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ADVOGADA - OAB/AM N. 10.

069

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA


ESPECIALIZADA EM CRIMES DE USO E TRÁFICO DE ENTORPECENTES DO
ESTADO DO AMAZONAS.

MAKI DOUGLAS CARDOSO DA SILVA, já qualificado nos autos da Ação


Penal que lhe move o Ministério Público, por sua advogada que esta subscreve, por não
se conformar, data vênia, com a r. sentença prolatada que o condenou a 8 (oito) anos e 2
(dois) meses de reclusão mais 817 (oitocentos e dezessete) dias-multa, por haver
infringido o artigo 33, caput, c/c artigo 40, VI da Lei n. 11.343/2006, vem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar RECURSO DE
APELAÇÃO com suas razões recursais, em anexo, com fulcro no artigo 593, inciso I do
Código de Processo Penal requerendo assim a remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Amazonas.

Termos em que, respeitosamente


Pede e aguarda deferimento.

Manaus -AM, 8 de abril de 2016

Isis de Moraes Siqueira


Advogada
OAB/AM n. 10.069
ADVOGADA - OAB/AM N. 10.069

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Apelante: Maki Douglas Cardoso da Silva


Apelado: Ministério Público

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas,


Colenda Câmara Criminal,
Douto Desembargador Relator.

O Apelante foi denunciado nas penas dos artigos 33, 35 e 40, inciso VI da Lei
n. 11.343/2006 e artigo 244 – B da Lei n. 8.069/1990, por no dia dez de julho de 2014,
ter sido flagranteado, o Apelante junto a mais 3 (três) réus embalando entorpecentes,
segundo os policiais militares que conduziram os autores do fato, após denúncia. Foram
ainda apreendidos uma balança de precisão e aproximadamente 750g de entorpecentes e
mais o valor de R$50,00 (cinquenta reais), conforme relatado na fase policial e Laudo
Pericial Definitivo.
Após convertida a prisão em flagrante em prisão preventiva, os então réus
foram recolhidos ao Centro de Detenção Provisória, permanecendo lá até o momento, o
que configurou excesso de prazo, vez que a instrução foi finalizada em 10 (dez) de
setembro de 2015, quando foram juntadas aos autos as alegações finais.
Em 30 (trinta) de março de 2016, o M.M. Juiz prolatou sentença condenatória
que restava pendente. Em sua r. Decisão, o juiz a quo absolveu os acusados quanto aos
crimes previstos nos artigos 35 da Lei de Drogas, e do artigo 244-B do ECA,
condenando o Apelante, entretanto, como transgressor do artigo 33, caput c/c artigo 40,
VI da Lei n. 11.343/2006, na forma do artigo 69 do Código Penal, apenando-lhe em oito
anos e dois meses de reclusão mais oitocentos de dezessete dias-multa, não
reconhecendo a benesse do §4º do artigo 33 da Lei n. 11.343/2006 por ter o Apelante
confessado a autoria do fato, ao assumir a propriedade do material apreendido, razão
pela qual julgou ser o Apelante um traficante habitual. Inclusive nos autos do processo,
em todos os depoimentos e interrogatórios os réus afirmam que o único
PROPRIETÁRIO confesso dentre os flagranteados é o Sr. Maki.
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É de se observar nas provas apresentadas na fase de instrução, que corroboram


a fase inquisitorial, que em momento algum o Apelante negou ser o proprietário da
droga e da balança, somente negou o comércio, pois ali estava sendo feita uma “festa”,
ressalte-se que conta na denúncia apenas o verbo “embalar”, o que além de não
constituir núcleo do tipo penal, e obviamente conduzindo o fato à categoria de atípico,
revela que o apelante apenas estava “prestando um serviço” a alguém, o verdadeiro
dono, que inclusive já foi morto, o que acredita-se ser em razão da apreensão do
material, pois com o “serviço pagaria sua porção de droga, vez que é usuário. Aliás,
Maki confessou ser sua, já que dentre os flagranteados nenhum outro era o dono, mas de
fato, o material apreendido pertencia a outrem, contudo, conforme na denúncia,
aduzimos que estava apenas embalando na presença dos demais acusados, fato que foi
reafirmado pelos demais envolvidos.
Reafirmando a tese debatida resta claro que a denúncia ofertada pelo “parquet”
dava conta de que o Apelante, Sr. Maki embalava aquela quantidade de drogas,
afirmando ser para fins de tráfico.
Ocorre que o verbo contido na denúncia que visa incriminar o Apelante, e para
que se configure é imprescindível que o Órgão Acusador faça provas de que realmente
teriam uma destinação mercantil por parte do Apelante. Ônus que não se desincumbiu.
Assim, uma vez delimitada a peça acusatória nestes termos, não poderia o
Apelante ser condenado sem que houvesse a certeza da habitualidade do seu comércio,
sob pena de se entender que a condenação foi por outro núcleo do tipo.
Ademais, Excelências, um detalhe foi ignorado por todas as autoridades até o
momento, a residência, local do fato, onde o material foi apreendido e os rapazes
flagranteados não era onde o Sr. Maki residia, conforme consta na qualificação do
acusado, e o comum à atividade é que o traficante” utilize sua própria residência para
estes fins, o que facilita o andamento da atividade. Então, Excelências, como pode o Sr.
Maki ser um traficante se estava em outra residência que não a sua, embalando, tão
somente?
A denúncia não é categórica em afirmar que a droga apreendida pelos policiais
tinha como destinação o comércio, apenas menciona que estavam ali “reunidos no local
com ajuste de conduta entre si”, mas não há no depoimento dos policiais qualquer
menção que por meio de campana tenham presenciado o Apelante oferecer ou vender a
droga para alguém.
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Ora, para se provar a habitualidade de um fato, não seria necessário que os


policiais tivessem presenciado o fato mais de uma vez, por meio de procedimento
contínuo? Assim, uma vez que o artigo 28, da Lei Antidrogas, contém os mesmo verbos
do artigo 33, para que este fosse aplicado no caso em concreto é necessário prova
inequívoca da atividade mercantil, o que não foi presenciado ou comprovado, frisando-
se aqui que nenhum valor foi encontrado com o mesmo. E que os R$50,00 (cinquenta
reais) apreendidos eram do Sr. Maki, fato que é comum, qualquer pessoa atualmente
anda com recurso financeiro na carteira, para casos de emergência.
Evidente que para o Ministério Público entender tratar-se de tráfico de
entorpecentes, equivocadamente seu representante entendeu que o artigo 33 da Lei n.
11.343/06 contêm núcleos do tipo que não demandam provas do intento comercial. Mas
fazemos a retórica pergunta: Se este mantém praticamente os mesmos núcleos do artigo
28, o que os diferenciaria se não fosse a finalidade mercantil? Como se verifica, tal tese
não é suficiente para satisfazer a pretensão condenatória do digno Representante do
Ministério Público.
Nobres Julgadores, o fato de o tipo penal conter dezoito núcleos é irrelevante,
até porque a denúncia somente mencionou que estavam reunidos embalando, verbo não
contido no supracitado artigo, e da associação para o crime já foram absolvidos, e é
necessário para a configuração do tráfico a prova da mercancia. Urge lembrar que o
ônus da prova do Ministério Público, em razão do princípio constitucional da presunção
de inocência, é demonstrar a realização de todos os elementos, subjetivos e objetivos, do
tipo, e, nestes autos isto não restou demonstrado. E o próprio artigo 33 da referida Lei já
descarta a conduta do Apelante, pois aduz apenas:
“Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,
fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento
de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.”

E segundo nosso dicionário, nenhum dos núcleos do artigo mencionado é


sinônimo de EMBALAR. Desta forma, não há como se falar que houve violação às
regras inseridas no artigo 33, da Lei n. 11.343/06, de forma que manter a condenação
importará em lesão direta aos princípios constitucionais.
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Nestes termos é que se impõe a reforma da decisão para absolvição do


Apelante Maki Douglas Cardoso da Silva na forma do artigo 386, inciso III do Código
de Processo Penal c/c artigo 20, caput, primeira parte do Código Penal, por não
constituir-se como elemento essencial do tipo penal o núcleo embalar na forma da
denúncia.
Requer, portanto, no mérito, seja absolvido, por se tratar de conduta diferente
da que se tenta incriminar o Apelante, pois o depoimento dos flagranteados não condiz
com a denúncia, e para a condenação de alguém por tráfico de drogas, ou qualquer
delito, é necessária prova certa e irrefutável da autoria e materialidade. Diante da
incerteza e falta de robustez na prova produzida, há que se considerar que não é
suficiente para comprovar a habitualidade do fato um único momento.
Por essa razão, é possível extrair-se a conclusão de que a conduta do acusado
pode ser aquela prevista no artigo 28 da Lei 11.343/06, quando diz:
“Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou
trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas: (...)”.

Portanto, é caso de desclassificação para o crime de uso próprio caso não seja
absolvido, pois inexiste prova no presente procedimento, ou na denúncia, de fatos que
demonstrem que o agente praticava o tráfico de entorpecentes habitualmente.
TRÁFICO DE DROGAS - RECURSO DA DEFESA -
DESCLASSIFICAÇÃO DO ART. 33 PARA O ART. 28 DA
LEI 11.343/06 - POSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE
PROVAS SUFICIENTES PARA CONDENAÇÃO POR
TRÁFICO - APLICAÇÃO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO
- RECURSO PROVIDO. A distribuição do ônus da prova,
compreendido nos limites da presunção de inocência, impõe
ao órgão ministerial a demonstração dos fatos afirmados na
denúncia. A deficiência probatória quanto aos atos de
comércio de drogas afasta a certeza necessária para uma
condenação por tráfico nessa modalidade descrita na
denúncia. Havendo dúvida, deve o acusado ser favorecido,
em atenção ao princípio in dubio pro reo.
(TJ-MS - APL: 00063541120128120002 MS 0006354-
11.2012.8.12.0002, Relator: Des. Ruy Celso Barbosa
Florence, Data de Julgamento: 16/06/2014, 2ª Câmara
Criminal, Data de Publicação: 01/07/2014) – grifo nosso.

Muitas vezes não há provas de que o acusado seja traficante, logo, o mesmo
não pode ser submetido às penas previstas no art. 33 da Lei n. 11.343/06. Quando
muito, caso não haja a absolvição, o acusado deve ser enquadrado na figura típica do
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art. 28 da lei de drogas. Em referido artigo não mais há espaço para a aplicação de
qualquer tipo de pena privativa de liberdade, devendo o acusado ser submetido a uma
das medidas previstas no citado art. 28 da Lei n. 11.343/06.
Forçar uma condenação, é querer forçar uma estigmatização desnecessária e
injusta do acusado de seu seio familiar e social o que, deveras, trará ao mesmo, sérias
consequências à sua vida.
Tem-se, ainda, que o Magistrado por entender não ter o Apelante bons
antecedentes, ainda que primário, não lhe facultou o direito de ter sua pena reduzida,
nos termos do § 4º, do artigo 33, da Lei Antidrogas.
O Douto Magistrado acredita que este dedica-se à atividade criminosa, mas
estava ali tão somente embalando para posteriormente entregar ao real dono, podendo
concluir-se que este é um comportamento usual de dependente químico, vez que para
manter o vício, na falta de condições financeiras, o traficante habitual que sabe como
manipular uma mente, psiquiatricamente, dependente de entorpecente em seu favor,
pode vir a forçar, exigir ou mesmo apenas propor que um usuário faça “favores” a ele
em troca de droga, o que é facilmente aceito por parte do usuário, posto sua
“necessidade”.
Evidente que se o legislador tivesse a intenção pura e simples de punir os que
não tivessem bons antecedentes, não dosaria a redução, entre um sexto e dois terço, de
forma a ser aplicada escalonada segundo a condição do réu.
Desta forma, caso este Egrégio Tribunal não entenda pela absolvição, o que
somente se aceita a título de argumentação, que desclassifique o Apelante como incurso
no artigo 33, para o artigo 28, ambos da Lei de Drogas, e caso ainda assim não
vislumbre devido tal colocação, seja aplicada a minorante do § 4º, no teto máximo, ou
seja, dois terços, para assim reduzir a pena, haja vista que tem bons antecedentes, é o
Apelante primário, não se dedica a atividades criminosas posto que dedicar significa
fazer aquilo com certa habitualidade, nem faz parte de organização criminosa e fixe a
pena no mínimo legal, desconsiderando também a causa de aumento de pena do artigo
40, inciso VI da Lei n. 11.343/2006, posto que o menor ali estava por também ser
dependente químico.
Diante do exposto, requer a Vossas Excelências o conhecimento e provimento
do presente recurso, requerendo a absolvição do Apelante por não constituir o fato
infração penal, nos termos do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal,
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combinado com artigo 20, caput, 1ª parte do Código Penal, pois o núcleo do fato
denunciado não consta no elenco de elementos constitutivos do tipo penal, ou seja, não
constitui crime embalar entorpecentes.
Caso não seja absolvido, requer a desclassificação do tipo penal previsto no
artigo 33 da Lei de Drogas, para o artigo 28, da mesma Lei, haja vista se tratar de
usuário de entorpecentes que estava no local do fato apenas embalando a título de favor
para manter o vício, sem restar comprovada a constância do fato conforme denotam os
autos do processo, o que é necessário para que seja considerado traficante.
Requer por fim, caso Vossas Excelências não considerem a absolvição, nem a
desclassificação, o que não se espera, que apliquem a pena no mínimo legal, com a
desconsideração da causa de aumento de pena do artigo 40, inciso VI da Lei n.
11.343/2006, posto que o menor que ali estava também é dependente químico e não é, o
Apelante responsável pela presença deste lá, já que “é dever da família, da sociedade e
do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão”, conforme determina a Constituição Federal em seu artigo 227,
por ser medida de Justiça.

Termos em que,
Pede Deferimento.

Manaus – AM, 8 de abril de 2016.

Isis de Moraes Siqueira


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