Ministério Público do Rio Grande do Sul

PROMOTORIA DE JUSTIÇA CRIMINAL DE NOVO HAMBURGO

COMARCA DE NOVO HAMBURGO/RS

VARA DO JÚRI E DE PRECATÓRIAS

PROCESSO Nº 019/2.21.0005293-6

NATUREZA ATROPELAMENTO

VÍTIMA ALBERTO JOSÉ TEIXEIRA

PROMOÇÃO POR ARQUIVAMENTO

MM. Juíza:

Trata-se de Inquérito Policial instaurado a fim

de se apurar a morte de ALBERTO JOSÉ TEIXEIRA, que veio a óbito em
28/10/2019 após ter sido atropelado por EDILENE ALVES DA SILVA que
conduzia o veículo Renan/Logan de Placas QQZ 0418 no cruzamento das
Ruas Vinte e Cinco de Julho e Cinco de Abril, Bairro Rio Branco em Novo
Hamburgo/RS.

De acordo com o Boletim de Ocorrência

15020/2019/100929 (fls. 03/06), a autora do fato, que à época era
motorista de aplicativo, conduzia o veículo acima referido na Rua Vince e
Cinco de Julho, conduzindo a passageira Ângela Maria Cunha dos
Santos, quando, ao realizar a manobra para entrar na Rua Cinco de Abril,
abalroou a vítima ALBERTO que se encontrava fora da faixa de
segurança. A vítima teve diversas fraturas na cabeça e não resistiu aos
ferimentos, vindo a óbito depois de hospitalizada (fl. 07).

O Auto de Necropsia (fls. 67/68) apontou a

causa mortis como sendo “hemorragia subdural e subaracnoide
consecutiva de traumatismo cranioencefálico por instrumento de ação
contundente (atropelamento).”

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Embora a vítima não estivesse sob efeito de

álcool ou drogas, foi detectada a presença de anestésicos em seu sangue
(Análise Toxicológica em Sangue – fls. 63/64).

A condutora do veículo, EDILENE, ouvida

perante a Autoridade Policial (fl. 28), referiu que atingiu a vítima quando
fazia a conversão para entrar na Rua Cinco de Abril. Conduzia o
automóvel a trabalho, levando uma passageira, porquanto era motorista
por aplicativo. Não viu a vítima, mas certamente ALBERTO se encontrava
fora da faixa de segurança. Afirmou também não estar em alta velocidade
nem ter feito qualquer manobra imprudente. Prestou socorro à vítima, que
não respondia, mas também não apresentava quaisquer ferimentos.
Afirmou também que, acaso ALBERTO houvesse atravessado sobre a
faixa de pedestres, o teria visto e não o teria atingido.

Realizada perícia no veículo, verificou-se que,

praticamente, não houve danos no automóvel (Laudo de fls. 15/26).
Apuradas as ligações feitas pela vítima (fls. 36/40), verifica-se que a
investigada, momentos após o fato, entrou em contato com a Guarda
Municipal e com a SAMU mais de uma vez, denotando que prestou os
primeiros auxílios à vítima.

Ouvidas pessoas que se encontravam

próximas ao local, tanto Adriana Tomaz Parente de Oliveira (fl. 45) como
Gilberto Leandro Thoen (fl. 49) afirmaram que não presenciaram o fato,
mas referiram que, pelo posicionamento em que a vítima fora encontrada
caída ao solo estava longe da faixa de pedestres, de forma que não
atravessou sobre a faixa de segurança. Também referiram não terem
ouvido barulho de batida, frenagem ou outro que indicasse manobra
imprudente ou mesmo excesso de velocidade. Nem teria como haver
excesso de velocidade naquela curva. Também referiram ter presenciado

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a motorista prestando socorro à vítima.

No mesmo sentido foi o depoimento da

passageira Ângela Maria Cunha dos Santos (fl. 59).

Esses são os elementos de prova constantes

nos autos. Em se tratando de expediente afeito à Vara do Tribunal do Júri,
importa a verificação da presença de dolo e tal elemento subjetivo do tipo
penal não se verificou no caso em apreço, nem em sua forma direta,
tampouco na eventual.

Isso, porque não houve, por parte da

investigada EDILENE, qualquer ação ou circunstâncias da qual se
pudesse inferir que ela assumira o risco de atropelar fatalmente outra
pessoa, já que conduzia seu automóvel de forma prudente e prestou todo
socorro que estava a seu alcance à vítima.

E, não obstante a possibilidade de ter havido

homicídio culposo, a aferição dos elementos configuradores da culpa
(imprudência, negligência e imperícia) também não se fizeram sentir, de
forma que fica prejudicada a remessa dos autos à Vara Criminal
competente. Essa conclusão é flagrante nos autos, na medida em que a
vítima atravessara a rua longe da faixa de pedestres, aliado ao fato de
estar sob efeito de anestésicos, o que também pode ter contribuído para a
diminuição de seu reflexo e deambulação.

Nesse sentido, concluiu a Autoridade Policial:

“Ante o exposto, analisando todas as informações acima expostas e face
à inexistência de elementos que levem a concluir pela existência de ilícito
penal ou de fatores como imperícia, imprudência, negligência ou dolo por
parte da suspeita e considerando o Laudo Pericial do local do acidente,
DEIXO DE efetuar indiciamento, remetendo o presente feito a Vossa
Excelência para as providências que entender cabíveis, face ao disposto

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no artigo 17 do Código de Processo Penal” (Relatório – fls. 71/73).

Assiste razão a Autoridade Policial, uma vez

que não se esperava da investigada naquela situação conduta diversa.

Com isso, resta superada a existência de

conduta típica, quer dolosa, quer culposa, razão pela qual pode ser
arquivado já o presente feito sem a remessa ao juízo competente para
análise do crime na modalidade culposa.

DIANTE DO EXPOSTO, o Ministério Público

requer o ARQUIVAMENTO dos autos por atipicidade do fato.

Novo Hamburgo, 03 de agosto de 2021.

Julia Flores Schütt,

Promotora de Justiça.

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