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AO JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DE PEDRO AFONSO - TOCANTINS

Processo nº: 0000187-27.2023.8.27.2733

RAYREL CAMPOS MOURA, já qualificado nos autos do


processo em epígrafe, por intermédio de seu advogado e bastante procurador que esta
subscreve, com fundamento no artigo 403, §3º do Código de Processo Penal, vem,
respeitosamente ao preclaro Juízo, apresentar suas ALEGAÇÕES FINAIS em face da
pretensão condenatória do Ministério Público, pelas razões a seguir aduzidas.

1. DA SÍNTESE PROCESSUAL

De acordo com a exordial acusatória, no dia 23 de dezembro de


2022, por volta das 15h30min, em via pública, precisamente na Avenida Pedro Mariano
dos Santos, em frente a Distribuidora de Bebidas MB (rei do gelo), em Pedro Afonso, o
denunciado, RAYREL CAMPOS MOURA, trazia consigo e forneceu drogas, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Narra ainda a denúncia que, nas condições de tempo e espaço


supracitados, com base em imagens colhidas pelas Câmeras de Videomonitoramento da
cidade, o denunciado foi flagrado supostamente fornecendo drogas para a pessoa de
Cássio Henrick Almeida Lima de Sousa.

Por fim, alega que o defendente, após avistar a viatura da Policia


Militar, empreendeu fuga, tendo sido capturado posteriormente transportando uma
porção de Cannabis Sativa Lineu, popularmente conhecida como maconha, fragmentada,
acondicionada em saco plástico de cor roxa e enrolado em papel filme transparente,
pronta para a venda, com massa total 0,003 Kg (trinta gramas), como base no Laudo
Pericial nº 2022.0035157 (IP originário, evento nº 07) e R$ 85,00 (oitenta e cinco reais)
fracionados.
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Em despacho/decisão no evento nº 04 consta ordem de
notificação/citação. Depois de ser citado, conforme depreende-se dos autos precatórios
nº 0000349-58.2023.8.27.2721, no evento nº 8, transcorreu o prazo para constituir
Advogado, sendo assim, a Defensoria Pública ofereceu Defesa Preliminar no evento nº 14.

Ato processual posterior, no evento nº 16, o r. Juízo, fundamentou


que os elementos trazidos na defesa referem-se a matéria de prova, necessitando ser
comprovados para que haja uma pretensa absolvição ou desclassificação de sua conduta,
sendo imprescindível, para tanto, a realização da instrução processual.

Desta forma, não vislumbrou na defesa nenhum argumento ou


prova que possa causar a rejeição liminar da denúncia, razão pela qual, a recebeu, com
fulcro no art. 56, da lei 11.343\06. Destarte, designou Audiência de Instrução e Julgamento.

Em Audiência de Instrução e Julgamento foram colhidas as


declarações das Testemunhas de acusação Eduardo Dias de Oliveira, Cássio Henrick
Almeida Rocha, Douglas Filipe Dias Viana e Eudinilson Rodrigues Barbosa, por fim
interrogado do réu RAYREL CAMPOS MOURA.

Eis que concluída a instrução criminal, esta defesa constituída,


requereu a liberdade provisória do réu, pedido este negado por este Juízo, conforme
nota-se do termo no evento nº 81 desta ação penal.

Com vista, o Ministério Público apresentou memoriais


requerendo a condenação, nos termos da inicial.

Após, vieram os autos à defesa para alegações finais em forma de


memoriais, o que se faz nos seguintes termos.

2. DA ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVA SUFICIÊNTE PARA A


CONDENAÇÃO - ART. 33, CAPUT DA LEI Nº 11.343/06 - IN DUBIO PRO REO.

No que se refere ao crime de tráfico de drogas, previsto no artigo


33, caput da Lei nº 11.343/06, ao contrário do entendimento da representante
ministerial, a defesa entende que os elementos colhidos na fase judicial são
extremamente frágeis para suportar uma condenação, eis que as provas testemunhais
e documentais que versam sobre a autoria do fato objeto da denúncia não
demonstraram a comercialização de entorpecentes pelo acusado, elemento ínsito
primordial ao tipo penal imputado.

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O artigo 33, caput, da Lei 11.343/06, imputa crime a aquele que
importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Entretanto, a
representante do Ministério Público, não conseguiu comprovar a incidência de
qualquer dos verbos nucleares que compõem o tipo penal.

Verifica-se pelo conjunto probatório que os militares avistaram


o defendente praticando crime de trânsito, razão pela qual realizaram a abordagem do
indivíduo. Deve-se destacar que a abordagem policial se deu apenas em razão do
crime de trânsito flagrado e não por qualquer suspeita de outro crime.

Quando realizada a abordagem, verificou-se na posse do


defendente uma embalagem desfragmentada contendo maconha, pronta para o
consumo. Posteriormente foi verificado pelas câmeras de monitoramento que o
defendente e uma terceira pessoa se cumprimentaram. Entretanto, não é possível
verificar se aconteceu troca de qualquer objeto, droga ou dinheiro.

Vídeo acostado ao Inquérito Policial nº 0002043-


60.2022.8.27.2733, precisamente no evento nº 10:

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Importante ressaltar que nenhuma das testemunhas
afirmaram em juízo ter presenciado o acusado comercializando entorpecente. Os
militares afirmaram categoricamente que avistaram o acusado APENAS
cometendo o crime de trânsito, motivo pelo qual lhe abordaram.

Nota-se ainda que o defendente confirmou que era o


possuidor do entorpecente, que tinha comprado anteriormente para seu uso
próprio. Também é réu confesso quanto ao crime de trânsito.

Não existe nos autos provas suficientes de que o dacusado


tenha vendido entorpecentes. A imagem da câmera de segurança mostra apenas
que as pessoas se cumprimentaram. Não é possível avistar qualquer troca de
qualquer objeto.

Verifica-se que pela má qualidade das imagens, existem


dúvidas razoáveis sobre a entrega ou o recebimento de qualquer coisa que seja.

Frisa-se ainda que a pessoa mencionada na denúncia como


sendo a pessoa que adquiriu a substância ilícita do acusado no dia dos fatos, ouvida
como testemunha a rogo do Ministério Público negou categoricamente ter adquirido
drogas do defendente.

Assim, quanto ao crime de tráfico de drogas, é evidente a


incidência do in dúbio pro reo, devendo ser desclassificado para o delito de porte de
drogas para uso próprio.

Em uma perspectiva lógica, da dinâmica dos fatos, com as devidas


vênias, esta defesa pugna encarecidamente para que este r. Juízo se debruce, ao vídeo
acostado ao rosário inquisitorial nº 0002043-60.2022.8.27.2733, precisamente no
evento nº 10, para que observe esta perspectiva fática, que enfrenta o cerne da prova,
vez que confirmará que não é possível os policiais ter avistado presencialmente a troca
de qualquer objeto, diante da distância da viatura e do defendente.

Também é importante mencionar que o defendente, em


nenhum momento se comportou com atitudes suspeitas características de quem
está praticando tráfico, ao contrário, estava se sentindo tranquilo e
despreocupado, a ponto de, inclusive, sair "empinando" sua motocicleta.

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Afinal, não estava preocupado ou receoso, tanto que, em
nenhum momento fez se quer menção de fuga, sendo colaborativo durante toda a
abordagem e confessando o crime de trânsito e uso de entorpecentes. A versão
apresentada pelo depoente foi uniforme, com todos os detalhes, tanto na delegacia
de polícia, quanto na audiência de instrução.

Deste modo, esclarecidas as perspectivas sobre o cotejo


probatório, pugna-se à este ilustríssimo Juízo, diante dos argumentos trazidos a baila,
com fundamento nas provas dos autos, que perceba a insuficiência probatória para
auferir a existência de certeza quanto ao cometimento do crime de tráfico de drogas.

Nesse sentido, vejamos:

DEPOIMENTO DO POLICIAL MILITAR DOUGLAS


FILIPE DIAS VIANA: “(…) Ele não empreendeu fuga. A gente estava patrulhando, ao
entorno da praça da cruz, daí ele passou um quebra-molas e empinou, foi por esse
motivo que nós abordamos, por direção perigosa, nós não sabíamos que ele estava
vendendo droga. Como nós temos acesso a todas as câmeras de monitoramento da
cidade, nos solicitamos via COPOM as imagens do que tinha acontecido antes, ai foi
constatado que ele passou alguma coisa, não sabemos se era droga, possivelmente
sim, para outra pessoa. Quando a gente o abordou ele estava com uma porção de
entorpecentes, no bolso das calças dele. Nas imagens nos identificamos ele, dá para ver
até a viatura vindo, aí logo em empinou a moto. Não conheço Cássio, não sei identificá-
lo. Já tinha ouvido falar de Rayrel como possível fornecedor de drogas, mas quando
fizemos a abordagem não sabíamos que ele era o Rayrel. Lá é a via mais movimentada da
cidade. Eu era o terceiro homem da viatura, estava no banco de trás. Quando eu avistei as
motocicletas elas estavam em movimento, não vi eles se cumprimentando, apenas por
vídeo. A suposta entrega, apenas vimos por vídeo. Pela quantidade de droga apreendida
com ele, aparentemente era para consumo.”

Neste mesmo sentido:

DEPOIMENTO DA TESTEMUNHA POLICIAL MILITAR


EDILSON RODRIGUES BARBOSA: “(…) Nós estávamos em patrulhamento e
avistamos as duas motocicletas, vimos um deles passando um pacotinho para o outro, as
duas motos seguiram e Rayrel saiu empinando a motocicleta, na nossa frente, então
fizemos o acompanhamento e abordamos Rayrel, com ele foi encontrado a porção e não
me lembro a quantidade em dinheiro. Eu não conhecia ele de antes, já tinha ouvido falar
que ele era suspeito de passar droga aqui na cidade, mas eu não conhecia ele. Eu não

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conheço o Cássio, a outra moto não foi parada, ela seguiu. Eu vi a imagens da câmera de
segurança, mas não conhecia ela, Cássio também não. A manobra que eu vi ele fazer por
empinas a motocicleta em apenas uma roda, em uma via muito movimentada, tinha muita
gente próximo ao local. Quando avistamos a motocicleta ela estava parada. Eu estava no
banco da frente da viatura. A motocicleta estava de costa para a viatura, a uma média de
100 metros, no máximo. Eu não consegui identificar o que ele estava entregando, não
sei se era dinheiro ou droga, não consegui identificar. Ele negou, falou que tinha
comprado a droga. No vídeo dá para ver um pequeno pacotinho, mas não identifica. Ali
tem uma câmera próxima.”

Por fim, no mesmo sentido, o depoimento da última testemunha:

DEPOIMENTO DA TESTEMUNHA POLICIAL MILITAR


EDUARDO DIAS DE OLIVEIRA: “ (…) A gente estava em patrulhamento, próximo
da praça, quando avistamos a moto do Rayrel, ele não viu a presença da polícia,
quando ele saiu ele empinou, quando vimos nos abordamos ele. Demos ordem de
parada e ele respeitou a abordagem, em revista pessoal, foi localizado droga com ele. Não
teve resistência, diante disso, conduzimos ele até a delegacia. Nós fizemos a abordagem
por conta da manobra, que ele ficou de uma roda só. A via era movimentada, estava
movimentada no momento. Após levar ele para a delegacia, olhamos as câmeras de
monitoramento e vimos que poucos momentos antes ele estava parado com outro rapaz,
um estica a mão para o outro e dado momento os dois saem e ele empina a motocicleta.
Avistamos nas câmeras essa possível troca. Essas imagens verificamos depois, a
abordagem tinha sido apenas pela manobra mesmo. Quando vimos eles estavam
próximos, mas não juntos. Eu não vi presencialmente o Rayrel entregando ou
recebendo, apenas pelas câmeras. A abordagem foi por conta da manobra.”

Diante das oitivas das testemunhas colhidas ao longo da


instrução, nota-se que, as narrativas sobre a ocorrência de traficância, praticada pelo
defendente, jamais restou comprovada e se harmonizada perfeitamente com o
interrogatório do acusado.

Em síntese:

INTERROGATÓRIO DO DEFENDENTE RAYREL


CAMPOS MOURA: “(...) Essa acusação é falsa, eu não comprei e não vendi a droga para
o Cássio. É verdade que eu estava empinando a motocicleta. A polícia mandou eu parar e
eu parei, ai encontraram a droga comigo. Não lembro a quantidade de droga que estava
comigo, mas era uns trinta gramas. Foi cinquenta reais que eu paguei nessa droga. Nas

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filmagens não era Cássio, era Wesley. Aquele dia eu passei na casa do Wesley, vulgo Boi,
para comprar droga com ele. Ele me falou que na casa dele tava muito embaçada e falou
para eu esperar ele no canteiro do lado da praça, que ele já ia passar la de moto. Ai eu parei
la e ele parou logo em seguida, quando ele foi me cumprimentar, ele já me passou a
maconha, eu passei o dinheiro e ele saiu fora, falando “sujou”, eu não entendi, não vi que
a polícia estava ali, eu sai empinando. Eu passei o dinheiro e ele passou a droga e eu sai
empinando. Esse dia eu tinha acabado de sair do trabalho, estava de calça e botina. Sou
usuário de drogas a muito tempo, a droga era para meu uso (...)”.

Ainda sobre a oitiva das testemunhas em apreço, o acervo


probatório acostado é tão insuficiente para comprovar a autoria delitiva por parte do
defendente, que a própria testemunha que supostamente teria adquirido o
entorpecente, negou ser ele nas imagens utilizadas para imputar o delito de
traficância ao defendente, vejamos:

DEPOIMENTO DA TESTEMUNHA CÁSSIO HENRICK


ALMEIDA ROCHA: “No dia eu não peguei droga com Rayrel. No dia 25, por volta de
quatro e meia da tarde, a polícia me abordou e me encontrou com droga, fui levado para
a delegacia. Lá eu falei que eu tinha pegado droga com o Rayrel. No dia eu estava
muito nervoso e foi o primeiro nome que veio na minha cabeça. Eu já tinha pegado
droga com ele várias vezes, mas naquele dia não tinha sido com ele, me pagaram com 3
(três) gramas, mas não peguei com ele. No dia 23 eu também não peguei não, na
delegacia eu falei que tinha sido ele pois foi o primeiro nome que me veio na cabeça,
eu peguei a droga com o “Boi”, não sei o nome dele, peguei lá no Setor Aeroporto,
próximo ao estádio. Não sou eu no vídeo não.”

Vultuosa quantidade de dinheiro, máquina de cartão, balança de


precisão, diversidade de entorpecente, nenhum desses bens utilizados recorrentemente
para a prática delitiva da traficância, tornou possível observar a apreensão ao longo do
curso inquisitorial e posteriormente processual.

Logo, após analisar detidamente o depoimento das testemunhas,


principais provas dos autos, é notadamente possível concluir que inexistem provas
aptas que versam sobre a autoria do fato objeto da denúncia a sustentar uma
condenação por tráfico de drogas, de modo que se torna imperiosa a imposição
da absolvição do defendente, cuja autoria da traficância é negada e os demais elementos
de provas são incapazes de lhe atribuir concretamente o elemento ínsito ao tipo penal
imputado nesta persecução criminal.

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3. DA POSSIBILIDADE DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA O ART. 28, § 2º DA LEI
11.343/06. QUANTIDADE DE ENTORPECENTES QUE DEMONSTRAM
TRANSPORTE PARA CONSUMO PESSOAL. APENAMENTO DO ART. 28, III DA
LEI 11.343/06. POSSIBILIDADE

Analisadas as circunstâncias que permeiam o presente caso, bem


como as provas produzidas até então, por coerente toma-se o posicionamento a ser
assumido neste instrumento firmado, pela desclassificação da conduta praticada pelo
defendente, que deixa de caracterizar o crime de tráfico e se posiciona como o crime
vulgarmente conhecido como de “uso/consumo de drogas”.

Para se alcançar esse entendimento deve-se mensurar os


depoimentos colhidos em juízo, os quais nutrem o campo fático percebido no momento
da abordagem policial e concomitante prisão do defendente.

Por mais que a acusação mostre esforço em tentar imputar o


crime de tráfico ao defendente, o douto magistrado em busca da formação do seu
conhecimento deve pautar seu pensamento nos elementos também presentes no
interrogatório e nos depoimentos dos Policiais Militares (evento nº 81 e nº 72), os quais
afirmam que não foi encontrado com ele qualquer outro objeto que pudesse caracterizar
a tipificação estabelecida na denúncia.

Igualmente, não se ouviu qualquer depoimento que tenha


descrito a ação do acusado relativo à venda de material entorpecente encontrado consigo.
Os policiais, em seus relatos, se limitaram a descrever a abordagem e apreensão do
acusado, deixando claro que o material entorpecente encontrado com o mesmo foi o
elemento que os levaram a imputar sobre aquele a figura de traficante.

Apesar da TESTEMUNHA POLICIAL MILITAR EDILSON


RODRIGUES BARBOSA, depor no sentido de que ‘‘tinha ouvido falar’’ que o mesmo
era suspeito de ‘‘passar droga’’ na cidade, em nenhum momento, tais afirmações são
suficientes para a comprovação de autoria do fato em questão.

A propósito, a mesma TESTEMUNHA POLICIAL MILITAR


EDILSON RODRIGUES BARBOSA incorreu em absurda contradição, se analisado o
depoimento da DA TESTEMUNHA POLICIAL MILITAR EDUARDO DIAS DE
OLIVEIRA quando esta última testemunha diz que não visualizou presencialmente
o Rayrel entregando ou recebendo, apenas pelas câmeras, sendo que as
testemunhas estavam na mesma viatura, na mesma circunstancia de tempo e local.

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Ademais, no DEPOIMENTO DO POLICIAL MILITAR
DOUGLAS FILIPE DIAS VIANA é possível identificar o reconhecimento sob sua
perspectiva de que pela quantidade de entorpecentes apreendidos, aparentemente
se tratava de entorpecente destinado para consumo pessoal.

Ainda sobre as testemunhas, a TESTEMUNHA CÁSSIO


HENRICK ALMEIDA ROCHA assume que no dia 23 em decorrência do nervosismo
que lhe acometia, naquele dia da lavratura do flagrante, que provocou a persecução
criminal em curso, não tinha ‘‘pego droga’’ com o defendente, em outro giro, ‘‘tinha
pego droga’’ com um denominado por ele como ‘‘Boi’’.

Por fim, insta salientar que no INTERROGATÓRIO DO


DEFENDENTE RAYREL CAMPOS MOURA, o defendente assumiu que era
dependente de drogas, inclusive buscava tratamento para o seu vício, sendo que, no dia
de sua prisão, afirmou não ter comercializado entorpecente para a TESTEMUNHA
CÁSSIO HENRICK ALMEIDA ROCHA, muito pelo contrário, assumiu ter adquirido
entorpecente para consumo próprio, com o Wesley, vulgo ‘‘boi’’ no canteiro da praça
filmado pelas Câmeras de Videomonitoramento da cidade de Pedro Afonso-TO.

Neste diapasão, sobre a possibilidade de desclassificação, o TJ-


TO, em casos análogos, assim decidiu, vejamos:

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS.


PRETENSÃO DE DESCLASSIFICAÇÃO DE TRÁFICO
PARA USO PRÓPRIO. CABIMENTO. 1. Pode-se aplicar a
desclassificação do crime de tráfico para uso quando o
conjunto probatório deixa dúvidas quanto à existência de
materialidade e autoria do crime de tráfico de drogas. 2.
Apelante flagrado com uma quantidade de substância
entorpecente (4,3 g de maconha) em papelotes e valor de
R$ 160,00 (cento e sessenta reais) em espécie, e confessou
que a droga era para seu consumo. 3. Não havendo provas
de efetiva realização de atos que o apelante tinha a intenção
de comercializar a substância entorpecente, não há que se
falar em crime de tráfico de drogas. Assim, devida, a
desclassificação do crime de tráfico de drogas para o delito
de uso. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-TO -
APR: 00183383420198270000, Relator: ETELVINA
MARIA SAMPAIO FELIPE)

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Não somente, outros Tribunais também enfrentaram tal matéria:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL.


TRÁFICO DE DROGAS. AUTORIA DUVIDOSA.
AUSÊNCIA DE PROVAS APTAS A ENSEJAR A
CONDENAÇÃO. DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS
CONFUSOS E CONFLITANTES. DROGA NÃO
ENCONTRADA EM PODER DO ACUSADO.
OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO.
ABSOLVIÇÃO RECONHECIDA. RECURSO CONHECIDO
E PROVIDO. 1. Após analisar detidamente os autos, concluo
que inexistem provas aptas a sustentar uma condenação por
tráfico de drogas, de modo que se torna imperiosa a imposição
da absolvição do apelante, cuja autoria do fato nega, e os
demais elementos de provas são incapazes de lhe atribuir
concretamente a propriedade da droga apreendida. 2. No caso,
o acervo probatório acostado é lastreado de incertezas,
mostrando-se insuficiente para comprovar suficientemente a
autoria delitiva por parte de Antônio Guerra de Oliveira Filho,
não sendo a droga apreendida encontrada na sua residência ou
na sua posse, até mesmo porque ele não estava no local
durante a ocorrência policial. 3. Nos termos da Lei Penal, é
imprescindível que haja um conjunto de fatos e provas que
sejam eficazes a comprovar a prática delituosa, a fim de que
não arrisque a condenar um inocente por ato não cometido. 4.
Assim, se a prova dos autos é incapaz de gerar a convicção de
que o agente estava envolvido na ação criminosa, impõe-se sua
absolvição. 5. Recurso conhecido e provido. ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso de
apelação crime nº 1063255-70.2000.8.06.0001, em que figuram
as partes acima indicadas, acorda a 3ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Ceará, por unanimidade, em conhecer
do recurso para dar-lhe provimento, nos termos do voto do
Relator. Fortaleza, 24 de agosto de 2021. PRESIDENTE E
RELATOR (TJ-CE - APR: 10632557020008060001 CE
1063255-70.2000.8.06.0001, Relator: FRANCISCO LINCOLN
ARAÚJO E SILVA, Data de Julgamento: 24/08/2021, 3ª
Câmara Criminal, Data de Publicação: 24/08/2021).

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APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS.
SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA
DEFENSORIA PÚBLICA. PLEITEADA A ABSOLVIÇÃO
POR FALTA DE PROVAS. Negativa categórica de autoria
pelo apelante, que se encontra em harmonia com o relato da
testemunha de defesa. Ausência de provas bastantes para a
condenação. Condenação baseada exclusivamente em
depoimentos policiais que se mostram inverossímeis.
Droga apreendida em local distinto da abordagem.
Apelante que teria indicado, em prejuízo próprio, haver
drogas depositadas em terreno. Circunstâncias que
apontam para contradições nos relatos policiais.
Fragilidade probatória. Contradição. Dúvida que beneficia
o apelante. Absolvição que se impõe em respeito ao
princípio "in dubio pro reo". Recurso provido. (TJ-SP -
APR: 15027100920218260510 SP 1502710-
09.2021.8.26.0510, Relator: Luís Geraldo Lanfredi, Data de
Julgamento: 29/08/2022, 13ª Câmara de Direito Criminal,
Data de Publicação: 30/08/2022)

Diante da fragilidade das provas produzidas na persecução


criminal, não há como ter a certeza necessária para condenação do defendente pelo delito
de tráfico de drogas, devendo ser aplicado o princípio do in dubio pro reo, sendo
absolvição direito que lhe recai, nos termos do Art. 386, VII do Código de Processo Penal,
ante a ausência probatória evidenciada nos autos.

E consequentemente, ao que norteia o artigo 28, § 2º, da Lei de


Drogas, para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à
natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais. Medida esta, para fins de
apenamento com base no Art. 28 da Lei 11.343/06.

4. DO DELITO DO ART. 308 DA LEI N. 9.503/97. CONFISSÃO ESPONTANEA.


ATENUANTE

O crime previsto no artigo 308 do Código de Trânsito Brasileiro


se trata de delito de perigo abstrato, isto é, crime de natureza formal que prescinde de
resultado naturalístico para se consumar.

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Diante dos depoimentos das testemunhas no Inquérito Policial,
reafirmadas em juízo, bem como, da prova produzidas pela Câmeras de
Videomonitoramento, e consequentemente da confissão espontânea descrita no
interrogatório judicial, não há o que se enfrentar, eis que ausentes qualquer contradição.

Deste modo, se a confissão do defendente foi utilizada para


corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação, deve incidir a
atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

Deste modo, pugna-se pelo reconhecimento da confissão


espontânea.

5. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer

A) A absolvição, diante da fragilidade das provas produzidas no


feito, sobretudo levando-se em consideração a natureza e a quantidade da substância
apreendida, o local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais
e pessoais, pelo que ficou demonstrada a insuficiência probatória para condenação do
defendente pelo delito de tráfico de drogas, devendo ser aplicado o princípio do in dubio
pro reo, nos termos do Art. 386, VII do Código de Processo Penal;

B) Consequentemente, a desclassificação para o artigo 28 da


Lei 11.343/06, eis que ao analisar a natureza e a quantidade da substância apreendida,
ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e
pessoais, tratava-se de um usuário que portava entorpecente para consumo próprio;

C) O reconhecimento da aplicabilidade da atenuante da confissão


espontânea prevista no art. 65 , III , d , do Código Penal, no tocante ao delito previsto no
artigo 308 do Código de Trânsito Brasileiro e artigo 28 da Lei 11.343/06.

Termos em que,
pede e aguarda deferimento.

Palmas-TO, 30 de maio de 2023.

JÚLIO CÉSAR SUARTE


OAB-TO 8.629

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