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DIREITO PENAL –

PARTE GERAL
Concurso de Crimes, Punibilidade e
Causas Extintivas da Punibilidade

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO PENAL – PARTE GERAL
Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade

Sumário
Dermeval Farias

Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Concurso de Crimes. . ....................................................................................................................... 4
1. Concurso de Crimes..................................................................................................................... 4
1.1. Concurso de Crimes. . ................................................................................................................. 4
1.2. Sistemas de Aplicação da Pena no Concurso de Crimes.................................................. 5
1.3. Concurso Material. . ................................................................................................................... 6
1.4. Concurso Formal de Crimes. . .................................................................................................. 9
1.5. Concurso Crimes Denominado de Crime Continuado ou de Continuidade Delitiva...15
1.6. Concorrência de Concurso de Crimes................................................................................. 26
2. Punibilidade................................................................................................................................ 27
2.1. Conceito e Características da Punibilidade....................................................................... 27
2.2. Escusas Absolutórias............................................................................................................ 28
2.3. Causas Extintivas da Punibilidade.. .................................................................................... 29
Questões de Concurso.................................................................................................................. 55
Gabarito............................................................................................................................................ 81
Referências...................................................................................................................................... 82

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Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade
Dermeval Farias

Apresentação
Olá! Sou o professor Dermeval Farias. É com prazer que iniciamos mais um capítulo do
material em PDF do Gran Cursos Online. Apresentamos desta vez o estudo sobre concurso e
crimes e punibilidade, com as causas de exclusão da punibilidade.
Dentre os temas citados neste respectivo material em PDF, concurso de crimes e prescri-
ção são os mais cobrados em concursos.
É preciso alertar que, em razão das dúvidas que sempre são manifestadas pelos alunos
quanto à forma de estudo, nenhum material, por si só, é 100% completo para todos os con-
cursos jurídicos e não jurídicos. O estudo correto e organizado para concursos envolve: exce-
lentes videoaulas; bons livros; excelentes PDFs; leitura e releitura da lei seca; estudo da juris-
prudência; resolução de questões; realização de provas. Tudo isso deve ser feito de maneira
cíclica, com repetição, com anotações, com administração do tempo de estudo, bem como
acompanhado de uma correta divisão das matérias diárias que devem ser estudadas.
Busquei desenvolver no presente capítulo a análise da lei, doutrina e jurisprudência. Ao
final, comentei questões que possuem correlação com o conteúdo abordado. Como sempre
fazemos na preparação das aulas de magistério, faço sempre uma prévia pesquisa dos manu-
ais de Direito Penal e, principalmente, de artigos e livros específicos indicados nas referências
bibliográficas, acompanhados de jurisprudência e de questões de concursos, comentadas nos
seus itens de marcação.
É certo que seguimos a direção de nossas aulas, uma vez que, há mais de 16 anos, temos
preparado candidatos para os mais diversos concursos jurídicos do país: Juiz Estadual, Juiz
Federal, Procurador da República, Promotor de Justiça, Defensor Público, Delegado de Polícia
(Civil e Federal), Analista Jurídico, Advogado da União e outros.
Tenho muito prazer em trabalhar hoje com colegas que são promotores de justiça, junta-
mente comigo, que outrora eram alunos; bem como magistrados; delegados de polícia; defen-
sores públicos, ex alunos que encontramos em audiências, nos júris etc.
O tema que ora se apresenta foi dividido nas seguintes partes: concurso de crimes (ma-
terial ou real; formal ou ideal; crime continuado); punibilidade, com as causas de exclusão da
punibilidade; questões comentadas.
Ressalto que serão apresentados, quando necessários, resumos, quadros sinópticos, dicas
e destaques sobre pontos específicos de cada instituto jurídico de direito penal, de modo a
facilitar a compreensão e, por consequência, o acerto em provas de concursos.

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Dermeval Farias

CONCURSO DE CRIMES
1. Concurso de Crimes
Quanto ao concurso de crimes, serão tratados os concursos de crimes previstos no CP
brasileiro, quais sejam: material ou real; formal ou ideal (formal próprio e formal impróprio);
continuado (simples e especial); material benéfico.

1.1. Concurso de Crimes


No concurso de crimes, há uma pluralidade delitiva, ou seja, vários crimes. Desse modo,
o tema não pode ser confundido com o concurso de leis no tempo (quando uma lei sucede
outra, de forma que deve ser analisada as hipóteses de: abolicio criminis; lex mitior; lex tertia;
novatio legis; extratividade da lei penal etc.) e nem com o conflito aparente de normas (um fato
abrangido, aparentemente, por mais de uma norma, quando se deve escolher uma norma, fa-
zendo-se uso dos princípios da especialidade.
O CP brasileiro cuida do concurso de crimes nos artigos 69 a 71. A matéria é analisada
pelo julgador no momento da sentença ou do acórdão penal condenatórios, logo depois da
terceira fase da dosimetria. Sobre as etapas da dosimetria da pena, remetemos o leito ao PDF
de Teorias e Aplicação da Pena.
O concurso de crimes, no modelo jurídico brasileiro, pode ser material, formal (próprio e
impróprio) ou, ainda, o denominado de crime continuado (simples e específico). Dessa forma,
considerando que nem sempre as penas serão somadas no concurso de crimes, pode-se dizer
que o CP brasileiro adota uma concepção normativa no que concerne ao concurso de crimes.

É necessário destacar que, como regra, não há concurso de crimes em crime habitual e em
crime permanente. No primeiro, há necessidade de repetição de atos para a consumação do
crime, de modo que a repetição ininterrupta configura um único crime (exemplo: exercício ile-
gal da medicina); no segundo, a consumação se protrai no tempo, de forma que se trata de um
único crime (exemplos: extorsão mediante sequestro; associação criminosa etc.). Todavia, é
importante ressalvar que: se houver um ponto final da consumação e, depois de certo tempo,
o agente retornar a praticar o crime, poderá existir um concurso de crimes (exemplo: depois de
terem sido presos e condenados por associação criminosa, os condenados fugiram e inicia-
ram nova associação criminosa. Diante da interrupção, há dois crimes de associação crimino-
sa, o que foi objeto da condenação e o novo iniciado após a fuga da prisão).

Para efeito de competência do juizado especial criminal, no que diz respeito aos crimes de
menor potencial ofensivo, o intérprete deve considerar o concurso de crimes, seja a soma do
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concurso material ou do formal impróprio, seja a exasperação do formal próprio ou do continu-


ado. Nesse sentido, tem decidido o STJ:

[...] I – Na linha da jurisprudência desta Corte de Justiça, tratando-se de concurso de


crimes, a pena considerada para fins de fixação da competência do Juizado Especial
Criminal será o resultado da soma, em concurso material, ou a exasperação, na hipótese
de concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas aos delitos,
caso em que, ultrapassado o patamar de 2 (dois) anos, afasta-se a competência do Jui-
zado Especial. Precedentes. [...] (RHC 102.381/BA, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA
TURMA, julgado em 09/10/2018, DJe 17/10/2018).

1.2. Sistemas de Aplicação da Pena no Concurso de Crimes


Os sistemas de aplicação da pena no concurso de crimes, comumente utilizados nos orde-
namentos jurídicos, são os seguintes:
• Acumulação material: as penas dos crimes são somadas no sistema da cumulação
material. Esse é um dos modelos contemplados no CP brasileiro, não somente no con-
curso material de crimes. Exemplos: art. 69 (concurso material); segunda parte do art.
70 caput (concurso formal impróprio); parágrafo único do art. 70; arts. 329 § 2º, 161 §
2º, 344;
• Acumulação jurídica: nesse sistema, não presente no CP brasileiro, a terá limites máxi-
mos de exasperação, dependendo da quantidade e da gravidade dos crimes cometidos.
Esse modelo está presente, a título de ilustração no CP Espanhol, conforme trecho a
seguir:

CP espanhol de 1995
Art. 76. No obstante lo dispuesto en el artículo anterior, el máximo de cumplimiento efectivo de la
condena del culpable no podrá exceder del triple del tiempo por el que se le imponga la más grave
de las penas en que haya incurrido, declarando extinguidas las que procedan desde que las ya im-
puestas cubran dicho máximo, que no podrá exceder de veinte años. Excepcionalmente, este límite
máximo será:
a) De veinticinco años, cuando el sujeto haya sido condenado por dos o más delitos y alguno de ellos
esté castigado por la Ley con pena de prisión de hasta veinte años.
b) De treinta años, cuando el sujeto haya sido condenado por dos o más delitos y alguno de ellos
esté castigado por la Ley con pena de prisión superior a veinte años.
2. La limitación se aplicará aunque las penas se hayan impuesto en distintos procesos si los hechos,
por su conexión, pudieran haberse enjuiciado en uno solo.

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• Absorção: o crime mais grave absorve o crime menos grave. Esse modelo não foi ado-
tado em matéria de concurso de crimes no CP brasileiro. Não há de se confundir com o
princípio da consunção, adotado como um instrumento na solução do conflito aparente
de normas (tema tratado no PDF sobre Teoria da Norma). O CP de Portugal adota a so-
lução da absorção em matéria de continuidade delitiva: “Art. 79. O crime continuado é
punível com a pena aplicável à conduta mais grave que integra a continuação”;
• Exasperação: aplica se a pena de um dos crimes, se iguais, ou a mais grave, de diferen-
tes, e exaspera com um percentual. O CP brasileiro adota o referido modelo no concurso
formal próprio (primeira parte do 70 caput) e no crime continuado (caput e parágrafo
único do art. 71).

1.3. Concurso Material


O concurso material– também denominado de concurso real– de crimes constitui a regra
no concurso de crimes e é regulado pelo art. 69 do CP. Haverá concurso material quando o
agente, em contextos fáticos distintos, praticar dois ou mais crimes mediante mais de uma
ação ou omissão. Nos termos do Código penal:

Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incor-
rido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro
aquela.
§ 1º Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não
suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44
deste Código.
§ 2º Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente
as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.

Sobre o concurso material, importa ressaltar que a jurisprudência dos tribunais superiores
costuma associar as situações de ofensas a bens jurídicos distintos como hipótese de concur-
so material. Mas essa frase argumentativa não constitui fundamentação absoluta. Em muitos
dos casos de concurso de crimes, a solução jurisprudencial não guarda correspondência com
a letra do Código Penal ou mesmo com os argumentos doutrinários.

1.3.1. Jurisprudência e Concurso Material

É importante conhecer a linha jurisprudencial no que concerne ao concurso de crimes. O


tema se faz muito presente no bojo das decisões penais do STJ e do STF:
• Concurso material de crimes entre roubo e resistência, cometidos em contextos fáticos
distintos:

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CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. ROUBO QUALIFICADO E RESISTÊNCIA. CONCURSO


MATERIAL. POSSIBILIDADE. AMEAÇAS PLENAMENTE CINDÍVEIS. CONSUMAÇÃO DO
CRIME DE ROUBO. CONFIRMAÇÃO. RESISTÊNCIA. RESTABELECIMENTO DO ÉDITO CON-
DENATÓRIO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO.
O delito de roubo consuma-se com a simples posse, ainda que breve, da coisa alheia
móvel, subtraída mediante violência ou grave ameaça, sendo desnecessário que o bem
saia da esfera de vigilância da vítima.
Havendo a cisão temporal das ameaças, uma dirigida à vítima do roubo e a outra aos fun-
cionários públicos responsáveis pela prisão do réu, tem-se como caracterizado o concurso
material entre os delitos de roubo e resistência. Restabelecida a pena imposta ao réu pelo
crime de resistência em 1º grau jurisdicional, considerando a quantidade da reprimenda
(04 meses de detenção), deve ser decretada a extinção da punibilidade pela prescrição
intercorrente, eis que, desde a data da publicação do édito condenatório, consumou-se
o lapso prescricional necessário (02 anos), nos termos do art. 109, VI, c/c os arts. 110, §
1º, e 119, todos do Estatuto Repressivo. Recurso conhecido e provido, decretando-se a
extinção da punibilidade do recorrido pela ocorrência da prescrição, quanto ao delito de
resistência, nos termos do voto do Relator.
(REsp 674.166/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 02/12/2004,
DJ 09/02/2005, p. 220).

• Concurso material de crimes entre receptação e porte de arma de fogo:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PORTE ILEGAL DE ARMA E


RECEPTAÇÃO. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AUTONOMIA DE CONDU-
TAS. CONCURSO MATERIAL. REGIMENTAL PROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte está consolidada nos sentido da inaplicabilidade da con-
sunção, pois “a receptação e o porte ilegal de arma de fogo configuram crimes de natureza
autônoma, com objetividade jurídica e momento consumativo diversos” (HC 284.503/RS,
Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 27/04/2016) 2. Agravo regimental pro-
vido para determinar a devolução do autos ao Tribunal a quo para que dê continuidade ao
exame da apelação criminal afastada aplicação do princípio da consunção.
(AgRg no REsp 1623534/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
10/04/2018, DJe 23/04/2018).
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.
TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO E RECEPTAÇÃO. DESCLASSIFICAÇÃO
PARA O TIPO DO ART. 16 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. CARÁTER INTERNACIONAL DA AÇÃO.
TRANSPOSIÇÃO DE FRONTEIRA. INTRODUÇÃO DE ARTEFATO BÉLICO NO TERRITÓRIO
NACIONAL. CONCURSO MATERIAL. RECONHECIMENTO. BENS JURÍDICOS TUTELADOS

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DIVERSOS. DELITO CONTRA A PAZ PÚBLICA E DELITO PATRIMONIAL. AGRAVO REGI-


MENTAL DESPROVIDO.
I – O tipo de tráfico internacional de arma de fogo de uso restrito, dos arts. 18 c.c. 19 da
Lei n.º 10.826/2003, configura-se com o mero favorecimento da entrada ou saída, a qual-
quer título, do artefato bélico do território nacional, sem autorização da autoridade com-
petente. Isto é, aplica-se ao simples porte de arma para além das fronteiras nacionais.
Precedentes.
II – Assim, para a configuração do tipo dos arts. 18 c.c. 19 da Lei n.º 10.826/2003, não é
necessário que tenha ocorrido ato de importação propriamente dito, mas sim o favoreci-
mento da introdução do artefato bélico no território nacional.
III – A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que o
delito de receptação e os do Estatuto do Desarmamento seriam, de regra, crimes autô-
nomos, com naturezas jurídicas e bens tutelados distintos, devendo o agente responder
pela sua prática em concurso material.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 368.990/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 07/08/2018, DJe 15/08/2018).

• Concurso material de crimes entre associação criminosa e roubo:

[...] II – Como destacado na decisão agravada, não há que falar em bis in idem, ante a
imputação concomitante das majorantes do emprego de arma e concurso de pessoas
do crime de roubo com as majorantes da quadrilha armada – prevista no parágrafo único
do art. 288 do Código Penal (antiga redação) –, na medida em que se tratam – os crimes
de roubo circunstanciado pelo emprego de arma e concurso de pessoas e de formação
de quadrilha armada – de delitos autônomos e independentes, cujos objetos jurídicos
são distintos – quanto ao crime de roubo: o patrimônio, a integridade jurídica e a liber-
dade do indivíduo e, quanto ao de formação de quadrilha (atual associação criminosa):
a paz pública –, bem como diferentes as naturezas jurídicas, sendo o primeiro material,
de perigo concreto, e o segundo formal, de perigo abstrato.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 470.629/MS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
19/03/2019, DJe 26/03/2019).

• Concurso material de crimes entre roubo e extorsão:

[...] 3. Estão configurados os crimes de roubo e extorsão, em concurso material, se o


agente, após subtrair bens da vítima, mediante emprego de violência ou grave ameaça,
a obriga a realizar saques em caixa eletrônico.
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4. Ordem denegada.
(HC 476.558/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 11/12/2018, DJe
01/02/2019).

O concurso material ou real de crimes é a regra. Nele, as penas são somadas, ou seja, adota-se
o sistema do cúmulo material. Vale ressaltar que no caso de condenação por crimes apenados
com reclusão e com detenção, primeiro cumpre-se a reclusão e, somente depois, a detenção.
Além disso, vale ressaltar o teor das súmulas 243 do STJ e 723 do STF:

STJ, Súmula n. 243


O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a
pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapas-
sar o limite de um (01) ano.
STF, Súmula n. 723
Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da
pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a
um ano.

O concurso material entre crimes iguais (mesmo tipo penal) é chamado de homogêneo;
enquanto o concurso material entre crimes diferentes é denominado de heterogêneo.

1.4. Concurso Formal de Crimes


O concurso formal de crimes é regulado pelo caput do art. 70 do CP brasileiro. Nele, o
agente, mediante uma única ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes.
Na primeira parte do caput do art. 70 do CP, o legislador contemplou o concurso formal
próprio ou perfeito, ou seja, quando o agente, sem desígnios autônomos, realiza dois ou mais
crimes, mediante uma única ação ou omissão. Nesse caso, o julgador usará a pena concreta
de um dos crimes, se iguais, ou a maior pena, se os crimes forem diferentes, e fará incidir sobre
ela o aumento de 1/6 a 1/2, de acordo com o número de crimes.

Exemplo de concurso formal próprio: no erro na execução com mais de um resultado– aberra-
tio ictus complexa– regulado no art. 73, caput, segunda parte.

Na segunda parte do caput do art. 70 do CP, o legislador contemplou o concurso formal


impróprio ou imperfeito, ou seja, quando o agente, com desígnios autônomos, realiza dois ou
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mais crimes, mediante uma única ação omissão. Nesse caso, o julgador somará as penas dos
crimes, ou seja, usará o critério do cúmulo material. Pode-se dizer que, conquanto sejam dife-
rentes, o concurso formal impróprio e o concurso material são iguais nas consequências, uma
vez que em ambos os casos haverá a soma das penas.

Exemplo de concurso formal impróprio: João, com vontade de matar Carlos e Pedro, amarra
ambos em fila, depois escolhe um fuzil potente e efetua um disparo que fere e transpassa
ambas as vítimas, matando-as. Nesse caso, João responderá por dois crimes de homicídio na
forma do concurso formal impróprio, com penas somadas.

O sentido da expressão desígnios autônomos no concurso formal impróprio abrange dolo


direto + dolo direto ou dolo direto + dolo eventual. Essa é a posição atual da jurisprudência do
STJ e do STF. No passado, havia setor da doutrina penal nacional que defendida apenas o dolo
direto + dolo direto (opinião do Fragoso).
No sentido que sustentamos tem decidido o STJ:

[...]
1. O concurso formal perfeito caracteriza-se quando o agente pratica duas ou mais infra-
ções penais mediante uma única ação ou omissão; já o concurso formal imperfeito evi-
dencia-se quando a conduta única (ação ou omissão) é dolosa e os delitos concorrentes
resultam de desígnios autônomos. Ou seja, a distinção fundamental entre os dois tipos
de concurso formal varia de acordo com o elemento subjetivo que animou o agente ao
iniciar a sua conduta.
2. A expressão “desígnios autônomos” refere-se a qualquer forma de dolo, seja ele direto
ou eventual. Vale dizer, o dolo eventual também representa o endereçamento da vontade
do agente, pois ele, embora vislumbrando a possibilidade de ocorrência de um segundo
resultado, não o desejando diretamente, mas admitindo-o, aceita-o.
3. No caso dos autos, os delitos concorrentes – falecimento da mãe e da criança que
estava em seu ventre –, oriundos de uma só conduta – facadas na nuca da mãe –, resul-
taram de desígnios autônomos. Em consequência dessa caracterização, vale dizer, do
reconhecimento da independência das intenções do paciente, as penas devem ser apli-
cadas cumulativamente, conforme a regra do concurso material, exatamente como reali-
zado pelo Tribunal de origem.
4. Constatando-se que não houve efetiva colaboração do paciente com a investigação
policial e o processo criminal, tampouco fornecimento de informações eficazes para
a descoberta da trama delituosa, não há como reconhecer o benefício da delação pre-
miada.
5. Ordem denegada.
(HC 191.490/RJ, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
27/09/2012, DJe 09/10/2012).
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O concurso formal entre crimes iguais (mesmo tipo penal) é chamado de homogêneo; enquan-
to o concurso formal entre crimes diferentes é denominado de heterogêneo.

Toda vez que a exasperação do concurso formal próprio ou da continuidade delitiva ficar
maior do que a soma, o julgador deverá usar o critério da soma, conforme regra do parágrafo
único do art. 70, remetida ainda no fim do parágrafo único do art. 71. Isso é denominado de
concurso material benéfico. Sobre o tema, segue esclarecedor julgado do STJ:

[...] 8. O concurso formal próprio ou perfeito (CP, art. 70, primeira parte), cuja regra para
a aplicação da pena é a da exasperação, foi criado com intuito de favorecer o réu nas
hipóteses de pluralidade de resultados não derivados de desígnios autônomos, afas-
tando-se, pois, os rigores do concurso material (CP, art. 69). Por esse motivo, o pará-
grafo único do art. 70 do Código Penal impõe o afastamento da regra da exasperação,
se esta se mostrar prejudicial ao réu, em comparação com o cúmulo material. Trata-se,
portanto, da regra do concurso material benéfico, como teto do produto da exasperação
da pena.
9. No caso, o Tribunal de origem condenou o paciente pela prática de três crimes de cor-
rupção de menores, em concurso formal, à pena de 1 ano de reclusão e de três crimes de
roubo majorado, igualmente em concurso formal, à pena de 7 anos e 1 mês de reclusão.
As instâncias ordinárias aplicaram a exasperação da pena de 1/6 por outro concurso
formal entre os crimes de corrupção de menores e os de roubo, o que revelaria a pena
final de 8 anos e 3 meses de reclusão. Há, pois, manifesta violação da regra do con-
curso material benéfico, porquanto a pena final resultante do concurso material entre os
crimes de roubo, em concurso formal, e corrupção de menores, igualmente em concurso
formal, seria de 8 anos e 1 mês. Por conseguinte, de rigor a redução da pena final do
paciente para 8 anos e 1 mês de reclusão.
10. O regime de cumprimento inicial da pena fechado mostra-se adequado. O paciente foi
condenado à penal final de 8 anos e 1 meses de reclusão, é primário e a sua pena-base foi
fixada acima do mínimo legal, portanto, nos termos do art. 33, § 2º, “a”, e § 3º, do Código
Penal, de rigor a fixação do regime inicial de cumprimento de pena fechado.
11. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reduzir a pena final
do paciente para 8 anos e 1 mês de reclusão, mantendo-se o regime de cumprimento de
pena fechado.
(HC 401.764/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2017,
DJe 14/12/2017).

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1.4.1. Jurisprudência e Concurso Formal

A jurisprudência do STJ tem decidido pela existência de concurso formal impróprio (soma
das penas) entre os crimes entre roubo e roubo com resultado morte (latrocínio) cometidos
no mesmo contexto fático, uma vez que seriam crimes do mesmo gênero, mas não da mesma
espécie. Isso é, nessa hipótese, há impossibilidade de continuidade delitiva.
Concurso formal impróprio entre o 157 e o 157 § 3º II do CP:

[...]
1. Não obstante configurado concurso formal impróprio, e não concurso material, quando
praticado os crimes de roubo e latrocínio tentado em um mesmo contexto fático, mediante
uma só ação, contra vítimas diferentes, inexiste reflexo na dosimetria da pena, por ser
idêntica à regra do concurso material, nos termos do art. 70, segunda parte, do CP.
2. Aplica-se o princípio da consunção ao crime de porte ilegal de arma de fogo e aos
delitos contra o patrimônio ocorridos no mesmo contexto fático, quando presente nexo
de dependência entre as condutas, considerando-se o porte crime-meio para a execu-
ção do roubo e do latrocínio tentado. 3. Não incide a Súmula 7/STJ quando os fatos se
encontram delimitados pelo acórdão recorrido, sendo necessária nova valoração jurídica
da prova, e não reexame fático-probatório, uma vez que a conduta do réu se apresenta
incontroversa.
4. Agravo regimental provido para redimensionar a pena.
(AgRg no AREsp 1395908/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
05/09/2019, DJe 12/09/2019).

É certo ainda que a jurisprudência atual do STJ entende que o cometimento de mais de um
latrocínio no mesmo contexto fático configura hipótese de concurso formal impróprio, com
penas somadas. Não se trata, portanto, de continuidade delitiva.

[...] 3. Prevalece, no Superior Tribunal de Justiça, o entendimento no sentido de que, nos


delitos de latrocínio – crime complexo, cujos bens jurídicos protegidos são o patrimônio
e a vida –, havendo uma subtração, porém mais de uma morte, resta configurada hipó-
tese de concurso formal impróprio de crimes e não crime único.
Precedentes. 4. Habeas corpus não conhecido.
(HC 185.101/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 07/04/2015,
DJe 16/04/2015).

Além disso, a jurisprudência tem decidido que o cometimento de vários roubos em um


mesmo contexto fático configura concurso formal próprio. Essa posição, segundo pensamos,

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não está em sintonia com a dogmática penal do concurso de crimes disposta na Parte Geral
do Código Penal, uma vez que o agente tem ciência do cometimento dos roubos contra vítimas
distintas e com subtração de patrimônios distintos, como ocorre, por exemplo, na situação cor-
riqueira no Brasil, na qual o agente, com o emprego de arma, ingressa em ônibus de transporte
coletivo e rouba celulares de várias vítimas, mediante o emprego de arma de fogo. A jurispru-
dência pacífica do STJ sustenta o concurso formal próprio na referida hipótese de concurso de
crimes, quando na verdade as penas deveriam ser somadas.

[...] 9. É assente nesta Corte Superior que o roubo perpetrado contra diversas vítimas,
ainda que ocorra em um único evento, configura o concurso formal e não o crime único,
ante a pluralidade de bens jurídicos tutelados ofendidos” (HC 430.716/SP, Rel. Minis-
tro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/6/2018, DJe
29/6/2018).
10. Caso tenha sido estabelecida a pena-base acima do mínimo legal, por ter sido desfa-
voravelmente valorada circunstância do art. 59 do Estatuto Repressor, admite-se a fixa-
ção de regime prisional mais gravoso do que o indicado pelo quantum de reprimenda
imposta ao réu.
11. Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, tão somente para reduzir a 1/3 o
aumento pela incidência de três majorantes do crime de roubo, determinando ao Juízo
das Execuções que promova à nova dosagem da pena.
(HC 508.924/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 11/06/2019,
DJe 18/06/2019).

A jurisprudência tem decidido, ainda, que a corrupção de menores prevista no art. 244 B
do ECA convive com o roubo, majorado pelo concurso de pessoas (art. 157, § 2º, II), na forma
do concurso formal próprio, não havendo bis in idem. Seguem julgados do STJ sobre o tema:

[...] 4. Esta Corte Superior firmou sua compreensão no sentido de que “deve ser reconhe-
cido o concurso formal entre os delitos de roubo e corrupção de menores (art. 70, pri-
meira parte, do CP) na hipótese em que, mediante uma única ação, o réu praticou ambos
os delitos, tendo a corrupção de menores se dado em razão da prática do delito patri-
monial” (REsp 1.719.489/GO, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, jul-
gado em 23/08/2018, DJe 04/09/2018). 5. Agravo regimental desprovido. Habeas corpus
concedido, de ofício. (AgInt no AREsp 1595833/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA
TURMA, julgado em 04/02/2020, DJe 17/02/2020).
1. A Terceira Seção deste Superior Tribunal, no julgamento do Recurso Especial Repre-
sentativo da Controvérsia n. 1.127.954/DF, uniformizou o entendimento de que, para a
configuração do crime de corrupção de menores, basta que haja evidências da participação

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de menor de 18 anos no delito e na companhia de agente imputável, sendo irrelevante


o fato de o adolescente já estar corrompido, porquanto se trata de delito de natureza
formal. Incidência da Súmula n. 500 do STJ.
2. Não configura bis in idem a aplicação da majorante relativa ao concurso de pessoas
no roubo e a condenação do agente por corrupção de menores, tendo em vista serem
condutas autônomas que atingem bens jurídicos distintos. Precedentes.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1806593/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, jul-
gado em 26/05/2020, DJe 04/06/2020).
[...] 2. Atos infracionais pretéritos não constituem fundamentação idônea para a avalia-
ção negativa dos antecedentes criminais nem se prestam a configurar reincidência.
3. Deve ser reconhecido o concurso formal de crimes quando a corrupção de menores
ocorre em razão da prática de delito de roubo majorado na companhia do adolescente.
4. Agravo regimental desprovido. Ordem de habeas corpus concedida, de ofício, para
afastar os maus antecedentes e a reincidência, reconhecer o concurso formal entre os
delitos e redimensionar a pena imposta.
(AgRg no AREsp 1665758/RO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
19/05/2020, DJe 05/06/2020).

O aumento da pena do concurso formal próprio leva em conta o número de crimes. Desse
modo: 2 crimes= 1/6; 3 crimes= 1/5; 4 crimes= 1/4: cinco crimes= 1/3; seis ou mais crimes=
1/2. Essa é posição pacífica da jurisprudência atual:

STJ [...] 5. Nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, o aumento
decorrente do concurso formal tem como parâmetro o número de delitos perpetrados,
devendo ser a pena de um dos crimes exasperada de 1/6 até 1/2. Por certo, o acréscimo
correspondente ao número de três infrações é a fração de 1/5. Nesse contexto, deve a
reprimenda ser definida em 6 anos, 4 meses e 24 dias de reclusão pelos crimes de roubo
e corrupção de menores praticados em concurso formal, quantum mais benefício do que
o cabível se considerado o concurso material de delitos.
6. In casu, reconhecida a presença de circunstância judicial desfavorável, deve ser man-
tido o meio prisional fechado, conforme a dicção do art. 33, §§ 2º e 3º, do CP, levando-
-se em conta a reprimenda imposta ao paciente, superior a 4 anos e inferior a 8 anos de
reclusão.
7. Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de definir a reprimenda em 6
anos, 4 meses e 24 dias de reclusão, ficando mantido o regime prisional fechado.
(HC 544.961/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 04/02/2020,
DJe 12/02/2020).

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1.5. Concurso Crimes Denominado de Crime Continuado ou de


Continuidade Delitiva
A continuidade delitiva constitui uma espécie de concurso de crimes, regulada pelo caput
e pelo parágrafo único do art. 71 do CP. No caput, há a continuidade delitiva simples, enquanto
no parágrafo único, há a continuidade delitiva específica ou ainda chamada de “qualificada”.
O STJ tem jurisprudência consolidada acerca do crime continuado: sobre a sua natureza
(ficção jurídica): sobre a necessidade de conjugar os requisitos objetivos com o requisito sub-
jetivo da unidade de desígnios (teoria objetivo-subjetiva ou mista): quanto à inaplicabilidade do
instituto no caso de criminoso habitual; no que concerne ao intervalo temporal de 30 dias entre
os crimes, além de outros esclarecimentos.

[...] 2. O crime continuado é benefício penal, modalidade de concurso de crimes, que, por
ficção legal, consagra unidade incindível entre os crimes parcelares que o formam, para
fins específicos de aplicação da pena. Para a sua aplicação, a norma extraída do art.
71, caput, do Código Penal exige, concomitantemente, três requisitos objetivos: I) plu-
ralidade de condutas; II) pluralidade de crime da mesma espécie; III) condições seme-
lhantes de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes (conexão tempo-
ral, espacial, modal e ocasional); IV) e, por fim, adotando a teoria objetivo-subjetiva ou
mista, a doutrina e jurisprudência inferiram implicitamente da norma um requisito da
unidade de desígnios na prática dos crimes em continuidade delitiva, exigindo-se, pois,
que haja um liame entre os crimes, apto a evidenciar de imediato terem sido esses deli-
tos subsequentes continuação do primeiro, isto é, os crimes parcelares devem resultar
de um plano previamente elaborado pelo agente.
3. Nos termos da jurisprudência desta Corte, “inexistindo previsão legal expressa a res-
peito do intervalo temporal necessário ao reconhecimento da continuidade delitiva, pre-
sentes os demais requisitos da ficção jurídica, não se mostra razoável afastá-la, apenas
pelo fato de o intervalo ter ultrapassado 30 dias” (AgRg no AREsp 531.930/SC, Rel. Minis-
tro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 3/2/2015, DJe 13/2/2015).
4. No caso, deve ser reconhecida a configuração da continuidade delitiva entre os crimes,
por restar demonstrado o liame subjetivo entre as condutas, assim como preenchimento
dos elementos de ordem objetiva necessários para a concessão do benefício. Perpetra-
dos crimes da mesma espécie em comarca limítrofes, com o mesmo modus operandi, o
simples fato de ter decorrido prazo um pouco superior a 30 dias entre a terceira conduta
e a última conduta não afasta a viabilidade da concessão do referido benefício.
5. Pedido de extensão deferido a fim de estabelecer a pena do requerente em 6 anos, 2
meses e 20 dias de reclusão, mais 20 dias-multa, a ser cumprida em regime fechado.
(PExt no HC 490.707/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
01/09/2020, DJe 08/09/2020).

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1.5.1 Continuidade Delitiva do Caput do Art. 71

Na continuidade delitiva simples, o agente, mediante mais de uma conduta (ação ou omis-
são), pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, manei-
ra de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação
do primeiro.
Nesse caso, o julgador aplicará a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave,
se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. O parâmetro, para exas-
perar a pena na continuidade delitiva simples (caput do art. 71), é o número de crimes.
Os requisitos apontados no caput do art. 71 são cumulativos. Isso significa dizer que, na
falta de um dos requisitos, o agente responderá por concurso material de crimes e não recebe-
rá os benefícios da continuidade delitiva.
Crimes da mesma espécie são, em regra, os que estão previstos no mesmo tipo penal e
que ofendem o mesmo jurídico, ou seja, são os que possuem a mesma estrutura típica. Cons-
titui um requisito objetivo. Exemplos: arts. 155 + 155, 171 + 171 etc. Todavia, vale ressaltar que
o STJ não admite continuidade delitiva entre o 157 (roubo) e o 157 §3º, inciso II (latrocínio),
conforme visto anteriormente no item sobre concurso formal de crimes.

[...] 8. No caso dos crimes de roubo majorado e latrocínio, sequer é necessário avaliar o
requisito subjetivo supracitado ou o lapso temporal entre os crimes, porquanto não há
adimplemento do requisito objetivo da pluralidade de crimes da mesma espécie. São
assim considerados aqueles crimes tipificados no mesmo dispositivo legal, consuma-
dos ou tentada, na forma simples, privilegiada ou tentada, e além disso, devem tutelar
os mesmos bens jurídicos, tendo, pois, a mesma estrutura jurídica. Perceba que o roubo
tutela o patrimônio e a integridade física (violência) ou o patrimônio e a liberdade indivi-
dual (grave ameaça); por outro lado, o latrocínio, o patrimônio e a vida. 9. Habeas corpus
não conhecido. (HC 449.110/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado
em 02/06/2020, DJe 10/06/2020).
[...] 1. Na hipótese, o réu foi condenado pela prática do crime previsto no art. 218-B, § 2º,
inciso I, do CP contra duas vítimas. Assim, é possível reconhecer a continuidade delitiva
na presente hipótese, uma vez que os crimes são da mesma espécie e foram cometidos
nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução. 2. Agravo regimental
desprovido. (AgRg nos EDcl no REsp 1741843/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe 04/09/2019).

Conquanto o ponto de partida para a análise do sentido da expressão crimes da mesma


seja a ideia de mesmo tipos penal, e não a solução que contempla os crimes que ferem o mes-
mo bem jurídico, há decisões casuísticas, em situações singulares, que fogem dessa premissa. Já

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decidiu o STJ que o estupro do 213 é crime da mesma espécie em relação ao art. 217-A. Tais
decisões, nesses casos, têm feito uso do fundamento, outro minoritário, de que crimes da
mesma espécie são os que ofendem o mesmo bem jurídico.

[...] 2. Para fins da aplicação do instituto do crime continuado, art. 71 do Código Penal,
pode-se afirmar que os delitos de estupro de vulnerável e estupro, descritos nos arts.
217-A e 213 do CP, respectivamente, são crimes da mesma espécie.
3. Em relação ao critério temporal, a jurisprudência deste Tribunal Superior utiliza como
parâmetro o interregno de 30 dias. Importante salientar que esse intervalo de tempo
serve tão somente como parâmetro, devendo ser tomado por base pelo magistrado sen-
tenciante diante das peculiaridades do caso concreto. [...] (REsp 1767902/RJ, Rel. Minis-
tro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 13/12/2018, DJe 04/02/2019).
[...] II – Os crimes da mesma espécie, para fins de reconhecimento da figura da continui-
dade delitiva, não são necessariamente os que estejam previstos no mesmo tipo penal,
mas os que possuem, essencialmente, o mesmo modo de execução e tutelam o mesmo
bem jurídico.
III – Verifica-se que, entre os delitos do art. 213 (‘Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique
outro ato libidinoso’) e do art. 217-A (‘Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com menor de 14 (catorze) anos’) do Código Penal, há semelhança quanto aos elementos
objetivos do tipo e identidade do bem jurídico tutelado. Assim, não há impedimento à apli-
cação da regra da continuidade delitiva. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1562088/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
16/10/2018, DJe 22/10/2018).

Vale enfatizar ainda que há julgado casuístico da 6ª Turma do STJ que admitiu a continui-
dade delitiva entre os crimes de apropriação indébita previdenciária e sonegação previdenci-
ária, previstos em tipos penais distintos.

RECURSO ESPECIAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA – ART. 168-A DO


CÓDIGO PENAL. SONEGAÇÃO PREVIDENCIÁRIA – ART. 337-A DO CÓDIGO PENAL. CON-
TINUIDADE DELITIVA. POSSIBILIDADE. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA PRA-
TICADA EM EMPRESAS DIVERSAS PERTENCENTES AO MESMO GRUPO EMPRESARIAL.
CRIME CONTINUADO. POSSIBILIDADE.
1. É possível o reconhecimento de crime continuado em relação aos delitos tipificados
nos artigos 168-A e 337-A do Código Penal, porque se assemelham quanto aos elemen-
tos objetivos e subjetivos e ofendem o mesmo bem jurídico tutelado, qual seja, a arre-
cadação previdenciária.

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2. A prática de crimes de apropriação indébita previdenciária em que o agente estiver à


frente de empresas distintas, mas pertencentes ao mesmo grupo empresarial, não afasta
o reconhecimento da continuidade delitiva.
3. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 859.050/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
03/12/2013, DJe 13/12/2013).

De outro lado, há julgado mais recente do STJ da 5ª Turma do STJ que afirmou a impos-
sibilidade de continuidade delitiva entre os crimes de apropriação indébita previdenciária e
sonegação previdenciária, previstos em tipos penais distintos.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. APROPRIAÇÃO INDÉ-


BITA PREVIDENCIÁRIA E SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. DELITOS
DE ESPÉCIES DIVERSAS. DESCRIÇÃO DE CONDUTAS DISTINTAS. IMPOSSIBILIDADE DE
RECONHECIMENTO DE CRIME CONTINUADO. I – Os delitos de apropriação indébita pre-
videnciária e de sonegação de contribuição previdenciária, previsto nos arts. 168-A e
337-A, ambos do Código Penal, embora sejam do mesmo gênero, são de espécies diver-
sas, porquanto os tipos penais descrevem condutas absolutamente distintas. II – Esta
Corte Superior tem entendimento consolidado no sentido de que é impossível o reco-
nhecimento da continuidade delitiva entre crimes de espécies distintas. Precedentes.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 1172428/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
12/06/2018, DJe 20/06/2018).

No que concerne às condições de tempo, o CP não especificou um intervalo temporal. No


entanto, a jurisprudência entende que os crimes devem ser cometidos em até 30 dias de inter-
valo entre eles. É certo que esse critério não absoluto. Dessa forma, preenchendo os demais
requisitos, se ultrapassar um pouco os 30 dias, conforme a valoração do julgador, poderá ser
concedido benefício da continuidade de delitiva como espécie de concurso de crimes.
Ademais, os crimes devem acontecer em localidades próximas, que será objeto de valo-
ração do julgador. O agente deve utilizar o mesmo modo de execução no cometimento dos
crimes, de forma que não poderá alterar a forma de execução dos crimes (exemplo: usou um
comparsa para cometer um estupro, enquanto no outro estupro, agiu sozinho. Nesse caso, não
haverá continuidade delitiva).

[...] 4. No caso, deve ser reconhecida a configuração da continuidade delitiva entre os


crimes, por restar demonstrado o liame subjetivo entre as condutas, assim como preen-
chimento dos elementos de ordem objetiva necessários para a concessão do benefício.

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Perpetrados crimes da mesma espécie em comarca limítrofes, com o mesmo modus


operandi, o simples fato de ter decorrido prazo um pouco superior a 30 dias entre a
terceira conduta e a última conduta não afasta a viabilidade da concessão do referido
benefício.
5. Pedido de extensão deferido a fim de estabelecer a pena do requerente em 6 anos, 2
meses e 20 dias de reclusão, mais 20 dias-multa, a ser cumprida em regime fechado.
(PExt no HC 490.707/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
01/09/2020, DJe 08/09/2020).
[...]– O instituto da continuidade delitiva, previsto no art. 71 do Código Penal, prescreve
que há crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pra-
tica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira
de execução e outras semelhantes, de forma que os delitos subsequentes devem ser
havidos como continuação do primeiro.
– A jurisprudência desta Corte Superior firmou entendimento no sentido de que a carac-
terização da continuidade delitiva pressupõe a existência de ações praticadas em idên-
ticas condições de tempo, lugar e modo de execução (requisitos objetivos), além de um
liame a indicar a unidade de desígnios (requisito subjetivo).
– Na espécie, em que pese os crimes da mesma espécie (três roubos majorados) hajam
sido cometidos nas mesmas condições de tempo (lapso inferior a 30 dias) e com alguma
semelhança de modo de execução, foram praticados em locais distintos e contra vítimas
diversas, bem como ausente o requisito subjetivo, isto é, uma ligação concreta, por meio
da qual, necessariamente, ficasse demonstrado que os crimes tenham sido praticados
um em continuidade do outro. Afinal, a Corte estadual consignou expressamente que os
crimes foram cometidos em datas distintas, contra vítimas distintas, e com modus ope-
randi distintos, o que, inclusive, reverberou nas penas-bases e nas majorantes de cada um
dos roubos, caracterizando, portanto, reiteração delitiva (e-STJ, fl. 52). Assim, o caso é de
reiteração e não de continuidade delitiva, inexistindo, portanto, ilegalidade a ser sanada.
[...] (AgRg no HC 616.743/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 20/10/2020, DJe 26/10/2020).

Apesar de o CP nada mencionar quanto à habitualidade criminosa, tanto o STJ quanto o


STF negam a continuidade delitiva para o criminoso habitual, que faz do crime o meio de vida,
como uma “atividade profissional” voltada ao cometimento de ilícito.

[...]
1. A pretensão de reconhecimento da continuidade delitiva não merece acolhimento,
pois, no caso, os delitos foram praticados de formas distintas, em tempo e locais diver-
sos, o que resultou em concurso material, não havendo liame subjetivo entre eles, já que

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a ação posterior independeu da anterior, além de o réu praticar habitualmente o delito


em apreço.
2. Para o reconhecimento de crime continuado, na forma do art. 71 do Código Penal, a
sequência criminosa deveria ser considerada como uma só infração penal, assim, não
haveria o que se falar em concurso de crimes já que na verdade seria um crime somente,
porém continuado.
3. Segundo a jurisprudência desta Corte Superior, a reiteração criminosa e a habituali-
dade delitiva afastam a possibilidade de reconhecimento do crime continuado [...] (REsp
n. 1.501.855/PR, relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
16/5/2017, DJe 30/5/2017, grifei).
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no HC 556.968/SC, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 18/08/2020, DJe 26/08/2020).

Para o STJ, vigora a teoria objetivo-subjetiva ou mista, ou seja, há necessidade de conju-


gar os requisitos objetivos da continuidade delitiva com a unidade de desígnios (proposta úni-
ca, objetivo inicial de praticar diversos crimes, um liame entre os crimes). A jurisprudência do
STJ não se satisfaz, na continuidade delitiva, apenas com a presença dos requisitos objetivos,
não adota, portanto, a teoria objetiva.

STJ [...] 3. O Superior Tribunal de Justiça, ao interpretar o art. 71 do Código Penal, adotou
a teoria mista, pela qual a ficção jurídica do crime continuado exige, além da comprova-
ção dos requisitos de ordem subjetiva, a unidade de desígnios, ou seja, o liame volitivo
entre os delitos, a demonstrar que os atos criminosos se apresentam entrelaçados, isto
é, que a conduta posterior constitui um desdobramento da anterior. Precedentes. [...]
(REsp 1449981/AL, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 12/11/2019,
DJe 16/12/2019).
[...] 6. O crime continuado é benefício penal, modalidade de concurso de crimes, que, por
ficção legal, consagra unidade incindível entre os crimes parcelares que o formam, para
fins específicos de aplicação da pena. Para a sua aplicação, a norma extraída do art. 71,
caput, do Código Penal exige, concomitantemente, três requisitos objetivos: I) pluralidade
de condutas; II) pluralidade de crime da mesma espécie; III) e condições semelhantes de
tempo lugar, maneira de execução e outras semelhantes (conexão temporal, espacial,
modal e ocasional).
7. Adotando a teoria objetivo-subjetiva ou mista, a doutrina e jurisprudência inferiram
implicitamente da norma um requisito outro de ordem subjetiva, que é a unidade de
desígnios na prática dos crimes em continuidade delitiva, exigindo-se, pois, que haja um
liame entre os crimes, apto a evidenciar de imediato terem sido os crimes subsequentes

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continuação do primeiro, isto é, os crimes parcelares devem resultar de um plano pre-


viamente elaborado pelo agente.
8. No caso dos crimes de roubo majorado e latrocínio, sequer é necessário avaliar o
requisito subjetivo supracitado ou o lapso temporal entre os crimes, porquanto não há
adimplemento do requisito objetivo da pluralidade de crimes da mesma espécie. São
assim considerados aqueles crimes tipificados no mesmo dispositivo legal, consuma-
dos ou tentada, na forma simples, privilegiada ou tentada, e além disso, devem tutelar
os mesmos bens jurídicos, tendo, pois, a mesma estrutura jurídica. Perceba que o roubo
tutela o patrimônio e a integridade física (violência) ou o patrimônio e a liberdade indivi-
dual (grave ameaça); por outro lado, o latrocínio, o patrimônio e a vida.
9. Habeas corpus não conhecido.
(HC 449.110/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 02/06/2020,
DJe 10/06/2020).
[...] Nos termos do entendimento firmado por esta Corte, caracteriza-se a ficção jurí-
dica do crime continuado quando preenchidos tanto os requisitos de ordem objetiva –
mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução do delito – quanto os de ordem
subjetiva – a denominada unidade de desígnios ou vínculo subjetivo entre os eventos
criminosos. 5. Não verificada a presença do requisito subjetivo pela instância ordinária,
impróprio o seu reconhecimento na via do especial, por demandar revolvimento do con-
junto fático-probatório, o que encontra óbice pela Súmula 7/STJ.
6. Agravo regimental improvido.
(AgRg no AREsp 1469632/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
03/10/2019, DJe 08/10/2019).

1.5.2. Continuidade Delitiva do Parágrafo Único do Art. 71

O parágrafo único do art. 71 trata da continuidade delitiva especial ou qualificada, segun-


do a linguagem doutrinária. Nessa modalidade, além da necessidade de presença dos requi-
sitos vistos anteriormente, objetivos e subjetivo, aplicados à continuidade simples, é preciso,
ainda, conjugar outros requisitos apontados pelo legislador: crimes cometidos com violência
ou grave ameaça à pessoa; e contra vítimas diferentes.
A regra de aplicação da pena na continuidade delitiva específica é diferente da existente
no caput, válida para a continuidade simples, que indica o aumento de 1/6 a 2/3, conforme o
número de crimes. Na continuidade específica do parágrafo único, o julgador poderá aumentar
a pena até o triplo, levando em conta não somente o número de crimes, mas também algumas
circunstancias do art. 59, exaradas pelo legislador no referido parágrafo.
Na análise da exasperação da pena em razão da continuidade delitiva prevista no parágra-
fo único, o julgador, conforme dito no parágrafo anterior, levará em conta o número de crimes
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determinas circunstâncias judiciais expressas, quais sejam: a culpabilidade, os antecedentes,


a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias. Nes-
se caso, o fato de referidas circunstancias já terem sido consideradas no momento da pena
base não impede uma nova valoração quando da análise da continuidade delitiva. Não há se
falar em bis in idem. Nesse sentido tem decidido o STJ:

[...]1. No caso, a pena de um dos crimes de homicídio foi dobrada, em razão da conti-
nuidade delitiva (três delitos), tendo sido considerado o fato de uma das vítimas ser
criança, com apenas quatro anos de idade, e elementos próprios às circunstâncias judi-
ciais, como a culpabilidade acentuada e a conduta social reprovável.
2. Não há falar em bis in idem na reavaliação das circunstâncias judiciais para o fim de
estipular o quantum de aumento pela continuidade delitiva, uma vez que o procedimento
decorre de expresso mandamento legal, nos termos do que previsto no art. 71, pará-
grafo único, do Código Penal.
3. Em relação ao percentual de aumento em razão da continuidade delitiva, não cabe em
agravo regimental a análise de matéria que não foi deduzida em recurso especial, por se
tratar de inovação recursal.
4. Agravo regimental conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.
(AgRg no AgRg no REsp 1587199/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 20/10/2020, DJe 22/10/2020).
[...] VIII – O art. 71, caput e parágrafo único, do Código Penal preveem duas modalidades
de crime continuado. Enquanto na continuidade qualificada o órgão julgador observará
a quantidade de condutas praticadas em paralelo como a culpabilidade do autor; na con-
tinuidade simples impera o chamado critério objetivo puro, ou seja, a fração de exaspe-
ração é diretamente proporcional ao número de reiterações delitivas.
IX – No que diz respeito à continuidade simples, “a jurisprudência desta Corte é firme no
sentido de que a fração referente à continuidade delitiva deve ser firmada de acordo com
o número de delitos cometidos, aplicando-se o aumento de 1/6 pela prática de 2 infra-
ções; 1/5 para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações
e 2/3 para 7 ou mais infrações (AgRg no AREsp n. 1.377.172/RS, Sexta Turma, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, DJe de 24.10.2019).
X – O reconhecimento da continuidade delitiva entre os crimes de corrupção ativa e lava-
gem de dinheiro afigura-se inviável, pois, mesmo que se olvide o fato de se tratarem de
espécies delitivas distintas, eis que possuem elementares típicas e objetividade jurídica
totalmente distintas, o exame da tese defensiva exigiria o afastamento das premissas
fáticas esteares da decisão reprochada, juízo que ultrapassa os propósitos do Recurso
Especial.
[...] Agravo Regimental conhecido e parcialmente provido.
(AgRg no REsp 1792710/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
15/09/2020, DJe 23/09/2020).

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O julgador ainda deverá respeitar o limite do concurso material benéfico, de modo que a
exasperação não poderá superar a soma das penas. Outro limite narrado é o de 30 anos, o
qual tem sido entendido (STJ) como limite de cumprimento da pena e não limite para figurar
na sentença. De todo modo, esse limite de cumprimento foi aumentado pela Lei 13964/2019,
que alterou o art. 75 do CP, explicitando o limite de 40 anos para o cumprimento da pena.

[...] 2. Tendo o órgão colegiado fundado o aumento de 1/2 na culpabilidade acentuada do


paciente e nas graves consequências dos homicídios, não se pode acoimar de ilegal ou
injustificada a escolha do quantum de elevação, já que é o próprio legislador que permite
que o aumento, em casos de crime continuado específico, se dê até o triplo, e não na
forma do caput do artigo 71 do Código Penal, observados apenas os limites que seriam
alcançados em caso de concurso material, e o de 30 anos, estabelecido no artigo 75 do
Estatuto Repressivo.
3. Habeas corpus não conhecido.
(HC 250.088/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 18/12/2012,
DJe 01/02/2013).

Vale ressaltar ainda o sentido da expressão violência contida no parágrafo único do art.
71. Para o STJ, a palavra violência se refere à violência real, de modo que não alcançará as
condutas perpetradas contra vulnerável, em casos de estupros, quando não houver violência
real, ou seja, quando não houver violência física ou grave ameaça. Desse modo, se o agente
comete vários estupros contra adolescentes de 13 anos, sem violência real e sem grave ame-
aça, a solução, se preenchidos os requisitos, será a continuidade delitiva do caput, não a do
parágrafo único.

STJ [...]
– O crime continuado é benefício penal, modalidade de concurso de crimes, que, por
ficção legal, consagra unidade incindível entre os crimes que o formam, para fins especí-
ficos de aplicação da pena.
Para a sua aplicação, o art. 71, caput, do Código Penal exige, concomitantemente, três
requisitos objetivos: I) pluralidade de condutas; II) pluralidade de crimes da mesma espé-
cie; e III) condições semelhantes de tempo, lugar, maneira de execução e outras seme-
lhantes.
– A continuidade delitiva específica, descrita no art. 71, parágrafo único, do Código Penal,
além daqueles exigidos para a aplicação do benefício penal da continuidade delitiva sim-
ples, exige que os crimes praticados: I) sejam dolosos; II) realizados contra vítimas dife-
rentes; e III) cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa.

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– No caso em tela, os atos libidinosos praticados contra as vítimas vulneráveis foram


desprovidos de qualquer violência real, contando apenas com a presunção absoluta e
legal de violência do próprio tipo delitivo.
– ‘A violência de que trata a continuidade delitiva especial (art. 71, parágrafo único, do
Código Penal) é real, sendo inviável aplicar limites mais gravosos do benefício penal da
continuidade delitiva com base, exclusivamente, na ficção jurídica de violência do legis-
lador utilizada para criar o tipo penal de estupro de vulnerável, se efetivamente a con-
junção carnal ou ato libidinoso executado contra vulnerável foi desprovido de qualquer
violência real [...]’ (HC 232.709/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma, julgado
em 25/10/2016, DJe 09/11/2016).
– Esta Corte Superior firmou a compreensão de que o aumento no crime continuado
comum é determinado em função da quantidade de delitos cometidos.
– Assim, no caso, tendo sido cometidos crimes de estupro de vulnerável, com violência
presumida, contra 8 vítimas diferentes, incide a continuidade delitiva simples, devendo
ser aplicado o aumento de 2/3, que resulta na reprimenda definitiva de 13 anos e 4 meses
de reclusão.
– Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reduzir a pena do
paciente ao novo patamar de 13 anos e 4 meses de reclusão, mantidos os demais termos
da condenação.
(HC 483.468/GO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, jul-
gado em 05/02/2019, DJe 14/02/2019).

É certo que a continuidade delitiva do caput é mais benéfica do que a do parágrafo único.
Desse modo, considerando que o estupro é um crime hediondo, considerando que o estupro
de vulnerável foi valorado pelo legislador como uma conduta mais grave do que o estupro de
vítima não vulnerável, a interpretação do STJ, exarada no julgado anterior, segundo pensa-
mos, revela desproporcionalidade e, portanto, ofensa ao princípio da proibição da tutela penal
deficiente.
Importa destacar ainda a possibilidade de continuidade delitiva em crimes dolosos contra
a vida, ou seja, a súmula 605 do STF, conquanto não tenha sido ainda cancelada, está prejudi-
cada. Isso porque a Reforma da Parte Geral do CP, ocorrida em 1984, por meio da Lei 9.709/84,
permitiu, com a redação do parágrafo único do art. 71, a possibilidade de continuidade delitiva
em crimes dolosos contra a vida cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, dentre
os quais, a título de ilustração, homicídio, estupro e outros.

[...] 1. Os crimes praticados constituem infrações penais da mesma espécie (dois homi-
cídios qualificados), praticados sob as mesmas condições de tempo e lugar, agindo com
idêntico modus operandi, e em concurso de agentes.

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2. Aliada às conexões de caráter espacial e de ordem temporal, o comportamento infra-


cional do agravante ficou caracterizado pela existência de uma pluralidade de vítimas, o
que atrai a normatividade do parágrafo único do artigo 71 do Código Penal.
3. Configurado o chamado crime continuado específico, viabiliza-se a apenação mais
gravosa. 4. O patamar de metade foi devidamente justificado pelo Juízo sentenciante,
levando em consideração um critério de suficiência e necessidade, em vista da negati-
vidade das circunstâncias avaliadas no artigo 59 do Código Penal, da periculosidade do
agente, e da quantidade de vítimas.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no HC 309.823/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 16/05/2017, REPDJe 14/08/2017, DJe 30/05/2017).

1. 5.3. Nova Redação do Estupro do Art. 213 do CP após as Alterações da Lei


n. 12.015/2009

Após a Lei n. 12.015/2009, grandes divergências surgiram na interpretação do art. 213 do


Código penal. Com o interesse de sanar algumas visões deturpadas e contribuir para o debate,
busca-se apontar três situações possíveis na análise da nova redação do artigo, que foram
confirmadas pela jurisprudência do STJ e do STF:
• crime único
• crime continuado
• concurso material

Crime único: a prática de diversos núcleos no mesmo contexto fático constitui um só crime
(conflito aparente de normas-princípio da alternatividade).

Exemplo: a foi condenado por estupro e atentado violento ao pudor na vigência da lei antiga.
Provavelmente, teve as penas somadas (concurso material) com suporte no entendimento
jurisprudencial da época, segundo o qual os crimes do 213 e do antigo 214 não eram da mesma
espécie, não admitiam continuidade delitiva.

Após a Lei n. 12.015/2009, incide, no caso de A (exemplo do parágrafo anterior), a retro-


atividade benéfica. As duas ações (conjunção carnal e sexo anal por exemplo) são um único
crime. Todavia, como A praticou dois verbos, o juiz deverá majorar a pena base (art. 59 do CP)
de um único crime de estupro.
Crime continuado: em contextos fáticos diversos, A incorreu, na vigência da lei antiga, nos
arts. 213 e 214 do CP. As penas foram somadas. Com a Lei n. 12.015/2009, caso preenchidos
os requisitos do parágrafo único do art. 71, mais a unidade de desígnio (teoria mista – STJ), A

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terá direito à continuidade delitiva do parágrafo único (chamada de continuidade qualificada


para diferenciá-la da continuidade simples que está no caput).
Concurso material: em contextos fáticos diversos, A incorreu, na vigência da lei antiga, nos
arts. 213 e 214 do CP. As penas foram somadas. Após a Lei n. 12.015/2009, caso não preenchi-
dos os requisitos do parágrafo único do art. 71– basta faltar um dos requisitos da continuidade
delitiva– as penas permaneceram somadas, uma vez que é possível o concurso material entre
213 e 213. Ora, por exemplo, se A é um criminoso habitual, profissional na prática desse crime
ou de outros, ele não merece o benefício da continuidade delitiva. O STJ nega a continuidade
delitiva para o criminoso habitual. Além disso, se não demonstrar a proposta única (unidade de
desígnio), não haverá a continuidade delitiva.

1.6. Concorrência de Concurso de Crimes


Quando houver uma concorrência de concurso de crimes, o julgador deverá realizar todas
as operações, seja de soma e/ou de exasperação. A título de ilustração, em caso de vários
concursos formais próprios de crimes em concorrência com um concurso material, deverá o
julgador exasperar as penas de cada concurso formal e depois somar as penas na forma do
concurso material.

Exemplo: Caio, mediante emprego de arma de fogo, no dia 25/03/2020, praticou vários roubos
contra várias vítimas, dentro de um ônibus. Depois disso, em 25/06/2020, Caio, mediante con-
curso de pessoas, restrição da liberdade das vítimas, emprego de arma de fogo, com ajuda do
comparsa José, praticou vários roubos contra moradores que se encontravam em uma casa
no Lago Norte (bairro, setor) no Distrito Federal. Nesse caso, em relação aos crimes de Caio, há
um concurso formal próprio no primeiro episódio de crimes (dentro do ônibus) e outro concur-
so formal próprio no segundo episódio (roubo contra várias vítimas dentro de uma residência).
Entre os dois concursos formais de crimes, há um concurso material, ou seja, os resultados
de penas dos concursos formais serão somados. Não há se falar em continuidade delitiva
entre os dois concursos formais, uma vez que os episódios ultrapassaram o requisito tempo-
ral (intervalo bem maior do que trinta dias) e, além disso, a forma de execução dos crimes foi
diferente, com variação de comparsas. Portanto, faltaram, no mínimo, dois requisitos da con-
tinuidade delitiva.

Todavia, é importante alertar que, nos casos de concursos formais próprios em concorrên-
cia de concursos com a continuidade delitiva, a jurisprudência do STJ despreza o aumento
dos concursos formais e faz incidir apenas o aumento da continuidade delitiva. Dessa forma,
se o julgador fizer incidir ambos os aumentos (o do formal e o do continuado), na visão do STJ,
haverá bis in idem.

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[...] AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. DOSIMETRIA. CRIME


FORMAL E CRIME CONTINUADO. BIS IN IDEM. OCORRÊNCIA. AGRAVO DESPROVIDO. 1.
O Superior Tribunal de Justiça firmou orientação de que “a majoração da pena, inicial-
mente pelo concurso formal e posteriormente pelo crime continuado, configura bis in
idem (AgInt no HC n. 385.006/RJ, rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 28/3/2017, DJe 6/4/2017).
2. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 352.853/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 25/09/2018, DJe 03/10/2018).
Informações complementares do Julgado AgRg no AREsp 1721171/SC, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2020, DJe 22/09/2020.
Nos termos da jurisprudência desta Corte, em sintonia com a do STF, havendo con-
curso formal entre dois delitos cometidos em continuidade delitiva, somente incidirá um
aumento de pena, qual seja, a relativa ao crime continuado. Todavia, tal regra não tem
aplicabilidade nas hipóteses em que um dos crimes não faça parte do nexo da continui-
dade delitiva do outro delito, embora cometidos em concurso formal.

2. Punibilidade
O crime é um fato típico, ilícito e culpável (conceito tripartido majoritário), há um conceito
bipartido, minoritário, em alguns setores da doutrina nacional, ou seja, a ideia de que o crime é
um fato típico e antijurídico, figurando a culpabilidade como pressuposto de aplicação de pena.

2.1. Conceito e Características da Punibilidade


Fazendo uso do conceito majoritário, tripartido, de crime ou mesmo do conceito minori-
tário, a punibilidade não faz parte do conceito de crime, não são abrigadas pelo dolo e pela
culpa. A punibilidade pode ser conceituada como o direito que possui o Estado de aplicar a
pena descrita na norma penal incriminadora. Em sentido semelhante, o conceito é apontado
da seguinte forma na doutrina nacional:

[...] consequência natural da prática de uma conduta típica, ilícita e culpável levada a efeito pelo
agente. Toda vez que o agente pratica uma infração penal, isto é, toda vez que infringe o nosso di-
reito penal objetivo, abre-se a possibilidade para o Estado de fazer valer o seu ius puniendi. (GRECO,
2017, p.833).
Possibilidade jurídica de impor sanção penal é mera condicionante ou pressuposto da consequên-
cia jurídica do delito, não integrando o conceito analítico do mesmo. (PRADO, 2012, p.815).

A punibilidade pode significar merecimento de pena (certeza) ou possibilidade de aplicar a


pena (Zaffaroni e Pierangeli).
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Ao tratar das chamadas condições objetivas de punibilidade, Luiz Regis Prado anota
o seguinte:

De fato, as condições objetivas de punibilidade são alheias à noção de delito– ação ou omissão típi-
ca, ilícita ou antijurídica e culpável– e, de conseguinte, ao nexo causal. Ademais, atuam objetivamen-
te, ou seja, não se encontram abarcadas pelo dolo ou pela culpa. São condições exteriores à ação e
delas depende a punibilidade do delito, por razões de política criminal (oportunidade, conveniência).
(PRADO, 2012, p.808).

As condições objetivas de punibilidade são poucos estáveis, dependerá da descrição no


dispositivo penal que tipifica o crime. Exemplo: prejuízo superveniente no delito do art. 164 do
CP (crime de introdução ou abandono de animais em propriedade alheia). Quando não se ve-
rificar a condição objetiva de punibilidade, a infração penal não será punida, nem mesmo na
forma tentada (PRADO, 2012, p. 808). Mas o crime existiu, apenas não houve a condição para
a sua punibilidade.
Outro aspecto importante diz respeito à prescrição e sua relação com a condição objetiva
de punibilidade, ou seja, nos delitos de punibilidade condicionada, a prescrição somente co-
meçará a correr a partir do implemento da condição. Isso acontece porque, “sendo a prescri-
ção causa extintiva da punibilidade, uma vez não configurada esta não há falar em extinção”
(PRADO, 2012, p. 809).

Não se pode confundir condição objetiva de punibilidade com condição de procedibilidade e


nem com condição de prosseguibilidade. A primeira constitui uma condição que possibilidade
a punição do agente, uma condição alheia à estrutura analítica do delito. A segunda possui
natureza processual, uma condição para a ação penal (exemplo: representação do ofendido
na lesão leve ou na lesão culposa, art. 88 da Lei 9999/95; na ameaça, parágrafo único do art.
147, e outros). A terceira decorre de mudança legislativa que surge quando a ação penal já se
encontra em curso, já existe um processo penal, quando haverá necessidade de um novo ato
para o prosseguimento da ação.

As condições objetivas de punibilidade excluem a punibilidade em relação aos demais coauto-


res ou partícipes do delito (PRADO, 2012, p. 811).

2.2. Escusas Absolutórias


Em determinadas situações, apesar da existência de um fato típico, ilícito e culpável, o
legislador cria hipóteses de isenção de pena, de maneira taxativa. Tais hipóteses são denomi-
nadas de escusas absolutórias e constituem causas pessoais de isenção de pena.

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O tema se encontra presente nos Códigos Penais brasileiros desde o primeiro Código Cri-
minal do Império de 1830, passando pelo Código Penal de 1890, quando havia a impossibili-
dade de instauração da ação penal no delito de furto praticado contra parentes próximos, e
chegando ao CP de 1940, quando houve a inserção expressa de isenção de pena nos arts. 181
a 183, para todos os delitos contra o patrimônio cometidos sem violência ou grave ameaça
contra certas pessoas especificadas nos referidos dispositivos legais.

Art. 181. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
(Vide Lei n. 10.741, de 2003)
I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182. Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo: (Vide Lei n. 10.741, de 2003)
I – do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II – de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III – de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa;
II – ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

As escusas absolutórias não se comunicam aos eventuais coautores ou partícipes que


não apresentem as características personalíssimas exigidas pela norma penal. São condi-
ções pessoais, não constituem elementares do crime.

Exemplo 1: se Caio, filho de Maria (55 anos de idade), chama José, seu amigo, para furtar joias
de Maria. Caio será beneficiado pela isenção de pena (art. 181, II, do CP), mas José não terá a
exclusão de pena em razão da escusa absolutória.
Exemplo 2: se Caio e Pedro, irmãos, filhos de Maria (55 anos de idade), furtam joias de sua
mãe. Caio será beneficiado pela isenção de pena (art. 181, II, do CP) e Pedro será beneficiado
pela isenção de pena (art. 181, II, do CP). Cada qual possui a sua escusa pessoa, mas não há
falar em comunicação da escusa absolutória.

2.3. Causas Extintivas da Punibilidade


Após o cometimento do crime, podem surgir causas extintivas da punibilidade em razão de “certas
contingências ou por motivos vários de conveniência ou oportunidade política. (PRADO, 2012, p.
818).

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As causas extintivas da punibilidade estão previstas no art. 107 do CP, mas não se esgo-
tam nesse dispositivo, uma vez que há outras causas extintivas da punibilidade espalhadas
pelo ordenamento jurídico e também construídas na jurisprudência (exemplos: reparação do
dano antes do trânsito em julgado no peculato culposo; laudo de constatação de reparação do
dano ambiental no caso do art. 28, inciso I, da Lei 9605/08; pagamento do imposto nas hipó-
teses do refis tributário, antes do trânsito em julgado; interpretação reversa da súmula 554 do
STF, ou seja, pagamento do cheque emitido sem fundos antes do recebimento da denúncia.
Quanto ao refis tributário, há julgados casuísticos em diversos sentidos, conquanto a po-
sição jurisprudencial mais uniforme seja a pontada no parágrafo anterior (pagamento até o
trânsito em julgado).
Seguem decisões casuísticas e outras que refletem a jurisprudência:

[...] seguintes as questões jurídicas submetidas à apreciação desta Corte: a) a extin-


ção da punibilidade pelo pagamento do débito tributário, ocorrido após o julgamento,
mas antes da publicação e da republicação do acórdão condenatório; b) e a extinção
da punibilidade pelo transcurso do prazo da prescrição da pretensão punitiva do Estado,
na modalidade retroativa, considerando-se, inclusive, a idade de 70 (setenta) anos, que o
acusado completou no dia seguinte à sessão de julgamento. 3.1 A extinção da punibili-
dade pelo pagamento do débito tributário encontra respaldo na regra prevista no artigo
69 da Lei n. 11.941/2009, que não disciplina qualquer limite ou restrição em desfavor
do agente, merecendo, no ponto, recordar a locução do Ministro Sepúlveda Pertence no
Habeas Corpus n. 81.929/RJ, julgado em 16 de dezembro de 2003: “a nova lei tornou
escancaradamente clara que a repressão penal nos crimes contra a ordem tributário é
apenas uma forma reforçada de execução fiscal”. 3.2 O artigo 61, caput, do Código de
Processo Penal, dispõe que “em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta
a punibilidade, deverá declará-lo de ofício”, razão pela qual no julgamento do Habeas. STF
APN 516 ED 2014.
STJ [...] 1. “A configuração advinda com a introdução no Código Penal do art. 168-A não
alterou a incriminação da denominada apropriação indébita previdenciária, constante da
previsão do artigo 95, alínea “d” e § 1º, da Lei n. 8.212/91, razão por que inviável admitir-
-se a existência de nulidade da condenação por fatos pretéritos à nova ordem legal. “ (HC
115.148/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado
em 17/3/2011, DJe 4/4/2011).
2. Considerando que a adesão ao REFIS não implica, necessariamente, a extinção da
punibilidade, pois está condicionada ao pagamento integral do débito, não há ilegali-
dade na decisão que permite a persecução penal diante da inadimplência reiterada do
acusado. 3. A superveniência de interposição de inúmeros recursos sem demonstração
de tese apta à reversão do julgado revela nítido caráter protelatório da defesa. Determi-
nação de trânsito em julgado.
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4. Agravo regimental não conhecido.


(AgRg nos EDcl nos EDcl no HC 427.660/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 19/11/2019, DJe 26/11/2019).
HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA. ART. 168-A DO CP.
ADESÃO AO REFIS (LEI N. 9.964/2000). PARCELAMENTO. SUSPENSÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA E DO PRAZO PRESCRICIONAL. HABEAS CORPUS CONCEDIDO EM PARTE.
1. O art. 15, § 1º, da Lei n. 9.964/2000 (Refis) estabelece a suspensão do prazo prescricio-
nal criminal durante o período de suspensão da pretensão punitiva estatal pela adesão ao
programa de parcelamento do crédito tributário.
2. O parcelamento do débito tributário efetivado sob o comando da Lei n. 9.964/2000 enseja
a suspensão da pretensão punitiva e do prazo prescricional, e não a extinção da punibili-
dade, ainda que as omissões que deram origem ao crédito sejam anteriores a 11/4/2000.
3. Ordem parcialmente concedida.
(HC 210.350/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
13/08/2019, DJe 30/08/2019).
STJ [...] 2. Considerando que a adesão ao REFIS não implica, necessariamente, a extin-
ção da punibilidade, pois está condicionada ao pagamento integral do débito, não há ile-
galidade na decisão que permite a persecução penal diante da inadimplência reiterada
do acusado. 3. A superveniência de interposição de inúmeros recursos sem demons-
tração de tese apta à reversão do julgado revela nítido caráter protelatório da defesa.
Determinação de trânsito em julgado.
4. Agravo regimental não conhecido.
(AgRg nos EDcl nos EDcl no HC 427.660/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 19/11/2019, DJe 26/11/2019).
[...] 2. O parcelamento do débito tributário, por meio da adesão ao Refis, quando efeti-
vado na vigência da Lei n. 9.964/2000, apenas suspende a fluência da prescrição, não
extinguindo a punibilidade, mesmo que os débitos tributários sejam anteriores ao refe-
rido diploma legal (AgRg nos EDcl no REsp 1228549/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 23/09/2014, DJe 10/10/2014).
3. A suspensão da pretensão punitiva estatal fundada no art. 68 da Lei n. 11.941/2009
somente é cabível se a inclusão do débito tributário em programa de parcelamento ocor-
rer em momento anterior ao trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
4. Ocorrendo o parcelamento do débito tributário antes do trânsito em julgado da con-
denação, como no caso dos autos, ficará suspensa a pretensão punitiva do Estado até
ulterior revogação do benefício ou extinção da punibilidade dos agentes pelo integral
pagamento, sendo inviável a prolação de acórdão confirmatório da condenação e trân-
sito em julgado da condenação em sua vigência.

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5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para anular o acórdão pro-
ferido quando da vigência do benefício do parcelamento do crédito tributário, bem como
para desconstituir o trânsito em julgado da condenação imposta aos pacientes.
(HC 353.827/PI, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 16/08/2016, DJe 25/08/2016).

O juiz deve reconhecer de ofício causa extintiva da punibilidade nos termos do art. 61 caput
do CPP. Ver
Parcela da doutrina aponta diferença entre:
• Causas extintivas da punibilidade: direito de punir surge, mas desaparece em razão de
fato posterior. Exemplo: decadência;
• Exclusão da punibilidade: o direito de punir não se inicia, não surge, não nasce. Leva em
conta as condições pessoais do agente. Exemplo: artigo 181 I do CP;
• Condições objetivas de punibilidade: suspende o direito de punir até que ocorra um fato
futuro. Exemplo: artigo 7º §2º “b” do CP. Nesse sentido (SANCHES, 2019, p. 363).

2.3.1. Morte do Agente

A morte extingue a punibilidade do agente, de modo que o estado não poderá, em razão do
princípio da pessoalidade da pena ou intranscendência (art. 5º, LXV, da CRFB), executar a pena
privativa de liberdade e nem qualquer outra pena de natureza penal, como a pena de multa ou
as penas restritivas de direito. A decretação de perdimento de bens– usados ou adquiridos
na prática do crime– como efeito da sentença penal condenatória subsistem (não se trata de
pena). Do mesmo modo, os efeitos civis, em razão do fato cometido pelo agente, permanecem,
ou seja, seus bens serão utilizados para finalidades civis nos limites da herança.
Ponto de divergência diz respeito à morte presumida (arts. 6º e 7º do Código Civil): Para
Fragoso; Frederico Marques; Hungria – morte presumida extingue a punibilidade. Enquanto
para Luiz Regis Prado, a morte presumida não extingue a punibilidade, sendo inadmissível na
esfera penal, de modo que deve ser aguardada a prescrição (PRADO, 2012, p. 819). Para Nucci,
a morte presumida, desde que acompanhada da certidão de óbito (art. 62 CPP), extingue a
punibilidade (NUCCI, 2013, p. 613).
Quanto à certidão de óbito falsa, há divergência também na doutrina. Para a maioria da
doutrina, a extinção da punibilidade não pode ser revista. Para Arthur Gueiros e Jampiassú
(2020, p., extinção da punibilidade pode ser revista, uma vez que a fraude não pode ser premia-
da; o ato processual não pode suplantar normas de direito material; e ainda a questão do ato
inexistente. O STF já decidiu que se trata de decisão meramente declaratória que não subsiste

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se o seu parâmetro for falso (HCs 84525/2004; 104998/2011). Para o STJ, a decisão pode ser
revogada, a formalidade não pode tornar imutável uma decisão ancorada em falsidade (HCs
143474/2010; 31234/2004).

2.3.2. Anistia, Graça ou Indulto

A anistia é concedida por meio de lei aprovada pelo Congresso Nacional (artigo 48, VIII da
CRFB) que extingue os efeitos penais principais e secundários. É classificada em: própria (antes
do trânsito em julgado), imprópria (depois do trânsito em julgado), irrestrita, restrita, condicio-
nada, incondicionada. Pode ser concedida em crime comuns, mas possui maior relação com
crimes políticos, militares ou eleitorais. A anistia diz respeito a fatos, não se refere a pessoas.
É vedada para crimes hediondos e assemelhados (art. 5º, XLIII, da CRFB de 1988).
A anistia provoca efeitos ex tunc no sentido de desafazer todos os efeitos penais da con-
denação, não desfazendo os efeitos extrapenais (GUEIROS, p. 475; STF Recurso Criminal
1433 de 1981).
Segundo o STF, a anistia impede a apreciação sobre a materialidade e a autoria do fato,
pois isso seria reviver o que foi esquecido pelo Poder Público (Inquérito 79 de 1979).
A graça é concedida após a condenação, por Decreto do Presidente da República, o qual
pode delegar o referido ato administrativo (Artigo 84, XII, da CRFB). A graça é concedida de
maneira individual e depende de pedido do interessado. Portanto, possui um destinatário devi-
damente identificado (SANCHES, 2019, p. 366). Possui relação com situações de cunho huma-
nitário (GUEIROS, 2020, p. 476)
Indulto é concedido após a condenação, por Decreto do Presidente da República, o qual
pode delegar o referido ato administrativo (Artigo 84, XII, da CRFB). O indulto é concedido de
maneira coletiva e não depende de pedido dos interessados.
O indulto pode ser total ou parcial. O indulto parcial, chamado de comutação de penas,
implica em redução de parte da pena. O indulto, nas duas formas narradas, está previsto no
art. 192 da LEP (Lei 7.210/84): “Art. 192. Concedido o indulto e anexada aos autos cópia do
decreto, o Juiz declarará extinta a pena ou ajustará a execução aos termos do decreto, no caso
de comutação”.

Súmula 631-STJ dia que “o indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão
executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais”.

Vale registras as previsões dos arts. 5º, XLIII, CRFB, e 2º da Lei n. 8.072/1990:

CRFB, Art. 5º, XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
se omitirem;

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Lei n. 8.072/1990
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e
o terrorismo são insuscetíveis de:
I – anistia, graça e indulto;
II – fiança e liberdade provisória.
II – fiança.

Os dispositivos anteriores são interpretados nos julgados:

STF
RE 1084663 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento:
13/04/2018 Publicação: 27/04/2018
Ementa: AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENAL E PROCESSUAL
PENAL. CONDENAÇÃO POR HOMICÍDIO QUALIFICADO. CRIME HEDIONDO. INDULTO.
ARTIGO 7º, PARÁGRAFO ÚNICO, DO DECRETO 7.873/2012. INAPLICABILIDADE. CRIME
IMPEDITIVO. QUESTÃO JÁ ANALISADA PELO STF NA ADI-MC 2.795. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.
Observação – Acórdão(s) citado(s): (INDULTO, CRIME HEDIONDO) ADI 2795 MC (TP), HC
117938 (1ªT), RE 760226 AgR (2ªT), HC 119578 (1ªT). Número de páginas: 8. Análise:
04/05/2018, BMP.
Legislação LEG-FED LEI-008072 ANO-1990 ART-00002 INC-00001 LCH-1990 LEI DE
CRIMES HEDIONDOS LEG-FED DEC-007873 ANO-2012 ART-00007 PAR-ÚNICO DECRETO.
STF
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. IMPOS-
SIBILIDADE DE CONCESSÃO DE INDULTO AOS CONDENADOS POR CRIMES HEDIONDOS,
DE TORTURA, TERRORISMO OU TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E DROGAS AFINS.
AGRAVO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. I – No julgamento da ADI 2.795-MC, de relatoria do
Ministro Maurício Corrêa, o Plenário deste Supremo Tribunal assentou revelar-se “[...] incons-
titucional a possibilidade de que o indulto seja concedido aos condenados por crimes hedion-
dos, de tortura, terrorismo ou tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, independente-
mente do lapso temporal da condenação”. II – Agravo a que se nega provimento.
(RHC 176673 AgR, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
14/02/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-041 DIVULG 27-02-2020 PUBLIC 28-02-2020).

É certo que não cabe indulto em casos de condenação por crime hediondo ou equiparado,
porém essa vedação subsiste quando se trata de indulto humanitário, ou seja, de precárias
condições de saúde do condenado?
Para Rogério Sanches (2019, p. 367), prevalece o entendimento de não seria aplicável a
vedação do art. 2º da Lei 8.072/90, quando se tratar de indulto humanitário. Todavia, o próprio
autor aponta decisão da 2ª Turma do STF que negou a referida possibilidade:

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Informativo 745 Data: 09/05/2014 Texto


(ARE-661288) SEGUNDA TURMA Tráfico de drogas e indulto humanitário – 1 A 2ª Turma
reiterou jurisprudência no sentido de não ser possível o deferimento de indulto a réu con-
denado por tráfico de drogas, ainda que tenha sido aplicada a causa de diminuição pre-
vista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 à pena a ele imposta, circunstância que não
altera a tipicidade do crime. Na espécie, paciente condenada pela prática dos delitos de
tráfico e de associação para o tráfico ilícito de entorpecentes pretendia a concessão de
indulto humanitário em face de seu precário estado de saúde (portadora de diabetes,
hipertensão arterial sistêmica e insuficiência renal crônica, além de haver perdido a inte-
gralidade da visão). A Turma asseverou que o fato de a paciente estar doente ou ser aco-
metida de deficiência visual não seria causa de extinção da punibilidade nem de suspen-
são da execução da pena. Afirmou que os condenados por tráfico de drogas ilícitas não
poderiam ser contemplados com o indulto. Ponderou que, nos termos da Lei 8.072/1990,
o crime de tráfico de droga, equiparado a hediondo, não permitiria anistia, graça e indulto
(“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes.

O STJ tem decidido pela impossibilidade do indulto, até mesmo o humanitário, em caso de
crime hediondo ou equiparado.

[...] 1. O julgamento monocrático da causa, por óbvio, afasta a possibilidade de sustenta-


ção oral no julgamento do writ e não representa ofensa ao princípio da colegialidade, em
virtude da possibilidade de interposição do agravo regimental, como na espécie.
2. Trata-se, no caso, de condenação por crime hediondo – homicídio qualificado –, o
qual, por expressa vedação constitucional (art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal),
não pode ser objeto de indulto (até mesmo o humanitário).
3. É certo que a competência para conceder indulto é privativa do Presidente da Repú-
blica, nos termos do art. 84, inciso XII, da Constituição da República. Contudo, esta ele-
vada atribuição está submetida à observância dos ditames legais e constitucionais, de
forma que não pode o decreto concessivo incidir sobre hipóteses vedadas pela Carta
Magna. Precedentes desta Corte Superior e do Supremo Tribunal Federal.
4. Cumpre anotar que, em razão da gravidade do estado de saúde do Apenado, e tendo
em vista a precariedade do sistema prisional, o Juízo das Execuções deferiu a prisão
domiciliar mediante monitoração eletrônica.
5. Agravo desprovido.
(AgRg no HC 538.858/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
19/05/2020, DJe 02/06/2020).

No entanto, no passado, algumas decisões permitiram o indulto humanitário com base no


texto de determinados decretos de indulto.

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HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. INDULTO HUMANITÁRIO. CRIME HEDIONDO. ART.


1º, VII, “B”, c.c. ART. 8º, PARÁGRAFO ÚNICO, DO DECRETO 6.706/08. POSSIBILIDADE.
REQUISITOS LEGAIS. COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA. ORDEM DENEGADA.
I – O Decreto Presidencial 6.706/08, em seu art. 8º, parágrafo único, permite a conces-
são de indulto ao condenado por crime hediondo que esteja em uma das situações pre-
vistas no art. 1º, inciso VII, letra “b”, desde que comprovadas por meio de laudo médico
oficial ou por médico designado pelo juízo da execução, o que, entretanto, não ocorreu
no caso em apreço.
II – Ordem denegada.
(HC 181.393/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, jul-
gado em 09/08/2012, DJe 20/08/2012).
[...] 2. O Decreto Presidencial 7.420/2010, em seu art. 8º, § 1º, permite a concessão de
indulto ao condenado por crime hediondo, desde que preenchidos os requisitos do art.
1º, inciso IX, letra “c”, o que se verifica no caso.
3. Writ não conhecido. Ordem concedida de ofício para restabelecer a decisão que con-
cedeu ao paciente o indulto, com fundamento no Decreto n.º 7.420/2010.
(HC 253.952/MT, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, jul-
gado em 12/11/2013, DJe 02/12/2013).

2.3.3. Retroatividade da Lei que Não mais Considera o Fato como Crime

O inciso III do art. 107 do CP trata da abolicio criminis, que significa a descriminalização de
uma conduta efetuada por uma Lei, a qual terá retroatividade benéfica. Na história não muito
distante do direito penal brasileiro, ocorreu abolicio criminis dos crimes de adultério, sedução,
rapto consensual. Se já houver condenação transitada em julgado, o juiz da execução aplicará
a abolitio criminis, na forma do artigo 66 da Lei da Execução Penal (7.210/84).
Se a lei descriminalizadora surgir na fase do inquérito policial já instaurado, os autos serão
relatados encaminhados ao Ministério Público (nos locais onde se faz a distribuição direta)
ou ao judiciário (para envio ao Ministério Público). Após a promoção de arquivamento do Mi-
nistério Público, o juiz homologará o arquivamento. Se não concordar com o arquivamento do
Ministério Público, o juiz deverá aplicar o artigo 28 do CPP.

Essa sistemática foi alterada pela Lei 13964/2019 (pacote anticrime), mas está com a efi-
cácia suspensa em razão de decisão do STF do primeiro semestre de 2020. É importante
acompanhar.

A abolicio criminis também pode acontecer por força de decisão do STF no controle de
constitucionalidade. Veja os temas em debates no final do capítulo de PDF da Teoria da Norma.
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Esse tema foi devidamente explicado no PDF de princípios e no PDF de teoria da norma, para
os quais remetemos o leitor.

2.3.4. Pela Prescrição, Decadência ou Perempção

O tema prescrição será tratado no final deste capítulo.


A decadência constitui a perda do direito de ação (ação privada) ou de representação (ação
pública condicionada) por inércia do titular. Gera, por conseguinte, a extinção do direito de pu-
nir do Estado (artigos 103 do CP e 38 do CPP).
A perempção se apresenta como uma sanção processual ao querelante que foi desidioso,
inerte, que teve uma conduta processual omissiva (ver artigo 60 do CPP).

2.3.5. Pela Renúncia do Direito de Queixa ou pelo Perdão Aceito, nos Crimes
de Ação Privada

A renúncia constitui ato unilateral do ofendido, pré-processual– expresso (declaração assi-


nada pelo ofendido) ou tácito (prática de ato que revela uma incompatibilidade com o exercício
do direito de queixa)– que abre mão de propor a ação privada (artigo 104 e parágrafo único;
artigos 31, 49 e 50 do CPP).

Princípio da indivisibilidade previsto no artigo 49 Código de Processo Penal: “A renúncia ao


exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá”.
Artigo 74 da Lei 9099/95: “A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologa-
da pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
competente. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal
pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de
queixa ou representação”.

Perdão do ofendido é um ato bilateral, descrito nos artigos 105 e 106 (indivisibilidade) do
CP. Possui fundamento no princípio da disponibilidade, aplicável aos crimes de ação privada.
Pode ser oferecido do início da ação até o trânsito em julgado. Depende da existência de um
processo em curso.
Seguem os artigos do CP sobre o perdão que costumam ser cobrados em provas de
concursos:

Art. 105. O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao
prosseguimento da ação.
Art. 106. O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito:
I – se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita;

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II – se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros;
III – se o querelado o recusa, não produz efeito.
§ 1º Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na
ação.
§ 2º Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória.

2.3.6. Pela Retratação do Agente, nos Casos em que a Lei a Admite

A retratação significa retirar o que foi dito, de modo a extinguir a punibilidade, conforme a
previsão legal.

Exemplo: artigo 143 do CP: “O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da
calúnia ou da difamação, fica isento de pena”. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado
tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação
dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa”.
Exemplo: §2º do artigo 342 do CP: “§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no
processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade”.

2.3.7. Pelo Perdão Judicial, nos Casos Previstos em Lei

Quanto ao instituto do perdão judicial, o juiz é quem o aplica, com fundamento em deter-
minadas condições que estiveram presentes no momento do fato, conforme a previsão legal
(exemplos: homicídio culposo, lesão culposa, receptação culposa, colaboração premiada do
art. 4º da Lei 12850).

Cuidado com a súmula 18 do STJ.


Artigo 8º da Lei de Contravenções Penais.
Artigo 4º da Lei n. 12.850/2013.
Decisões do STJ.

LCP, Decreto-Lei n. 3.688/41


Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode
deixar de ser aplicada.
Lei n. 12.850/2013
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois
terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha cola-
borado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa
colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

STJ
I – A col. 6ª Turma do STJ, ao examinar a possibilidade de aplicação do perdão judicial
(§ 5º do art. 121 do CP) ao homicídio culposo no trânsito, assentou que “[A] melhor doutrina,
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quando a avaliação está voltada para o sofrimento psicológico do agente, enxerga no §


5º a exigência de um vínculo, de um laço prévio de conhecimento entre os envolvidos,
para que seja “tão grave” a consequência do crime ao agente. A interpretação dada, na
maior parte das vezes, é no sentido de que só sofre intensamente o réu que, de forma
culposa, matou alguém conhecido e com quem mantinha laços afetivos. [...] Entender
pela desnecessidade do vínculo seria abrir uma fenda na lei, que se entende não haver
desejado o legislador, pois, além de difícil aferição – o tão grave sofrimento –, serviria
como argumento de defesa para todo e qualquer caso de delito de trânsito, com vítima
fatal” (REsp n. 1.455.178/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe de 6/6/2014, grifei).
II – Na hipótese dos autos, contudo, sequer está demonstrado que o ora recorrente man-
tinha laços afetivos com a vítima, porquanto, segundo afirmado pela mãe da vítima,
“os dois tentaram um vida juntos, chegaram a morar na mesma casa por um ano e três
meses, mas não deu certo” (fl. 379).
III – Nesse diapasão, reconhecer, in casu, a presença dos requisitos aptos a ensejar a
concessão do perdão judicial reclama incursão no acervo fático-probatório delineado
nos autos, procedimento vedado pela Súmula n. 7 desta Corte, e que não se coaduna
com os propósitos atribuídos à via eleita. Precedentes.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 1349597/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
18/09/2018, DJe 21/09/2018).

A Súmula 18 do STJ esclarece que o perdão judicial possui natureza declaratória de extinção
da punibilidade.

2.3.8. Prescrição

A prescrição penal constitui matéria de ordem pública, logo deve ser declarada de ofício
pelo julgador, em qualquer do processo penal ou da execução penal. Constitui causa extintiva
da punibilidade regulada nos artigos 107 a 119 do CP e, ainda, em dispositivos da Legislação
Especial Penal.
Não há prescrição nos crimes de racismo e terrorismo (CF, art. 5º, incisos XLII e XLIV).

STJ [...]
2 – Condenado o recorrente por infração ao art. 20, § 2º, da Lei n. 7.716/1989, sobre o
qual incide cláusula de imprescritibilidade, nos termos do art. 5º, XLII, da Constituição
Federal, não há que se falar em prescrição.

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3 – A questão relativa à competência já foi decidida pela Terceira Seção desta Corte,
(AgRg nos EDcl no CC n. 120559/DF) e confirmada pelo STF (HC n. 121283/DF) que rati-
ficou a competência da Justiça estadual para processar e julgar o feito.
4 – Concluindo as instâncias ordinárias, soberanas na análise das circunstâncias fáticas
da causa, que o recorrente praticou o delito de racismo, desclassificar a conduta para
injúria racial é providência inviável em recurso especial, a teor da Súm. n. 7/STJ.
5 – Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 753.219/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 24/05/2018, DJe 01/06/2018).

A jurisprudência entende que o legislador pode ampliar as hipóteses de imprescritibilidade


(STF – RE 460971/RS). Em decisão de 2019, na qual se discutiu Tratado Internacional que pre-
vê imprescritibilidade de crimes contra a humanidade, o STJ decidiu pela necessidade de Lei
interna (importante acompanhar futura decisão do STF sobre esse tema).

STJ
[...] 12. Conclusão: A admissão da Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes
de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade como jus cogens não pode violar princí-
pios constitucionais, devendo, portanto, se harmonizar com o regramento pátrio. Refe-
rida conclusão não revela desatenção aos Direitos Humanos, mas antes observância às
normas máximas do nosso ordenamento jurídico, consagradas como princípios consti-
tucionais, que visam igualmente resguardar a dignidade da pessoa humana, finalidade
principal dos Direitos Humanos. Nesse contexto, em observância aos princípios cons-
titucionais penais, não é possível tipificar uma conduta praticada no Brasil como crime
contra humanidade, sem prévia lei que o defina, nem é possível retirar a eficácia das
normas que disciplinam a prescrição, sob pena de se violar os princípios da legalidade e
da irretroatividade, tão caros ao direito penal.
13. O não reconhecimento da imprescritibilidade dos crimes narrados na denúncia não
diminui o compromisso do Brasil com os Direitos Humanos. Com efeito, a punição dos
denunciados, quase 40 anos após os fatos, não restabelece os direitos humanos supos-
tamente violados, além de violar outros direitos fundamentais, de igual magnitude:
segurança jurídica, coisa julgada material, legalidade, irretroatividade etc.
14. Pedido Subsidiário: No que diz respeito à alegada ofensa aos arts. 347 e 348, ambos
do CP, a argumentação trazida no recurso especial não encontra óbice ao seu conheci-
mento. Porém, a insurgência não merece prosperar. Com efeito, o recorrente pretende
demonstrar que os crimes de fraude processual e de favorecimento pessoal têm natu-
reza de crime permanente, motivo pelo qual o prazo prescricional, com relação ambos,
ainda não teria se implementado.

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Contudo, é uníssona na doutrina, bem como na jurisprudência, a classificação dos refe-


ridos crimes como instantâneos, motivo pelo qual não é possível igualmente acolher o
pleito subsidiário do recorrente.
15. Dispositivo: Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, improvido.
(REsp 1798903/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 25/09/2019, DJe 30/10/2019).

Quanto à injúria racial, prevista no art. 143 do CP (não descrita na Lei de Racismo), a juris-
prudência do STJ entendeu que constitui uma espécie de racismo, de modo que não prescreve.
Em recente julgamento iniciado no STF (26 de novembro de 2020), no bojo do HC 154.248, o
Ministro Edson Fachin votou no sentido da imprescritibilidade da injúria racial. O julgamento
será retomado em 02/12/2020 (é importante acompanhar o resultado).

STJ
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. INJÚRIA RACIAL. ART. 140, § 3º, DO
CP. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 107, IV, 109, V, E 117, I, TODOS
DO CP. PLEITO DE RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO. INADMISSIBILIDADE. ACÓRDÃO
RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DAS CORTES SUPERIORES.
1. Nos termos da orientação jurisprudencial desta Corte, com o advento da Lei n.
9.459/97, introduzindo a denominada injúria racial, criou-se mais um delito no cenário
do racismo, portanto, imprescritível, inafiançável e sujeito à pena de reclusão (AgRg no
AREsp n. 686.965/DF, Ministro Ericson Maranho (Desembargador Convocado do TJ/SP),
Sexta Turma, julgado em 18/8/2015, DJe 31/8/2015) – (AgRg no AREsp n. 734.236/DF,
Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 8/3/2018).
2. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1849696/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, jul-
gado em 16/06/2020, DJe 23/06/2020).

A prescrição penal é diferente da prescrição civil. Essa última pode significar aquisição de
direitos, por exemplo, usucapião. A prescrição civil pode ser renunciada, a penal corre sempre.

Conceito

A prescrição penal consiste na perda do direito de punir do Estado pelo não exercício em
determinado lapso de tempo. Pode ser contada de duas maneiras: pela pena abstrata e pela
pena concreta.

STJ [...] II – A prescrição da pretensão punitiva estatal, como matéria de ordem pública,
cognoscível de ofício pelo julgador, deve ser declarada em qualquer momento e grau de
jurisdição.

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III – No art. 110, § § 1º e 2º, do Código Penal (redação anterior à Lei n. 12.234/2010),
vigente ao tempo do cometimento das práticas delitivas, está previsto que a prescrição,
depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, regula-se
pela pena aplicada, podendo ter por termo inicial data anterior à do recebimento da
denúncia ou da queixa.
IV – No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de
cada um, isoladamente (art. 119, do Código Penal). Também quando se tratar de crime
continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando
o acréscimo decorrente da continuação (Súmula n. 497/STF). Para cada um dos delitos
de delitos apurados na origem, a prescrição começa a correr do dia em que o crime se
consumou (art. 111, inciso I, do Código Penal) e só vai ser interrompida pelo recebi-
mento da denúncia (art. 117, inciso I, do Código Penal).
V – Não transcorrido o prazo de 8 anos entre os marcos interruptivos dos fatos típicos
descrito no art. 288 do Código Penal, notadamente entre a cessação da permanência e o
recebimento da denúncia, incabível a declaração de extinção da punibilidade pela pres-
crição retroativa, ex vi dos arts. 109, III, 111, todos do Código Penal, como no presente
caso, conforme constou do acórdão da apelação (fl.4065). Igualmente com relação aos
delitos previstos no art. 177 do Código Penal. [...]
(EDcl no AgRg no AREsp 1378944/RJ, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 10/12/2019,
DJe 03/02/2020).

Natureza Jurídica

Constitui causa extintiva da punibilidade, sendo matéria de direito penal, mesmo quando
descrita em textos do Código de Processo Penal (exemplos: arts. 366, 368). Em razão de sua
natureza, a contagem do prazo prescricional segue as regras do Direito Penal, não seguem as
regras do Direito Processual Penal.

Espécies de Prescrição

O estudo da prescrição pode ser dividido conforme a sua classificação em prescrição da


pretensão punitiva e prescrição da pretensão executória.
A primeira, prescrição da pretensão punitiva (PPP) ocorre antes do trânsito em julgado,
embora possa ser reconhecida em qualquer momento, mesmo após o trânsito em julgado. A
PPP, quando reconhecida, elimina todos os efeitos penais. O início de sua contagem é regulado
pelo art. 111 do CP.

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A segunda, prescrição da pretensão executória (PPE), inicia a sua contagem com o trânsito
em julgado para a acusação nos termos do art. 112 do CP (veja a abordagem do tema, com
julgados). A PPE, quando reconhecida, impede o Estado de executar a pena, de impor o ius
puniendi. Todavia, a PPE não elimina todos os efeitos penais, uma vez que a reincidência, por
exemplo, sobrevive à PPE.

Em casos de sentença condenatória seguida de posterior reconhecimento de PPP, não vista


antes pelos operadores do direito, ou de PPE na fase da execução, não haverá eliminação
dos efeitos cíveis da sentença, que servirá, por exemplo, como título para ser executado no
juízo cível.

Prescrição da Pretensão Punitiva (PPP)

A prescrição da pretensão punitiva se divide em...


Prescrição pela pena em abstrata: após o cometimento do crime, observa-se o máximo
de pena em abstrato, que deverá ser lançado na “tabela” do art.109 do CP, de modo a obter o
resultado do prazo prescricional. Após as modificações inseridas no CP pela Lei 12234, a pres-
crição da pretensão punitiva com base na pena em abstrato é a única que pode ser contado
do fato até o recebimento da Denúncia, para os crimes cometidos após a entrada em vigor da
lei mencionada.
Na análise da prescrição pela pena em abstrato, deve-se colher o máximo de pena pos-
sível e, em seguida, fazer o seu lançamento nos comandos do art. 109 do CP. Dessa forma,
devem ser consideradas a maiores causas de aumento de pena (exemplo: em uma causa de
1/3 a ½, deve ser considerada a fração de ½ com incidência na pena máxima abstrata); a qua-
lificadora (exemplo: furto qualificado, do art. 155 § 4º, inciso I, pena de 2 a 8 anos, a pena de
8 anos deve ser lançada no art. 109 para se obter o prazo prescricional). No caso de causa de
diminuição de pena, deve ser considerada a menor diminuição, ou seja, a menor fração de di-
minuição deverá incidir sobre o máximo em abstrato, de modo a obter um resultado que deverá
ser lançado no art. 109 para se chegar ao prazo prescricional). As agravantes e as atenuantes
não são consideradas na prescrição realizada com suporte na pena em abstrato.
Prescrição retroativa: a prescrição retroativa é analisada com base na pena em concreto,
fixada na decisão condenatória, em caso de trânsito em julgado para a acusação ou depois
de improvido o seu recurso, nos termos do §1º do art. 110 do CP, nos prazos da sentença
para trás:

§ 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou


depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese,
ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

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O patamar de pena da decisão condenatória, cumprido os dois requisitos anunciados (trân-


sito em julgado para a acusação ou depois de improvido o seu recurso) deverá ser lançado na
tabela do art. 109 do CP. Em seguida, o seu resultado deverá ser analisado nos intervalos das
causas interruptivas mencionadas no art. 117 do CP, da sentença para trás, ou, na verdade, do
recebimento da denúncia até a sentença.

Exemplo: Maria, não reincidente, com 30 anos na data do fato (mês de janeiro) e com os
mesmos 30 anos na data do recebimento da denúncia (mês de junho), e 42 na data da sen-
tença (mês de agosto), foi condenada pelo crime de roubo a uma pena de 5 anos de reclusão
em regime semiaberto. O Ministério Público não recorreu, de modo que transitou em julgado
para a acusação. Em seguida, observou-se que entre o recebimento da denúncia e a sentença
condenatória decorreram 12 anos. Desse modo, considerando que 5 anos de pena lançados no
art. 109 prescrevem em 12 anos, houve prescrição retroativa entre o recebimento da denúncia
e a sentença condenatória.

Antes da entrada em vigor da Lei 12234, era possível prescrição retroativa do fato ao recebi-
mento da denúncia. Agora, isso não é mais possível, salvo para os fatos cometidos antes da
entrada em vigor da referida lei.

O STF já afirmou a constitucionalidade da prescrição retroativa, uma modalidade de pres-


crição existente apenas no Brasil, uma vez que não é comum a existência de prescrição com
base na pena em concreto em etapas anteriores à sentença.

STF INFORMATIVO N. 771 Prescrição penal retroativa e constitucionalidade – 3


PROCESSO HC – 122694
O Tribunal mencionou a existência de corrente doutrinária
defensora da inconstitucionalidade dessa alteração legislativa, por supostamente violar
a proporcionalidade e os princípios da dignidade humana, da humanidade da pena, da
culpabilidade, da individualização da pena, da isonomia e da razoável duração do pro-
cesso. Outra corrente afirmaria a extinção da prescrição na modalidade retroativa pela
Lei 12.234/2010. A Corte aduziu, entretanto, que essa inovação estaria inserta na liber-
dade de conformação do legislador, que teria legitimidade democrática para, ao restrin-
gir direitos, escolher os meios que reputasse adequados para a consecução de deter-
minados objetivos, desde que não lhe fosse vedado pela Constituição e nem violasse a
proporcionalidade, a fim de realizar uma tarefa de concordância prática justificada pela
defesa de outros bens ou direitos constitucionalmente protegidos. O Plenário ponderou,
ainda, que os fluxos do sistema de justiça criminal no Brasil seriam pouco eficientes, e que
a taxa de esclarecimento de crimes seria demasiado baixa, a indicar a impossibilidade de
se investigar, com eficiência, todos os crimes praticados. Isso demonstraria a vinculação
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da nova lei com a realidade. Nesse sentido, dada a impossibilidade financeira de o Estado
atender, em sua plenitude, a todas as outras demandas sociais, seria irreal pretender que
os órgãos da persecução devessem ser providos de toda a estrutura material e humana
para investigar, com eficiência e celeridade, todo e qualquer crime praticado. A avassa-
ladora massa de delitos a apurar seria uma das causas da impunidade, dada a demora
ou impossibilidade no seu esclarecimento, na verificação da responsabilidade penal e
na punição do culpado, assim reconhecido definitivamente. Dessa maneira, o legislador
optara por não mais prestigiar um sistema de prescrição da pretensão punitiva retroa-
tiva que culminava por esvaziar a efetividade da tutela jurisdicional penal. Demais disso,
essa modalidade de prescrição, calculada a partir da pena aplicada na sentença, cons-
tituiria peculiaridade da lei brasileira, que não encontraria similar no direito comparado.
Nas legislações alienígenas, a prescrição da pretensão punitiva seria regulada pela pena
máxima em abstrato, e nunca pela pena aplicada, a qual regularia apenas a prescrição da
pretensão executória. Isso demonstraria que, embora a pena justa para o crime fosse a
imposta na sentença, seria questão de política criminal, a cargo do legislador, estabelecer
se a prescrição, enquanto não ocorrido o trânsito em julgado, deveria ser regulada pela
pena abstrata ou concreta, bem como, nesta hipótese, definir a expansão dos efeitos “ex
tunc”. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que concedia a ordem e assentava a inconstitu-
cionalidade do art. 110, § 1º, do CP. Assinalava que não se poderia chancelar a possibi-
lidade de o Ministério Público ou o titular de ação penal privada não ter prazo para atuar,
ainda que houvesse dados suficientes para a propositura de ação penal, independente-
mente de investigação. HC 122694/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 10.12.2014. (HC-122694).

Prescrição intercorrente (subsequente ou superveniente): a prescrição intercorrente é


analisada com base na pena em concreto, fixada na decisão condenatória, em caso de trân-
sito em julgado para a acusação ou depois de improvido o seu recurso, nos termos do §1º do
art. 110 do CP, nos prazos da sentença para frente:

§ 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou


depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese,
ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

O patamar de pena da decisão condenatória, cumprido os dois requisitos anunciados (trân-


sito em julgado para a acusação ou depois de improvido o seu recurso) deverá ser lançado na
tabela do art. 109 do CP. Em seguida, o seu resultado deverá ser analisado nos intervalos das
causas interruptivas mencionadas no art. 117 do CP, de forma específica, da sentença para
frente. A prescrição intercorrente ocorre, geralmente, entre a sentença e o exame do recurso
da Defesa pelo Tribunal.

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Exemplo: Caio, não reincidente, com 40 anos na data do fato e 42 na data da sentença, foi con-
denado pelo crime de furto a uma pena de 2 anos de reclusão em regime aberto. O Ministério
Público não recorreu, de modo que transitou em julgado para a acusação. A defesa apelou da
decisão. Em seguida, observou-se que entre o recurso da Defesa e o seu exame pelo Tribunal
decorreram 4 anos. Desse modo, considerando que 2 anos de pena lançados no art. 109 pres-
crevem em 4 anos, houve prescrição superveniente entre a publicação da sentença e antes do
trânsito em julgado, durante o exame do recurso da Defesa.

Prescrição virtual (em perspectiva, ideal, hipotética, retroativa antecipada).


Modalidade não prevista em lei, não é adotada pela jurisprudência dos Tribunais Superio-
res. Vedada na súmula 438 do STJ. Foi aplicada no dia a dia, aos fatos cometidos antes da en-
trada em vigor da 12234/2020, uma vez que muitos Promotores de Justiça e Juízes de Direito
adotavam-na nas promoções de arquivamento e decisões de homologação respectivamente.
Nessa modalidade de prescrição, havia uma projeção de pena futura, O membro do Ministério
Público, ao receber a investigação ou ao conduzir a investigação, constava que o fato, caso
fosse objeto de uma ação penal e, ao final, houvesse uma sentença condenatória, a pena apli-
cada lançada no art. 109 do CP redundaria em um patamar temporal de prescrição que já teria
ocorrido entre o fato e o recebimento da denúncia.

Súmula n. 438 do STJ


É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com funda-
mento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.

Prescrição da Pretensão Executória (PPE)

A prescrição da pretensão executória, conforme já anunciado, ocorre durante a execução


da pena quando o condenado, por exemplo, foge, de modo a prescrição (PPE) se regulará pelo
restante temporal da pena lançado na “tabela” do art. 109, nos termos do art. 113 do CP.
A contagem da PPEM se inicia com o trânsito em julgado para a condenação, nos termos
do art. 112 do CP. Todavia, esse tema sempre foi alvo de divergência, uma vez que a lógica in-
dica que a PPE só deveria iniciar a contagem com o trânsito em julgado para ambas as partes.
Em decisões recentes, julgados do STJ apontam divergência:

STJ
[...] 2. Nos termos da jurisprudência deste Sodalício, embora o termo inicial da contagem
da prescrição da pretensão executória do Estado seja o trânsito em julgado para a acu-
sação, não há que se falar em início de seu cômputo, quando pendente o trânsito em jul-
gado para ambas as partes, porquanto ainda em curso a contagem da prescrição da pre-
tensão punitiva, que pode ocorrer na modalidade retroativa (EDcl no AREsp n. 651.581/

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MS, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 13/12/2018, DJe 19/12/2018) –
(AgRg no HC n. 473.344/PB, Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 26/3/2020).
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1832665/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, jul-
gado em 08/09/2020, DJe 15/09/2020)”.
STJ
[...] I – Esta Corte Superior de Justiça sedimentou entendimento no sentido de que
“conforme disposto expressamente no art. 112, I, do CP, o termo inicial da contagem
do prazo da prescrição executória é a data do trânsito em julgado para a acusação, e
não para ambas as partes, prevalecendo a interpretação literal mais benéfica ao conde-
nado.” (AgRg nos EAREsp 908.359/MG, Terceira Seção, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, DJe
de 02/10/2018).
II – Nos termos do art. 110, caput, do Código Penal, a prescrição depois do trânsito em
julgado da sentença condenatória é regulada pela pena aplicada. Considerando a sanção
cominada em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de reclusão, a prescrição ocorre em 4
(quatro) anos, nos termos do art. 109, inciso V, também do Código Penal. III – Na hipótese
dos autos, a sentença condenatória transitou em julgado para o Ministério Público esta-
dual em em 17/01/2014 (fl.
247), assim, o início da execução da pena deveria ter ocorrido até 16/01/2018.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1817283/MT, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEM-
BARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 01/10/2019, DJe
08/10/2019).
STJ
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. ESTELIONATO.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. INÍCIO DA CONTAGEM A PARTIR DO TRÂN-
SITO EM JULGADO À ACUSAÇÃO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO IMPROVIDO.
1. Segundo o art. 112, I, do Código Penal e a Jurisprudência desta Corte Superior, a con-
tagem do prazo de prescrição da pretensão executória tem como marco inicial o trânsito
em julgado para a acusação.
2. Considerando que a possibilidade de interposição de recursos pela acusação se deu
em 12/1/2009 e que o último mandado de prisão para o início do cumprimento da pena
foi expedido com validade até 29/9/2022, está operada a prescrição, cujo prazo é de 8
anos (pena de 2 anos e 6 meses de reclusão), nos termos do art. 109, IV, c/c o 112, I,
ambos do CP.
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no RHC 113.795/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
01/10/2019, DJe 08/10/2019).
STJ

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DIREITO PENAL – PARTE GERAL
Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade
Dermeval Farias

[...]1. Esta Corte Superior de Justiça, interpretando a legislação federal vigente, firmou o
entendimento de que o artigo 112, inciso I, do Código Penal que fixa como termo inicial
da contagem do prazo da prescrição da pretensão executória o trânsito em julgado da
sentença condenatória para a acusação não pode ser interpretado da forma que importe
em agravamento da situação do condenado. 2. Nos termos da jurisprudência vigente
neste Superior Tribunal de Justiça, o marco inicial para contagem do prazo da prescrição
da pretensão executória da pena é a data do trânsito em julgado para a acusação e não
para ambas as partes envolvidas no processo. Precedentes.
3. O trânsito em julgado para a acusação ocorreu em 19.7.2009, tendo o agravante sido
condenado à pena de 3 anos de reclusão pelo crime descrito no art. 35 da Lei n. 11.343/06,
de forma que o prazo a ser observado para o cálculo da prescrição da pretensão executó-
ria é o previsto no inciso VI do art. 109 do Estatuto Repressivo, qual seja, 8 anos.
[...]
(AgRg na PET no AREsp 1225885/PI, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, jul-
gado em 01/10/2019, DJe 10/10/2019).

O STF, no passado, também decidiu que era o trânsito em julgado para ambas as partes.
Todavia, em decisões recentes têm dito que que deve ser aplicado o art. 112 na sua literalida-
de, ou seja, trânsito em julgado para acusação para iniciar a PPE.

STF
Agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus. 2. Agravo da PGR. 3. Tese
de inaplicabilidade do Código Penal. Marco inicial da prescrição após sentença. Trân-
sito em julgado para a acusação. Princípio da reserva legal. 4. Impropriedade do legis-
lador penal que não pode ser suprida pelo Judiciário para prejudicar o réu. 5. Agravo
improvido.
(RHC 155211 AgR, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 20/09/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 30-09-2019 PUBLIC 01-10-2019).

Redução do Prazo Prescricional

O art. 115 afirma a contagem do prazo prescricional pela metade no caso de crime come-
tido por agente que possuía menos de 21 anos na data do fato ou mais de 70 anos na data da
sentença. Essa redução do prazo prescricional possui incidência tanto nos caos de PPP (pres-
crição da pretensão punitiva) quanto nos casos de PPE (prescrição da pretensão executória).
E se aplica, inclusive, à lei especial que não discipline de forma diversa.

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DIREITO PENAL – PARTE GERAL
Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade
Dermeval Farias

Dessa forma, a título de ilustração, a regra do art. 114 vale para o art. 30 da Lei 11343/2006
(2 anos de pena, prescrição em 4 anos, se o agente tinha menos de 21 na data do fato ou mais
de 70 anos na data da sentença, prescrição em 2 anos).
Quanto aos 70 anos na data da sentença, o entendimento atual da jurisprudência é de que
se trata da primeira decisão condenatória. Desse modo, por exemplo, se o condenado possui
69 anos e 11 meses de idade na data da sentença, apela da decisão e, quando do acórdão pelo
Tribunal, já possui 70 anos, o seu prazo prescricional não será reduzido pela metade, uma vez
que possuía menos de 70 anos na data da sentença.

STJ
[...] 2. Por expressa previsão do art. 115 do CP, são reduzidos pela metade os prazos de
prescrição quando o criminoso era, na data da sentença, maior de 70 anos. O acórdão
confirmatório da condenação não substitui o marco de redução do prazo prescricional.
Precedentes.
3. É inviável adotar, à míngua de previsão legal, a imutabilidade da condenação como
inédito parâmetro para a aplicação do art. 115 do CP. Em matéria de prescrição, é reco-
mendável a interpretação restritiva, principalmente se considerado que o objetivo da
norma é extinguir um direito devido à inércia de seu titular, e não há falar em desinte-
resse do Estado quando, no caso concreto, a impossibilidade de executar a pena substi-
tutiva decorre da exigência do trânsito em julgado para ambas as partes.
4. A idade limite foi completada pelo agravante depois da sentença e do acórdão profe-
rido em apelação, o que impossibilita a concessão da ordem.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no RHC 94.376/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 17/05/2018, DJe 01/06/2018).

Início do Prazo Prescricional da Prescrição da Pretensão Punitiva (Art. 111)

A regra geral de início de contagem do prazo prescricional ocorre com a consumação do


crime, ou seja, teoria do resultado para efeito de contagem da PPP.

Esse dispositivo e seus incisos são sempre pedidos em prova de concursos.

A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:


I – do dia em que o crime se consumou;
II – no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;
III – nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

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Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade
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IV – nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em
que o fato se tornou conhecido.
V – nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em
legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já
houver sido proposta a ação penal.

Prescrição e Medida de Segurança

Quanto ao inimputável, há três entendimentos:


• não há prescrição da pretensão executória, mas somente da pretensão punitiva;
• é possível a prescrição da pretensão punitiva e a prescrição da pretensão executiva.
Entretanto, a prescrição da pretensão executória regula-se pela pena cominada em abs-
trato;
• analisa-se o sujeito ainda continua doente para dizer se deve aplicar ou não a prescrição.

Há decisões do STJ no sentido de contagem da prescrição, na medida de segurança, pela


pena em abstrato. No tocante ao semi-imputável, regula-se pela pena fixada antes de ser con-
vertida em medida de segurança (parágrafo único do art. 26 e art. 98 do CP).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. USO DE DOCUMENTO FALSO. ESTE-


LIONATO. DESCLASSIFICAÇÃO. ABSOLVIÇÃO. REVOLVIMENTO DE ELEMENTOS FÁTICO-
-PROBATÓRIOS. NECESSIDADE. MEDIDA DE SEGURANÇA. PRESCRIÇÃO. PENA MÁXIMA
EM ABSTRATO. AGRAVO DESPROVIDO. 1. O reconhecimento da atipicidade das condutas
perpetradas ou de desclassificação do delito de uso de documento falso para o disposto
na Lei n. 8.137/1990, considerada incogitável pela Corte a quo, não poderia ser alvo de
exame perante esta Corte, pois para se chegar a conclusão diversa da adotada pelo Tri-
bunal de origem seria imprescindível o reexame de provas, vedado pelo óbice da Súmula
7 do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual “a pretensão de simples reexame de
prova não enseja recurso especial”.
2. A prescrição, nos casos de sentença absolutória imprópria, é regulada pela pena
máxima abstratamente prevista para o delito.
3. Agravo desprovido.
(AgRg no REsp 1638998/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
20/09/2018, DJe 28/09/2018).

Prazos da Prescrição (Art. 109)

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do
art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se:

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Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade
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I – em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II – em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;
III – em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;
IV – em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
V – em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;
VI – em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

Prescrição na Pena de Multa (Art. 114)

A prescrição da pena de multa é regulada pelo art. 114 do CP:

Art. 114. A prescrição da pena de multa ocorrerá: (Redação dada pela Lei n. 9.268, de 1º.4.1996)
I – em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada; (Incluído pela Lei n. 9.268,
de 1º.4.1996)
II – no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for
alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.

Penas Restritivas (Parágrafo Único do Art. 109)

A prescrição das penas restritivas de direito é regulada pelo parágrafo único do art. 109:
“Parágrafo único. Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para
as privativas de liberdade”.

Reincidência e Prescrição

A reincidência somente influência no prazo da prescrição da pretensão executória e não


influência no prazo da prescrição da pretensão punitiva. A reincidência aumenta em 1/3 o
prazo da prescrição da pretensão executória (PPE), conforme caput do art. 110 do CP. Além
disso, a reincidência interrompe a contagem da PPE, nos termos do inciso VI do art. 117 do CP.
Nos termos da súmula 220 do STJ: “A reincidência não influi no prazo da prescrição da
pretensão punitiva”.

Concurso de Crimes e Prescrição (Art. 119 do CP)

No concurso e crimes, a prescrição é contada com base na pena de cada crime tomada
de maneira isolada. Desse modo, no concurso de crimes, é contada de forma individualizada
na pena atribuída a cada delito e não do montante da soma ou da exasperação, nos termos do
art. 119 do CP.
Exemplo: em um concurso formal próprio, o juiz fixou a pena do sujeito em 4 anos e aumen-
tou até a metade, resultando um total de 6 anos (art. 70 do CP). Nesse caso, a prescrição não

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Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade
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ocorrerá em 12 anos, mas sim em 8 (art. 119). Isso porque a pena a ser lançada no art. 109 é
a de 4 anos e não a de 12 anos.
Já decidiu o STJ:

[...] 2 O aumento de pena decorrente da continuidade delitiva não é considerado para fins
do cálculo da prescrição da pretensão punitiva. Incidência da Súmula 497/STF.
3. Na hipótese dos autos, a pretensão punitiva pelo crime de furto, cuja pena-base restou
definida em 2 anos e 6 meses, prescreve em 8 anos (art. 109, IV, do CP).
4. A utilização do habeas corpus como substitutivo de revisão criminal se opera em cará-
ter excepcional quando o apontado constrangimento ilegal se mostra flagrante, dispen-
sando, inclusive, o revolvimento de matéria fático-probatória, hipótese diversa do pre-
sente caso. Precedentes do STJ.
5. Ordem parcialmente conhecida e, nesta extensão, denegada.
(HC 57.926/SC, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em
19/08/2009, DJe 21/09/2009).

Cuidado com a súmula 497 do STF que diz: “Quando se tratar de crime continuado, a prescri-
ção regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da
continuação”.

Prescrição e Detração

A detração consiste no desconto na pena definitiva do tempo de prisão provisória do con-


denado. Esse desconto não é levado em conta em matéria de prescrição da pretensão punitiva,
ou seja, o art. 113 do CP, quando menciona a contagem pelo restante da pena, se refere à pres-
crição da pretensão executória (STF RHC 85.026/SP; HC 69865-PR), não se aplica à prescrição
da pretensão punitiva. Desse modo, a detração não interfere na prescrição da pretensão puni-
tiva. Esse é o entendimento que prevalece Há posição em sentido contrário.

Suspensão do Prazo Prescricional

As causas suspensivas ou impeditivas, quando ocorrem, paralisam a contagem do prazo


prescricional. Quando deixam de existir, o prazo prescricional reinicia a sua contagem do ponto
onde parou. São reguladas pelo art. 116 do CP e por artigos da Legislação Especial Penal.
Segundo o art. 116 do CP:

Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:

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I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da exis-
tência do crime;
II – enquanto o agente cumpre pena no exterior
III – na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando
inadmissíveis; e
IV – enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal.
Parágrafo único. Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre
durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo.

Os inciso II, III e IV foram inseridos pela Lei 13964/2019 – Pacote Anticrime.
Há muitas outras causas suspensivas previstas na Legislação Penal Especial. Exemplos: arts.
366 e 368 do CPP; § 5º do art. 53 da CF; art. 87 da Lei 12.529/2012; art. 83 § § 2º e 3º da Lei
9.430/1996; § 3º do art. 4º da Lei 12850/2013; 1º do art. 9º da Lei 10.684/2003.

Interrupção do Prazo Prescricional da Pretensão Punitiva

O art. 117 trata das causas interruptivas da prescrição, ou seja, quando uma dessas cau-
sas incide, o prazo prescricional zera e recomeça a correr imediatamente, salvo na hipótese do
incido V. Os incisos de I a IV cuidam de causas interruptivas da PPP (prescrição da pretensão
punitiva), enquanto os incisos V e VI apontam causas interruptivas da PPE (prescrição da pre-
tensão executória).

Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:


I – pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II – pela pronúncia;
III – pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV – pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V – pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI – pela reincidência.

a pronúncia constitui causa interruptiva da prescrição ainda que o Tribunal do Júri venha a des-
classificar o crime para outro que não seja de sua competência (súmula 191 do STJ).

O STF pacificou o entendimento de que o incido IV do art. 117 deve ser interpretado no
sentido de que o acórdão que confirme a sentença condenatória seja considerado como cau-
sa interruptiva da prescrição, aumentando, mantendo ou diminuindo a pena.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO


PUNITIVA. ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA. INTERRUPÇÃO

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Dermeval Farias

DO PRAZO PRESCRICIONAL. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE INÉRCIA DO ESTADO. RES-


PEITO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. 1. A prescrição é, como se sabe, o perecimento
da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art.
117 do Código Penal que deve ser interpretado de forma sistemática todas as causas
interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte.
2. Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre
acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há,
sistematicamente, justificativa para tratamentos díspares. 3. A ideia de prescrição está
vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação da condenação é a atuação do
Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se inter-
romper a prescrição para o cumprimento do devido processo legal. 4. Agravo regimental
provido.
(RE 1226719 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE
DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 04/10/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-225
DIVULG 15-10-2019 PUBLIC 16-10-2019).
STF– PLENÁRIO 2020.
Decisão: O Tribunal, por maioria, indeferiu a ordem de habeas corpus e fixou a seguinte
tese: “Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o Acórdão condenató-
rio sempre interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º
grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta”, nos
termos do voto do Relator, Ministro Alexandre de Moraes, vencidos os Ministros Ricardo
Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 17.4.2020 a
24.4.2020. HC 176473
STJ [...]
2. Não obstante a Corte Especial do STJ ter firmado entendimento em sentido contrário,
o Plenário do STF, no julgamento do HC n. 176.473/RR, fixou tese no sentido de que, “nos
termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre inter-
rompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja man-
tendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta”. Dessarte, com a publi-
cação do acórdão que julgou o recurso da apelação, houve nova interrupção do prazo
prescricional.
[...] 10. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 1316819/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 12/05/2020, DJe 19/05/2020).

Cuidado com a parte final do art. 117, seus parágrafos e o art. 118, os quais costumam ser
cobrado em provas objetivas.

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Dermeval Farias
§ 1º Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos
relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo pro-
cesso, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles.
§ 2º Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a
correr, novamente, do dia da interrupção.
Art. 118. As penas mais leves prescrevem com as mais graves.

Fazer a leitura das Súmulas: STF= 497, 592, 146; STJ= 191, 220, 74, 338.

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Dermeval Farias

QUESTÕES DE CONCURSO
001. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-SP/2019) Assinale a alternativa INCORRETA.
a) Conforme entendimento sumulado, a lei penal mais grave é aplicada ao crime continua-
do ou ao crime permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.
b) Consoante o Código Penal, a prescrição da pretensão punitiva pela pena in abstrato é regu-
lada pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se nos prazos
previstos no artigo 109, podendo ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa,
independentemente do que dispõe o § 1º do artigo 110, com a redação trazida pela Lei n.
12.234/2010.
c) Tendo em vista que o artigo 117 do Código Penal, nos incisos I, II, III, IV, V e VI, elenca as cau-
sas interruptivas da prescrição, nesses casos, interrompida a prescrição, todo o prazo começa
a correr, novamente, do dia da interrupção.
d) Os princípios que resolvem o conflito aparente de normas são: especialidade, subsidiarieda-
de, consunção e alternatividade.
e) Na denominada cooperação dolosamente distinta, se algum dos concorrentes quis partici-
par de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a
metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

No caso do inciso V do art. 117, quando ocorre a causa interruptiva da prescrição, o prazo não
começa a correr novamente, porque o agente estará preso, conforme se depreende da redação
do §2º do art. 117: “Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo
o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção”. A letra A está correta conforme
se constata da leitura da súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime con-
tinuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou
da permanência”. A letra B também está correta, uma vez que o texto do § 1º do artigo 110
só se aplica à prescrição ancorada na pena em concreto (aplicada na sentença ou acórdão),
não se aplica à contagem de prescrição alicerçada na pena em abstrato (prevista no preceito
secundário dos tipos penais). A letra D está correta porque apresenta com exatidão os quatro
princípios que solucionam o conflito aparente de normas. Por fim, a letra E está corretíssima,
trata do texto exato do §2º do art. 29 do CP (cooperação dolosamente distinta ou participação
em crime menos grave ou desvio subjetivo de conduta. Sobre o tema, vide PDF de concurso de
agentes sobre o tema).
Letra c.

002. (PROMOTOR DE JUSTIÇA MP-SC/2019) Para a configuração do concurso formal de de-


litos (art. 70 do CP), e a aplicação da pena com a causa de aumento correspondente, a conduta

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realizada não pode ser praticada na forma de “dolo específico”, sendo, portanto, admissível
somente o “dolo genérico”.

A questão aborda a primeira parte do caput do art. 70 do CP, que cuida do concurso formal
próprio ou perfeito de crimes, no qual o agente mediante uma única ação pratica dois ou mais
crime. Não se fala nesta hipótese em desígnios autônomos, expressão exclusiva da segun-
da caput do art. 70, que cuida do concurso formal impróprio. Na primeira parte, no concurso
formal próprio, o agente responderá perla pena do crime mais grave, se forem diferentes, au-
mentada de 1/6 a metade, de acordo com o número de crimes cometidos. Não há vedação
à incidência do concurso formal próprio em crimes que possuem “dolo específico”, exemplo
do furto (que além do dolo de subtrair, possui uma ementar subjetiva especial– chamada de
dolo específico na época da teoria causal neoclássica– ou seja, para si ou para outrem). Se
um agente ingressa em uma sala de aula, no momento do intervalo, e subtrai a mochilas dos
alunos que estavam nas cadeiras, pratica vários furtos na forma do concurso formal próprio,
segundo a orientação atual do STJ, vista no texto acima.
Errado.

003. (DEFENSOR PÚBLICO-DF/CESPE/2019) Acerca da ação penal, das causas extintivas da


punibilidade e da prescrição, julgue o seguinte item.
Nos casos de concurso formal ou de continuidade delitiva, a extinção da punibilidade pela
prescrição regula-se pela pena imposta a cada um dos crimes isoladamente, afastando o
acréscimo decorrente dos respectivos aumentos de pena.

O texto do art. 119 do Código Penal informa que, no concurso de crimes, a prescrição deve
ser contada com base na pena de cada crime. Não são considerados o patamar final após a
exasperação (concurso formal próprio; crime continuado) ou após a soma concurso material;
concurso formal impróprio). Desse modo, se João foi condenado a uma pena de 6 anos, exas-
perada de 1/2 em razão do concurso formal de crimes (art. 70, caput, 1ª parte), perfazendo o
total de 9 anos, a prescrição será contada com base na pena de 6 anos, ou seja: ocorrerá em
12 anos, na forma do art. 109 do CP. O item da questão menciona crime continuado e concurso
formal, mas não exclui o concurso material. A técnica de redação não torna o item errado.
Certo.

004. (DEFENSOR PÚBLICO-DF/CESPE/2019) A concessão do perdão judicial nos casos pre-


vistos em lei é causa extintiva da punibilidade do crime, não subsistindo qualquer efeito conde-
natório, salvo para fins de reincidência.
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O texto do trata do art. 120 do CP, que possui a seguinte redação: “ No caso de concurso de
crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”.
Errado.

005. (DEFENSOR PÚBLICO-MG/FUNDEP/2019) Analise o caso a seguir.


“M.K.T.” encontrava-se em regime semiaberto quando foi deferido o livramento condicional.
Encerrado o período de prova do livramento, os autos foram ao Ministério Público que requereu
a juntada da Folha e da Certidão de Antecedentes Criminais. Deferido o pedido ministerial e
juntados os documentos requeridos, com vista dos autos, o parquet verificou que “M.K.T.” ha-
via sido preso – e logo solto em audiência de custódia – pela prática de crime ocorrido durante
o período de prova do livramento condicional. O Ministério Público observou ainda que ele
havia sido denunciado e condenado pelo fato, tendo a sentença penal permitido que “M.K.T.”
recorresse em liberdade. Interposto recurso pela defesa, a sentença penal condenatória não
havia transitado em julgado. Diante da informação acerca da condenação penal, o Ministério
Público requereu a revogação do livramento condicional, a regressão cautelar de regime prisio-
nal e a designação de audiência de justificação.
Após a manifestação da defesa, deve o magistrado
a) declarar extinta a pena privativa de liberdade.
b) revogar o livramento condicional, regredir cautelarmente o regime, designar audiência de
justificação e expedir mandado de prisão.
c) suspender o livramento condicional, regredir cautelarmente o regime, designar audiência de
justificação e expedir mandado de prisão.
d) expedir mandado de prisão e decidir sobre suspensão ou revogação do livramento condicio-
nal após audiência de justificação a ser designada.

A questão, no caso narrado, informou que o período de prova do livramento condicional já se


encontrava encerrado. Portanto, tratou de entendimento sumulado do STJ, qual seja: súmula
617: “A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do
período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.”
Letra b.

006. (DEFENSOR PÚBLICO-MG/FUNDEP/2019) Considere o caso hipotético a seguir.


José, com 21 anos de idade, cometeu um delito de furto simples (art. 155, caput) em 26 de
maio do ano de 2010. A denúncia foi oferecida em 20 de maio de 2014 e recebida em 26 de
maio de 2014. Após a instrução, em sentença condenatória publicada em 26 de maio de 2016,
José foi condenado a uma pena de dois anos de reclusão. O Ministério Público não recorreu,

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enquanto que a Defensoria Pública interpôs recurso de apelação, e, em acórdão publicado em


26 de maio de 2019, José teve a pena reduzida para um ano de reclusão.
Nesse caso,
a) com base na pena final concretizada, deve ser reconhecida a prescrição retroativa, ocorrida
entre a data do fato e o recebimento da denúncia.
b) em razão da pena final concretizada, houve prescrição retroativa entre o recebimento da
denúncia e a publicação da sentença, pois deve ser aplicada a causa de redução da prescrição
(art. 115 do CP).
c) seja em razão da pena em abstrato, seja pela pena em concreto, não houve a ocorrência de
prescrição em nenhuma hipótese.
d) em razão da pena efetivamente aplicada, houve a ocorrência da prescrição superveniente,
pois entre a data de publicação da sentença e o julgamento do acórdão houve o transcurso de
três anos.

A questão, no caso narrado, informa que o agente foi condenado a uma pena de 1 ano de reclu-
são. Partindo dessa premissa, na forma delineada no art. 109, inciso V, do CP brasileiro, a pres-
crição ocorreria em quatro anos. É certo que essa prescrição, com base na pena em concreto,
não pode ser contada do fato até o recebimento da denúncia (§ 1º do art. 110). No caso que se
cuida, os períodos de contagem da prescrição são os seguintes: do recebimento da denúncia
até a sentença (26/05/2014 e 26/05/2016= 2 anos) e da sentença até o acórdão (26/05/2016
a 26/05/2019= 3 anos). Portanto, não ocorreu prescrição retroativa e nem ocorreu prescrição
intercorrente.
Letra c.

007. (JUIZ-AC/VUNESP/2019) Sobre a extinção de punibilidade, é correto afirmar que


a) nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles impede a agravação da pena,
em relação aos outros, resultante da conexão.
b) a prescrição da pretensão punitiva ocorre em 12 (doze) anos, se o máximo da pena for su-
perior a 04 (quatro) e não exceder a 08 (oito).
c) a contagem da prescrição dos crimes permanentes, antes de transitar a sentença final, ini-
cia-se a partir do dia em que o primeiro ato de execução foi efetivado.
d) a reincidência do agente interrompe o prazo da prescrição da pretensão punitiva.

A resposta correta se encontra na letra seca da lei, nos termos do art. 109, inciso III, do CP: “A
prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110
deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verifi-
cando-se: [...] III – em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede

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a oito”. As demais letras da questão possuem solução nos seguintes dispositivos: art. 108 no
caso da letra A; art. 111, inciso III, no caso da letra C; art. 117 VI, no caso da letra D. ressalta-se
que a reincidência só interfere na prescrição da pretensão executória (aumenta em 1/3 o seu
prazo nos termos do art. 110; interrompe o seu prazo, conforme previsão do inciso VI do art.
117). A reincidência não atinge o prazo da prescrição da pretensão punitiva, conforme súmula
220 do STJ: “A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva”.
Letra b.

008. (JUIZ-AC/VUNESP/2019) Considerada a hipótese de reconhecimento probatório de um


agente ter praticado um roubo com emprego de arma de fogo contra duas vítimas que cami-
nhavam na rua e, posteriormente, passados três meses do crime anteriormente noticiado, em
cidade diversa daquela onde ocorrera o crime anterior, veio a praticar roubo simples contra
vítima diversa da anterior, a fixação da pena deverá observar o concurso
a) formal pela primeira conduta e concurso material entre esta e a segunda.
b) formal pelas duas condutas.
c) material na primeira conduta e formal entre esta e a última.
d) material na primeira conduta e crime continuado entre esta e a segunda.

A resposta correta está em sintonia com a jurisprudência do STJ. Isto é: roubos cometidos
contra várias vítimas no mesmo contexto fático caracterizam concurso formal próprio. Decor-
rido o intervalo de 3 meses (superior aos 30 dias da continuidade delitiva), o agente praticou
nova conduta. Desse modo, na primeira sequência de roubos, há um concurso formal próprio.
A pena desse concurso formal será somada (concurso material) com a pena do segundo fato.
Letra a.

009. (JUIZ-AC/VUNESP/2019) Quanto à extinção da punibilidade e ao instituto da prescrição,


assinale a opção correta.
a) Os crimes hediondos, a tortura, o tráfico de drogas e o racismo são imprescritíveis.
b) As penas restritivas de direito e a pena de multa prescrevem em dois anos quando comina-
das isolada ou cumulativamente.
c) Após a sentença condenatória transitar em julgado, a prescrição não corre enquanto o con-
denado estiver preso por outro motivo.
d) O oferecimento da denúncia interrompe a prescrição; nos casos de crimes conexos que
sejam objeto de um mesmo processo, a interrupção incidirá considerando-se a pena de cada
crime isoladamente.
e) Nos casos de crimes conexos, a extinção da punibilidade de um crime impede, em relação
ao(s) outro(s), a agravação da pena resultante da conexão.

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A resposta se encontra no parágrafo único do art. 116: “depois de passada em julgado a sen-
tença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso
por outro motivo”.
Letra c.

010. (JUIZ-BA/CESPE/2019) Com relação a aspectos diversos pertinentes aos prazos pres-
cricionais previstos no CP, assinale a opção correta.
a) Tais prazos serão reduzidos pela metade nas situações em que, ao tempo do crime, o agen-
te fosse menor de vinte e um anos de idade ou, na data do trânsito em julgado da sentença
condenatória, fosse maior de setenta anos de idade.
b) Em se tratando de criminoso reincidente, são aumentados em um terço os prazos da pres-
crição da pretensão punitiva.
c) A prescrição é regulada pela pena total imposta nos casos de crimes continuados, sendo
computado o acréscimo decorrente da continuação.
d) A prescrição da pena de multa ocorrerá em dois anos, quando for a única pena cominada,
ou no mesmo prazo de prescrição da pena privativa de liberdade, se tiver sido cominada alter-
nativamente.
e) Na hipótese de evasão do condenado, a prescrição da pretensão executória é regulada pelo
total da pena privativa de liberdade imposta.

A resposta se encontra no inciso II do art. 114 do CP: “Antes de passar em julgado a sentença
final, a prescrição não corre [...] no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privati-
va de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativa-
mente aplicada”. O erro da letra A está contido na expressão “trânsito em julgado da sentença
condenatória”, em razão da desnecessidade de trânsito em julgado para incidência da regra do
art. 115 do CP. O erro da letra B está contido na expressão “prescrição da pretensão punitiva”,
uma vez que a reincidência não atinge tal modalidade de prescrição (súmula 220 do STJ). A
letra C contraria a redação do art. 119 do CP: “No caso de concurso de crimes, a extinção da
punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”. A letra E contraria a redação do
art. 113 do CP: “No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional,
a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena”.
Letra d.

011. (JUIZ-BA/CESPE/2019) O benefício da suspensão condicional da pena — sursis penal —


a) pode ser concedido a condenado a pena privativa de liberdade, desde que esta não seja su-
perior a quatro anos e que aquele não seja reincidente em crime doloso.

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b) é cabível nos casos de crimes praticados com violência ou grave ameaça, desde que a pena
privativa de liberdade aplicada não seja superior a dois anos.
c) pode estender-se às penas restritivas de direitos e à de multa, casos em que se suspenderá,
também, a execução dessas penas.
d) deverá ser, obrigatoriamente, revogado no caso da superveniência de sentença condenató-
ria irrecorrível por crime doloso, culposo ou contravenção contra o beneficiário.
e) impõe que, após o cumprimento das condições impostas ao beneficiário, seja proferida sen-
tença para declarar a extinção da punibilidade do agente.

A Não há vedação à incidência do instituto da suspensão condicional da pena (ou suspensão


da execução da pena), previsto nos arts. 77-82 do CP, que soluciona todas as letras da ques-
tão referida. O caput do art. 77 menciona, como requisito geral, a condenação em uma pena
privativa de liberdade não superior a 2 anos. ATENÇÃO: não se pode confundir o instituo da
suspensão condicional da pena com o instituto da suspensão condicional do processo. O se-
gundo foi contemplado no art. 89 da Lei 9099/95, aplicado aos crimes cuja pena mínima não
é superior a 1 ano.
Letra b.

012. (DEFENSOR PÚBLICO-MA/FCC/2018) Sobre a prescrição é correto afirmar que


a) a sentença penal que absolve o réu é causa de interrupção da prescrição.
b) ainda que seja causa que interrompe a prescrição, o início do cumprimento da pena não faz
com que o prazo volte a correr da data dessa interrupção.
c) com a concessão do livramento condicional volta a correr o prazo para a prescrição da pre-
tensão executória.
d) o acórdão meramente confirmatório da decisão de pronúncia não interrompe a prescrição
da pretensão punitiva.
e) entre a data do fato e o recebimento da denúncia a prescrição pode ocorrer de forma retro-
ativa com base na pena aplicada na sentença.

A letra B traz a redação do § 2º do art. 117 do CP: “Interrompida a prescrição, salvo a hipótese
do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção”. O
inciso V cuida, justamente, da narrativa contida na letra B. Dito de outro modo, se uma pessoa
condenada e se encontra foragida, no momento em que é presa (capturada), interrompe a
prescrição, mas não começa a correr o prazo, uma vez que o condenando se encontra preso.
Nos demais casos de interrupção previstos no art. 117, com a causa interruptiva, o novo prazo
se inicia imediatamente.
Letra b.

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013. (JUIZ-SP/VUNESP/2018) Quanto à prescrição, é correto afirmar que


a) a decisão de pronúncia é causa interruptiva da prescrição, salvo se o Tribunal do Júri venha
a desclassificar o crime.
b) em se tratando de continuação delitiva comum ou concurso formal perfeito de crimes, a
prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, computando-se o acréscimo decorrente
do sistema da exasperação penal.
c) em se tratando de “posse de droga para consumo pessoal”, previsto no artigo 28, da Lei n.
11.343/2006, os lapsos prescricionais tanto da pretensão punitiva quanto da executória são
de 2 (dois) anos, reduzidos da metade se o agente, ao tempo do crime, era menor de 21 (vinte
e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
d) depois de transitada em julgado a sentença condenatória para a acusação ou improvido seu
recurso, a prescrição retroativa ou superveniente regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos
prazos fixados em lei, os quais são aumentados de 1/3 (um terço), em caso de reincidência.

A letra C está correta, em sintonia com o art. 115 do CP. Não se pode esquecer de que o art.
12 do CP determina a aplicação das regras da Parte Geral do CP à legislação especial, quando
essa não dispuser de forma contrária. Já decidiu o STJ:

STJ [...] “2. A duração máxima da pena imposta ao crime de porte de drogas para con-
sumo pessoal (art. 28 da Lei n. 11.343/06) é de cinco meses, conduzindo ao prazo pres-
cricional de dois anos, reduzido, diante da menoridade, a um ano. Tendo o fato ocorrido
em 14.11.2007, e, não havendo sequer o recebimento da representação, tem-se por
consumada a prescrição da ação socioeducativa.
3. Ordem concedida, acolhido o parecer, para decretar a prescrição da ação socioeduca-
tiva n. 015.07.11817-0, da Primeira Vara Especial da Infância e da Juventude da comarca
da Capital de São Paulo.
(HC 153.080/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, jul-
gado em 31/05/2011, DJe 08/06/2011)”.

Letra c.

014. (JUIZ-MT/VUNESP/2018) Entende-se por “concurso material benéfico” a


a) limitação de tempo de cumprimento de pena em 30 anos.
b) aplicação da regra do concurso material para beneficiar o coautor ou partícipe.
c) regra estabelecida em lei pela qual a pena aplicada pelo concurso formal não poderá superar
a pena aplicada pelo concurso material.
d) extensão ao coautor da condição pessoal que se afigurar elementar do crime.
e) diminuição de pena para determinados crimes materiais.

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A letra C está correta, em sintonia com o art. 115 do CP. Não se pode esquecer de que o art.
12 do CP determina a aplicação das regras da Parte Geral do CP à legislação especial, quando
essa não dispuser de forma contrária.
Letra c.

015. (JUIZ-DF/2007) Analise as proposições e assinale a única alternativa correta:


I – O concurso formal imperfeito ocorre quando os desígnios não são autônomos.
II – Crime progressivo e progressão criminosa são a mesma coisa.
III – No crime continuado, devem ser aplicadas distintas e cumulativamente as penas de multa.
a) Todas as proposições são verdadeiras.
b) Todas as proposições são falsas.
c) Apenas uma das proposições é verdadeira.
d) Apenas uma das proposições é falsa.

Todas as assertivas estão incorretas. No item I, quando trata do concurso formal imperfeito,
a assertiva informa que os desígnios não são autônomos. Mas o art. 70 informa que os de-
sígnios são autônomos no concurso formal impróprio ou imperfeito. O erro do item II está na
comparação entre progressão criminosa e crime progressivo, que são institutos diferentes: na
progressão criminosa, o agente substitui o desígnio no mesmo contexto fático, enquanto no
crime progressivo, o agente permanece com o mesmo desígnio no mesmo contexto fático. O
item III está errado, uma vez que o STJ tem decidido da seguinte forma:

PENAL? HABEAS CORPUS? CRIME CONTINUADO? DOIS CRIMES DA MESMA ESPÉCIE?


MESMA VÍTIMA? COMETIMENTOS COM DIFERENÇA DE MAIS OU MENOS QUINZE DIAS?
MESMO LOCAL-MESMA MANEIRA DE EXECUÇÃO. PENA DE MULTA QUE NÃO SE SUJEITA
À REGRA DO ARTIGO 72, DO CÓDIGO PENAL? PRECEDENTES? ORDEM CONCEDIDA.
1 – Configurada está a continuação delitiva entre dois crimes de roubo, cometidos contra
a mesma vítima, mais ou menos numa mesma época, num mesmo local e com o mesmo
modo de execução.
2 – Na hipótese da aplicação da pena de multa no crime continuado, não é aplicável a
regra do artigo 72, do Código Penal.
3 – Ordem concedida.
(HC 95.641/DF, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG),
SEXTA TURMA, julgado em 18/03/2008, DJe 14/04/2008)

Letra b.

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016. (DELEGADO-MG/2007) Com relação ao concurso de crimes é CORRETO afirmar que:


a) Se, da aplicação da regra do concurso formal, a pena tornar-se superior à que resultaria do
cúmulo material, deve-se seguir o critério do concurso material.
b) Na hipótese da aberratio ictus com unidade complexa aplica-se a regra do concurso mate-
rial, pois é este sempre mais benéfico.
c) O Código Penal adota para o crime continuado a teoria da unidade real, pela qual, os vários
delitos constituem um único crime.
d) No concurso material, quando ao agente tiver sido aplicada a pena privativa de liberdade,
não suspensa, por um dos crimes, para os demais será cabível a substituição de que trata o
art. 44 do Código Penal

A letra A está correta. O tema corresponde a texto expresso do parágrafo único do art. 70 do
CP, que narra o seguinte sobre a pena do concurso formal: “não poderá a pena exceder a que
seria cabível pela regra do art. 69 deste Código”.
Letra a.

017. (JUIZ-DF/2006) Qual critério se deve adotar para o acréscimo de pena de um sexto a dois
terços pela continuidade delitiva?
a) A gravidade dos crimes;
b) As circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal;
c) A livre apreciação do magistrado;
d) O número de crimes.

Conforme tem decidido a jurisprudência do STJ, o número de crimes é o critério balizador do


aumento entre 1/6 e ½ previstos no caput do art. 71 do CP:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLA-


RAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE ADOLESCENTE. PRÁTICA DE CONJUNÇÃO CARNAL
E ATOS LIBIDINOSOS CONTRA MENORES DE 18 E MAIORES DE 14 ANOS. DUAS VÍTIMAS.
SEMELHANÇA NAS CONDIÇÕES DE TEMPO, LUGAR E MODO DE EXECUÇÃO. CONTINUI-
DADE DELITIVA. FRAÇÃO DE AUMENTO. OMISSÃO. 1/6 (UM SEXTO). REDIMENSIONA-
MENTO DA PENA.
1. Consoante o art. 619 do Código de Processo Penal, “aos acórdãos proferidos pelos Tri-
bunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de declaração,
no prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na sentença ambiguidade,

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obscuridade, contradição ou omissão”, tendo a jurisprudência desta Corte os admitido,


também, com o fito de sanar eventual erro material na decisão embargada.
2. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, “o aumento da pena pela continui-
dade delitiva prevista no art. 71, caput, do Código Penal – CP, é proporcional ao número
de crimes. Duas infrações ensejam o aumento de 1/6; 3 infrações, 1/5; 4 infrações, 1/4;
5 infrações, 1/3; 6 infrações, 1/2; e 7 ou mais infrações, 2/3” (HC 496.457/SP, Rel. Minis-
tro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 28/05/2019, DJe 07/06/2019).
Precedentes.
3. No caso concreto, considerando que o embargante remanesce condenado pela prática
de dois delitos sexuais – ambos previstos no art. 218-B, § 2º, I, do CP –, sob semelhantes
condições de tempo, de lugar e de modo de execução, necessário se faz o saneamento
da omissão apontada para se reajustar a fração de aumento pelo crime continuado para
1/6 (um sexto).
4. Embargos de declaração parcialmente acolhidos para sanar a omissão do julgado no
tocante à necessidade de readequação do aumento pela continuidade delitiva, com o
redimensionamento da pena.
(EDcl no AgRg nos EDcl no REsp 1741843/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 24/09/2019, DJe 22/10/2019).

Letra d.

018. (JUIZ-DF/2005) Conforme jurisprudência predominante do Superior Tribunal de Justiça,


o crime continuado, definido no artigo 71 do Código Penal, exige para a sua caracterização:
a) apenas pluralidade de crimes da mesma espécie e unidade de desígnio;
b) apenas pluralidade de crimes da mesma espécie e condições objetivas semelhantes;
c) pluralidade de crimes da mesma espécie, condições objetivas semelhantes e unidade
de desígnio;
d) apenas pluralidade de crimes da mesma espécie e unidades de desígnio semelhantes.

Conforme tem decidido a jurisprudência do STJ:

[...] IV – Crime continuado. Requisitos necessários à configuração. A jurisprudência


desta Corte Superior de Justiça firmou o entendimento de que necessária a existên-
cia de ações praticadas em idênticas condições de tempo, lugar e modo de execução
(requisitos objetivos), além de um liame a indicar a unidade de desígnios (requisito sub-
jetivo). Na hipótese em foco, verifica-se que a Corte de origem atestou a ausência de
elemento caracterizador da continuidade delitiva: o tempo. Assim, acolher a irresignação,
segunda as alegações vertidas na impetração, demanda verticalização da prova, medida

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obstada na via estreita do habeas corpus. Confira-se: AgRg no REsp n. 1802523/GO, Sexta
Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe de 05/06/2020; HC n. 526.508/SP, Quinta
Turma, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE), DJe
22/11/2019; RHC n. 79.294/MS, Quinta Turma, de minha relatoria, DJe de 27/04/2018; e
HC n. 384.736/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 12/12/2017.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 602.525/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
06/10/2020, DJe 15/10/2020).

Ressalta-se que os crimes da mesma espécie, para o STJ, na maioria dos julgados, são aqueles
previstos no mesmo tipo penal.
Letra c.

019. (INÉDITA/2020). Com relação ao concurso de crimes e à prescrição, é incorreto dizer que:
a) o concurso material homogêneo se caracteriza pela prática de crimes iguais;
b) o concurso formal homogêneo se caracteriza pela prática de crimes iguais;
c) o concurso formal impróprio admite na caracterização dos desígnios autônomos a presença
de dolo direto e de dolo eventual;
d) não se admite continuidade delitiva em crimes com violência ou grave ameaça à pessoa;
e) admite-se continuidade delitiva na condenação por crimes de homicídio.

A letra D é a única incorreta, uma vez que é possível a continuidade delitiva em crimes come-
tidos com violência ou grave ameaça à pessoa. Quando os crimes forem cometidos contra a
mesma vítima, a solução da continuidade delitiva seguira o modelo previsto no caput do art.
71 do CP. No entanto, quando os crimes forem cometidos contra vítimas diferentes–com vio-
lência ou grave ameaça à pessoa– a solução da continuidade seguirá a orientação do texto
insculpido no parágrafo único do art. 71 do CP.
Letra d.

020. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-DFT/2015) Sobre o concurso de crimes e o crime conti-


nuado, é CORRETO afirmar que:
a) Ocorre o concurso material homogêneo quando os crimes praticados em concurso são da
mesma espécie.
b) No concurso material de crimes, o cálculo do prazo prescricional se dá com base na soma
das penas referentes aos delitos.
c) No concurso formal impróprio de crimes, o juiz aplica uma só́ pena, se idênticas as penas
previstas para os crimes, ou a maior pena, quando não idênticas, aumentadas de um sexto
até a metade.

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d) Para a configuração do crime continuado, prepondera na doutrina e na jurisprudência o


entendimento de que são “crimes da mesma espécie” aqueles que ofendem o mesmo bem
jurídico, não se exigindo a sua previsão no mesmo tipo legal.
e) Admite-se o crime continuado, desde que presentes os requisitos do art. 71 do Código Pe-
nal, ainda que o agente faça do crime um estilo de vida (habitualidade criminosa).

No concurso material homogêneo, os crimes são iguais, previstos no mesmo tipo penal, en-
quanto no concurso material heterogêneo, os crimes estão previstos em tipos diferentes. A
ideia majoritária de crimes da mesma espécie indica que são os que estão previstos no mesmo
tipo penal. O tema foi discutido no capítulo do PDF quando se tratou do concurso de crimes.
Letra a.

021. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-PR/2016) Segundo este sistema, “a pena aplicável não


deve ser a soma das penas cominadas para cada um dos crimes considerados em concurso,
mas deve sim corresponder à gravidade dos delitos envolvidos”. Esse sistema é o:
a) Sistema da absorção;
b) Sistema da exasperação;
c) Sistema do cúmulo material;
d) Sistema do cúmulo jurídico;
e) Sistema do cúmulo jurídico-material.

A O sistema do cúmulo jurídico leva em conta uma exasperação, limitada a um patamar máxi-
mo, conforme a gravidade dos delitos. Um exemplo foi dado no texto acima do PDF, constante
no CP espanhol, quando se tratou do concurso de crimes, sistemas de aplicação de pena.
Letra d.

022. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-GO/2016) Quando um sujeito, mediante unidade ou plu-


ralidade de comportamentos, pratica dois ou mais delitos, surge o concurso de crimes. Sobre
o tema, marque a alternativa correta:
a) Quando a unidade de comportamento corresponder à unidade interna da vontade do agente,
isto é, o agente querer realizar apenas um crime e obter um único resultado danoso, fala-se em
concurso formal perfeito.
b) Quando o agente mediante unidade ou pluralidade de comportamentos, pratica dois ou mais
delitos, surge o concurso formal impróprio, adotando-se o sistema da exasperação.
c) Ocorre o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma conduta (ação ou omis-
são), pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, devendo os subsequentes, pelas con-
dições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, ser havidos como

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continuação do primeiro, tendo o nosso CP adotado a teoria objetivo-subjetiva no que tange à


sua caracterização.
d) O concurso material benéfico, que determina a aplicação do cúmulo material caso a aplica-
ção da exasperação seja mais gravosa ao condenado, só tem aplicação na hipótese do con-
curso formal.

A letra A cuida do concurso formal próprio ou perfeito, ou seja, quando o agente, sem desígnios
autônomos, mediante uma única ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes. O sentido da
expressão desígnios autônomos foi devidamente explicada no PDF acima quando se tratou do
concurso de crimes.
Letra a.

023. (INÉDITA/2020) Em relação às mudanças provocadas no Código Penal brasileiro pela Lei
13.964/2019, marque a assertiva correta:
a) o tempo máximo de cumprimento de pena é de 45 anos no Código Penal;
b) o estelionato constitui um crime de ação penal pública incondicionada;
c) no crime de roubo, não haverá causa de aumento de pena se a violência ou grave ameaça
consistir no emprego de arma branca;
d) a prescrição não correrá enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não perse-
cução penal;
e) para a obtenção do livramento condicional, diferente da progressão de regime, não há ne-
cessidade de comprovar o bom comportamento durante a execução da pena.

Alteração recente do Código Penal inserida pela lei anticrime 13.964/2019. Redação atual do
artigo 116 do Código Penal:

Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (Redação dada pela
Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da exis-
tência do crime; (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
II – enquanto o agente cumpre pena no exterior; (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
III – na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando
inadmissíveis; e (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
IV – enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal. (Incluído pela
Lei n. 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre
durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei n. 7.209,
de 11.7.1984)
Letra d.

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024. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-GO/2016) A prescrição da pretensão punitiva com fun-


damento em pena hipotética, independentemente da existência de sorte do processo penal é:
a) inadmissível conforme entendimento sumulado do STF;
b) admissível conforme entendimento majoritário do STJ, embora não sumulado;
c) inadmissível conforme entendimento sumulado do STJ;
d) admissível conforme entendimento majoritário do STF, embora não sumulado.

Cuida-se de entendimento sumulado do STJ, conforme teor da súmula 438: “É inadmissível a


extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipo-
tética, independentemente da existência ou sorte do processo penal”.
Letra c.

025. (PROMOTOR DE JUSTIÇA-PI/2019) Quanto à extinção da punibilidade e ao instituto da


prescrição, assinale a opção correta.
a) Os crimes hediondos, a tortura, o tráfico de drogas e o racismo são imprescritíveis.
b) As penas restritivas de direito e a pena de multa prescrevem em dois anos quando comina-
das isolada ou cumulativamente.
c) Após a sentença condenatória transitar em julgado, a prescrição não corre enquanto o con-
denado estiver preso por outro motivo.
d) O oferecimento da denúncia interrompe a prescrição; nos casos de crimes conexos que
sejam objeto de um mesmo processo, a interrupção incidirá considerando-se a pena de cada
crime isoladamente.
e) Nos casos de crimes conexos, a extinção da punibilidade de um crime impede, em relação
ao(s) outro(s), a agravação da pena resultante da conexão.

A letra C é a correta, nos termos do parágrafo único do art. 116 do CP brasileiro: “Parágrafo
único. Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante
o tempo em que o condenado está preso por outro motivo”. O texto trata, portanto, da PPE
(prescrição da pretensão executória). É certo que a PPP (prescrição da pretensão punitiva)
não é impedida na sua contagem como fato de o agente se encontrar em prisão provisória. As
demais letras da questão possuem explicação no parágrafo único do art. 109: “Aplicam-se às
penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade”; no art.
114: “A prescrição da pena de multa ocorrerá: I – em 2 (dois) anos, quando a multa for a única
cominada ou aplicada; II – no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de
liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente
aplicada”; no art. 119: “No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá so-
bre a pena de cada um, isoladamente”; e no art. 108, última parte: “A extinção da punibilidade

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de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não


se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede,
quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão”.
Letra c.

026. (JUIZ-PR/2019) De acordo com o STJ, a prática de falta grave pelo condenado durante o
cumprimento da pena:
a) não interrompe a contagem do prazo para obtenção de livramento condicional.
b) não interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de cumprimento de pena.
c) interrompe a contagem do prazo para obtenção de comutação de pena.
d) interrompe a contagem do prazo para obtenção de indulto e saída temporária.

A letra A possui a redação da súmula 441 do STJ. As demais letras são solucionadas pelas
súmulas 535 e 534 do mesmo Tribunal: “535. A prática de falta grave não interrompe o prazo
para fim de comutação de pena ou indulto; 534. A prática de falta grave interrompe a contagem
do prazo para a progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do
cometimento dessa infração; e 441. A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de
livramento condicional”.
Letra a.

027. (INÉDITA/2020) 2020. Quanto aos crimes contra a humanidade, assinale a alternati-
va correta.
a) Segundo o entendimento atual do STJ, os crimes contra a humanidade são imprescritíveis
no ordenamento jurídico brasileiro.
b) Segundo o entendimento atual do STJ, os crimes contra a humanidade são prescritíveis no
ordenamento jurídico brasileiro.
c) Segundo o entendimento atual do STJ, os crimes de tortura e de genocídio, classificados
como crimes contra a humanidade, são imprescritíveis no ordenamento jurídico brasileiro.
d) Segundo o entendimento atual do STJ, os crimes contra a humanidade prescrevem
em 30 anos.
e) Segundo o entendimento atual do STJ, os crimes contra a humanidade prescrevem
em 40 anos.

Para o STJ, a imprescritibilidade dos crimes de lesa-humanidade depende de lei aprovada pelo
Congresso Nacional, até agora, inexistente no ordenamento jurídico brasileiro. CRIME CON-
TRA A HUMANIDADE, LEGALIDADE, PRESCRIÇÃO STJ – INFO 659. REsp 1.798.903-RJ, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, por maioria, julgado em 25/09/2019, DJe

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30/10/2019. TEMA: Crime contra a humanidade. Art. 7º do Estatuto de Roma. Tratado interna-
cional internalizado pelo Decreto n. 4.388/2002. Ausência de lei em sentido formal. Princípio
da Legalidade. Art. 5º, XXXIX, da CF. Ofensa. É necessária a edição de lei em sentido formal
para a tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo Estatuto de Roma, mesmo se
cuidando de Tratado internalizado.
Letra b.

028. (JUIZ-PE/2019) A prescrição retroativa,


a) modalidade de prescrição da pretensão executória, é regulada pela pena aplicada, não po-
dendo ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.
b) modalidade de prescrição da pretensão executória, é regulada pelo máximo da pena privati-
va de liberdade cominada ao crime e pode ocorrer entre o recebimento da denúncia e a publi-
cação da sentença condenatória transitada em julgado para a acusação.
c) modalidade de prescrição da pretensão punitiva, é regulada pelo máximo da pena privativa
de liberdade cominada ao crime, não podendo ter por termo inicial data anterior à da denúncia
ou queixa.
d) antes prevista como forma de prescrição da pretensão punitiva, foi abolida por recente re-
forma legislativa.
e) modalidade de prescrição da pretensão punitiva, é regulada pela pena aplicada e pode ocor-
rer entre o recebimento da denúncia e a publicação da sentença condenatória transitada em
julgado para a acusação.

A resposta correta está contida na letra E, a qual traz o conceito de prescrição retroativa. Me-
rece ser destacado o § 1º do art. 110 do CP, aletrado pela Lei 12234: “A prescrição, depois da
sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu
recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial
data anterior à da denúncia ou queixa”.
Letra e.

029. (JUIZ-PE/2019) O chamado concurso material benéfico prevalece


a) sobre o concurso formal próprio e o crime continuado.
b) apenas sobre o concurso formal impróprio.
c) apenas sobre o concurso formal próprio.
d) sobre o concurso formal impróprio e o crime continuado específico.
e) apenas sobre o crime continuado específico.

O concurso material benéfico está previsto no parágrafo único do art. 70, remetido ainda no
parágrafo único do art. 71, ambos do CP brasileiro. Ele funciona toda vez que a exasperação

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da pena– no concurso formal próprio ou no concurso do crime continuado– ficar superior à


soma. Nesse caso, a soma deverá prevalecer.
Letra a.

030. (JUIZ/TJ-RJ/FCC/2015) A análise da culpabilidade do agente não constitui requisito


legal para a
a) progressão de regime prisional.
b) fixação da pena de cada concorrente no caso de concurso de pessoas.
c) determinação do regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade.
d) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
e) suspensão condicional da pena.

A culpabilidade (medida de pena) do artigo 59 do Código Penal somente não é analisada no


caso de progressão de regime, dentre as assertivas da referida questão. Nos demais casos,
ela está presente, conforme artigo 29 caput (segunda parte), § 3º do artigo 33, inciso III do
artigo 44 e inciso II do artigo 77, todos do Código Penal. Quanto à progressão de regime, o
agente precisa preencher um requisito subjetivo (bom comportamento) e um requisito objetivo
(tempo de cumprimento de pena), que foi alterado pela Lei 13964/2019 (Pacote Anticrime).
ATENÇÃO: esse artigo da LEP (Lei 7.210/84, alterado pela Lei 13964/2019) tem grande chance
de ser cobrado em provas:
Letra a.

031. (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO-BA/2010) Julgue a assertiva abaixo:


Noel, reincidente em crime doloso, foi condenado a onze meses de detenção por perturbar a
celebração de culto religioso, fato ocorrido em 8/5/2010, tendo a sentença penal condenatória
transitado em julgado. Nessa situação, a prescrição da pretensão executória será de três anos,
acrescida de um terço, não podendo, em nenhuma hipótese, ter, por termo inicial, data anterior
à da denúncia, nos termos da atual legislação de regência.

Considerando que a sentença condenatória considerou Joel reincidente. A sua condenação de


onze meses que, segundo art. 109 do CP, possui prescrição em 3 anos, deverá ter o prazo de
1/3 a mais, no termos do caput do art. 110 do CP. Ë claro que não há se falar em contagem do
prazo prescricional em fase anterior à denúncia ou mesmo antes da sentença, porque a hipó-
tese mencionada na questão é de PPE (prescrição da pretensão executória, contagem iniciada
na forma do art. 112 do CP) e não de PPP (prescrição da pretensão punitiva, contagem iniciada
na forma do art. 111 do CP). Ressalte-se que a reincidência só interfere na PPE, não interfere
na PPP, nos termos da súmula 220 do STJ.
Certo.

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032. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-DFT/2013) Examine os itens que se seguem, assinalan-


do a alternativa CORRETA:
a) As causas de extinção de punibilidade previstas na Parte Geral do Código Penal brasileiro
não se comunicam entre coautores ou partícipes do delito, dado o acolhimento da teoria da
acessoriedade limitada.
b) As condições negativas de punibilidade, como condições objetivas exteriores à conduta
delituosa, devem ser abrangidas pelo dolo do agente.
c) Os prazos prescricionais têm natureza processual, não se incluindo o dia do começo no
seu cômputo.
d) O Superior Tribunal de Justiça admite o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva
com fundamento na pena hipotética, podendo ser declarada antes do oferecimento da peça de
acusação ou ao longo da ação penal.
e) A reincidência futura, posterior ou subsequente, é a forma interruptiva da reincidência, inci-
dente sobre a prescrição executória já em curso, sem o potencial de dilatar o seu prazo.

Conquanto o texto do item correto não esteja em perfeição, a alternativa certa é a letra E. A
reincidência constitui uma causa interruptiva da prescrição da pretensão executória, insculpi-
da no art. 117 VI do CP. A reincidência só interfere na PPE, não interfere na PPP, nos termos da
súmula 220 do STJ.
Letra e.

033. (DELEGADO-MG/2007) É correto afirmar sobre a prescrição no direito penal, EXCETO:


a) A publicação da sentença de pronúncia, o tempo em que o agente cumpre pena no estran-
geiro e o prazo de suspensão condicional do processo são causas suspensivas ou impeditivas
da prescrição.
b) A prescrição superveniente ou intercorrente ocorre após o trânsito em julgado para a acusa-
ção ou após o improvimento de seu recurso, regulando-se pela pena aplicada.
c) É termo inicial da prescrição da pretensão executória a data do trânsito em julgado da sen-
tença condenatória para a acusação.
d) Nos crimes conexos, que sejam objetos do mesmo processo, a interrupção relativa a qual-
quer deles estende-se aos demais.

O conteúdo da letra está errado. A sentença de pronúncia publicada interrompe a prescrição


nos termos do art. 117 do CP, ou seja, não é causa de suspensão ou impeditiva da prescrição.
As demais causas mencionadas na letra A são suspensivas, nos termos do art. 116 do CP e §
6º do art. 89 da Lei 9099/95.
Letra a.

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034. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-SC/2019) O art. 71 do CP adotou a teoria objetiva na de-


finição do crime continuado. Por este motivo, a jurisprudência dominante no STF e STJ não exi-
ge a configuração de eventuais vínculos subjetivos entre as condutas realizadas pelo agente.

Como já fora comentado no texto acima do capítulo sobre concurso de crimes, a jurisprudên-
cia do STJ e do STF trabalham com a unidade de desígnios no crime continuado que deve ser
somada com os requisitos subjetivos. Ou seja, trabalham como a teoria objetivo-subjetiva ou
mista. No campo doutrinário, há debate sobre o assunto. Uma corrente entende que a exposi-
ção de motivos do código (natureza doutrinária) teria se vinculado à teoria objetiva, de modo
a exigir somente requisitos objetivos. Outra corrente doutrinária segue a jurisprudência. Sobre
o tema, veja o desenvolvimento do item sobre crime continuado no texto acima do PDF sobre
concurso de crimes.
Errado.

035. (DELEGADO FEDERAL/CESPE/2018) Em cada item seguinte, é apresentada uma situa-


ção hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada com base na legislação de regência e na
jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de exclusão da culpabilidade, concurso de
agentes, prescrição e crime contra o patrimônio.
Júnior, maior e capaz, foi processado e julgado pelo crime de estelionato. Tendo verificado que
Júnior tinha sido condenado pelo mesmo crime havia dois anos, o juiz aumentou a pena em
um terço. Nessa situação, o aumento da pena não influirá no prazo da prescrição da preten-
são punitiva.

O aumento da pena em razão de uma agravante, na segunda fase da dosimetria da pena, ou


em razão de causa de aumento de pena, na terceira fase da pena, contribuem para a formação
da pena definitiva, concreta, exposta na sentença condenatória. Dito de outro modo, a pena
definitiva obtida com o processo trifásico constitui o patamar de pena concreta para ser sub-
metido à contagem prescricional prevista no art. 109 do CP brasileiro. O que não fará parte do
patamar de pena para efeito de contagem prescricional é a exasperação em razão do concurso
de crimes ou a soma no concurso de crimes (art. 119 do CP).
Errado.

036. (DELEGADO FEDERAL/CESPE/2018) Em cada item a seguir, é apresentada uma situa-


ção hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base na legislação de regência e
na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no tempo,
concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.
Elton, pretendendo matar dois colegas de trabalho que exerciam suas atividades em duas sa-
las distintas da dele, inseriu substância tóxica no sistema de ventilação dessas salas, o que

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causou o óbito de ambos em poucos minutos. Nessa situação, Elton responderá por homicídio
doloso em concurso formal imperfeito.

A hipótese narrada cuida de uma única ação com desígnios autônomos, ou seja, o agente
atuou com dolo + dolo em uma única ação, produzindo dois resultados. Portanto, a solução
aplicável é do concurso formal impróprio ou imperfeito, descrito na segunda parte do art. 70,
caput, do CP.
Certo.

037. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-SC/2019) A Súmula Vinculante 26 do Supremo Tribunal


Federal, dispõe que para efeito de livramento condicional no cumprimento de pena por crime
hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da
Lei n. 8.072/90 (Crimes Hediondos), sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não,
os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo
fundamentado, a realização de exame criminológico.

A súmula vinculante 26 do STF não cuida do livramento condicional, mas sim da progressão de
regime de cumprimento de pena em crime hediondo ou equiparado. Ela é fruto do julgamento
do HC 82959/SP, que julgou inconstitucional o regime integralmente fechado previsto para os
crimes hediondos e equiparados. Segue o texto da referida súmula:

Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou


equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.072,
de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os
requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo
fundamentado, a realização de exame criminológico.

Errado

038. (PROMOTOR DE JUSTIÇA/MP-SC/2019) Em relação às causas interruptivas da prescri-


ção previstas no art. 117 do Código Penal, o prazo sempre começa a correr, novamente, do dia
da interrupção.

O item está errado porque usou a expressão sempre. Dentre as causas interruptivas da
prescrição do art. 117, uma delas, a prevista no inciso V (pelo início ou continuação do

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cumprimento da pena) não terá reinício da contagem do prazo, uma vez que o condenado
estará preso, conforme redação do § 2º do art. 117 do CP (interrompida a prescrição, salvo
a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da
interrupção).
Errado.

039. (ADVOGADO/AGU/2015) Um servidor público, concursado e estável, praticou crime de


corrupção passiva e foi condenado definitivamente ao cumprimento de pena privativa de liber-
dade de seis anos de reclusão, em regime semiaberto, bem como ao pagamento de multa.
A respeito dessa situação hipotética, julgue o item seguinte.
O servidor deve perder, automaticamente, o cargo público que ocupa, mas poderá reingressar
no serviço público após o cumprimento da pena e a reabilitação penal.

O item está errado porque o art. 92 do CP, em seu parágrafo único, informa que o tal efeito
(perda do cargo) não é automático, mas depende de fundamentação:

Art. 92. São também efeitos da condenação:


I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
casos
II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos
sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar,
contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado
III – a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Parágrafo único. Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivada-
mente declarados na sentença.
Errado.

040. (DELEGADO FEDERAL/CESPE/2013) No que se refere às causas de exclusão de ilicitu-


de e à prescrição, julgue o seguinte item.
A detração é considerada para efeito da prescrição da pretensão punitiva, não se estendendo
aos cálculos relativos à prescrição da pretensão executória

A detração consiste no desconto na pena definitiva do tempo de prisão provisória do conde-


nado. Esse desconto não é levado em conta em matéria de prescrição da pretensão punitiva,
ou seja, o art. 113 do CP, quando menciona a contagem pelo restante da pena, se refere

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à prescrição da pretensão executória (STF RHC 85.026/SP), não se aplica à prescrição da


pretensão punitiva. Desse modo, a detração não interfere na prescrição da pretensão punitiva.
Errado.

041. (DELEGADO FEDERAL/CESPE/2013) No que se refere às causas de exclusão de ilicitu-


de e à prescrição, julgue o seguinte item.
A detração é considerada para efeito da prescrição da pretensão punitiva, não se estendendo
aos cálculos relativos à prescrição da pretensão executória

Questão muito bem elaborada. A interrupção da prescrição da pretensão punitiva (itens I a IV


do art. 117 do CP) em relação a um dos autores do crime se estende a todos os demais au-
tores do crime. Todavia, a interrupção da prescrição da pretensão executória (itens V e VI do
art. 117 do CP) em relação a um dos autores do crime NÃO se estende aos demais autores do
crime. Tudo isso nos termos do § 1º do art. 117 do CP: “Excetuados os casos dos incisos V e
VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do
crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a
interrupção relativa a qualquer deles”.
Errado.

042. (DELEGADO FEDERAL/CESPE/2013) No que se refere às causas de exclusão de ilicitu-


de e à prescrição, julgue o seguinte item.
Suponha que determinada sentença condenatória, com pena de dez anos de reclusão, impos-
ta ao réu, tenha sido recebida em termo próprio, em cartório, pelo escrivão, em 13/8/2011 e
publicada no órgão oficial em 17/8/2011, e que tenha sido o réu intimado, pessoalmente, em
20/8/2011, e a defensoria pública e o MP intimados, pessoalmente, em 19/8/2011. Nessa si-
tuação hipotética, a interrupção do curso da prescrição ocorreu em 17/8/2011.

O item está errado porque a interrupção, no exemplo dado, ocorre “nas mãos do escrivão”,
quando ele atesta o recebimento no termo, antes da publicação no diário oficial. Ressalta-se
que, caso a sentença fosse proferida em audiência, na presença das partes, nesse momento
ocorreria a interrupção da prescrição. O termo do escrivão só é necessário nos casos nos
quais o juiz profere a sentença no gabinete ou na sua casa, por exemplo.
Errado.

043. (DELEGADO FEDERAL/CESPE/2013) Em relação aos efeitos da condenação, julgue o


item que se segue.
Considere que uma mulher, maior e capaz, chegue a casa, logo após ter sido demitida, e, ner-
vosa, agrida, injustificada e intencionalmente, seu filho de dois anos de idade, causando-lhe lesões

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corporais de natureza leve. Nessa situação hipotética, caso essa mulher seja condenada pela
referida agressão após o devido processo legal, não caberá, como efeito da condenação, a
decretação de sua incapacidade para o exercício do poder familiar, nos termos do CP.

O caso narrado na questão é solucionado pelo art. 92, inciso II, que exige condenação à pena
de reclusão para a decretação, na sentença condenatória, da incapacidade para o exercício do
poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos cometidos contra outrem igualmen-
te titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado
ou curatelado. A lesão leve, nos termos do art. 129 caput do CP, é punida com detenção.
Certo.

044. (DEFENSOR PÚBLICO-PE/CESPE/2015) Com relação ao concurso de crimes, julgue o


seguinte item.
O cálculo da prescrição da pretensão punitiva no concurso de crimes é feito isoladamente para
cada um dos crimes praticados, desconsiderando-se o acréscimo decorrente do concurso for-
mal ou material ou da continuidade delitiva.

Item correto, conforme redação do art.119 do CP: “No caso de concurso de crimes, a extinção
da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”.
Certo.

045. (PROMOTOR DE JUSTIÇA-SC/CESPE/2014) Analise o enunciado da questão abaixo e


assinale se ele é Certo ou Errado.
Os efeitos específicos da condenação, segundo regula o Código Penal Brasileiro, são automá-
ticos, não havendo necessidade de serem explicitados na sentença.

Não são automáticos os efeitos específicos da condenação, mas necessitam de fundamen-


tação, conforme texto expresso do parágrafo único do art. 92 do CP: “Parágrafo único. Os
efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados
na sentença”.
Com já decidiu o STJ:

“[...] 2. Os efeitos específicos da condenação não são automáticos, mesmo que presen-
tes, em princípio, os requisitos do art. 92, I, do Código Penal, deve a sentença declarar,
motivadamente, os fundamentos da perda do cargo, função pública ou mandato eletivo.
3. Ausente a fundamentação requerida pelo parágrafo único do art. 92 do Código Penal
e pelo art. 93, IX, da Constituição, é nulo, nesse ponto, o dispositivo da sentença con-
denatória.

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4. Na espécie, conquanto o Tribunal de origem não tenha apreciado a questão, em razão


da evidente coação legal, cabe ao Superior Tribunal de Justiça analisar a dita falta de
fundamentos da sentença no ponto em que impôs os efeitos previstos no art. 92, I, b, do
Código Penal.
5. Caso em que a sentença, nesse pormenor, não deu a idônea fundamentação. Houve
apenas aplicação automática do mencionado dispositivo, sem nem sequer considerar a
quantidade da pena privativa de liberdade cominada, nem explicitar, ainda que de forma
singela, as razões de cunho subjetivo pelas quais os réus não poderiam permanecer no
serviço público.
6. Quanto ao mais, estão suficientemente justificados a exacerbação da pena-base e o
regime inicial de cumprimento da pena; está devidamente fundamentada a escolha da
fração de um terço (1/3) em relação à tentativa; não foi ferido o princípio da individuali-
zação das penas; e não cabe a pretendida substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos.
7. Habeas corpus do qual se conheceu em parte e, nessa parte, se denegou a ordem. De
ofício, expediu-se a ordem, estendendo-a aos demais corréus, a fim de cassar a sentença
no ponto referente aos efeitos previstos no art. 92, I, b, do Código Penal e determinar que
o juízo proceda como entender de direito, sempre com a devida fundamentação, reexami-
nando a questão da perda de cargo público.
(HC 180.981/GO, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/
SP), SEXTA TURMA, julgado em 18/11/2010, DJe 07/02/2011)”.

Errado.

046. (PROMOTOR DE JUSTIÇA-SC/CESPE/2014) Analise o enunciado da questão abaixo e


assinale se ele é Certo ou Errado.
Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, é correto afirmar que a pronúncia é
causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime de
homicídio qualificado para homicídio culposo.

A pronúncia interrompe a contagem do prazo prescricional ainda que o Tribunal do júri des-
classifique o crime para outro não abrigado por sua competência. Essa afirmação constitui en-
tendimento constante da súmula 191 do STJ: “A pronúncia e causa interruptiva da prescrição,
ainda que o tribunal do júri venha a desclassificar o crime”.
Certo.

047. (PROMOTOR DE JUSTIÇA-SC/CESPE/2014) Analise o enunciado da questão abaixo e


assinale se ele é Certo ou Errado.
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Trata-se de concurso material quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes, idênticos ou não, incidindo, assim, a exasperação da pena

No concurso material de crimes, as penas são somadas, não são exasperadas, conforme re-
dação do art. 69 do CP: “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
detenção, executa-se primeiro aquela”.
Errado.

048. (DELEGADO DE POLÍCIA-AL/CESPE/2012) Acerca dos critérios de cominação e aplica-


ção da pena, julgue o item que se segue.
O acréscimo da pena em razão do crime continuado é fixado de acordo com o iter criminis per-
corrido pelo agente, porquanto na continuidade delitiva, os vários delitos que a integram são
considerados como crime único.

No concurso material de crimes, as penas são somadas, não são exasperadas, conforme re-
dação do art. 69 do CP: “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
detenção, executa-se primeiro aquela”.
Errado.

049. (DELEGADO DE POLÍCIA-TO/CESPE/2008) No que tange à parte especial do Código


Penal, julgue os itens a seguir. Considere a seguinte situação hipotética. Francisco, imputável,
acercou-se de uma mulher e a constrangeu, mediante violência, à prática de conjunção carnal,
deflorando-a. Em razão do emprego da violência, a mulher experimentou, ainda, lesões leves,
devidamente constatadas em laudo pericial.
Nessa situação, Francisco irá responder pelo crime de estupro em concurso formal com o de-
lito de lesões corporais.

A lesão leve é absorvida pelo crime de estupro. Se tivesse ocorrido lesão grave, o agente res-
ponderia pelo estupro qualificado pela lesão grave. Não há se falar, nesse, em se tratando do
mesmo contexto fático, em concurso de crimes.
Errado.

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GABARITO
1. c 37. E
2. E 38. E
3. C 39. E
4. E 40. E
5. b 41. E
6. c 42. E
7. b 43. C
8. a 44. C
9. c 45. E
10. d 46. C
11. b 47. E
12. b 48. E
13. c 49. E
14. c
15. b
16. a
17. d
18. c
19. d
20. a
21. d
22. a
23. d
24. c
25. c
26. a
27. b
28. e
29. a
30. a
31. C
32. e
33. a
34. E
35. E
36. C

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<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-7210-11-julho-1984-356938-norma-
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Dermeval Farias
Professor Dermeval Farias Gomes Filho. Promotor de Justiça do Júri/Criminal no Distrito Federal (MPDFT).
Doutorando em Direito Penal pela PUC-SP. Mestre em Direito Penal pelo UNICEUB. Pós-graduado em
processo civil pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ex Conselheiro Nacional do Ministério Público
(biênio 2017/2019). Professor de Direito Penal em diversos cursos de preparação para concursos da
Magistratura e do Ministério Público e pós-graduações desde o ano de 2006. Palestrante em Simpósios
e Congressos. Leciona em cursos de capacitação de direito penal do STF, STJ, TJDFT e MPDFT. Integra
o grupo de pesquisa em política criminal do UNICEUB/UNB. Autor de artigos e livros, com destaque para:
Dogmática Penal: Fundamento e limite à construção da jurisprudência penal no Supremo tribunal Federal.

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