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AO JUIZO DA ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GOIÂNIA/GO.

Processo nº

Especial da Lei de Drogas Lei 11.343/06

Autor: MINISTERIO PUBLICO

Réu: ASTOLFO

ASTOLFO, já qualificado nos presentes autos do processo em


epígrafe, por seu advogado esta subscreve, vem à presença de Vossa Excelência
apresentar ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS, com fulcro no artigo 404,
parágrafo único, do Código de Processo Penal, pelas razões a seguir aduzidas

I. DA TEMPESTIVIDADE

É tempestivo o oferecimento das alegações com base nos que dispõe o


texto do art. 403, § 3º do CPP, tendo em vista que a manifestação do réu, após a
intimação no dia 06 de março de 2015 (sexta-feira), se deu dentro dos 05 (cinco) dias
previstos, sendo apresentado hoje, dia 12 de março de 2015 (quinta-feira) e este finda-se
em 13 de março de 2015 (sexta-feira).

Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo


indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte)
minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis
por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§ 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número
de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias
sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o
prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.

II. BREVE SÍNTESE

Trata-se de suposta prática do delito de tráfico de drogas enquadrado


nos art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06.

Ocorre que, no dia 22 de março de 2014, o acusado encontrava-se em


sua residência, na Favela da Zebra, conhecida por sua periculosidade. O acusado foi
surpreendido com o pedido do chefe do tráfico, que o ameaçou, coagindo-o a transportar
e entregar 50g de cocaína para outro traficante em local diverso, sob ameaça de ser
expulso de sua residência.

Amedrontado e sem ver saída, Astolfo acatou às ordens do chefe da


comunidade. Contudo, ao chegar no local combinado, foi surpreendido por policiais
militares, que encontraram a droga e o prenderam em flagrante.

Ulteriormente, em audiência de instrução e julgamento, após serem


analisadas todas as formalidades legais, os policiais militares que efetuaram a prisão em
flagrante do réu confirmaram todos os fatos narrados na denúncia, e também destacarem
que, o acusado apresentou a mesma versão de que transportava as drogas por exigência
de Russo sofrendo graves ameaças.

Ressalta-se que o acuso reafirmou que fez o transporte da droga, mas


alegou que não fez de sua própria vontade e nem para obter vantagens, e sim, por estar
sob coação, ameaçado pelo perigoso chefe do tráfico de sua comunidade, local de onde
o mesmo residia há mais de 50 anos, na Favela da Zebra e que, se fosse expulso de la,
teria que ir para rua, pois não tinha amigos e familiares fora da comunidade.
O acusado é um homem que segue os preceitos da honestidade e
nunca se envolveu com qualquer ato ilícito, comprovado este através da consulta da
FAC (Ficha de antecedentes criminais).

III. DO MÉRITO

Diante da ausência de requisitos mínimos para a exigibilidade da


conduta do acusado, pleiteia este pelo pela absolvição. Vejamos.

Diante do exposto anteriormente, o Código Penal em seu art. 22,


dispõe que se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência de
ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da
coação ou da ordem.

A interpretação jurisprudencial desse art., encontra-se na obra de


Alberto Silva Franco, na qual relata o seguinte:

“A coação moral irresistível é uma das hipóteses da exclusão da


culpabilidade, na qual o coacto, em razão de constrangimento moral
que sobre ele é exercido, atua em condições anormais, de forma que
não se lhe pode exigir um comportamento, de acordo com a ordem
jurídica. O constrangimento moral deve ser irresistível e por
irresistível, segundo o Des. Cunha Camargo (JUTACRIM 44/412), se
entende o constrangimento “inevitável, insuperável ou inelutável”,
“uma força de que o coacto não se pode subtrair, tudo sugerindo
situação à qual ele não pode se opor, recusar-se ou fazer face, mas
tão somente sucumbir, ante o decreto do inexorável”. Se a coação
moral for, no entanto, resistível, limitará em favor do agente uma
atenuante (art. 65, III, “c”, do Cód. Penal.”

“A coação moral irresistível de que cuida a Lei Penal, consiste no


emprego de grave ameaça contra alguém, no sentido de que realize
um ato ou não (Damásio, Direito Penal, 1º/444).”
“O temor de um dano injusto e grave à sua pessoa ou a aqueles que
lhes são caros é que compele ao coagido a praticar o delito” (Aníbal
Bruno, Direito Penal, 2º/271). (TJSP - Ver. - Rel. Weiss de Andrade -
RJTJSP 76/349 e RT 557/303).

“A inexistibilidade da coação esta em que o coagido não pode vencê-


la, por ter ocorrido a supressão da liberdade de agir, em sentido
oposto à liberdade do coator”(TJSP - EI - Rel. Onei Raphael - RT
410/100).

“É irresistível a coação quando não pode ser superada senão com


uma energia extraordinária e, portanto, juridicamente inexigível”
(TACRIM/SP - AC. - Rel. Adalberto Spagnuollo - RT 501/282).

“A excludente da coação moral irresistível não pode ser invocada sem


a presença de três pessoas distintas e inconfundíveis: do agente
coacto, do coator e da vítima”(TJMG - AC. - Rel. Sylvio Lemos - RT
507/445).

“Para que se configure a coação moral irresistível, indispensável se


torna a presença de três elementos: o coator, o coagido e a
vítima”(TJMT - AC. - Rel. Otair da Cruz Bandeira - RT 508/399).

Diante do quadro probatório colhido nos autos, verifica-se que não há


provas suficientes aptas a demonstrar que o acusado teria participado do crime de tráfico
em questão, merecendo ele ser absolvido, com base nas disposições previstas no artigo
386, inciso VI, do Código de Processo Penal.

Ademais, considerando a idade de Astolfo e o fato de não ter


familiares para lhe dar abrigo, não seria possível exigir outra conduta do acusado.

Torna-se, portanto, translúcido que para determinada conduta seja


considerada crime, deve ela ser típica, ilícita e culpável. Um dos elementos da
culpabilidade é a exigibilidade de conduta diversa, sendo, portanto, a inexigibilidade de
conduta diversa uma causa de exclusão da culpabilidade

Requer, portanto, a aplicação da pena base em seu mínimo legal, pois,


na forma do enunciado 444 da Súmula de jurisprudência do STJ, a existência de
inquéritos
policiais ou ações penais em curso não são suficientes para fundamentar circunstâncias
judiciais do Art. 59 do Código Penal como desfavoráveis.

No foro em questão da fixação da pena intermediária, deveria o


examinando requerer o reconhecimento da atenuante do Art. 65, inciso I, do Código
Penal, já que o réu era maior de 70 anos na data da sentença, e a atenuante da confissão,
prevista no Art. 65, inciso III, alínea d, do Código Penal, cabendo destacar que a
chamada confissão qualificada, ou seja, quando, apesar de confessar o fato, o acusado
alega a existência de causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, vem sendo
reconhecida pelo STJ como suficiente para justificar o seu reconhecimento como
atenuante.

Deveria, ainda, ser alegada a atenuante da coação resistível, já que o


crime somente foi praticado por exigência de Russo, chefe do tráfico local (Art. 65,
inciso III, c, do CP).

Evidencia ainda que o acusado é primário, de bons antecedentes, e que


não consta em seu desfavor qualquer indício de envolvimento com organização
criminosa ou dedicação às atividades criminosas, cabível a aplicação do redutor de pena
previsto no Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343. As circunstâncias da infração tornam até
mesmo possível a aplicação da causa de diminuição em seu patamar máximo. Em sendo
reconhecida a existência do tráfico privilegiado do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06,
cabível o requerimento de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos, pois não mais subsiste a vedação trazida pelo dispositivo.

O Supremo Tribunal Federal reconheceu a inconstitucionalidade dessa


em abstrato, além da Resolução nº 05 do Senado, publicada em 15/02/2012,
suspendendo a execução da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de
direito” do parágrafo acima citado.

Da mesma forma, o STF também reconheceu a inconstitucionalidade


da exigência da aplicação do regime inicial fechado para os crimes hediondos ou
equiparados trazida pelo Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8072 por violação do princípio da
individualização da pena, de modo que nada impede a fixação do regime inicial aberto
de cumprimento da reprimenda penal.

IV. DO PEDIDO:
Isto posto, requer:

A) a absolvição do acusado, ante a ausência de provas suficientes para ensejar a


condenação, nos termos do artigo 386, incisos V e VII, do Código de Processo Penal;

B) subsidiariamente, aplicação da pena base no mínimo legal;

c) reconhecimento das atenuantes do Art. 65, incisos I e III, alíneas “c” e “d”, do
Código Penal;

d) aplicação da causa de diminuição do Art. 33, § 4º da Lei nº 11.343;

e) aplicação do regime inicial aberto de cumprimento da pena;

f) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Nestes termos,

Pede e espera deferimento.

Estado X, 12 de março de 2015.

ADVOGADO

OAB/ nº .

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