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Florianópolis
2021
MARIA EDUARDA LIVRAMENTO AMORIM
Florianópolis
2021
MARIA EDUARDA LIVRAMENTO AMORIM
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Professor e orientador Nome do Professor, Dr./Ms./Bel./Lic.
Universidade do Sul de Santa Catarina
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Prof. Nome do Professor, Dr./Ms./Bel./Lic
Universidade...
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Prof. Nome do Professor, Dr./Ms./Bel./Lic
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para minha mãe, que sempre me incentivou e
colocou meus estudos em primeiro lugar.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao meu pequeno, mas precioso núcleo familiar: minha mãe,
meu irmão e minha madrinha, que me ensinaram os valores da vida e formaram o ser humano
que sou hoje. Vocês nunca permitiram que me faltasse nada, principalmente amor. A todos os
ensinamentos, carinho e paciência, sou extremamente grata.
À minhas amadas cachorrinhas, que me proporcionam todos os dias motivos e alegrias
para viver e à minha querida gatinha, que com um simples ronronado consegue afastar todos
os meus anseios.
Aos meus amigos, dentro e fora da universidade, que sempre estiveram aqui para me
segurar e distrair nos maus tempos, além de me ensinar o amor e acalento da verdadeira
amizade.
Ao meu namorado e parceiro de vida, que sempre me incentivou e buscou me
compreender, principalmente neste último conturbado semestre, se colocando à disposição
quando precisei. Obrigada por todo seu apoio, atenção e apreço.
À Alexia Menezes, jornalista da Cabana do Leitor, que auxiliou na minha pesquisa,
me norteando nos assuntos que encontrei maiores dificuldades, considerando a falta de fontes
específicas para o que me propus a debater.
E principalmente, à minha orientadora, Priscila de Azambuja Tagliari, por ter sido tão
solícita a todo momento, compreendendo e atendendo às minhas dúvidas e necessidades. Foi
uma honra ter sido sua orientanda.
“Acontece que a vida não é um quebra-cabeça que pode ser resolvido uma vez só e
está pronto. Você acorda todo dia e o resolve de novo.” (The Good Place).
RESUMO
The present research has as objective to contemplate an application of the Brazilian Law in
the combat and prevention of virtual crimes in the scope of electronic games. As an area in
constant growth and changing, electronic games are increasingly inserted in the lives of young
Brazilians, while causing multiple experiences. However, it is also worth noting the
emergence of crimes in this space, which readily use the anonymity favored by the internet.
With the problem formed, it is more than necessary to study and analyze the Brazilian norms,
including the Penal Code, the Statute of Children and Adolescents and the Carolina
Dieckmann Law, and what to provide to provide proper punishment and accountability to
offenders that commit virtual crimes in the segment of online games, and the social and
technological advances that made conflicts possible should be considered. It was observed
that the existing mechanisms in Brazilian legislation refer to changes in the Penal Code, the
main indicator matrix for cyber crimes. The work methodology consists of the deductive
approach method with the historical procedure and uses bibliographical and documental
research.
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 9
2 INTERNET E OS JOGOS ONLINE .............................................................................. 11
2.1 HISTÓRIA DA INTERNET............................................................................................ 12
2.2 APRESENTANDO O CIBERESPAÇO E A CIBERCULTURA ................................... 19
2.3 AS REDES SOCIAIS E COMUNIDADES DE JOGOS ................................................ 22
2.4 OS CONFLITOS NAS COMUNIDADES VIRTUAIS .................................................. 25
3 CRIMES VIRTUAIS ........................................................................................................ 28
3.1 CRIMES CONTRA A HONRA ...................................................................................... 31
3.2 CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL ............................................................. 34
3.3 CRIMES CONTRA MENORES ..................................................................................... 39
3.4 OUTROS CRIMES RELEVANTES ............................................................................... 45
4 ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E SUA ATUAÇÃO FRENTE AOS
CRIMES VIRTUAIS IMPRÓPRIOS NOS JOGOS ONLINE .......................................... 51
4.1 LEI CAROLINA DIECKMANN .................................................................................... 52
4.2 OS JOGOS ELETRÔNICOS E A LEI PELÉ.................................................................. 55
4.3 POSSÍVEIS SOLUÇÕES ................................................................................................ 60
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 66
9
1 INTRODUÇÃO
O espaço dos jogos eletrônicos vem se expandindo há alguns anos, juntamente com a
inclusão digital, o que acaba por promover grandes impactos na economia mundial e nacional,
tendo sido responsável por mudanças positivas na vida de muitas pessoas, além de fornecer
ferramentas de comunicação, ocasionando na socialização dos jogadores e consequentemente,
em alguns casos, na ocorrência de condutas criminosas.
Apesar da perceptível relevância, é um assunto pouco abordado no campo acadêmico
e profissional, havendo pouco reconhecimento acerca das mudanças positivas que os jogos
propiciaram aos setores tecnológicos e principalmente na falta de atenção que decorre sobre
as relações sociais e jurídicas contidas no meio. Logo, se vê por necessária uma maior
exposição da questão a ser debatida, com a finalidade desta ganhar visibilidade social e
futuramente, legislativa.
Vale ressaltar que as legislações mais conhecidas no Brasil não possuem uma previsão
específica sobre crimes cometidos por intermédio do espaço dos jogos virtuais, fato que
justifica a importância da presente pesquisa, que versa formas de abordar o tema
intrinsicamente, analisando minuciosamente dispositivos aplicáveis e o conhecimento a ser
adquirido pelas correntes doutrinárias da área jurídica.
Convém afirmar que a escolha do tema por parte da pesquisadora se encontra atrelada
aos crescente aumento dos casos de crimes virtuais no âmbito dos jogos eletrônicos, que estão
cada vez mais recebendo denúncias por parte das vítimas ou pessoas que presenciaram os
decorridos atos, devendo a sociedade em si receber maiores alardes e incentivo à queixa.
Por se tratar de um assunto extremamente recente, com poucas discussões e
orientações acerca das normas disponíveis para responsabilização dos devidos agressores e
infratores penais presentes no campo virtual, é preciso compreender e analisar a legislação
brasileira em relação à sua atuação nos moldes modernos das relações sociais, levando em
conta os procedimentos que prevê para combate e contenção dos crimes virtuais.
Nessa perspectiva, foi formulado o questionamento que originou a pesquisa: Quais os
mecanismos utilizados pela legislação brasileira para os crimes virtuais impróprios no cenário
dos jogos online?
É válido mencionar que os infratores citados previamente correspondem aos que
utilizam-se da internet para consumar seus delitos, não a tendo como propósito final. Os
crimes virtuais cometidos por estes são denominados impróprios, por buscarem violar a
integridade das pessoas.
10
Houve um momento em que a internet não foi um dos fatores determinantes para a
criação e divulgação de jogos eletrônicos, sendo que estes se desenvolveram em grande escala
para a população através das máquinas de fliperama e logo após, por intermédio dos primeiros
consoles de jogos, possíveis de se adquirir para consumo individual.
Deste modo, os jogos eletrônicos acompanharam os avanços tecnológicos, se
integrando à Internet e adquirindo notoriedade. Com isso, pôde-se notar um crescimento da
sua utilização no cotidiano das pessoas, passando a ter função vital para a sociedade e cultura.
Ademais, é possível verificar que os jogos online também introduziram uma nova forma de
comunicação entre as pessoas, pelo bate-papo inserido dentro da plataforma ou na criação de
comunidades pela Web (RODRIGUES et al., 2007).
Sendo assim, têm-se que o avanço tecnológico no decorrer dos anos possibilitou a
expansão da internet e dos jogos eletrônicos, agora coligados a este meio. Atualmente, os
videogames online são um forte âmbito de lazer para crianças e adolescentes, ainda que
incluam também pessoas de diversas faixas etárias, promovendo entretenimento em larga
escala e possuindo inúmeras categorias (ABREU et al., 2008).
Também ensina Levy (1999), que a internet e sua composição constroem um
“ciberespaço”, ao passo que neste é desenvolvida a “cibercultura”, proveniente de atitudes,
aprendizados e valores que crescem e se predominam no meio. É possível identificar então
que o ciberespaço realiza a transferência direta de diferentes linhas de pensamento, bem como
informações, por meio de uma interconexão mundial de computadores.
Apesar de todos os fortes pontos positivos, há um lado obscuro na facilitação de
comunicação pela internet e suas midiáticas, crianças e adolescentes se encontram mais
expostos a práticas violentas como o cyberbullying, ao passo que Jahnke e Gaglietti (2012)
compreendem como sendo a personificação digital do bullying que já conhecemos, como uma
forma de maltrato, que utiliza-se de ação violenta física ou psicológica com a intenção de
constranger, intimidar ou agredir.
Fora os aspectos mencionados, outros crimes podem vir a surgir no escopo virtual,
sendo cometidos tanto contra crianças a adultos. Isso ocorre por conta da diversificação e
expansão de conflitos, pois quanto maior a comunicação e meios de repassá-la, maiores atritos
tendem a aparecer. Deste modo, para melhor compreensão do impacto atual da internet e dos
jogos digitais na sociedade, devemos nos ater à sua história e evolução, conforme serão
aprofundados a seguir.
12
militares, passou a desenvolver-se para estudos e pesquisa, assim como as novas redes que
passaram a surgir. A evolução constante permanecia interligada à quantidade de pessoas que
testavam e utilizavam a ARPANET, em prol de aprimorá-la. É o que indica Hafner e Lyon
(2019, p. 256) considerando a realidade da época:
À medida que mais recursos foram disponibilizados na ARPANET e à medida que
mais pessoas nos sites se familiarizaram com eles, o uso da Net aumentou. Para
notícias do mundo, os usuários regulares iniciais da Net faziam logon regularmente
em uma máquina na SRI, que era conectada à agência de notícias Associated Press.
Durante os horários de pico, os alunos do MIT efetuavam logon em outro
computador na rede para realizar seu trabalho.
Tais fatos demonstram um grande sucesso evolutivo da Internet, que trouxe uma nova
modalidade de videogames com interações em tempo real por multijogadores. A jornalista
supracitada previamente, menciona de mesmo modo, a empresa Blizzard como uma das
desenvolvedoras mais conhecidas naquela década. A empresa foi pioneira na criação de jogos
para computadores e outras plataformas, sendo uma das primeiras a adentrar o mercado dos
jogos online, com a criação de sua plataforma própria para PC (computador pessoal),
17
denominada Battle.net e contando com lançamentos como Diablo (1996) e StarCraft (1998),
disponíveis também para MAC e Playstation (EXAME, 2013).
Logo, à medida que cada vez mais pessoas se conectavam e interagiam na Web, se deu
por necessária uma regularização mais direta à população em relação a casos de conflitos
internacionais, tendo em vista que a rede mundial de computadores não segue uma legislação
específica, estando sujeita às normas de cada país que a instaura. Por conta disso, houve a
criação do Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/2014.
A problemática existente no Brasil anterior ao Marco Civil contava com a mobilização
contrária ao projeto de Lei de nº 84/1999, este buscava a regulação da Internet alterando o
Código Penal para a inclusão de crimes informáticos com a finalidade de controlar
ocorrências envolvendo a Internet, tendo por exemplo uma pena definida por acesso não
autorizado a um computador ou rede de computadores (CÂMARA, 1999). O projeto foi
introduzido pelo deputado Luiz Piauhylino do PSDB e por conter questões exorbitantes, foi
batizado de “AI-5 digital” pelos opositores no debate público (CRUZ, 2015).
O referido projeto foi arquivado na seção da Câmara dos Deputados em 11 de maio de
1999 pela seguinte justificativa do deputado Luiz Piauhylino:
Este grupo, depois de vários debates "on-line" apresentou-me uma minuta do
substitutivo ao referido PL 1.7131/96. Ocorre que, por falta de tempo suficiente o
substitutivo não foi devidamente apreciado., inclusive pelas demais comissões da
Câmara dos Deputados, durante a legislatura passada. razão pela qual o PL foi
arquivado. Portanto apresento agora o PL acima, o qual é resultado de um trabalho
sério, depois de ouvir a sociedade, através de pessoas da mais alta qualificação.
Não podemos permitir que pela falta de lei, que regule os crimes de informática,
pessoas inescrupulosas continuem usando computadores e suas redes para propósitos
escusos e criminosos. Daí a necessidade de uma lei que defina os crimes cometidos
na rede de informática e suas respectivas penas (CÂMARA, 1999).
Houve então um embate, tendo-se por necessária uma regularização adequada para a
Internet, porém sem a apresentação de melhores soluções além da PL 84/99. Foi realizada
uma consulta pública para o Marco Civil da Internet, utilizando de base os Princípios para
Governança e Uso da Internet do Brasil (CGI.br/RES/2009/003), sendo que a partir de 8 de
abril de 2010, qualquer cidadão, entidade ou associação poderiam pelo prazo de 45 dias
adentrar no Fórum Cultura Digital e expor suas propostas de modificação referentes aos
princípios elencados (CGI.br, 2010). E foi assim, que o PL nº 2.126/2011 foi apresentado e
transformado na Lei Ordinária 12.965/2014, sendo que na data de 24 de junho de 2014, o
Marco Civil da Internet entrou oficialmente em vigor.
A Lei decretada apresenta princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da
Internet no Brasil (BRASIL, 2014). A partir desta, é possível ponderar seu texto normativo,
observando que aborda disposições gerais ligadas aos direitos humanos, livre comércio,
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sendo que enquanto alguém navega por sites e programas, recebe informações simultâneas,
seja com finalidades publicitárias – de informar, anunciar, vender um produto – políticas ou
sociais. A funcionalidade permite que o usuário esteja conectado em mais de uma plataforma
online ao mesmo tempo, estando disponível a receber e enviar quaisquer mensagens que
desejar sem a necessidade do deslocamento físico, atividade padrão em tempos anteriores à
ascensão da era digital, inclusive para casos semelhantes como envio de cartas, por exemplo
(LEVY, 1999).
Pode-se observar pelos entendimentos alocados dos autores, que o novo meio de
comunicação acarreta uma disseminação imediata de dados a todo momento. Torna possível
uma captação mais facilitada de se adquirir aprendizado sobre qualquer assunto, além de
despertar o interesse em áreas tecnológicas e seu desenvolvimento.
Para os meios acadêmicos e científicos o ciberespaço também possui grande valia, ao
passo que também democratiza o conhecimento, possibilitando o repasse de documentos e
arquivos que detenham artigos e livros didáticos (RAMOS; ROSSATO, 2017).
O ciberespaço apresenta outros benefícios da mesma forma, no campo empresarial. O
cotidiano na esfera virtual auxilia em grande parte as empresas e corporações em viés de
publicidade e marketing, tendo em vista que estas podem ganhar mais visibilidade para seus
produtos e serviços, utilizando-se de imagens, textos e vídeos em anúncios e campanhas para
captação de público, atingindo até milhões de usuários com uma única postagem, gerando
maior faturamento. (SILVA; DAOLIO, 2017)
Seguindo o mesmo pensamento dos prévios autores, acredita-se que instituições
sociais e comunidades não ficam atrás no quesito visibilidade. Seja qual for a finalidade, é
extremamente possível alcançar pessoas que buscam o mesmo interesse e se unam em prol
deste, seja para bate-papo ou auxiliar em manifestações e pautas humanitárias.
É claro que tudo está atrelado às “regras” da própria internet, sendo que não é sempre
tão simples atingir as pessoas de mesmo perfil da finalidade exigida. Isto ocorre por conta dos
algoritmos presentes em cada sítio e software eletrônico, tendo propósitos e configurações
diferentes em cada qual, de acordo com o que foi estabelecido por desenvolvedores e
empresas de tecnologia, assim como explica Calixto (2018) em dois segmentos:
(1) em plataformas como Facebook e Twitter, os algoritmos operam para
apresentar conteúdos considerados “mais relevantes” à experiência dos usuários.
Como consequência, há o crescimento de comportamentos padronizados na
circulação de informação, resultando no que Parisier (2012) classifica como
filtro-bolha. Ou seja, na interlocução entre a experiência dos usuários e o
funcionamento das redes sociais, cria-se grupos de interesse fidelizados por aquilo
que é apresentado nas redes como “relevante”. As intermináveis brigas e
polêmicas nas redes sociais, acionadas por memes ou debates na seção de
21
Tendo isto em pauta, as redes sociais representam, segundo Marteleto (2001, p. 72),
“[...] um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e
interesses compartilhados.”
Podem ser adquiridos diversos tipos de conhecimentos por intermédio das redes
sociais, relevantes ou não, interessantes a quem se identificar. Uma rede de todos para todos,
concluindo-se. É por este viés que Tomaél (1997 apud NONAKA, TAKEUCHI, 1997) divide
os tipos de conhecimento em explícito e tácito, classificando-os:
O conhecimento explícito é facilmente transmitido entre os indivíduos pois “[...]
pode ser articulado na linguagem formal, inclusive em afirmações gramaticais,
expressões matemáticas, especificações, manuais e assim por diante”.
O conhecimento tácito, por sua vez, é o conhecimento pessoal incorporado à
experiência individual e envolve fatores intangíveis (crenças pessoais, valores e
perspectivas) e é difícil ser articulado na linguagem formal.
Sabe-se que o Marco Civil da Internet inclusive disciplina algumas disposições ideais
de comportamentos a serem adotados na rede mundial de computadores. É possível conceber
alguns exemplos, como o respeito à liberdade de expressão e o resguardo aos direitos
humanos, inseridos no art. 2º caput e inc. II (BRASIL, 2014). Contudo, se constata que
nenhum comportamento nas redes ou comunidades online devem ser compatíveis com atos
que venham a ferir os direitos humanos ou em crimes tipificados na legislação do país.
Seguindo estes princípios, pode-se reconhecer a existência da disseminação do ódio no
âmbito virtual, ação que desencadeia conflitos por si só. Tal afirmação é feita tendo como
base os dados divulgados de pesquisa ligada à reação de vítimas do cyber-hate no Facebook,
considerando que a maioria dos participantes da referida pesquisa informaram ter sofrido
ofensas nos ambientes digitais (83,3%), sendo que destes, 66% afirmaram terem ignorado os
insultos, 23% denunciaram e 11% reagiram de forma ofensiva em resposta. As motivações
para as condutas adotadas foram diversas: o estresse provocado, discordância das preposições,
26
impunidade dos agressores, defesa de dignidade ou até por ciência de anúncios da mídia sobre
a necessidade da realização de denúncia contra crimes cibernéticos (FERNANDES et al.,
2021).
Averiguado o fato de que conflitos digitais podem evoluir para crimes cibernéticos
propriamente ditos, têm-se estabelecida uma conexão entre a consumação/tentativa do crime e
sua responsabilização por parte do Estado e a jurisdição. A correlação específica é trazida por
Santos et al. (2017, p, 7):
A existência do Direito está associado a jurisdição, e que sua função jurisdicional de
resolução de conflitos entre pessoas e comunidades no espaço virtual, e de tutela
jurisdicional do Poder público, ou seja esteja conexa ao Estado. Ao que se trata dos
crimes virtuais são os delitos praticados por meio da Internet que podem ser
enquadrados no Código Penal brasileiro, e os infratores estão sujeitos às penas
previstas na lei. O Brasil é um país que não tem uma legislação definida e que
abranja, de forma objetiva e geral, os diversos tipos de crimes cibernéticos que
ocorrem no dia a dia e que aparecem nos jornais, na televisão, no rádio e nas
revistas. Na ausência de uma legislação específica, aquele que praticou algum crime
informático deverá ser julgado dentro do próprio Código Penal, mantendo-se as
devidas diferenças. Se, por exemplo, um determinado indivíduo danificou ou foi
pego em flagrante danificando dados, dados estes que estavam salvos em CDs de
sua empresa, o indivíduo deverá responder por ter infringido o artigo 163 do Código
Penal, que é “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: pena – detenção, de um a
seis meses, ou multa”.
Vale frisar a questão levantada pelo estudioso acima: que nem sempre os cibercrimes,
ou crimes virtuais, ocorrerão 100% inseridos dentro da Internet, podendo também contar com
participação física e envolvimento de algum meio digital para consumação do feito.
Conforme exposto, acredita-se primeiramente que é extremamente complexo dispor
sobre conflitos em um espaço com imersão mundial, contendo conectividade de ponta a
ponta, passo que acarretam casos com mais de uma pessoa envolvida e muitas vezes, outra
legislação, levando a uma colisão de normas. Resta compreender se a legislação brasileira é
capaz de conter o avanço dos conflitos digitais e cibercrimes na Internet, protegendo e
punindo de acordo os usuários brasileiros.
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3 CRIMES VIRTUAIS
Entretanto, Souza (2018) acredita que o termo colocado acima não pode ser
confundido com o “crime cibernético”, pois para que se configure este último, é essencial o
uso de um objeto eletrônico, ou seja um computador, com acesso à internet. Em viés de
comparação, concebe-se que o computador é a arma utilizada pelo criminoso que vai realizar
um assalto e a internet é a sua munição, logo, os dois elementos são dependentes entre si para
alcançar a finalidade do crime
Prosseguindo, é relevante ainda conceituarmos o que se entende atualmente por
“computador”, tendo em vista a modernização e evolução da tecnologia, que possibilitou
acessibilidade similar de uma máquina fixa em um aparelho móvel. O dicionário Michaelis
(c2021) define computador como:
Máquina destinada ao recebimento, armazenamento e/ou processamento de dados,
em pequena ou grande escala, de forma rápida, conforme um programa específico;
computador eletrônico.
Como os crimes virtuais podem conter diversas matérias, seja de direito eleitoral, civil,
militar ou criminal, seus aspectos irão determinar a competência correlata. A partir disso, se
sabe que a competência será da Justiça Federal quando o crime produzir efeitos fora do
território nacional, ou seja, quando incluir pessoas de outro país na lide ou questões externas,
incluindo ainda a hipótese do Brasil ser signatário de tratado ou convenção internacional que
preveja a atuação do Estado no combate do crime em questão. Excluindo essas possibilidades,
a competência será naturalmente da Justiça Estadual (SOUZA NETTO; COSTA, 2020).
Apesar deste entendimento, o STF aproxima para a Justiça Federal a competência do
julgamento de crimes de pornografia infantil através da internet, decisão extraída do RE
628624:
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em
disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente
(arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990) quando praticados por meio da rede
mundial de computadores”. (Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 29/10/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-062 DIVULG 05-04-
2016 PUBLIC 06-04-2016)
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Assim como outros bens jurídicos tutelados já explorados nesta pesquisa, sabe-se que
os bens imateriais oriundos da personalidade carecem da mesma forma de uma proteção
jurídica, considerando que o “homem tem direito à vida, à integridade física e psíquica, como
também não ser ultrajado em sua honra, pois o seu patrimônio moral também é digno de
proteção penal”. Logo, o direito à honra se encontra inserido no conceito de direitos da
personalidade, devendo ser atingidas as ações que buscarem violá-la em termos criminais
(CAPEZ, 2013, p. 273).
É preciso se ater ao conceito da palavra “honra”, uma vez que pode sanar algumas
dúvidas que tendem a surgir sobre a necessidade do respaldo jurídico a esta questão. O
dicionário Oxford (2021) define honra como:
Princípio que leva alguém a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que lhe
permite gozar de bom conceito junto à sociedade.
Ademais, o direito a honra se encontra disposto nos artigos 214 a 221 do Código Penal
Militar (Lei 1.001/69), artigos 324 a 326 do Código Eleitoral (Lei 4.737/65), artigos 20 a 22
da Lei de Imprensa (Lei 5.250/67), art. 53, “i” do Código Brasileiro de Telecomunicações
(Lei 4.117/62), artigo 26 da Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83) e principalmente, nos
artigos 138 a 140 do Código Penal (Lei 2.848/40).
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Verifica-se que algumas das legislações mencionadas dizem respeito a situações mais
específicas, como infringir a honra do Presidente da República, Senado ou Câmara. Os
preceitos existentes no Código Penal abrangem uma maior parcela de pessoas, os civis. Por
conseguinte, os procedimentos a serem seguidos em caso da ocorrência de um dos crimes
previstos, se encontram nos artigos 519 a 523 do Código de Processo Penal (Lei 3.689/41).
Quando ocorridos por meios digitais, os crimes de calúnia, difamação e injúria
requerem documentos comprobatórios específicos, bem como a indicação da URL
(Localizador Uniforme de Recursos) da postagem, capturas de tela do computador ou celular
e registros de nome em canais ou perfis online. É recomendado que para que a ação seja
aceita judicialmente, sejam arrolados dois tipos de provas, as que relacionam o crime à pessoa
e as que demonstram que o crime de fato ocorreu (CARRARA, 2020). Em relação aos jogos
digitais, pode-se utilizar de mesma lógica, salvar como provas capturas de tela das
ferramentas de bate papo do jogo ou de comunidades virtuais ligadas a ele.
Prosseguindo, os três crimes citados até o momento possuem características distintas,
o que acarreta a indispensabilidade de observá-los de acordo com seus contextos e previsões
legislativas.
O crime de calúnia é um dos mais ocorridos na internet, podendo ser praticado por
qualquer pessoa, física ou jurídica (FERRAZ, 2019). Ofende diretamente a integridade
jurídica da pessoa, por atrelar a ela fato criminoso (CARRARA, 2020). Possui respaldo no
artigo 138 do Código Penal, que por sua vez define e imputa a pena cabível:
Art. 138 – Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou
divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
§ 3º Admite-se a prova da verdade, salvo:
I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível;
II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº 1 do art. 141;
III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por
sentença irrecorrível (BRASIL, 1940).
Através do exposto, constata-se que o Código busca uma certa justiça prevendo a
possibilidade de se provar ser um ato não criminoso, ou seja, quando imputar a alguém fato
definido como crime sendo que esta é realmente autora da infração.
A difamação incide na correlação de um ato moralmente ofensivo à outra pessoa, que
coloque em risco sua reputação perante a sociedade. A pessoa atingida é denominada vítima
do crime, e este é consumado assim que um terceiro toma conhecimento da informação
repassada (TANAKA, 2013). Deste modo, quando ocorrido na internet, basta que o fato esteja
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contido em postagem com acesso total ao público, permitindo suas visualizações. O Código
Penal prevê o crime referido em seu artigo 139:
Art. 139 – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Parágrafo único – A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções (BRASIL,
1940).
A partir da referida análise, compreende-se a motivação por trás das grandes mentes
detentoras de mídias de desinformação, além de coligarmos os avanços e facilidades que a
internet trouxe para este campo.
É mais que necessário estabelecer medidas que protejam a dignidade e a reputação das
pessoas, de modo que intercepte notícias falsas e localize os responsáveis para puni-los.
Atualmente, há projetos de leis que buscam abordar melhor juridicamente a mencionada
questão, passo que serão averiguados no próximo capítulo.
É possível verificar alguns fatores presentes no texto legislativo, como a redação dada
pela Lei 12.015/09 que adicionou novas modalidades de estupro, incluindo o antigo atentado
violento ao pudor. O novo caput do art. 213 demonstra que a conjunção carnal não é mais
regra para que se configure o crime de estupro, sendo que há práticas de atos libidinosos de
igual ou maior gravidade que esta, considerando ainda que a vítima pode não ser
necessariamente uma mulher (FILHO, 2009).
Outro fator relevante é o próprio título do capítulo, “Dos Crimes contra a Liberdade
Sexual”, que apresenta grande evolução no campo legislativo em relação à sociedade e seus
novos costumes, de acordo com a moral e ética da atualidade. As alterações e redações
remetem à ideia de que todos devem ter sua dignidade sexual respeitada e zelada, priorizando
a liberdade de escolhas nesse quesito.
Casos fatídicos ocorridos no Brasil apresentam a incidência e presença do meio virtual
para concretizar crimes contra a dignidade sexual, sendo que ambiente digital acabou se
tornando uma “peça-chave”. Sabe-se que o domínio psicológico sobre a vítima é o que se
mantém em situações de estupro virtual, por exemplo, tendo em vista que o violador gera um
constrangimento mediante manipulação e ameaças. Pode-se conceber que a alteração
realizada em 2009 no Código Penal foi a precursora de toda a interpretação possível de se ter
hoje em dia, ao passo que o estupro não precisa de contato físico para acontecer (GOMES,
2017).
Em complementação, o autor acima ainda menciona que casos de estupro virtual vêm
ocorrendo apenas recentemente, tendo em vista que quando as situações se tornam públicas,
as vítimas se veem questionadas por familiares, colegas e amigos o porquê permitiram ser
constrangidas a este ponto, dentre outras questões que tiram o foco do crime, já que as
pessoas que o sofreram não são, de fato, as culpadas por ele. Deste modo, o pré-julgamento de
terceiros tende a desestimular a prática da denúncia pelas vítimas.
O artigo 214 do Código Penal, referente à violação sexual, passou a ser integrado no
artigo 213, que antes possuía a redação de “constranger mulher a conjunção carnal mediante
violência ou grave ameaça”, por conta disso, o 214 se encontra revogado. Conforme já
constatado, a alteração em 2009 acarretou significativa evolução social, já que o crime de
estupro não ocorre apenas a mulheres e na mesma específica situação sempre (BRASIL,
2009).
36
O caso Cíntia Souza em 2017 foi um dos grandes estopins para o surgimento da Lei de
importunação sexual no ano seguinte. Dentro de um ônibus na Avenida Paulista, o agressor
Diego Ferreira de Novais se masturbou e ejaculou na vítima, Cíntia. Em estado de choque, a
mulher recebeu apoio dos outros passageiros que se mostraram muito revoltados com a
situação. O motorista do ônibus chegou a prender o agressor dentro do veículo para que este
não fosse espancado pelas outras pessoas, o que permitiu que a polícia chegasse e realizasse a
prisão em flagrante delito (G1, 2017).
Contudo, o caso em apreço não deteve um final feliz. Conforme já abordadas as
dificuldades de enquadramento do delito de importunação sexual, o Juiz que recebeu a
denúncia entendeu que cabia o ocorrido à previsão de contravenção penal, sendo que na
decisão diz não ver “constrangimento tampouco violência ou grave ameaça, pois a vítima
estava sentada em um banco de ônibus, quando foi surpreendida pela ejaculação do
indiciado”. O ato foi duramente criticado por colegas magistrados e mulheres que se
solidarizaram à situação, sujeitas desde sempre a situações similares (PAULO, 2017).
Ainda que não beneficiando diretamente no episódio relatado por conta do princípio
da irretroatividade, a lei penal trouxe esperança na vida de muitas mulheres e a garantia de um
procedimento mais adequado a ser realizado pela esfera criminal, atribuindo uma pena justa.
Diferente da importunação, o assédio sexual se caracteriza de diferentes formas, sendo
que a prevista pelo ordenamento jurídico configura como o crime:
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento
sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes a exercício de emprego, cargo ou função.
Pena – detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos.
§ 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos
(BRASIL, 1940).
O Código Penal contém em sua Parte Especial um capítulo dedicado aos crimes
sexuais contra vulnerável, tendo em vista o zelo necessário aos infantes e adolescentes,
considerando sua inocência e dependência.
A lei responsável pela alteração no referido Código é a de nº 12.015 de 2009, que
provocou mudanças significativas em todo o escopo legislativo no que pese os crimes contra a
dignidade sexual envolvendo menores de idade.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, importante ferramenta de tutela jurisdicional
datada do ano de 1990 também contém fatores significativos, tendo em vista que concedeu à
sociedade civil, em seu contexto histórico, o protagonismo para participar ativamente da
construção de políticas públicas voltadas aos menores de idade. Este fato é sustentado pelo
surgimento da Lei 13.431/2017, denominada Lei da Escuta Protegida, que estabelece um
sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes vítimas e testemunhas de violência,
até então ignoradas de certa forma pelo Estado (CHILDHOOD BRASIL, 2017).
Perante os eminentes avanços, é indispensável observar os dispositivos referentes aos
crimes contra os infantes, estabelecidos primordialmente no Código Penal e no ECA. Em
contrapartida ao tópico anterior, os crimes sexuais contra menores tendem a possuir
majorantes em razão da inocência e vulnerabilidade atribuída às crianças e adolescentes,
dependentes da proteção de toda a sociedade para terem respeitados seu período de
aprendizado e desenvolvimento.
40
Inserido no título de crimes contra a dignidade sexual, o capítulo referente aos crimes
sexuais contra vulnerável prevê não apenas as condutas contra menores, mas contra todas as
pessoas que estão ou se encontraram vulneráveis de alguma forma. Imprescindível também
mencionar que a seção foi modificada em especial pela lei 12.015/2009. Deste modo, o artigo
217-A, contido como primeiro no capítulo, confere:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência.
§ 2º
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
relações sexuais anteriormente ao crime (BRASIL, 2009).
Desta forma, ele ensina que um juízo não pode estar preso à ideia da presença ou não
da pedofilia, pois seria necessário designações de perícia em cada processo, fato que
acarretaria prejuízo em relação ao princípio da celeridade e justamente, conforme citado,
traria uma certa ocorrência de impunibilidades devido a alegações de transtorno
comportamental psiquiátrico.
41
Em sequência, o artigo 218 do Código Penal em sua redação original previa apenas a
corrupção de menores entre 14 e 18 anos, deixando os abaixo destas idades, desprotegidos.
(ALMEIDA; ALVES, 2016). De modo que, com a lei 12.015/2009, o artigo em questão e
seus subsequentes passaram a vigorar com os seguintes ditames:
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de
outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-
lo a presencial, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia
própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável.
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração
sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir
ou dificultar que a abandone:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.
§ 2º Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as
práticas referidas no caput deste artigo.
§ 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito obrigatório da condenação a
cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento
(BRASIL, 1940).
Logo, com a mudança, o condenado pelos crimes citados perde a possibilidade dos
benefícios de graça, anistia ou indulto, não tendo direito à fiança. Em anuência, Raupp (2014)
ainda afirma que “reconhecer a hediondez do crime de exploração sexual infantil era um
compromisso constitucional do legislador, além de atender a uma expectativa social de que se
reprima com mais rigor delitos desta natureza.”
O Estatuto da Criança e do Adolescente também dispõe acerca da prostituição infantil
em artigo 244-A, estabelecendo pena de reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda
de bens e valores utilizados na prática criminosa (BRASIL, 1990). Concebe-se uma certa
disparidade referente ao crime existente no Código Penal e no Estatuto, sendo que o último
roga por uma proteção mais abrangente aos direitos infringidos, fato que se justifica pois se
trata de uma legislação específica.
No tocante à prática de pornografia infantil, é possível observar ambas as legislações
vigentes, que tratam do crime de acordo com as seguintes disposições:
Código Penal
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, cena de sexo ou
de pornografia
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda,
distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio de
comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática – fotografia, vídeo
ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de
vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado
por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou
com o fim de vingança ou humilhação (BRASIL, 1940).
Estatuto da Criança e do Adolescente
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornografia envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou
divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou
telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou
imagens de que trata o caput deste artigo;
II - assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias,
cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo. [...]
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenas, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou
outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa (BRASIL, 1990).
43
Conforme exposto, é possível averiguar que o Código Penal não dispõe apenas sobre a
pornografia infantil, mas de cena de estupro de qualquer pessoa vulnerável, ainda que em
maioridade. Ademais, algo extremamente positivo integrado em ambas as normas é a previsão
da participação de meios digitais nos delitos, muito crescente nos últimos anos. O ECA, ainda
prevê diversas situações possíveis, empregando todos os verbos necessários para englobar a
conduta, de modo que pune tanto o agente que distribui a pornografia infantil, quanto o que
consome.
Uma outra disposição muito relevante para a sociedade virtual são os artigos 241-C,
241-D do ECA, que tratam:
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo
explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de
fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda,
disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou
armazena o material produzido na forma do caput deste artigo.
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de
comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I - facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito
ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso;
II - pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a
se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita (BRASIL, 1990).
Desta forma, é preciso ainda analisar outros crimes preponderantes na esfera virtual,
visando no interesse do Estado e principalmente, dos legisladores em proteger todos os
cidadãos dos avanços dos atos criminosos.
II - insultos pessoais;
III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos;
IV - ameaças por quaisquer meios;
V - grafites depreciativos;
VI - expressões preconceituosas;
VII - isolamento social consciente e premeditado;
VIII - pilhérias.
Parágrafo único. Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores (
cyberbullying ), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para
depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar
meios de constrangimento psicossocial (BRASIL, 2015).
Desta forma, ainda que não devidamente expresso na legislação do país, o crime de
homofobia e transfobia foram equiparados ao crime de racismo pelo Supremo Tribunal
Federal no ano de 2019, valendo sua decisão enquanto Congresso Nacional não aprovasse lei
versando sobre o tema (G1, 2021). É preciso se ater, no entanto, ao contexto histórico que
possibilitou essa relevante mudança para a sociedade atual.
Em frente à crescente ocorrências de crimes cometidos em detrimento da sexualidade
das vítimas, por parte de ódio e aversão dos agressores, surgiu a necessidade de se falar em
responsabilização jurídica para a homofobia. Logo, na Câmara dos Deputados tramitou o PL
122/2006, que equiparava a prática discriminatória aos crimes já vistos na Lei nº 7.716/89,
que prevê pena para preconceitos de raça, religião, cor ou etnia. Contudo, o projeto de lei não
foi aprovado devido à resistência de grupos conservadores e até o ano de 2014 havia um
consenso jurídico de que os elementos abordados pela Lei 7.716 eram taxativos (CAPEZ,
2021).
Por conta disso, a partir do julgamento do MI 4.733, o STF obteve o entendimento de
que “a homofobia e a transfobia constituem espécies do gênero racismo”, se enquadrando
ainda no conceito de “discriminações atentatórias a direitos e liberdades fundamentais”, de
acordo com o espelhado no artigo 5º XLI da Constituição Federal (BRASIL, 2019). Observa-
se a ementa contendo as respectivas justificativas:
DIREITO CONSTITUCIONAL. MANDADO DE INJUNÇÃO. DEVER DO
ESTADO DE CRIMINALIZAR AS CONDUTAS ATENTATÓRIAS DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS. HOMOTRANSFOBIA. DISCRIMINAÇÃO
INCONSTITUCIONAL. OMISSÃO DO CONGRESSO NACIONAL. MANDADO
DE INJUÇÃO JULGADO PROCEDENTE.
1. É atentatório ao Estado Democrático de Direito qualquer tipo de discriminação,
inclusive a que se fundamenta na orientação sexual das pessoas ou em sua
identidade de gênero.
2. O direito à igualdade sem discriminações abrange a identidade ou expressão de
gênero e a orientação sexual.
3. À luz dos tratados internacionais de que a República Federativa do Brasil é parte,
dessume-se da leitura do texto da Carta de 1988 um mandado
constitucional de criminalização no que pertine a toda e qualquer
discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
4. A omissão legislativa em tipificar a discriminação por orientação sexual ou
identidade de gênero ofende um sentido mínimo de justiça ao sinalizar que o
sofrimento e a violência dirigida a pessoa gay, lésbica, bissexual,
transgênera ou intersex é tolerada, como se uma pessoa não fosse digna de viver
em igualdade. A Constituição não autoriza tolerar o sofrimento que a discriminação
impõe.
5. A discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero, tal como qualquer
forma de discriminação, é nefasta, porque retira das pessoas a justa expectativa
de que tenham igual valor.
6. Mandado de injunção julgado procedente, para (i) reconhecer a mora
inconstitucional do Congresso Nacional e; (ii) aplicar, até que o Congresso
Nacional venha a legislar a respeito, a Lei 7.716/89 a fim de estender a
tipificação prevista para os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de
50
É possível verificar que por agir com urgência e dentro de seus encargos de
interpretação perante a Carta Magna, a Suprema Corte demonstrou que há um certo atraso na
legislação brasileira, no que pese em legislar sobre assuntos voltados aos direitos humanos
relacionados à comunidade LGBTQIA+, em decorrência da existência e permanência de
discursos conservadores (CAPEZ, 2021).
Apesar do notável avanço promovido pelo STF, o autor supracitado ainda adverte
sobre danos diretos à segurança jurídica, proveniente desses atos, podendo-se observar:
[...] o novo entendimento do STF, além de violar os princípios da legalidade e da
reserva legal, criou um tipo penal genérico, trazendo insegurança jurídica quanto aos
fatos que devam ou não ser enquadrados na Lei de Racismo, a título de delito de
discriminação por orientação sexual.
A Lei Carolina Dieckmann é definida como o primeiro marco criado no Brasil para
regular exclusivamente crimes digitais. Entretanto, também apresenta grandes lacunas por
conta da natureza branda das penas impostas. Em comparação com os Estados Unidos da
América, a lei brasileira é passada para trás, pois o solo norte-americano conta com normas
que preveem penas a partir de 10 anos de detenção em casos de invasão informática.
Contando ainda que o Brasil carece de um corpo representativo de profissionais treinados em
perícia digital para lidar com referidos delitos, o que acaba por muitas vezes prescrevendo o
crime e resultando na impunibilidade (LOPES, 2013).
Logo, verifica-se e conclui-se através das críticas, que apesar de ter sido o primeiro ato
normativo sobre crimes informáticos em geral, a Lei nº 12.737/12, além de não se configurar
sozinha, pois altera o Código Penal, possui redação rasa e punições em desacordo com a
gravidade dos delitos e a celeridade existente na investigação criminal.
São ainda tecidas críticas oportunas à redação que alterou o Código Penal (BRASIL,
1940), que levam em consideração os artigos presentes, dentre o conceito de “invasão” de
dispositivo informático e as finalidades do crime. Nesta perspectiva, Beretta (2014) indica
prontamente suas reflexões:
[...] A simples invasão, no entanto, (invadir por invadir) não configura o crime, vez
que se exige a finalidade específica de obter, adulterar ou destruir dados e
informações, de acordo com a estrita legalidade em matéria penal. Em segundo
lugar, o tipo penal do artigo 154-A não fornece a definição exata de “mecanismo de
segurança”, questão fulcral para cometimento ou não do crime, assim, se o
dispositivo invadido não possuir qualquer tipo de proteção (senha, antivírus, firewall
etc.), a conduta será atípica, uma vez inexistente a modalidade culposa. Por último,
estabelece que este mecanismo deva ser indevidamente violado, invadido,
devassado.
O autor ainda explica de modo exemplificativo que a existência de caso atípico, onde
uma pessoa pode permitir o acesso de outra a seu computador e esta se favorecer da situação
para praticar atividades de má-fé ou criminosas. Entende-se que a proposta da Lei Carolina
Dieckmann não abrangeu mais de uma possibilidade, por inclusive não especificar os
mecanismos de segurança, não abordando de nenhuma maneira a realidade digital e os meios
processuais que devem ser adotados para garantir a punibilidade e a segurança jurídica.
Conforme já mencionado previamente, outra crítica muito pertinente é em relação às
penas impostas pela lei em questão. Pode-se observar após modificação, que o artigo 154-A
do Código Penal (BRASIL, 1940) possui pena de detenção de três meses a um ano e multa
(BRASIL, 2012), promovendo uma tímida repressão estatal, não atingindo sequer um caráter
meramente intimidatório aos reais infratores (BERETTA, 2014).
55
É possível extrair dos notáveis posicionamentos até então, que a Lei Carolina
Dieckmann, foi muito importante para a urgência que a época demandava, porém, poderia ter
sido mais aperfeiçoada, de modo a trabalhar melhor os dispositivos informáticos, prevenir os
crimes cibernéticos e remediá-los indicando medidas investigativas e atos processuais
apropriados, incluindo penas mais severas e disposições correlatas.
Entretanto, uma legislação recente datada de 27 de maio de 2021 trouxe a alteração
das penas incorridas no artigo 154-A do Código Penal (inserido pela Lei de 2012), ao passo
que o dispositivo em questão passou a ter a pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa
(BRASIL, 2021).
A lei mencionada é a de nº 14.155/21 e teve como intuito ampliar as penas de crimes
praticados com o uso de aparelhos eletrônicos (dentre estes computadores, celulares e tablets)
e punir com maior rigor as fraudes que têm-se tornado comuns durante a pandemia do Covid-
19, sendo estelionato e furto os delitos mais destacados (CÂMARA, 2021).
Por ser medida posterior à Lei Carolina Dieckmann e alterar a pena de seu principal
artigo, é mais que relevante trazer os aspectos da Lei 14.155/21 e os fatores sociais que
culminaram em sua promulgação.
Além de majorar a pena trazida no artigo 154-A do Código Penal sobre invasão de
dispositivo informático, a lei atual torna agravante o crime de furto qualificado por meio
eletrônico, estipulando pena de quatro a oito anos e multa, aumentando em 1/3 ao dobro se
praticado contra idoso ou vulnerável (BRASIL, 2021).
Apesar de não solucionar todas as problemáticas levantadas por diversos
doutrinadores, pode-se afirmar que a lei de 2021 veio para combater a impunibilidade e
ressalvar a justiça nos crimes relacionados no Código Penal e na Lei Carolina Dieckmann,
demonstrando que sempre é possível buscar melhorias e por bem recebê-las no âmbito
jurisdicional brasileiro.
Entretanto, apesar de apresentar um viés até que positivo, a atual redação do projeto
encontra resistência dos jogadores, times e empresas desenvolvedoras de jogos, que temem
que a atual proposta trave o crescimento do setor e isole o Brasil das competições
internacionais. As instituições de esports afirmam ainda que estes não podem ser
simplesmente enquadrados como esportes “tradicionais”, similares a vôlei ou futebol
(BAPTISTA, 2019).
Outra questão muito preocupante que está ocasionando sérias discussões é a exclusão
de jogos considerados violentos nos esportes eletrônicos, pois acarretaria o não
reconhecimento de atletas que disputam campeonatos de jogos populares como Counter Strike
e Rainbow Six (BAPTISTA, 2019). Do texto final revisado do projeto de lei nº 383/17 extrai-
se o motivo integral da disparidade mencionada:
58
Art. 2º [...]
§ 3º Não se considera esporte eletrônico a modalidade que se utilize de jogo com
conteúdo violento ou de cunho sexual, que propague mensagem de ódio, preconceito
ou discriminação ou que faça apologia ao uso de drogas, definida em decreto
(SENADO, 2017).
eletrônicos são definidamente, um tipo de esporte, ainda que não pertencente às classes do
esporte tradicional, pois possui aspectos distintivos e utiliza-se de um cenário fictício
desvinculado da realidade (TEXEIRA, 2017).
Sendo assim, é mais que necessário concluir que a Lei Pelé não possui um caráter
exclusivo ou taxativo, abrindo diversas interpretações e discussões sob o âmbito legislativo
desportivo nacional.
normativamente em benefício a uma das classes mais vulneráveis apenas procura alcançar
resultados favoráveis (BOCCHI, 2021).
Um exemplo de um caso real sobre a utilização de mensagens pré-definidas para
crianças e adolescentes é o jogo online Club Penguin (2005-2017), que disponibilizava
controle parental completo para configurar a conta do jogo, permitindo ao usuário que este
enviasse ou não mensagens digitadas via chat. Ademais, alguns de seus servidores apenas
possuíam a possibilidade de envio de mensagens já definidas, como saudações e demais
assuntos pertinentes à jogabilidade (ZORZAL; PIROLA, 2015).
Inserido na mesma perspectiva, a China promulgou em setembro de 2021, uma lei que
diminui o limite ao acesso de menores de 18 anos a jogos eletrônicos, tendo como finalidade
controlar melhor a exposição dessa faixa etária. Já em 2018, o governo chinês exigiu, para
que pudesse aprovar a comercialização dos jogos online, que as empresas desenvolvedoras
criasses mecanismos de identificar o jogador e sua idade, a fim de limitar o período de
utilização deste. A empresa Tencent foi uma que chegou a criar sistemas de reconhecimento
facial para impossibilitar que as regras definidas fossem burladas (BOCCHI, 2021).
O autor acima ainda indica que as normas, embora não tenham sido bem recebidas por
alguns setores de jogos como os e-sports, não tiraram a China da liderança do ranking no
mercado de jogos mundial. Logo, verifica-se após as informações expressas, que os
mecanismos desenvolvidos, como o reconhecimento facial e a coleta de demais dados, podem
ser adotados no Brasil para obter a identidade real de todos os jogadores online e garantir a
punibilidade dos que cometerem infrações nestes âmbitos, facilitando a investigação criminal.
Apesar de possuir caráter preventivo, muitas medidas surgem após fortes
acontecimentos relacionados aos crimes virtuais, como é o caso do Japão, que buscou
atualizar sua lei anti bullying após o suicídio de uma figura pública do país, que vinha
sofrendo muitos ataques em suas redes sociais (TERRA, 2020).
Em viés de melhor compreensão, sabe-se que agressões e ofensas virtuais vieram a
ceifar a vida de Hana Kimura, ex-participante do reality show “Terrace House” no Japão.
Após nove meses de seu envolvimento no programa, Hana foi encontrada morta na cidade de
Tóquio, junto de várias cartas de suicídio. Esta vinha sofrendo comentários extremamente
negativos e até criminosos, referentes ao seu comportamento no programa, sendo um alvo
constante de muito ódio, irracionalidade e fake news. O tenebroso acontecimento chocou o
país e o mundo, tendo escancarado a realidade do cyberbullying e desencadeado iniciativas
dos governantes japoneses, que reunirem-se para discutir a criação de novas normas
reguladoras (MACHADO, 2021).
62
A partir das frutíferas análises desenvolvidas, pode-se entender que o Brasil, enquanto
país rico e detentor de ilustres legislações em diversos segmentos, deve se aprimorar no que
concerne à segurança criminal no âmbito dos jogos online, importante área em crescimento,
conforme visto. É aproximado o conhecimento absorvido pertinente a métodos facilitadores
de perícia e investigação na internet, cabíveis de serem estudados e implantados por exímios e
comprometidos legisladores. Importante ainda frisar que referidas mudanças não ocorrem tão
rapidamente quanto à demanda social, devendo o Estado prover medidas temporárias ou
permanentes que considerar adequadas para garantir a prevenção e punibilidade dos
crescentes delitos virtuais.
Dessa forma, conclui-se que a legislação federal brasileira necessita de avanços e
disposições acerca da criminalidade iminente dentro dos jogos virtuais, por conta de se manter
ainda inerte nesta área, de modo que pode aprender e inspirar-se em providências tomadas por
estados de seu território e outros países, alcançando a finalidade de complementar e manter
sempre atualizada suas matérias de acordo com os avanços sociais.
63
5 CONCLUSÃO
A análise realizada acerca da legislação brasileira frente os crimes virtuais nos jogos
online abordou sua extrema relevância social, através dos dispositivos elencados partidos do
Código Penal e outros decretos, em comparação com os casos cotidianos decorridos do atual
cenário brasileiro de jogos.
Convém admitir que os fatos elucidados do objeto referido resultaram em fartas
conclusões, considerando as linhas doutrinárias apresentadas conjuntamente com o
conhecimento jurídico adquirido pelas normas legislativas.
Dentre os tópicos analisados a fundo, pôde-se compreender a imensidão que é o
espaço virtual da World wide web e o que esta representa para a sociedade em termos de
melhorias e avanços tecnológicos, por proporcionar uma comunicação rápida e prática, bem
como o ágil compartilhamento de dados.
A fundo deste entendimento, foi possível mensurar o surgimento da modalidade de
jogos acoplados à internet, denominados jogos online. Seu espaço passou a abrigar diversas
crianças e jovens de diferentes nações, com a única finalidade de obter lazer e entretenimento.
Com a expansão deste meio, observou-se o aparecimento de conflitos e crimes, já
preexistentes nas redes. Algumas das situações ilustradas indicaram prontamente a realidade
de muitas pessoas que sofreram com a incidência de crimes na internet e nos jogos virtuais. A
partir dessa perspectiva, cita-se os casos vistos sobre o cyberbullying desferido contra a ex-
participante do reality show “Terrace House” e as denúncias realizadas por responsáveis sobre
aliciamento de menores nas ferramentas de chat disponibilizadas pelas empresas de games.
No mesmo viés, após exaustas análises de dispositivos do Código Penal, Lei Carolina
Dieckmann, Lei Pelé, Estatuto da Criança e do Adolescente e outras, foram extraídos alguns
importantes pontos, tecendo considerações à pesquisa realizada. Os mecanismos observados
consistiram no fato de que as leis muitas vezes são alterações ao Código Penal, com poucos
artigos.
Tem-se como primeiro ponto que o ambiente trazido pelos jogos digitas despertou
preocupações em muitas pessoas, em relação aos crimes que pode encobrir e facilitar, que
atinge em maior parte os infantes e adolescentes. O receio existente está correto a partir do
momento que foi possível compreender que a legislação não oferece um amparo direto a essas
vítimas, por ter-se analisado se tratar de um assunto muito atual e moderno, que ainda não
obteve a devida atenção do legislativo.
64
Como segundo ponto, foi possível apurar que apesar de ser um meio para atos
criminosos, o virtual pode e deve ser explorado a fim de se adquirir experiências positivas,
conforme defendido pela corrente doutrinária de Pierry Levy. Concorda-se com o autor na
perspectiva de que a realidade virtual comporta valores culturais e constantes atualizações,
além de, em conformidade com as soluções propostas no último tópico, propiciar rápidas
comunicações e o desenvolvimento de ferramentas e softwares para a identificação de
usuários e facilitação em vias de investigação e inquérito criminal.
Em terceiro ponto, o presente trabalho também esbarrou em outras relevantes pautas
sociais, que inclusive não recebem a devida atenção da legislação brasileira, podendo
comparar a falta de previsão sobre o crime de homofobia, falta de políticas públicas para
acolher menores de idade vítimas de crimes sexuais e muitas outras com os crimes virtuais
nos jogos online, que por si mesmos podem conter a incidência dos últimos atos criminosos
citados.
Já finalmente, no quarto e último ponto, observou-se medidas adotadas por empresas e
governantes de diferentes nações contra iminência e proliferação de crimes virtuais que
podem e devem certamente, serem levadas como exemplo e estudadas para serem utilizadas
tanto na internet como um todo, mas principalmente, na esfera dos jogos eletrônicos. Este
ponto e sua importante conclusão é a mais defendida, considerando que o corrente trabalho
não detinha como objetivo apenas destacar disfuncionalidades e defeitos concretos na
legislação brasileira, mas sim apontar como esta pode se reinventar e acolher a termos de
igualdade e equidade, todas as injustiças que vierem a surgir na sociedade, prevendo uma
apropriada responsabilização.
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