Você está na página 1de 7

HAMILTON JACINTO DA SILVA, qualificado 

nos autos, foi


denunciado com incurso nos crimes descritos nos artigos 306, §1º, I e II, no art. 303,
parágrafo único, combinado com art; 302, §1º, inciso III, do Código de Trânsito
Brasileiro, vez que, no dia 27 de janeiro de 2018, por volta das 16h30, na Estrada do
Pêssego, 1685, Parque do Carmo, nesta Capital, teria conduzido um veículo FIAT UNO
placa CFT1137, na via pública, com a capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool; ainda, que nessa ocasião, teria praticado lesão corporal culposa,
mediante imprudência, na direção de veículo automotor, vindo a colidir com a
motocicleta de Luiz Fernando da Silva.
A denúncia (fls. 120-11) foi recebida em 25 de julho de 2018 (fls. 127). 
O acusado foi citado e apresentou Resposta à Acusação (fls. 140-141) 
Ao longo da instrução, foram ouvidas a vítima, bem como duas testemunhas. O
acusado, intimado, compareceu em Juízo e foi interrogado. (fls. 156-mídia) 
Em alegações finais, o Ministério Público requereu a condenação do réu, nos
termos da denúncia (fls. 208-213). Em contrapartida, o Defensor insistiu na absolvição
por ausência de culpa do acusado e de provas (fls. 216-219). 
É o breve relatório. 
Fundamento e decido.
Trata-se de ação penal movida pelo Ministério Público de São Paulo com o fito
da condenação de Hamilton Jacinto da Silva, pelos crimes previstos nos artigos 306,
§1º, I, bem como do artigo 303 do Código de Trânsito Brasileiro, pela redação do
parágrafo único, em vigor na data dos fatos, hoje revogado. Segundo consta da
denúncia, teria o acusado conduzido seu veículo embriagado, tendo, num cruzamento,
avançado a direção quando o sinal estava vermelho, e então atingido a motocicleta da
vítima, causando-lhe ferimentos de natureza grave.
Foram ouvidas, em Audiência de Instrução e Julgamento, a vítima, duas
testemunhas e o acusado.
Luiz Fernando da Silva, vítima, relata que estava em sua motocicleta, num
semáforo em determinado cruzamento da Avenida Jacu Pêssego. Disse que o semáforo
estava aberto para ele, e que havia um carro da CET ao seu lado, e que, quando fez o
cruzamento, e que então sua motocicleta foi atingida pelo veículo que o acusado dirigia.
Relatou que sofreu ferimentos, inclusive teria ficado dois meses de cama. Relatou ter
sofrido um prejuízo em torno de R$1200,00.
Fernanda Louzada Martins dos Santos, policial militar, testemunha de
acusação, relatou que atendeu o ocorrido no exercício da função, depois do acidente.
Disse que, ao chegar ao local dos fatos, o veículo estava posicionado um pouco à frente
do local da batida, aproximadamente 600 metros à frente, e que a vítima já havia sido
socorrida. Relata que os populares contiveram o acusado porque, segundo relatos de
quem estava no local, o acusado tentara fugir. Relata que o acusado afirmou ter bebido,
na ocasião, e fez o teste do etilômetro. Relatou que o odor etílico era forte e que o
acusado não conseguia se manter em pé. Relata se recordar que a vítima havia sofrido
escoriações. Também afirmou que, pelos relatos colhidos no local, o acusado havia
avançado o sinal vermelho. Relata que a dinâmica do acidente foi contada pelos locais.

Decio de Oliveira Scutari, policial militar, testemunha de acusação, relatou


que, no local do acidente, colheram relatos de populares que afirmaram que o acusado
tentou se evadir do local. Também disse se recordar que o acusado, no dia, afirmou ter
ingerido bebida alcoólica. Disse, ainda, que a dinâmica própria do acidente, não foi
presenciada pela testemunha. Relata também ter ouvido da vítima que o acusado teria
ultrapassado o farol vermelho.

Hamilton Jacinto da Silva, quando interrogado sobre os fatos trazidos na


denúncia, relata que, ao fazer o cruzamento que ocasionou o acidente, o sinal estava
amarelo, e que o cruzou por achar que “daria tempo”, e que o sinal ficou vermelho
quando ele já estava se movimentando. Admitiu, quando questionado, que havia
ingerido bebida alcoólica, por volta de “duas cervejas”, confirmando assim estar
embriagado. Relata que devia estar a 40 km/h. Admitiu já ter se envolvido em outro
acidente de trânsito após a ingestão de álcool.

Diante do apurado pelas provas orais e documentais, é de rigor a condenação


do acusado.

I) Quanto à conduta tipificada pelo artigo 306, §1º, I, do Código de


Trânsito Brasileiro, não restam dúvidas de que tenha sido cometida. A materialidade e
autoria da conduta estão largamente documentadas pelas provas colhidas ao longo do
processo. Constam dos autos, conforme fls. 26 que o teste etilométrico, aplicado ao
acusado momentos depois do acidente, teve resultado 0,77 mg/l, acima do limite de 0.3
miligramas de álcool por litro de ar alveolar permitidos pela lei (artigo 306, §1, I.).
Mais do que isso, a confirmar a autoria do delito, os relatos dos policiais
militares, presentes em audiência, confirmaram sua embriaguez, tendo apresentado, à
ocasião, fala pastosa, dificuldade de equilíbrio e odor etílico.

Por fim, o próprio acusado, em seu interrogatório, admitiu ter ingerido cerveja
antes de assumir a direção de seu carro.

II - Quanto à conduta tipificada no artigo 303 do Código de Trânsito


Brasileiro, também restam comprovadas tanto a materialidade quanto a autoria do
delito cometido pelo Sr. Hamilton Jacinto da Silva.

A materialidade está comprovada pelo Boletim de Ocorrência (fls. 7-10), pelo


Laudo Pericial do Local do Acidente (fls. 50-58) e pelo Exame Pericial realizado na
vítima (fls. 204-205), que atestou ter a colisão resultado em lesão corporal de natureza
GRAVE.

A autoria do delito de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor


também é certa. Em se tratando de conduta do tipo culposa, é preciso saber se o acusado
teria agido com imperícia, imprudência ou negligência.

Houve inequívoca inobservância dos cuidados esperados do acusado enquanto


motorista de trânsito, bastante óbvia na medida em que a legislação de trânsito proíbe a
direção sob o efeito de álcool (segundo o artigo 165, do CTB, é infração gravíssima), e
sua embriaguez já foi fartamente documentada nestes autos. Qualquer motorista pode
prever que a atitude de dirigir alcoolizado aumenta consideravelmente as chances de
causar acidentes, devendo se ater às cautelas e regras de trânsito.  Há que se se salientar,
inclusive, que o teste etilométrico encontrou um nível bastante elevado de álcool no
corpo do acusado.

Essa inobservância de cuidados caracteriza não apenas a negligência do


motorista, que deveria ter se abstido de dirigir seu veículo após ingerir álcool, bem
como sua imprudência, já que a condução de veículos em tal estado constitui, em si, a
“prática de um ato perigoso” (PACELLI, Eugênio. Manual de Direito Penal. Atlas:
2018, São Paulo, p. 331).

O laudo pericial de fls. 204-205 confirma a lesão corporal grave por ação
contundente, compatível portanto com o tipo de acidente sofrido, o que caracteriza o
nexo de causalidade, tendo a dinâmica do acidente sido descrita pelos relatos orais das
vítimas e das testemunhas, não restando dúvidas de que foi a ação do acusado que
causou os ferimentos da vítima. Ferimentos, aliás, que foram classificados pelo Laudo
Pericial como de natureza grave, tendo resultado na impossibilidade da vítima de
trabalhar por um período prolongado, fato repisado pelo próprio testemunho oral da
vítima em audiência.

Não bastasse o próprio ato de dirigir embriagado, o acusado mesmo confirmou,


em seu interrogatório, que teria cruzado o semáforo quando estava “amarelo”; ora, a
sinalização amarela de um semáforo, como bem indica a Resolução 160/2004 do
Contran, e é de conhecimento geral de todo e qualquer motorista, significa que o
motorista deve evitar fazer a passagem e agir com atenção. Já embriagado, o acusado
optou por ainda assim atravessar o cruzamento, admitindo que o sinal estava amarelo, o
que lhe demandava atenção. Assim, independentemente do fato de o acusado ter
atravessado diante de sinal vermelho ou amarelo, é fato que não se conduziu com a
atenção e com os cuidados esperados em uma direção segura e de acordo com as
normas de trânsito. Está abundantemente caracterizada, portanto, a sua imprudência, e
por consequência sua autoria no crime de lesão corporal culposa na direção de veículo
automotor, como tipifica o artigo 303 do Código de Trânsito Brasileiro.

Ainda, por fim, cabe analisar a imputação de que o acusado teria deixado de
prestar socorro à vítima, apontada como causa de aumento de pena no parágrafo único
(redação vigente à época dos fatos) da responsabilização prevista no artigo 303,
combinado com o artigo 302, §1, inciso III. No entanto, não há elementos de prova
suficientes para caracterizar tal omissão de socorro. A acusação, em seus memoriais
apresentados por escrito, argumentou que o fato de o veículo ter sido encontrado metros
à frente do local exato da batida, conforme colhido em provas orais, seria prova
suficiente de que ele tentara fugir.

No entanto, nenhuma testemunha trazida para a Audiência de Instrução, que


tenha presenciado o acidente, confirmou a tentativa de fuga. Os policiais militares
apresentaram, em seus depoimentos, os relatos de populares que presenciaram o
acidente, mas não foram testemunhas oculares da eventual fuga. Nem mesmo o Laudo
Pericial do local do acidente (fls. 50-58) permite chegar a conclusões certas sobre a
eventual posição do carro que permitisse concluir por uma tentativa de fuga, vez que,
nas fls. 52, encontramos a afirmação de que os veículos haviam sido movidos de seus
locais originais de acidente. Pela falta de elementos que permitam a certeza da fuga,
impossível considerá-la como causa de aumento de pena, por ausência de provas.

Diante de todo o exposto, de rigor que seja acolhida a pretensão acusatória

Passo à dosimetria da pena, de modo trifásico, como manda o artigo 68 do


Código Penal Brasileiro.

Anote-se, de antemão, que os crimes foram cometidos em concurso material;


embora o fato da embriaguez seja comum às duas condutas típicas, dirigir sob a
influência de álcool e a prática da lesão corporal culposa, para a prática da lesão
corporal culposa segunda concorreu também o ato de avançar em sinal que estava se
fechando. Ou seja, houve duas condutas distintas, geradoras de diferentes resultados –
um perigo abstrato e um concreto.

A) Quanto à conduta prevista no artigo 306, §1º, I, do Código de Trânsito


Brasileiro, observo que as circunstâncias judiciais permitem fixar a pena-base no
mínimo legal, e assim estabeleço a pena-base em 6 (seis) meses de detenção, bem como
o pagamento da quantia de 10 (dez) dias-multa e 2 (dois) meses de suspensão do direito
de dirigir.

Observo, na segunda fase, que há ocorrência da atenuante da confissão, mas


deixo de aplicá-la vez que a pena já está fixada no patamar mínimo. (Súmula 231-STJ)

Por fim, não vislumbro causas de aumento ou diminuição de pena.

b) Quanto à conduta prevista no artigo 303, §1º, I, do Código de Trânsito


Brasileiro, observo que o resultado da conduta do agente gerou consequências graves,
com lesões corporais graves à vítima, inclusive impedindo-a de trabalhar por longo
período; fixo a pena-base acima do mínimo legal, aumentando-a pela metade do
patamar mínimo, o que resulta em 9 (nove) meses de detenção e 3 (três) meses de
suspensão do direito de dirigir.

Observo, na segunda fase, que há ocorrência da atenuante da confissão, o que


permite reduzir a pena em 1/6.

Por fim, não vislumbro causas de aumento ou diminuição de pena, não tendo
acolhido a arguição de que o acusado se furtou de socorrer a vítima. Assim, pela
conduta da prática de lesão corporal culposa, deverá o réu cumprir 7 (sete) meses e 15
(quinze) dias de detenção e 2 (dois) meses e 15 (quinze) dias de suspensão de seu direito
de dirigir.

Somando-se as penas, por haver concurso material, deverá o réu cumprir 1


(um) ano, 1 (um) mês e 15 (quinze) dias de detenção, bem como 4 (quatro) meses e 15
(quinze) dias de suspensão de seu direito de dirigir, bem como o pagamento de 10 (dez)
dias-multa.

Observada a primariedade do acusado e todas as circunstâncias pessoais do réu,


justifica-se a aplicação do artigo 44, § 2o do Código Penal. Procedo; doravante, procedo
à SUBSTITUIÇÃO da pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direitos e
multa de 1/3 de salário mínimo. A pena restritiva consistirá na prestação de serviços à
comunidade, pelo mesmo período da pena privativa de liberdade, a ser
cumprida tanto aos sábados, domingos ou feriados, como nos dias úteis, de modo a não
prejudicar a sua jornada normal de trabalho. Incumbirá ao Juízo das Execuções
Criminais, no âmbito de suas atribuições, atendendo às qualificações do réu e às
próprias circunstâncias do crime estabelecer a modalidade de prestação de serviços à
comunidade

Em caso de descumprimento, fixo o regime ABERTO para o cumprimento da


pena.

Ante o exposto e tudo o mais que dos autos consta, JULGO 


PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão punitiva deduzida na presente ação
penal movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, e, por via de
consequência,  CONDENO HAMILTON JACINTO DA SILVA, pelas condutas previstas nos
artigos 303, do CTB, bem como do artigo 306, §1º, I, do CTB, deixando de acolher a imputação
de omissão de socorro apontada como causa de aumento de pena, devendo o réu, ao final,
cumprir deverá o réu cumprir 1 (um) ano, 1 (um) mês e 15 (quinze) dias de detenção,
substituídas na forma acima prevista, além de 4 (quatro) meses e 15 (quinze) dias de
suspensão de seu direito de dirigir, bem como o pagamento de 10 (dez) dias-multa.

Condeno o réu, ainda, ao pagamento das custas processuais, na forma da Lei


Estadual nº 11.608/2003.
Depois do trânsito em julgado, feitas as devidas anotações e comunicações,
expeça-se o necessário ao cumprimento das penas impostas ao acusado.
Com relação à pena de suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor,
depois de transitada em julgado a sentença condenatória, intime-se o réu a entregar em
juízo, em 48 (quarenta e oito) horas, a sua Carteira de Habilitação. 

Você também pode gostar