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069
O Apelante foi denunciado nas penas dos artigos 33, 35 e 40, inciso VI da Lei
n. 11.343/2006 e artigo 244 – B da Lei n. 8.069/1990, por no dia dez de julho de 2014,
ter sido flagranteado, o Apelante junto a mais 3 (três) réus embalando entorpecentes,
segundo os policiais militares que conduziram os autores do fato, após denúncia. Foram
ainda apreendidos uma balança de precisão e aproximadamente 750g de entorpecentes e
mais o valor de R$50,00 (cinquenta reais), conforme relatado na fase policial e Laudo
Pericial Definitivo.
Após convertida a prisão em flagrante em prisão preventiva, os então réus
foram recolhidos ao Centro de Detenção Provisória, permanecendo lá até o momento, o
que configurou excesso de prazo, vez que a instrução foi finalizada em 10 (dez) de
setembro de 2015, quando foram juntadas aos autos as alegações finais.
Em 30 (trinta) de março de 2016, o M.M. Juiz prolatou sentença condenatória
que restava pendente. Em sua r. Decisão, o juiz a quo absolveu os acusados quanto aos
crimes previstos nos artigos 35 da Lei de Drogas, e do artigo 244-B do ECA,
condenando o Apelante, entretanto, como transgressor do artigo 33, caput c/c artigo 40,
VI da Lei n. 11.343/2006, na forma do artigo 69 do Código Penal, apenando-lhe em oito
anos e dois meses de reclusão mais oitocentos de dezessete dias-multa, não
reconhecendo a benesse do §4º do artigo 33 da Lei n. 11.343/2006 por ter o Apelante
confessado a autoria do fato, ao assumir a propriedade do material apreendido, razão
pela qual julgou ser o Apelante um traficante habitual. Inclusive nos autos do processo,
em todos os depoimentos e interrogatórios os réus afirmam que o único
PROPRIETÁRIO confesso dentre os flagranteados é o Sr. Maki.
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Portanto, é caso de desclassificação para o crime de uso próprio caso não seja
absolvido, pois inexiste prova no presente procedimento, ou na denúncia, de fatos que
demonstrem que o agente praticava o tráfico de entorpecentes habitualmente.
TRÁFICO DE DROGAS - RECURSO DA DEFESA -
DESCLASSIFICAÇÃO DO ART. 33 PARA O ART. 28 DA
LEI 11.343/06 - POSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE
PROVAS SUFICIENTES PARA CONDENAÇÃO POR
TRÁFICO - APLICAÇÃO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO
- RECURSO PROVIDO. A distribuição do ônus da prova,
compreendido nos limites da presunção de inocência, impõe
ao órgão ministerial a demonstração dos fatos afirmados na
denúncia. A deficiência probatória quanto aos atos de
comércio de drogas afasta a certeza necessária para uma
condenação por tráfico nessa modalidade descrita na
denúncia. Havendo dúvida, deve o acusado ser favorecido,
em atenção ao princípio in dubio pro reo.
(TJ-MS - APL: 00063541120128120002 MS 0006354-
11.2012.8.12.0002, Relator: Des. Ruy Celso Barbosa
Florence, Data de Julgamento: 16/06/2014, 2ª Câmara
Criminal, Data de Publicação: 01/07/2014) – grifo nosso.
Muitas vezes não há provas de que o acusado seja traficante, logo, o mesmo
não pode ser submetido às penas previstas no art. 33 da Lei n. 11.343/06. Quando
muito, caso não haja a absolvição, o acusado deve ser enquadrado na figura típica do
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art. 28 da lei de drogas. Em referido artigo não mais há espaço para a aplicação de
qualquer tipo de pena privativa de liberdade, devendo o acusado ser submetido a uma
das medidas previstas no citado art. 28 da Lei n. 11.343/06.
Forçar uma condenação, é querer forçar uma estigmatização desnecessária e
injusta do acusado de seu seio familiar e social o que, deveras, trará ao mesmo, sérias
consequências à sua vida.
Tem-se, ainda, que o Magistrado por entender não ter o Apelante bons
antecedentes, ainda que primário, não lhe facultou o direito de ter sua pena reduzida,
nos termos do § 4º, do artigo 33, da Lei Antidrogas.
O Douto Magistrado acredita que este dedica-se à atividade criminosa, mas
estava ali tão somente embalando para posteriormente entregar ao real dono, podendo
concluir-se que este é um comportamento usual de dependente químico, vez que para
manter o vício, na falta de condições financeiras, o traficante habitual que sabe como
manipular uma mente, psiquiatricamente, dependente de entorpecente em seu favor,
pode vir a forçar, exigir ou mesmo apenas propor que um usuário faça “favores” a ele
em troca de droga, o que é facilmente aceito por parte do usuário, posto sua
“necessidade”.
Evidente que se o legislador tivesse a intenção pura e simples de punir os que
não tivessem bons antecedentes, não dosaria a redução, entre um sexto e dois terço, de
forma a ser aplicada escalonada segundo a condição do réu.
Desta forma, caso este Egrégio Tribunal não entenda pela absolvição, o que
somente se aceita a título de argumentação, que desclassifique o Apelante como incurso
no artigo 33, para o artigo 28, ambos da Lei de Drogas, e caso ainda assim não
vislumbre devido tal colocação, seja aplicada a minorante do § 4º, no teto máximo, ou
seja, dois terços, para assim reduzir a pena, haja vista que tem bons antecedentes, é o
Apelante primário, não se dedica a atividades criminosas posto que dedicar significa
fazer aquilo com certa habitualidade, nem faz parte de organização criminosa e fixe a
pena no mínimo legal, desconsiderando também a causa de aumento de pena do artigo
40, inciso VI da Lei n. 11.343/2006, posto que o menor ali estava por também ser
dependente químico.
Diante do exposto, requer a Vossas Excelências o conhecimento e provimento
do presente recurso, requerendo a absolvição do Apelante por não constituir o fato
infração penal, nos termos do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal,
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combinado com artigo 20, caput, 1ª parte do Código Penal, pois o núcleo do fato
denunciado não consta no elenco de elementos constitutivos do tipo penal, ou seja, não
constitui crime embalar entorpecentes.
Caso não seja absolvido, requer a desclassificação do tipo penal previsto no
artigo 33 da Lei de Drogas, para o artigo 28, da mesma Lei, haja vista se tratar de
usuário de entorpecentes que estava no local do fato apenas embalando a título de favor
para manter o vício, sem restar comprovada a constância do fato conforme denotam os
autos do processo, o que é necessário para que seja considerado traficante.
Requer por fim, caso Vossas Excelências não considerem a absolvição, nem a
desclassificação, o que não se espera, que apliquem a pena no mínimo legal, com a
desconsideração da causa de aumento de pena do artigo 40, inciso VI da Lei n.
11.343/2006, posto que o menor que ali estava também é dependente químico e não é, o
Apelante responsável pela presença deste lá, já que “é dever da família, da sociedade e
do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão”, conforme determina a Constituição Federal em seu artigo 227,
por ser medida de Justiça.
Termos em que,
Pede Deferimento.