configurar uma agressão injusta. Como decorrência da
necessidade de se tutelar o bem jurídico de qualquer lesão ou ameaça de lesão, seria necessário
reconhecer que mesmo uma conduta omissiva pode ser agressiva. Deste modo, se injusta,
levaria ao reconhecimento do cabimento da legítima defesa.

 3ª Posição: admite a agressão omissiva, desde que parta de alguém que está na posição de
garante. Se o sujeito está na condição de garantidor, sua omissão pode consubstanciar uma
agressão. O exemplo usado pela doutrina seria a do carcereiro que não liberta o executado após
o fim do cumprimento da pena. Ele poderia, então, agir para se libertar, já que estaria se
defendendo de uma agressão omissiva injusta.
É o que defende, dentre outros, o doutrinador Günther Jacobs. É a posição majoritária.

Estudados o estado de necessidade e a legítima defesa, cabe ressaltar a diferença entre ambas as causas
excludentes de ilicitude:

Estado de necessidade X Legítima defesa

Conflito entre bens jurídicos expostos a Repulsa a um ataque ou a uma ameaça a um


perigo bem jurídico

Os interesses em conflito são legítimos Os interesses do agressor não são legítimos


(pode ser recíproco) (não pode ser recíproca)

O perigo pode advir da conduta humana ou O perigo só pode advir da conduta humana
não

A conduta pode se dirigir ao causador do A conduta só pode se voltar contra o


perigo ou terceiro inocente agressor

Há um perigo atual, sem destinatário certo Há uma agressão humana injusta, atual ou
iminente, direcionada a alguém

6.3 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

O estrito cumprimento do dever legal é a causa excludente de ilicitude que abrange a conduta de
alguém que realiza um fato típico no cumprimento estrito de um dever previsto em lei. É a situação em
que alguém cumpre um dever imposto pela lei, dentro dos limites por ela determinados.
O dever legal é aquele imposto pela lei, não se podendo confundir com dever moral ou religioso.
Referido dever pode, entretanto, constar de sentença, de decreto ou de qualquer ato normativo
infralegal, desde que possua base legal.
O cumprimento de tal dever deve ser estrito, isto é, não abrange excessos ou desvios.

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Como as demais causas excludentes de ilicitude, já estudadas, é imprescindível que esteja presente o
elemento subjetivo. Isto é, o agente deve ter conhecimento da situação que o permite agir em estrito
cumprimento de um dever legal. Caso contrário, o fato é ilícito.
Deste modo, se um agente público possui o dever de destruir produtos trazidos para o Brasil de forma
ilícita e, mesmo ignorando que a garrafa de bebida que seu vizinho trouxe de uma viagem internacional
possui teor alcoólico acima do permitido, apreende-a para satisfação pessoal e a destrói. Sua conduta
não estará acobertada pelo exercício regular de um direito, em razão de não ter consciência dos
elementos que tornavam sua conduta lítica e de ter se portado com outra vontade livre e consciente,
que não era a de cumprir seu dever legal.
A excludente do estrito cumprimento do dever legal se estende aos coautores, ou partícipes do fato,
desde que esteja presente o elemento subjetivo.

O estrito cumprimento do dever legal abrange o particular ou apenas o funcionário


público?
A doutrina diverge a respeito da possibilidade de um particular invocar o estrito cumprimento do dever
legal. Para a maioria, o particular pode sim invocar esta excludente da ilicitude.
Seria exemplo o caso do advogado que se nega a depor, em juízo, sobre fatos confidenciados pelo
cliente. Também poderiam invocar o estrito cumprimento de dever legal o jurado e o mesário das
eleições, dentre outros.

6.4 EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO

O exercício regular de um direito é a causa excludente de ilicitude que abrange a conduta de qualquer
cidadão que é autorizada por lei, que constitui uma prerrogativa legal, desde que exercida com
regularidade.
Deve-se entender direito como o que é previsto em lei penal ou extrapenal. Tal direito pode constar,
ainda, de atos infralegais, como as normas de poder de polícia.
Mais uma vez, cumpre enfatizar a necessidade, como nas demais excludentes de ilicitude, da presença
do elemento subjetivo. A consciência do agente deve abranger todos os fatos, assim como a situação
que autoriza a sua prática, sob pena de ser a conduta ilícita. Se o elemento subjetivo for outro, há crime.
São requisitos do exercício regular de um direito:
 Proporcionalidade
 Indispensabilidade
 Elemento subjetivo (conhecimento da situação)
A doutrina aponta como exemplos de exercício regular de um direito os seguintes:
 Retenção da coisa alheia para ressarcimento de benfeitorias úteis e necessárias (Art. 1219, CC)
 Castigo moderado dos filhos como meio de dirigir a educação (art. 1634, I, CC; com atenção ao
art. 18-A, ECA)
 Imunidade judiciária (art. 142, I, CP – crimes contra a honra)

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 Intervenção médica ou cirúrgica em caso de iminente risco de vida (art. 146, §3º, I –
constrangimento ilegal)
 Coação para impedir suicídio (art. 146, §3º, II – constrangimento ilegal)
 Esportes violentos (art. 3º, Lei 9.615/98 – reconhecimento estatal)
De todo modo, cumpre ressaltar que, em alguns casos, para parte da doutrina, as condutas seriam
atípicas. Para a doutrina do jurista Zaffaroni, como já estudado, a tipicidade engloba a
antinormatividade. Deste modo, pelo fato de os exemplos acima serem de condutas permitidas pelo
ordenamento jurídico, não seriam sequer típicas.

6.5 OFENDÍCULOS

Os ofendículos, também denominados de offendicula ou offensacula, querem dizer obstáculo ou


obstrução. Cuida-se de aparato predisposto, que deve estar visível, destinado à proteção de bens
jurídicos, como a vida e a propriedade. Note-se que o obstáculo deve ser perceptível, não devendo
estar oculto ou articulado para agir de surpresa.
São exemplos os cacos de vidro em cima de muros e as cercas elétricas sinalizadas.
Há discussão na doutrina, sobre se tratar de exercício regular de um direito ou legítima defesa, que
seria preordenada.
E se o aparato não estiver visível?
Imaginem que, em vez de colocar os cacos de vidro em cima do muro, um proprietário de uma casa
com muros altos decide colocar pequenas lanças do lado de dentro da propriedade. Deste modo, um
invasor salta e cai sobre as lanças, sofrendo lesão corporal. A conduta do proprietário seria acobertada
pela legítima defesa? A questão é controversa. Parte da doutrina entende que é possível sim considerar
que o caso é de legítima defesa, na modalidade de defesa mecânica predisposta.

6.6 CAUSAS SUPRALEGAIS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE

Há discussão doutrinária sobre a possibilidade de se reconhecerem causas supralegais de exclusão da


ilicitude. A controvérsia envolve, por exemplo, a questão do consentimento do ofendido e sua natureza
jurídica.
Se o consentimento do ofendido for elementar do crime, a análise é de tipicidade, não havendo que se
falar em excludente de ilicitude.
Um exemplo é o delito de violação de domicílio, cujo tipo penal prevê o seguinte:
Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

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Da leitura do tipo penal, nota-se claramente que o consentimento do ofendido faz parte dele, é sua
elementar. Elementar é um elemento do tipo penal cuja ausência impede a configuração do delito,
evita a tipicidade formal.
Se o consentimento do ofendido não for elementar do crime, pode-se analisar se a hipótese é de
exclusão da ilicitude. Cuida-se de matéria doutrinária e, por isso, não há consenso sobre sua aplicação.
Seriam exemplos de delitos em que o consentimento do ofendido seria uma cláusula excludente de
ilicitude: o furto e a lesão corporal leve.
Para que o consentimento do ofendido seja considerado causa supralegal de exclusão de ilicitude,
apontam-se os seguintes requisitos:
 Capacidade do ofendido;
 Validade do consentimento;
 Disponibilidade do bem (objeto jurídico);
 Titularidade do bem (o ofendido deve ser o titular);
 Antecedência ou simultaneidade do consentimento;
 Forma expressa do consentimento;
 Ciência da situação fática que exclui a ilicitude.
Entretanto, o consentimento do ofendido não possui grande aceitação na jurisprudência:
“Crime de fornecimento de bebida alcoólica a criança ou
adolescente (artigo 243 do ECA). PRELIMINAR. A questão referente
à higidez da prisão em flagrante em si – no sentido de que, se no
momento da prisão, ainda subsistia o quadro de flagrante delito -
, não tem o condão, sequer em tese, de invalidar a relação processual. Não se cuida, portanto, de
tema relevante ao deslinde da causa. MÉRITO. 1. Prova suficiente para a condenação. 2. O crime
previsto no artigo 243 do ECA é, em regra, de natureza formal, ou seja, prescinde da demonstração
de ofensa ao bem jurídico tutelado. Em outras palavras, não reclama um efetivo prejuízo para a
criança ou adolescente. 3. O consentimento do ofendido não constitui fator de exclusão de
ilicitude. Na verdade, o tipo penal não reclama o dissenso da vítima. O objetivo do legislador, ao
instituir a figura penal em tela, foi o de proteger a criança e o adolescente, incriminando a conduta
da pessoa que viabilize – entregando, fornecendo, ou através dos demais verbos previstos na lei –
o consumo de álcool (cujos efeitos, como se sabe, são prejudiciais à saúde) pelos menores. Subjaz
à criação desta figura penal a ideia de que a criança e o adolescente não possuem discernimento
para decidir sobre a ingestão de álcool. 4. Não configuração de erro de tipo. 5. Sanção que não
comporta reparo. Recurso não provido.” (TJSP, Apelação 0001764-08.2016.8.26.0116, Rel. Laerte
Marrone, 14ª Câmara de Direito Criminal, Julgamento em 23/11/2017).
O enunciado 593 da Súmula do STJ também afasta o consentimento do ofendido como excludente do
crime de estupro de vulnerável:
“O crime de estupro de vulnerável configura-se com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a
prática do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o
agente”.
Há, entretanto, precedente do TJRS, em que se reconhece o consentimento da vítima como apto a
excluir o crime de desobediência:

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“APELAÇÃO. VIAS DE FATO. AMEAÇA E DESOBEDIÊNCIA.


COMPROVAÇÃO PARCIAL DOS FATOS. CONDENAÇÃO DECRETADA.
1. Comprovado pela palavra das ofendidas ter o acusado as
agredido, não registradas lesões, impositiva a condenação pela
contravenção do artigo 21 da LCP. 2. Inexistindo elementos de convicção a sustentar a condenação
do acusado pelo delito do artigo 147 do Código Penal, mantém-se a absolvição operada na
sentença. 3. Acusado afastado do lar por força de medida protetiva que voltado ao local com o
consentimento da ofendida, não age ilicitamente, eis que exigido da ofendida que também
cumpra sua parte, portanto mantida a absolvição pelo crime de desobediência. PARCIAL
PROVIMENTO. (Apelação Crime Nº 70029478690, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Elba Aparecida Nicolli Bastos, Julgado em 02/07/2009)

6.7 EXCESSO PUNÍVEL

A conduta acobertada por uma excludente da ilicitude deve ser praticada com razoabilidade, dentro
dos limites da lei. Caso contrário, configurar-se-á o excesso, que deve ser punido no âmbito penal. Sobre
o tema, prevê o artigo 23 do Código Penal:
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.
O excesso punível pode ser intensivo ou extensivo:
 Excesso intensivo é aquele que se relaciona com os meios utilizados para repelir a agressão ou
ao grau de sua utilização. O excesso é chamado intensivo devido à intensidade da conduta do
agente. Imaginem que um lutador de jiu-jitsu, em uma discussão de bar, começa a ser agredido
por alguém que possui força física muito inferior à dele e, portanto, que ele pode facilmente
conter. Entretanto, o atleta retira uma arma do coldre e dispara até acabar sua munição,
levando o outro indivíduo a óbito. Ele responde por esse excesso.
 Excesso extensivo, por sua vez, se configura quando a conduta para repelir a agressão se
prolonga no tempo em período superior ao da própria agressão. É o caso da mulher, chamada
Joana, que leva vários tapas de sua colega de trabalho. Então, revida. A agressora desiste e,
quando está deixando o ambiente, é alcançada por Joana, que resolve agredi-la até lhe causar
lesão corporal de natureza grave. Seu excesso é denominado extensivo, pois se estende, no
tempo, mais do que dura a injusta agressão. Por isso, Joana deve responder pelo excesso.
Por fim, cumpre destacar que o excesso pode ser doloso ou culposo. Deste modo, excedendo-se o
agente em sua conduta, ainda que justificada por uma excludente de ilicitude, deve por ela responder,
tenha ele agido com dolo ou com culpa.

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6.8 DESCRIMINANTES PUTATIVAS

A matéria foi tratada inicialmente na última aula, quando estudado o erro de tipo. Entretanto, cabe a
análise, no âmbito das excludentes de ilicitude, das descriminantes putativas. Então, vamos relembrar
a matéria.
Após uma introdução sobre a ilicitude, estudamos as descriminantes, que são as causas excludentes
de ilicitude. Por outro lado, vimos que putativo é um termo derivado do latim que significa suposto,
imaginado.
Por conseguinte, a descriminante putativa é a suposição do agente sobre a configuração de uma causa
que exclui a ilicitude do seu comportamento. Esta imaginação do agente, equivocada, pode ocorrer
em virtude de falsa percepção da realidade ou por motivo de interpretação incorreta da norma.
 O erro de tipo se configura quando há equívoco do agente quanto à percepção da realidade.
Ele interpreta o mundo que o cerca de modo errado e, deste modo, apresenta um
comportamento sem notar que viola uma lei penal.
Se o erro de tipo for inevitável, não há que se falar em fato típico e, portanto, não há
responsabilização. Se for evitável, pune-se a culpa, se prevista a possibilidade na lei.

Descriminante putativa por erro de tipo, por sua vez, ocorre quando o agente imagina
uma situação fática que lhe permitiria agir, por estar acobertado por uma excludente de
ilicitude. Também pode ser denominado de erro de tipo permissivo, por envolver uma falsa
percepção da realidade (erro de tipo) a respeito da situação fática que lhe permitiria agir no
caso (lei penal não-incriminadora permissiva).
Nesta situação, diz-se que agiu com culpa imprópria. Não se trata propriamente de culpa, pois
ele age de forma intencional, mas imaginando estar acobertado por uma causa que justifica sua
ação, que a tornaria conforme o ordenamento jurídico. É um erro de tipo essencial sobre um
tipo permissivo, possuindo o mesmo tratamento, portanto.
É o caso do sujeito que está atravessando o Rio Amazonas em uma balsa, quando ocorre um
acidente e ela começa a afundar. Ele corre para uma caixa com coletes salva-vidas e, percebendo
só haver um, o último, vai pegá-lo quando outra pessoa o segura pelo outro lado. Ele, então,
joga a pessoa no rio, imaginando estar em estado de necessidade. Entretanto, ele interpretou a
realidade de forma equivocada, pois correu para a caixa de coletes da tripulação, enquanto, na
dos passageiros, havia coletes suficientes para todos que estavam a bordo. Ele incorreu em erro
de tipo, ao se imaginar sob a proteção da descriminante estado de necessidade, uma norma
permissiva.

 O erro de proibição, por sua vez, consiste na incorreta interpretação da lei penal pelo agente.
Não se deve confundi-lo com a ignorância da lei penal, que não pode ser invocada como
fundamento de seu descumprimento. O erro de proibição consiste em equívoco sobre a
interpretação da norma, levando o agente a imaginar que sua abrangência é diversa da que
efetivamente é.
Se o erro de proibição for inevitável, há isenção de pena, com exclusão da culpabilidade do
agente (um dos elementos do conceito tripartido analítico do crime). Se for evitável, diminui-se
a pena de um sexto a um terço.

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Descriminante putativa por erro de tipo, a seu turno, ocorre quando o agente interpreta
a norma de forma errada, pensando que está acobertado por uma descriminante, sem
efetivamente estar.
Também pode ser denominada de erro de permissão ou erro de proibição indireto.
O erro de proibição indireto ou descriminante putativa por erro de proibição pode ser
exemplificado pela chamada legítima defesa da honra, que não existe, não sendo situação
acobertada pela legítima defesa. Se o agente interpreta a legítima defesa de forma a imaginar
que ela também alberga a defesa da honra, como bem jurídico a ser protegido, incide no erro
de proibição indireto.
O erro de proibição direto, para ficar claro, seria aquele em que o agente interpreta a própria
norma penal de forma incorreta, imaginando que sua conduta não é alcançada pela lei penal
incriminadora.

Estudamos as descriminantes quando do estudo do erro de tipo, com comparação dele com o erro de
proibição. Além disso, voltaremos ao tema quando do estudo da culpabilidade, que possui relação com
o erro de tipo e o erro de proibição. Essa disseminação do estudo dos erros de tipo e de proibição se
mostra recomendável em razão da necessidade de demonstração de suas diferenças e por sua relação
com as excludentes de ilicitude.
Então, encerramos o respectivo tema e a nossa aula, passando ao estudo das questões.

7. QUESTÕES

7.1 LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS

Q1. FUNDEP/DPE-MG/Defensor Público/2014


Analise o caso a seguir.
Ao passar próximo ao estoque de uma loja de roupas, um dos vendedores viu que havia ali um
incêndio de grandes proporções. Naquela situação, correu em direção à porta do
estabelecimento que, por ser estreita, estava totalmente obstruída por um cliente que entrava
no local. Desconhecendo o incêndio e achando que estava sofrendo uma agressão, o cliente
reagiu empurrando o vendedor, que lhe desferiu um soco. Os empurrões do cliente, assim como
a agressão do vendedor produziram recíprocas lesões corporais de natureza leve.
Na hipótese, é CORRETO afirmar.
a) que o vendedor agiu em estado de necessidade e o cliente, em legítima defesa putativa.
b) que o vendedor agiu em estado de necessidade putativo e o cliente, em legítima defesa.
c) que o vendedor agiu em legítima defesa e o cliente, em estado de necessidade.
d) que o vendedor agiu em legítima defesa putativa e o cliente, em estado de necessidade
putativo.

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Q2. VUNESP/TJ-MS/Juiz Substituto/2015


Considerando as causas excludentes da ilicitude, é correto afirmar que:
a) o estado de necessidade putativo ocorre quando o agente, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe encontrar-se em estado de necessidade ou quando, conhecendo a
situação de fato, supõe por erro quanto à ilicitude, agir acobertado pela excludente.
b) há estado de necessidade agressivo quando a conduta do sujeito atinge um interesse de quem
causou ou contribuiu para a produção da situação de perigo.
c) de acordo com o art. 25, do Código Penal, os requisitos da legítima defesa são: a agressão atual
ou iminente e a utilização dos meios necessários para repelir esta agressão.
d) o rol completo das hipóteses de excludentes de ilicitudes elencadas no art. 23 do Código Penal
são: a legítima defesa, o estado de necessidade e o estrito cumprimento do dever legal.
e) legítima defesa subjetiva é a repulsa contra o excesso.

Q3. CESPE/DPF/Delegado de Polícia/2013


Item 33
No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens
Considere que João, maior e capaz, após ser agredido fisicamente por um desconhecido, também
maior e capaz, comece a bater, moderadamente, na cabeça do agressor com um guarda-chuva e
continue desferindo nele vários golpes, mesmo estando o desconhecido desacordado. Nessa
situação hipotética, João incorre em excesso intensivo.
o Certo
o Errado

Q4. CESPE/DPE-AL/Defensor Público/2017


Com relação à ilicitude e às causas de exclusão, julgue os itens a seguir.
I. As causas de exclusão de antijuridicidade previstas no CP são taxativas.
II. As fontes das causas de justificação são a lei, a necessidade e a falta de interesse.
III. Os efeitos das causas excludentes de antijuridicidade se estendem à esfera extrapenal.
IV. O consentimento do ofendido é causa de exclusão de ilicitude expressa no CP.

Estão certos apenas os itens


a) I e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.

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Q5. CESPE/PC-PE/Delegado de Polícia/2016


A relação de causalidade, estudada no conceito estratificado de crime, consiste no elo entre a
conduta e o resultado típico. Acerca dessa relação, assinale a opção correta.
a) Para os crimes omissivos impróprios, o estudo do nexo causal é relevante, porquanto o CP
adotou a teoria naturalística da omissão, ao equiparar a inação do agente garantidor a uma ação.
b) A existência de concausa superveniente relativamente independente, quando necessária à
produção do resultado naturalístico, não tem o condão de retirar a responsabilização penal da
conduta do agente, uma vez que não exclui a imputação pela produção do resultado posterior;
c) O CP adota, como regra, a teoria da causalidade adequada, dada a afirmação nele constante
de que “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
causa; causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.
d) Segundo a teoria da imputação objetiva, cuja finalidade é limitar a responsabilidade penal, o
resultado não pode ser atribuído à conduta do agente quando o seu agir decorre da prática de
um risco permitido ou de uma conduta que diminua o risco proibido.
e) O estudo do nexo causal nos crimes de mera conduta é relevante, uma vez que se observa o
elo entre a conduta humana propulsora do crime e o resultado naturalístico.

Q6. FAURGS/TJ-RS/Juiz Substituto/2016


Sobre tipicidade, considere as afirmações abaixo.
I - Tipicidade conglobante (antinormatividade) é a comprovação de que a conduta legalmente
típica está também proibida pela norma, o que se obtém desentranhando o alcance dessa norma
proibitiva conglobada com as demais disposições do ordenamento jurídico.
II - Tipicidade legal é a individualização que a lei faz da conduta, mediante o conjunto dos
elementos descritivos e valorativos (normativos) de que se vale o tipo legal.
III - Tipicidade, para a teoria indiciária, é uma presunção iuris et iuris da normatividade da licitude.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) I, II e III.

Q7. CESPE/TJ-DFT/Juiz Substituto/2016


De acordo com o CP, constituem hipóteses de exclusão da antijuridicidade
a) o estrito cumprimento do dever legal e o estado de necessidade.
b) a insignificância da lesão e a inexigibilidade de conduta diversa.

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c) a legítima defesa putativa e o estrito cumprimento do dever legal.


d) o estado de necessidade e a coação moral irresistível.
e) o exercício regular de direito e a inexigibilidade de conduta diversa.

Q8. VUNESP/TJ-MS/Juiz Substituto/2015


Assinale a alternativa correta.
a) Norma penal em branco é aquela cujo preceito secundário do tipo penal é estabelecido por
outra norma legal, regulamentar ou administrativa.
b) A teoria da imputação objetiva consiste em destacar o resultado naturalístico como objeto do
bem jurídico penalmente tutelado.
c) Da Constituição Federal de 1988 pode-se extrair a garantia à sociedade pela aplicação do
princípio da não fragmentariedade, consistente na proteção de todos os bens jurídicos e proteção
dos interesses jurídicos.
d) O Código Penal Brasileiro adotou a teoria do resultado para aferição do tempo do crime,
conforme se depreende do art. 4º do mencionado Código.
e) A tipicidade conglobante é um corretivo da tipicidade legal, posto que pode excluir do âmbito
do típico aquelas condutas que apenas aparentemente estão proibidas.

Q9. FMP Concursos/DPE-PA/Defensor Público/2015


A é esfaqueada por B, sofrendo lesões corporais leves. Socorrida e medicada, A é orientada
quanto aos cuidados a tomar, mas não obedece à prescrição médica e em virtude dessa falta de
cuidado, o ferimento infecciona, gangrena, e ela morre. Assinale a alternativa CORRETA.
a) B responde pelo resultado morte, visto se tratar de causa superveniente absolutamente
independente.
b) B responde pelo ato de lesão praticado, visto se tratar de causa concomitante relativamente
independente.
c) B responde pelo resultado morte, visto se tratar de causa concomitante absolutamente
independente.
d) B responde pelo resultado morte, visto se tratar de causa preexistente relativamente
independente.
e) B responde pelo ato de lesão anteriormente praticado, visto se tratar de causa superveniente
relativamente independente, que por si só produziu o resultado.

Q10. FCC/TJ-RR/Juiz Substituto/2015


No que toca à relação de causalidade, é correto afirmar que
a) é normativa nos crimes omissivos impróprios.

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b) a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,


produziu o resultado, não se podendo imputar os fatos anteriores a quem os praticou.
c) a previsão legal de que a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado, se tinha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, é
aplicável aos crimes omissivos próprios.
d) se adota em nosso sistema a teoria da conditio sine qua non, distinguindo-se, porém, causa de
condição ou concausa.
e) a teoria da imputação objetiva estabelece que somente pode ser objetivamente imputável um
resultado causado por uma ação humana quando a mesma criou, para o seu objeto protegido,
uma situação de perigo juridicamente relevante, ainda que permitido, e o perigo se materializou
no resultado típico.

Q.11. CESPE/DPF/Delegado de Polícia/2013


Item 37
No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens
Ocorre legítima defesa sucessiva, na hipótese de legítima defesa real contra legítima defesa
putativa.
o Certo
o Errado

Q.12. VUNESP/PC-CE/Delegado de Polícia/2015


Considera-se em estado de necessidade quem
a) pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, ainda que nas circunstâncias seja exigível sacrifício.
b) exclusivamente em situação de calamidade pública, pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
c) pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se
d) exclusivamente em situação de calamidade pública, pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio (excluído
direito alheio), cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se
e) pratica o fato para salvar de perigo iminente ou atual, que não provocou por sua vontade, nem
podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, ainda que nas circunstâncias seja exigível
sacrifício.

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Q13. FCC/DPE-CE/Defensoria Pública/2014


Segundo entendimento doutrinário, o consentimento do ofendido (quando não integra a própria
descrição típica), a adequação social e a inexigibilidade de conduta diversa constituem causas
supralegais de exclusão, respectivamente, da
a) tipicidade, da culpabilidade e da ilicitude.
b) culpabilidade, da tipicidade e da ilicitude.
c) ilicitude, da tipicidade e da culpabilidade.
d) ilicitude, da culpabilidade e da tipicidade.
e) culpabilidade, da ilicitude e da tipicidade.

Q14. CFUNDEP/DPE-MG/Defensor Público/2014


Analise o caso a seguir.
Para repelir a arremetida de um cão feroz, o agente usa uma arma de fogo matando o animal. O
animal tinha sido instado ao ataque pelo seu dono, o que era do conhecimento do agente.
O agente praticou o fato
a) em estado de necessidade.
b) em legítima defesa.
c) em exercício regular de direito.
d) em inexigibilidade de outra conduta.

Q15. FUNDEP/DPE-MG/Defensor Público/2014


Analise o caso a seguir.
Mediante um disparo com arma de fogo, o agente produziu na vítima um ferimento. Por
considerar que o disparo fosse suficiente para causar a morte da vítima, o agente cessou sua ação.
Recolhida a um hospital, a vítima morreu pela ingestão de uma substância tóxica, que ao invés do
medicamento prescrito, lhe ministrou inadvertidamente uma enfermeira. As lesões sofridas pela
vítima inicialmente não lhe causariam morte, sendo esta causada exclusivamente pela ingestão
da substância tóxica.
Na hipótese, assinale a alternativa CORRETA.
a) O agente da agressão responderá por lesões corporais e a enfermeira, por homicídio culposo.
b) O agente da agressão responderá por homicídio doloso consumado e a enfermeira, por
homicídio culposo.
c) O agente da agressão responderá por homicídio doloso tentado e a enfermeira, por homicídio
culposo.

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d) O agente da agressão e a enfermeira responderão por homicídio consumado em concurso de


pessoas.

Q16. VUNESP/TJ-SP/Juiz Substituto/2014


No tocante à relação de causalidade no crime (art. 13, Código Penal), analise as seguintes
assertivas e escolha a opção que contenha afirmação falsa:
a) A superveniência de causa relativamente independente, que, por si só, produz o resultado,
exclui a imputação original, mas os fatos anteriores são imputados a quem os praticou.
b) A relação de causalidade relevante para o Direito Penal é a que é previsível ao agente. A cadeia
causal, aparentemente infinita sob a ótica naturalística, é limitada pelo dolo ou pela culpa do
agente.
c) As concausas absolutamente independentes excluem a causalidade da conduta.
d) A relação de causalidade tem relevância nos crimes materiais ou de resultado e nos formais ou
de mera conduta.

Q17. NC-UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014


Em Segundo a teoria da tipicidade conglobante, o fato não é típico por falta de lesividade:
1. quando se cumpre um dever jurídico.
2. quando, para defender um bem ou valor próprio, o agente sacrifica bem ou valor alheios de
menor magnitude.
3. quando se pratica uma ação fomentada pelo direito.
4. quando há o consentimento do titular do bem jurídico.
5. quando o agente pratica a conduta em legítima defesa putativa.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 1, 2, 4 e 5 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 3 e 5 são verdadeiras.

Q18. VUNESP/TJ-PA/Juiz Substituto/2014


O Assinale a alternativa com o nome e a nacionalidade do principal defensor da teoria da
tipicidade conglobante.
a) Nilo Batista, brasileiro.
b) Luigi Ferrajoli, italiano.

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c) Kai Ambos, alemão.


d) Klaus Tiedemann, alemão.
e) Eugenio Raúl Zaffaroni, argentino.

Q19. UESPI/PC-PI/Delegado de Polícia/2014


Segundo a teoria da tipicidade conglobante proposta por Eugenio Raúl Zaffaroni, quando um
médico, em virtude de intervenção cirúrgica cardíaca por absoluta necessidade corta com bisturi
a região torácica do paciente, é CORRETO afirmar que
a) responde pelo crime de lesão corporal.
b) não responde por nenhum crime, pois está albergado pela causa de exclusão de ilicitude do
exercício regular de direito.
c) não responde por nenhum crime, carecendo o fato de tipicidade, já que não podem ser
consideradas típicas aquelas condutas toleradas ou mesmo incentivadas pelo ordenamento
jurídico.
d) não responde por nenhum crime, pois estará agindo em erro de tipo provocado por terceiro.
e) não responde por nenhum crime, pois está albergado pela causa de exclusão de ilicitude do
estado de necessidade.

Q20. UESPI/PC-PI/Delegado de Polícia/2014


Considerando os elementos que, segundo a doutrina majoritária, compõem o conceito analítico
de crime, é CORRETO afirmar que o erro de proibição inevitável, o erro de tipo inevitável, os
movimentos reflexos, a coação moral irresistível e o estado de necessidade configuram,
respectivamente, causas de exclusão:
a) Tipicidade, culpabilidade, tipicidade, conduta e antijuridicidade.
b) Culpabilidade, tipicidade, conduta, culpabilidade e antijuridicidade.
c) Tipicidade, tipicidade, conduta, antijuridicidade e antijuridicidade.
d) Culpabilidade, antijuridicidade, conduta, culpabilidade e antijuridicidade.
e) Antijuridicidade, tipicidade, conduta, conduta e culpabilidade.

Q21. MPE-PR/MPE-PR/Promotor/2014
Quanto ao estado de necessidade, assinale a alternativa correta:
a) O direito penal brasileiro adota a teoria unitária do estado de necessidade, reconhecendo-o
unicamente como causa de exculpação;
b) Para a teoria diferenciadora, se o bem jurídico sacrificado tiver valor inferior àquele protegido
na situação de necessidade, estaremos diante do chamado estado de necessidade exculpante;

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c) Para a teoria diferenciadora, se o bem jurídico sacrificado tiver valor igual àquele protegido na
situação de necessidade, estaremos diante do chamado estado de necessidade justificante;
d) O direito penal brasileiro adota a teoria unitária do estado de necessidade, reconhecendo-o
unicamente como causa de justificação;
e) O direito penal brasileiro adota a teoria diferenciadora do estado de necessidade,
reconhecendo-o em certos casos como causa de exculpação e em outros como de justificação,
conforme a ponderação de valores entre o bem sacrificado e o protegido.

Q22. MPE-SP/MPE-SP/Promotor Substituto/2017


Policial militar, em patrulhamento de rotina, se depara com “perigoso assaltante”, seu desafeto,
que já havia cumprido pena por diversos roubos. Imediatamente, o policial dá voz de prisão ao
indivíduo que, incontinente, inicia uma fuga. Nesse instante, o miliciano descarrega sua arma,
efetuando disparos em direção do fugitivo que é atingido pelas costas. Dois dias após o ocorrido,
o “perigoso assaltante” entra em óbito em razão da lesão sofrida.
A conduta do policial caracteriza
a) ação em estrito cumprimento do dever legal.
b) lesão corporal seguida de morte.
c) ação em legítima defesa.
d) resistência seguida de morte.
e) homicídio qualificado.

Q23.MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2017
Sobre legítima defesa, assinale a alternativa correta:
a) A ação ou a omissão de ação, determinante de agressão injusta, atual ou iminente, a bem
jurídico próprio ou de terceiro, autoriza a legítima defesa, mas a ação imprudente, determinante
de igual agressão, não autoriza a legítima defesa, podendo, eventualmente, autorizar causa de
justificação diversa.
b) A utilização da legítima defesa por B contra agressão injusta e atual realizada por A, bêbado
evidente, com capacidade psicomotora comprometida pelo consumo do álcool, está
condicionada a limitações ético-sociais, que definem a permissibilidade de defesa.
c) A legítima defesa de outrem independe da vontade de defesa, expressa ou presumida, do
agredido.
d) A agressão injusta, atual ou iminente, a bem jurídico próprio ou de terceiro, derivada de
ataques de animais, de doentes mentais, de estados de inconsciência ou de convulsões
epilépticas, não admite a legítima defesa, podendo, eventualmente, autorizar causa de
justificação diversa.
e) O excesso doloso ou culposo, na utilização da legítima defesa putativa por A contra o agressor
putativo B, não pode ser repelido mediante utilização da legítima defesa real, por B contra A.

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Q24.FUNDEP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2017
Sobre causas de exclusão de ilicitude, de isenção de pena e sobre o erro, assinale a alternativa
CORRETA:
a) Que o direito penal reconhece a legítima defesa sucessiva e também a recíproca.
b) Que a coação física irresistível é causa de isenção de pena.
c) Que o erro, quanto aos pressupostos fáticos, se vencível, permite o tratamento do crime como
culposo.
d) Que é condição para o reconhecimento da legítima defesa que ao agente não seja possível
furtar-se à agressão ao seu direito.

Q25. MPE-SC/MPE-SC/2016
O Código Penal, ao tratar da relação de causalidade, consignou que a superveniência de causa
relativamente independente somente afasta a imputação quando, por si só, produziu o resultado,
excluindo outras considerações quanto aos fatos anteriores ocorridos.
o Certo
o Errado

Q26. MPDFT/MPDFT/Promotor de Justiça/2015


Sobre o nexo de causalidade, à luz do Código Penal brasileiro, assinale a opção CORRETA:
a) Por aplicação direta da teoria da causalidade adequada, adotada como regra pelo Código Penal
brasileiro, “Télamon", operário da mina de extração de ferro, agindo sem dolo ou culpa, não pode
ser responsabilizado pelo homicídio praticado com a arma de fogo produzida com aquele minério.
b) “Páris", com ânimo de matar, fere “Nestor", o qual, vindo a ser transportado em ambulância,
morre em decorrência de lesões experimentadas em acidente automobilístico a caminho do
hospital, sendo o acidente, no caso, causa superveniente e relativamente independente,
respondendo “Páris" por homicídio consumado.
c) “Aquiles", sabendo que “Heitor" é hemofílico, fere-o, com intuito homicida, ocorrendo
efetivamente a morte, em virtude de hemorragia derivada da doença da qual “Heitor" era
portador, situação essa que leva à punição de “Aquiles" por homicídio tentado, sendo a hemofilia,
nesse caso, considerada concausa.
d) “Menelau", inimigo do condenado à morte “Tideu", presenciando os instantes anteriores à
execução, antecipa-se ao carrasco e mata o sentenciado, caso em que sua conduta não é punível,
por falta de configuração jurídica de causa do resultado morte, que se daria de qualquer maneira.
e) “Pátroclo", com o intuito de matar “Eneas", dispara contra ele com arma de fogo, ferindo-o,
sobrevindo a morte de “Eneas", exclusivamente por intoxicação causada por envenenamento
provocado no dia anterior por “Ulisses", devendo “Pátroclo", nessa situação, responder por

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homicídio tentado, porque o envenenamento é considerado causa absolutamente independente


preexistente.

Q27. CEFET/MPE-BA//Promotor de Justiça/2015


Analise as seguintes assertivas acerca da tipicidade e ilicitude:
I – No tocante à relação entre a tipicidade e a ilicitude, a teoria da indiciariedade defende que a
tipicidade não guarda qualquer relação com a ilicitude, devendo, inicialmente, ser comprovado o
fato típico, para, posteriormente, ser demonstrada a ilicitude, enquanto a teoria da absoluta
dependência defende o conceito de tipo total do injusto, colocando a ilicitude no campo da
tipicidade, pontuando, portanto, que a ilicitude é essência da tipicidade.
II – No estado de necessidade e na legítima defesa, em caso de excesso culposo, o agente
responderá por tal conduta, ainda que ausente a previsão culposa do delito praticado em
decorrência do excesso praticado.
III – A legítima defesa real é incabível contra quem age sob a excludente do estado de necessidade
ou da própria legítima defesa real.
IV – A força maior, o caso fortuito, a coação física irresistível e os movimentos reflexos são causas
de exclusão de conduta.
V – O consentimento do ofendido só é admitido em caso de bem jurídico disponível e capacidade
do ofendido para consentir.
Estão CORRETAS as assertivas:
a) I, II e IV.
b) I, III e V.
c) I, IV e V.
d) II, III e IV.
e) III, IV e V.

Q28. MPE-PR/MPE-PR/Promotor Público/2014


Assinale a alternativa correta
a) O dever de agir para impedir o resultado está relacionado à tipicidade dos crimes omissivos
impróprios e impede a exclusão da ilicitude por estado de necessidade;
b) O dever legal de enfrentar o perigo está relacionado com a tipicidade dos crimes comissivos
por omissão e impede a exclusão da ilicitude por estado de necessidade;
c) O dever de enfrentar o perigo é norma que impede a exclusão da ilicitude por estado de
necessidade;
d) Tanto o dever de agir como o de impedir o resultado impedem a exclusão da ilicitude por
estado de necessidade;

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e) O dever de agir para impedir o resultado é norma que impede a exclusão da ilicitude por estado
de necessidade.

Q29. MPE-PR/MPE-PR/Promotor/2014
Quanto à legítima defesa é incorreto afirmar:
a) A expressão excesso intensivo é usada para referir-se ao uso imoderado de meios necessários,
sendo que a expressão excesso extensivo é usada para referir-se ao uso de meios desnecessários;
b) A expressão excesso intensivo é usada para referir-se ao uso de meios desnecessários, sendo
que a expressão excesso extensivo é usada para referir-se ao uso imoderado de meios
necessários;
c) Inexiste legítima defesa real de legítima defesa real;
d) Há possibilidade de legítima defesa real de legítima defesa putativa;
e) Há possibilidade de duas legítimas defesas putativas concomitantes.

Q30. FCC/MPE-PA/Promotor de Justiça/2014


O Segundo sua classificação doutrinária dominante, o chamado ofendículo pode mais
precisamente caracterizar situação de exclusão de
a) antijuridicidade.
b) tipicidade.
c) periculosidade.
d) culpabilidade.
e) punibilidade.

Q31. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014


Segundo a doutrina majoritária, em apenas uma das causas de exclusão de ilicitude previstas no
artigo 23 do Código Penal Brasileiro, a legítima defesa, pode ocorrer excesso doloso.
o Certo
o Errado

Q32. MPE-MA/MPE-MA/Promotor de Justiça/2014


A assertiva: “a conduta expressa e previamente consagrada como um direito ou um dever será
sempre atípica, pouco importando a subsunção formal ao tipo”, está relacionada com:
a) A tipicidade concreta;
b) O erro de tipo;

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c) O erro de proibição;
d) A tipicidade conglobante;
e) O erro de tipo permissivo.

Q33. FUNDATEC/PC-RS/2018
A relação de causalidade sempre foi um tema assaz debatido na doutrina. Em sua obra imortal, o
mestre Nélson Hungria destacou mais de uma dezena de teorias sobre o ponto. Nesse mote,
analise os itens abaixo e marque a alternativa incorreta:
a) "Dizia Binding, ironicamente, que a teoria da equivalência, a coberto de limites, levaria a punir-
se como participe de adultério o carpinteiro que fabricou o leito em que se deita o par amoroso"
(HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Vol. I, Tomo 11, 53 ed., Rio de Janeiro: Forense,
1978, p. 66). Com o escopo de obstar esse regressus ad infinitum, deve-se interromper a cadeia
causal no instante em que não houver dolo ou culpa por parte daquelas pessoas que tiveram
alguma importância na produção do resultado.
b) durante um assalto, a vítima, apavorada com a arma de fogo que lhe é apontada, morre de
ataque cardíaco. Por sua vez, o autor apodera-se do bem e foge. Estando-se diante de uma causa
relativamente independente concomitante, que mantém integra a relação de causalidade, deve
o agente responder pelo latrocínio.
c) o Código Penal acolheu, como regra, a teoria da conditio sine que non, que se vale do critério
da eliminação hipotética. No entanto, existem situações que não são adequadamente
solucionadas pelo emprego da mencionada teoria, sendo o que ocorre, por exemplo, com a dupla
causalidade.
d) as causas absolutamente independentes - preexistentes, concomitantes e supervenientes - não
se originam da conduta do agente e, por isso, são aptas ao rompimento do nexo causal.

Q34. CESPE/TJ-RN/Juiz Substituto/2013


No que se refere ao conceito de antijuridicidade e às hipóteses de sua exclusão, assinale a opção
correta.
a) Age no exercício regular de direito o oficial de justiça que, em cumprimento a decisão proferida
nos autos do procedimento de medidas protetivas de urgência, adentra no imóvel da ofendida
para afastar do lar, coercitivamente, o ofensor.
b) A causa de exclusão da ilicitude decorrente da prática da conduta em estrito cumprimento do
dever legal pode estender-se ao coautor se for de seu conhecimento a situação justificadora.
c) Age em legítima defesa aquele que, para combater o fogo que repentinamente tomou conta
de seu automóvel, invade carro de terceiro estacionado nas proximidades e dele retira um
extintor, sem autorização do proprietário.
d) As causas excludentes de ilicitude são exaustivamente elencadas no Código Penal.
e) De acordo com a teoria adotada pelo Código Penal, o estado de necessidade pode funcionar
como causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, conforme os valores dos bens em
conflito.

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Q35. CESPE/MPE-RO/Promotor de Justiça/2013


No que tange a ilicitude, causas de exclusão e excesso punível, assinale a opção correta.
a) Segundo a teoria diferenciadora, o estado de necessidade é causa de exclusão de ilicitude em
face da razoabilidade da situação fática.
b) É cabível a legítima defesa real contra a legítima defesa real decorrente de excesso por erro de
tipo escusável.
c) Age no estrito cumprimento de dever legal o motorista de ambulância que, para salvar a vida
de paciente conduzido ao hospital, ultrapassa a velocidade permitida na via e colide o veículo,
causando lesão a bem jurídico de terceiro.
d) De acordo com a visão finalista do tipo, a concepção material de ilicitude permite a construção
de causas supralegais de justificação.
e) Age em estado de necessidade agressivo o indivíduo que, ao caminhar em via pública, mata
um cachorro que o ataca ao se soltar da coleira de seu dono.

Q36. MPDFT/MPDFT/Promotor de Justiça/2013


Assinale a alternativa CORRETA:
a) Como exceção à teoria da equivalência dos antecedentes causais, para o Código Penal a
imputação do resultado ao agente somente pode ser afastada por causa preexistente.
b) Para o Código Penal, causas preexistentes e concomitantes relativamente independentes,
adentrando a esfera de consciência do agente, não excluem a imputação do resultado.
c) É exemplo de causa superveniente absolutamente independente a situação do passageiro de
ônibus colidido com poste de eletricidade, o qual, ileso e no exterior do veículo, morre atingido
por fio energizado.
d) Na omissão própria, o nexo de causalidade normativo é estabelecido pelo legislador penal a
partir da posição de garante.
e) Não caracteriza homicídio, ainda que sobrevenha o resultado morte, a conduta de quem
dolosamente interrompe eficaz ação de salvamento da vítima por outrem.

Q37. MPDFT/MPDFT/Promotor de Justiça/2013


Indique a alternativa CORRETA:
a) A antijuridicidade formal da conduta típica demanda avaliação concreta do grau de lesão ao
bem jurídico.
b) O aborto praticado pelo médico para salvar a vida da gestante caracteriza hipótese de legítima
defesa de terceiro.

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c) Entre outros aspectos, diferenciam-se o exercício regular de direito e o estrito cumprimento do


dever legal pelo fato de que, enquanto no primeiro é facultativo o exercício do direito assegurado,
neste o agente deve cumprir o comando legal.
d) A possibilidade de fuga não impede o agente de praticar conduta amparada pelo estado de
necessidade justificante.
e) Atua em legítima defesa a pessoa que, para escapar de ataque de animal feroz ordenado por
seu desafeto, invade propriedade de terceiro sem autorização do morador.

Q38. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2013


Assinale a alternativa incorreta:
a) Cabe legítima defesa real contra legítima defesa putativa;
b) Cabe legítima defesa real contra quem age sob coação moral irresistível;
c) Cabe legítima defesa real contra estado de necessidade real;
d) Cabe legítima defesa real contra agente inimputável;
e) Cabe legítima defesa real contra quem age com excesso derivado de legítima defesa real.

Q39. CESPE/DPE-RR/Defensor Público/2013


No que diz respeito à relação de causalidade, à superveniência de causa independente e à
relevância da omissão no direito penal, assinale a opção correta.
a) A teoria adotada pelo CP tem como inconveniente a possibilidade de se levar ad infinitum a
pesquisa da causa, abrangendo todos os agentes das causas anteriores, sendo limitada pelo dolo
ou culpa da conduta e do vínculo objetivo do agente com a ação.
b) A exclusão do nexo de causalidade ocorre nas concausas absolutamente independentes
quando estas forem supervenientes, mas não ocorre quando estas forem preexistentes ou
concomitantes.
c) A relevância causal da omissão diz respeito tão somente aos crimes omissivos próprios, em face
da relação causal objetiva preconizada pelo CP.
d) De acordo com preceito expresso no CP, a relação de causalidade limita-se aos crimes
materiais.
e) O CP adota a teoria da causalidade jurídica, uma vez que a causalidade relevante para o direito
penal é aquela que pode ser prevista pelo agente, ou seja, que se encontra na esfera da
previsibilidade, podendo ser mentalmente antecipada.

Q40. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2013


Analise o enunciado da questão abaixo e assinale:
"CERTO" (C) OU "ERRADO" (E)

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Na hipótese do sujeito, na condução de um ônibus pela via pública, colidir com um poste que
sustenta fios elétricos, um dos quais, caindo ao chão, atinge um passageiro ileso e já fora do
veículo, provocando a sua morte em decorrência da forte descarga elétrica recebida, corresponde
a causa superveniente relativamente independente.
o Certo
o Errado

Q41. MPE-PR/MPE-PR/2012
O Sobre legítima defesa, assinale a alternativa incorreta:
a) Não é possível falar em legítima defesa real contra legítima defesa real, mas é admissível
legítima defesa real contra legítima defesa putativa e legítima defesa real contra excesso de
legítima defesa, real ou putativa;
b) A proteção contra lesões corporais produzidas em situação de ataque epiléptico não pode ser
justificada pela legítima defesa, mas pode ser justificada pelo estado de necessidade;
c) A legítima defesa putativa constitui exemplo de erro sobre os pressupostos fáticos de uma
causa de justificação e, se evitável, reduz a culpabilidade, conforme a teoria limitada da
culpabilidade;
d) As limitações ético-sociais para o exercício da legítima defesa contra agressões injustas, atuais
ou iminentes, a bem jurídico, produzidas por crianças, impõem ao agredido procedimentos
alternativos prévios, cuja observância condiciona a permissibilidade da defesa;
e) A legítima defesa pode ser utilizada para repelir agressão injusta, atual ou iminente, a bem
jurídico, realizada por alguém em situação de coação moral irresistível ou de obediência
hierárquica, excludentes da culpabilidade

Q42. VUNESP/TJ-RJ/Juiz/2012
João e Paulo são amigos e colegas de faculdade. João avista Paulo na via pública e, movido por
animus jocandi, encosta o dedo indicador nas costas de Paulo, falseia a voz e anuncia um
“assalto”. João determina a Paulo que não olhe para trás, e prosseguem assim, andando juntos,
o dedo indicador de João sob a sua camisa e ao mesmo tempo encostado nas costas de Paulo,
simulando o cano de uma arma de fogo. Pedro, amigo de Paulo, mas que não conhece João,
visualiza a cena e interpreta que Paulo está prestes a ser morto por João. Nesse momento, Paulo
ameaça reagir, e João, em voz alta, diz que irá atirar. Todas as pessoas que tiveram a atenção
atraída para a cena intuíram que Paulo seria morto e com Pedro não foi diferente. Pedro, então,
saca arma de fogo e efetua um disparo contra João. O tiro foi mal executado e acaba por atingir
e matar Paulo.
A partir de tal caso hipotético, é de se considerar que Pedro agiu
a) em legítima defesa de terceiro, mas em razão do erro e do excesso cometeu homicídio culposo.
b) amparado por causa excludente de culpabilidade e, apesar do erro quanto à pessoa, não se
vislumbra crime algum.

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c) em legítima defesa putativa de terceiro e cometeu erro na execução, motivo pelo qual praticou
homicídio culposo.
d) em legítima defesa putativa de terceiro e cometeu erro na execução, motivo pelo qual não se
vislumbra crime algum.

Q43. CESPE/TJ-PI/Juiz/2012
Assinale a opção correta a respeito da ilicitude e das suas causas de exclusão.
a) Considere que Antônio seja agredido por Lucas, de forma injustificável, embora lhe fosse
igualmente possível fugir ou permanecer e defender-se. Nessa situação, como o direito é
instrumento de salvaguarda da paz social, caso Antônio enfrentasse e ferisse gravemente Lucas,
ele deveria ser acusado de agir com excesso doloso.
b) Se a excludente do estrito cumprimento do dever legal for reconhecida em relação a um
agente, necessariamente será reconhecida em relação aos demais coautores, ou partícipes do
fato, que tenham conhecimento da situação justificadora.
c) Considere que, para proteger sua propriedade, Abel tenha instalado uma cerca elétrica oculta
no muro de sua residência e que duas crianças tenham sido eletrocutadas ao tentar pulá-la. Nesse
caso, caracteriza-se exercício regular do direito de forma excessiva, devendo Abel responder por
homicídio culposo.
d) Em relação ao estado de necessidade, adota-se no CP a teoria diferenciadora, segundo a qual
a excludente de ilicitude poderá ser reconhecida como justificativa para a prática do fato típico,
quando o bem jurídico sacrificado for de valor menor ou igual ao do bem ameaçado.
e) No que se refere ao terceiro que sofre a ofensa, o estado de necessidade classifica-se em
agressivo, quando a ação é dirigida contra o provocador dos fatos, e defensivo, quando o agente
destrói bem de terceiro inocente.

Q44. CESPE/TJ-PI/Juiz/2012
No que tange às causas excludentes de ilicitude, após apontar quais são as assertivas verdadeiras
(V) e falsas (F), assinale a única sequência CORRETA:

( ) Não há crime quando o agente pratica o fato em estado de necessidade, em legítima defesa,
em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
( ) O agente, quando praticar os atos em legítima defesa, não responderá pelo excesso punível na
modalidade dolosa ou culposa.
( ) Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
( ) O agente, em qualquer das hipóteses do artigo 23 do Código Penal (legítima defesa, estado de
necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito), responderá pelo
excesso doloso ou culposo.

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( ) Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, pretérita, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
a) V, F, V, V, F
b) F, V, V, F, V
c) F, F, V, V, F
d) V, F, V, F, V

Q45. FCC/TCE-RO/Procurador/2010
Assinale A licitude da conduta
a) não exclui o crime, interferindo tão-somente na pena.
b) não pode ser admitida em razão de causa de justificação não prevista em lei.
c) não repercute na esfera cível, se reconhecida no juízo criminal.
d) afasta a culpabilidade da ação típica praticada pelo agente.
e) não exclui a possibilidade de punição pelo excesso doloso ou culposo.

Q46. Estagiário Forense/ MPE RJ/2018


Tradicionalmente, a doutrina majoritária brasileira define crime como o fato típico, ilícito e
culpável. Em relação à ilicitude, afirma-se que é o comportamento humano contrário à ordem
jurídica que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos tutelados. Por outro lado, o Código Penal prevê
situações que funcionam como causas de exclusão da ilicitude, impedindo o reconhecimento da
prática de crime, ainda que a conduta seja típica.
De acordo com o Código Penal, são causas legais de exclusão da ilicitude:
a) estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e coação moral
irresistível;
b) estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular
do direito;
c) estado de necessidade, legítima defesa, cumprimento de ordem de superior hierárquico e
exercício regular do direito;
d) estado de necessidade, legítima defesa, cumprimento de ordem de superior hierárquico,
estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito;
e) estado de necessidade, legítima defesa, cumprimento de ordem de superior hierárquico e
coação moral irresistível.

Q47. IBFC/Juiz Federal Substituto/2018


Leia as assertivas e ao final marque a opção correta:

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I - O consentimento do ofendido é causa de extinção da tipicidade, sempre que apreça expressa


ou tacitamente no tipo de injusto, como condição que deve estar necessariamente presente para
funcionar como excludente.
II - Ainda a respeito da disciplina da ilicitude, é possível constatar que o nosso Código Penal
relaciona quatro causas de exclusão da ilicitude, mas apenas explicitou conceitualmente duas
delas em sua Parte Geral.
III - Age em legítima defesa de direito difuso de terceiros, a equipe policial que ingressa no interior
de uma residência para prender em flagrante delito uma pessoa que lá se encontra, mantendo
escondida em seu interior, farta quantidade de droga.
IV - Segundo a teoria da ratio essendi, a prática de uma conduta típica indicia sempre a sua própria
ilicitude, de modo que se resultar provado que o agente agiu em legítima defesa, teremos o caso
de uma conduta típica, mas com a exclusão de sua antijuricidade.
V - No que concerne ao instituto do estado de necessidade adotado pelo legislador pátrio, é
==162712==

possível afirmar que age em estado de necessidade exculpante, a equipe policial que ingressa no
interior de uma residência para prender quem se encontra em flagrante delito.
a) Apenas as assertivas I e II estão corretas.
b) Apenas as assertivas III e IV estão corretas.
c) Apenas as assertivas I e V estão corretas.
d) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.
e) Apenas as assertivas III e V estão corretas.

7.2 GABARITO

Q1. A Q17. D Q33. B


Q2. A Q18. E Q34. B
Q3. INCORRETO Q19. C Q35. D
Q4. C Q20. B Q36. B
Q5. D Q21. D Q37. C
Q6. D Q22. E Q38. C
Q7. A Q23. B Q39. D
Q8. E Q24. C Q40. CORRETA
Q9. E Q25. INCORRETA Q41. C
Q10. A Q26. E Q42. D
Q11. INCORRETO Q27. E Q43. B
Q12. C Q28. C Q44. A
Q13. C Q29. A Q45. E
Q14. B Q30. A Q46. B
Q15. C Q31. INCORRETO Q47. A
Q16. D Q32. D

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Aula 04
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7.3 LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS

Q1. FUNDEP/DPE-MG/Defensor Público/2014


Analise o caso a seguir.
Ao passar próximo ao estoque de uma loja de roupas, um dos vendedores viu que havia ali um
incêndio de grandes proporções. Naquela situação, correu em direção à porta do
estabelecimento que, por ser estreita, estava totalmente obstruída por um cliente que entrava
no local. Desconhecendo o incêndio e achando que estava sofrendo uma agressão, o cliente
reagiu empurrando o vendedor, que lhe desferiu um soco. Os empurrões do cliente, assim
como a agressão do vendedor produziram recíprocas lesões corporais de natureza leve.
Na hipótese, é CORRETO afirmar.
a) que o vendedor agiu em estado de necessidade e o cliente, em legítima defesa putativa.
b) que o vendedor agiu em estado de necessidade putativo e o cliente, em legítima defesa.
c) que o vendedor agiu em legítima defesa e o cliente, em estado de necessidade.
d) que o vendedor agiu em legítima defesa putativa e o cliente, em estado de necessidade
putativo.

Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão, conforme o caso em tela, o vendedor agiu em
estado de necessidade já que, diante a colisão de dois interesses jurídicos colocados em perigo,
escolheu se salvar. Por sua vez, o cliente agiu em legítima defesa putativa, pois, supondo estar
acobertado por legítima defesa, repeliu uma agressão que só era injusta em razão de um equívoco
sobre a realidade.

Q2. VUNESP/TJ-MS/Juiz Substituto/2015


Considerando as causas excludentes da ilicitude, é correto afirmar que:
a) o estado de necessidade putativo ocorre quando o agente, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe encontrar-se em estado de necessidade ou quando, conhecendo a
situação de fato, supõe, por erro quanto à ilicitude, agir acobertado pela excludente.
b) há estado de necessidade agressivo quando a conduta do sujeito atinge um interesse de
quem causou ou contribuiu para a produção da situação de perigo.
c) de acordo com o art. 25, do Código Penal, os requisitos da legítima defesa são: a agressão
atual ou iminente e a utilização dos meios necessários para repelir esta agressão.
d) o rol completo das hipóteses de excludentes de ilicitudes elencadas no art. 23 do Código
Penal são: a legítima defesa, o estado de necessidade e o estrito cumprimento do dever legal.
e) legítima defesa subjetiva é a repulsa contra o excesso.

Comentários

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A alternativa A está correta, haja vista que o estado de necessidade putativo ocorre quando a
situação de perigo do bem jurídico só existe na cabeça do agente, é imaginada ou suposta por ele.
A alternativa B está incorreta. O estado de necessidade agressivo consiste em atingir o bem jurídico
de pessoa que não causou o perigo.
A alternativa C está incorreta. De acordo com o artigo 25 do Código Penal:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Para configuração da legítima defesa, excludente da ilicitude, são necessários além da agressão atual
ou iminente e a utilização moderada dos meios necessários para repelir esta agressão, os seguintes
requisitos:
• Agressão injusta;
• Proteção de direito próprio ou alheio;
• Conhecimento da situação de fato justificante.
O conhecimento da situação de fato justificante é o elemento subjetivo necessário para a
configuração da legítima defesa.
A alternativa D está incorreta. De acordo com o art. 23 do Código Penal, são hipóteses de excludentes
de ilicitude:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Como pode se perceber, na alternativa não foi elencada a hipótese exercício regular do direito.
A alternativa E está incorreta. A legítima defesa subjetiva é, na verdade, o excesso derivado de erro
de tipo escusável ou inevitável. Neste caso, a vítima se excede, ao se defender de uma injusta
agressão, por interpretar a realidade de forma equivocada, pensando necessitar de meios mais
gravosos do que realmente necessita.

Q3. CESPE/DPF/Delegado de Polícia/2013


Item 33
No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens
Considere que João, maior e capaz, após ser agredido fisicamente por um desconhecido,
também maior e capaz, comece a bater, moderadamente, na cabeça do agressor com um
guarda-chuva e continue desferindo nele vários golpes, mesmo estando o desconhecido
desacordado. Nessa situação hipotética, João incorre em excesso intensivo.
o Certo
o Errado
Comentários:

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No caso da legítima defesa, como no caso das demais excludentes de ilicitude, o agente responde
pelo excesso. É o que determina o parágrafo único do artigo 23 do Código Penal:
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.
O excesso punível pode ser subdividido, de acordo com a doutrina, em intensivo e extensivo.
Excesso intensivo é aquele que se relaciona com os meios utilizados para repelir a agressão ou ao
grau de sua utilização.
Excesso extensivo, por sua vez, se configura quando a conduta para repelir à agressão se prolonga
no tempo em período superior ao da própria agressão.
O item está incorreto. João continuou desferindo golpes após o desconhecido já estar acordado, ou
seja, sua reação se prolongou após já haver a cessação da agressão injusta. Logo, o excesso é
extensivo.

Q4. CESPE/DPE-AL/Defensor Público/2017


Com relação à ilicitude e às causas de exclusão, julgue os itens a seguir.
I. As causas de exclusão de antijuridicidade previstas no CP são taxativas.
II. As fontes das causas de justificação são a lei, a necessidade e a falta de interesse.
III. Os efeitos das causas excludentes de antijuridicidade se estendem à esfera extrapenal.
IV. O consentimento do ofendido é causa de exclusão de ilicitude expressa no CP.

Estão certos apenas os itens


a) I e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.
Comentários:
O item I está incorreto. Parte da doutrina e da jurisprudência entende que é possível a aplicação de
causas supralegais de exclusão de ilicitude.
O item II está correto. As fontes das causas de justificação são: a lei (estrito cumprimento de dever
legal e exercício regular de direito), a necessidade (estado de necessidade e legítima defesa) e a falta
de interesse (consentimento do ofendido).
O item III está correto. A exemplo disso podemos citar o art. 65 do Código de Processo Penal que
assim dispõe:
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em
estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no
exercício regular de direito.
A matéria é de Direito Processual Penal, sendo relacionada à nossa matéria.
O item VI está incorreto. O consentimento do ofendido é causa supralegal de exclusão de ilicitude.

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Desse modo, a alternativa C é a correta e gabarito da questão.

Q5. CESPE/PC-PE/Delegado de Polícia/2016


A relação de causalidade, estudada no conceito estratificado de crime, consiste no elo entre a
conduta e o resultado típico. Acerca dessa relação, assinale a opção correta.
a) Para os crimes omissivos impróprios, o estudo do nexo causal é relevante, porquanto o CP
adotou a teoria naturalística da omissão, ao equiparar a inação do agente garantidor a uma
ação.
b) A existência de concausa superveniente relativamente independente, quando necessária à
produção do resultado naturalístico, não tem o condão de retirar a responsabilização penal da
conduta do agente, uma vez que não exclui a imputação pela produção do resultado posterior;
c) O CP adota, como regra, a teoria da causalidade adequada, dada a afirmação nele constante
de que “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa; causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.
d) Segundo a teoria da imputação objetiva, cuja finalidade é limitar a responsabilidade penal,
o resultado não pode ser atribuído à conduta do agente quando o seu agir decorre da prática
de um risco permitido ou de uma conduta que diminua o risco proibido.
e) O estudo do nexo causal nos crimes de mera conduta é relevante, uma vez que se observa o
elo entre a conduta humana propulsora do crime e o resultado naturalístico.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. Como estudado na aula anterior, nos crimes omissivos impróprios,
adota-se a teoria normativa, que preconiza que apenas pode ser responsabilizado penalmente
aquele que apresenta um comportamento negativo a partir da ideia do dever jurídico de agir.
A alternativa B está incorreta. A concausa superveniente relativamente independente exclui a
imputação quando, por si só, produziu o resultado. Ou seja, não se pode dizer que causa
relativamente independente nunca exclui a responsabilização penal.
A alternativa C está incorreta. O Código Penal, em relação ao nexo causal, prevê o seguinte, no caput
do seu artigo 13:
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Percebe-se, da leitura do artigo 13 do Código Penal, que houve a adoção da teoria da equivalência
das condições. Sua base é a chamada regra da conditio sine qua non, isto é, deve ser considerada
causa aquele comportamento (comissivo ou omissivo) cuja ausência implicaria na não produção do
resultado.
A alternativa D está correta. De acordo com a teoria da imputação objetiva, não basta analisar o
antecedente no modo das ciências exatas, da lei de causa e efeito, é imprescindível que se analise
também o conteúdo jurídico do antecedente.
A alternativa E está incorreta, pois, o nexo causal, no que se refere ao resultado naturalístico, é
relevante apenas para os crimes materiais. Nos crimes de mera conduta, não há resultado
naturalístico.

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Q6. FAURGS/TJ-RS/Juiz Substituto/2016


Sobre tipicidade, considere as afirmações abaixo.
I - Tipicidade conglobante (antinormatividade) é a comprovação de que a conduta legalmente
típica está também proibida pela norma, o que se obtém desentranhando o alcance dessa
norma proibitiva conglobada com as demais disposições do ordenamento jurídico.
II - Tipicidade legal é a individualização que a lei faz da conduta, mediante o conjunto dos
elementos descritivos e valorativos (normativos) de que se vale o tipo legal.
III - Tipicidade, para a teoria indiciária, é uma presunção iuris et iuris da normatividade da
licitude.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) I, II e III.
Comentários:
O item I está correto, pois, conforme a teoria conglobante, o fato típico engloba a tipicidade formal,
a tipicidade material e a antinormatividade do fato. Portanto, não basta que haja a tipicidade formal
e a tipicidade material, é necessário que o fato praticado contrarie o ordenamento típico como um
todo.
O item II está correto. A tipicidade legal é elemento do fato típico, consistindo na adequação entre
conduta e o tipo penal.
O item III está incorreta. Para a teoria indiciária, a tipicidade representa presunção iuris tantum
(relativa) da normatividade, haja vista que pode ser afastada a ilicitude se demonstrada a existência
de alguma causa excludente de ilicitude.
Portanto, a alternativa D é o gabarito da questão.

Q7. CESPE/TJ-DFT/Juiz Substituto/2016


De acordo com o CP, constituem hipóteses de exclusão da antijuridicidade
a) o estrito cumprimento do dever legal e o estado de necessidade.
b) a insignificância da lesão e a inexigibilidade de conduta diversa.
c) a legítima defesa putativa e o estrito cumprimento do dever legal.
d) o estado de necessidade e a coação moral irresistível.
e) o exercício regular de direito e a inexigibilidade de conduta diversa.
Comentários:

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A alternativa A está correta. De acordo com o art. 23 do Código Penal, são causas que excluem a
ilicitude:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Q8. VUNESP/TJ-MS/Juiz Substituto/2015


Assinale a alternativa correta.
a) Norma penal em branco é aquela cujo preceito secundário do tipo penal é estabelecido por
outra norma legal, regulamentar ou administrativa.
b) A teoria da imputação objetiva consiste em destacar o resultado naturalístico como objeto
do bem jurídico penalmente tutelado.
c) Da Constituição Federal de 1988 pode-se extrair a garantia à sociedade pela aplicação do
princípio da não fragmentariedade, consistente na proteção de todos os bens jurídicos e
proteção dos interesses jurídicos.
d) O Código Penal Brasileiro adotou a teoria do resultado para aferição do tempo do crime,
conforme se depreende do art. 4º do mencionado Código.
e) A tipicidade conglobante é um corretivo da tipicidade legal, posto que pode excluir do âmbito
do típico aquelas condutas que apenas aparentemente estão proibidas.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. Como estudado na aula 02, a norma penal em branco é aquela que
depende de complementação normativa para sua aplicação, sendo que, no caso de preceito
secundário (norma penal em branco ao revés), é indispensável que o complemento seja outra norma
legal. Isto porque tanto o crime quanto a pena devem estar previstos em lei penal anterior, por
determinação do princípio da legalidade.
A alternativa B está incorreta. Na verdade, a teoria da imputação objetiva busca dar ao nexo causal
um conteúdo jurídico, e não só naturalístico.
A alternativa C está incorreta. Como visto na aula 02, o princípio da fragmentariedade preconiza que
o Direito Penal só deve criminalizar as condutas mais graves que sejam praticadas contra os bens
jurídicos mais importantes.
A alternativa D está incorreta. De acordo com o conteúdo visto na aula 00, o Código Penal Brasileiro
adotou a teoria da atividade para aferição do tempo do crime, conforme se depreende do artigo 4º
do Código Penal.
A alternativa E está correta, pois, conforme a teoria conglobante, para que a conduta seja
considerada crime é necessário que o fato praticado contrarie o ordenamento típico como um todo.
Esta teoria entende que o fato típico engloba a tipicidade formal, a tipicidade material e a
antinormatividade do fato.

Q9. FMP Concursos/DPE-PA/Defensor Público/2015

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A é esfaqueada por B, sofrendo lesões corporais leves. Socorrida e medicada, A é orientada


quanto aos cuidados a tomar, mas não obedece à prescrição médica e em virtude dessa falta
de cuidado, o ferimento infecciona, gangrena, e ela morre. Assinale a alternativa CORRETA.
a) B responde pelo resultado morte, visto se tratar de causa superveniente absolutamente
independente.
b) B responde pelo ato de lesão praticado, visto se tratar de causa concomitante relativamente
independente.
c) B responde pelo resultado morte, visto se tratar de causa concomitante absolutamente
independente.
d) B responde pelo resultado morte, visto se tratar de causa preexistente relativamente
independente.
e) B responde pelo ato de lesão anteriormente praticado, visto se tratar de causa superveniente
relativamente independente, que por si só produziu o resultado.
Comentários: A alternativa E é a correta e gabarito da questão, pois, a superveniência de causa
relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos
anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

Q10. FCC/TJ-RR/Juiz Substituto/2015


No que toca à relação de causalidade, é correto afirmar que
a) é normativa nos crimes omissivos impróprios.
b) a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si
só, produziu o resultado, não se podendo imputar os fatos anteriores a quem os praticou.
c) a previsão legal de que a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado, se tinha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, é
aplicável aos crimes omissivos próprios.
d) se adota em nosso sistema a teoria da conditio sine qua non, distinguindo-se, porém, causa
de condição ou concausa.
e) a teoria da imputação objetiva estabelece que somente pode ser objetivamente imputável
um resultado causado por uma ação humana quando a mesma criou, para o seu objeto
protegido, uma situação de perigo juridicamente relevante, ainda que permitido, e o perigo se
materializou no resultado típico.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois, nos crimes omissivos, o nexo causal é normativo, isto é, realizado
com o intermédio de uma norma que liga o resultado à conduta do agente, aquela que prevê o dever
jurídico de agir.
A alternativa B está incorreta. A superveniência de causa relativamente independente exclui a
imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a
quem os praticou.

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A alternativa C está incorreta. A previsão de que a omissão é penalmente relevante quando o


omitente devia e podia agir para evitar o resultado, se tinha por lei obrigação de cuidado, proteção
ou vigilância, é aplicável aos crimes omissivos impróprios.
A alternativa D está incorreta, tendo em vista que não há distinção entre causa, condição ou
concausa, sendo estas equivalentes.
A alternativa E está incorreta. De acordo com a teoria da imputação objetiva, para constatar a
causalidade é necessário, além da ocorrência do resultado, que este possa ser imputado
juridicamente. Ademais, é imprescindível que haja a produção de um risco proibido pelo agente.
Desta forma, conclui-se se o perigo for permitido não há que se falar em imputação objetiva.

Q.11. CESPE/DPF/Delegado de Polícia/2013


Item 37
No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens
Ocorre legítima defesa sucessiva, na hipótese de legítima defesa real contra legítima defesa
putativa.
o Certo
o Errado

Comentários
Legítima defesa sucessiva é aquela em que o agente, após provocar a injusta agressão, busca repelir
o excesso.
No caso de legítima defesa real contra legítima defesa sucessiva, temos um caso em que se configura
a legítima defesa. Vejamos todos os casos em que é possível se configurar a legítima defesa:

Portanto, conforme a segunda hipótese do quadro, é possível legítima defesa real de legítima defesa
putativa. Entretanto, não é o caso de legítima defesa sucessiva.

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O item está incorreto. Legítima defesa sucessiva é aquela em que o agente, após ter efetuado
agressão injusta, procura repelir o excesso da vítima.

Q.12. VUNESP/PC-CE/Delegado de Polícia/2015


Considera-se em estado de necessidade quem
a) pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, ainda que nas circunstâncias seja exigível
sacrifício.
b) exclusivamente em situação de calamidade pública, pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
c) pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se
d) exclusivamente em situação de calamidade pública, pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio (excluído
direito alheio), cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se
e) pratica o fato para salvar de perigo iminente ou atual, que não provocou por sua vontade,
nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, ainda que nas circunstâncias seja
exigível sacrifício.

Comentários:
Vale relembrar. São requisitos do estado de necessidade:
 Perigo atual e inevitável;
 Não provocação voluntária do perigo;
 O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio;
 Inevitabilidade do comportamento lesivo;
 Inexigibilidade do sacrifício do interesse ameaçado;
 Finalidade de salvar o bem do perigo, conhecimento da situação de fato exculpante
(elemento subjetivo);
 Ausência do dever legal de enfrentar o perigo.
Desse modo, a alternativa C é a correta e gabarito da questão.

Q13. FCC/DPE-CE/Defensoria Pública/2014


Segundo entendimento doutrinário, o consentimento do ofendido (quando não integra a
própria descrição típica), a adequação social e a inexigibilidade de conduta diversa constituem
causas supralegais de exclusão, respectivamente, da
a) tipicidade, da culpabilidade e da ilicitude.
b) culpabilidade, da tipicidade e da ilicitude.
c) ilicitude, da tipicidade e da culpabilidade.

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d) ilicitude, da culpabilidade e da tipicidade.


e) culpabilidade, da ilicitude e da tipicidade.

Comentários:
O consentimento do ofendido, quando não for elementar do crime, será considerado causa
supralegal de exclusão da ilicitude.
A adequação social, como visto na aula 02, consiste em instrumento de interpretação das leis em
geral que preconiza que, ainda que determinada conduta aparentemente seja típica, sendo ela aceita
pela sociedade, estará no âmbito da atipicidade.
A inexigibilidade de conduta diversa trata-se de causa supralegal de exclusão de culpabilidade.
Embora ainda não tenhamos estudado as causas de exclusão da culpabilidade, por meio de exclusão
das alternativas, considerando as respostas anteriores, seria possível chegar até a assertiva correta.

Desse modo, a alternativa C é a correta e gabarito da questão.

Q14. CFUNDEP/DPE-MG/Defensor Público/2014


Analise o caso a seguir.
Para repelir a arremetida de um cão feroz, o agente usa uma arma de fogo matando o animal.
O animal tinha sido instado ao ataque pelo seu dono, o que era do conhecimento do agente.
O agente praticou o fato
a) em estado de necessidade.
b) em legítima defesa.
c) em exercício regular de direito.
d) em inexigibilidade de outra conduta.

Comentários:

A legítima defesa é a causa excludente de ilicitude que acoberta a conduta de repelir, de si mesmo
ou de outrem, uma injusta agressão, atual ou iminente. Neste caso, o animal foi utilizado como
instrumento do crime, assim, há uma injusta agressão, a qual torna lícita a conduta que visa a
neutralizar tal agressão.

Desse modo, a alternativa B é a correta e gabarito da questão.

Q15. FUNDEP/DPE-MG/Defensor Público/2014


Analise o caso a seguir.
Mediante um disparo com arma de fogo, o agente produziu na vítima um ferimento. Por
considerar que o disparo fosse suficiente para causar a morte da vítima, o agente cessou sua
ação. Recolhida a um hospital, a vítima morreu pela ingestão de uma substância tóxica, que ao
invés do medicamento prescrito, lhe ministrou inadvertidamente uma enfermeira. As lesões

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sofridas pela vítima inicialmente não lhe causariam morte, sendo esta causada exclusivamente
pela ingestão da substância tóxica.
Na hipótese, assinale a alternativa CORRETA.
a) O agente da agressão responderá por lesões corporais e a enfermeira, por homicídio
culposo.
b) O agente da agressão responderá por homicídio doloso consumado e a enfermeira, por
homicídio culposo.
c) O agente da agressão responderá por homicídio doloso tentado e a enfermeira, por
homicídio culposo.
d) O agente da agressão e a enfermeira responderão por homicídio consumado em concurso
de pessoas.

Comentários:
A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. Desta forma,
o agente da agressão responderá pelo homicídio tentado, enquanto a enfermeira responderá por
homicídio culposo já que agiu com imprudência.

Desse modo, a alternativa C é a correta e gabarito da questão.

Q16. VUNESP/TJ-SP/Juiz Substituto/2014


No tocante à relação de causalidade no crime (art. 13, Código Penal), analise as seguintes
assertivas e escolha a opção que contenha afirmação falsa:
a) A superveniência de causa relativamente independente, que, por si só, produz o resultado,
exclui a imputação original, mas os fatos anteriores são imputados a quem os praticou.
b) A relação de causalidade relevante para o Direito Penal é a que é previsível ao agente. A
cadeia causal, aparentemente infinita sob a ótica naturalística, é limitada pelo dolo ou pela
culpa do agente.
c) As concausas absolutamente independentes excluem a causalidade da conduta.
d) A relação de causalidade tem relevância nos crimes materiais ou de resultado e nos formais
ou de mera conduta.
Comentários:
A alternativa D está incorreta. Como nos crimes formais e de mera conduta o resultado naturalístico
não é necessário para a consumação do crime, o nexo de causalidade não é relevante.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa D.

Q17. NC-UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014


Segundo a teoria da tipicidade conglobante, o fato não é típico por falta de lesividade:

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1. quando se cumpre um dever jurídico.


2. quando, para defender um bem ou valor próprio, o agente sacrifica bem ou valor alheios de
menor magnitude.
3. quando se pratica uma ação fomentada pelo direito.
4. quando há o consentimento do titular do bem jurídico.
5. quando o agente pratica a conduta em legítima defesa putativa.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 1, 2, 4 e 5 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 3 e 5 são verdadeiras.
Comentários:
De acordo com a teoria da tipicidade conglobante, o fato típico engloba a tipicidade formal, a
tipicidade material e a antinormatividade do fato. Deste modo, as causas de exclusão da ilicitude: a)
estrito cumprimento do dever legal, b) exercício regular do direito e c) consentimento do ofendido
deixam de integrar a tipicidade formal, passando a se localizar dentro da antinomatividade. Sendo
assim, temos um esvaziamento do elemento ilicitude para apenas constar a legítima defesa e o
estado de necessidade.
Deste modo, as causas 2 e 5, por se tratarem respectivamente de estado de necessidade e legítima
defesa, não acarretam a atipicidade da condutam, mas excluem a ilicitude. Por sua vez, as causas 1,
3 e 4, que correspondem respectivamente ao conceito de estrito cumprimento do dever legal,
exercício regular do direito e consentimento do ofendido acarretam a atipicidade da conduta por
falta de lesividade. Essas três hipóteses não configuram o delito em razão da falta de
antinormatividade.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa D.

Q18. VUNESP/TJ-PA/Juiz Substituto/2014


O Assinale a alternativa com o nome e a nacionalidade do principal defensor da teoria da
tipicidade conglobante.
a) Nilo Batista, brasileiro.
b) Luigi Ferrajoli, italiano.
c) Kai Ambos, alemão.
d) Klaus Tiedemann, alemão.
e) Eugenio Raúl Zaffaroni, argentino.

Comentários:
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A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. A Teoria da Tipicidade Conglobante foi


elaborada pelo jurista argentino Eugenio Raul Zaffaroni.

Q19. UESPI/PC-PI/Delegado de Polícia/2014


Segundo a teoria da tipicidade conglobante proposta por Eugenio Raúl Zaffaroni, quando um
médico, em virtude de intervenção cirúrgica cardíaca por absoluta necessidade corta com
bisturi a região torácica do paciente, é CORRETO afirmar que
a) responde pelo crime de lesão corporal.
b) não responde por nenhum crime, pois está albergado pela causa de exclusão de ilicitude do
exercício regular de direito.
c) não responde por nenhum crime, carecendo o fato de tipicidade, já que não podem ser
consideradas típicas aquelas condutas toleradas ou mesmo incentivadas pelo ordenamento
jurídico.
d) não responde por nenhum crime, pois estará agindo em erro de tipo provocado por terceiro.
e) não responde por nenhum crime, pois está albergado pela causa de exclusão de ilicitude do
estado de necessidade.
Comentários:
O eminente Zaffaroni defende que, se um fato for permitido ou incentivado pelo ordenamento
jurídico, mesmo que por lei não penal, não pode ser considerado, ao mesmo tempo, como típico. A
conduta do agente não pode ser, por um lado, incentivada ou permitida por um ramo do Direito e,
de outro, considerada típica.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa C.

Q20. UESPI/PC-PI/Delegado de Polícia/2014


Considerando os elementos que, segundo a doutrina majoritária, compõem o conceito
analítico de crime, é CORRETO afirmar que o erro de proibição inevitável, o erro de tipo
inevitável, os movimentos reflexos, a coação moral irresistível e o estado de necessidade
configuram, respectivamente, causas de exclusão:
a) Tipicidade, culpabilidade, tipicidade, conduta e antijuridicidade.
b) Culpabilidade, tipicidade, conduta, culpabilidade e antijuridicidade.
c) Tipicidade, tipicidade, conduta, antijuridicidade e antijuridicidade.
d) Culpabilidade, antijuridicidade, conduta, culpabilidade e antijuridicidade.
e) Antijuridicidade, tipicidade, conduta, conduta e culpabilidade.
Comentários:
O erro de proibição inevitável e a coação moral irresistível excluem a culpabilidade. O erro de tipo
inevitável exclui a tipicidade. Os movimentos reflexos excluem a conduta. O estado de necessidade
exclui a antijuridicidade.

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Portanto, o gabarito da questão é a alternativa B.

Q21. MPE-PR/MPE-PR/Promotor/2014
Quanto ao estado de necessidade, assinale a alternativa correta:
a) O direito penal brasileiro adota a teoria unitária do estado de necessidade, reconhecendo-o
unicamente como causa de exculpação;
b) Para a teoria diferenciadora, se o bem jurídico sacrificado tiver valor inferior àquele
protegido na situação de necessidade, estaremos diante do chamado estado de necessidade
exculpante;
c) Para a teoria diferenciadora, se o bem jurídico sacrificado tiver valor igual àquele protegido
na situação de necessidade, estaremos diante do chamado estado de necessidade justificante;
d) O direito penal brasileiro adota a teoria unitária do estado de necessidade, reconhecendo-o
unicamente como causa de justificação;
e) O direito penal brasileiro adota a teoria diferenciadora do estado de necessidade,
reconhecendo-o em certos casos como causa de exculpação e em outros como de justificação,
conforme a ponderação de valores entre o bem sacrificado e o protegido.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. O direito penal brasileiro adota a teoria unitária do estado de
necessidade, reconhecendo-o unicamente como causa de excludente da ilicitude.
A alternativa B está incorreta, haja vista que, para a teoria diferenciadora, se o bem jurídico
sacrificado tiver valor inferior àquele protegido na situação de necessidade, estaremos diante do
chamado estado de necessidade justificante, que pé excludente da ilicitude.
A alternativa C está incorreta pelo fato de para se configurar o estado de necessidade para a teoria
diferenciadora é necessário que o bem jurídico sacrificado tenha valor menor ao do protegido e não
valor igual.
A alternativa D está correta. A teoria unitária foi adotada pelo Código Penal como causa de
justificação (ou excludente de ilicitude).
A alternativa E está incorreta, pois o Código Penal adotou a teoria unitária, que não exige que o
agente proceda à valoração dos interesses jurídicos em conflito.

Q22. MPE-SP/MPE-SP/Promotor Substituto/2017


Policial militar, em patrulhamento de rotina, se depara com “perigoso assaltante”, seu
desafeto, que já havia cumprido pena por diversos roubos. Imediatamente, o policial dá voz de
prisão ao indivíduo que, incontinente, inicia uma fuga. Nesse instante, o miliciano descarrega
sua arma, efetuando disparos em direção do fugitivo que é atingido pelas costas. Dois dias após
o ocorrido, o “perigoso assaltante” entra em óbito em razão da lesão sofrida.
A conduta do policial caracteriza
a) ação em estrito cumprimento do dever legal.

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b) lesão corporal seguida de morte.


c) ação em legítima defesa.
d) resistência seguida de morte.
e) homicídio qualificado.
Comentários:
A alternativa E está correta e se trata do gabarito da questão. A conduta acobertada por uma
excludente da ilicitude deve ser praticada com razoabilidade, dentro dos limites da lei. Caso
contrário, configurar-se-á o excesso, que deve ser punido no âmbito penal. Sobre o tema, prevê o
artigo 23 do Código Penal:
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.

Q23.MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2017
Sobre legítima defesa, assinale a alternativa correta:
a) A ação ou a omissão de ação, determinante de agressão injusta, atual ou iminente, a bem
jurídico próprio ou de terceiro, autoriza a legítima defesa, mas a ação imprudente,
determinante de igual agressão, não autoriza a legítima defesa, podendo, eventualmente,
autorizar causa de justificação diversa.
b) A utilização da legítima defesa por B contra agressão injusta e atual realizada por A, bêbado
evidente, com capacidade psicomotora comprometida pelo consumo do álcool, está
condicionada a limitações ético-sociais, que definem a permissibilidade de defesa.
c) A legítima defesa de outrem independe da vontade de defesa, expressa ou presumida, do
agredido.
d) A agressão injusta, atual ou iminente, a bem jurídico próprio ou de terceiro, derivada de
ataques de animais, de doentes mentais, de estados de inconsciência ou de convulsões
epilépticas, não admite a legítima defesa, podendo, eventualmente, autorizar causa de
justificação diversa.
e) O excesso doloso ou culposo, na utilização da legítima defesa putativa por A contra o
agressor putativo B, não pode ser repelido mediante utilização da legítima defesa real, por B
contra A.
A alternativa A está incorreta, pois a agressão injusta é a de natureza ilícita sendo provocada por
ação ou omissão, dolosa ou culposa. Desta forma a ação imprudente autoriza a legítima defesa.
A alternativa B está correta, pois haverá a exclusão da ilicitude no caso retratado, desde que a
conduta seja praticada com o fim de, dentro do uso moderados dos meios, rechaçar agressão atual
ou iminente ao seu próprio bem jurídico.
A alternativa C está incorreta, pois um dos requisitos da legítima defesa é a agressão injusta, assim,
se não houvesse a vontade de defesa e o direito fosse disponível aplicar-se-ia a condição supralegal
de exclusão da ilicitude: consentimento do ofendido.

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A alternativa D está incorreta. O inimputável, para teoria finalista, pratica fato típico e ilícito, sendo
assim, poderá se admitir a legítima defesa do inimputável. A agressão derivada de ataques de animais
autoriza a legítima defesa apenas no caso em que o animal for utilizado como arma, instrumento
para causar a agressão injusta. No estado de inconsciência completa ou de convulsões epilépticas
também não se admite a legítima defesa, pelo entendimento que prevalece, por não haver agressão
injusta, sendo possível o estado de necessidade, por exemplo.
A alternativa E está incorreta. O excesso doloso ou culposo pode ser repelido mediante utilização da
legítima defesa real ou qualquer espécie de legítima defesa.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa B.

Q24.FUNDEP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2017
Sobre causas de exclusão de ilicitude, de isenção de pena e sobre o erro, assinale a alternativa
CORRETA:
a) Que o direito penal reconhece a legítima defesa sucessiva e também a recíproca.
b) Que a coação física irresistível é causa de isenção de pena.
c) Que o erro, quanto aos pressupostos fáticos, se vencível, permite o tratamento do crime
como culposo.
d) Que é condição para o reconhecimento da legítima defesa que ao agente não seja possível
furtar-se à agressão ao seu direito.
Comentário:
A alternativa A está incorreta. A doutrina afasta a hipótese de legítima defesa recíproca, por ser seu
requisito a agressão injusta. Caso o sujeito inicie uma agressão injusta e a vítima se defensa (legítima
defesa), não é possível que o sujeito que iniciou a agressão invoque a legítima defesa, pois a agressão
da vítima é legítima.
A alternativa B está incorreta, pois, a coação física irresistível exclui a conduta, acarretando a
atipicidade do fato.
A alternativa C está correta, pois, de acordo com o art. 20 do Código Penal, o erro sobre elemento
constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto
em lei.
A alternativa D está incorreta. Na verdade, o estado de necessidade é que requisita esta condição,
vejamos:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa C.

Q25. MPE-SC/MPE-SC/2016

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O Código Penal, ao tratar da relação de causalidade, consignou que a superveniência de causa


relativamente independente somente afasta a imputação quando, por si só, produziu o
resultado, excluindo outras considerações quanto aos fatos anteriores ocorridos.
o Certo
o Errado
Comentários:
A assertiva está incorreta. Deve-se lembrar do teor do parágrafo primeiro do art. 13 do Código Penal
que dispõe que a superveniência de causa relativamente independente somente afasta a imputação
quando, por si só, produziu o resultado, devendo os fatos anteriores ser imputados a quem os
praticou.

Q26. MPDFT/MPDFT/Promotor de Justiça/2015


Sobre o nexo de causalidade, à luz do Código Penal brasileiro, assinale a opção CORRETA:
a) Por aplicação direta da teoria da causalidade adequada, adotada como regra pelo Código
Penal brasileiro, “Télamon", operário da mina de extração de ferro, agindo sem dolo ou culpa,
não pode ser responsabilizado pelo homicídio praticado com a arma de fogo produzida com
aquele minério.
b) “Páris", com ânimo de matar, fere “Nestor", o qual, vindo a ser transportado em ambulância,
morre em decorrência de lesões experimentadas em acidente automobilístico a caminho do
hospital, sendo o acidente, no caso, causa superveniente e relativamente independente,
respondendo “Páris" por homicídio consumado.
c) “Aquiles", sabendo que “Heitor" é hemofílico, fere-o, com intuito homicida, ocorrendo
efetivamente a morte, em virtude de hemorragia derivada da doença da qual “Heitor" era
portador, situação essa que leva à punição de “Aquiles" por homicídio tentado, sendo a
hemofilia, nesse caso, considerada concausa.
d) “Menelau", inimigo do condenado à morte “Tideu", presenciando os instantes anteriores à
execução, antecipa-se ao carrasco e mata o sentenciado, caso em que sua conduta não é
punível, por falta de configuração jurídica de causa do resultado morte, que se daria de
qualquer maneira.
e) “Pátroclo", com o intuito de matar “Eneas", dispara contra ele com arma de fogo, ferindo-o,
sobrevindo a morte de “Eneas", exclusivamente por intoxicação causada por envenenamento
provocado no dia anterior por “Ulisses", devendo “Pátroclo", nessa situação, responder por
homicídio tentado, porque o envenenamento é considerado causa absolutamente
independente preexistente.

Comentários
A alternativa A está incorreta. A teoria da causalidade adequada determina que só deve ser
considerada causa a condição que seja idônea para produzir o resultado. É necessário que o
antecedente possua idoneidade para a produção do resultado. Entretanto, não foi a adotada
expressamente pelo Código Penal, mas sim a da equivalência das condições.

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A alternativa B está incorreta pelo fato de que, tratando-se o acidente de causa superveniente e
relativamente independente, que por si só produziu o resultado, responderá “Páris" pelos fatos
anteriores, conforme dispõe o parágrafo primeiro do art. 13 do Código Penal.
A alternativa C está incorreta. Existindo uma relação de dependência entre a conduta do agente e a
causa que também influencia na produção do resultado, constata-se uma causa preexistente
relativamente independente, que acarreta a responsabilização do agente, uma vez que não rompe o
nexo causal. Desta forma, Aquiles será punido por homicídio consumado.
A alternativa D está incorreta. Neste caso, a causa da morte é exclusivamente atribuída ao agente,
devendo ser ele responsabilizado por homicídio consumado.
Por fim, a alternativa E é a correta, pois o envenenamento é considerado causa causa absolutamente
independente, rompendo o nexo causal, devendo, Pátroclo, por esta razão, responder apenas pelos
atos anteriores praticados.

Q27. CEFET/MPE-BA//Promotor de Justiça/2015


Analise as seguintes assertivas acerca da tipicidade e ilicitude:
I – No tocante à relação entre a tipicidade e a ilicitude, a teoria da indiciariedade defende que
a tipicidade não guarda qualquer relação com a ilicitude, devendo, inicialmente, ser
comprovado o fato típico, para, posteriormente, ser demonstrada a ilicitude, enquanto a teoria
da absoluta dependência defende o conceito de tipo total do injusto, colocando a ilicitude no
campo da tipicidade, pontuando, portanto, que a ilicitude é essência da tipicidade.
II – No estado de necessidade e na legítima defesa, em caso de excesso culposo, o agente
responderá por tal conduta, ainda que ausente a previsão culposa do delito praticado em
decorrência do excesso praticado.
III – A legítima defesa real é incabível contra quem age sob a excludente do estado de
necessidade ou da própria legítima defesa real.
IV – A força maior, o caso fortuito, a coação física irresistível e os movimentos reflexos são
causas de exclusão de conduta.
V – O consentimento do ofendido só é admitido em caso de bem jurídico disponível e
capacidade do ofendido para consentir.
Estão CORRETAS as assertivas:
a) I, II e IV.
b) I, III e V.
c) I, IV e V.
d) II, III e IV.
e) III, IV e V.

Comentários:
O item I está incorreto. Ao contrário do que se afirma na assertiva, a teoria da indiciariedade
preconiza que todo fato típico possui um indício de ilicitude. Defende, portanto, a existência de um
vínculo entre fato típico e ilicitude, ambos elementos do conceito analítico de crime.

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O item II está incorreto, pois não havendo a previsão de modalidade culposa, o excesso culposo não
poderá ser punido, haja visto que o fato será atípico.
O item III está correto. A legítima defesa real é incabível nos casos elencados, haja vista que cada
uma das agressões será injusta.
O item IV está correto. Como visto na aula anterior, a força maior, o caso fortuito, a coação física
irresistível e os movimentos reflexos excluem a conduta, tornando o fato atípico.
O item V está correto. Como visto em aula, para que o consentimento do ofendido seja considerado
causa supralegal de exclusão de ilicitude, apontam-se os seguintes requisitos:
• Capacidade do ofendido;
• Validade do consentimento;
• Disponibilidade do bem (objeto jurídico);
• Titularidade do bem (o ofendido deve ser o titular);
• Antecedência ou simultaneidade do consentimento;
• Forma expressa do consentimento;
• Ciência da situação fática que exclui a ilicitude.
Por fim, a alternativa E está correta e é o gabarito da questão.

Q28. MPE-PR/MPE-PR/Promotor Público/2014


Assinale a alternativa correta
a) O dever de agir para impedir o resultado está relacionado à tipicidade dos crimes omissivos
impróprios e impede a exclusão da ilicitude por estado de necessidade;
b) O dever legal de enfrentar o perigo está relacionado com a tipicidade dos crimes comissivos
por omissão e impede a exclusão da ilicitude por estado de necessidade;
c) O dever de enfrentar o perigo é norma que impede a exclusão da ilicitude por estado de
necessidade;
d) Tanto o dever de agir como o de impedir o resultado impedem a exclusão da ilicitude por
estado de necessidade;
e) O dever de agir para impedir o resultado é norma que impede a exclusão da ilicitude por
estado de necessidade.

Comentários:
A alternativa A está incorreta. O dever de agir para impedir o resultado está relacionado à tipicidade
dos crimes omissivos impróprios, mas não em todos os casos impede a exclusão da ilicitude por
estado de necessidade. O estado de necessidade não exclui a ilicitude nos casos em que o agente
provoca a situação de perigo e nos casos em que possua o dever legal de enfrenta-lo.
A alternativa B está incorreta. Na verdade, nos crimes omissivos por omissão há o "dever de agir
para impedir o resultado", enquanto o "dever de enfrentar o perigo" impede a configuração do
estado de necessidade.

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A alternativa C está correta e gabarito da nossa questão. Existindo o dever legal de enfrentar o
perigo, não será possível que o estado de necessidade exclua a ilicitude, por vedação legal expressa
prevista no art. 24, § 1º do Código Penal.
A alternativa D está incorreta, pois apenas nos casos em que o dever de agir decorrer do dever legal
imposto ao garante não será possível a exclusão da ilicitude por estado de necessidade.
A alternativa E está incorreta, pois o dever de agir para impedir o resultado é norma relacionada à
tipicidade dos crimes omissivos impróprios, que em alguns casos impede a exclusão da ilicitude por
estado de necessidade, mas não todos.
A questão é controversa, por envolver entendimento doutrinário não unânime.

Q29. MPE-PR/MPE-PR/Promotor/2014
Quanto à legítima defesa é incorreto afirmar:
a) A expressão excesso intensivo é usada para referir-se ao uso imoderado de meios
necessários, sendo que a expressão excesso extensivo é usada para referir-se ao uso de meios
desnecessários;
b) A expressão excesso intensivo é usada para referir-se ao uso de meios desnecessários, sendo
que a expressão excesso extensivo é usada para referir-se ao uso imoderado de meios
necessários;
c) Inexiste legítima defesa real de legítima defesa real;
d) Há possibilidade de legítima defesa real de legítima defesa putativa;
e) Há possibilidade de duas legítimas defesas putativas concomitantes.
Comentários:
A alternativa A está incorreta e é o gabarito da questão, haja vista que os conceitos se apresentam
invertidos. O excesso intensivo é aquele que se relaciona com os meios utilizados para repelir a
agressão ou ao grau de sua utilização, e o excesso extensivo, por sua vez, se configura quando a
conduta para repelir a agressão é feita por meio do uso imoderado dos meios necessários.

Q30. FCC/MPE-PA/Promotor de Justiça/2014


O Segundo sua classificação doutrinária dominante, o chamado ofendículo pode mais
precisamente caracterizar situação de exclusão de
a) antijuridicidade.
b) tipicidade.
c) periculosidade.
d) culpabilidade.
e) punibilidade.
Comentários:

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A alternativa A está correta e constitui o gabarito da questão. Os ofendículos, querem dizer obstáculo
ou obstrução. Há discussão na doutrina, sobre se tratar de exercício regular de um direito ou legítima
defesa, que seria preordenada. Desta forma, independentemente da interpretação, essa será uma
causa excludente da antijuridicidade.

Q31. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014


Segundo a doutrina majoritária, em apenas uma das causas de exclusão de ilicitude previstas
no artigo 23 do Código Penal Brasileiro, a legítima defesa, pode ocorrer excesso doloso.
o Certo
o Errado
Comentários:
A assertiva está incorreta. Como vimos na nossa aula, a conduta acobertada por qualquer excludente
da ilicitude deve ser praticada com razoabilidade, dentro dos limites da lei. Caso contrário,
configurar-se-á o excesso, que deve ser punido no âmbito penal.

Q32. MPE-MA/MPE-MA/Promotor de Justiça/2014


A assertiva: “a conduta expressa e previamente consagrada como um direito ou um dever será
sempre atípica, pouco importando a subsunção formal ao tipo”, está relacionada com:
a) A tipicidade concreta;
b) O erro de tipo;
c) O erro de proibição;
d) A tipicidade conglobante;
e) O erro de tipo permissivo.
Comentários:
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. A teoria conglobante defende que, se um fato
for permitido ou incentivado pelo ordenamento jurídico, mesmo que por lei não penal, não pode ser
considerado, ao mesmo tempo, como típico. A conduta do agente não pode ser, por um lado,
incentivada ou permitida por um ramo do Direito e, de outro, considerada típica.

Q33. FUNDATEC/PC-RS/2018
A relação de causalidade sempre foi um tema assaz debatido na doutrina. Em sua obra imortal,
o mestre Nélson Hungria destacou mais de uma dezena de teorias sobre o ponto. Nesse mote,
analise os itens abaixo e marque a alternativa incorreta:
a) "Dizia Binding, ironicamente, que a teoria da equivalência, a coberto de limites, levaria a
punir-se como participe de adultério o carpinteiro que fabricou o leito em que se deita o par
amoroso" (HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Vol. I, Tomo 11, 53 ed., Rio de
Janeiro: Forense, 1978, p. 66). Com o escopo de obstar esse regressus ad infinitum, deve-se
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interromper a cadeia causal no instante em que não houver dolo ou culpa por parte daquelas
pessoas que tiveram alguma importância na produção do resultado.
b) durante um assalto, a vítima, apavorada com a arma de fogo que lhe é apontada, morre de
ataque cardíaco. Por sua vez, o autor apodera-se do bem e foge. Estando-se diante de uma
causa relativamente independente concomitante, que mantém integra a relação de
causalidade, deve o agente responder pelo latrocínio.
c) o Código Penal acolheu, como regra, a teoria da conditio sine que non, que se vale do critério
da eliminação hipotética. No entanto, existem situações que não são adequadamente
solucionadas pelo emprego da mencionada teoria, sendo o que ocorre, por exemplo, com a
dupla causalidade.
d) as causas absolutamente independentes - preexistentes, concomitantes e supervenientes -
não se originam da conduta do agente e, por isso, são aptas ao rompimento do nexo causal.
Comentários:
A alternativa B está incorreta pelo fato de que o agente não pode responder pelo crime de latrocínio,
pois a grave ameaça não é uma das hipóteses que autoriza a qualificadora. A hipótese de
configuração do latrocínio depende de que o óbito decorra de violência, não abrangendo a grave
ameaça. Ainda estudaremos este crime na parte especial, mas a questão trazia assertivas bastante
interessantes para a compreensão do tema estudado em aula.

Q34. CESPE/TJ-RN/Juiz Substituto/2013


No que se refere ao conceito de antijuridicidade e às hipóteses de sua exclusão, assinale a
opção correta.
a) Age no exercício regular de direito o oficial de justiça que, em cumprimento a decisão
proferida nos autos do procedimento de medidas protetivas de urgência, adentra no imóvel da
ofendida para afastar do lar, coercitivamente, o ofensor.
b) A causa de exclusão da ilicitude decorrente da prática da conduta em estrito cumprimento
do dever legal pode estender-se ao coautor se for de seu conhecimento a situação justificadora.
c) Age em legítima defesa aquele que, para combater o fogo que repentinamente tomou conta
de seu automóvel, invade carro de terceiro estacionado nas proximidades e dele retira um
extintor, sem autorização do proprietário.
d) As causas excludentes de ilicitude são exaustivamente elencadas no Código Penal.
e) De acordo com a teoria adotada pelo Código Penal, o estado de necessidade pode funcionar
como causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, conforme os valores dos bens em
conflito.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois, neste caso, o oficial de justiça age no estrito cumprimento do
dever legal.
A alternativa B está correta. A causa de exclusão da ilicitude decorrente da prática da conduta em
estrito cumprimento do dever legal pode estender-se ao coautor, desde que esteja presente o
elemento subjetivo.

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A alternativa C está incorreta. No caso retratado, o agente age em estado de necessidade.


A alternativa D está incorreta, pois existem causas supralegais que excluem a ilicitude como, por
exemplo, o consentimento do ofendido.
A alternativa E está incorreta. De acordo com o art. 23 do Código Penal, o estado de necessidade é
causa de exclusão da ilicitude.

Q35. CESPE/MPE-RO/Promotor de Justiça/2013


No que tange a ilicitude, causas de exclusão e excesso punível, assinale a opção correta.
a) Segundo a teoria diferenciadora, o estado de necessidade é causa de exclusão de ilicitude
em face da razoabilidade da situação fática.
b) É cabível a legítima defesa real contra a legítima defesa real decorrente de excesso por erro
de tipo escusável.
c) Age no estrito cumprimento de dever legal o motorista de ambulância que, para salvar a vida
de paciente conduzido ao hospital, ultrapassa a velocidade permitida na via e colide o veículo,
causando lesão a bem jurídico de terceiro.
d) De acordo com a visão finalista do tipo, a concepção material de ilicitude permite a
construção de causas supralegais de justificação.
e) Age em estado de necessidade agressivo o indivíduo que, ao caminhar em via pública, mata
um cachorro que o ataca ao se soltar da coleira de seu dono.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. Para a teoria diferenciadora o estado de necessidade apenas se
configura se o bem jurídico sacrificado tiver valor menor ao do protegido.
A alternativa B está incorreta. É incabível a legítima defesa real contra a legítima defesa real haja
vista que uma das agressões tem que ser injusta.
A alternativa C está incorreta. No caso retratado, o agente age em estado de necessidade.
A alternativa D está correta. As causas supralegais de exclusão da ilicitude foram construídas a partir
da concepção material de ilicitude.
A alternativa E está incorreta. Seria agressivo se o agente atacasse um bem de terceiro, o que não
ocorreu no caso.

Q36. MPDFT/MPDFT/Promotor de Justiça/2013


Assinale a alternativa CORRETA:
a) Como exceção à teoria da equivalência dos antecedentes causais, para o Código Penal a
imputação do resultado ao agente somente pode ser afastada por causa preexistente.
b) Para o Código Penal, causas preexistentes e concomitantes relativamente independentes,
adentrando a esfera de consciência do agente, não excluem a imputação do resultado.

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c) É exemplo de causa superveniente absolutamente independente a situação do passageiro


de ônibus colidido com poste de eletricidade, o qual, ileso e no exterior do veículo, morre
atingido por fio energizado.
d) Na omissão própria, o nexo de causalidade normativo é estabelecido pelo legislador penal a
partir da posição de garante.
e) Não caracteriza homicídio, ainda que sobrevenha o resultado morte, a conduta de quem
dolosamente interrompe eficaz ação de salvamento da vítima por outrem.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. Pode ser afastada a imputação do resultado por causas preexistente,
concomitante e superveniente, se absolutamente independentes. Se for causa relativamente
independente somente afasta a imputação do resultado se superveniente, quando por si só produz
o resultado.
A alternativa B está correta. As causas preexistentes e concomitantes relativamente independentes
não rompem o nexo causal e o agente responde pelo resultado.
A alternativa C está incorreta. O caso retratado é exemplo de causa superveniente relativamente
independente, pois o choque se origina da própria colisão com o poste de eletricidade.
A alternativa D está incorreta. Na omissão imprópria, o nexo de causalidade normativo é
estabelecido pelo legislador penal a partir da posição de garante.
A alternativa E está incorreta. O agente que interrompe o salvamento deverá ser responsabilizado
pelo homicídio doloso.

Q37. MPDFT/MPDFT/Promotor de Justiça/2013


Indique a alternativa CORRETA:
a) A antijuridicidade formal da conduta típica demanda avaliação concreta do grau de lesão ao
bem jurídico.
b) O aborto praticado pelo médico para salvar a vida da gestante caracteriza hipótese de
legítima defesa de terceiro.
c) Entre outros aspectos, diferenciam-se o exercício regular de direito e o estrito cumprimento
do dever legal pelo fato de que, enquanto no primeiro é facultativo o exercício do direito
assegurado, neste o agente deve cumprir o comando legal.
d) A possibilidade de fuga não impede o agente de praticar conduta amparada pelo estado de
necessidade justificante.
e) Atua em legítima defesa a pessoa que, para escapar de ataque de animal feroz ordenado por
seu desafeto, invade propriedade de terceiro sem autorização do morador.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois, no caso, o correto seria a antijuridicidade material da conduta
típica, que demanda avaliação concreta do grau de lesão ao bem jurídico.
A alternativa B está incorreta pelo fato de que neste caso o médico age em estado de necessidade.

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A alternativa C está correta. Trata-se do conceito das duas hipóteses de excludente de ilicitude.
A alternativa D está incorreta, a possibilidade de fuga impede o agente de praticar conduta amparada
pelo estado de necessidade.
A alternativa E está incorreta, pois o agente age em estado de necessidade.

Q38. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2013


Assinale a alternativa incorreta:
a) Cabe legítima defesa real contra legítima defesa putativa;
b) Cabe legítima defesa real contra quem age sob coação moral irresistível;
c) Cabe legítima defesa real contra estado de necessidade real;
d) Cabe legítima defesa real contra agente inimputável;
e) Cabe legítima defesa real contra quem age com excesso derivado de legítima defesa real.

Comentários:
A alternativa C está incorreta e é o gabarito da questão. Se o agente age em estado de necessidade,
não há como se repelir sua agressão a título de legítima defesa, pois a atitude dele não será injusta.

Q39. CESPE/DPE-RR/Defensor Público/2013


No que diz respeito à relação de causalidade, à superveniência de causa independente e à
relevância da omissão no direito penal, assinale a opção correta.
a) A teoria adotada pelo CP tem como inconveniente a possibilidade de se levar ad infinitum a
pesquisa da causa, abrangendo todos os agentes das causas anteriores, sendo limitada pelo
dolo ou culpa da conduta e do vínculo objetivo do agente com a ação.
b) A exclusão do nexo de causalidade ocorre nas concausas absolutamente independentes
quando estas forem supervenientes, mas não ocorre quando estas forem preexistentes ou
concomitantes.
c) A relevância causal da omissão diz respeito tão somente aos crimes omissivos próprios, em
face da relação causal objetiva preconizada pelo CP.
d) De acordo com preceito expresso no CP, a relação de causalidade limita-se aos crimes
materiais.
e) O CP adota a teoria da causalidade jurídica, uma vez que a causalidade relevante para o
direito penal é aquela que pode ser prevista pelo agente, ou seja, que se encontra na esfera da
previsibilidade, podendo ser mentalmente antecipada.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o vínculo objetivo do agente com a ação não limita o regresso até
o infinito, mas apenas o elemento subjetivo.
A alternativa B está incorreta pelo fato de que ocorre a exclusão do nexo de causalidade nas
concausas absolutamente independentes supervenientes, preexistentes ou concomitantes.

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A alternativa C está incorreta. A relevância causal da omissão, tratada pelo Código no artigo 13, diz
respeito aos crimes omissivos impróprios, com a previsão da figura do garante.
A alternativa D está correta. Nosso Código Penal, acerca do resultado, prevê o seguinte:
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido.
Nota-se que o Código Penal foi claro quanto à relação de causalidade em relação à ação ou à omissão.
A alternativa E está incorreta, pois, o Código Penal adota a teoria da equivalência dos antecedentes
causais.

Q40. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2013


Analise o enunciado da questão abaixo e assinale:
"CERTO" (C) OU "ERRADO" (E)
Na hipótese do sujeito, na condução de um ônibus pela via pública, colidir com um poste que
sustenta fios elétricos, um dos quais, caindo ao chão, atinge um passageiro ileso e já fora do
veículo, provocando a sua morte em decorrência da forte descarga elétrica recebida,
corresponde a causa superveniente relativamente independente.
o Certo
o Errado
Comentários:
A assertiva está correta e é o gabarito da questão. A causa relativamente independente deriva do
antecedente. Só há a forte descarga elétrica porque os fios elétricos caem ao chão, o que foi
decorrência nítida da colisão com o poste que sustentava tais fios.

Q41. MPE-PR/MPE-PR/2012
Sobre legítima defesa, assinale a alternativa incorreta:
a) Não é possível falar em legítima defesa real contra legítima defesa real, mas é admissível
legítima defesa real contra legítima defesa putativa e legítima defesa real contra excesso de
legítima defesa, real ou putativa;
b) A proteção contra lesões corporais produzidas em situação de ataque epiléptico não pode
ser justificada pela legítima defesa, mas pode ser justificada pelo estado de necessidade;
c) A legítima defesa putativa constitui exemplo de erro sobre os pressupostos fáticos de uma
causa de justificação e, se evitável, reduz a culpabilidade, conforme a teoria limitada da
culpabilidade;
d) As limitações ético-sociais para o exercício da legítima defesa contra agressões injustas,
atuais ou iminentes, a bem jurídico, produzidas por crianças, impõem ao agredido
procedimentos alternativos prévios, cuja observância condiciona a permissibilidade da defesa;

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e) A legítima defesa pode ser utilizada para repelir agressão injusta, atual ou iminente, a bem
jurídico, realizada por alguém em situação de coação moral irresistível ou de obediência
hierárquica, excludentes da culpabilidade
Comentários:
A alternativa C está incorreta e é o gabarito da questão. De acordo com o Código Penal, a
descriminante putativa por erro de tipo, se inevitável, torna o fato atípico. Se evitável, exclui apenas
o dolo, respondendo o agente a título de culpa, se prevista a modalidade culposa do crime.

Q42. VUNESP/TJ-RJ/Juiz/2012
João e Paulo são amigos e colegas de faculdade. João avista Paulo na via pública e, movido por
animus jocandi, encosta o dedo indicador nas costas de Paulo, falseia a voz e anuncia um
“assalto”. João determina a Paulo que não olhe para trás, e prosseguem assim, andando juntos,
o dedo indicador de João sob a sua camisa e ao mesmo tempo encostado nas costas de Paulo,
simulando o cano de uma arma de fogo. Pedro, amigo de Paulo, mas que não conhece João,
visualiza a cena e interpreta que Paulo está prestes a ser morto por João. Nesse momento,
Paulo ameaça reagir, e João, em voz alta, diz que irá atirar. Todas as pessoas que tiveram a
atenção atraída para a cena intuíram que Paulo seria morto e com Pedro não foi diferente.
Pedro, então, saca arma de fogo e efetua um disparo contra João. O tiro foi mal executado e
acaba por atingir e matar Paulo.
A partir de tal caso hipotético, é de se considerar que Pedro agiu
a) em legítima defesa de terceiro, mas em razão do erro e do excesso cometeu homicídio
culposo.
b) amparado por causa excludente de culpabilidade e, apesar do erro quanto à pessoa, não se
vislumbra crime algum.
c) em legítima defesa putativa de terceiro e cometeu erro na execução, motivo pelo qual
praticou homicídio culposo.
d) em legítima defesa putativa de terceiro e cometeu erro na execução, motivo pelo qual não
se vislumbra crime algum.

Comentários:
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. Nesse caso, vislumbra-se a legítima defesa
putativa, na qual o agente supõe, por erro de tipo ou de proibição, estar acobertado por legítima
defesa. Ademais, também se constata a situação de aberratio ictus que, consoante a regra do art. 73
do Código Penal, considera a conduta como se fosse praticada contra o real agressor, não
descaracterizando a legítima defesa.

Q43. CESPE/TJ-PI/Juiz/2012
Assinale a opção correta a respeito da ilicitude e das suas causas de exclusão.
a) Considere que Antônio seja agredido por Lucas, de forma injustificável, embora lhe fosse
igualmente possível fugir ou permanecer e defender-se. Nessa situação, como o direito é

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instrumento de salvaguarda da paz social, caso Antônio enfrentasse e ferisse gravemente


Lucas, ele deveria ser acusado de agir com excesso doloso.
b) Se a excludente do estrito cumprimento do dever legal for reconhecida em relação a um
agente, necessariamente será reconhecida em relação aos demais coautores, ou partícipes do
fato, que tenham conhecimento da situação justificadora.
c) Considere que, para proteger sua propriedade, Abel tenha instalado uma cerca elétrica
oculta no muro de sua residência e que duas crianças tenham sido eletrocutadas ao tentar pulá-
la. Nesse caso, caracteriza-se exercício regular do direito de forma excessiva, devendo Abel
responder por homicídio culposo.
d) Em relação ao estado de necessidade, adota-se no CP a teoria diferenciadora, segundo a qual
a excludente de ilicitude poderá ser reconhecida como justificativa para a prática do fato típico,
quando o bem jurídico sacrificado for de valor menor ou igual ao do bem ameaçado.
e) No que se refere ao terceiro que sofre a ofensa, o estado de necessidade classifica-se em
agressivo, quando a ação é dirigida contra o provocador dos fatos, e defensivo, quando o
agente destrói bem de terceiro inocente.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. O Código Penal não exige comodus discessus para a legítima defesa.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. A excludente do estrito cumprimento do dever
legal se estende aos coautores, ou partícipes do fato, desde que esteja presente o elemento
subjetivo.
A alternativa C está incorreta. Trata-se de erro de proibição indireto, devendo Abel ser isento de
pena, se inevitável, ou a pena deve ser diminuída, se evitável.
A alternativa D está incorreta. O Código Penal adota a Teoria Unitária.
A alternativa E está incorreta. É exatamente o contrário, no que se refere ao terceiro que sofre a
ofensa, o estado de necessidade classifica-se em defensivo, quando a ação é dirigida contra o
provocador dos fatos, e agressivo, quando o agente destrói bem de terceiro inocente.

Q44. CESPE/TJ-PI/Juiz/2012
No que tange às causas excludentes de ilicitude, após apontar quais são as assertivas
verdadeiras (V) e falsas (F), assinale a única sequência CORRETA:

( ) Não há crime quando o agente pratica o fato em estado de necessidade, em legítima defesa,
em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
( ) O agente, quando praticar os atos em legítima defesa, não responderá pelo excesso punível
na modalidade dolosa ou culposa.
( ) Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

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( ) O agente, em qualquer das hipóteses do artigo 23 do Código Penal (legítima defesa, estado
de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito), responderá
pelo excesso doloso ou culposo.
( ) Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, pretérita, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
a) V, F, V, V, F
b) F, V, V, F, V
c) F, F, V, V, F
d) V, F, V, F, V
Comentários:
A alternativa A está correta. Vejamos. A assertiva 2 está errada tendo em vista que o agente, quando
praticar os atos em legítima defesa, responderá pelo excesso punível na modalidade dolosa ou
culposa de acordo com o parágrafo único do art. 23 do Código Penal:
Art. 23. Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá
pelo excesso doloso ou culposo.
A assertiva 5 está errada pois diverge do conceito legal de legítima defesa previsto no art. 25 do
Código Penal:
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Não há legítima defesa contra agressão pretérita.

Q45. FCC/TCE-RO/Procurador/2010
A licitude da conduta
a) não exclui o crime, interferindo tão-somente na pena.
b) não pode ser admitida em razão de causa de justificação não prevista em lei.
c) não repercute na esfera cível, se reconhecida no juízo criminal.
d) afasta a culpabilidade da ação típica praticada pelo agente.
e) não exclui a possibilidade de punição pelo excesso doloso ou culposo.
Comentários:
A alternativa E está correta. Mesmo com a exclusão da ilicitude, o agente responderá pelo excesso
punível como prevê o parágrafo único do art. 23 do Código Penal:
Art. 23. Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá
pelo excesso doloso ou culposo.

Q46. Estagiário Forense/ MPE RJ/2018


Tradicionalmente, a doutrina majoritária brasileira define crime como o fato típico, ilícito e
culpável. Em relação à ilicitude, afirma-se que é o comportamento humano contrário à ordem

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jurídica que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos tutelados. Por outro lado, o Código Penal
prevê situações que funcionam como causas de exclusão da ilicitude, impedindo o
reconhecimento da prática de crime, ainda que a conduta seja típica.
De acordo com o Código Penal, são causas legais de exclusão da ilicitude:
a) estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e coação moral
irresistível;
b) estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício
regular do direito;
c) estado de necessidade, legítima defesa, cumprimento de ordem de superior hierárquico e
exercício regular do direito;
d) estado de necessidade, legítima defesa, cumprimento de ordem de superior hierárquico,
estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito;
e) estado de necessidade, legítima defesa, cumprimento de ordem de superior hierárquico e
coação moral irresistível.
Comentários:

O art. 23 do Código Penal elenca as causas que excluem a ilicitude que implicam na inexistência de
crime:
Exclusão de ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Por essa razão, a resposta correta é a alternativa B.

Q47. IBFC/Juiz Federal Substituto/2018


Leia as assertivas e ao final marque a opção correta:
I - O consentimento do ofendido é causa de extinção da tipicidade, sempre que apreça expressa
ou tacitamente no tipo de injusto, como condição que deve estar necessariamente presente
para funcionar como excludente.
II - Ainda a respeito da disciplina da ilicitude, é possível constatar que o nosso Código Penal
relaciona quatro causas de exclusão da ilicitude, mas apenas explicitou conceitualmente duas
delas em sua Parte Geral.
III - Age em legítima defesa de direito difuso de terceiros, a equipe policial que ingressa no
interior de uma residência para prender em flagrante delito uma pessoa que lá se encontra,
mantendo escondida em seu interior, farta quantidade de droga.
IV - Segundo a teoria da ratio essendi, a prática de uma conduta típica indicia sempre a sua
própria ilicitude, de modo que se resultar provado que o agente agiu em legítima defesa,
teremos o caso de uma conduta típica, mas com a exclusão de sua antijuricidade.

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V - No que concerne ao instituto do estado de necessidade adotado pelo legislador pátrio, é


possível afirmar que age em estado de necessidade exculpante, a equipe policial que ingressa
no interior de uma residência para prender quem se encontra em flagrante delito.
a) Apenas as assertivas I e II estão corretas.
b) Apenas as assertivas III e IV estão corretas.
c) Apenas as assertivas I e V estão corretas.
d) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.
e) Apenas as assertivas III e V estão corretas.
Comentários:
O consentimento do ofendido pode funcionar como causa que exclui a tipicidade, nas situações em
que se exige a não concordância da vítima para sua configuração. Um exemplo é o delito de estupro:
se a vítima (maior e capaz) não consente, é estupro. Por sua vez, o consentimento do ofendido
também pode recair sobre a ilicitude, como causa supralegal, quando praticado em situação
justificante (tatuador que pratica lesão corporal, mas, por possuir o consentimento do ofendido, fica
afastada a ilicitude de sua conduta). Sendo assim, a assertiva I está correta.
Em que pese o art. 23 do CP elencar as causas legais que excluem a ilicitude (legítima defesa, estado
de necessidade, estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de direito), apenas explicitou,
atribuindo-lhes conceito, as excludentes de legítima defesa e estado de necessidade. Por
isso, correta a assertiva II.
Está incorreta a assertiva III porque age em estrito cumprimento do dever legal, a equipe policial
que ingressa no interior de uma residência para prender em flagrante delito uma pessoa que lá se
encontra, mantendo escondida em seu interior, farta quantidade de droga.
Também é incorreta a assertiva IV, porque a teoria descrita é a ratio cognoscendi. adotada pelo
nosso Código Penal.
Por sua vez, a assertiva V é incorreta, em razão da equipe policial não agir em estado de
necessidade, mas em estrito cumprimento de dever legal.
Ante o exposto, a alternativa A está correta e é o gabarito da questão.

7.4 QUESTÃO DISSERTATIVA

Q1. FCC/MPE-PA/2014/Promotor de Justiça Substituto


Diferencie descriminantes putativas por erro de tipo de descriminantes putativas por erro de
proibição.
Comentários:
Descriminante putativa por erro de tipo ocorre quando o agente imagina uma situação fática que lhe
permitiria agir, por estar acobertado por uma excludente de ilicitude. Também pode ser denominado
de erro de tipo permissivo, por envolver uma falsa percepção da realidade (erro de tipo) a respeito
da situação fática que lhe permitiria agir no caso (lei penal não-incriminadora permissiva). Nesta
situação, diz-se que agiu com culpa imprópria. Não se trata propriamente de culpa, pois ele age de
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forma intencional, mas imaginando estar acobertado por uma causa que justifica sua ação, que a
tornaria conforme o ordenamento jurídico. É um erro de tipo essencial sobre um tipo permissivo,
possuindo o mesmo tratamento, portanto.
Descriminante putativa por erro de proibição ocorre quando o agente interpreta a norma de forma
errada, pensando que está acobertado por uma descriminante, sem efetivamente estar. Também
pode ser denominada de erro de permissão ou erro de proibição indireto. O erro de proibição direto,
para ficar claro, seria aquele em que o agente interpreta a própria norma penal de forma incorreta,
imaginando que sua conduta não é alcançada pela lei penal incriminadora.

8. DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA


Neste ponto da aula, citamos, para fins de revisão, os principais dispositivos de lei e entendimentos
jurisprudenciais que podem fazer a diferença na hora da prova. Lembre-se de revisá-los!

 art. 13, caput, do CP: teoria da equivalência das condições


Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
 art. 13, § 1° do CP: causa relativamente independente superveniente que por si só causa o
resultado
Art. 13 § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
praticou.
 art. 14, do CP: norma de extensão temporal
Art. 14 - Diz-se o crime:
(...)
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único – Salvo disposição e em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
 art. 29 do CP: norma de extensão pessoal
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas,
na medida de sua culpabilidade.
 art. 13, § 2° do CP: norma de extensão causal
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
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(...)
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
 art. 23 do CP: causas excludentes da ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito
 art. 23, parágrafo único do CP: excesso punível
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.
 art. 24 do CP: estado de necessidade
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.
 art. 25 do CP: legítima defesa
Legítima defesa
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
 HC 115850 AgR /STF: incidência do estado de necessidade em relação ao furto famélico
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. HC SUBSTITUTIVO
DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CF. ART. 102, I, “D” E “I”. ROL TAXATIVO. MATÉRIA DE DIREITO
ESTRITO. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: PARADOXO. ORGANICIDADE DO DIREITO. FURTO (ART.
155, CAPUT, DO CP). REINCIDÊNCIA NA PRÁTICA CRIMINOSA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INAPLICABILIDADE. FURTO FAMÉLICO. ESTADO DE NECESSIDADE X INEXIGIBILIDADE DE
CONDUTA DIVERSA. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. O princípio da insignificância incide quando presentes, cumulativamente, as seguintes
condições objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma
periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e (d)

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inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. A aplicação do princípio da insignificância deve,


contudo, ser precedida de criteriosa análise de cada caso, a fim de evitar que sua adoção
indiscriminada constitua verdadeiro incentivo à prática de pequenos delitos patrimoniais. 3. O
valor da res furtiva não pode ser o único parâmetro a ser avaliado, devendo ser analisadas as
circunstâncias do fato para decidir-se sobre seu efetivo enquadramento na hipótese de crime
de bagatela, bem assim o reflexo da conduta no âmbito da sociedade. 4. In casu, o paciente foi
condenado pela prática do crime de furto (art. 155, caput, do Código Penal) por ter subtraído 4
(quatro) galinhas caipiras, avaliadas em R$ 40,00 (quarenta reais). As instâncias precedentes
deixaram de aplicar o princípio da insignificância em razão de ser o paciente contumaz na
prática do crime de furto. 5. Trata-se de condenado reincidente na prática de delitos contra o
patrimônio. Destarte, o reconhecimento da atipicidade da conduta do recorrente, pela adoção
do princípio da insignificância, poderia, por via transversa, imprimir nas consciências a ideia de
estar sendo avalizada a prática de delitos e de desvios de conduta. 6. O furto famélico subsiste
com o princípio da insignificância, posto não integrarem binômio inseparável. É possível que o
reincidente cometa o delito famélico que induz ao tratamento penal benéfico. 7. In casu, o
paciente é conhecido - consta na denúncia - por “Fernando Gatuno”, alcunha sugestiva de que
se dedica à prática de crimes contra o patrimônio; aliás, conforme comprovado por sua extensa
ficha criminal, sendo certo que a quantidade de galinhas furtadas (quatro), é apta a indicar que
o fim visado pode não ser somente o de saciar a fome à falta de outro meio para conseguir
alimentos. 8. Agravo regimental em habeas corpus a que se nega provimento. (HC 115850 AgR,
Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 24/09/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-213 DIVULG 25-10-2013 PUBLIC 28-10-2013) RHC 117566/STF: sobre medidas provisórias
e normas penais não inscriminadoras (antes da EC 32/2001)
 HC 119672/STF: incidência do estado de necessidade em relação ao furto famélico
Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS IMPETRADO CONTRA ATO DE
MINISTRO DE TRIBUNAL SUPERIOR. INCOMPETÊNCIA DESTA CORTE. TENTATIVA DE FURTO.
ART. 155, CAPUT, C/C ART. 14, II, DO CP). REINCIDÊNCIA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
APLICABILIDADE. FURTO FAMÉLICO. ESTADO DE NECESSIDADE X INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA
DIVERSA. SITUAÇÃO DE NECESSIDADE PRESUMIDA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. HABEAS
CORPUS EXTINTO POR INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. O
princípio da insignificância incide quando presentes, cumulativamente, as seguintes condições
objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da
ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão
jurídica provocada. 2. A aplicação do princípio da insignificância deve, contudo, ser precedida
de criteriosa análise de cada caso, a fim de se evitar que sua adoção indiscriminada constitua
verdadeiro incentivo à prática de pequenos delitos patrimoniais. 3. O valor da res furtiva não
pode ser o único parâmetro a ser avaliado, devendo ser analisadas as circunstâncias do fato
para decidir-se sobre seu efetivo enquadramento na hipótese de crime de bagatela, bem assim
o reflexo da conduta no âmbito da sociedade. 4. In casu, a) a paciente foi presa em flagrante e,
ao final da instrução, foi condenada à pena de 4 (quatro) meses de reclusão pela suposta prática
do delito previsto no art. 155, caput, c/c o art. 14, II, do Código Penal (tentativa de furto), pois,
tentou subtrair 1 (um) pacote de fraldas, avaliado em R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) de um
estabelecimento comercial. b) A atipicidade da conduta está configurada pela aplicabilidade do
princípio da bagatela e por estar caracterizado, mutatis mutandis, o furto famélico, diante da
estado de necessidade presumido evidenciado pelas circunstâncias do caso. 5. O furto famélico
subsiste com o princípio da insignificância, posto não integrarem binômio inseparável. É

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possível que o reincidente cometa o delito famélico que induz ao tratamento penal benéfico. 6.
Os fatos, no Direito Penal, devem ser analisados sob o ângulo da efetividade e da
proporcionalidade da Justiça Criminal. Na visão do saudoso Professor Heleno Cláudio Fragoso,
alguns fatos devem escapar da esfera do Direito Penal e serem analisados no campo da
assistência social, em suas palavras, preconizava que “não queria um direito penal melhor, mas
que queria algo melhor do que o Direito Penal”. 7. A competência desta Corte para a apreciação
de habeas corpus contra ato do Superior Tribunal de Justiça (CRFB, artigo 102, inciso I, alínea
“i”) somente se inaugura com a prolação de decisão do colegiado, salvo as hipóteses de exceção
à Súmula nº 691 do STF, sendo descabida a flexibilização desta norma, máxime por tratar-se de
matéria de direito estrito, que não pode ser ampliada via interpretação para alcançar
autoridades – no caso, membros de Tribunais Superiores – cujos atos não estão submetidos à
apreciação do Supremo. 8. Habeas corpus extinto por inadequação da via eleita. Ordem
concedida de ofício para determinar o trancamento da ação penal, em razão da atipicidade da
conduta da paciente.(HC 119672, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
06/05/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-106 DIVULG 02-06-2014 PUBLIC 03-06-2014)
 HC 112262/STF: incidência do estado de necessidade em relação ao furto famélico
Penal. Habeas corpus. Furto qualificado mediante o concurso de duas ou mais pessoas (CP, art.
155, § 4º, inciso IV). Bens avaliados em R$ 91,74. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade,
não obstante o ínfimo valor da res furtiva: Réu reincidente e com extensa ficha criminal
constando delitos contra o patrimônio. Liminar indeferida. 1. O furto famélico subsiste com o
princípio da insignificância, posto não integrarem binômio inseparável. 2. É possível que o
reincidente cometa o delito famélico que induz ao tratamento penal benéfico. 3. Deveras, a
insignificância destacada do estado de necessidade impõe a análise de outro fatores para a sua
incidência. 4. É cediço que a) O princípio da insignificância incide quando presentes,
cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do
agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do
comportamento, e (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada; b) a aplicação do princípio
da insignificância deve, contudo, ser precedida de criteriosa análise de cada caso, a fim de evitar
que sua adoção indiscriminada constitua verdadeiro incentivo à prática de pequenos delitos
patrimoniais. 5. In casu, consta da sentença que “...os antecedentes criminais são péssimos,
ressaltando-se que a reincidência não será no momento observada para se evitar bis in idem.
Quanto à sua conduta social e personalidade, estas não lhe favorecem em razão dos inúmeros
delitos contra o patrimônio cujas práticas lhe são atribuídas, o que denota a sua vocação para
a delinquência. 6. Ostentando o paciente a condição de reincidente e possuindo extensa ficha
criminal revelando delitos contra o patrimônio, não cabe a aplicação do princípio da
insignificância. Precedentes: HC 107067, rel. Min. Cármen Lúcia, 1ªTurma, DJ de 26/5/2011; HC
96684/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ªTurma, DJ de 23/11/2010; e HC 108.056, 1ª Turma, Rel.
o Ministro Luiz Fux, j. em 14/02/2012. 5. Ordem denegada. (HC 112262, Relator(a): Min. LUIZ
FUX, Primeira Turma, julgado em 10/04/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 30-04-
2012 PUBLIC 02-05-2012) art. 5°, inciso XLVI da CF: princípio da individualização da pena
 HC 227.474/STJ: incidência do estado de necessidade em relação ao furto famélico considerado
juntamente com o princípio da insignificância
DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. (1) IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE
RECURSO ORDINÁRIO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. (2) INSIGNIFICÂNCIA NO CONTEXTO DE
CRIME FAMÉLICO. PROSSEGUIMENTO DA PERSECUÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE, SEJA PELA

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ATIPICIDADE MATERIAL, SEJA PELA INCIDÊNCIA DA CAUSA DE JUSTIFICAÇÃO ESTADO DE


NECESSIDADE.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus, em prestígio ao
âmbito de cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal. In
casu, foi impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso ordinário (STF: HC
109956, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 07/08/2012, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 10-09-2012 PUBLIC 11-09-2012).
2. A insignificância afasta a tipicidade material, tendo em vista a inexpressiva afetação do bem
jurídico. Já o caráter famélico do furto desveste o comportamento da antijuridicidade
(RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Fundamentos de Direito Penal brasileiro. São Paulo: Atlas, 2010,
p. 229-230). Na espécie, além de a subtração referir- se a um punhado de moedas, doze reais,
o paciente (morador de rua) confessou o assenhoramento do numerário, posteriormente
reconduzido à posse da vítima, que seria destinado à aquisição de gêneros alimentícios.
3. Ordem não conhecida, expedido habeas corpus de ofício para trancar a persecução penal.
(HC 227.474/MG, Rel. Ministra ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (DESEMBARGADORA
CONVOCADA DO TJ/PE), Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 02/04/2013, DJe 01/07/2014)
 Apelação 0001764-08.2016.8.26.0116/TJSP: o não reconhecimento do consentimento da vítima
como causa supralegal de exclusão da ilicitude
Apelação. Crime de fornecimento de bebida alcoólica a criança ou adolescente (artigo 243 do
ECA). PRELIMINAR. A questão referente à higidez da prisão em flagrante em si – no sentido de
que, se no momento da prisão, ainda subsistia o quadro de flagrante delito -, não tem o condão,
sequer em tese, de invalidar a relação processual. Não se cuida, portanto, de tema relevante ao
deslinde da causa. MÉRITO. 1. Prova suficiente para a condenação. 2. O crime previsto no artigo
243 do ECA é, em regra, de natureza formal, ou seja, prescinde da demonstração de ofensa ao
bem jurídico tutelado. Em outras palavras, não reclama um efetivo prejuízo para a criança ou
adolescente. 3. O consentimento do ofendido não constitui fator de exclusão de ilicitude. Na
verdade, o tipo penal não reclama o dissenso da vítima. O objetivo do legislador, ao instituir a
figura penal em tela, foi o de proteger a criança e o adolescente, incriminando a conduta da
pessoa que viabilize – entregando, fornecendo, ou através dos demais verbos previstos na lei –
o consumo de álcool (cujos efeitos, como se sabe, são prejudiciais à saúde) pelos menores.
Subjaz à criação desta figura penal a ideia de que a criança e o adolescente não possuem
discernimento para decidir sobre a ingestão de álcool. 4. Não configuração de erro de tipo. 5.
Sanção que não comporta reparo. Recurso não provido. (TJSP; Apelação 0001764-
08.2016.8.26.0116; Relator (a): Laerte Marrone; Órgão Julgador: 14ª Câmara de Direito
Criminal; Foro de Campos do Jordão - 2ª Vara; Data do Julgamento: 23/11/2017; Data de
Registro: 27/11/2017)
 Enunciado n° 593 da Súmula do STJ: o não reconhecimento do consentimento da vítima como
causa supralegal de exclusão da ilicitude
Súmula 593
O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a

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prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com
o agente.
 Apelação Nº 70029478690/TJRS: reconhecimento do consentimento da vítima como causa
supralegal de exclusão da ilicitude
APELAÇÃO. VIAS DE FATO. AMEAÇA E DESOBEDIÊNCIA. COMPROVAÇÃO PARCIAL DOS FATOS.
CONDENAÇÃO DECRETADA. 1. Comprovado pela palavra das ofendidas ter o acusado as
agredido, não registradas lesões, impositiva a condenação pela contravenção do artigo 21 da
LCP. 2. Inexistindo elementos de convicção a sustentar a condenação do acusado pelo delito do
artigo 147 do Código Penal, mantém-se a absolvição operada na sentença. 3. Acusado afastado
do lar por força de medida protetiva que voltado ao local com o consentimento da ofendida,
não age ilicitamente, eis que exigido da ofendida que também cumpra sua parte, portanto
mantida a absolvição pelo crime de desobediência. PARCIAL PROVIMENTO. (Apelação Crime Nº
70029478690, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elba Aparecida
Nicolli Bastos, Julgado em 02/07/2009)
No seguinte acórdão, também do TJRS, apesar de não reconhecida no caso julgado a causa supralegal
excludente de ilicitude, foi consignado ser possível, em tese, seu acolhimento:
 Apelação Nº 70067859322/TJRS: reconhecimento do consentimento da vítima como causa
supralegal de exclusão da ilicitude
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL. ESTUPRO TENTADO. CAUSA
SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE. INEXISTÊNCIA. RECLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE
ROUBO TENTADO. IMPOSSIBILIDADE. ATENUANTE DA BAIXA ESCOLARIDADE.
INAPLICABILIDADE. APENAMENTO. MANUTENÇÃO. DA CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DE
ILICITUDE. Evidenciado pela prova testemunhal e pericial que o réu agiu de forma consciente e
deliberada ao tentar estuprar a vítima, não se verifica a alegada causa supralegal de exclusão
de ilicitude pela ausência de discernimento decorrente da drogadição. Existência de laudo
psiquiátrico atentando que o réu era ao tempo da ação capaz de entender o caráter ilícito dos
fatos e de determinar-se de acordo com este entendimento. DA RECLASSIFICAÇÃO PARA O
CRIME DE ROUBO TENTADO. Tendo o réu intentado constranger a ofendida à prática de
conjunção carnal e outros atos libidinosos diversos, mediante emprego de grave ameaça e
exacerbada violência, sem qualquer tentativa de subtração patrimonial, mostra-se descabido o
pleito de reclassificação para o delito de roubo tentado. DO PLEITO DE APLICAÇÃO DA
ATENUANTE BAIXA ESCOLARIDADE. A atenuante prevista no art. 14. inciso I, da Lei 6.905/98,
trata-se de norma específica, restrita às penas decorrentes de crimes contra o meio ambiente.
Inaplicável, pois, ao caso concreto. DA DOSIMETRIA DA PENA. Pena adequadamente arbitrada,
não comportando reparos. Regime inicial semiaberto mantido, nos termos do art. 33, § 2º,
alínea "b", do Código Penal. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Crime Nº 70067859322, Quinta
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: André Luiz Planella Villarinho, Julgado em
24/02/2016)

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9. RESUMO
Para finalizar o estudo da matéria, trazemos um resumo dos
principais aspectos estudados ao longo da aula. Sugerimos que
esse resumo seja estudado sempre previamente ao início da
aula seguinte, como forma de “refrescar” a memória. Além
disso, segundo a organização de estudos de vocês, a cada ciclo de estudos é fundamental retomar
esses resumos. Caso encontrem dificuldade em compreender alguma informação, não deixem de
retornar à aula.

Resultado: é o que o comportamento típico. A doutrina possui duas teorias sobre o resultado:
 Teoria naturalística: o resultado é a modificação realizada no mundo exterior pela conduta,
comissiva ou omissiva, do agente.

 Teoria jurídica ou normativa: o resultado é a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado
pelo Direito Penal. Com a leitura do art. 13 do Código Penal vislumbra-se que somente se
compatibiliza perfeitamente com a legislação em vigor a teoria normativa, por preconizar que todo
crime possui resultado.

Em decorrência da teoria naturalística, classificou-se as infrações penais em:

- Crime material: é aquele que prevê a produção de resultado naturalístico, sem o qual o crime
não se consuma.
- Crime formal: é o que possui a previsão de resultado naturalístico, mas cuja produção é
irrelevante para a consumação do delito.
- Crime de mera conduta: é aquele em que não se prevê a produção de resultado naturalístico.

Sob o critério da teoria normativa ou jurídica, os crimes são classificados segundo o resultado que
produzem:

- Crime de dano: é aquele que produz um resultado consistente na lesão ao bem jurídico.
- Crime de perigo: é aquele cuja ocorrência se verifica com a exposição do bem jurídico a um
perigo ou risco. Os crimes de perigo se subdividem, conforme a necessidade ou não de se
provar a efetiva exposição do bem jurídico a um risco de dano:
- Crime de perigo abstrato: é aquele em que o legislador presumiu de modo absoluto a
ocorrência de perigo ao bem jurídico em determinada situação.

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- Crime de perigo concreto: é aquele que, para se configurar, exige a demonstração de efetivo
risco de dano ao bem jurídico.

Nexo Causal: é a relação de causalidade entre a conduta e o resultado.


Nos crimes omissivos, o nexo causal é normativo, isto é, realizado com o intermédio de uma norma
que liga o resultado à conduta do agente, aquela que prevê o dever jurídico de agir.

No caso de crime omissivo qualificado pelo resultado, como ocorre na omissão de socorro, é
imprescindível, entretanto, que se demonstre o nexo de causalidade entre a omissão e referido
resultado.

Há diversas teorias para definição do nexo causal.

 Teoria da equivalência dos antecedentes: segundo essa teoria todo e qualquer fator que
tenha contribuído para o resultado deve ser considerado sua causa. Possui conexão com a
teoria da conditio sine qua non, pensada pelo filósofo utilitarista Stuart Mill. Uma crítica que
foi feita em relação a tal teoria seria a possibilidade de se fazer o regressus ad infinitum. Foi
elaborada pelo jurista Maximilian Von Buri.

Teoria da eliminação hipotética dos antecedentes causais: preconiza que causa é todo fato
que, se for eliminado no campo da suposição, leva à exclusão do resultado. Assim como a
teoria anterior, a questão é o ilimitado regresso, já que todo antecedente cuja eliminação
hipotética exclua o resultado seria considerado sua causa, os antecedentes causais seriam
ilimitados. A aplicação conjunta das teorias da equivalência dos antecedentes causais e da
eliminação hipotética geraria a denominada causalidade objetiva ou efetiva do resultado.
Somente a causalidade psíquica, entretanto, impede com que o regresso seja eterno,
considerando todos os antecedentes que são considerados causas do resultado provocado.

 Teoria da causalidade adequada: determina que só deve ser considerada causa a condição
que seja idônea para produzir o resultado. Não basta que o antecedente seja uma conditio
sine qua non, ou seja, que, sem sua ocorrência, o resultado não ocorreria. É necessário que o
antecedente possua idoneidade para a produção do resultado. Entretanto, critica-se essa
teoria em razão de eliminar o nexo causal e, portanto, a imputação causal em casos de mínima
probabilidade de a conduta do agente produzir o resultado. Foi elaborada pelo professor
alemão Johannes von Kries

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 Teoria da imputação objetiva busca dar ao nexo causal um conteúdo jurídico, e não só
naturalístico. Não basta analisar o antecedente no modo das ciências exatas, da lei de causa
e efeito. É imprescindível que se analise também o conteúdo jurídico do antecedente. Deste
modo, o fato típico depende de:

- Imputação objetiva: análise da causalidade naturalística, de que o antecedente seja


causa do resultado. Cuida-se de uma análise de causa e efeito.
- Imputação subjetiva: verificação sobre a existência do dolo ou da culpa,
imprescindível à consideração de que um antecedente é causa efetiva do resultado.

Exige-se, de todo modo, que a conduta crie um risco proibido para a produção do resultado.
Não é todo risco que enseja a responsabilidade penal, só pode ser imputado a alguém o
resultado que esteja na linha de desdobramento normal da sua conduta, não sendo possível
a responsabilização penal por um comportamento socialmente aceito como permitido.
Referida teoria foi formulada pelo jurista e filósofo alemão Karl Larenz

 O Nexo Causal e o Direito Penal Brasileiro

Por meio da leitura do artigo 13 do Código Penal, percebe-se que houve a adoção da teoria da
equivalência das condições. Sua base é a chamada regra da conditio sine qua non, isto é, deve ser
considerada causa aquele comportamento (comissivo ou omissivo), aquele cuja ausência implicaria
na não produção do resultado. Percebam que, conforme destacado no estudo da teoria da
equivalência das condições, a adoção da literalidade da norma levaria ao regressus ad infinitum.

 Concausas: são antecedentes causais de um mesmo resultado, são comportamentos cuja não
ocorrência eliminaria o resultado. Essas condições podem ser absolutamente ou relativamente
independentes:

- Absolutamente independentes: a causa do resultado não se origina, direta ou


indiretamente, da conduta. Possuem origem totalmente diversa. Rompem o nexo causal.
- Relativamente independentes: a causa do resultado não se situa na linha de desdobramento
causal da conduta. Entretanto, origina-se, mesmo que indiretamente, da conduta do agente.

O parágrafo primeiro do artigo 13, do Código Penal, estipula o seguinte a respeito das concausas: “
a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,

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produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.” Existe,


portanto, uma possibilidade de uma causa relativamente independente romper o nexo causal,
excluindo a imputação. Logo, a causa absolutamente independente sempre rompe o nexo causal.
No caso das concausas relativamente independentes, só haverá o rompimento do nexo causal se
ela for superveniente e produzir, por si só o resultado.

Tipicidade: é o enquadramento ou a sobreposição total de uma conduta praticada no mundo dos


fatos ao tipo legal, molde descritivo da lei penal. Parte da doutrina diferencia tipicidade e adequação
típica. Vejamos as correntes sobre o assunto:
 Doutrina Tradicional: tipicidade consiste na subsunção do fato ao tipo penal. É chamada
de tipicidade formal.
 Doutrina Moderna: a tipicidade possui um aspecto formal e um material. A tipicidade
formal é a subsunção entre os fatos da realidade e o tipo penal previsto na lei penal
incriminadora. A tipicidade material consiste em um juízo de valor, referente à relevância da
lesão ou ameaça de lesão.
 Teoria da Tipicidade Conglobante: esta teoria, elaborada pelo jurista Eugenio Raul Zaffaroni
, entende que o fato típico engloba a tipicidade formal, a tipicidade material e a
antinormatividade do fato. O eminente Zaffaroni defende que, se um fato for permitido ou
incentivado pelo ordenamento jurídico, mesmo que por lei não penal, não pode ser
considerado, ao mesmo tempo, como típico.

Vistas as teorias acima, vimos que todas elas passam pela tipicidade formal, cabe, então, analisar que
a tipicidade formal pode ser imediata (direta) ou ser mediata (indireta). A tipicidade será imediata ou
direta quando não depender de outra norma para sua configuração. Por outro lado, a tipicidade será
mediata ou indireta quando depender de uma norma de extensão, sem a qual não há subsunção
entre o fato e o tipo penal:

 Extensão temporal: a norma de extensão temporal diz respeito ao iter criminis. Sem a
norma de extensão, não haveria tipicidade em razão de não se ter atingido a consumação do
crime.
 Extensão pessoal e espacial: a norma de extensão pessoal e especial diz respeito à punição
de quem não praticou diretamente a conduta prevista no tipo penal (o verbo, o núcleo do
tipo), bem como aquele que sequer estava no local do crime, mas contribuiu para sua prática.

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 Extensão causal: a norma de extensão causal é a que possibilita que um comportamento


omissivo seja a causa de um resultado naturalístico. A omissão, se adotada a teoria normativa
da omissão, é um nada e, deste modo, nada pode causar. Portanto, só se pode considerar que
um comportamento omissivo causou um resultado naturalístico, se adotarmos uma norma
de extensão. É o caso dos crimes omissivos impróprios, que são também denominados de
crimes comissivos por omissão. Como já estudados, são crimes naturalmente comissivos que,
devido a um dever jurídico específico do sujeito de impedir o resultado, são praticados por
inércia do agente.

Portanto, a tipicidade formal será direta ou imediata quando realizada diretamente entre o fato e o
tipo penal. Por sua vez, a tipicidade indireta ou mediata é aquela que depende de uma norma de
extensão, seja ela temporal, pessoal e espacial ou causal.

 Relação entre tipicidade e ilicitude. Verificada a ocorrência de um fato típico, cumpre analisar qual
a conclusão em relação à ilicitude, o que depende da teoria adotada:

 Fase da independência ou da autonomia do tipo: o fato típico não possui relação com a
ilicitude, sendo elementos não vinculados entre si. Nesta fase inicial, elaborada por Ernst
Ludwig von Beling, a prova do fato típico e a demonstração de sua ilicitude ocorrem em
momentos diversos e de forma totalmente desconexa. A existência de fato típico não induz à
ilicitude, nem mesmo à presunção de sua ocorrência.

 Fase do caráter indiciário do tipo ou da ratio cognoscendi: Max Ernst Mayer, jusfilósofo
alemão, passa a defender a existência de um vínculo entre fato típico e ilicitude, ambos
elementos do conceito analítico de crime. O fato de alguém praticar uma conduta que se
amolda ao previsto na lei penal incriminadora, configurando um fato típico, já representa um
comportamento contrário à ordem jurídica, segundo o sentimento social. Já se espera que o
fato típico, aquela conduta que se amolda ao que o tipo penal prevê, seja contrário ao
ordenamento jurídico. Deste modo, nesta fase entende-se que todo fato típico possui um
indício de ilicitude. Somente se comprovada uma causa de exclusão da ilicitude o fato típico
não será ilícito.

Para a doutrina majoritária, o Direito Penal Brasileiro adota a teoria da indiciariedade ou da ratio
cognoscendi do tipo penal.

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 Fase da absoluta dependência, da ratio essendi ou do tipo legal como essência da ilicitude:
preconiza que o tipo penal se funde com a ilicitude, tornando-o a “ilicitude tipificada”, como
lembra Fernando Capez. Os elementos fato típico e ilicitude continuam a ter definições
próprias. Entretanto, o fato típico e a antijuridicidade se fundem para a formação do tipo de
injusto penal, em uma reunião indissolúvel.

 Teoria dos elementos negativos do tipo: defende a existência de elementos negativos no


tipo penal, consistentes na ausência das causas excludentes de ilicitude. Isto é, para que o
fato seja típico, não basta que a conduta do agente se amolde àquilo que a lei penal
incriminadora prevê, sendo imprescindível a análise sobre a não ocorrência de uma causa
justificante, a qual afastaria a configuração do fato típico. O tipo penal é, portanto, o
comportamento que se amolda ao que prevê a lei penal incriminadora e contraria o
ordenamento jurídico, de forma concomitante. O tipo penal passa a conter elementos
positivos, expressos ou explícitos, que estão presentes na lei penal incriminadora, além dos
elementos negativos, tácitos ou implícitos, referentes à ausência das descriminantes (causas
excludentes de ilicitude). Os efeitos da teoria dos elementos negativos do tipo é exatamente
os mesmos da teoria da ratio essendi, razão pela qual alguns autores sequer a abordam.

Ilicitude: é a análise de conformidade ou não com o ordenamento jurídico. A ilicitude pode ser
concebida sob um critério subjetivo, em que somente seria contrária ao Direito a conduta daqueles
que possuem vontade livre e consciente de praticar a conduta, possuindo capacidade de se
determinarem de acordo com sua finalidade. Por outro lado, para outra teoria, a ilicitude deve ser
concebida de uma forma objetiva, como mera contrariedade da conduta em relação àquilo que o
ordenamento jurídico determina, sem valoração do aspecto subjetivo. Adotada a teoria da ratio
cognossendi ou a fase do caráter indiciário do tipo, vimos que há uma presunção de que o fato típico
é ilícito. Praticado um fato típico, presume-se que ele contraria o ordenamento jurídico, a não ser
que haja uma causa excludente de ilicitude.
Causas excludentes de ilicitudes: As causas excludentes de ilicitude também podem ser
denominadas de descriminantes ou de justificantes. O artigo 23 do Código Penal elenca as causas
excludentes da ilicitude. Essas causas excludentes de ilicitude, por possuírem previsão expressa no
Código Penal, são chamadas de causas legais. Cabe ressaltar, entretanto, que a presença de uma
causa excludente da ilicitude não permite o abuso, como se nota do parágrafo único do artigo 23 do
Código Penal: “o agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou
culposo.”
 Estado de necessidade é a causa excludente de ilicitude que se manifesta na colisão entre
dois interesses jurídicos colocados em perigo, sendo necessário o sacrifício de um para salvar
o outro, por quem não provocou a situação de perigo nem tenha o dever legal de enfrentá-
lo. São dois bens jurídicos em perigo, sendo que um deles precisa ser sacrificado. Há

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divergência doutrinária sobre a necessidade ou não de o bem jurídico salvo ter valor superior
ao do interesse jurídico protegido. Vejamos:

- Unitária: o estado de necessidade é sempre causa excludente da ilicitude. O agente


não precisa calcular o valor dos bens em conflito, basta que aja com razoabilidade.
Foi a adotada pelo Código Penal.
- Diferenciadora: se o bem jurídico sacrificado tiver valor menor ao do protegido,
tem-se o estado de necessidade justificante, que é excludente da ilicitude. Se o bem
sacrificado tiver valor igual ou maior que o protegido, tem-se o estado de defesa
exculpante, cuja natureza jurídica é a de causa supralegal de exclusão da
culpabilidade.
- Equidade: o fato não deve ser punido por razões de equidade. Possui base na teoria
de Immanuel Kant.

 São requisitos do estado de necessidade:

- Perigo atual e inevitável;


- Não provocação voluntária do perigo;
- O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio;
- Inevitabilidade do comportamento lesivo;
- Inexigibilidade do sacrifício do interesse ameaçado;
- Finalidade de salvar o bem do perigo, conhecimento da situação de fato exculpante
(elemento subjetivo);
- Ausência do dever legal de enfrentar o perigo.

 Cabe estado de necessidade contra estado de necessidade? A doutrina reconhece o estado de


necessidade recíproco, em que duas pessoas estão em situação de estado de necessidade e buscam
o sacrifício do bem jurídico, um do outro, para salvar outro.
 Furto famélico configura estado de necessidade? O furto famélico é aquele realizado por quem
busca se alimentar ou alimentar outrem. É a subtração de algo por aquele que possui fome. Pode sim
configurar estado de necessidade.
 Admite-se estado de necessidade nos crimes habituais e permanentes? E no caso de reiteração?
Não se admite a configuração do estado de necessidade nesses casos, dada a exigência de perigo

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atual, devendo ser analisado se era exigível conduta diversa. Parte da doutrina admite em situações
extremas.

 O estado de necessidade pode se classificar, conforme os seguintes critérios:


 Quanto à titularidade do interesse protegido:
- de interesse próprio: quando o agente busca a proteção de um bem jurídico de sua
própria titularidade.
- de interesse alheio: é o estado de necessidade em que o interesse jurídico salvo pelo
sujeito é de titularidade de outrem.

 Quanto ao elemento subjetivo:


- real: quando o agente busca a proteção de um bem jurídico que efetivamente está em
perigo.
- putativo: ocorre quando a situação de perigo do bem jurídico só existe na cabeça do
agente, é imaginada ou suposta por ele.

 Quanto à titularidade do interesse sacrificado:


- defensivo: quando o agente sacrifica um bem jurídico de sua própria titularidade para
proteção de um interesse jurídico em perigo.
- agressivo: ocorre quando o agente sacrifica um bem jurídico alheio para salvar outro
bem jurídico que está em risco.

 Legítima defesa é a causa excludente de ilicitude que acoberta a conduta de repelir, de si


mesmo ou de outrem, uma injusta agressão, atual ou iminente. Para configuração da legítima
defesa, excludente da ilicitude, são necessários os seguintes requisitos:

- Agressão injusta;
- Agressão atual ou iminente;
- Proteção de direito próprio ou alheio;
- Uso moderado dos meios necessários;
- Conhecimento da situação de fato justificante, denominado de animus defendendi.

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 Classificações de legítima defesa


- Legítima defesa real ou própria: é a legítima defesa com todos os pressupostos
preenchidos.
- Legítima defesa putativa: é aquela suposta, imaginada pelo agente. O agente
supõe, por erro de tipo ou de proibição, estar acobertado por legítima defesa.
- Legítima defesa sucessiva: é a causa de excludente que acoberta o agente que, após
provocar a injusta agressão, busca repelir o excesso.
- Legítima defesa subjetiva: é o excesso derivado de erro de tipo escusável ou
inevitável. Neste caso, a vítima se excede, ao se defender de uma injusta agressão,
por interpretar a realidade de forma equivocada, pensando necessitar de meios
mais gravosos do que realmente necessita.

 E se houver erro de execução (aberratio ictus) na legítima defesa? O agente responde como se
tivesse atuado contra o agressor, nos termos do artigo 73 do Código Penal. Deste modo, considera-
se como tendo efetivamente agido em legítima defesa.

 Cabe legítima defesa recíproca? A doutrina afasta a hipótese, por ser seu requisito a agressão
injusta. São cabíveis, entretanto, a legítima defesa sucessiva e a legítima defesa putativa recíproca.
Deste modo, é possível que a agressão de dois sujeitos seja injusta ao mesmo tempo, sendo que
ambos imaginam que está em legítima defesa.

 É possível a ocorrência conjunta de estado de necessidade e legítima defesa? Sim. Um exemplo


dado pela doutrina é a do agente que, para se defender de um assaltante, subtrai a arma de fogo do
vigilante do banco, deixada no chão, sem autorização. Portanto, age em estado de necessidade para
a subtração da arma e, quanto ao assaltante armado, age em legítima defesa ao atirar nele para se
defender.

 Em algumas situações, não é cabível a invocação da legítima defesa:

- Legítima defesa real: não cabe legítima defesa recíproca, pois uma das agressões
será injusta.
- Estado de necessidade real: se o sujeito age em estado de necessidade, não há
como se repelir sua agressão a título de legítima defesa, pois a atitude dele não será
injusta. É possível, entretanto, estado de necessidade recíproco.

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- Exercício regular do direito: se alguém está agindo conforme um direito seu, sua
conduta não pode ser classificada como injusta agressão e, por isso, não pode ser
repelida a título de legítima defesa.
- Estrito cumprimento do dever legal: do mesmo modo que o exercício regular de um
direito, o agente que atua em estrito cumprimento do seu dever legal não pratica
injusta agressão, por agir em conformidade com um dever que lhe é dado. Deste
modo, ausente agressão injusta, não há que se falar em legítima defesa.

 Estrito cumprimento do dever legal é a causa excludente de ilicitude que abrange a


conduta de alguém que realiza um fato típico no cumprimento do estrito de um dever previsto
em lei. O dever legal é aquele imposto pela lei. O cumprimento de tal dever deve ser estrito,
isto é, não abrange excessos ou desvios. Como as demais causas excludentes de ilicitude, já
estudadas, é imprescindível que esteja presente o elemento subjetivo.

 O estrito cumprimento do dever legal abrange o particular ou apenas o funcionário público? A


doutrina diverge a respeito da possibilidade de um particular invocar o estrito cumprimento do dever
legal. Para a maioria, o particular pode sim invocar esta excludente da ilicitude.

 Exercício Regular de um Direito: é a causa excludente de ilicitude que abrange a conduta


de qualquer cidadão que é autorizada por lei, que constitui uma prerrogativa legal, desde que
exercido com regularidade. São requisitos do exercício regular de um direito:

- Proporcionalidade
- Indispensabilidade
- Elemento subjetivo (conhecimento da situação)

 Os ofendículos cuidam-se de aparato predisposto, que deve estar visível, destinado à proteção de
bens jurídicos, como a vida e a propriedade. Note-se que o obstáculo deve ser perceptível, não
devendo estar oculto ou articulado para agir de surpresa. Há discussão na doutrina, sobre se tratar
de exercício regular de um direito ou legítima defesa, que seria preordenada. E se o aparato não
estiver visível? A questão é controversa. Parte da doutrina entende que é possível sim considerar que
o caso é de legítima defesa, na modalidade de defesa mecânica predisposta.

 Causas Supralegais de Exclusão da Ilicitude. Há discussão doutrinária sobre a possibilidade


de se reconhecerem causas supralegais de exclusão da ilicitude. A discussão envolve, por
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exemplo, a discussão sobre o consentimento do ofendido e sua natureza jurídica. Se o


consentimento do ofendido não for elementar do crime, pode-se analisar se a hipótese é de
exclusão da ilicitude. Cuida-se de matéria doutrinária e, por isso, não há consenso sobre sua
aplicação. Para que o consentimento do ofendido seja considerado causa supralegal de
exclusão de ilicitude, apontam-se os seguintes requisitos:

- Capacidade do ofendido;
- Validade do consentimento;
- Disponibilidade do bem (objeto jurídico);
- Titularidade do bem (o ofendido deve ser o titular);
- Antecedência ou simultaneidade do consentimento;
- Forma expressa do consentimento;
- Ciência da situação fática que exclui a ilicitude.

 Excesso punível: A conduta acobertada por uma excludente da ilicitude deve ser praticada
com razoabilidade, dentro dos limites da lei. O excesso punível pode ser intensivo ou
extensivo:

- Excesso intensivo é aquele que se relaciona com os meios utilizados para repelir a
agressão ou ao grau de sua utilização. O excesso é chamado intensivo devido à
intensidade da conduta do agente.
- Excesso extensivo, por sua vez, se configura quando a conduta para repelir a
agressão se prolonga no tempo em período superior ao da própria agressão.

Por fim, cumpre destacar que o excesso pode ser doloso ou culposo.

 Descriminantes putativas é a suposição do agente sobre a configuração de uma causa que


exclui a ilicitude do seu comportamento.

- O erro de tipo se configura quando há equívoco do agente quanto à percepção da


realidade. Ele interpreta o mundo que o cerca de modo errado e, deste modo,
apresenta um comportamento sem notar que viola uma lei penal. Se o erro de tipo
for inevitável, não há que se falar em fato típico e, portanto, não há
responsabilização. Se for evitável, pune-se a culpa, se prevista a possibilidade na
lei.

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- O erro de proibição consiste na incorreta interpretação da lei penal pelo agente.


Não se deve confundi-lo com a ignorância da lei penal, que não pode ser invocada
como fundamento de seu descumprimento. Entretanto, cuida-se de equívoco
sobre a interpretação da norma, levando o agente a imaginar que sua abrangência
é diversa da que efetivamente é. Se o erro de proibição for inevitável, há isenção
de pena, com exclusão da culpabilidade do agente (um dos elementos do conceito
tripartido analítico do crime). Se for evitável, diminui-se a pena de um sexto a dois
terços.

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Finalizamos a nossa quinta aula, continuando o estudo da teoria do crime. Terminamos o
estudo do fato típico e estudamos a ilicitude. Para o estudo do conceito tripartido de crime,
falta a culpabilidade, o tema da nossa próxima aula. Continuamos em um tema denso e
importantíssimo para a compreensão do Direito Penal como um todo, razão pela qual
recomendo um estudo detido e atencioso dos temas tratados.
Estou disponível para as dúvidas e que quaisquer sugestões são bem-vindas. O contato pode
ser feito pelo fórum, por e-mail ou pelo Instagram.
Até a próxima aula. Forte abraço e meus desejos de sempre de sucesso!
Michael Procopio.

procopioavelar@gmail.com

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