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Princípios e sua relação

com o Direito Penal


Prof. Marcos Túlio
Princípios podem ser:
1. Explícitos ou positivados no ordenamento
jurídico. Ex: o da individualização da pena
(inciso XLVI, do art.5° da CF: “a lei regulará a
individualização da pena e adotará, entre
outras, as seguintes:
 a) privação ou restrição da liberdade;
 b) perda de bens;
 c) multa;
 d) prestação social alternativa;
 e) suspensão ou interdição de direitos;
2. Implícitos, quando derivam daqueles
expressamente previstos e decorrem de
interpretação sistemática de determinados
dispositivos. Ex: o da proporcionalidade na
aplicação desta mesma pena e desta
individualização, devendo haver uma relação
direta, porém, razoável entre o delito
praticado e a pena aplicada.

OBS: nem muito e nem pouco. Na medida!


DIFERENÇA ENTRE LEI E PRINCÍPIOS
São duas:
1. Na forma de solução entre seus conflitos. Entre
leis deverá ser afastada as demais para
prevalecer somente uma. Entre princípios deverá
ocorrer a valoração através da
“PROPORCIONALIDADE” com a ponderação de
valores,aplicando-os em conjunto na medida de
sua compatibilidade.
2. No plano da concretude: a lei é elaborada
para reger determinado fato. Já o princípio é
para aplicação a um grupo indefinido de
hipóteses.
Exemplo: o art. 155 do CP (Furto) é elaborada
para reger todos os casos de subtração
nesses termos. Já o “princípio da legalidade”
vai reger, além do crime de Furto (art. 155 do
CP) como todo o ordenamento jurídico
voltado para as questões criminais.
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO
PENAL
Em organização didática eles são:
1. Relacionados com a missão fundamental do
Direito Penal;
2. Com o fato do agente;
3. Com o agente do fato;
4. Com a pena
Relacionados com a missão
fundamental do Direito Penal
1. Da exclusiva proteção dos bens jurídicos: significa
que “noção de bem jurídico” deve ter relevância e
respaldo nos valores que emanam da Constituição
e nos princípios democráticos e social do Direito.

O seja, criminalizar o exercício de uma religião


específica sabendo que a liberdade de crença é
assegurada pela Constituição.
Da mesma forma que fazer normas para simples
obediência vai contra a finalidade do Direito penal
Espiritualização, desmaterialização ou
dinamização do bem jurídico: trata-se da
proteção jurídico-penal passa a incidir sobre os
bens coletivos, difusos e não mais aqueles
titularizados por um indivíduo especificamente.
Trocando em miúdos:
1. o modelo de Direito Penal é determinado pelo
modelo de Estado;
2. A criação de tipos penais deve ser pautada
pela proibição de comportamentos de que
alguma forma exponham a perigo ou lesionem
valores concretos essenciais para o ser humano
estabelecidos na figura do bem jurídico
PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA
O Direito Penal só deve ser aplicado quando
estritamente necessário, de modo que sua
intervenção fica condicionada ao fracasso das
demais esferas de controle (caráter
subsidiário), observando somente os casos de
relevante lesão ou perigo de lesão ao bem
juridicamente tutelado(caráter fragmentário)
ÚLTIMA “ratio”
É a partir daí que se verifica a importância do
princípio da intervenção mínima destinado
especialmente ao legislador, segundo o qual o
Direito Penal só deve ser aplicado quando
estritamente necessário (última “ratio”),
mantendo-se subsidiário.

Deve servir como a derradeira trincheira no


combate aos comportamentos indesejados,
aplicando-se de forma subsidiária e racional à
preservação daqueles bens de maior
significação e relevo.
IMPORTANTÍSSIMO
O Direito Penal não é o único instrumento que o
Estado dispõe para exercer o controle social.
Porém, é o meio interventivo mais violento à sua
disposição, motivo pelo qual, antes da utilização
deste recurso, devem ser implementados todos
os meios de controle que a sociedade
(representado ou não pelo Estado) dispõe, e
apenas quando todos se mostrarem de eficácia
insuficiente, o uso do Direito Penal se torna
legítimo.
Esta legitimidade decorre da necessidade de
intervenção penal, motivo pelo qual a
subsidiariedade é um principio político limitador
do âmbito do poder punitivo do Estado.
Como desdobramento lógico da
fragmentariedade, temos o princípio da
insignificância.
Ainda que o legislador crie tipos
incriminadores em observância aos princípios
gerais do Direito Penal, poderá ocorrer
situação em que a ofensa concretamente
perpetrada seja diminuta, isto é, incapaz de
atingir materialmente e de forma relevante e
intolerável o bem jurídico protegido.
Nesses casos, estaremos diante do que se
denomina “infração bagatelar”, ou “crime de
bagatela”
Princípio da insignificância ou
bagatela própria
Para ser considerável ato ilícito relevante ao
Direito Penal deve-se ter duas coisas:
1. Tipicidade formal: subsunção da conduta do
agente à norma;
2. Tipicidade material: se a conduta representa
relevante lesão ou perigo ao bem protegido
pela norma.

OBS Importante: Ambas as tipicidade juntas


chamam-se “TIPICIDADE CONGLOBANTE”
O princípio da insignificância pode ser
entendido como instrumento de interpretação
restritiva do tipo penal.
Sendo formalmente típica a conduta e
relevante a lesão, aplica-se a norma penal, ao
passo que, havendo somente a subsunção
legal, desacompanhada da tipicidade
material, deve ser afastada, pois que estará o
fato atingido pela atipicidade.
Des. Vico Mañas - TJSP
O princípio da insignificância surge como instrumento de
interpretação restritiva do tipo penal que, de acordo
com a dogmática moderna, não deve ser considerado
apenas em seu aspecto formal, de subsunção do fato à
norma, mas, primordialmente, em seu conteúdo
material de cunho valorativo, no sentido de sua efetiva
lesividade do bem jurídico tutelado pela norma penal, o
que consagra o postulado da fragmentariedade do
Direito Penal.
Para ele, tal princípio funda-se “na concepção material do
tipo penal, por intermédio do qual é possível alcançar
pela via judicial e sem macular a segurança jurídica do
pensamento sistemático à proposição político criminal
da necessidade de descriminalização de condutas que,
embora formalmente típicas, não atingem de forma
socialmente relevante os bens jurídico protegidos pelo
Direito Penal,
STF e STJ
Ambos os Tribunais estão exigindo para
reconhecer a aplicação do princípio da
insignificância:
1. A mínima ofensividade da conduta do
agente;
2. Ausência de periculosidade social da ação;
3. O reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento;
4. A inexpressividade da lesão jurídica causada
Princípio “da bagatela imprópria”
Apesar de presentes o desvalor da conduta
típica (formal e material) a aplicação da
sanção se torna desnecessária.

Fundamento: a função da pena não pode ser


somente retributiva, mas, também preventiva
Infração bagatelar imprópria é a que nasce
relevante para o Direito Penal (porque há
desvalor da conduta bem como desvalor do
resultado), mas depois se veria que a
incidência de qualquer pena no caso concreto
apresenta-se totalmente desnecessária
(princípio da desnecessidade da pena
conjugado com o da irrelevância penal do
fato)
Ex: agente que furta a carteira cheia de
dinheiro de A (art. 155 do CP), mas o devolve
em seguida, demonstrando arrependimento.
bagatela própria # bagatela
imprópria
O princípio da bagatela própria se aplica aos
fatos que já nasceram irrelevantes para o
Direito Penal, enquanto o princípio da
bagatela imprópria tem aplicação quando,
embora relevante a infração penal praticada à
pena, diante do caso concreto,não é
necessária, deixando de ser aplicada pelo
Magistrado.
Princípio da adequação social
Tem duas funções:
1. Restringir o âmbito de abrangência do tipo
penal (limitando sua interpretação ao excluir
as condutas socialmente aceitas);
2. De orientar o legislador na seleção dos bens
jurídicos a serem tutelados atuando,
também no processo de descriminalização
de condutas.
Adequação social # intervenção
mínima
Adequação social: aceitação da conduta pela
sociedade (Ex: desforço necessário – § 1° do
art.1210 do Cód. Civil);

Intervenção mínima: ínfima relevância da


ofensa ao bem jurídico tutelado (ex: furto –
art. 155 do CP – de R$ 80,00 da carteira do
Sílvio Santos)
PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O
FATO DO AGENTE
Princípio da exteriorização ou materialização
do fato (nullum crimem sine actio): o Estado
só pode incriminar condutas humanas, ou
seja, atos praticados voluntariamente.
Trocando em miúdos:
Prevalece o Direito Penal da Fato (prática de
ato) e não o Direito penal do Autor (prática
do pensamento, desejos ou estilo de vida.
Exemplo:
STF declarou ser inconstitucional o art.25 da
Lei de Contravenções Penais:
“Ter alguém em seu poder, depois de
condenado, por crime de furto ou roubo, ou
enquanto sujeito à liberdade vigiada ou
quando conhecido como vadio ou mendigo,
gazuas, chaves falsas ou alteradas ou
instrumentos empregados usualmente na
prática de crime de furto, desde que não
prove destinação legítima”
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Fundamentos jurídicos vêm do Direito Romano,
Magna Cartha (Rei João Sem Terra) e Revolução
Francesa com o Pacto Social:
Art. 5°, II da CF: “ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”;
Art. 5°, XXXIX da CF – “não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”;
Art. 1° do CP: “não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal”
Princípio da Legalidade e
Documentos da Atualidade
Trata-se de garantia consolidada e
reconhecida:
1. Convênio para Proteção dos Direitos
Humanos e Liberdades Fundamentais (Roma,
1950);
2. Convenção Americana de Direitos Humanos
(São José da Costa Rica, 1969);
3. Estatuto de Roma (Roma, 1998)
“Nullum crimem, nulla poena sine lege”

é a base para todo e qualquer Estado


Democrático de Direito:
1. Todos têm que se subordinar ao império das
leis;
2. Limita o exercício do poder pelo governante.
FUNDAMENTOS
1. Político: numa clara exigência de vinculação
dos Poderes Executivo e Judiciário a leis
formuladas de forma abstrata, impedindo o
poder punitivo arbitrário;
2. Democrático: representa o respeito ao
princípio da Separação de Poderes,
conferindo aos representantes do povo
(Parlamento) a missão de elaborar as leis;
3. Jurídico: pois a lei prévia e clara produz
importante efeito intimidativo.
Direito penal precisa ser limitado e a punição
estatal não pode estar a serviço da tirania e
vilania de um administrador, razão que
todos, inclusive o Estado, têm que estar sob a
vontade e império das leis.

Assim, é correto dizer que a evolução do


Direito Penal é acompanhado pela evolução
de suas garantias
Desdobramento do princípio da
legalidade
1. Princípio da reserva legal: Não há crime nem
pena sem a existência de uma lei.
Ou seja, deve haver lei complementar ou
ordinária aprovada, sancionada e publicada
de acordo com a CF de 88 e nos regimes
internos da Câmara dos Deputados e Senado
Federal.

OBS: Medida Provisória não é lei, portanto, não


pode prever a criação de crime ou de pena.
2. Princípio da anterioridade: Não há crime ou
pena sem lei anterior.
Ou seja, o reconhecimento de crime e
cominação de pena exige a criação de lei
anterior ao fato.
3. Princípio da ecrituração: não há crime sem
lei anterior escrita. Ou seja, só a lei escrita
(ordenamento jurídico nacional) pode
prescrever crimes e penas;
4. Princípio da estrita existência da lei: não há
crime nem pena sem lei estrita. Ou seja, não
se admite o costume, analogia, etc para criar
o tipo ou sanção penal.
5. Princípio da taxatividade ou da determinação: não há
crime nem pena sem lei certa e determinada. Estão
mais relacionadas com o legislador, exigindo deste a
total clareza e certeza no momento de produzir a lei,
sendo incompatível com o sistema a mínima dúvida na
mensagem que o tipo penal deve transmitir à
população.

6. Princípio da necessidade: Não há crime nem pena


sem lei necessária. Trata-se de um desdobramento do
princípio da intervenção mínima, ou seja, deve-se
haver necessidade para a criação e existência de uma
lei. Ex: a mini reforma de 2009 extirpou do CP o crime
de Sedução (art. 217) e o de Adultério (art. 240), tendo
em vista a pouca ou nenhuma relevância social para o
século XXI
SÍNTESE
Não há crime:
1. Sem lei (lei em sentido);
2. Anterior (retroatividade penal só para
beneficiar);
3. Escrita (veda-se costume incriminador);
4. Estrita (veda-se analogia incriminadora);
5. Certa (tipo penal deve ser certo e
determinado);
6. Necessária (intervenção mínima)
Validade da norma depende de :
1. Legalidade formal (obediência ao processo
legislativo);
2. Legalidade material (deve obediência à CF,
tratados e direitos humanos do cidadão,
direitos e garantias fundamentais, ou seja,
sua própria essência)
Princípio da legalidade, tipo aberto
e norma penal em branco

Princípio da legalidade exige:


1. Lei certa;
2. 2. precisa;
3. Determinada.
Classificação da Lei quanto ao seu
conteúdo
1. completa: é aquela que dispensa
complemento valorativo (feito pelo juiz) ou
normativo (feito por outra norma). Ex: art.
121 do CP “matar alguém”;

2. Incompleta: a norma penal que depende de


complemento valorativo (tipo aberto) ou
normativo (norma penal em branco)
LEIS INCOMPLETAS
1.Tipo aberto: depende de complemento
valorativo a ser aplicado pelo julgador no
caso concreto. Ex: crimes culposos. Veja que
o legislador só vai dizer sobre negligência,
imprudência e imperícia, ficando a critério
do magistrado se o caso se encaixa numa ou
noutra situação descrita pelo norma.
OBS: mesmo sendo um tipo aberto, a norma
deve ter o mínimo de certeza, clareza e
determinação.
OBS: também são tipos abertos aqueles casos
como a expressão “sem justa causa” art. 154
do CP: “Violação do segredo profissional Art.
154 - Revelar alguém, sem justa causa,
segredo, de que tem ciência em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, e cuja
revelação possa produzir dano a outrem
Trata-se de “elemento normativo especial da
ilicitude”.
Seguem essa natureza: “indevidamente”, “sem
autorização”, “ato obsceno”, “dignidade”,
“decoro”, etc.
Será ou não ilícito dependendo do local e da
situação.
2. Norma Penal em Branco: aquela que
depende de complemento normativo,ou seja,
seu preceito primário não é completo e
precisa de complementação por outra norma:

São elas:
1. Próprias: (em sentido estrito ou
heterogênea): o complemento vem de fonte
normativa diversa da do legislador (de uma
lei). Ex: Lei de Drogas n° 11.343/2006, mas
as substâncias ilícitas vêm da portaria da
ANVISA do Min. da Saúde Portaria 344/98
Há posições diferentes na doutrina sobre a
constitucionalidade desta norma penal em
branco própria ou heterogênea:
Consideram inconstitucionais (minoritária):
Rogério Greco, Paulo Queiroz

Consideram constitucionais (majoritária):


Guilherme de Souza Nucci, Luiz Régis Prado,
etc.
2. Norma penal em branco imprópria (em sentido
amplo ou homogêneo): o complemento vem do
próprio legislador, da mesma fonte normativa.
Pode advir do mesmo diploma legal ou de outro:
2.1. homovitelina: o complemento da mesma
instância legislativa. Ex; CP trata do crime de
peculato (art. 312) “Apropriar-se o funcionário
público de dinheiro, valor ou qualquer outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a
posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em
proveito próprio ou alheio” e o art. 327 do CP
“Considera-se funcionário público, para os
efeitos penais, quem, embora transitoriamente
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública”
2.2. heterovitilina: o complemento da norma vem de
instância legislativa diversa.
Ex. art. 236 do CP “Contrair casamento, induzindo em erro
essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe
impedimento que não seja casamento anterior” e o
complemento vem do art. 1521 do Cód. Civil “Não podem
casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco
natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o
adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais,
até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por
homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
2.3. norma penal em branco ao revés (ou
invertida): o complemento se refere à sanção
(preceito secundário) e não ao conteúdo
proibitivo (preceito primário):
Ex: crime de genocídio não cuidou diretamente
da pena e faz referência expressa a outras
leis no que diz respeito a esse ponto (Lei n°
2.889/56)

OBS: por ser o caso de complemento para


aplicação da pena o complemento deve vir
obrigatoriamente de uma lei.
2.4. Norma penal em branco ao quadrado: trata-
se de uma norma que precisa de um
complemento, mas este complemento também
precisa de um complemento. Ex: art. 38 da Lei
9.605/98 “Destruir ou danificar floresta
considerada de preservação permanente, mesmo
que em formação, ou utilizá-la com infrigência
das normas de proteção”. Aqui duas coisas
precisam de complementação. “preservação
permanente” precisa de complementação pelo
Código Florestal, que por sua vez deverá ser
explicada por declaração de interesse social pelo
Chefe do Executivo (Presidente da Répública)
2.5. Norma penal em branco e instâncias
federativas diversas: a lei penal em branco poderá
ser complementada por instâncias federativas
diferentes como o Poder Executivo, Legislativo
Federal, Legislativo Estadual ou Municipal. Ex: art.
63 da Lei 9.605/98 “Alterar o aspecto ou
estrutura de edificação ou local especialmente
protegido por lei, ato administrativo ou decisão
judicial, em razão de seu valor paisagístico,
ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural,
religioso, arqueológico, etnográfico ou
monumental, sem autorização da autoridade
competente ou em desacordo com a concedida”.
A lei ou ato adiminisitrativo poderá ser realizado
por lei Municipal.
2.6. Norma penal em branco e complemento
internacional: o complemento da norma
possa vir de tratados internacionais.Ex: art.
1°, § 2°,do inciso II, da Lei 12.85/13 “Esta Lei
se aplica também: ... às organizações
terroristas, entendidas como aquelas voltadas
para a prática dos atos de terrorismo
legalmente definidos”.
Ou seja, ela faz menção dos atos de
terrorismo legalmente definidos nas normas
de direitos internacionais.
3. Princípio da ofensividade ou da lesividade
(“nullum crimen sine iniuria”): exige que o ato
praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao
bem jurídico tutelado, ao menos.
Trocando em miúdos: precisa haver “desvalor
da ação” + “desvalor do resultado”.
Assim, o princípio se destina ao legislador
(quando faz a lei) e ao julgador (quando
aplica a lei).
OBS: crimes abstratos são considerados
constitucionais (STJ e STF) Ex: Posse ou porte
de arma de fogo desmuniciada Lei n°
10.826/2003
PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM
AGENTE DO FATO
1. Da responsabilidade pessoal: o castigo deve
ser aplicado, exclusivamente, ao agente
(autor ou partícipe) do ato. OBS: não existe
responsabilidade coletiva presumida.
Seus desdobramentos são:
1.1. obrigatoriedade da individualização da
acusação: a denúncia ou queixa-crime deve
haver a individualização (descrição exata) da
conduta de cada agente, não sendo admitida
uma acusação genérica
1.12. obrigatoriedade da individualização da
pena: deve-se levar em conta, à aplicação da
pena, a gravidade do fato, condições,
circunstâncias, etc., relacionados ao seu
autor.
2. Princípio da responsabilidade subjetiva
(CAVEIRA): significa que a culpa (dolo ou
culpa) do agente deve ficar claramente
provada nos autos.

Trocando em miúdos: é vedado no Direito


Penal a responsabilidade objetiva ou por
presunção (“versari in re iliicita”)
3. Princípio da culpabilidade: somente ao
acusado imputável (penalmente capaz) com
potencial consciência da ilicitude
(possibilidade de conhecer o caráter ilícito de
seu comportamento) quando dele for exigível
conduta diversa (podendo agir de outra
forma) é que o Estado poderá aplicar-lhe
pena.
4. Princípio da igualdade(ou da isonomia):
encontra-se no caput do art. 5° da CF, com
garantia que se estende mesmo aos
estrangeiros não residentes no país.
OBS: Não é aceito somente o aspecto formal da
lei,mas substancial, ou seja, tratar os iguais
de modo igual e os desiguais na medida de
suas desigualdades.
Trocando em miúdos: “igualdade na aplicação
do direito” (J. J. Gomes Canotilho)
5. Principio da presunção de inocência:
fundamento se encontra no inciso LVII do art.
5° da CF: “ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”
OBS: Nossa CF pode até não presumir inocente
o cidadão em qualquer situação, mas afasta a
presunção de culpa sem o trânsito em
julgado em qualquer circunstância
OBS: a presunção de inocência não afasta e
nem tem efeito contrário em caso de prisão
provisória (também chamadas de prisões
cautelares ou processuais como flagrante,
temporária e preventiva).

Trocando em miúdos: o sujeito pode ter sido


preso em flagrante, ter sua prisão temporária
ou preventiva decretada e ao final do
processo ser considerado inocente. O
contrário também é verdadeiro!
Estatuto de Roma e o princípio da Inocência
Três consequências:
1. A liberdade é regra e o cárcere é exceção. O fim
do direito de punir do Estado é a Prisão Pena (com
trânsito em julgado), prisão cautelar é exceção;
2. É necessário que a acusação demonstre a
responsabilidade do Réu e não este demonstrar
sua inocência.
3. Condenação deriva somente de certeza do
julgador advindo das provas nos autos. Dúvida
deve ser o acusado absolvido com o princípio “in
dubio pro reo”
OBS: Súmula n° 11 do STF: ““só é lícito o uso de algemas em
caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de
perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e
penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão
Estatuto de Roma e Pacote Anticrime
Consta no CPP, no caso do Juiz das Garantias:
Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá
assegurar o cumprimento das regras para o
tratamento dos presos, impedindo o acordo
ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos
da imprensa para explorar a imagem da
pessoa submetida à prisão, sob pena de
responsabilidade civil, administrativa e penal.
 OBS: tem relação com a dignidade da pessoa
humana e a presunção de inocência.
Posições do STF sobre o princípio
1. No HC n° 126.296 a Corte considerou
possível e constitucional o cumprimento de
pena a partir da condenação em 2ª Instância.
O fundamento era:
1. Não eternizar a presunção de inocência;
2. Dar maior credibilidade às decisões judiciais;
3. O mérito já teria sido discutido pelo
acusado, visto que as Cortes Especiais (STJ e
STF) o mérito não seria discutido.
2. ADCs 43, 44 3 45, onde se pretendia a
declaração de constitucionalidade art. 283 do
CPP: “Ninguém poderá ser preso senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária
competente, em decorrência de prisão
cautelar ou em virtude de condenação
criminal transitada em julgado”.
Foi aceita esta tese e a Suprema Corte voltou
atrás no que havia decidido anteriormente.
OBS: trânsito em julgado: quando se esgota a
possibilidade de recurso para o interessado.
PRINCÍPIOS RELACIONADOS À PENA
1. Da dignidade da pessoa humana: aquele que
se repudia a aplicação de penas indignas,
cruéis, desumanas ou degradante. É
princípio modelar na criação do Estado e
todo o ordenamento jurídico.
Exemplo: progressão de regime, prisão
domiciliar, prisão para mulheres com
crianças até 12 anos, etc.
Aplica-se, nesses casos, o art. 319 do CPP

Art. 319.  São medidas cautelares diversas da prisão:


I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo
juiz, para informar e justificar atividades; 
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; 
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante; 
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;           
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;   
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais;         
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou
semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;            
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a
atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de
resistência injustificada à ordem judicial;           
IX - monitoração eletrônica.
2. Da individualização da pena: depende de
três critérios adotados pelo legislador:
2.1. definição de crime e pena para o fato;
2.2. imposição dapena pelo juiz;
2.3. classificação do condenado,segundo seus
antecedentes e personalidade, para orientar a
individualização da execução.
Fundamentação da individualização da pena: Encontra-se na
CF, art. 5°:
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará,
entre outras, as seguintes: privação ou restrição da
liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social
alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas: de morte, salvo em caso de guerra
declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter
perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e)
cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos,
de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do
apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física
e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que
possam permanecer com seus filhos durante o período de
amamentação;
3. Princípio da Proporcionalidade: é um
princípio constitucional implícito. A pena
deve ser equivalente ao fato,à relevância do
bem jurídico tutelado e às circunstâncias e
condições pessoais do agente.
4. Princípio da pessoalidade: inciso XLV, art. 5°
da CF: “nenhuma pena passará da pessoa do
condenado, podendo a obrigação de reparar
o dano e a decretação do perdimento de bens
ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido”.
OBS: Trata-se de desdobramento do princípio
da responsabilidade penal individual, da
responsabilidade subjetiva, e da
culpabilidade
5. Da vedação do“bis in idem”: encontra-se
fundamentado no Estatuto de Roma: “art.20:
Salvo em disposição em contrário do presente
Estatuto, nenhuma pessoa poderá ser julgada
pelo Tribunal por actos constitutivos de
crimes pelos quais este já a tenha condenado
ou absolvido. Nenhuma pessoa poderá ser
julgada por outro Tribunal por um crime
mencionado no art. 5° relativamente ao qual
já tenha condenada ou absolvida pelo
Tribunal”
Este princípio tem três significados:
1. Processual – ninguém pode ser processado
duas vezes pelo mesmo fato.
2. Material – nenhum pode ser condenado duas
vezes pelo mesmo fato;
3. Execucional – ninguém pode cumprir a pena
duas vezes (executar a pena) pelo mesmo
fato

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