Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CRIMINOLOGIA CRÍTICA:
A INSUFICIÊNCIA DO MODELO DE PENSAMENTO MARXISTA PARA EXPLICAR
A OCORRÊNCIA DE CRIMES PATRIMONIAIS NA MICRORREGIÃO DE
CRICIÚMA
Palhoça
2018
Palhoça
2018
2
CRIMINOLOGIA CRÍTICA:
A INSUFICIÊNCIA DO MODELO DE PENSAMENTO MARXISTA PARA
EXPLICAR A OCORRÊNCIA DE CRIMES PATRIMONIAIS NA
MICRORREGIÃO DE CRICIÚMA
_________________________________________
Prof. eorientador Priscila de Azambuja Tagliari, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
_________________________________________
Profa.
Universidade do Sul de Santa Catarina
_________________________________________
Prof.
Universidade do Sul de Santa Catarina
3
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
TÍTULO DA MONOGRAFIA:
SUBTÍTULO DA MONOGRAFIA
4
Dedico este trabalho aos meus
sogros, Sr. Rubens de Braga e Sra.
Rosalina Maria Braga, sem os quais
este sonho seria impossível.
5
AGRADECIMENTOS
6
RESUMO
7
LISTA DE TABELAS
8
LISTA DE GRÁFICOS
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 11
2 A CRIMINOLOGIA CONTEMPORÂNEA .................................................. 13
2.1 CRIMINOLOGIA .................................................................................. 13
2.1.1 Conceito ....................................................................................... 13
2.1.2 Históriada criminologia ................................................................. 15
2.2 ESCOLAS CRIMINAIS ........................................................................ 17
2.2.1 Escola Clássica ............................................................................ 17
2.2.2 Escola Positiva ............................................................................. 18
2.2.3 Escola de Chicago ........................................................................ 20
3 MOVIMENTOS DE POLÍTICAS CRIMINAIS ............................................. 24
3.1 ABOLICIONISMO PENAL ................................................................... 25
3.2 MOVIMENTO DA LEI E DA ORDEM .................................................. 26
3.2.1 Conserto de Janelas Quebradas .................................................. 27
3.2.2 Tolerância Zero............................................................................. 28
3.2.3 Direito Penal do Inimigo ................................................................ 29
3.2.4 Direito Penal Mínimo .................................................................... 31
3.3 CRIMINOLOGIA CRÍTICA .................................................................. 32
3.4 A DIALÉTICA MARXISTA ................................................................... 34
4 O FATOR SOCIOECONÔMICO E OS CRIMES PATRIMONIAIS ............ 37
4.1 UMA VISÃO GERAL DA ECONOMIA DA MICROREGIÃO DE
CRICIÚMA .................................................................................................... 37
4.2 OS CRIMES PATRIMONIAIS NA MICRORREGIÃO DE CRICIÚMA.. 43
5 A INSUFICIÊNCIA DO PENSAMENTO MARXISTA ................................. 51
6 CONCLUSÃO ........................................................................................... 54
10
1. INTRODUÇÃO
11
marxista é suficiente para explicar a variação do número de ocorrências dos
crimes de furto e roubo de veículos.
Para o trabalho foi utilizado o método indutivo, partindo-se da
especificidade encontrada na Microrregião de Criciúma para uma análise geral
da teoria presente na Criminologia Crítica, com auxílio de indicadores
quantitativos sobre o crime e a economia.
O método de procedimento é o monográfico-estatístico, e as
técnicas de pesquisa, a bibliográfica, fundamentada nos estudos referentes à
Criminologia Crítica, e a documental, baseada em dados extraídos do Sistema
Integrado de Segurança Pública, da Secretaria de Segurança Pública do
Estado de Santa Catarina.
Assim, no capítulo dois é abordado o estudo da Criminologia
Contemporânea, sendo abordado seu conceito, histórico e principais escolas.
No capítulo seguinte, analisam-se os movimentos de políticas criminais, bem
como o papel da Criminologia na formação de políticas públicas. O capítulo
quatro aborda o fator socioeconômico e os crimes patrimoniais, analisando a
correlação existente entre os dois temas. O capítulo cinco trata do pensamento
marxista aplicado à criminologia e seus reflexos. Após, apresenta-se a
conclusão do trabalho.
Por fim, é importante destacar o papel fundamental que a ciência da
criminologia ocupa na sociedade. Serve, sobretudo, para entender o fenômeno
do crime e possibilitar o fortalecimento da justiça criminal. Partindo-se do
pressuposto de que a Criminologia está inserida numa relação triangular entre
a Política Criminal e o Direito Penal, imperioso entender o crime para que esse
sistema funcione de forma ajustada. Desse modo, políticas públicas
integradoras também podem ser utilizadas para redução da criminalidade,
evitando-se que o único viés para resolução dos conflitos sociais seja através
do sistema punitivo.
12
2 A CRIMINOLOGIA CONTEMPORÂNEA
2.1 CRIMINOLOGIA
2.1.1 Conceito
13
Para Lira, a criminologia se enquadra na categoria de ciências sociais e
humanas (1964 apud YOSHIDA, 2008). Corroborando com esse entendimento,
Perrangeli e Zaffaroni enfatizam a importância prática da criminologia e seu
reflexo no controle social (1999 apud YOSHIDA, 2008). Já Elbert, afirma a
criminologia como disciplina científica, com métodos e objetos próprios (2000
apud YOSHIDA, 2008). Nesse mesmo ponto, Dias ressalta o caráter de
interdisciplinaridade da criminologia (1997 apud YOSHIDA, 2008). Por fim,
defendendo a positivação científica deste ramo de pesquisa, conceitua-se:
14
[...] a criminologia vê o crime como um problema social, um
verdadeiro fenômeno comunitário, abrangendo quatro elementos
constitutivos, a saber: incidência massiva na população (não se pode
tipificar como crime um fato isolado); incidência aflitiva do fato
praticado (o crime deve causar dor à vítima e à comunidade);
persistência espaço-temporal do fato delituoso (é preciso que o delito
ocorra reiteradamente por um período significativo de tempo no
mesmo território) e consenso inequívoco acerca de sua etiologia e
técnicas de intervenção eficazes (a criminalização de condutas
depende de uma análise minuciosa desses elementos e sua
repercussão na sociedade).
15
A doutrina não é pacífica quanto ao surgimento da criminologia
comociência, sendo certo, contudo, que houve uma importante fase pré-
científica (DIAS, 1997). Os primeiros estudos da criminologia como ciência, o
que doutrinariamente se convencionou denominar como Escola Clássica, teve
forte orientação teórica iluminista e do Direito Penal clássico, valendo-se de
ideais filosóficos e metafísicos para interpretação do racionalismo humano
(MOLINA, 2002). Assim, restava indagar a respeito da lei (DIAS, 1997).
16
em que ele é formado. Posteriormente, surgindo as teorias do labelling
approach, a qual se fundamenta na sociologia criminal.
17
que possibilitava aos homens viver em sociedade em troca de parcela de suas
liberdades e direitos individuais (SAMPAIO, 2012).
18
os Clássicos. Utilizava-se do método empírico-indutivo para observar o
fenômeno do crime e fundamentar suas teorias, conformando-as ao causalismo
explicativo defendido pelo positivismo (SAMPAIO, 2012).
Rafael Garófalo era jurista e por este motivo suas teorias possuíam esse
viés. Acreditava que o crime estava presente no homem e se manifestava com
sua degeneração. Assim, cada um possuía um nível de periculosidade, sendo
este o propulsor do delinquente e a porção de maldade que deve se temer em
face deste. Garófalo também defendeu a aplicação de outra forma de
intervenção penal, sendo esta a medida de segurança. Para ele os criminosos
19
eram classificados em natos, fortuitos e de defeito moral especial (SAMPAIO,
2012).
20
(2011), houve uma nova mudança de paradigma, passando-se a conceber o
crime, a criminalidade e o sistema penal segundo novos pressupostos,
fundados, principalmente, nos processos de criminalização.
21
(família, igreja, associações comunitárias). Por outro, vão se formando ao
entorno do centro econômico produtivo da cidade áreas concêntricas, onde a
criminalidade se desenvolve em diferentes níveis (teoria das Zonas
Concêntricas).
22
Dessa forma, analisando as Escolas Criminais, seus fundamentos
teóricos e evolução histórica, é possível compreender que a Criminologia é o
resultado de diversas influências da dogmática penal e dos movimentos
sociais. Agora, mister se faz, portanto, entender em que medida ocorre a
interação entre os sistemas de criminalização e de justiça.
23
3 MOVIMENTOS DE POLÍTICAS CRIMINAIS
24
podendo haver maior ou menor grau de intervencionismo como forma de
reação ao delito.
Quanto maior a intervenção estatal, maior é a utilização do direito penal
como instrumento de controle social. Ao passo que quanto menor; mais são
usados mecanismos informais de controle social.
Por conseguinte, os diferentes níveis de crença no controle estatal,
formal, criam movimentos de política criminal que “deslegitimam” ou “re-
legitimam” o direito penal (GOMES; BIANCHINI, 2013). Nesse contexto, os
movimentos de política criminal dividem-se entre dois grandes grupos: os
movimentos político-criminais punitivistas/repressivistas e os movimentos não
intervencionistas ou não repressivistas (HAUSER, 2010).
Sistema Penal em Questão. Obra que serviu de inspiração para muitos autores, dentre eles
Eugenio RaúlZaffaroni.
25
cumprir e o castigo de quantos se julguem que a descumpriram” (GOMES;
BIANCHINI, 2013).
O sistema penal é incontrolável, desigual, seletivo, estigmatizador,
expropriador dos direitos das vítimas, além de distribuir sofrimentos
desnecessários a todos. Para fundamentar sua perspectiva abolicionista
sugere que a prisão como pena seja avaliada a partir de “um olhar de dentro”
(HAUSER, 2010).
O mesmo autor assim preleciona:
Analisando as cifras-ocultas da criminalidade, Hulsmann observa que
a lógica de operacionalidade do sistema penal é a impunidade e não
a criminalização. Isso significa que a maior parte dos
comportamentos criminosos realizados não são punidos, o que indica
que “a criminalização efetiva é um evento raro e excepcional”.
Partindo desta premissa (a da baixa funcionalidade do sistema penal)
sustenta ser possível a utilização de reações diversas, distintas da
punição, como a compensação, a mediação, a terapia, a educação,
entre outros (HULSMANN, 1993 apud HAUSER, 2010).
27
formularam a teoria das janelas quebradas (SAMPAIO, 2012). Porquanto um
espaço urbano seja preservado em ordem, esta ordem deve se manter com
mais facilidade, afastando-se ou reduzindo a possibilidade de delinquência no
local.
Nesta perspectiva, a eficiência do combate à criminalidade exige a
eliminação das pequenas infrações cometidas no dia a dia, pois “é lutando
passo a passo contra os pequenos distúrbios cotidianos que se faz recuar as
grandes patologias criminais” (WAQUANT, 2001apud HAUSER, 2010).
28
da pobreza queincomoda ou daquela parcela da população que
causa incidentes, desordens e que, por isso, é vista como a
responsável por toda a insegurança social (HAUSER, 2010).
29
e garantias inerentes ao Direito Penal liberal, índole garantista. Logo, destinar-
se-ia aquele indivíduo que mesmo cometendo crime teria condições mínimas
de garantir que voltaria a agir em obediência aos conteúdos de proibição das
normas penais (HAUSER, 2010).
No entanto, o Direito Penal do Inimigo seria aquele em que não há
assegurada aplicação de garantias penais e processuais. Destinar-se-ia
aquelas pessoas contrárias ao Estado Democrático de Direito, aqueles que
optaram pela delinquência como princípio e violam sistematicamente as
normas. Segundo Hauser (2010), o fundamento para aplicação do direito penal
do inimigo seria a eliminação de um perigo e não a vigência da norma, como
ocorreria na aplicação do direito penal para o cidadão.
Greco (2012) afirma que, em se tratando do Direito Penal do Inimigo,
existem dois pólos de regulações: por um lado, o trato com o cidadão, em se
espera até que este exteriorize seu fato (crime) para reagir, com o fim de
proteção da norma e da sociedade, e, por outro, o trato com o inimigo, que é
interceptado prontamente em seu estágio prévio e que se combate por sua
periculosidade. Trata-se de um estado de guerra, no qual não se espera o
ataque do inimigo para reagir.
Caracterizado pelo adiantamento da punibilidade, pelas penas
desproporcionalmente altas e pela relativização ou supressão de garantias
processuais (MELIÁ, 2007 apud GRECO, 2012), o Direito Penal do Inimigo no
Brasil se relaciona ao direito penal de terceira velocidade.
Na visão de Rogério Greco (2012):
Embora ainda com certa resistência, tem-se procurado entender o
Direito Penal do Inimigo como uma terceira velocidade. Seria,
portanto, uma velocidade híbrida, ou seja, com a finalidade de aplicar
penas privativas de liberdade (primeira velocidade), com uma
minimização das garantias necessárias a esse fim (segunda
velocidade).
30
Trata-se de aproximação, perigosa, como fora na Alemanha nazista, do
Direito Penal do autor e não do fato (GRECO, 2012). Além disso, fundamenta a
aplicação da pena na periculosidade (e não na culpabilidade), possibilidade a
aplicação de penas desproporcionais e afasta o conceito da pessoa humana
como fim do direito (HAUSER, 2010). No mesmo sentido, Zaffaroni (apud
HAUSER, 2010) alerta para a migração para um Estado de Polícia.
31
do Estado. Contempla, ainda, ser este o princípio responsável pela constituição
da estrutura normativa dos Estados Constitucionais de Direito (HAUSER,
2010).
Na visão de Hauser (2010),
enquanto o modelo de Ferrajoli nega o abolicionismo, a partir de
critérios ético-políticos, reafirmando a racionalidade e, portanto, a
legitimidade do Direito Penal e da intervenção punitiva estatal
mínima, o modelo proposto por Baratta aparece como uma resposta
política criminal alternativa para a crise de legitimidade que assola os
sistemas penais contemporâneos que, não obstante defenda a ideia
da intervenção penal mínima, não nega a possibilidade de se chegar,
a longo prazo, a outros instrumentos de resolução de conflitos, menos
violentos e mais eficazes que o Direito Penal.
32
Segundo Baratta, as teorias conflituais dividem-se em marxistas e não-
marxistas, de modo que as teorias conflituais não-marxistastratam-se de
sociologia criminal liberal, com avanços em relação às concepções positivistas,
mas ainda presas ao pensamento tradicional (LOPES, 2002).
Nesse contexto, ocorreu uma mudança gradual no pensamento
criminológico, tem-se a passagem para as análises críticas, as quais não
representam uma solução de continuidade (LOPES, 2002).A análise crítica se
diferencia do pensamento liberal pois trata do conflito como luta de classes
(conforme os modos de produção e infraestrutura socioeconômica da
sociedade capitalista) e contesta os processos discriminatórios de seleção de
condutas desviadas (BARATTA, 1999 apud LOPES, 2002).
Nesse viés, o labelling approach representa condição necessária, mas
insuficiente para formação da criminologia crítica (SANTOS, 2005). Santos
(2005) define com perfeição o conceito de criminologia crítica:
a Criminologia crítica é construída pela mudança do objeto de estudo
e do método de estudo do objeto: o objeto é deslocado da
criminalidade, como dado ontológico, para a criminalização, como
realidade construída, mostrando o crime como qualidade atribuída a
comportamentos ou pessoas pelo sistema de justiçacriminal, que
constitui a criminalidade por processos seletivos fundados em
estereótipos, preconceitos e outras idiossincrasias pessoais,
desencadeados por indicadores sociais negativos de marginalização,
desemprego, pobreza, moradia em favelas etc; o estudo do objeto
não emprega o método etiológico das determinações causais de
objetos naturais empregado pela Criminologia tradicional, mas um
duplo método adaptado à natureza de objetos sociais: o método
interacionista de construção social do crime e da criminalidade,
responsável pela mudança de foco do indivíduo para o sistema de
justiça criminal, e o método dialético que insere a construção social
do crime e da criminalidade no contexto da contradição
capital/trabalho assalariado, que define as instituições básicas das
sociedades capitalistas.
33
Para a criminologia crítica há uma economia política do crime, com uma
teoria materialista do desvio e da criminalização. O capitalismo contemporâneo
e suas estruturas legais são determinantes das mudanças normativas, as quais
tem por objetivo regular a manutenção da divisão entre classes. Assim, a
justiça penal é manipulada pelas classes dominantes em detrimento das
classes trabalhadoras, servindo apenas como administradora da criminologia
(LOPES, 2002). O direito penal está a serviço da parcela social detentora de
poder político-econômico, sendo o crime um subproduto do processo de
criação e aplicação das leis.
34
mas uma transformação essencial do objeto, uma mudança de qualidade
(KOSÍK, 1976).
35
capitalista) é relevante para a formação da estrutura social, (2) o foco está nos
processos, sendo as mudanças de qualidade e não de espécie ao longo da
história e (3) há uma unidade de contrários, sendo aspectos diferentes de um
mesmo evento.
36
4 O FATOR SOCIOECONÔMICO E OS CRIMES
PATRIMONIAIS
37
O Sul Catarinense teve destaque econômico a partir da colonização não
açoriana, no final do século XIX, com a vinda de imigrantes italianos e alemães.
Após a década de 1880, a região começou a ganhar maior importância
econômica devido a extração de carvão e a construção da ferrovia. De modo
que entender a economia do carvão é importante pois se trata de uma
atividade dinamizadora da economia local/regional até um período bem
recente, a qual tem forte influência no processo de organização social e
econômica da região(NIEDERLE; GUILARDI, 2013).
A região também apresenta expressiva agricultura familiar, a qual se
desenvolveu e hoje representa um dos principais complexos de produção de
arroz do Brasil. Na região também é representativa a indústria da
transformação, na qual se destaca o setor cerâmico.
Segundo dados do IBGE, a população da mesorregião Sulde Santa
Catarina representa 15% da população total do estado, tendo crescido na
década de 2000 a uma taxa média anual de 1,2%. Observa-se, contudo, a
diminuição da população rural, a qual decresceu no mesmo período 19,8%
enquanto a população urbana cresceu 23,8%.
Na microrregião de Criciúma esses números são ainda mais
expressivos. A variação percentual da população entre os anos de 2000 e 2010
foi de 13,75%, enquanto o crescimento da população urbana foi de 23,75% e a
redução da população rural,33,63%.
Situação do Var. %
2000 2010
domicílio 2000/2010
Total 5.356.360 6.248.436 16,70
Santa
Urbana 4.217.931 5.247.913 24,40
Catarina
Rural 1.138.429 1.000.523 -12,10
Total 822.671 925.065 12,45
Sul
Urbana 608.230 753.156 23,83
Catarinense
Rural 214.441 171.909 -19,83
Total 234.747 369.398 13,75
Microrregião
Urbana 268.172 331.850 23,75
de Criciúma
Rural 56.575 37.548 -33,63
Fonte: IBGE (elaboração do autor).
38
Dentre as microrregiões do Sul Catarinense, a de Criciúma foi a que
registrou a maior variação populacional urbana (acréscimo) e rural
(decréscimo), sendo a que mais contribuiu para que a mesorregião Sul
registrasse aproximadamente 81% da população residente em área urbana no
ano de 2010 (BRASIL, 2010).
Quanto aos aspectos econômicos, a região do Sul Catarinense é a
quinta mais rica do estado, tendo representado cerca de 10,8% do PIB
catarinense em 2010. Observa-se, contudo, que no período de 2000-2010
houve redução da participação da região no PIB de todo estado, que em 2000
era de 12,8% (SANTA CATARINA, 2013).
Em termos setoriais o comportamento do PIB da região Sul Catarinense
se manteve sem grandes oscilações durante a década de 2000, representando,
em 2010, na participação do Valor Adicionado Bruto, 7% na Agropecuária, 36%
na Indústria e 57% em Serviços (SANTA CATARINA, 2013).
Com relação à distribuição do desempenho desses setores nas
microrregiões (Tubarão, Criciúma e Araranguá), comportamento do Sul
Catarinense no período de 2000-2010 foi marcado por uma tendência de
desconcentração regional. A microrregião de Criciúma, que chegou a
representar 52% do PIB do Sul Catarinense no início do período, teve sua
participação reduzida em 6% ao final dele, concentrando 46% do PIB (BRASIL,
2010 e SANTA CATARINA, 2013).
Além do quanto é produzido e da distribuição desta produção, é
importante ser analisado o aspecto do mercado de trabalho na região. Através
de indicadores econômicos como população em idade ativa (PIA6), população
economicamente ativa (PEA7) e taxa da ocupação da mão-de-obra é possível
verificar o impacto do desempenho econômico no mercado de trabalho.
Através dos dados da população economicamente ativa e da população
ocupada é possível calcular a taxa da população que se encontra desocupada
(taxa de desemprego). Este é um dos principais indicadores macroeconômicos
6
Compreende a população economicamente ativa e a população não economicamente ativa (IBGE).
7
Compreende o potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a população
ocupada e a população desocupada, assim definidas: população ocupada - aquelas pessoas que, num
determinado período de referência, trabalharam ou tinham trabalho mas não trabalharam (por exemplo,
pessoas em férias) (IBGE).
39
monitorados pelo governo, ao lado da taxa de inflação e crescimento da
produção.
Entre os anos de 2000 e 2010, a população economicamente ativa na
microrregião de Criciúma como um todo cresceu 34,2% e o montante de
pessoas ocupadas cresceu 44,9%, taxas bem superiores ao aumento da
população em idade ativa (de dez anos ou mais de idade) que cresceu 20,8%
no período. Quanto à proporção de pessoas desempregadas, a microrregiãode
Criciúma apresentou também bom desempenho no período, alterando o
percentual de 11,3% de taxa de desocupação em 2000 para 4,2, em 2010.A
microrregião que apresenta a maior taxa de desemprego no período é a de
Criciúma, sendo também a que teve a maior redução (SANTA CATARINA,
2013).
40
crescimento populacional se comparado às demais microrregiões do Sul
Catarinense, destacando-se a grande redução da população rural nesse
período.
Por outro lado, ainda que seja possível analisar a economia da
microrregião de Criciúma e afirmar que houve melhora em diversos índices
econômicos, isso não garante que houve desenvolvimento. Ou seja, apenas a
dimensão econômica do desenvolvimento não assegura que houve melhora de
vida para as pessoas.
Nesse sentido, indicadores como o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) e o Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM) auxiliam na
análise sobre o desenvolvimento de determinada região. Apresentam-se como
verdadeiro contraponto às análises puramente econômicas do PIB per capita e
taxa de ocupação da mão-de-obra, levando também em consideração fatores
sociais como expectativa de vida, educação e saúde, além da renda.
O IDH municipal (IDH-M) em todas as cidades da microrregião de
Criciúma apresentou variação positiva no período 2000-2010. Índices que
foram superiores à média nacional no mesmo período, que era de 0,727. A
cidade de Criciúma, seguindo a tendência apresentada na economia,
apresenta o maior IDH-M da região, sendo de 0,788.
41
8
Fonte: PNUD .
Emprego
SC IFDM Educação Saúde
& Renda
IFDM Microrregião de Criciúma 0,7441 0,7023 0,7615 0,7684
8
Encontrado em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/>. Acesso em: 03 junho 2018.
9
Encontrado em:
<http://www.firjan.com.br/data/files/A6/B7/D9/A0/733615101BF66415F8A809C2/An%C3%A1lise%20
Especial%20SC.pdf>. Acesso em: 03 junho 2018.
42
Assim, os municípios da microrregião de Criciúma apresentam índices
de qualidade de vida superiores à média nacional. Evidenciando que os
aspectos socioeconômicos possuem relação positiva às condições de vida na
região. Em resumo, pode-se dizer que ocorreu na microrregião de Criciúma:
aumento da população urbana; redução da população rural; aumento da
participação da indústria da transformação na formação do PIB; redução da
participação da formação do PIB regional; queda da taxa de desemprego;
melhora dos índices que medem a qualidade de vida. Realizada esta síntese,
devemos analisar os crimes.
10
Encontra do em: <http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/redirecionamento/8/crimes-violentos-contra-o-
patrimonio>. Acesso em: 03 jun. 2018.
43
Conforme os dados do Atlas da Violência11 dos crimes contra o
patrimônio, furto e roubo de veículos são os que possuem maior representação
em números absolutos. No ano de 2010, a taxa de roubos de veículo em Santa
Catarina para cada cem mil veículos era de 52,8. No ano de 2016, o mesmo
índice era de mais de 75 veículos roubados para cada cem mil. No período de
2008 a 2010, a variação percentual nos roubos de carros foi de 30%.
No mesmo período, entre furtos e roubos de veículos, foram registrados
159512 ocorrências na microrregião de Criciúma. Os dados do Sistema
Integrado de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina revelam que os
números totais de registros desses crimes nos anos de 2008 a 2010 é
crescente. Houve um total de 397 registros no ano de 2008; 429 em 2009 e;
769 em 2010. Repercutindo numa variação de 8% entre 2008-2009 e quase
80% entre 2009-2010.
A cidade com maior número de registros é Criciúma, concentrando, em
média, 58% dos crimes (de furtos e roubos de veículos) registrados na região.
Em Criciúma, foram registrados Boletins de Ocorrência de furto e roubo,
respectivamente, nos quantitativos de 209 e 10 em 2008; 224 e 24 em 2009 e;
427 e 39 em 2010. Perfazendo um total de 219 ocorrências em 2008, 248 em
2009 e 466 em 2010.
11
O Atlas da Violência, ferramenta mantida em colaboração pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), possui dados de furtos de veículos
somente a partir de 2013.
12
Registros de Boletins de Ocorrência.
44
TABELA 5 – Ocorrências registradas de furtos e roubos de veículos nas
cidades da microrregião de Criciúma.
500
450
2008
400
2009
350 2010
300
250
200
150
100
50
0
45
Embora haja grande concentração da ocorrência de crimes em Criciúma,
o que, de certa forma, acompanha os indicadores econômicos que apontam a
mesma cidade como força motriz da região, as variações percentuais da
incidência dos registros no período em análise não apontam a mesma
coerência para as demais cidades. Entre os anos de 2008 e 2009, houve
redução dos registros em metade das cidades da microrregião, com
percentuais que variaram de 8% a 50%. Entre os anos de 2009 e 2010, apenas
Lauro Miller apresentou redução (25%), destacando-se os grandes aumentos
de Cocal do Sul (400%), Criciúma (87,9%), Forquilhinha (71%) e Içara (58%).
13
Dados com relação aos crimes de homicídio.
46
Conforme já mencionado neste capítulo, indicadores socioeconômicos que
levam em consideração o nível de educação, expectativa de vida e saúde
auxiliam na análise comparativa entre crime e desenvolvimento econômico.
Neste sentido, faz-se importante verificar os índices de IDH e IDMF dos
municípios na microrregião de Criciúma em relação à variação dos registros de
crimes de furtos e roubos de veículos no período de 2008 a 2010.
Os dados do IDH-M, por serem censitários, ocorrendo a cada década,
dentro do período de estudo, apresentam apenas os índices para o ano de
2010, devendo ser este o parâmetro para análise. Contudo, vale destacar que
de 2000 a 2010 todos os municípios da microrregião obtiveram variação
positiva, ou seja, segundo o índice de desenvolvimento humano, houve
melhora da qualidade de vida entre o início e final da década de 2000 em todos
os municípios.
0,9
0,78 0,788 0,768 0,774 0,774 0,772
0,8 0,753 0,741 0,735 0,738
0,695 0,703 0,698
0,641 0,659 0,669
0,7 0,616 0,64 0,617 0,612
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
2000 2010
47
mais curta. Contudo, na maior parte dos municípios analisados, houve melhora
do índice que leva em conta a saúde e a educação, havendo variação negativa
entre 2008 e 2010 apenas nos municípios de Forquilhinha, Lauro Muller e
Treviso.
0,90 0,81
0,77 0,75 0,77 0,78
0,80 0,73 0,73
0,73 0,72 0,72
0,72 0,74
0,73 0,72
0,70
0,67 0,70
0,67 0,68 0,69
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
2008 2010
48
(crescimento). Ocorrendo nos crimes um crescimento mais acentuado no
período.
Média IFDM
Média Crimes*
Linear (Média IFDM)
Linear (Média Crimes*)
49
aceitar uma proposta de trabalho lícito, deverá existir uma tendência à esta
última.
Por outro lado, o aumento da renda aumenta também a possibilidade de
ganhos com mercados ilícitos. Isto evidencia-se, sobretudo, nas pequenas
cidades, onde o aumento da renda torna economicamente possível negócios
ilícitos como o tráfico de drogas e a receptação de veículos furtados ou
roubados.
Como terceiro canal, junto com emprego e mercados ilícitos, há a
desorganização social causada pelo crescimento populacional. O aumento de
emprego e renda gera oportunidades e esse desempenho econômico está
intimamente relacionado com a alteração dos espaços urbanos. A
desorganização social gera para o criminoso três aspectos positivos para o
cometimento do ato ilícito, sendo o aumento das oportunidades, a possibilidade
de anonimato e a possibilidade de fuga (CERQUEIRA, 2017).
Por consequência da alteração desordenada do espaço urbano, as
políticas públicas assumem o quarto canal de explicação de como o
desempenho econômico se relaciona com a criminalidade nas cidades
(CERQUEIRA, 2017). A falta da qualidade das políticas públicas afeta não
somente a segurança pública, mas também o ordenamento urbano e a
prevenção social (saúde, educação, assistência). A ausência do Estado e a
consequente diminuição dos controles sociais faz aumentar a criminalidade.
50
5 A INSUFICIÊNCIA DO PENSAMENTO MARXISTA
51
segregação social. Nesta linha de pensamento, existe apenas uma separação
formal entre economia e política, nela a figura que detém o poder econômico é
a mesma que detém o poder político.
Contudo, há de ser feita uma reflexão a respeito do período histórico no
qual a teoria marxista foi concebida e seus motivos determinantes. Marx viveu
na Europa do século XIX, num período pós-revolução industrial e francesa,
onde o liberalismo promoveu o fortalecimento da classe burguesa e
proporcionou as bases para o capitalismo moderno. Ele viu de perto a
ascensão da burguesia e presenciou o impacto da revolução industrial na vida
cotidiana. Foi neste ambiente revolucionário e de conflitos oriundos do novo
sistema produtivo (que deixara de ser feudal) que ocorreu a gestação do
materialismo dialético do pensamento marxista (SILVA, 2014).
Ao longo de sua evolução como pensador, sua visão sobre os
movimentos sociais e a necessidade de uma resposta aos conflitos em que a
classe trabalhadora era constantemente sobrepujada, o fez migrar para o
materialismo e para o campo da economia. Sua vertente revolucionária em prol
da classe operária e sua crítica à classe burguesa tem início na Alemanha pré-
industrial, onde a lenha proporcionada pelas florestas era insumo essencial e a
qual foi apropriada pela aristocracia com apoio do Estado. Servindo essa
passagem em Marx também de exemplo de como o direito servia para proteger
interesses privados em sua teoria (SILVA, 2014).
O próprio Direito, na visão de Marx, era visto como mecanismo para
atender à sociedade burguesa, onde apenas a igualdade formal é possível,
assim é com o instituto da propriedade. A propriedade no pensamento marxista
serve para reforçar a relação de exploração entre aqueles que detêm os meios
de produção frente àqueles que são explorados. Por consequência, o mesmo
ocorre com o direito penal, existindo como mecanismo de segregação social. Aí
reside, na criminologia crítica, uma explicação para a criminalização da
pobreza.
Mas isto se trata de reducionismo econômico. O capitalismo pode
agravar o crime, mas este não tem sua origem naquele. Diversos outros
aspectos contribuem para o fenômeno criminal, de modo que o aspecto
econômico é insuficiente para explicá-lo. Neste sentido, também o é o
materialismo dialético do pensamento marxista.
52
Através da análise de dados socioeconômicos da microrregião de
Criciúma nos anos de 2008, 2009 e 2010 foi possível constatar o crescimento
econômico dentro dos parâmetros do sistema capitalista. Contudo, embora
tenha havido também crescimento do número de registros de crimes de furtos
e roubos relacionados a veículos, não pôde ser evidenciada nenhuma relação
de causa e efeito entre os dois fenômenos.
Em termos socioeconômicos, podemos avaliar a evolução de
indicadores que medem a qualidade de vida, em parte, como indicativo de
sucesso do sistema produtivo em vigência. Por mais que nesses indicadores
não seja comportado o aspecto da segurança pública na sua formação, em
alguma medida eles representam melhora. Entretanto, não há relação linear
entre os crimes registrados e a evolução dos índices dessa melhora, havendo
cidades que na mesma região e período apresentaram resultados muito
divergentes quanto à criminalidade. Tais resultados, provavelmente, estando
muito mais ligados ao crescimento populacional e às políticas públicas locais.
Se assim não fosse, pela visão simplista do conflito entre classes e de
que a avolução do capitalismo poderia gerar mais segregação social e, por
conseguinte, mais crimes, poderíamos chegar à conclusão de quanto mais
emprego, maior será a criminalidade. No mesmo sentido, é também nítido que
o crime não incide de modo a selecionar suas vítimas de acordo com uma
divisão de classes.
Embora tal pensamento pareça se encaixar como justificativa para
deslegitimar o direito penal, cuja aplicação por vezes encontra maior
embasamento político do que jurídico, não serve para explicar o acontecimento
do crime.
De fato, o direito penal pode ser visto como instrumento de proteção a
interesses individuais e, em certa medida, isso possa explicar a criminalização
de parcela da população. Mas isso não deve ser entendido como forma de
explicar o fenômeno criminal. Em verdade, a inquirição de se tratar de crime
porque é protegido ou é protegido porque se trata de crime é inócua. O
fundamento econômico do materialismo dialético presente na criminologia
crítica é insuficiente para explicar o fenômeno criminal pois reduz a análise ao
seu aspecto econômico e limita seus agentes à classes em conflito.
53
6 CONCLUSÃO
54
para o fenômeno criminal, mas não é o bastante para solucioná-lo. Sob o risco
de não serem analisadas outras abordagens que causem impacto positivo
maior na redução dos crimes em nossa sociedade, por mais imperfeito que
seja o sistema de justiça criminal, não devemos considerar o fator econômico
em detrimento de outros.
55
REFERÊNCIAS
56
MARX, Karl. O Capital, Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
Prefácio à 1ª edição e posfácio à 2ª edição.
57