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 #costurandoatoga

 Apostila 03 – Direito Penal


 Introdução à Teoria do
Crime

Elaborado dia 06/04/2018

Elaborado com base no Cléber Masson de 2018, Resumo da Magistratura Federal do TRF1 e
Jurisprudência do Dizer o Direito atualizada.
1. INTRODUÇÃO TEORIA GERAL DO CRIME........................................................................................ 1
1.1. DISTINÇÃO ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO .......................................................................................... 2
1.2. CONCEITO DE CRIME ......................................................................................................................... 2
1.2.1. Conceito analítico ............................................................................................................... 3
1.2.2. Conduta .............................................................................................................................. 5
1.3. SUJEITOS DO CRIME .......................................................................................................................... 7
1.3.1. Sujeito ativo........................................................................................................................ 7
1.3.1.1. Pessoa jurídica como sujeito ativo de crimes ............................................................................... 7
1.3.2. Sujeito passivo .................................................................................................................. 10
1.4. OBJETO DO CRIME .......................................................................................................................... 10
1.4.1. Bem jurídico...................................................................................................................... 11
1.4.2. Espiritualização do bem jurídico....................................................................................... 12
2. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ....................................................................................................... 12
2.1. CRITÉRIO: FIGURA DO SUJEITO ATIVO ................................................................................................. 12
2.2. CRIMES SIMPLES E COMPLEXOS ......................................................................................................... 13
2.3. CRITÉRIO: NECESSIDADE DO RESULTADO PARA A CONSUMAÇÃO ............................................................... 13
2.4. CRITÉRIO: MOMENTO CONSUMATIVO................................................................................................. 13
2.5. CRITÉRIO: QUANTIDADE DE PESSOAS NECESSÁRIAS PARA A PRÁTICA DO DELITO ........................................... 14
2.6. CRITÉRIO: QUANTIDADE DE SUJEITO PASSIVO ....................................................................................... 15
2.7. CRITÉRIO: CARACTERIZAÇÃO DA CONSUMAÇÃO .................................................................................... 15
2.8. CRITÉRIO: QUANTIDADE DE ATOS PARA A CONSUMAÇÃO ........................................................................ 16
2.9. COMISSIVOS, OMISSIVOS E DE CONDUTA MISTA.................................................................................... 16
1 2.10.
2.11.
CRITÉRIO: EXISTÊNCIA DE VESTÍGIOS [CLASSIFICAÇÃO DO PROCESSO PENAL] ............................................... 17
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES IMPORTANTES ............................................................................................. 17

1. Introdução Teoria Geral do Crime

A infração penal no Brasil é dualista (ou bipartido, binário), pois prevê duas espécies:
crime (delito) e contravenção penal.
A diferença entre crime e contravenção penal é de grau, quantitativa, e também
qualitativa (qualidade da pena) puramente axiológica, não ontológica. Os fatos mais graves são
crimes ou delitos, os menos graves considerados contravenções penais.
O que é mais grave ou menos grave depende de opção política e ainda de percepção
política. Vejamos o exemplo absurdo:
Segundo a LICP, no crime, a pena é de reclusão ou detenção; e na contravenção, a
pena é de prisão simples. Cita a celeuma que surgiu a partir do art. 28 da Lei de Drogas 
Como ficaria o crime previsto no art. 28 da Lei de Drogas, considerando o entendimento da lei
de introdução ao Código Penal?
Segundo LFG, estar-se-ia diante de uma infração penal sui generis (entendimento
recentemente acatado pelo STF para não reconhecer de HC impetrado por conta do artigo 28
da lei de drogas, vez que não há pena privativa da liberdade. Não houve descriminalização,
mas despenalização INFO 887), eis que não há previsão de pena para a sua prática. Para o STF,
entretanto, se trata de crime punido com pena não privativa de liberdade, conforme
autorizado pela CF.

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Embora, a diferença entre as espécies esteja no grau de violação dos interesses do


Estado (gravidade), sendo meramente axiológica (teoria valorativa). Apesar de
ontologicamente (natureza comum inerente a todos) serem idênticos, são diferentes quanto à
gravidade. E daí se faz necessário falar das diferenças entre elas.
1.1. Distinção entre crime e contravenção
CRIMES CONTRAVENÇÕES
Aplicação da lei penal Em regra, aplica-se a lei A lei brasileira somente
brasileira aos crimes incide no tocante às
cometidos no território contravenções penais
nacional e a diversos crimes praticadas no território
praticados no estrangeiro, nacional.
em razão de sua
extraterritorialidade
Tentativa É punível a tentativa Não se pune a tentativa
Elemento subjetivo Os crimes podem ser Basta a ação ou omissão
dolosos, culposos ou voluntária.
preterdolosos.
Culpabilidade Os crime são compatíveis As contravenções admitem
com o erro de tipo e com o unicamente a ignorância ou a
erro de proibição errada compreensão da lei,
se escusáveis.
2 Tempo de cumprimento das Nos crimes, o tempo de A duração da pena de prisão
penas cumprimento das penas simples não pode ser
privativas de liberdade não superior a 5 anos.
pode ser superior à 30 anos.
Período de prova do sursis O período varia entre dois a O período é de um a três
quatro anos e, anos.
excepcionalmente, de quatro
a seis anos.
Prazo mínimo das medidas Nos crimes, o prazo mínimo Nas contravenções, o prazo
de segurança das medidas de segurança é mínimo é de seis meses.
de um a três anos.
Ação Penal A ação penal pode ser A ação penal é sempre
pública, incondicionada ou pública incondicionada.
condicionada, ou de iniciativa
privada.

1.2. Conceito de crime


Não há um conceito de crime atribuído pelo legislador. Predominam três conceitos na
doutrina: conceito formal, conceito material e conceito analítico.
Conceito material ou substancial: é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe
a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Leva em conta a relevância do mal
produzido aos interesses dos valores selecionados pelo legislador como merecedores da tutela
penal. É o vetor para o legislador incriminar condutas que necessitam da tutela penal, de
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modo que este conceito sirva como fator de legitimação. De acordo com o STF, o conceito
material de crime é fator de legitimação do direito penal, pois, de acordo com a Corte, não
será toda conduta que será penalmente criminalizada, mas somente aquelas condutas mais
relevantes (princípio da adequação social);
Conceito formal ou legal: crime é o que está na lei, fornecido pelo legislador. O artigo
1º da Lei de Introdução ao Código Penal descreve que “considera-se crime a infração penal a
que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente.
Tais conceitos não traduzem com precisão o que seja crime. Para o conceito formal, se
há uma lei penal, e o agente a viola, haverá crime. Já o conceito material sobreleva a
importância do princípio da intervenção mínima. Contudo, se não houver uma lei penal
protegendo-o, por mais relevante que seja, não haverá crime se o agente vier a atacá-lo, em
face do princípio da legalidade.
1.2.1. Conceito analítico
Também chamado de formal ou dogmático, o crime consiste num fato típico, ilícito
(antijurídico) e culpável. O Código Penal adotou a teoria tripartida para os elementos
conceituais de crime, adotada por Nélson Hungria.
Muitas pessoas dizem que o conceito tripartido adota a teoria finalista, de Hans
Welzel, o que não é verdade, pois para ambos há fato típico e ilícito, acrescentando um
conceito de culpabilidade. A distinção entre os perfis clássico e finalista reside, principalmente,
3 na alocação do dolo e da culpa, e não em um sistema bipartido ou tripartido relativamente à
estrutura do delito.

CRIME

FATO TÍPICO ANTIJURÍDICO CULPÁVEL

Conduta: dolosa/culposa, É elemento encontrável por Imputabilidade


comissiva/omissiva (elemento exclusão, quando o agente não
subjetivo) atua em:

Resultado Estado de necessidade Potencial consciência sobre a


ilicitude do fato

Nexo de Causalidade Legítima defesa Exigibilidade de conduta diversa

Tipicidade: formal, conglobante Estrito cumprimento do dever


(conduta antinormativa, não legal
imposta ou fomentada e
tipicidade material)

Exercício regular de direito

Quando não houver o


consentimento do ofendido
como causa supralegal de
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exclusão da ilicitude

A função do conceito analítico é a de analisar todos os elementos ou características


que integram o conceito de infração penal sem que com isso se queira fragmentá-lo. O crime é
um todo unitário e indivisível. Ou há delito ou há indiferente penal.
O conceito analítico tripartido prescreve que crime é o fato típico, ilícito e culpável.
O fato típico é composto dos seguintes elementos:
a) conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva;
b) resultado;
c) nexo de causalidade entre a conduta e o resultado;
d) tipicidade (formal e conglobante).
A ilicitude (antijuridicidade) é aquela relação de contrariedade, de antagonismo, entre
a conduta do agente e o ordenamento jurídico. É encontrada por exclusão, ou seja, não se
verificará se o agente houver atuado amparado por uma das causas excludentes da ilicitude
previstas no art. 23 do CP. Além das causas legais de exclusão da ilicitude, a doutrina menciona
o consentimento do ofendido.
Para que o consentimento do ofendido exclua a ilicitude, é necessário:
I – Que o ofendido tenha capacidade para consentir;
4 II – Que o bem sobre o qual recaia a conduta do agente seja disponível;
III – Que o consentimento tenha sido dado anteriormente, ou pelo menos numa
relação de simultaneidade à conduta do agente.
A culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do
agente. São elementos integrantes da culpabilidade, segundo a concepção finalista assumida
pelo autor:
a) Imputabilidade.
b) Potencial consciência sobre a ilicitude do fato;
c) Exigibilidade de conduta diversa.
Há 3 acepções do princípio da culpabilidade:
i – Princípio que integra o conceito analítico de crime;
ii – Princípio medidor da pena – art. 59 – juízo de reprovação da conduta do agente;
iii – Princípio impedidor da responsabilidade objetiva.

CONCEITO DE CRIME ADOTADO POR DAMÁSIO, DOTTI, MIRABETE E DELMANTO


Para estes autores, crime é um fato típico e antijurídico. A culpabilidade seria mero
pressuposto de aplicação da pena. Rogério Greco discorda, pois o fato típico e a ilicitude
também são pressupostos de aplicação da pena. Afinal, se não houver fato típico, ou se a
conduta não for ilícita, não haverá pena.

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Segundo Rogério Greco, tais autores se fundamentam no fato de o CP prever, mais de


uma vez, que a ausência de culpabilidade acarretará a isenção de pena. É o caso, por exemplo,
do art. 26, que estabelece que “é isento de pena o agente que (...) era, ao tempo da ação ou
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato” (imputabilidade). Outro
exemplo é a segunda parte do art. 21, caput, que diz que o erro sobre a ilicitude do fato, se
inevitável, isenta de pena.
Contudo, a expressão “isento de pena” também aparece para afastar outras
características do crime, como no caso do erro de tipo permissivo (art. 20, § 1º) ou no caso da
escusa absolutória do art. 181 (isenção de pena, nos crimes contra o patrimônio, do cônjuge,
do ascendente, por exemplo).
Assim, embora o CP utilize essas expressões quando quer se referir às causas
dirimentes da culpabilidade, tal opção legislativa não nos permite concluir que o crime seja
tão-somente um fato típico e antijurídico. Assim, não é possível afirmar de maneira segura o
conceito de crime adotado pelo Código Penal: se bipartido ou tripartido. Majoritariamente,
utiliza-se a corrente tripartida.
1.2.2. Conduta
É o primeiro elemento integrante do fato típico, sinônimo de ação e comportamento.
Embora o crime seja o resultado de uma ação humana, o legislador previu a possibilidade de
punição da pessoa jurídica por prática de atividade lesiva ao meio ambiente (art. 225, §3º, da
CF, e art. 3º da Lei nº 9.605/1998).
A ação, ou conduta, compreende:

5 a) Qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo);


b) Elemento subjetivo: doloso (agente quer a produção do resultado) ou culposo
(inobservância de um dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou
imperícia).
CONCEITO DE AÇÃO – CAUSAL, FINAL E SOCIAL
Concepção causalista clássica: ação é o movimento humano voluntário produtor de
uma modificação no mundo exterior. Sem ato de vontade não há ação, não há injusto, não há
crime. Mas isso também não ocorre se não houver modificação no mundo exterior.
Problema: não consegue solucionar o problema da omissão.
Concepção causalista neoclássica: a ação deixa de ser absolutamente natural para
estar inspirada de um certo sentido normativo que permita a compreensão tanto da ação em
sentido estrito (positiva) como da omissão. Agora a ação se define como o comportamento
humano voluntário manifestado no mundo exterior.
Concepção finalista: ação é um comportamento humano voluntário, dirigido a uma
finalidade qualquer. O homem, quando atua, seja fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a
que estava obrigado, dirige a sua conduta sempre a determinada finalidade, que pode ser
ilícita (atuação com dolo, por exemplo) ou lícita (quando não quer cometer delito algum, mas
que, por negligência, imprudência ou imperícia, causa um resultado lesivo, previsto pela lei
penal).
Concepção da teoria social da ação: é toda atividade humana social e juridicamente
relevante, segundo os padrões axiológicos de uma determinada época, dominada ou
dominável pela vontade. Interpreta a ação como fator estruturante conforme o sentido da
realidade social, com todos os seus aspectos pessoais, finalistas, causais e normativos.

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CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS


Há dois tipos de condutas: dolosas e culposas. Ou o agente atua com dolo, quando
quer diretamente o resultado, ou assume o risco de produzi-lo; ou age com culpa, quando dá
causa ao resultado em virtude de sua imprudência, imperícia ou negligência.
CONDUTAS COMISSIVAS E OMISSIVAS
Além de atuar com dolo e culpa, o agente pode praticar a infração penal fazendo ou
deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado. As condutas, dessa forma, podem ser
comissivas (positivas) ou omissivas (negativas).
Nos crimes comissivos, o agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita. Ex:
crime de furto – finalidade de subtrair os bens móveis pertencentes à vítima. Nos crimes
omissivos, ao contrário, há uma abstenção de uma atividade que era imposta pela lei ao
agente, como no crime de omissão de socorro (art. 135).
Os crimes omissivos podem ser próprios (puros ou simples) ou impróprios (comissivos
por omissão ou omissivos qualificados).
Crimes omissivos próprios são os que objetivamente são descritos como uma conduta
negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma
jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. São delitos nos quais existe o
chamado dever genérico de proteção.
Crimes omissivos impróprios só podem ser praticados pelas pessoas referidas no § 2º
do art. 13, uma vez que para elas existe um dever especial de proteção. São elas:

6 I – pessoa que se encontre na posição de garante ou garantidor, ou seja, que tenha a


obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância;
II – Pessoa que, de outra forma, assuma a responsabilidade de impedir o resultado;
III – Pessoa que, com seu comportamento anterior, tenha criado o risco da ocorrência
do resultado.
AUSÊNCIA DE CONDUTA
Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há a ação. Isso pode acontecer se o
agente estiver impedido de atuar, como nos casos de força irresistível, movimentos reflexos e
estados de inconsciência.
A força irresistível pode decorrer da natureza ou da ação de terceiro. Ex: vento forte
que arrasta a pessoa para cima de outra, causando-lhe lesões corporais. Coação física
irresistível. Situação em que o agente é jogado por uma terceira pessoa de encontro a outras
pessoas, vindo a lesioná-las. Em todos os casos, não há conduta, não respondendo o agente
pelas lesões que vier a causar.
Os movimentos reflexos são reações a determinados impulsos que podem causar
danos. Ex: pessoa coloca fio de seu aparelho de som em uma tomada e recebe uma pequena
descarga elétrica, causando, num efeito reflexo, ao movimentar seu corpo, lesão em terceiro.
Não haverá conduta.
Ressalte-se, contudo, que se o movimento reflexo era previsível, os resultados dele
advindos deverão ser imputados ao agente, geralmente a título de culpa. Ex: pessoa que vai
consertar chuveiro elétrico, mesmo percebendo a existência de um fio desencapado, tenta
fazê-lo sem desligar a chave de força. Se sofrer descarga elétrica e, mediante movimento
reflexo, causar lesão, vai ter que responder.

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Os estados de total inconsciência eliminam também a conduta do agente. Ex:


sonambulismo, ataques epiléticos, hipnose, etc.
No caso da embriaguez completa, desde que não seja proveniente de caso fortuito ou
força maior, embora não seja predeterminada a intenção de praticar crime, o agente será
responsabilizado. Aqui, na verdade, o agente é responsabilizado pelos resultados ocorridos em
virtude do ato de querer, voluntariamente, embriagar-se, ou mesmo em razão de ter,
culposamente, chegado ao estado de embriaguez. Ocorre a chamada actio libera in causa,
tendo em vista que a ação foi livre na causa, devendo o agente responder pelos resultados
dela decorrentes.
1.3. Sujeitos do crime
1.3.1. Sujeito ativo
Pessoa que realiza direta ou indiretamente a conduta criminosa, seja isoladamente,
seja em concurso.
Sabe-se que o delito é uma ação humana, sendo que, em regra, só realiza crime a
pessoa física. Entretanto, a Constituição Federal previu hipótese de crime para pessoas
jurídicas, abrindo-se possibilidade para esta discussão.

1.3.1.1. Pessoa jurídica como sujeito ativo de crimes


Levando-se em consideração que a pessoa jurídica é pessoa distinta de seus membros,
a doutrina discute sobre a possibilidade da penalização da pessoa jurídica.
-Previsão constitucional:

7 a) [art. 173, § 5º, CF] – Responsabilidade da pessoa jurídica nos atos praticados
contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular. Trata-se de
norma de eficácia limitada [ “A lei (...)”]
b) [art. 225, § 3º, CF] – responsabilidade da pessoa jurídica quanto às condutas
lesivas ao meio ambiente. Trata-se de norma de eficácia limitada.
-Previsão infraconstitucional:
a) [art. 3º, caput, Lei 9.605/98] – regulamenta o art. 225, § 3º da CF possibilitando a
responsabilidade penal da pessoa jurídica. Aqui há divergência quanto à
possibilidade da pessoa jurídica figurar como sujeito ativo:
Argumentos pro e contra:
a) IMPOSSIBILIDADE:
 A pessoa jurídica não tem vontade.
 Não é dotada de consciência e vontade, portanto, não pode “dirigir uma ação” de
acordo com sua intenção. Ademais, pela ausência de consciência, a pena não geraria o
caráter intimidativo.
 A pessoa jurídica é inimputável, pois não entende o caráter ilícito de um fato e de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
 A punição da pessoa jurídica representa verdadeira responsabilidade penal objetiva, o
que compromete o princípio da culpabilidade.
 A pena deve ser personalíssima e a punição da pessoa jurídica acabaria gerando a
punição do sócio. Ex.: sócios minoritários contrários à decisão que acarretou a
punição.
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 Pessoa jurídica não pode ir para a prisão. A aplicação de multa pode ocorrer por
qualquer outra área do direito.

b) POSSIBILIDADE:
 A pessoa jurídica tem vontade.
 Não reconhecer a existência de vontade seria limitar a teoria da pessoa jurídica.
 Teoria organicista ou da realidade (Otto Gierke) – [adotada no Brasil] – reconhece que
a pessoa jurídica tem vontade própria e distinta dos seus membros. A sua vontade é
fruto da fusão das vontades dos seus membros.
o Em contraposição à essa teoria existe a teoria da ficção (Savigny), que
reconhece a pessoa jurídica como uma ficção jurídica não dotada de
consciência e vontades próprios, não adotada no ordenamento brasileiro.
 É necessário constatar que as pessoas muitas vezes se escondem atrás dessas
instituições.
 Mesmo que se admitisse que a pessoa jurídica não fosse dotada de vontade, é
necessário reconhecer que o direito penal, em algumas situações excepcionais, admite
responsabilidade penal objetiva. [ex.: embriaguez]
 Em qualquer crime, quando se pune o agente, é possível existir pessoas inocentes
prejudicadas, isso não quer dizer que ocorreria violação do princípio da personalidade.
8  Hoje, a ideologia do direito penal não se limita à aplicação de penas privativas de
liberdade, sendo possível a aplicação de penas alternativas.
 Não há como não deixar de reconhecer o aspecto moral que uma pessoa jurídica
condenada se sujeitaria.
-Penas aplicáveis à pessoa jurídica: [art. 22 e seguintes da lei 9.605/98]
O magistrado não poderá aplicar outra pena senão as que estão expressamente
previstas no ordenamento como penas aplicáveis às pessoas jurídicas.
Penas restritivas de direito:
 Suspensão parcial ou total de atividades – aplicada quando a pessoa jurídica não
estiver obedecendo as disposições legais ou regulamentares relativas à proteção do
meio ambiente.
 Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade - aplicada quando o
estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando:
o Sem a devida autorização.
o Em desacordo com a autorização concedida.
o Com violação de dispositivo legal ou regulamentar.
 Proibição de contratar com o poder público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações.
o Não poderá exceder a 10 anos.
 Prestação de serviços à comunidade: consiste em:

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o a) custeio de programas e de projetos ambientais;


o b) execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
o c) manutenção de espaços públicos;
o d) contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
 Liquidação da pessoa jurídica: penalidade aplicada à empresa constituída ou utilizada
preponderantemente para a prática de crimes previsto na lei 9.605/98.
Teoria da dupla imputação: para punir a pessoa jurídica é necessário punir a pessoa
física. Tese não adotada tanto pelo STF, quanto pelo STJ, que seguiu o entendimento da
Suprema Corte.
Em julgado recente, a 1ª Turma do STF (3x2) julgou pela desnecessidade de dupla
imputação: [...] É admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental,
ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do
órgão responsável pela prática criminosa. [...] sublinhou-se que, ao se condicionar a
imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa humana, estar-se-ia quase que a subordinar a
responsabilização jurídico-criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física.
Ressaltou-se que, ainda que se concluísse que o legislador ordinário não estabelecera por
completo os critérios de imputação da pessoa jurídica por crimes ambientais, não haveria como
pretender transpor o paradigma de imputação das pessoas físicas aos entes coletivos
Trabalha-se uma concepção social da culpabilidade, quando se fala de pessoa jurídica,
tendo um aspecto teórico e outro prático.
9 No aspecto teórico, o ente pode ser punido quando atua fora dos limites permitidos
pelo Estado. O único texto legal que prevê essa responsabilidade é a lei 9.605 (crimes
ambientais), pois a lei para crimes contra a economia popular e contra a ordem econômica
praticados por Pessoa Jurídica ainda não foi editada.
Para que a PJ seja punida o primeiro pressuposto é a infração, ou seja, o resultado
lesivo ao meio ambiente deve ser cometido por decisão de seu representante legal ou
contratual ou do órgão colegiado. Se não for vontade desses órgãos, não pode haver punição
penal à PJ. É o vínculo psicológico da PJ, sob pena de responsabilidade penal objetiva.
O segundo pressuposto é que o DANO, além de ter sido ocasionado por decisão de
pessoas representantes da PJ, deve advir de uma conduta adotada para atender os interesses
ou benefícios do próprio ente jurídico, e não das pessoas físicas que a compõem. A soma
desses requisitos é denominada de responsabilidade penal em cascata, pois não tem como
construir uma conduta própria da PJ, surgindo a responsabilidade criminal desta como
consequência da ação de uma pessoa física.
Isto posto, o STJ entendia ser obrigatória dupla imputação (pessoa física + jurídica).
Porém, o STF decidiu o caso, fixando o a tese de que a CF não fez essa obrigação, entendendo
pela possibilidade de condenação da pessoa jurídica dissociada da pessoa física.
Aqui, se fala em culpabilidade social, conceito moderno entendido como
descumprimento do papel social que se espera de todo e qualquer ente coletivo que atua nas
mesmas condições. O STF entende que, conforme BULLOS, há uma espécie de autonomia
punitiva entre os cometimentos ilícitos praticados pelo homem, enquanto cidadão comum, e os
delitos exercidos por empresas. Ambos não se imiscuem, pois estão sujeitos a regimes jurídicos
diversos.

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1.3.2. Sujeito passivo


É o titular do bem jurídico que sofre a conduta típica, podendo ser denominado de
vítima ou ofendido, dividindo-se em duas espécies.
a) Sujeito passivo formal, mediado, indireto, geral, constante, genérico – é o Estado, pois
todo crime viola normas editadas pelo estado, bem como a paz social;
b) Sujeito passivo material, eventual, acidental, direto, imediato, particular– é o titular do
bem jurídico lesado ou ameaçado de lesão, podendo ser pessoa jurídica, desde que
compatíveis com a sua natureza.
Se não existir um sujeito passivo determinado, este será considerado como sendo a
sociedade. Esses tipos de crime são denominados de crimes vagos, uma vez que possuem
sujeitos passivos indeterminados. [ex.: crime de quadrilha ou bando]
 Crime contra animais, sujeito passivo: sociedade.
 Crime contra cadáver, sujeito passivo: sociedade e familiares; bem jurídico – respeito
aos mortos.
ATENÇÃO: o morto, os animais e as coisas inanimadas não podem ser sujeitos passivos do
crime por não serem titulares de bens jurídicos. O sujeito passivo será o titular do bem jurídico
lesado. Quando a titularidade é de várias pessoas, mesmo se o titular esteja atacando o que é
seu estará cometendo o crime. [ex.: fazendeiro derrubando a mata em seu imóvel]
Sujeito ativo pode atingir objeto material que é seu e responder pelo crime, conforme
no exemplo dado acima. Ainda, é possível que a figura do sujeito ativo e do sujeito passivo do
10 crime estejam na mesma pessoa, como no crime de rixa. Há também o crime multivitimário –
crime com várias vítimas.
Importante mencionar que ninguém pode praticar um crime contra si próprio, salvo
quando consistir elemento do tipo, como nos casos da pessoa que se lesiona para receber um
seguro, que é uma fraude, considerada crime.

1.4. Objeto do crime


É o bem jurídico tutelado, é o interesse protegido pela norma. Todo crime possui objeto
jurídico.
 Objeto material – é a pessoa, coisa ou interesse sobre o qual recai a conduta típica.
 Pode haver crime sem objeto material. [ex.: ato obsceno ou falso testemunho]
o Existência de crime sem objeto material
Há quem interprete a expressão “material” de forma literal e identifica apenas a
“pessoa” e a “coisa” sobre a qual recai a conduta típica. Nesse sentido afirmam ser possível a
existência de crime sem objeto material.
-Guilherme Nucci diverge desse posicionamento e identifica, além da “coisa” e da
“pessoa”, a possibilidade de a conduta recair sobre “interesse”. Nesse sentido seria incorreto
afirma que existiria crime sem objeto jurídico.
No que concerne à interesses, temos os interesses coletivos e difusos, como meio
ambiente, saúde, economia, finanças. Para isso, devemos fazer uma análise do que é o bem
jurídico sujeito à tutela penal.

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1.4.1. Bem jurídico


Numa concepção formal, bem jurídico é o objeto da tutela penal. Defende-se porém a
necessidade de uma acepção material do termo, como limite à atividade do legislador criminal.
Estes dividem-se em dois grupos: aqueles que entendem que o bem jurídico é externo ao
ordenamento jurídico, qualificando-o como bem da vida, independentemente da vontade
legislativa; e aqueles que defendem que o bem jurídico é determinado juridicamente, mas por
meios externos ao Direito Penal, mormente pelo Direito Constitucional.
Luiz Régis Prado aponta as seguintes funções desempenhadas pelo bem jurídico: a)
função de garantia: o bem jurídico é erigido como conceito-limite da dimensão material da
norma, restringido o poder punitivo do Estado; b) função teleológica: critério de interpretação
dos tipos penais; c) função individualizadora: como critério de medida da pena, no momento
de sua fixação, levando-se em conta da lesividade ao bem jurídico (desvalor do resultado); d)
função sistemática: como elemento classificatório decisivo na formação dos grupos de tipos da
parte especial do Código Penal.
POSIÇÃO DE ROXIN (Resumo TRF5)
Um dos principais defensores da utilidade do conceito de bem jurídico como
mecanismo de limitação do poder punitivo estatal é Claus Roxin, segundo quem apenas a
discricionariedade legislativa não é suficiente para legitimar a criminalização de condutas
(ROXIN, 2006, p. 11).
Também entende que não é possível desvincular o conceito de bem jurídico da
finalidade que se atribui ao próprio Direito Penal. Defende que a intervenção jurídico-penal
deve resultar de uma ‘função social do direito penal’ que consiste em “garantir a seus cidadãos
11 uma existência pacífica, livre e socialmente segura, sempre e quando estas metas não possam
ser alcançadas com outras medidas político-sociais que afetem em menor medida a liberdade
dos cidadãos” (ROXIN, 2006, p. 16 et seq.).
Veja-se que dois são os pressupostos de que parte Claus ROXIN ao tratar da teoria do
bem jurídico: a) a imprescindibilidade de que o poder punitivo penal do Estado seja limitado,
tendo em vista o princípio da subsidiariedade; e b) a possibilidade de efetivação do princípio
da subsidiariedade do Direito Penal (ultima ratio) por via do conteúdo de bem jurídico penal.
Em consonância com o princípio da subsidiariedade, Roxin defende que a intervenção
jurídico-penal somente é legítima quando objetiva “assegurar aos cidadãos uma coexistência
pacífica e livre, sob a garantia de todos os direitos humanos” (ROXIN, 2006, p. 17).
Tanto as condições individuais quanto as instituições sociais necessárias à coexistência
pacífica são denominadas por Roxin como bens jurídicos, os quais constituem circunstâncias
reais, mesmo que imateriais, haja vista que também se insere no conceito de bem jurídico a
possibilidade de disposição sobre os bens materiais, que não deixam de ser parte de uma
realidade empírica. Nas palavras do autor,
[...] podem-se definir os bens jurídicos como circunstâncias reais dadas ou finalidades
necessárias para uma vida segura e livre, que garanta todos os direitos humanos e civis de
cada um na sociedade ou para o funcionamento de um sistema estatal que se baseia nestes
objetivos. A diferenciação entre realidades e finalidades indica aqui que os bens jurídicos não
necessariamente são fixados ao legislador com anterioridade, como é o caso, por exemplo, da
vida humana, mas que eles também possam ser criados por ele, como é caso das pretensões
no âmbito do Direito Tributário. (ROXIN, 2006, p. 19)
Na concepção de Roxin (2006, p. 19), o conceito de bem jurídico não se limita àqueles
individuais, sendo de se aceitar bens jurídicos da generalidade, desde que estes sirvam
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definitivamente ao cidadão do Estado em particular. Para o autor, esse conceito de bem


jurídico tem função de crítica à legislação, “na medida em que pretende mostrar ao legislador
as fronteiras de uma punição legítima.” (ROXIN, 2006, p. 20)
1.4.2. Espiritualização do bem jurídico
Também chamada de “desmaterialização, dinamização ou liquefação” do bem jurídico.
Nos tempos atuais de uma sociedade de risco (Ulrich Beck), as transformações sociais,
econômicas e tecnológicas repercutem no direito penal. A criminalidade moderna, entre
outros aspectos, caracteriza-se pelas grandes concentrações de poder político e econômico,
especialização profissional, domínio tecnológico. Nesse contexto, busca o legislador criar
figuras típicas visando a mais de uma forma de controle social de novos bens jurídicos,
notadamente de caráter coletivo, como a ordem econômica e o meio ambiente. Com isso, há
um maior foco na intervenção penal de bens jurídicos universais ou coletivos, de perfis mais
abstratos.
Assim, temos o que se chama de sociedade de risco do direito penal, diante de perigos
que podem surgir com a evolução das sociedades, de modo que é preciso adequar os tipos
penais à realidade. Hoje, temos a preocupação com os direitos difusos, havendo a criação de
tipos abstratos e cumulativos.
Crimes/tipos de perigo abstrato são criados diante da probabilidade de uma ação ser
considerada perigosa. Assim, o legislador antecipa a proteção do direito penal ao dano
propriamente dito, punindo uma conduta entendida como perigosa ao bem jurídico a ser
protegido. O tipo penal visa evitar não o dano, mas o próprio perigo do dano. Ex: soltar balão
de fogo. Falaremos mais na classificação quanto à caracterização da consumação.
12 Já os crimes/tipos cumulativos, consiste na punição da conduta que, de forma isolada,
não seria relevante, mas se praticada generalizadamente traria prejuízos para sociedade. Ex:
delitos ambientais. Logo: não pune a conduta por sua lesividade, mas para prevenir a prática
generalizada, que é capaz de provocar perigo supraindividual.
Na seara desses tipos penais, temos a aplicação do Direito Penal Negocial,
consubstanciando-se em resposta à expansão do direito penal, que passa a tutelar bens
jurídicos supraindividuais, ameaçados por novos riscos sociais. Nesse modelo, o Estado abre
mão de parcela do ius puniendi e incorpora institutos negociais no ordenamento, sob a
justificativa de redução de custos com o aparato judicial e de maior eficiência no combate à
criminalidade organizada.

2. Classificação dos crimes


A classificação pode ser legal, que trata-se do nome atribuído ao delito pela lei, ou pode
ser doutrinária, que é o nome dado pelos estudiosos do Direito Penal às infrações penais.
2.1. Critério: figura do sujeito ativo
1) Crime comum: é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa. Podem ainda ser
bicomuns, quando praticado por qualquer pessoa e contra qualquer pessoa.
2) Crime próprio ou especial: é aquele que somente pode ser cometido por uma
determinada categoria de pessoas. Ex.: crimes funcionais.
a) Puros: também chamado de especiais impróprios, a ausência da condição imposta
pelo tipo penal leva à atipicidade do fato. Ex: prevaricação, pois se não for funcionário
público não há crime algum.

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b) Impuros: Nestes, a ausência da condição especial acarreta na desclassificação para


outro crime. Ex: peculato passaria a ser furto ou apropriação indébita, conforme o
caso.
c) Bipróprios: exige situação peculiar do sujeito ativo e do sujeito passivo, como no
infanticídio.
3) Crime de mão própria, de atuação pessoa, de conduta infungível: é o crime próprio cujo
agente precisa agir pessoalmente, só podendo ser praticado pela pessoa expressamente
indicada no tipo penal. Assim, não admitem a coautoria, mas somente participação, pois a
lei não permite delegar a execução do crime a terceira pessoa.
a) Ex: crime de falso testemunho. O STF, a admitiu a participação, em caso em que
envolvia advogado. HC 81.327-SP, rel. Ministra Ellen Gracie, 11.12.2001. STF também
admite coautoria RHC 81327 / SP. O advogado pode auxiliar a testemunha a faltar
com a verdade, mas jamais poderá mentir em seu lugar ou juntamente com ela.
2.2. Crimes simples e complexos
a) Crime simples: é aquele que se amolda em um único tipo penal. Ex: furto.
b) Crime complexo: crime que prevê, de forma explícita, 2 ou mais tipos penais em uma
única descrição legal (SENTIDO ESTRITO), ou aquele que abrange um tipo simples
acrescido de fato não típico (SENTIDO AMPLO).
Crime complexo em sentido estrito: é formado pela conjugação de 2 ou mais figuras típicas.
a. Crime complexo em sentido amplo: é formado pela conjugação de conduta
13 penalmente tipificada acrescida de um fato atípico. Ex: estupro = violência ou
ameaça (conduta típica) + conjunção carnal (figura atípica).

2.3. Critério: necessidade do resultado para a consumação


a) Crime de resultado, material ou causal: é aquele que se consuma com a ocorrência do
resultado naturalístico, o qual necessariamente deve ser verificado, sob pena de se
constituir em mera tentativa.
b) Crime formal, de consumação antecipada, ou de resultado cortado: a ocorrência do
resultado naturalístico caracterizará exaurimento, de modo que basta a realização da
conduta, não havendo necessidade da produção do resultado naturalístico.
a. Ex: extorsão: Súmula 96 STJ: O crime de extorsão consuma-se
independentemente da obtenção da vantagem indevida.
c) Crime de mera conduta ou de simples atividade: só há uma conduta, não havendo
resultado naturalístico, razão pela qual ele jamais poderá ser verificado. É impossível
acontecer o resultado naturalístico. Ex.: violação de domicílio; ato obsceno.

2.4. Critério: momento consumativo


a) Crime instantâneo ou de estado: é aquele cujo momento consumativo ocorre num
momento determinado, sem continuidade no tempo.
b) Crime permanente: é aquele cujo momento consumativo se prolonga no tempo até
quando queira o agente. A prisão em flagrante é cabível a qualquer momento,
enquanto perdurar a ilicitude. A prescrição inicia-se com o último ato de
execução/tentativa.
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a. Necessariamente permantentes: é imprescindível a manutenção da situação


contrária ao Direito por tempo juridicamente relevante. Ex: sequestro.
b. Eventualmente permanentes: em regra são instantâneos, mas, no caso
concreto, a situação de ilicitude pode ser prorrogada pela vontade do agente,
como no furto de energia elétrica.
c) Crime instantâneo de efeitos permanentes: é o delito instantâneo cujos efeitos
deixados após a consumação são visíveis, gerando dúvida em relação à própria
consumação. Ex: crime de bigamia: no momento que a pessoa casa pela 2ª vez o delito
já se consumou, o que permanece são os efeitos e estelionato previdenciário, quando
praticado por terceiro não beneficiário.
a. ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO: natureza binária (praticado pelo beneficiário
e por terceira pessoa/agente público).
i. Quando praticado pelo beneficiário, é crime permanente (o momento
consumativo prolonga-se no tempo), a ofensa ao bem jurídico é
reiterada mês a mês, enquanto não descoberta a fraude. O termo
inicial de prescrição se dá com o último recebimento indevido do
benefício.
ii. Quando praticado por terceira pessoa ou funcionário da previdência
não beneficiário, o crime é instantâneo e de efeitos permanentes
(consuma-se num só momento e os efeitos se prolongam no tempo) –
uma vez feito, consumou-se. Ex: amigo falsifica documento para uma
pessoa conseguir benefício previdenciário.
14 iii. O pagamento integral do débito NÃO extingue a punibilidade. A
extinção prevista na lei 10.684 só se aplica aos crimes tributários
materiais. Aos formais não.
iv. Não se aplica o princípio da insignificância, pois a lesividade transcende
o âmbito individual e abala a esfera coletiva.
v. DIFERENTE EM CASO DE MORTE E SAQUE INDEVIDO: Se a pessoa,
após a morte do beneficiário, passa a receber mensalmente o
benefício em seu lugar, mediante a utilização do cartão magnético do
falecido, pratica o crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º,
do CP) em continuidade delitiva. Segundo o STJ, nessa situação, não se
verifica a ocorrência de crime único, pois a fraude é praticada
reiteradamente, todos os meses, a cada utilização do cartão
magnético do beneficiário já falecido. Assim, configurada a reiteração
criminosa nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de
execução, tem incidência a regra da continuidade delitiva prevista no
art. 71 do CP.
d) Crimes a prazo: a consumação exige a fluência de determinado período. É o caso da
lesão corporal grave em decorrência da incapacidade para as ocupações habituais por
mais de 30 dias.

2.5. Critério: quantidade de pessoas necessárias para a prática do delito


a) Crime unissubjetivo, unilateral, monosubjetivo: é aquele que pode ser praticado por
uma só pessoa, embora nada impeça a coautoria ou participação.
b) Crime plurissubjetivo: é aquele que, por sua conceituação típica, exige dois ou mais
agentes para a prática da conduta criminosa.

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a. Bilaterais ou de encontro: exige dois agentes cujas condutas tendem a se


encontrar. Ex: bigamia.
b. Coletivos ou de convergência: reclama a existência de dois ou mais agentes,
podendo ser praticado um contra o outro (de condutas contrapostas) ou em
auxílio dos agentes (de condutas paralelas).
c) Crimes eventualmente coletivos: são aqueles em que, não obstante seu caráter
unilateral, a diversidade de agentes atua como causa de majoração da pena, como se
dá no furto qualificado.
Pode haver condutas paralelas (mesmo fim), convergentes (condutas diferentes que se
completam, ainda que uma não seja culpável) ou divergentes (dirigidas umas contra as
outras).
2.6. Critério: quantidade de sujeito passivo
a) Crimes de subjetividade passiva única: são aqueles em que consta no tipo penal uma
única vítima.
b) Crimes de dupla subjetividade passiva: o tipo penal prevê a existência de duas ou
mais vítimas, tal como o aborto sem consentimento da gestante.
2.7. Critério: caracterização da consumação
a) Crime de dano ou de lesão: é aquele que somente se consuma com a efetiva lesão ao
bem jurídico.
b) Crime de perigo: é aquele que se consuma com a mera possibilidade do dano.
15 a. Crime de perigo concreto: delito cujo perigo deve ser investigado e provado.
b. Crime de perigo abstrato, presumido ou de simples desobediência: delito
cujo perigo é presumido pelo tipo penal, não precisa ser provado. Há
presunção absoluta de perigo a bens jurídicos. São constitucionais, mas devem
ser utilizados com parcimônia.
A criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só,
comportamento inconstitucional por parte do legislador penal. A tipificação de
condutas que geram perigo em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor
alternativa, ou a medida mais eficaz, para proteção de bens jurídico-penais
supraindividuais ou de caráter coletivo, como o meio ambiente, por exemplo.
Os crimes de perigo abstrato devem restringir-se aos comportamentos que,
segundo os diagnósticos e prognósticos realizados pelo legislador com base
em dados e análises científicas disponíveis no momento legislativo – e daí a
importância da verificação de fatos e prognoses legislativos em sede de
controle judicial de constitucionalidade – geralmente configuram perigo para o
bem jurídico protegido, estando descartados aqueles que apenas de forma
excepcional podem ensejar tal perigo. nesse sentido, segundo a máxima da
necessidade, quando houver medidas mais eficazes para a proteção do bem
jurídico-penal, porém menos gravosas para os direitos individuais em jogo,
os crimes de perigo abstrato serão contrários aos princípios da
subsidiariedade e da ofensividade e, dessa forma, ao princípio da
proporcionalidade.

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2.8. Critério: quantidade de atos para a consumação


a) Crime unissubsistente: é aquele que se consuma com a realização de um só ato. Não
admite tentativa nem fracionamento.
b) Crime plurissubsistente: é aquele cuja consumação é composta de vários atos. Admite
tentativa e fracionamento.
2.9. Comissivos, omissivos e de conduta mista
Além de atuar com dolo e culpa, o agente pode praticar a infração penal fazendo ou
deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado. As condutas, dessa forma, podem ser
comissivas (positivas) ou omissivas (negativas).
a) Crimes comissivos: praticado mediante uma conduta positiva, um facere. Ex: crime de
furto – finalidade de subtrair os bens móveis pertencentes à vítima.
a) Crimes omissivos: há uma abstenção de uma atividade que era imposta pela lei ao
agente, como no crime de omissão de socorro (art. 135). A própria omissão está
tipificada, sendo ela uma elementar do tipo. resultado que eventualmente surgir dessa
omissão será irrelevante para a consumação do crime, podendo configurar apenas
uma majorante ou qualificadora. Os crimes omissivos podem ser próprios (puros ou
simples) ou impróprios (comissivos por omissão ou omissivos qualificados).
a. Crimes omissivos próprios: são os que objetivamente são descritos como uma
conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na
transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado
naturalístico. São delitos nos quais existe o chamado dever genérico de
16 proteção, podendo ser praticados por qualquer pessoa. Ex: omissão de
socorro. Não admitem tentativa, pois são unissubsistentes (omissão de
socorro).
b. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão: só podem ser
praticados pelas pessoas referidas no § 2º do art. 13, uma vez que para elas
existe um dever especial de proteção. São elas:
I – pessoa que se encontre na posição de garante ou garantidor, ou seja, que
tenha a obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância;
II – Pessoa que, de outra forma, assuma a responsabilidade de impedir o
resultado;
III – Pessoa que, com seu comportamento anterior, tenha criado o risco da
ocorrência do resultado.
São crimes materiais, bem como, admitem a tentativa.
 Coautoria em crimes omissivos (próprios e impróprios): segundo
entendimento majoritário, é possível a coautoria em comissivos. O mesmo ocorre com a
participação.
Dissecando melhor:
Coautoria em crimes omissivos (próprios e impróprios): Para Nilo Batista, não se
cogita de coautoria nos delitos omissivos, uma vez que cada agente possui o seu dever de agir
de forma individualizada. Já Greco e Bittencourt entendem possível, desde que cada agente
possua o dever de agir no caso concreto e exista o liame subjetivo.
 Participação em crimes omissivos (próprios e impróprios): Bittencourt afirma
ser possível, desde que o partícipe esteja impossibilitado de cumprir a norma mandamental

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(ex: se for tetraplégico) ou, no caso de delito omissivo impróprio, desde que não esteja
incluso na figura do garantidor.

2.10. Critério: existência de vestígios [classificação do processo penal]


a) Delito não transeunte ou de fato permanente: é aquele que deixa vestígios.
b) Delito transeunte ou de fato transitório: é aquele que não deixa vestígios.

2.11. Outras classificações importantes


Crime progressivo: corresponde à consideração de que um tipo abstratamente considerado
contém, de forma implícita, outro, sendo que este deve, necessariamente, ser realizado para
se alcançar o resultado. Ex.: homicídio – implicitamente está a lesão corporal.
Crime progressivo x progressão criminosa
Crime progressivo: o agente, desde o início, pretende praticar o crime mais grave e para tanto,
por meio de atos sucessivos, praticas gradativas e crescentes violações o bem jurídico. Há uma
só infração penal. Desde o início, há a intenção de praticar o crime “maior”.
Progressão criminosa: o agente deseja inicialmente produzir um resultado menos grave,
porém, após atingi-lo, decide prosseguir e reiniciar a sua agressão e produzir um resultado
mais grave. Haverá mais de 1 infração penal. No início da conduta a intenção do agente é a
prática do crime “menor”. Posteriormente sua intenção se altera para a prática do crime de
maior gravidade.
17 ●  Crime Progressivo = C vem antes de P. A vontade vem antes.
● Progressão Criminosa = C vem depois de P. A vontade vem depois.
Crime habitual próprio: delito que busca punir um conjunto de condutas praticadas pelo
agente demonstrativo de um estilo de vida inadequado. Tipo penal criado para punir um
estilo de vida. Ao contrário do que se defende em algumas doutrinas, esses crimes admitem
sim o flagrante, quando a prisão é feita após já se ter verificado o implemento da
habitualidade e a configuração criminosa. Ex: curandeirismo, casa de prostituição.
Crime habitual e tentativa: a doutrina majoritária é pela impossibilidade de tentativa.
Crime habitual e flagrante: a doutrina majoritária é pela possibilidade.
Crime habitual impróprio: basta um único ato para a configuração do delito, porém a prática
de mais de um ato constitui crime único. Ex: gestão temerária ou fraudulenta (Lei 7.492).
Habitualidade criminosa: a pessoa faz do crime um estilo de vida. STJ: Ainda que superado
esse óbice, esta Corte tem reiteradamente decidido que a habitualidade delitiva comprovada
por meio da extensa folha de antecedentes criminais impede o reconhecimento da
continuidade delitiva.
Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: é aquele que contém várias modalidades de
condutas (núcleos no preceito primário) em sua descrição legal. Pode ser alternativo (prática
de mais de uma conduta constitui crime único) ou cumulativo (prática de mais de uma conduta
constitui mais de um crime). Ex: art. 22, parágrafo único, da Lei 7.492 (evasão de divisas) –
proteção de bens jurídicos diversos.
Crime vago: é aquele em que o sujeito passivo é uma coletividade de pessoas destituída de
personalidade jurídica.

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Crime condicionado: é aquele que tem punibilidade condicionada a um fato exterior e


posterior à consumação. Ex: sonegação fiscal. [constituição do crédito é condição objetiva de
punibilidade].
Crimede tendência intensificada x crime de intenção
Delitos de intenção: requerem um agir com ânimo, finalidade ou intenção adicional de obter
um resultado ulterior ou uma ulterior atividade, distintos da realização do tipo penal. Gera os
delitos de resultado cortado (ex: extorsão mediante sequestro) e os mutilados de dois atos (ex:
quadrilha).
Delitos de tendência: nesses crimes, não é a vontade do autor que determina o caráter lesivo
do acontecer externo, mas outros extratos específicos, inclusive inconscientes. Ex: crimes
contra a honra (propósito de ofender); crime do art. 212 (propósito de ultrajar).
Crimes Naturais e Plásticos: Naturais os que violam valores éticos absolutos e universais,
como a vida. Plásticos, aqueles que não violam valores éticos universais e absolutos, como
aqueles contra a administração, ordem tributária, em defesa do Estado.
Crimes de mínimo potencial ofensivo: não comportam pena privativa da liberdade. Ex: art. 28
da lei de drogas.
Crimes de menor potencial ofensivo: a pena privativa de liberdade não ultrapassa 2 anos,
cumulada ou não com multa.
Crimes de médio potencial ofensivo: a pena mínima não ultrapassa um ano,
independentemente da pena privativa máxima. Admitem sursis, na forma do 89 da lei 9099.

18 Crimes de elevado potencial ofensivo: apresentam pena mínima superior a um ano, e pena
máxima acima de dois anos.
Crimes de máximo potencial ofensivo: recebem tratamento diferenciado pela CF: hediondo,
tortura, tráfico de drogas, terrorismo, racismo, ação de grupos armados, civis ou militares
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
Crime remetido: ocorre quando a sua definição se remete a outros crimes, que passam a
integrá-lo. É o caso do art. 304 (fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados a
que se referem os arts. 297 a 302).
Crime doloso: o agente quis ou assumiu o risco de produzir o resultado. É a regra geral.
Crime preterdoloso: é o crime em que o resultado delitivo é mais grave do que o querido pelo
agente. O agente deseja praticar uma ação e produzir um resultado (como dolo, portanto),
mas, por imperícia, imprudência ou negligência, produz um resultado mais grave. Há dolo na
ação e culpa no resultado. Deve haver uma expressa previsão legal do resultado culposo mais
grave (como ocorre para o crime de homicídio, por exemplo). Se não houver, apenas o crime
doloso será punido. Não se admite tentativa em crimes preterdolosos, porque a tentativa é
inconcebível para resultados culposos. Todos os crimes preterdolosos são qualificados pelo
resultado, porém, nem todo crime qualificado pelo resultado é preterdoloso, porque o
resultado qualificador pode ter sido desejado (e crimes preterdolosos exigem resultado
culposo). O crime qualificado pelo resultado é gênero, do qual o crime preterdoloso é
espécie. Quando o resultado mais grave advém de caso fortuito ou força maior não se imputa
a agravação ao agente, porque não há nexo causal. O resultado mais grave tem que ser pelo
menos culposo, e a culpa deve ser demonstrada no caso concreto para configuração do crime
preterdoloso. É dizer, o versari in re illicita não vale para os crimes preterdolosos. Esse
brocardo é usado para defender que aquele que quem se envolve em coisa ilícita (crime

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antecedente) deve também responder pelo resultado fortuito (resultado agravador


consequente), independente da demonstração de culpa.
Crime culposo: é o crime que o agente deu causa por imprudência, negligência ou imperícia,
não havendo em si qualquer desejo de praticar o resultado juridicamente reprovável. O crime
culposo só é possível em tipos penais que expressamente o prevejam, como no homicídio.
Quase de forma absoluta, não se admite a tentativa nos crimes culposos.
Crime de ímpeto: cometido por reação emocional, sem premeditação.
Crimes funcionais: aqui é importante prestar atenção, porque influencia na jurisprudência em
relação ao procedimento utilizado. Funcionais próprios: a condição é indispensável à
tipicidade do fato, de modo que a ausência causa atipicidade. Funcionais impróprios: a
ausência da condição de funcionário público implica em desclassificação para outro delito.
Crime impossível, putativo, tentativa inidônea, tentativa inadequada: ocorre quando o
agente se utiliza de meio ABSOLUTAMENTE INEFICAZ ou objeto ABSOLUTAMENTE IMPRÓPRIO
para consumar o crime. É o caso da tentativa de homicídio dando-se um copo de água à vítima
na expectativa de que ela venha a morrer (meio absolutamente ineficaz) ou quando se tenta
furtar a carteira de uma vítima que não trazia a carteira no bolso (objeto absolutamente
impróprio, já que não há como furtar aquele objeto). A relativa ineficácia do meio e a relativa
impropriedade do objeto não afastam a configuração do crime, geralmente dando azo à
forma tentada, porque é ainda possível que um meio relativamente ineficaz ou um objeto
relativamente impróprio produzam dano. O crime impossível deve ser analisado somente
após a realização do fato, visto que algo aparentemente inofensivo (como um objeto
19 relativamente impróprio) pode ter o efeito de efetivamente gerar o crime. Sobre o crime
impossível há três teorias:

1. TEORIA OBJETIVA PURA: não distingue entre absoluta ou relativa impropriedade do objeto
ou ineficácia do meio. Segundo a teoria objetiva pura, não interessa saber, por exemplo, se a
arma não funcionou porque nunca funcionaria, ou a arma não funcionou naquele caso porque,
por azar do autor, ela emperrou. Tanto um, quanto em outro caso, se estaria diante de um
crime impossível. NÃO É ADOTADA NO BRASIL.

2. TEORIA OBJETIVA TEMPERADA: prima pela distinção entre absoluta ou relativa


impropriedade do objeto ou ineficácia do meio. Essa teoria sustenta que só há perigo ao bem
jurídico apto a fundamentar a punibilidade do crime tentado quando o objeto ou o meio
forem, em tese, aptos à produção do resultado, ainda que circunstancialmente não se consiga
produzi-lo. Ou seja, em tese, para a teoria objetiva temperada, só seria caso de se reconhecer
o crime impossível após a arma utilizada para um roubo ser periciada. Se a perícia chegar à
conclusão de que a arma que foi acionada não disparou e nunca dispararia por ser defeituosa
(ineficácia absoluta do meio), seria caso de crime impossível. Porém, se essa arma, uma vez
apreendida e submetida à perícia, for revelada como apta a produzir disparos, tendo o
insucesso do roubo decorrido unicamente de seu emperramento episódico, o meio será
relativamente ineficaz, merecendo o agente, pois, punição pela tentativa. ESSA FOI
CLARAMENTE A OPÇÃO ADOTADA PELO LEGISLADOR BRASILEIRO.

3. TEORIA SINTOMÁTICA OU SUBJETIVA: defende que o agente deve ser punido, mesmo em
caso de crime impossível, porque demonstrou periculosidade, disposição para agredir um bem
jurídico. Nesse caso, ele seria punido pela intenção, e não por algum fato. NÃO É ADOTADA NO
BRASIL.
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 #costurandoatoga
 Apostila 03 – Direito Penal
 Introdução à Teoria do
Crime

Elaborado dia 06/04/2018

Crime putativo, delito de alucinação: no crime putativo, o agente pratica uma conduta
acreditando estar praticando um ilícito penal, quando, de fato, sua ação não está tipificada.
Por exemplo, ocorre quando o agente trai a esposa com o fito de cometer crime (o adultério
não é mais considerado ilícito penal em nosso ordenamento, logo, não há crime). O crime
putativo pode ocorrer nas seguintes hipóteses:

1. Crime putativo por erro de proibição: o agente acredita ofender uma lei penal que não existe
realmente. A existência da lei incriminadora só existe na mente do agente, recaindo o erro,
portanto, sobre a ilicitude do fato. Esse é o caso do exemplo do agente que trai a esposa com
o fito de cometer crime (não há norma incriminando o adultério).

2. Crime putativo por erro de tipo: o crime imaginário se verifica quando o autor acredita
ofender uma lei penal incriminadora, mas os fatos revelam faltar uma elementar do tipo. Ou
seja, a lei penal existe, entretanto, o fato não foi típico porque o agente não realizou todas as
elementares. Aqui, há um erro sobre uma circunstância fática, e não sobre uma questão
jurídica. Por exemplo, ocorre quando o agente quer cometer um crime tributário declarando
erroneamente dados na DCTF; porém, ao invés de preencher a DCTF, ele preenche um
formulário de cadastro no show do milhão.

3. Crime putativo por obra do agente provocador: denominado também de crime de ensaio,
crimes de laboratório, ou crime de experiência, ocorre quando uma pessoa induz o agente a
cometer uma conduta criminosa e, simultaneamente, adota medidas para impedir a
consumação. Aqui, incide a Súmula 145 do STF, que trata do flagrante preparado ou
provocado: “Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
20
sua consumação”.

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