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DIR.

209 – DIREITO PENAL I


(TEORIA DA NORMA E TEORIA DO CRIME)

Carga horária semanal: 04 h/a

(II/2017 – 2º período)
Prof.º: Itair de Oliveira Araújo
E-mail: itairaraujo@hotmail.com
PROGRAMA DA UNIDADE:

UNIDADE III:

TEORIA GERAL DA NORMA PENAL

(PRINCÍPIOS)

Aprofundando mais...continuação!

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1) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA:

 O Direito Penal só deve interferir quando os demais ramos do direito


“não darem conta” de solucionar os problemas;

 Ultima ratio, diz-se que o Direito Penal é a ultima ratio, ou seja, é o


último recurso ou último instrumento a ser usado pelo Estado em
situações de punição por condutas castigáveis, recorrendo-se apenas
quando não seja possível a aplicação de outro tipo de direito, por
exemplo, civil, trabalhista, administrativo, etc.

Ex.: adultério era crime e foi abolido em 2005 pela lei 11.106, sobre o
argumento de que cônjuge traído, se for do seu interesse, poderá ingressar no juízo civil
com uma ação de indenização, a fim de que seja reparado o prejuízo moral por ele
experimentado, não havendo necessidade, outrossim, da intervenção do Direito Penal.

2) PRINCÍPIO DA LESIVIDADE:

 Tem origem no iluminismo que por meio do movimento de secularização


procurou desfazer a confusão entre o Direito e Moral.

 Criminaliza condutas positivas e negativas que atingem um terceiro.

 Tem a função de proibir a incriminação de uma atitude interna.

 Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do


próprio autor.

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 Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais.
Ou seja, o Estado não pode punir a pessoa por aquilo que ela é, mas sim
por aquilo que ela fez.

 Proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem


qualquer bem jurídico. Ex.: não posso punir alguém pelo simples fato
de não gostar de tomar banho regularmente; por tatuar o próprio nome no
corpo ou por se entregar, desde que maior e capaz, a práticas sexuais
anormais.

 O Direito Penal não incrimina ações onde o “crime” atinge somente o


autor. Ex.: não se pune o que tentou suicídio; não se pune a autolesão
(vide os arts. 122 e 129).

 Conclusão:
-Todas as vertentes acima traduzem, na verdade, a impossibilidade de
atuação do Direto Penal caso um bem jurídico relevante de terceira
pessoa não esteja sendo efetivamente atacado por meio de uma conduta
(positiva ou negativa);

-Aquilo que for da esfera própria do agente deverá ser respeitado pela
sociedade e, principalmente, pelo Estado, em face da arguição da
necessária tolerância que deve existir no meio social, indispensável ao
convívio entre pessoas que, naturalmente, são diferentes.

3) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL:

 Não revoga lei, este princípio orienta o legislador em um critério de


seleção no contexto social. Tanto na criminalização do crime ou em sua
descriminalização.

 A vida em sociedade nos impõe riscos que não podem ser punidos pelo
Direito Penal, uma vez que esta mesma sociedade com eles precisa
conviver de forma harmônica.

 Ex.: o trânsito nas grandes cidades, o transporte aéreo e a existência de


usinas atômicas são exemplos de quão perigosa pode tornar-se a
convivência social. Mas mesmo sendo perigosas são consideradas
socialmente adequadas e assim afasta a interferência do Direito Penal
sobre elas.

 Nossos tribunais, especificamente no que diz respeito à contravenção


penal do “jogo do bicho”, têm rejeitado a tese de que as condutas
daqueles que se veem envolvidos com a aludida contravenção, por
exemplo, são socialmente adequadas, e que, portanto, sobre elas não
mais deveriam decidir os rigores da lei penal.

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Art. 58 (dec. 3.688/41). Explorar ou realizar a loteria
denominada jogo do bicho, ou praticar qualquer ato relativo à
sua realização ou exploração:
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa,
de dois a vinte contos de réis.

Outro exemplo: venda de CDs e DVDs piratas (vide súmula 502, STJ).

4) PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE:

 Decorrência direta do Princípio da Intervenção Mínima, da Lesividade e


da Adequação Social.

 O Direito Penal só se preocupa com fragmentos de bens que estão na


vida social.

 A fragmentariedade, portanto, é a concretização da adoção dos


mencionados princípios, analisados no plano abstrato anteriormente à
criação da figura típica.

 O caráter fragmentário do Direito Penal quer significar, em síntese, que


uma vez escolhidos aqueles bens fundamentais, comprovada a lesividade
e a inadequação das condutas que os ofendem, esses bens passarão a
afazer parte de uma pequena parcela que é protegida pelo Direito Penal,
originando-se, assim, a sua natureza fragmentária.

5) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:

 Serve para orientar o juiz. E serve para afastar condutas de bagatela


(lesões insignificantes).

Segundo o princípio da insignificância, que se revela por


inteiro pela sua própria denominação, o direito penal, por
sua natureza fragmentária, só vai aonde seja necessário para
a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas
(TOLEDO apud GRECO, 2016, p. 115).

 CRIME = fato típico + Ilícito + Culpável.

 Para se ter FATO TÍPICO é preciso ter os seguintes elementos:


a) Conduta (dolosa ou culposa – comissiva ou omissiva);
b) Resultado;
c) Nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado);
d) Tipicidade (formal e conglobante).

CASO 01: art. 303 do CTB (lesão corporal culposa no trânsito).

 Tipicidade penal = formal + conglobante.

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 TIPICIDADE FORMAL:

 TIPICIDADE CONGLOBANTE:
a) Conduta do agente é antinormativa;
b) Se o fato é materialmente típico.

CONCLUSÃO: se não há tipicidade penal, não haverá fato típico; e, como


consequência lógica, se não há fato típico, não haverá crime.

 É muito subjetiva essa visão?


-O Direito penal é valorativo.
-Deve-se usar a razoabilidade para podermos chegar à conclusão de que aquele
bem não mereceu a proteção do Direito Penal, posto que inexpressivo.

 Rejeição ao princípio da insignificância:


CASO 02 (casal de namorados furtam uma bala de caramelo) – furto
qualificado por concurso de pessoas (art. 155, §4º, IV, CP – pena mínima
02 anos).

Os tribunais pátrios têm aceitado copiosamente o princípio da insignificância. O


Supremo Tribunal Federal, por exemplo, assim tem decidido:

(...) o princípio da insignificância reduz o âmbito de proibição aparente


da tipicidade legal e, por consequência, torna atípico o fato na seara
penal, apesar de haver lesão a bem juridicamente tutelado pela norma
penal (STF – Primeira Turma – HC108946 – Rel. Min. Cármen Lúcia –
Dje 07/12/2011).

Vale ressaltar que a aplicação do princípio da insignificância não é irrestrita.


Não é suficiente que o valor do bem subtraído seja irrelevante (furtar uma caneta da
marca “Bic”, por exemplo). Os Tribunais Superiores (STF e STJ) estabelecem alguns
requisitos necessários para que se possa alegar a insignificância da conduta. São
eles:

a) A mínima ofensividade da conduta doa agente;


b) A ausência de periculosidade social da ação;
c) O reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e, por fim;
d) A inexpressividade da lesão jurídica causada.

Ver jugados! No GRECO – p. 116-117.

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 A doutrina moderna (CUNHA, 2016) considerou relevante distinguir
o princípio da insignificância ou bagatela própria com o da bagatela
imprópria.

Bagatela PRÓPRIA:

-não se aplica o direito penal em razão da insignificância da lesão ou do perigo


de lesão ao bem jurídico tutelado.

-ex.: subtração de um frasco de shampoo de uma grande rede de farmácia.

-Embora formalmente típica (prevista em lei como crime de furto, art.155 do


CP), a conduta é atípica sob o enfoque material (carecendo de relevante e intolerável
ofensa ou ameaça de ofensa ao bem jurídico).

Bagatela IMPRÓPRIA (irrelevância penal do fato)

Imaginemos um agente primário que, depois de furtar coisa com significado


econômico para a vítima, se arrepende e devolve o objeto subtraído. Pela letra da lei
o autor teria praticado crime.

Porém, para os adeptos da bagatela imprópria, o magistrado, analisando as


circunstâncias do caso concreto, estaria autorizado a absolver se concluir que a pena, na
hipótese, é desnecessária, inócua, contraproducente.

O fundamento legal para aplicar este princípio estaria na visão dos adeptos, no
art. 59, do CP, quando na sua parte final, vincula a aplicação da pena à sua necessidade.

 Ressalta-se que o STF negou a aplicação do princípio da bagatela


imprópria num caso de violência doméstica e familiar contra a
mulher em que o casal, mesmo após a condenação do agente, reatou
o relacionamento e continuou a conviver normalmente.
Argumentou-se não ser possível considerar insignificante a agressão
cometida contra a mulher no âmbito familiar, pois isso significaria
desprestigiar o sistema de proteção que o legislador almejou ao
editar a lei 11.340/06 (HC 130. 124).

6) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA:

 FASES DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA:


Art. 5º [...]:
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre
outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.

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* COMINAÇÃO / APLICAÇÃO / EXECUÇÃO DA PENA

 COMINAÇÃO:
-seleção feita pelo legislador no plano abstrato (dolo ou culpa; tentado
ou consumado; vida ou patrimônio)

 APLICAÇÃO:
-O julgador chegou à conclusão que o de que o fato praticado é típico,
ilícito e culpável; (sai do plano abstrato);
-começará agora a individualizar a pena;
-critério trifásico (art. 68 do CP): circunstâncias judiciais, atenuantes e
agravantes; e por fim, causas de diminuição e aumento de pena.

 EXECUÇÃO:
-Art. 5º da Lei 7.210/84 (LEP): “Os condenados serão classificados,
segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a
individualização da execução penal”.

Individualizar a pena, na execução, consiste em dar a cada


preso as oportunidades e os elementos necessários para
lograr a sua reinserção social, posto que é pessoa, ser
distinto. A individualização, portanto, deve aflorar técnica e
científica, nunca improvisada, iniciando-se como
indispensável classificação dos condenados a fim de serem
destinados aos programas de execução mais adequados,
conforme as condições pessoais de cada um (MIRABETE,
2008, p. 60-61).

 A lei 8.072/90 (crimes hediondos), fere a individualização da pena?


-o §1º do art. 2º impunha o total cumprimento da pena em regime
fechado.
-Hoje, após a edição da lei 11.464/2007 a discussão perdeu sentido. Vez
que passou a determinar (por modificação da lei 8072) que apena para os
chamados crimes hediondos e afins será cumprida inicialmente em
regime fechado (§1º do art.2º), permitindo, ainda, a progressão de regime
após o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for primário, e de 3/5,
se reincidente (§2º do art.2º).
- vide súmula Vinculante nº26 do STF.

7) PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE:

- Tem origem no iluminismo;


- Beccaria;
- lei de Talião;

O princípio da proporcionalidade exige que se faça um juízo de ponderação


sobre a relação existente entre o bem lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e
o bem que pode alguém ser privado (gravidade da pena).

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Toda vez que, nessa relação, houver um desequilíbrio acentuado, estabelece-se,
em consequência, inaceitável desproporção.

O princípio da proporcionalidade rechaça, portanto, o estabelecimento de


cominações legais (proporcionalidade em abstrato) e a imposição de penas
(proporcionalidade em concreto) que careçam de relação valorativa com o fato
cometido, considerado em seu significado global.

Tem, em consequência, um duplo destinatário:


-o poder legislativo (que tem de estabelecer penas proporcionadas, em abstrato,
à gravidade do delito) e o juiz (as penas que deve impor ao autor à sua concreta
gravidade).

8) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL

Quando a responsabilidade do condenado é penal, somente ele, e mais ninguém,


poderá responder pela infração praticada. Qualquer que seja a natureza da penalidade
aplicada.
Art. 5º, CF [...]
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo
a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do


falecido; mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada
qual em proporção da parte que na herança lhe coube (Código
Civil – Lei 10.406/2002).

 Multa?

9) PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO DAS PENAS:

São cláusulas pétreas (visa atender o princípio da dignidade da pessoa humana).

Art.5º [...]
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do
art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

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Pena de morte e de caráter perpétuo – ofende a função terapêutica,
reeducadora e socializante da pena.

Trabalho forçado:
O preso não é obrigado a trabalhar, mas...
o fato de não querer trabalho impedirá o condenado de conquistar benefício:
-progressão de regime (semiaberto para o aberto);
-remição (para os que cumpre a pena em regime fechado e semiaberto – a cada
03 dias trabalhados, haverá 01 remido).

Pena de banimento:
-exílio;
-negação ao direito à nacionalidade.

Penas cruéis:
-É antônimo de pena racional (em não doce);
-desconsideram o homem como pessoa.
-ex.: decepamento de mão do ladrão; castração de condenados por crimes de
violência sexual.

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