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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO PARANÁ

CURSO DE PREPARAÇÃO À MAGISTRATURA


NÚCLEO CURITIBA

JULIO CEZAR FERNANDES DA SILVEIRA

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO PENAL:


APLICABILIDADE AOS DELITOS COM ENTORPECENTES

CURITIBA
2023
JULIO CEZAR FERNANDES DA SILVEIRA

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO PENAL:


APLICABILIDADE AOS DELITOS COM ENTORPECENTES

Monografia apresentada como requisito


parcial para a conclusão do Curso de
Pós-Graduação em Direito Aplicado,
ofertado pela Escola da Magistratura do
Paraná.

Orientador: Prof. Diego Paolo Barausse.

CURITIBA
2023
TERMO DE APROVAÇÃO

JULIO CEZAR FERNANDES DA SILVEIRA

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO PENAL:


APLICABILIDADE AOS DELITOS COM ENTORPECENTES

Monografia aprovada como requisito parcial para conclusão do Curso de


Especialização em Direito Aplicado, Escola da Magistratura do Paraná, Núcleo
de Curitiba, pela seguinte banca examinadora.

Orientador: Prof. Diego Paolo Barausse.

Avaliador: Prof.

Curitiba, 10 de dezembro de 2023.


2

DEDICATÓRIA

A todos aqueles que um dia ousaram trocar a


segurança e o calor do ninho em prol do desejo
impulsivo de voar e poder olhar além dos montes.

A todos os medos, adversidades e contratempos,


fenômenos de construção de jornadas e parceiros
mudos das conquistas.

Ao que não se vê adiante num baixo vôo, e ao que não


se enxerga das grandes alturas. Eles mostram a
limitação do olhar frente aos obstáculos e à distância e
nos propiciam imaginar o novo.

A todos aqueles que, por saberem voar, sempre


construirão novos ninhos.
Aos meus pais Gainor e Zilá
Do pouco me deram o melhor
Da simplicidade me deram a humildade
Da amizade me ensinaram o amor
Das suas limitações me abriram o mundo
Do sacrifício me ensinaram a lutar
Da vida me mostraram a vitória
A quem eu dedico este trabalho
Obrigado por tudo!
3

Mais vale arriscar-se a salvar um culpado do que a


condenar um inocente”

Voltaire
4

AGRADECIMENTOS

A Deus por sua constante presença e amparo, por


iluminar e preparar o meu caminho, fornecendo força,
saúde, sabedoria, ânimo e motivação.
Aos meus queridos e amados filhos Vitória Camilla e
Vitor Matheus, por serem muito mais do que sempre
sonhei.
Ao meu sobrinho e “filho afetivo” Luiz Henrique Ribeiro
da Silveira, pelos momentos de descontração, alegria
e preciosa companhia.
A todos os meus familiares, em especial ao meu primo
e irmão de alma Diego Fernandes Falconi (in
memoriam) pela sua amizade, pelo seu
companheirismo, pela sua simplicidade e
autenticidade! Saudade eterna...
Ao Prof. Diego Paolo Barausse, orientador disposto e
receptivo, pela disponibilidade e dedicação na
condução deste trabalho, pelos enriquecedores e
salutares “diálogos jurídicos” e pelo conhecimento e
experiência compartilhados.
A Escola da Magistratura do Paraná - EMAP, pelo
apoio, pela infraestrutura, a qualidade e a simpatia de
seus professores e funcionários.
Obrigado por possibilitarem essa experiência
enriquecedora e gratificante, da maior importância para
meu crescimento como ser humano e profissional.
5

RESUMO

O presente estudo científico teve como objetivo o estudo do princípio da


insignificância e sua possível aplicação aos delitos com entorpecentes
constantes da Lei n. 11.343 de 23 de agosto de 2006. O presente trabalho tem
caráter descritivo, com procedimento bibliográfico desenvolvido a partir de obras
acadêmicas, artigos especializados e jurisprudência de Tribunais Superiores
nacionais e internacionais, utilizou-se método indutivo com procedimento
histórico, comparativo e argumentativo. Inicialmente tratou-se da função e
finalidade do direito penal e da política criminal, abordando-se o conceito e
amplitude de bem jurídico protegido, discorrendo-se sobre os princípios do
direito penal e, especificamente o conceito, natureza jurídica, história e critérios
de aplicação do princípio da insignificância. Posteriormente foi relatada a história
e desenvolvimento dos delitos com entorpecentes, enfatizando-se os aspectos
legislativos controvertidos referentes aos delitos de perigo e de dano e tipos
penais abertos e fechados. Por fim, foram apresentadas as correntes
doutrinárias – majoritária e minoritária – referentes a aplicação o princípio da
insignificância aos delitos com entorpecentes. Verificou-se que o entendimento
da corrente majoritária é pela não aplicação do princípio da insignificância aos
delitos envolvendo entorpecentes, baseado em uma política criminal equivocada
e na criminologia positiva, o que contribui para o acúmulo de processos no Poder
Judiciário, elevação no índice de encarceramento e, possivelmente, diante da
precária distinção legislativa entre usuário e traficante, pela condenação de
cidadãos inocentes. Em contrapartida, países como Espanha aplica o princípio
da insignificância aos crimes envolvendo entorpecentes há aproximadamente
três décadas, fundamentando na ínfima quantidade apreendida com o agente;
na pureza da substância apreendida; e, em dados científicos referentes ao
consumo (caracterizados do usuário). Diante do exposto, entende-se ser
plenamente aplicável o princípio da insignificância ao tráfico de entorpecentes,
considerando-se o ínfimo quantum encontrada com o a gente ou parâmetros
qualitativos da substância apreendida (mediante estabelecimento de parâmetros
balizadores).
Palavras-Chave: Direito Penal; Política Criminal; Criminologia; Delitos com
Entorpecentes, Princípio da Insignificância.
6

ABSTRACT

The present scientific study aimed to study the principle of insignificance and its
possible application to drug offenses contained in Law n° 11.343 of August 23,
2006. This work is descriptive in nature, with a bibliographic procedure developed
from academic works, specialized articles and jurisprudence from national and
international Superior Courts using an inductive method with a historical,
comparative, and argumentative procedure. Initially, it dealt with the function and
purpose of criminal law and criminal policy, addressing the concept and scope of
protected legal good, discussing the principles of criminal law and, specifically,
the concept, legal nature, history and criteria of application of the principle of
insignificance. Subsequently, the history and development of drug crimes was
reported, emphasizing the controversial legislative aspects relating to crimes of
Danger and damage and open and closed criminal types. Finally, the doctrinal
currents – majority and minority – were presented regarding the application of the
principle of insignificance to drug crimes. It was found that the majority view is
that the principle of insignificance to crimes involving narcotics is not applied,
based on a mistaken criminal policy and positive criminology, which contributes
to the accumulation of cases in the Judiciary, an increase in the incarceration rate
and, possibility, given the precarious legislative distinction between user and
trafficker, the conviction of innocent citizens. On the other hand, countries like
Spain have applied the principle of insignificance to crimes involving narcotics for
approximately three decades, based on the tiny quantity seized from de agent, in
the purity of the seized substance, and, in scientific data relating to consumption
(characterized by the user) in view of the above, it is understood that the principle
of insignificance to drug trafficking is fully applicable, considering the tiny
quantum found with the person or qualitative parameters of the seized substance
(through the establishment of guiding parameters).

Keywords: Criminal Law; Criminal Policy; Criminology; Drug Offenses, Principle


of Insignificance.
7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10

2 DIREITO PENAL ........................................................................................... 13


2.1 FUNÇÃO E FINALIDADE ........................................................................... 13
2.2 POLÍTICA CRIMINAL ................................................................................. 16
2.3 BEM JURÍDICO PROTEGIDO ................................................................... 18
2.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ............................................................ 23
2.4.1 Princípio da Legalidade ........................................................................... 23
2.4.2 Princípio da Intervenção Mínima ............................................................. 24
2.4.3 Princípio da Adequação Social ................................................................ 25
2.4.4 Princípio da Ofensividade........................................................................ 26
2.4.5 Princípio da Presunção de Inocência ...................................................... 26
2.4.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório .............................................. 28
2.4.7 Princípio da Humanidade ........................................................................ 28
2.4.8 Princípio da Proporcionalidade ................................................................ 29

3. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .............................................................. 30


3.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA ........................................................ 30
3.2 GÊNESE E DESENVOLVIMENTO ............................................................. 33
3.3 CRITÉRIOS DE APLICAÇÃO .................................................................... 33
3.3.1 Critérios ou Vetores Objetivos ................................................................. 33
3.3.2 Critérios ou Vetores Subjetivos ............................................................... 39
3.3.3 Entendimentos Sumulados e Jurisprudenciais Dominantes .................... 41
3.4. RELAÇÃO COM OUTROS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ............... 42

4. DELITOS COM ENTORPECENTES ............................................................ 45


4.1. GÊNESE E DESENVOLVIMENTO ............................................................ 45
4.2 LEI ESPECIAL DO TRÁFICO DE DROGAS .............................................. 46
4.3 DELITOS DE DANO E DE PERIGO........................................................... 52
4.4 TIPOS PENAIS INCRIMINADORES .......................................................... 54
4.4.1 Tipos Fechados e Abertos ....................................................................... 56
8

4.5 DELITOS COM ENTORPECENTES NA LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL58


4.5.1 Direito Penal Espanhol ............................................................................ 58
4.5.2 Direito Penal Francês .............................................................................. 61

5 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E DELITOS COM ENTORPECENTES . 65


5.1 CORRENTE MAJORITÁRIA ...................................................................... 65
5.2 CORRENTE MINORITÁRIA ....................................................................... 69
5.3 DIREITO COMPARADO ............................................................................. 72
5.4 APLICABILIDADE AOS DELITOS COM ENTORPECENTES .................... 74
5.4.1 Dos Bens Jurídicos Tutelados ................................................................. 76
5.4.2 Reflexos para o Sistema Penal ............................................................... 81

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 85

REFERÊNCIAS................................................................................................ 89
9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACR Apelação Criminal


ADC Ação Direta de Constitucionalidade
AgR Agravo Regimental
AgRg Agravo Regimental em Recurso Regimental
AI Agravo de Instrumento
CF Constituição Federal
DJ Diário da Justiça
DJe Diário da Justiça Eletrônico
HC Habeas Corpus
Min. Ministro
MS Mandado de Segurança
Rel. Relator
Resp Recurso Especial
RMS Recurso em Mandado de Segurança
RExt Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
TC Tribunal de Contas
TJDF Tribunal de Justiça do Distrito Federal
TRF Tribunal Regional Federal
STS Sentencia del Tribunal Supremo
10

1 INTRODUÇÃO

O Direito Penal consiste em elemento singular de proteção aos


bens jurídicos, socialmente relevantes e, seu exercício prescinde de lesão ou
ameaça de lesão a estes bens tutelados, sendo instrumento imprescindível à
defesa social e, assegurador dos direitos e liberdades individuais e coletivos,
entretanto, ainda é tema de grande discussão o conceito de bem jurídico na
configuração da infração e, consequentemente na delimitação da função do
direito penal.

Embora as discussões sobre o bem jurídico penal tutelado sejam


atuais, há um entendimento majoritário de que o Direito Penal é a ultima ratio1,
não devendo se ocupar com a apreciação ou valoração de condutas com
nenhum ou ínfimo potencial ofensivo aos bens elencados como importantes pela
sociedade, considerando-se a variação deste no espaço e no tempo.

A sociedade encontra-se em constante mudança, o que promove,


concomitantemente, alterações nos valores e bens que devem ser juridicamente
tutelados e/ ou, na forma repressiva como o Estado deve reprimir determinadas
condutas, utilizando-se para isso, da experiência obtida com estratégias de
controle da criminalidade.

O tráfico ilícito de entorpecentes consiste em delito que envolve


grandes cifras financeiras em sua prática e, na política carcerária, respondia por
aproximadamente 27% da população geral que cumpria pena em regime
fechado2 (68% entre as mulheres), não raras vezes pela condenação por posse
de quantum ínfimo de substâncias proibidas; pela imprecisão na diferenciação
de usuário e traficante constante da atual legislação específica; pela indefinição
precisa e técnica do bem jurídico tutelado; ou, pelo excessivo rigor – eivado de
preconceito – na aplicação da pena que se mostra desproporcional a lesão.

A observância de princípios consagrados na seara penal como a


proporcionalidade e razoabilidade pode – teoricamente - atenuar os problemas

1MIR PUIG, Santiago. Derecho penal: parte general. 5ªed. Barcelona: Repperior, 1998.
2 BRASIL. Ministério de Justiça. INFOPEN Mulheres – junho de 2014. Levantamento Nacional
de Informações Penitenciárias. DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional. Brasília, 2015,
p.30.
11

da superpopulação carcerária e o acúmulo processual existente no Poder


Judiciário, entretanto, a aplicação do princípio doutrinário da insignificância, pode
eliminar, de plano, uma quantidade considerável de processos, pelo
reconhecimento da atipicidade material da conduta em casos concretos.

O presente trabalho teve como objetivo central estudar os


elementos constitutivos do bem jurídico tutelado, o desenvolvimento e conteúdo
do princípio da insignificância, a evolução da legislação referente ao tráfico ilícito
de entorpecentes e, por fim, refletir sobre a efetiva possibilidade de aplicação do
princípio retro aos casos concretos de tráfico e posse de entorpecentes e, seus
possíveis reflexos sociais.

A metodologia foi, quanto aos objetivos acima mencionados,


descritiva; quanto aos procedimentos técnicos, utilizou-se, a pesquisa
bibliográfica feita a partir de obras acadêmicas, artigos publicados em revistas
especializadas e, jurisprudência de Tribunais e Cortes Superiores; e por fim,
relativamente aos métodos de abordagem e de procedimento, aponta-se o
método indutivo, histórico, comparativo e argumentativo.

A apresentação do trabalho encontra-se estruturada em quatro


capítulos, cujo conteúdo encontra-se descrito nos parágrafos seguintes.

O primeiro capítulo contextualiza de maneira breve o direito penal


e seu posicionamento no sistema jurídico pátrio, sua função e finalidade;
posteriormente é abordado o conceito e amplitude de bem jurídico penal tutelado
e, por fim, discorre-se sobre os princípios constitucionais e infraconstitucionais
do direito penal.

O segundo capítulo ocupa-se do Princípio da Insignificância,


apresentando seu conceito, gênese e evolução; os critérios objetivos e
subjetivos estabelecidos para sua aplicação; a interrelação com outros princípios
da seara penal e, por fim, são colacionados diversos entendimentos
jurisprudenciais insertos nos variados delitos previstos na legislação penal
vigente.

O terceiro capítulo aborda o delito de tráfico ilícito de entorpecentes


em sua origem e desenvolvimento, abordando aspectos basilares da Lei
12

Especial vigente, a caracterização do perigo abstrato e, em especial, os tipos


penais incriminadores.

O quarto e, último capítulo, é reservado para a discussão vestibular


do presente trabalho, relacionado a reflexão sobre a possibilidade de
aplicabilidade do princípio da insignificância aos delitos de tráfico e posse de
drogas, inicialmente apresentando as correntes jurisprudenciais majoritária e
minoritária, trazendo elementos do direito comparado e, finalizando com uma
análise e reflexão sobre os fundamentos e possíveis desdobramentos da
aplicação deste princípio aos delitos retromencionados.
13

2. DIREITO PENAL

Ao se falar em direito penal, quase que instintivamente o


relacionamos a fatos humanos classificados como delitos e, igualmente os
responsáveis por tais condutas, e ainda, as consequências jurídicas que lhes
são reservadas3, ou seja, o direito penal representa a ligação do crime como
fato, a pena como consequência4.

2.1. FUNÇÃO E FINALIDADE

O Direito Penal consiste atualmente em ramo Direito Público5,


representado pelo conjunto normativo-jurídico com previsão dos crimes e suas
respectivas sanções6, possui a finalidade de proteger bens considerados
relevantes e necessários para a sobrevivência da sociedade7, e tem a função de
ordenar os contatos sociais através do estímulo de práticas positivas e refreando
as perniciosas8

Apresenta ainda, a finalidade de estudar os valores fundamentais


dos elementos de convivência social, - bens jurídicos - as condutas/ ações que
violem as normas jurídicas (regras e princípios), assegurando a proteção de tais
valores através da aplicação de penalidades e medidas de segurança aos
transgressores9.

As violações das normas jurídicas constituem crimes, que são


definidos pela descrição das condutas proibidas, enquanto a cominação de

3 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª ed. São Paulo: Saraiva,
1994.
4 LISZT, Franz Von. Tratado de Direito Penal Alemão. Fac-Sim: Brasília, 2006.
5 ASÚA, Luis Jiménez de. Princípios de Derecho Penal – La Ley e el Delito. 3ª ed. Buenos

Aires: Sudamericana, 1958.


6 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica do Direito Penal Brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro: Revan,

2007.
7 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. v. I. 19ª ed. Niterói: Impetus, 2017.
8 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Volume I. Parte Geral. 15ª ed. São Paulo: Saraiva,

2011.
9 LIXA, Ivane Fernandes Morcilo. Direito Penal I. Indaial: UNIASSELVI, 2019.
14

penas e medidas de segurança é realizada através da delimitação de escalas


punitivas ou assecuratórias, respectivamente, aos autores de fatos puníveis10.

As espécies de penas passíveis de aplicação em nosso país estão


taxativamente estabelecidas na Constituição Federal, em seu artigo 5°, XLVI 11:
a) Pena privativa ou restritiva de liberdade; b) Suspensão ou interdição de direito;
c) Multa; d) Perda de bens; e, e) prestação social alternativa. Insta salientar que
tais sanções podem ser aplicadas isolada, cumulativa ou alternativamente,
conforme prévia cominação legal.

A penalidade – em sentido amplo – representa a reação da


sociedade contra o agente que por alguma razão, cometeu o ilícito, violando
normas pré-estabelecidas e, o objetivo da aplicação da sanção, possui
finalidades diversas, alteradas ao longo do tempo e, diferenciadas conforme a
cultura dos povos.

A reação punitiva da sociedade justifica-se sob dois aspectos:12

a) a natureza utilitarista da ameaça penal como instrumento de


intimidação destinado a impedir comportamentos desviantes, com a
aplicação concreta da pena afirmando a seriedade da ameaça; b) a
retribuição racional e justa da pena, necessária para expiação da
injustiça de um comportamento irracional produzido por um ser racional
- com as vantagens práticas da prevenção especial negativa, pela
inocuização temporária ou permanente do desviante irracional, e da
prevenção especial positiva, pela correção do condenado.

Há dois modelos ou tipos de pena13: a) a absoluta proveniente da


finalidade autônoma atribuída a reprimenda aplicada, ou seja, a sanção é
desvinculada de qualquer efeito ou projeção social; e, b) a relativa, que se refere
a modelos punitivos direcionados a finalidade extrínseca, no caso, a prevenção
de delitos.

10 SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: Parte Geral I. 6ª ed. Curitiba: ICPC, 2014.
11BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Organizado
por Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002.
12 SANTOS, Juarez Cirino dos. Criminologia: Contribuição para Crítica da Economia da

Punição. Tirant lo Blanch: São Paulo, 2021.


13 CARVALHO, Salo de. Penas e medidas de segurança no direito penal brasileiro:

fundamentos e aplicação judicial. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 53.


15

A finalidade da aplicação da pena, restou consolidada em três


teorias:14

A teoria absoluta ou retributiva, em que a pena consiste em mera


retribuição a infração praticada, ou seja, um castigo. Desta feita, inexiste
qualquer finalidade pedagógica ou de reintegração social do infrator,
representando um simples ato de castigo coletivo legal.

A teoria relativa ou preventiva, em que a sanção tem a finalidade


precípua de evitar a prática de novos ilícitos pela sociedade em geral, –
prevenção negativa pela intimidação de criminosos potenciais ou positiva,
estimulando a confiança no sistema de Justiça -pelo autor propriamente –
prevenção especial positiva com a correção do autor ou, negativa pela
neutralização do indivíduo frente à sociedade.

A teoria mista, também denominada de unificadora ou unitária,


compreende a punição com dupla finalidade, visando a reprimenda estatal ao
infrator e, concomitantemente a prevenção a prática de novos delitos por este e,
pelos demais indivíduos da sociedade, sendo esta a recebida pelo Código Penal,
que assim dispõe: “Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes,
à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,
conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
(...)15”

A aplicação de qualquer penalidade, prescinde de prévia lei


incriminadora, que por sua vez, tutela algum bem socialmente relevante e
juridicamente protegido, que se costuma denominar de “bem jurídico protegido”,
cujo conceito e características serão abordados na sequência.

14 MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado - Parte geral. São Paulo: Método, 2014, p.
572.
15 BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da

União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940.


16

2.2. POLÍTICA CRIMINAL

A Política Criminal consiste em um dos pilares do sistema criminal


– juntamente com a Criminologia e o Direito Penal16 – responsável pela
transformação da experiência criminológica, em opções e estratégias concretas
para o legislador e o poder público, na busca de soluções eficazes para o
controle deste fenômeno17.

Consiste em um campo com maior amplitude e abertura em relação


ao Direito Penal, que mantém importante – mas não exclusiva – função de
ancoragem na estruturação de respostas à questão criminal18, auxiliando o
Estado na prevenção e repressão dos crimes socialmente relevantes19,
buscando identificar quais condutas devem ser criminalizadas e determinar
estratégias de aplicação do jus puniendi estatal20.

Neste sentido, entende-se a política criminal como “a ciência ou a


arte de selecionar os bens (ou direitos) que devem ser tutelados jurídica e
penalmente e escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que iniludivelmente
implica a crítica dos valores e caminhos já eleitos”21

A Política Criminal exerce controle pragmático externo sobre a


Legislação Penal, que se estende concretamente sobre a jurisdição, podendo
ser classificada em dois ramos: a) legislativa; e, b) jurisprudencial, e, deve se
verificar prioritariamente no primeiro ramo, sendo imperiosa uma reforma penal,
voltada a triagem da antijuridicidade material, para verificar os tipos constantes

16 SANTOS, Ronaldo Bezerra dos. Criminologia: teorias clássica, moderna e


contemporânea. Belo Horizonte: Editora D´Plácido, 2018.
17 MOLINA, Antonio Garcia-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus

fundamentos teóricos. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997.
18 CAPUTO, Matteo. Politica Criminale. In PIERGALLINO, C. Studi in onore di Carlo Enrico

Paliero. Giuffrè, 2022.


19 ROCHA, Lilian Rose Lemos; BINATO JR., Otávio. Caderno de pós-graduação em direito:

Criminologia. Brasília: UniCEUB, 2016.


20 FERREIRA, Carolina Costa. A Política Criminal no Processo Legislativo. Belo Horizonte:

D´Plácido, 2017.
21 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal

brasileiro: parte geral. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p.142.
17

do Código Penal, substituindo os enfraquecidos ou simplesmente os


extinguindo.22

Neste sentido:

A Política Criminal pode chegar à conclusão de que talvez seja mais


interessante como instrumento de redução dos índices de violência
social deixar o indivíduo que praticou um furto em liberdade, aplicando
o princípio da insignificância. Este princípio encontra sua origem na
política criminal, examinando também as causas do crime
(relacionando-se com a Criminologia) e interferindo na dogmática, visto
que o princípio da insignificância (também chamado de princípio da
bagatela) é causa excludente de tipicidade do comportamento em
razão de ausência efetiva lesão a bem jurídico. Nota-se aqui um olhar
mais amplo para o estudo do crime orientado a partir da criminologia,
com o objetivo de abrir a dogmática penal para outros campos do
conhecimento e de nortear as políticas públicas de controle 23.

Destarte, a relutância na aplicação do princípio da insignificância


aos crimes de tráfico de entorpecentes encontra-se mais ligada a uma decisão
político-criminal arbitrária do que a uma impossibilidade dogmática24 guardando
o posicionamento expresso no voto do relator, convergência com o preconizado
pela criminologia crítica, em contraposição a conservadora criminologia positiva.

Neste sentido, imperioso destacar que:

O comportamento criminoso pode ser definido sob o ponto de vista: a)


das causas eficientes que o determinam, biológicas ou psicológicas
(próprias do positivismo biológico), ou sociológicas ou ambientais
(próprias do positivo sociológico); b) das causas formais caracterizadas
pelas definições legais de crime (originárias das teorias clássicas e
radicalizadas pelo positivismo jurídico); c) das representações do
sujeito desse comportamento, ao nível da experiência subjetiva como
definida pelo próprio sujeito (desenvolvida pelas teorias
fenomenológicas e naturalistas); d) da reação social dos aparelhos de
controle social e dos processos de rotulação e estigmatização, e sua
influência no comportamento futuro do sujeito (elaborada pelas teorias

22BARBOSA, Marcelo Fortes. Garantias constitucionais de direito penal e de processo


penal na constituição de 1988. In: SILVA, Ruy Martins Altenfelder; NARDI JUNIOR, João.
Política Criminal. Sâo Paulo: Usina, 1993, 127 p.
23 BANDEIRA, Thais; PORTUGAL, Daniela. Criminologia. Salvador: UFBA, 2017, p.21.
24 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ªTurma). Habeas Corpus 127.573/SP. HABEAS

CORPUS. 2. POSSE DE 1 (UM GRAMA) DE MACONHA. 3 CONDENAÇÃO À PENA DE 6


(SEIS) ANOS, 9 (NOVE) MESES E 20 (VINTE) DIAS DE RECLUSÃO, EM REGIME INICIAL
FECHADO. 4. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. ATIPICIDADE MATERIAL. 5. VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS DA OFENSIVIDADE, PROPORCIONALIDADE E INSIGNIFICÂNCIA. 6. PARECER
DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELA CONCESSÃO DA ORDEM. 7. ORDEM
CONCEDIDA PARA RECONHECER A ATIPICIDADE MATERIAL. Relator: Ministro Gilmar
Mendes, 08 de novembro de 2019.
18

rotuladoras ou interacionistas); e) da natureza de classe da definição e


repressão seletivas do comportamento criminoso, reveladas pela
significação política ou conteúdo ideológico do controle social nas
formações sociais divididas em classes (teorias radicais fundadas nas
categorias do materialismo histórico)25.

O fenômeno da industrialização e urbanização acabou por


promover a multiplicação de situações denominadas de “problemas sociais”, e à
medida que estes passam a ser considerados incompatíveis com os valores da
ordem social, a sua identificação e regulação se submetem a interesses de
grupos mais bem organizados, que estão em posição de a) liderança política e,
b) poder econômico26.

Resta incontroverso que o tratamento dispensado a determinados


tipos incriminadores se encontra mais diretamente ligado a vontade de agentes
com poder político e/ou econômico, do que a própria gravidade ou
reprovabilidade social da conduta incriminada.

É possível identificar três repostas que os Estados estão


oferecendo ao fenômeno do crime, através de suas respectivas políticas
criminais no período pós-moderno27:

a) Respostas de Adaptação: atividades conjuntas – público-privada -


que procuram o controle situacional do delito lato sensu e o
aumento da segurança, através de organizações, comunidades,
empresas, e de movimentos de vítimas e cidadãos (grupos de
vigilância; policiamento comunitário e aquisição de dispositivos de
segurança).
b) Respostas de Negação: representadas por medidas estatais de
Medidas estatais de repressão, segregação punitiva e
neutralização prisional, representadas por ações como: guerra
contra as drogas, tipificação de novos crimes, hiper
encarceramento, penas mais severas.

25 SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia da Repressão: Crítica à Criminologia


Positivista. 2ªed. São Paulo: Tirant Lo Blanch, 2019.
26 Ibid., p. 34.
27 CALLEGARI, André Luis; MASIERO, Clara Moura. Pressupostos Teóricos para o Estudo

de Política Criminal: Propostas para uma Análise Tipológica. In: III Encontro de
Internacionalização do Conpedi. pp.257-272. 2015.
19

c) Respostas Simbólicas: representada pela atuação simbólica


estatal, caracterizada por uma intervenção impulsiva e irrefletida,
que consiste em reposta instantânea que funciona como medida
retaliadora, habitualmente usada no “calor” da indignação popular
diante de crimes violentos de grande repercussão28.

O tratamento dispensado a questão dos entorpecentes no Brasil é


negacionista e simbólico, e a Lei 11.343/2006 é compreendida nitidamente como
seletiva, incriminadora e encarceradora, com critério definidor de natureza
político-criminal e não científico, bioquímico ou gerencial da saúde pública29.

Para que seja possível a compreensão da criminalização, seus


efeitos e, especialmente, das decisões judiciais reiteradas ao longo destes quase
20 (vinte) anos da legislação e seus respectivos reflexos no sistema penal em
sentido amplo, mostra-se imperioso se abordar a temática do bem juridicamente
protegido ou tutelado legislativamente.

2.3. BEM JURÍDICO PROTEGIDO

A doutrina do bem jurídico - criada no século XIX - voltada para o


estudo da teoria do delito, e com finalidade de impor limites a atividade do
legislador na esfera penal, procura fixar critérios voltados para a seleção de bens
considerados relevantes para a sociedade, visando selecionar e individualizar
racionalmente, os elementos que merecem a proteção da norma penal30.

Desta forma, o direito penal deve tutelar e proteger os bens


jurídicos considerados relevantes para a sociedade, excluindo-se de seu alcance
bens de menor relevância31, ou seja, consiste na ultima ratio estatal aplicada

28 SCHABBACH, Letícia Maria. David Garland e a Segurança Pública Brasileira. Dilemas, Rev.
Estud. Conflito Controle Soc. v.16; n.2; p. 3-25. 2023.
29 MACHADO, Leonardo Marcondes. A Política Proibicionista de Drogas: Olhares sobre a

Guerra Brasileira. In: CARVALHO, Érika Mendes de; ÁVILA, Gustavo Noronha de (Orgs.). 10
Anos da lei de drogas: aspectos criminológicos, dogmáticos e político-criminais. Belo Horizonte:
D´Plácido, 2016. pp. 27-47
30 ALMEIDA, Bruno Rotta. A teoria do bem jurídico e a proteção penal de valores

supraindividuais. Revista da SJRJ. n. 25, pp. 305-313, 2009.


31 PAULA, Leonardo Costa. O segundo grau de jurisdição como garantia exclusiva da

pessoa: por uma teoria dos recursos para o processo penal brasileiro. Tese (Doutorado em
Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, p. 253. 2017.
20

pelo poder constituído para a manutenção da segurança e paz social existentes,


de maneira que, existentes outros instrumentos hábeis para tutelar os interesses
dos envolvidos de maneira mais eficaz ou menos danosa, estes devem ser
utilizados para a resolução do caso concreto.32

Imperioso destacar que o poder coercitivo estatal possui


legitimidade, apenas se houver determinados bens juridicamente relevantes
ameaçados ou violados, seja de caráter individual – vida ou propriedade – ou
“universais” – ordem pública – que possuem peculiar importância para a
sociedade e, que por esta razão justifica imposição de medida punitiva em
desfavor do infrator.33

Neste sentido, destaca-se que:

“Em face da dimensão sociocultural do bem jurídico, a orientação do


processo de criminalização/ descriminalização subordina-se às regras
axiológicas imperantes em cada momento histórico. A idoneidade do
bem jurídico está diretamente relacionada com seu valor social. Não
pode estar desvinculado da realidade existencial e indiferente ao
mundo esterno do ser”34

O estabelecimento de critérios de seleção dos bens jurídicos


fundamentais para a sociedade, consiste em tarefa complexa, que demanda
estudo e compreensão dos valores humanos e a concretização destes valores
em sociedade35, trabalho este que, alguns doutrinadores36 ousaram se
aventurar, e que, possibilitou a fixação de alguns vetores voltados a esta
finalidade:

a) Gravidade: não se mostra razoável a incidência da norma penal


quando existe recurso diverso para essa tutela;
b) Prioridade: diante da limitação de recursos estatais, seus
instrumentos repressores devem priorizar valores sociais

32 SAMPAIO, Rodrigo Xenofonte Cartaxo. A proteção do direito penal sob o bem jurídico
supra-individual. Monografia de Especialização. 2009.
33 MONTE, Mário Ferreira. Diritto penal riparativo. Criminalia – Annuario di scienze penalistiche.

pp. 24-33, 2009.


34 PRADO, Luiz Régis. Bem Jurídico-Penal e Constituição. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2003. p.96.
35 SILVA, Ivan Luiz. O bem jurídico-penal como limite material à intervenção criminal. Revista

de Informação Legislativa. v.50; n. 197, pp. 65-74, 2013.


36 BINDER, Alberto. Introdución AL derecho penal. Buenos Aires: Adhoc, 2004.
21

fundamentais, normalmente estabelecidos na Magna Lex, em


nosso país: a vida e a liberdade.
c) Aplicabilidade: que se materializa na efetiva possibilidade de
persecução do fato delituoso, de maneira que o Estado não pode
tipificar conduta que, no plano fático, não tem condições de
prossegui-la.
d) Interesses da Vítima: o interesse da vítima pode ser mais relevante
que o do Estado, de forma que, se a simples prisão do agente não
satisfaz o interesse individual, tal conduta deveria deixar de ser
perseguida pelo ente estatal.

A violação de uma norma guarnecedora de um bem jurídico


tutelado merece – em tese – uma reação punitiva estatal, visando a preservação
de valores considerados relevantes socialmente, merecedores de proteção,
entretanto, mister salientar que tais valores se alteram no espaço e ao longo do
tempo, sendo imperiosa a reflexão sobre os limites e, a real necessidade de
punição de determinadas condutas.

O Direito Penal, responsável por proteger – através de suas


normas – a coletividade, fundamenta-se em uma série de princípios que visa
orientar e limitar o jus puniendi do Estado, com a finalidade precípua de
salvaguardar os direitos fundamentais dos indivíduos – vida e liberdade – e, que,
em nosso país estão estabelecidos na Magna Carta de maneira implícita ou
explícita.

Ab initio, mister se faz – ainda que de maneira breve – estabelecer


a distinção normativa jurídica entre suas espécies: as regras e os princípios 37,
que embora não seja pacífica na doutrina, possui substancial influência na
prática jurídica, pois na ausência de norma-regra passível de aplicação ao caso
concreto, os princípios podem salvaguardar e orientar o magistrado na
apreciação e decisão.

Os princípios consistem em dispositivos fundamentais que irradiam


sobre as diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para

SILVA, Virgílio Afonso de. Princípios e regras: mitos e equívocos acerca de uma distinção.
37

Revista Latino-Americana de Estudos Constitucionais. v.1 pp. 607-630. 2003.


22

sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e


racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere à tônica e lhe dá sentido
harmônico”38.

A amplitude e a abrangência de um princípio em âmbito jurídico são


tão vastas que a violação de um princípio é mais grave que a agressão a uma
norma, porquanto implica repúdio a todo um sistema. É a mais grave forma de
ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido,
porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais39.

Neste sentido, é importante salientar que:

“Os princípios são as linhas mestras, os grandes nortes, as diretrizes


magnas do sistema jurídico. Apontam os rumos a serem seguidos por
toda a sociedade e obrigatoriamente perseguidos pelos órgãos de
governo (poderes constituídos). Eles expressam a substância última do
querer popular, seus objetivos e desígnios, as linhas mestras da
legislação, da administração e da jurisdição. Por estas não podem ser
contrariados; têm que ser prestigiados até as últimas
conseqüências”.40

Importante é asseverar que a existência de uma disciplina


autônoma está condicionada a um conjunto sistematizado de princípios e
normas, identificador e peculiar de uma realidade, distinto das demais
ramificações do Direito41.

Conquanto a existência de princípios próprios represente a


identificação e a autonomia de determinada ramificação do Direito, existem
princípios que, devido ao grau de generalidade e universalidade, estendem-se
por todas as ramificações.

Ante o exposto, mostra-se necessária a abordagem dos princípios


jurídicos incidentes na seara penal – diretamente relacionados a temática do

38 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no direito penal. Série


Princípios Fundamentais do Direito Penal Moderno. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 2, 1997.
39 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de direito administrativo. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 1988.


40 ATALIBA, Geraldo. República e constituição. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001.
41 SCHMITT, Paulo Marcos. Regime jurídico e princípios do direito desportivo. Revista

Brasileira de Direito Desportivo, São Paulo, n.5, pp. 154-177. 2004.


23

presente estudo - para que, seja possível a compreensão da criação,


desenvolvimento, integração e aplicação do princípio da insignificância como
instrumento de promoção da justiça e ainda, como elemento de política criminal
contemporânea.

Os princípios abordados são os que - apresentam em algum


momento - relação direta ou indireta com o princípio da insignificância, seja
fundamentando-o, seja guiando-o no momento de sua aplicação e, em especial,
aos delitos envolvendo substâncias entorpecentes.

Ao se compulsar a matéria – objeto do presente estudo – e


trabalhos similares do mesmo tema, resultou na definição de abordagem de oito
princípios, por sua relação mais intima com o princípio da insignificância:
legalidade; intervenção mínima, adequação social, ofensividade, presunção de
inocência; ampla defesa e contraditório; humanidade e proporcionalidade.

Buscando-se uma abordagem pragmática, os princípios –


relacionados ao objeto central do estudo - serão apresentados nominalmente,
conceituados de acordo com a doutrina e, por fim, colaciona-se referência de
acórdão de aplicação deste, na busca de se romper com a tradicional abordagem
estritamente teórica dos trabalhos acadêmicos, em que prevalece elevado grau
de abstração e, pouco contribui para uma compreensão integral do fenômeno
jurídico abordado.

2.4. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

2.4.1 Princípio da Legalidade

O princípio da legalidade origina-se como uma reação a


arbitrariedade e crueldade das sanções penais do final do século XVIII, tornando-
se no principal elemento limitador do jus puniendi estatal42, expresso no

42MARCHI JÚNIOR, Antônio de Padova. O princípio da legalidade e sua atuação no direito


penal brasileiro: o protagonismo da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça quanto
à delimitação do alcance dos tipos penais. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de
Direito, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, p. 240. 2013.
24

ordenamento jurídico pátrio em seu artigo 5º, XXXIX “não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”4344.

A doutrina habitualmente fraciona este princípio em outros quatro


subprincípios, também denominados de funções: a) Princípio da Reserva Legal:
vedação de incerteza nas incriminações “nullum crimen nulla poena lege certa”;
b) Princípio da Irretroatividade: vedação da retroatividade da lei penal “nullum
crimen nulla poena sine lege praevia”, salvo para beneficiar o réu; c) vedação na
incriminação de condutas e cominações de sanções “nullum crimen nulla poena
sine lege stricta”; d) imposição da lei escrita, vedando incriminação e cominação
de sanções fundamentado nos costumes “nullum crimen nulla poena sine lege
scripta”4546.

2.4.2 Princípio da Intervenção Mínima

O princípio da intervenção mínima – também denominado de


princípio da subsidiariedade – preconiza que é desnecessária a incidência do
direito penal sobre o fato concreto, enquanto houver outros ramos capazes de
solucionar a controvérsia, ou seja, só se justifica quando inexistir outra forma de
tutela do bem jurídico em questão, como ultima ratio47.

43 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Organizado


por Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002.
44 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Embargos de Declaração em Recurso

Ordinário de Mandado de Segurança 30.518/RR. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO


ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO
EMBARGADO. REJEIÇÃO. Relatora: Ministra Maria Thereza de Assis Moura, 02 de agosto de
2012.
45 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Agravo Regimental em Recurso de Habeas

Corpus 160947/CE. INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA. PRINCÍPIO DA


ANTERIORIDADE E DA RESERVA LEGAL. PECULATO-DESVIO E CORRUPÇÃO PASSIVA
PRIVILEGIADA. VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19. ATIPICIDADE. Relator: Ministro João
Otávio de Noronha, 27 de setembro de 2002.
46 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Agravo Regimental no Recurso Extraordinário

607.666/DF. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENAL. CRIME


HEDIONDO COMETIDO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI N. 4.495/2002. VEDAÇÃO DE
COMUTAÇÃO DA CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS: DATA EM QUE O DELITO FOI PRATICADO.
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVOSA.
PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. Relatora:
Cármen Lúcia, 01 de fevereiro de 2011.
47 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Recurso Ordinário em Habeas Corpus

190/315/PR. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. SUCEDÂNEO DE REVISÃO


25

A figura de um direito penal mínimo representa a tutela apropriada


a um Estado Democrático de Direito, laico, pluralista, respeitador do direito à
diferença, em resumo, de um modelo político-social que têm o ser humano e sua
dignidade no cerne da organização estatal48

A doutrina apresenta as funções deste princípio no ordenamento


jurídico:49 a) estabelecer hipóteses de incidência das leis penais; b) indicar os
limites de restrição da liberdade de ação humana; e, c) estabelecer a
necessidade de incidência da consequência do delito.

2.4.3 Princípio da Adequação Social

Este princípio – proposto por Hans Wenzel – dispõe que não pode
ser considerado como crime, o comportamento humano aceito socialmente que,
embora tipificado na legislação, não afronte o sentimento social de justiça,
funcionando como causa supralegal de exclusão da tipicidade.

Desta forma, embora algumas condutas sejam formalmente


típicas, em razão de subsumidas num tipo penal, podem ser materialmente
atípicas, pois socialmente adequadas50. A doutrina cita corriqueiramente a
tatuagem e o furo na orelha para colocação de brinco, como exemplos práticos
de aplicação deste princípio.

CRIMINAL. IMPOSSIBILIDADE. ILEGALIDADE FLAGRANTE. CONCESSÃO DA ORDEM DE


OFÍCIO. CRIME DE DANO QUALIFICADO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
ATIPICIDADE MATERIAL. ABSOLVIÇÃO. RECURSO NÃO CONHECIDO, COM A
CONCESSÃO DE OFÍCIO DA ORDEM PARA ABSOLVER O PACIENTE. Relator: Ministro Edson
Fachin, 15 de dezembro de 2020.
48 FRANCO, Alberto Silva. Do Princípio da Intervenção Mínima ao Princípio da Máxima

Intervenção. Revista Portuguesa de Ciência Criminal. v.6, n. 2, pp. 175-187, 1996.


49 ROBERTI, Maura. A Intervenção Mínima como Princípio no Direito Penal Brasileiro. Porto

Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2001.


50 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Habeas Corpus 104.467/RS. HABEAS

CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. CASA DE PROSTITUIÇÃO.


APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FRAGMENTARIEDADE E DA ADEQUAÇÃO SOCIAL.
IMPOSSIBILIDADE. CONDUTA TÍPICA. CONSTRANGIMENTO NÃO CONFIGURADO.
Relatora: Ministra Cármen Lúcia, 08 de fevereiro de 2011.
26

2.4.4 Princípio da Ofensividade

O princípio da ofensividade “nullum crimen sine iniuria” – também


denominado de lesividade – preconiza que o direito penal somente punirá
condutas que efetivamente trouxerem prejuízos a bem jurídico alheio.

Embora seja destinado especialmente ao legislador, que deverá


dosar o poder de incriminação em consonância com as necessidades
específicas da política criminal, normatizando condutas em que a aplicação
possa ser efetiva, de acordo com a proteção do bem jurídico que legitimou a
descrição51, destina-se ao aplicador, que deverá compulsar efetiva lesão ou
potencial de lesão a direito alheio, para que seja plausível aplicação de sanção52.

As funções deste princípio estão dispostas na doutrina53: a) impedir


a criminalização de atitudes interna (ideias; convicções, desejos, aspirações e
sentimentos); b) proibir a criminalização de uma conduta que não exceda o
âmbito do próprio autor; c) proibir a criminalização de simples estados ou
condições existenciais (afastando o denominado direito penal do autor); d) vedar
a incriminação de condutas desaprovadas pela coletividade que não violem bem
jurídico.

2.4.5 Princípio da Presunção de Inocência

O princípio da presunção de inocência54 está expresso na


Constituição Federal, em seu artigo 5°, inciso LVII, que dispõe: “ninguém será

51 NADDEO, Marco. Princípio de Offensività e Chiavi di Lettura. Turim: G. Giappichelli Editore,


2022.
52 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Habeas Corpus 112.400/RS. HABEAS

CORPUS. 2. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE FURTO TENTADO.BEM


PEQUENO VALOR (R$ 80,00). MÍNIMO GRAU DE LESIVIDADE DA CONDUTA. 3. APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 4. REINCIDÊNCIA.
IRRELEVÂNCIA DE CONSIDERAÇÕES DE ORDEM SUBJETIVA. 5. ORDEM CONCEDIDA.
Relator: Ministro Gilmar Mendes, 22 de maio de 2012.
53 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 10. ed. Rio de Janeiro: Revan,

2005.
54 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Repercussão Geral no Recurso Extraordinário

1.307.053/PE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. RECUSA DE MATRÍCULA


EM CURSO DE RECICLAGEM DE VIGILANTE. AÇÃO PENAL OU INQUÉRITO EM
ANDAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE
27

considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal


condenatória”55.

Apresenta tríplice dimensão56: a) assegurar garantias ao acusado


frente ao jus puniendi estatal; b) coibir a aplicação de medidas restritivas ao
direito do acusado, enquanto não verificada sua culpabilidade no caso concreto;
c) impor o ônus probatório à acusação.

Neste sentido, merece destaque o julgamento das Ações


Declaratórias de Constitucionalidade do Distrito Federal 43, 44 e 54, que acabou
por firmar o entendimento do STF no sentido de que o cumprimento da pena,
está condicionado ao trânsito em julgado da sentença penal condenatória, não
se admitindo o cumprimento provisório da sanção imposta, em observância ao
princípio da presunção da inocência.

Surge constitucional o artigo 283 do Código de Processo Penal, a


condicionar o início do cumprimento da pena ao trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, considerado o alcance da garantia
versada no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, no que
direciona a apurar para, selada a culpa em virtude de título precluso na
via da recorribilidade, prender, em execução da sanção, a qual não
admite forma provisória57.

O julgamento conjunto foi encerrado em novembro de 2019, e


apreciou a constitucionalidade do artigo 283 do Código de Processo Penal, que
estabelece a exigência do trânsito em julgado da sentença para a prisão.

INOCÊNCIA. PRECEDENTES. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL. CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL DOTADA DE REPERCUSSÃO GERAL.
REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. Relator: Ministro Luiz Fux, julgado em 23 de setembro de
2021.
55
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Organizado
por Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002.
56 SILVA, Marco Antonio Marques da. Acesso à Justiça Penal e Estado Democrático de

Direito. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.


57 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Ação Direta de Constitucionalidade. (ADC/ DF

43; ADC/ DF 44; ADC/ DF 54) PENA – EXECUÇÃO PROVISÓRIA – IMPOSSIBILIDADE –


PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE. Relator: Ministro Marco Aurélio, 07 de novembro de
2019.
28

2.4.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

Os princípios do contraditório e da ampla defesa58 estão dispostos


de maneira expressa no artigo 5°, inciso LV, da Constituição Federal nos
seguintes temos: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes”59.

Os reportados princípios constituem a essência do devido processo


legal, consubstanciado na possibilidade de reposta do denunciado às acusações
que lhe são imputadas e, pela prerrogativa de utilização de todos os meios de
defesa em direito admitidos.

2.4.7 Princípio da Humanidade

O princípio da humanidade60 está expresso na Constituição


Federal em seu artigo 5°, inciso XLIX “que é “assegurado aos presos o respeito
à integridade física e moral”61 e, complementarmente, no inciso XLVII que não

58 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Ação Cível Originária 3.196/RS. AÇÃO CÍVEL
ORIGINÁRIA. GASTOS DOS ESTADOS COM MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE
ENSINO. INCLUSÃO DE DESPESAS COM INATIVOS NO PERCENTUAL EXIGIDO PELO ART.
212 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INVIABILIDADE. INSCRIÇÃO DE ESTADO-
MEMBRO EM CADASTRO FEDERAL DE INADIMPLÊNCIA. SIAFI/CAUC/CADIN. UNIÃO.
LEGITIMIDADE AD CAUSAM. PRECEDENTES. INSCRIÇÃO SEM A OBSERVÂNCIA DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.
Relator: Ministro Marco Aurélio, julgado em 08 de junho de 2021.
59 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Organizado

por Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002.


60 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (3ª Seção). Habeas Corpus 455.097/PR. HABEAS

CORPUS. PENAL. MEDIDA CAUTELAR DE RECOLHIMENTO NOTURNO, AOS FINAIS DE


SEMANA E DEMAIS DIAS NÃO ÚTEIS (FISCALIZADA, NA ESPÉCIE, POR MONITORAÇÃO
ELETRÔNICA). DETRAÇÃO. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE. ESPECIAL PERCEPÇÃO DA
PESSOA PRESA COMO SUJEITO DE DIREITOS. ÓBICE À DETRAÇÃO DO TEMPO DE
RECOLHIMENTO DOMICILIAR DETERMINADO COMO MEDIDA SUBSTITUTIVA DA PRISÃO
PREVENTIVA. EXCESSO DE EXECUÇÃO. MEDIDA CAUTELAR QUE SE ASSEMELHA AO
CUMPRIMENTO DE PENA EM REGIME PRISIONAL SEMIABERTO. UBI EADEM RATIO, IBI
EADEM LEGIS DISPOSITIO. HIPÓTESES DO ART. 42 DO CÓDIGO PENAL QUE NÃO SÃO
NUMERUS CLAUSUS. PARECER MINISTERIAL ACOLHIDO. ORDEM DE HABEAS CORPUS
CONCEDIDA. Relatora: Ministra Laurita Vaz, julgado em 14 de abril de 2021.
61 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Organizado

por Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002.


29

haverá penas “a) de morte, salvo em caso de guerra declarada (...); b) de caráter
perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.

Este princípio postula uma racionalidade e uma proporcionalidade


no apenamento do agente, e encontra-se vinculado ao processo histórico de
gênese dos princípios da legalidade, da intervenção mínima e, até mesmo sob o
aspecto da “danosidade social”, do princípio da lesividade62.

2.4.8 Princípio da Proporcionalidade

A proporcionalidade63 tem sua origem no direito administrativo


alemão64 e possui dupla função: proteger do excesso e, evitar ou impedir a falta
de proteção ao bem jurídico, impedindo a excessivo rigor e, simultaneamente
situação oposta, caracterizada pela ausência ou insuficiência de punição.

Este princípio muitas vezes é confundido com o princípio da


razoabilidade (àquilo que se mostra apto para atingir objetivos propostos, sem
apresentar excesso), entretanto, a proporcionalidade tem origem germânica, ao
passo que a razoabilidade é uma construção da Suprema Corte norte-
americana65.

Por fim, o princípio da insignificância que, diante da sua natureza


jurídica, complexidade e, controvérsias jurisprudenciais, será abordado de
maneira aprofundada e detalhada em capítulo específico.

62 BATISTA, op. cit., p. 99.


63 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Corte Especial). Agravo de Instrumento no Habeas
Corpus 239.263/PR. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. PRECEITO SECUNDÁRIO
DO ART. 273, § 1º-B, V, DO CP. CRIME DE TER EM DEPÓSITO, PARA VENDA, PRODUTO
DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS DE PROCEDÊNCIA IGNORADA.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. Relator: Ministro Sebastião Reis Junior,
julgado em 26 de fevereiro de 2015.
64 GUILMAIN, Antoine. Sur les traces du principe de proportionnalité: une esquisse

généalogique. Revue de droit de McGill. v.61, n.1, pp.87–137, 2015.


65 DOBRIANSKYJ, Virgínia de Oliveira Rosa. O Princípio da Proporcionalidade como Critério

de Aplicação da Pena. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Pontifícia


Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, p. 129. 2009.
30

3. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

3.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

O princípio da insignificância não está expresso na legislação


pátria66 e, embora parte da doutrina entenda tratar-se de excludente da
antijuridicidade ou da culpabilidade, o entendimento majoritário e, acolhido
jurisprudencialmente, é de que se trata de causa supralegal excludente de
tipicidade67.

Este entendimento dominante, está alicerçado na distinção


existente no juízo de tipicidade, entre a tipicidade formal – que consiste na
comparação da conduta concreta com um tipo penal – e a tipicidade material –
representada pela efetiva lesão pela conduta ao bem jurídico tutelado68 – de
forma que, sendo a conduta carente de tipicidade material, seria, em tese,
aplicável o referido princípio.

O juízo de tipicidade prescinde da comprovação da tipicidade legal,


no caso concreto - representada pela adequação do fato à descrição da conduta
descrita na lei – e da antinormatividade – representada pela averiguação do
alcance proibitivo da norma penal e a real violação do bem jurídico tutelado – de
maneira que a tipicidade conglobante consiste em corretivo da tipicidade legal69.

O princípio da insignificância se encontra no âmbito da tipicidade


conglobante, pois exclui a tipicidade de fatos que, embora apresentem tipicidade
legal, não ofendam de forma substancial o bem jurídico tutelado.

Conceitualmente pode ser compreendido como aquele que:

Permite infirmar a tipicidade de fatos que, por sua


inexpressividade, constituem ações de bagatela, desprovida de

66 CHAGAS, João Marcelo Renk. O princípio da insignificância e o bem jurídico penal.


Monografia (Especialização em Direito Aplicado) - Escola da Magistratura do Paraná, Curso de
Preparação à Magistratura. Curitiba, p. 99, 2008.
67 KUDO, Anderson Seiji. Aplicação do princípio da insignificância pelo delegado de polícia.

Revista da Escola Superior de Polícia Civil. s/d.


68 SOUZA, Paulo Vinicius Sporleder de; DE-LORENZI, Felipe da Costa. Princípio da

insignificância e punibilidade. Revista Jurídica Cesumar. v. 17, n. 1, pp. 213-233. 2017.


69 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELLI, José Henrique. Manual de Direito Penal

Brasileiro: Parte Geral. 4ªed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
31

reprovabilidade, de modo a não merecerem valoração da norma


penal, exsurgindo, pois, como irrelevantes. A tais ações, falta o
juízo de censura penal70.

Há casos in concreto em que, devido à ausência ou ínfima


agressão ao bem jurídico tutelado, não possuem dignidade penal para que o
Estado utilize seu aparto jurisdicional para a penalização do autor71, pois o custo
da demanda e a pena eventualmente aplicada, mostrar-se-ão excessivos, frente
a irrisória lesão causada.

A aplicação do referido princípio – frequentemente - sofre críticas


da doutrina conservadora, entendendo que se poderia estar atingindo a
segurança jurídica, entretanto, trata-se somente de instrumento de interpretação
restritiva do tipo penal.

O princípio da insignificância é um instrumento de interpretação


restrita, fundado na concepção material do tipo penal, por intermédio
do qual é possível alcançar, pela via judicial e sem macular a
segurança jurídica do pensamento sistemático, a proposição político-
criminal da necessidade de descriminalização de condutas que,
embora formalmente típicas, não atingem de forma relevante os bens
jurídicos protegidos pelo direito penal72.

Há entendimento doutrinário de que o princípio em apreço foi


contemplado materialmente na legislação pátria, no Código Penal Militar73 –
deixando, portanto, de ser princípio e passando a ser regra - em seus artigos

209 § 6º e 240 § 1º:74

Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.
(...)
Lesão grave

70 ACKEL FILHO, Diomar. O princípio da insignificância no direito penal. Revista de


Jurisprudência do Tribunal de Alçada de São Paulo. São Paulo: TJSP, v. 94, pp. 72-77. 1988.
71 RODRIGUES, Luiz Gonzaga Goulart. O princípio da insignificância e os crimes contra a

ordem tributária. R. Fac. Dir. Univ. São Paulo v. 106/107, pp. 749 – 775. 2012.
72 MAÑAS, Carlos Vico. O princípio da insignificância como excludente da tipicidade no

direito penal. p. 58. São Paulo: Saraiva, 1994.


73 BRASIL. Decreto-Lei 1.001, de 21 de outubro de 1969. Código Penal Militar. Diário Oficial da

União, Brasília, 21 out. 1969.


74 GOMES, Luiz Flávio. Delito de Bagatela: Princípios da Insignificância e da Irrelevância

Penal do Fato. Revista Diálogo Jurídico. v.1; n.1: pp.1-23. 2001.


32

§ 1° Se se produz, dolosamente, perigo de vida, debilidade permanente


de membro, sentido ou função, ou incapacidade para as ocupações
habituais, por mais de trinta dias:
Pena - reclusão, até cinco anos.
Lesão levíssima
§ 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode considerar a infração
como disciplinar.

Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, até seis anos.
Furto atenuado
§ 1º Se o agente é primário e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um
a dois terços, ou considerar a infração como disciplinar. Entende-se
pequeno o valor que não exceda a um décimo da quantia mensal do
mais alto salário-mínimo do país.

Em breve análise verifica-se que os dispositivos reproduzidos


apenas evidenciam causas de diminuição da pena e não de sua exclusão, e,
embora o autor a posicione como uma espécie de acolhimento do princípio no
ordenamento jurídico pátrio, ainda que incipiente, estes parecem tão somente
representar causas de diminuição da sanção.

A legislação italiana, acabou por promover a status de Lei a


essência deste princípio, através do artigo 34 do Decreto Legislativo 274/2000
que introduziu o art. 131 - bis no Código Penal Italiano75, criando o instituto da
“Esclusione della punibilità per particolare tenuità del fatto", que, em tradução
literal significa o reconhecimento da exclusão da punibilidade, em razão da da
natureza tênue do fato.

O dispositivo legal possibilita a exclusão da punibilidade, mediante


apreciação discricionária do delito in concreto, pelo magistrado, devendo este
observar os seguintes elementos para aplicação: a) crimes com previsão de
detenção inferior a 05 (cinco) anos, ou que tenha previsão de pena de multa, ou
de ambas; b) modalidade de conduta, exiguidade do dano ou do perigo, ou ainda
ofensa ao bem jurídico protegido seja tênue; e, c) comportamento não habitual
do agente.

75ALBERTI, Giulia. Non punibilità per particolare tenuità del fato. Diritto Penale
Contemporaneo (quotidiano giuridico). Milano, pp. 1-13. 2015.
33

3.2 GÊNESE E DESENVOLVIMENTO

A origem do princípio da insignificância é objeto de divergência na


doutrina brasileira76, mas a corrente majoritária aceita que este princípio tem sua
gênese no Direito Civil, derivado do brocardo de minimus non curai praetor, que
significa que o direito penal não deve se ocupar com assuntos irrelevantes.77

Modernamente foi reintroduzido formalmente na Alemanha por


Claus Roxin, no ano de 1964, e materialmente tem sua origem após a segunda
grande guerra, em razão do aumento de delitos patrimoniais – especialmente
furto – decorrentes da miséria instaurada, como forma de exclusão de tipicidade.

3.3 CRITÉRIOS DE APLICAÇÃO

A aplicação do princípio da insignificância ao caso concreto tem,


usualmente, observado determinados elementos balizadores, que podem ser
classificados em objetivos e subjetivos, sendo os primeiros referentes a prática
delitiva propriamente dita, e, os últimos relacionados às condições pessoais do
autor.

3.3.1 Critérios ou Vetores Objetivos

Os elementos objetivos de aplicação do princípio da insignificância


restaram estabelecidos em sede de julgamento de Habeas Corpus78, nos termos
reproduzidos a seguir:

76 CASTRO, Alexander. O princípio da insignificância e suas vicissitudes entre Alemanha e


Brasil: análise de um caso de inadvertida criatividade jurídica (1964-2016). Rev. Fac. Direito
UFMG. n.74, pp. 39-64, 2019.
77 MASSON, 2014. p. 25.
78 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2ªTurma). Habeas Corpus 84.412-0/SP. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA - IDENTIFICAÇÃO DOS VETORES CUJA PRESENÇA LEGITIMA O


RECONHECIMENTO DESSE POSTULADO DE POLÍTICA CRIMINAL - CONSEQÜENTE
DESCARACTERIZAÇÃO DA TIPICIDADE PENAL EM SEU ASPECTO MATERIAL - DELITO DE
FURTO - CONDENAÇÃO IMPOSTA A JOVEM DESEMPREGADO, COM APENAS 19 ANOS DE
IDADE - "RES FURTIVA" NO VALOR DE R$ 25,00 (EQUIVALENTE A 9,61% DO SALÁRIO-
MÍNIMO ATUALMENTE EM VIGOR) - DOUTRINA - CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA
34

HABEAS CORPUS 84.412-0/SP

O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com


os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado
em matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria
tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material.
Doutrina. Tal postulado - que considera necessária, na aferição do
relevo material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais
como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica,
no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal
reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a
intervenção mínima do Poder Público. O POSTULADO DA
INSIGNIFICÂNCIA E A FUNÇÃO DO DIREITO PENAL: 'DE MINIMIS,
NON CURAT PRAETOR'. - O sistema jurídico há de considerar a
relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a
restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando
estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da
sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais,
notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados
se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa
lesividade. O direito penal não se deve ocupar de condutas que
produzam resultado, cujo desvalor - por não importar em lesão
significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso
mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado,
seja à integridade da própria ordem social.

Os balizadores - considerados objetivos - necessários à aplicação


do princípio em apreço, ao caso concreto, que restaram estabelecidos no julgado
são:

a) Mínima ofensividade da conduta do agente.


b) Nenhuma periculosidade social da ação.
c) Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento.
d) Inexpressividade da lesão jurídica provocada.

JURISPRUDÊNCIA DO STF - PEDIDO DEFERIDO. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA


QUALIFICA-SE COMO FATOR DE DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE
PENAL. Relator: Ministro Celso de Mello, julgado em 19 de outubro de 2002.
35

Os requisitos foram ratificados em recentes julgados798081828384,


firmando o entendimento de ser condição sine qua non a presença concomitante
de todos estes elementos para que seja possível a aplicação do princípio em
comento ao caso concreto.

Algumas decisões consideram como parâmetro de


inexpressividade da lesão jurídica nos crimes contra o patrimônio, o patamar de
10% do salário-mínimo vigente, entretanto, esse valor não é entendimento
pacífico, com diversas decisões destacando ser imperiosa a análise das
peculiaridades do caso concreto.

Apesar de denominação de “objetivos”, os critérios/ vetores de


aplicação do princípio da insignificância são eivados de subjetividade, e, embora
se exija – geralmente – a presença concomitante de todos eles no caso concreto

79 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Agravo Regimental no Agravo em Recurso


Especial 2334654/SP. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
FURTO QUALIFICADO PELA ESCALADA E ROMPIMENTO À OBSTÁCULO. DANOS À
RESIDÊNCIA DA VÍTIMA. REITERAÇÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO
INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Relator:
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27 de junho de 2023.
80 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Agravo Regimental no Habeas Corpus

813238/SC. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. REINCIDENCIA. ANTECEDENTES. INAPLICABILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. Relator: Ministro Joel Ilan Paciornik, julgado em 26 de junho de
2023.
81 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Agravo Regimental no Habeas Corpus

809280/SC. PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. RECEPTAÇÃO.


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. VALOR SUPERIOR A 10% DO
SALÁRIO-MÍNIMO. AVALIAÇÃO INDIRETA. REITERAÇÃO DELITIVA. Relator: Ministro Antônio
Saldanha Palheiro, julgado em 26 de junho de 2023.
82 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Agravo Regimental no Agravo em Recurso

Especial 2314576/TO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


SÚMULA 182/STJ AFASTADA. FURTO SIMPLES. RES FURTIVA AVALIADA EM 27% DO
SALÁRIO-MÍNIMO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE.
Relator: Ministro Jesuíno Rissato, julgado em 20 de junho de 2023.
83 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Agravo Regimental no Habeas Corpus

581179/SC. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL.


MANUTENÇÃO DE AVES SILVESTRES EM CATIVEIRO SEM AUTORIZAÇÃO. POSSE
IRREGULAR DE ARMAS DE FOGO, MUNIÇÃO E APETRECHOS PARA CAPTURA DE
ANIMAIS. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Relator: Rogério Schietti Cruz, julgado em 12 de junho de 2023.
84 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Agravo Regimental no Habeas Corpus

706743/SP. PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. ILEGALIDADE INEXISTENTE. CRIME DO
ART. 1º, II, E NO ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 8.137/1990. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. VALOR SUPERA O TETO R$ 20 MIL DE TRIBUTOS ESTADUAIS.
COMETIMENTO DE OUTRO DELITO. REINCIDENTE E MAUS ANTECEDENTES.
INVIABILIDADE. DECISÃO NOS TERMOS DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. AGRAVO
DESPROVIDO. Relator: Ministro Messod Azulay Neto, julgado em 06 de junho de 2023.
36

apreciado, a análise individual destes balizadores resta ao magistrado,


permitindo ampla discricionariedade em sua análise e, consequente aplicação
ou não ao decisum.

O primeiro vetor “mínima ofensividade da conduta do agente”


envolve a ausência de violência, grave ameaça na conduta, ou ainda, a condição
diferenciada do agente, que pode potencializar a conduta criminosa concreta,
estimulando sua prática social, como no caso colacionado a seguir.

HABEAS CORPUS 156.384/RS85

1. Para a incidência do princípio da insignificância são necessários "(a)


a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada" (STF, HC 84.412/SP, Relator Ministro Celso de
Mello, DJ de 19/11/2004).
2. No caso, embora a vantagem patrimonial subtraída se circunscreva
a R$ 48,00 (quarenta e oito reais), valor referente ao que custa o bilhete
que o paciente deixou de adquirir, não há possibilidade de aplicação
do referido princípio.
3. Do paciente, que é policial militar da reserva remunerada, espera-se
comportamento bem diverso daquele procedido na espécie. De se ver
que ele, buscando não comprar o bilhete, assim como fazem todos os
cidadãos, falsificou documento como forma de parecer que ainda
estava no serviço ativo.
4. Além disso, ao ser surpreendido pelos agentes do Estado,
constatou-se que o paciente trazia em seu bolso a quantia de R$ 600,
00 (seiscentos reais), montante quase quinze vezes superior à
vantagem auferida. Quisesse ele, teria plenas condições de adquirir a
passagem de ônibus.
5. Assim, verifica-se que a conduta do paciente não preenche os
requisitos necessários para a concessão da benesse pretendida, já que
não se afigura como um irrelevante penal, motivo pelo qual não há falar
em constrangimento ilegal.
6. Ordem denegada, com a cassação da liminar deferida.

A ofensividade da conduta restou incontroversa, pois conforme


exposto, houve a falsificação de documento para utilização de transporte público
gratuitamente, agravada pela condição pessoal do agente de ser policial militar
da reserva remunerada, ou seja, uma pessoa que laborou ao longo de pelo
menos uma década reprimindo a criminalidade.

85BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Habeas Corpus 156.384/RS. HABEAS


CORPUS. ESTELIONATO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INVIABILIDADE. POLICIAL MILITAR QUE FAZ USO DE DOCUMENTO FALSO, OBJETIVANDO
AUFERIR VANTAGEM ECONÔMICA. Relator: Ministro Og Fernandes, julgado em 26 de abril de
2011.
37

O segundo vetor “Nenhuma periculosidade social da ação”


representa a ausência de prejuízo – concreto ou potencial – para a ordem social
da conduta, ou seja, os efeitos potenciais efeitos de uma eventual
descriminalização desta para a sociedade lato sensu.

APELAÇÃO CRIMINAL86.

1. Pratica o delito do artigo 184, §2°, do Código Penal, aquele que, com
o intuito de lucro direto ou indireto, adquire mídia reproduzida com
violação ao direito autoral.
2. Não se aplica o princípio da insignificância em delitos cujos bens
jurídicos protegidos possuem relevância que não se pode mensurar.
3. "A potencialidade da conduta tipificada penalmente como violação
de direitos autorais (CP, art. 184), para fins de reconhecimento do ilícito
de bagatela, não pode ser mensurada mediante simples consideração
do valor da mercadoria, já que o bem jurídico tutelado pela norma
consiste na propriedade intelectual"

A ausência de periculosidade social da ação foi afastada, diante da


aquisição consciente de mídia produzida com violação de direito autoral, com a
finalidade de obtenção de lucro e, do bem jurídico tutelado, cuja relevância não
se mostra passível de mensuração.

O terceiro vetor “Reduzidíssimo grau de reprovabilidade da


conduta” consubstancia-se no nível de reprovação moral e social da conduta do
agente, que devem ser extremamente baixos.

86 BRASIL. Tribunal Regional Federal - 4ª Região (8ªTurma). Apelação Criminal. PENAL E


PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DO ARTIGO 184, §2°, DO CÓDIGO
PENAL. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INAPLICABILIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO SECUNDÁRIO DO ARTIGO 12, §2º, DA LEI
9.609/98. INCABIMENTO. ESTADO DE NECESSIDADE. ARTIGO 24 DO CÓDIGO PENAL.
DESCARACTERIZADO. MATERIALIDADE, AUTORIA E DOLO COMPROVADOS.
CONDENAÇÃO MANTIDA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. NECESSIDADE DE
REQUERIMENTO PERANTE O JUÍZO DA EXECUÇÃO. EXECUÇÃO IMEDIATA. NÃO
PROVIMENTO. Relator: Desembargador Federal Paulo Afonso Brum Vaz, julgado em 14 de
junho de 2010.
38

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS 133.226/SP 87.

1. Na linha de entendimento firmado pelo Plenário do Supremo Tribunal


Federal, a aferição da insignificância como requisito negativo da
tipicidade envolve um juízo de tipicidade conglobante, muito mais
abrangente que a simples expressão do resultado da conduta. Importa
investigar o desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo, de
modo a impedir que, a pretexto da insignificância apenas do resultado
material, acabe desvirtuado o objetivo a que visou o legislador quando
formulou a tipificação legal.
2. A falsificação de documento, delito imputado ao paciente, é figura
típica cuja objetividade jurídico-penal abrange o risco de dano à fé
pública, com a circulação de documento inautêntico, exprimindo
realidade fictícia, capaz de ludibriar a confiança de pessoas nele
interessadas.
3. No caso, o agravante foi denunciado por alterar informação
constante de atestado médico em detrimento da empresa pública com
a qual mantinha vínculo, se distanciando dos deveres do cargo que
exercia. Nesse contexto, revela-se reprovável a conduta,
impossibilitando a incidência do denominado princípio da
insignificância.
4. Agravo regimental a que se nega provimento

A falsificação de documento para obtenção de vantagem


representa inequívoco ato de elevada reprovabilidade, em especial pela
incontroversa agressão ao bem jurídico fé-pública, de forma que se mostra
inviável a aplicação do princípio da insignificância ao caso concreto.

A inexpressividade da lesão jurídica causada, está diretamente


relacionada a tipicidade material da conduta do agente, ou seja, a efetiva lesão
ao bem jurídico tutelado, o que explica o posicionamento pacífico da
jurisprudência referente a aplicação deste princípio aos crimes patrimoniais – de
valores ínfimos - praticados sem violência ou grave ameaça a vítima.

87 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ªTurma). Agravo Regimental no Habeas Corpus


133.226/SP. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO. ATESTADO MÉDICO. EMPREGADO DA EMPRESA
BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO
INCIDÊNCIA. REPROVABILIDADE DA CONDUTA. Relator: Ministro Teori Zavaski, julgado em
29 de março de 2016.
39

RECURSO EM HABEAS CORPUS 126.272/MG88

1. Para que o fato seja considerado criminalmente relevante, não basta


a mera subsunção formal a um tipo penal. Deve ser avaliado o desvalor
representado pela conduta humana, bem como a extensão da lesão
causada ao bem jurídico tutelado, com o intuito de aferir se há
necessidade e merecimento da sanção, à luz dos princípios da
fragmentariedade e da subsidiariedade. 2. As hipóteses de aplicação
do princípio da insignificância se revelam com mais clareza no exame
da punibilidade concreta possibilidade jurídica de incidência de uma
pena, que atribui conteúdo material e sentido social a um conceito
integral de delito como fato típico, ilícito, culpável e punível, em
contraste com estrutura tripartite (formal). 3. Por se tratar de categorias
de conteúdo absoluto, a tipicidade e a ilicitude não comportam
dimensionamento do grau de ofensa ao bem jurídico tutelado
compreendido a partir da apreciação dos contornos fáticos e dos
condicionamentos sociais em que se inserem o agente e a vítima. 4. O
diálogo entre a política criminal e a dogmática na jurisprudência sobre
a bagatela é também informado pelos elementos subjacentes ao crime,
que se compõem do valor dos bens subtraídos e do comportamento
social do acusado nos últimos anos. 5. Na espécie, o réu primário
subtraiu de estabelecimento comercial dois steaks de frango, avaliados
em R$ 4,00, valor ínfimo que não evidencia lesão ao bem jurídico
tutelado e não autoriza a atividade punitiva estatal. 6. Recurso em
habeas corpus provido, para determinar o trancamento da ação penal.

Ao longo dos últimos anos, além dos vetores objetivos pacificados


nas Cortes Superiores, os casos concretos fizeram emergir elementos ou vetores
subjetivos, apreciados na análise dos processos, referentes essencialmente a
traços ou comportamentos do agente e da vítima e, delitos perpetrados contra o
poder público lato sensu.

3.3.2 Critérios ou Vetores Subjetivos

Os elementos balizadores subjetivos, consistem em entendimentos


dominantes de cunho jurisprudencial e, estão associados a condições pessoais

88BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (2ªTurma). Recurso em Habeas Corpus 126.272/MG.


RECURSO EM HABEAS CORPUS. FURTO. TRANCAMENTO DO PROCESSO.
INSIGNIFICÂNCIA. VALOR ÍNFIMO. CONCEITO INTEGRAL DE CRIME. PUNIBILIDADE
CONCRETA. CONTEÚDO MATERIAL. BEM JURÍDICO TUTELADO. GRAU DE OFENSA.
VALOR ÍNFIMO DA SUBTRAÇÃO. RECURSO EM HABEAS CORPUS PROVIDO. Relator:
Ministro Rogerio Schietti Cruz, julgado em 01 de junho de 2021.
40

do agente: a) primariedade89; b) reincidência específica9091 ou genérica9293; c)


criminoso habitual94 ou agente militar95; e, condições pessoais da vítima: a)

89 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ª Turma). Habeas Corpus 135.404/PR. PENAL.
HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO PELO CRIME PREVISTO NO ART. 34 DA LEI
9.605/1998 (LEI DE CRIMES AMBIENTAIS). PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. REPROVABILIDADE DA CONDUTA DO AGENTE. REITERAÇÃO
DELITIVA. ORDEM DENEGADA. Relator: Ministro Ricardo Levandowski, julgado em 07 de
fevereiro de 2017.
90 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Agravo em Recurso Especial 2181616/MG.

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FURTO. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. CONDENAÇÕES PRETÉRITAS COM TRÂNSITO EM JULGADO,
INCLUSIVE EM CRIME PATRIMONIAL. AFASTADA A BAGATELA. Relator: Ministro Jesuíno
Rissato, julgado em 18 de abril de 2023.
91 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (5ª Turma). Agravo Regimental em Habeas Corpus

796.563/MS. PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO.


ABSOLVIÇÃO. DELITO PRATICADO MEDIANTE ESCALADA. MAIOR REPROVABILIDADE DA
CONDUTA. REITERAÇÃO DELITIVA. RÉU REINCIDENTE ESPECÍFICO E COM MAUS
ANTECEDENTES. ATIPICIDADE DA CONDUTA NÃO EVIDENCIADA. BENS RESTITUÍDOS À
VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Relator: Ministro Ribeiro Dantas, julgado em 22 de maio de 2023.
92 BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. (5ªTurma). Agravo Regimental no Habeas Corpus

813.238/SC. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. REINCIDENCIA. ANTECEDENTES. INAPLICABILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. Relator: Ministro Joel Ilan Paciornik, julgado em 26 de junho de
2023.
93 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Agravo Regimental no Habeas Corpus

809.280/SC. PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. RECEPTAÇÃO.


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. VALOR SUPERIOR A 10% DO
SALÁRIO-MÍNIMO. AVALIAÇÃO INDIRETA. REITERAÇÃO DELITIVA. Relator: Ministro Antônio
Saldanha Palheiro, julgado em 26 de junho de 2023.
94 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ª Turma). Agravo Regimental no Habeas Corpus

676.343/SP. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS


CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO PRÓPRIO. FURTO PRATICADO DURANTE O
REPOUSO NOTURNO. TENTATIVA. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA CASSADA PELO TRIBUNAL DE
ORIGEM. DETERMINAÇÃO DE PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL. INAPLICABILIDADE
DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. HISTÓRICO DELITIVO. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. Relator: Ministro Jesuíno Rissato, julgado em 24 de agosto de 2021.
95 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Habeas Corpus 103.684/DF. HABEAS

CORPUS. CRIME MILITAR. CONSCRITO OU RECRUTA DO EXÉRCITO BRASILEIRO. POSSE


DE ÍNFIMA QUANTIDADE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE EM RECINDO SOB
ADMINISTRAÇÃO CASTRENSE. INAPLICABILIDADE DO POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA
PENAL. INCIDÊNCIA DA LEI CIVIL N°11.343/2006. IMPOSSIBILIDADE. RESOLUÇÃO DO
CASO PELO CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE DA LEGISLAÇÃO PENAL CASTRENSE. ORDEM
DENEGADA. Relator: Ministro Ayres Britto, julgado em 21 de outubro de 2010.
41

importância do objeto material96; b) valor sentimental da res furtiva97; c) extensão


do dano e, d) circunstâncias e resultado do crime.

3.3.3 Entendimentos Sumulados e Jurisprudenciais Dominantes

Em relação a determinados caso concretos, diante a multiplicidade


de decisões no mesmo sentido, alguns entendimentos restaram pacificados e
devidamente sumulados no STJ, em relação a aplicação do princípio da
insignificância: Súmula n° 58998; Súmula n° 59999 e Súmula 606100.

A jurisprudência dominante possui entendimento firmado de que


não é aplicável o princípio da insignificância em crimes praticados com violência

96BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (5ª Turma). Habeas Corpus 361.019/SC. HABEAS
CORPUS. FURTO SIMPLES. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA.
EXPRESSIVIDADE DA LESÃO PATRIMONIAL SOFRIDA PELA VÍTIMA. VALOR DO BEM
SUBTRAÍDO QUE ULTRAPASSA 10% DO SALÁRIO-MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS.
PRECEDENTES DO STJ. ALEGAÇÃO NO SENTIDO DE QUE O BEM SEQUER FOI
SUBTRAÍDO. TESE AFASTADA. [...] SITUAÇÃO DOS AUTOS EM QUE A CONDUTA DELITIVA
AFETA SUBSTANCIALMENTE O BEM JURÍDICO PROTEGIDO. ANÁLISE CONGLOBANTE DO
VALOR DO BEM SUBTRAÍDO E DA REINCIDÊNCIA. PROPORCIONALIDADE NA
CONDENAÇÃO POR CRIME DE FURTO. ADEQUAÇÃO DO REGIME SEMIABERTO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 269 DO STJ. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. Relator:
Ministro Joel Ilan Paciornik, julgado em 27 de setembro de 2026.

97BRASIL, Superior Tribunal Federal. (1ª Turma). Habeas Corpus 107.615/MG. Habeas corpus.
FURTO DE QUADRO DENOMINADO "DISCO DE OURO". PREMIAÇÃO CONFERIDA
ÀQUELES ARTISTAS QUE TENHAM ALCANÇADO A MARCA DE MAIS DE CEM MIL DISCOS
VENDIDOS NO PAÍS. VALOR SENTIMENTAL INESTIMÁVEL. ALEGADA INCIDÊNCIA DO
POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL. INAPLICABILIDADE. BEM RESTITUÍDO À
VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA. CIRCUNSTÂNCIAS ALHEIAS À VONTADE DO AGENTE. PACIENTE
REINCIDENTE ESPECÍFICO EM DELITOS CONTRA O PATRIMÔNIO, CONFORME
CERTIDÃO DE ANTECEDENTES CRIMINAIS. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. Relator:
Ministro Dias Toffoli, julgado em 06 de setembro de 2011.

98 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 589. É inaplicável o princípio da


insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das
relações domésticas (Terceira Seção, julgado em 13/9/2017, DJe de 18/9/2017).

99 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 599. O princípio da insignificância é


inaplicável aos crimes contra a administração pública. (Corte Especial, julgado em 20/11/2017,
DJe de 27/11/2017).

100 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 606. Não se aplica o princípio da
insignificância a casos de transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência, que
caracteriza o fato típico previsto no art. 183 da Lei n. 9.472/1997 (Terceira Seção, julgado em
11/4/2018, DJe de 17/4/2018).
42

contra a pessoa101, violência doméstica102103; tráfico de drogas; furto qualificado;


e, em contrapartida, entende como aplicável ao crime de descaminho, conforme
tese firmada em sede de Tema Repetitivo104:
A aplicabilidade do princípio da insignificância, embora com
elementos balizadores estabelecidos de longa data, ainda é permeada por uma
política criminal equivocada, conforme resta evidenciado da análise de inúmeros
julgados, pois é cediço que o prejuízo financeiro imposto à sociedade decorrente
da prática de crimes tributários federais é substancialmente mais danoso que
outras infrações em que se entende pela não aplicação do referido princípio.

3.4. RELAÇÃO COM OUTROS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

O princípio da insignificância encontra-se fundamentado e


amparado por outros princípios incidentes no direito penal – conforme
abordagem conceitual e jurisprudencial realizada no capítulo anterior – de
maneira que, a sinergia existente entre o princípio em estudo e os demais
princípios do direito penal será evidenciada a seguir, mas em todas elas estão
diretamente associadas ao bem jurídico protegido.

a) Princípio da Legalidade: o princípio da insignificância funciona


como um modulador do jus puniendi do estado quando limita

101 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ª Turma). Agravo Regimental no Agravo em Recurso
Especial 1.589.938/DF. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
DECISÃO AGRAVADA. NÃO CONHECIMENTO. IMPUGNAÇÃO SUFICIENTE.
RECONSIDERAÇÃO. ROUBO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA EM CRIME DE ROUBO.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA TENTATIVA. NÃO OCORRÊNCIA. SÚMULA582/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL PROVIDO PARA CONHECER DO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL, MAS
LHE NEGAR PROVIMENTO. Relator: Ministro Nefi Cordeiro, julgado em 18 de fevereiro de 2020.
102 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ª Turma). Recurso Ordinário em Habeas Corpus

133.043/ MS. HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA. PRETENSÃO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:
IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. Relatora: Ministra Cármen Lúcia, julgado em 10 de
maio de 2016.
103 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (1ª Turma). Recurso Ordinário em Habeas Corpus

142.837/MS. AMEAÇA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.


INCOMPATIBILIDADE. Relator: Marco Aurélio, julgado em 20 de outubro de 2020.
104 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Tema Repetitivo 157. Incide o princípio da

insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário


verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20
da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas do
Ministério da Fazenda. (Terceira Seção, julgado em 28/11/2017, DJe de 01/12/2017).
43

essa prerrogativa, em razão da ínfima lesão ao bem jurídico


tutelado, pois é cediço que em inúmeros casos concretos, ainda
que aplicada a pena mínima, seria excessiva em relação a lesão
causada.
b) Princípio da Intervenção Mínima: o direito penal possui caráter
subsidiário, de maneira que somente deve se ocupar de lesão
ou ameaça de lesão ao bem jurídico protegido, quando a lesão
se mostrar gravosa, desta feita, o princípio da insignificância
auxilia de maneira direta na concretude dessa premissa,
excluindo da persecução penal infrações que, embora
formalmente típicas, mostram-se materialmente atípicas, pela
ausência ou ínfima lesão efetivamente provocada.
c) Adequação Social: relaciona-se com o princípio em estudo por
ser igualmente causa supralegal de exclusão da tipicidade
delitiva, entretanto, diretamente relacionada a fonte jurídica do
costume, em que, se entende que a conduta aceita e
consensualmente aprovada socialmente, pode não ser lesiva
ao bem jurídico protegido.
d) Ofensividade: diante da necessidade da lesão, ou potencial
risco de lesão ao bem jurídico protegido de outrem, para que o
possa incidir o Direito Penal, este dano ou perigo de dano deve
ser razoável para que seja necessária a punição do agente,
desta maneira, ínfimas lesões devem afastar a penalização, o
que se realiza pela aplicação do princípio da insignificância.
e) Presunção de Inocência: em algumas condutas formalmente
delituosas, em especial as de perigo ou risco presumido, há
evidente conflito entre uma norma e um princípio, devendo
prevalecer este, situação em que, a aplicação do princípio da
insignificância é passível de solucionar esta antinomia.
f) Ampla Defesa e Contraditório: o princípio da insignificância
funciona como elemento de defesa colocado à disposição do
acusado, visando evitar reprimendas desnecessárias do ponto
de vista social e jurídico.
44

g) Humanidade: o princípio da insignificância é passível de auxiliar


na concretização do princípio em apreço, evitando que pessoas
sejam submetidas a pena de prisão, e as consequências
subumanas e degradantes do sistema prisional brasileiro, sem
que efetivamente tenham provocado lesão jurídica e
socialmente relevante.
h) Proporcionalidade: o princípio da insignificância possibilita a
observância das normas incriminadoras, evitando que seja
aplicada uma penalidade que – ainda que em patamar mínimo
– seja excessiva em relação a ínfima lesão jurídica provocada.

O princípio da insignificância apresenta harmonia com os demais


princípios do Direito Penal que, conjuntamente propiciam uma moderação ao jus
puniendi estatal, de maneira a manter a segurança jurídica, sem, contudo, tolher
os direitos fundamentais do cidadão, mantendo-se parâmetros racionais de
valoração do bem jurídico protegido e sua lesão, para efeito de incidência da
norma penal incriminadora.
45

4. DELITOS COM ENTORPECENTES

Embora atualmente exista grande proximidade entre o uso de


substâncias entorpecentes e proibição, a circulação e consumo de substâncias
como cocaína, ópio e cannabis eram legais até o início do século XX, quando
seu uso era comum sob a forma recreativa ou medicinal105.

O processo de criminalização das drogas evoluiu historicamente


das guerras do ópio do século XIX – caracterizado por lutas pelo livre comércio
na China – passando pela Convenção de Haia em 1912 – primeira proibição do
tráfico de drogas internacional – chegando até a atual “guerra às drogas”
protagonizado no cenário global106.

4.1. GÊNESE E DESENVOLVIMENTO

A legislação referente a substâncias entorpecentes recebeu ao


longo dos anos, significas alterações, visando adequar sua aplicação e, ainda
que de maneira singela, tratar com isonomia os diferentes envolvidos, lacuna
presente na antiga Lei 6.368/1976, em especial, com a inclusão do disposto no
artigo 28 da Lei 11.343/2006 que reconhece a posse para uso pessoal, e
genericamente diferenciando da finalidade de traficância, disposta no artigo 33
deste último diploma normativo.

Insta destacar que o aspecto processual referente a Lei 6.368/1976


era regulada pelo disposto nos Capítulos IV (Do procedimento Penal) e V (Da
instrução criminal) da Lei 10.409/ 2002, ocorrendo a revogação expressa desta
e da Lei 6.368/ 1976 expressamente através do artigo 75 da vigente Lei 11.343/
2006, reunindo em um mesmo diploma legislativo de natureza penal e
processual107.

105 RODRIGUES, L. B. F. Controle penal sobre as drogas ilícitas: o impacto do


proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade
de Direito, Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 273, 2006.
106 ZACCONE, Orlando. Acionistas do nada – quem são os traficantes de drogas. Rio de

Janeiro: Revan, 2007.


107 CAPEZ, Fernando. Nova Lei de Tóxico – Das modificações legais relativas à figura do

usuário – Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Ver. Minist. Público. n.25. pp. 99-105, 2005.
46

As alterações mais significativas promovidas pelo atual diploma


normativo pertinente foram a despenalização de privação de liberdade para o
usuário de drogas e, a majoração da pena mínima de prisão para o tráfico,
conforme pode ser observado em quadro comparativo que será disponibilizado
adiante.

4.2. LEI ESPECIAL DO TRÁFICO DE DROGAS

O Brasil evidencia conduta omissa na elaboração de política


pública própria – em relação as substâncias entorpecentes – deixando-se
conduzir por orientações provenientes dos Estados Unidos da América e, após
a segunda metade do século XX, também pela Organização das Nações Unidas.
Esta limitação a simples importação de institutos jurídicos, que noutras searas
dificilmente levam a resolução da questão, pois culturas diferentes demandam
respostas diferentes, sendo imperioso o estudo independente do tema108.

A política criminal tem influenciado substancialmente mais do que


a elaboração legislativa, ultrapassando o aperfeiçoamento de mecanismos de
controle e repressão a criminalidade, e sendo utilizada pelo Estado como
instrumento de seleção e estigmatização social, através de estratégias
reacionárias e excludentes aplicadas de forma indiscriminada109.

A legislação pátria mostra-se excessivamente genérica, o que é


expressamente contrário aos princípios da legalidade e reserva legal,
inicialmente, em razão de previsões normativas idênticas nos tipos aplicáveis ao
traficante e usuário, o que viola ainda o princípio da isonomia que versa sobre o
tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais na exata medida de sua
desigualdade.

O enquadramento ao caso concreto resta ao magistrado, que,


limitado pela instrução – muitas vezes precária – do feito, carece de subsídios

108 TAFFARELLO, Rogério Fernando. Drogas: falência do proibicionismo e alternativas de


política criminal. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito, Universidade de
São Paulo. São Paulo, p.155, 2009.
109 OLIVEIRA, Fernando Antônio Sodré. Breves apontamentos sobre as políticas criminais

e sua influência nos mecanismos de controle social formal. v.17; n. 31; pp. 81-104. 2009.
47

materiais que lhe permitam decidir com certeza, em qual tipo realmente deve ser
enquadrado o autor e, não raras vezes, por uma postura excessivamente
conservadora, o condena na qualidade de traficante.

A ineficiência do Poder Legislativo acaba por ser um dos principais


determinantes do encarceramento excessivo, pois ao se compulsar legislações
alienígenas como o Código Penal Francês, é possível se observar uma técnica
legislativa aprimorada, com maior adequação a realidade social e, uma proteção
mais efetiva ao bem jurídico tutelado.

Quadro I – Comparativo das Leis 6.368/ 1976 x 11.343/2006110

Lei n° 6.368/1976 Lei n° 11.343/2006


Uso Uso
Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em
para o uso próprio, substância entorpecente depósito, transportar ou trouxer consigo, para
ou que determine dependência física ou consumo pessoal, drogas sem autorização ou
psíquica, sem autorização ou em desacordo em desacordo com determinação legal ou
com determinação legal ou regulamentar: regulamentar será submetido às seguintes
Pena – Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) penas:
anos, e pagamento de (vinte) a 50 (cinquenta) I - advertência sobre os efeitos das drogas;
dias-multa. II – prestação de serviços à comunidade;
III – Medida educativa de comparecimento a
programa ou curso educativo.
Tráfico Tráfico
Art. 12. Importar ou exportar, remeter, Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar,
preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, produzir, adquirir, vender, expor à venda, ter
expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que em depósito, transportar, trazer consigo,
gratuitamente, ter em depósito, transportar, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar consumo ou fornecer drogas, ainda que
ou entregar, de qualquer forma, a consumo gratuitamente, sem autorização ou em
substância entorpecente ou que determine desacordo com determinação legal ou
dependência física ou psíquica, sem regulamentar:
autorização ou em desacordo com Pena – Reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze)
determinação legal ou regulamentar: anos e pagamento de 500 (quinhentos) a
Pena – Reclusão de 3 (três) a 15 (quinze) 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 360
(trezentos e sessenta) dias-multa.

O fato é que a legislação atual reuniu dois modelos de controle


social: punitivo e criminalizador direcionado aos traficantes, que culminou com o
aumento da pena mínima prevista para esta atividade e, o segundo de objetivo
médico-preventivo, dirigido aos usuários, que culminou com a extinção da pena
de prisão e de multa para estes111.

110 CAMPOS, Marcelo da Silveira. O novo nem sempre vem: Lei de drogas e encarceramento
no Brasil. 2018. p. 1.
111 Id. 2018. p.2.
48

Os dois artigos de maior relevância da Lei 11.343/ 2006 na seara


penal - reproduzidos no quadro comparativo anterior - são objetos de constantes
críticas da doutrina especializada e dos estudos de política criminal, inicialmente
pela imprecisão das condutas incriminadoras de posse para uso pessoal,
posteriormente pela precariedade na promoção da proteção dos bens
juridicamente tutelados e, finalmente, pelos efeitos nefastos ao sistema penal,
em especial, a questão carcerária e ao Poder Judiciário em sentido amplo pelo
acúmulo de processos.

Ao se observar o texto legislativos, prima facie é possível verificar


a reprodução de alguns tipos penais, no dispositivo referente ao tráfico que,
foram anteriormente posicionados em relação ao usuário, de maneira que, a
margem de subjetividade se mostra excessiva, especialmente diante da punição
prevista para aquele que for posicionado na qualidade de traficante.

Os verbos repetidos literalmente nos artigos 28 e 33 da Lei


11.343/2006 são: “guardar, adquirir, ter em depósito, transportar, trazer consigo”,
e são complementados no caso do artigo 28, caput com “para consumo pessoal”,
de maneira que resta ampla discricionariedade da autoridade policial classificar
a ação como posse para uso, ou, para traficância, inexistindo dispositivo
normativo objetivo, que possa diferenciar estas ações.

O art. 28 da Lei pune a ação de quem adquire, guarda, tem em depósito


etc., droga sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar. Já o art. 33 pune a ação de quem importa, exporta,
vende, expõe à venda etc., droga, também sem autorização legal. A
distinção entre um crime e outro reside essencialmente no dolo,
portanto: no porte para consumo, o agente tem a droga para uso
próprio (dolo de consumir); no tráfico, no entanto, há dolo de produzir
ou comercializar a droga para terceiro (dolo de traficar).112

A simples leitura dos dispositivos em comento, permite se verificar


a abertura ao direito penal do autor e à arbitrariedade judicial, especialmente no

112 BIZOTTO, Alexandre; RODRIGUES, Andreia de Brito; QUEIROZ, Paulo. Comentários


críticos à Lei de Drogas. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010. p. 47.
49

contexto brasileiro, que possui tradição punitivista dos atores na seara do


sistema penal.113

A legislação limitou-se a trazer no § 2° do artigo 28 da Lei


11.343/2006 alguns indicadores, com os quais seria possível diferenciar o
animus da posse da droga:

§ 2° Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o


juiz atender·à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao
local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias
sociais e pessoais, bem como conduta e aos antecedentes do agente

O dispositivo referenciado deixa expresso o que a doutrina


denomina de “direito penal do autor”, ou seja, aquele em que “não se pune uma
conduta, mas sim uma determinada pessoa em razão de suas condições
pessoais”114, em que se “despreza o centro do fato e constitui a máxima
personalização do ilícito penal para fins preventivos”115.

Neste sentido, imprescindível destacar que:

Seja qual for a perspectiva a partir de que se queira fundamentar o


direito penal de autor (culpabilidade de autor ou periculosidade), o certo
é que um direito que reconheça, mas que também respeite, a
autonomia moral da pessoa jamais pode penalizar o ‘ser’ de uma
pessoa, mas somente o seu agir, já que o direito é uma ordem
reguladora de conduta humana116.

As circunstâncias apontadas como elemento balizador de


diferenciação entre consumo e tráfico são eivadas de extrema subjetividade, e
embora não tenham natureza taxativa, consistem nos parâmetros legais
estabelecidos de tipicidade da conduta do agente, vigentes na atualidade.

Desta forma, embora a legislação atual tenha deixado de punir com


prisão o porte de drogas para consumo próprio, não estabeleceu critérios

113 CARVALHO, Salo de. O papel dos atores do sistema penal na era do punitivismo – o
exemplo privilegiado da aplicação da pena. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
114 MASSON, 2014. p. 260.
115 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito penal: parte geral: arts. 1° a 120 do Código

Penal. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 721.


116 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de derecho penal -Parte general. Buenos Aires: Ediar,

1996. p.73.
50

objetivos para a diferenciação desta conduta, em relação ao tráfico, de forma


que esta classificação restou ao encargo do sistema de persecução penal –
Polícia, Ministério Público e Poder Judiciário – que não possui entendimento
uníssono.

A autoridades policial e judicial devem observar as circunstâncias


reportadas anteriormente, com a finalidade de enquadrar – de forma
fundamentada – a conduta do agente, sendo imperioso destacar que a decisão
final de subsunção da ação à norma, é exclusiva do magistrado117.

Devido a lacuna trazida no art. 28, em não trazer uma quantidade para
distinguir usuário e traficante, e ao poder dado ao juiz para discernir
com base nas informações coletadas na apreensão do sujeito, nos
mostram mais uma vez a autoridade do Estado para com seus
administrados – é praticamente impossível não haver contaminação
em tais parâmetros.118

A discussão chegou à apreciação do STF através do Recurso


Extraordinário 635.659/SP119 - Tema 506 Tipicidade do porte de droga para
consumo pessoal - de repercussão geral, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes.

Paralisado devido a pedido de vistas, após a última sessão


plenária, em que votou o Ministro Alexandre de Moraes, que merece reprodução
in totum, diante da efetiva contribuição para a resolução da temática em apreço:

“1. Não tipifica o crime previsto no artigo 28 da Lei nº 11.343/2006 a


conduta de adquirir, guardar, ter em depósito, transportar ou trazer
consigo, para consumo pessoal, a substância entorpecente
`maconha´, mesmo sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar;
2. Nos termos do § 2º do artigo 28 da Lei nº 11.343/2006, será
presumido usuário aquele que adquirir, guardar, tiver em depósito,
transportar ou trazer consigo, uma faixa fixada entre 25,0 a 60 gramas

117 LINS, Emmanuela Vilar. A nova Lei de Drogas e o usuário: a emergência de uma política
pautada na prevenção, na redução de danos, na assistência e na reinserção social. In:
NERY FILHO, A., et al. orgs. Toxicomanias: incidências clínicas e socioantropológicas. Salvador:
EDUFBA; 2009, pp. 243-267.
118 SECCO, Lara Amorim. Controle estatal e a política de combate às drogas: análise dos

boletins de ocorrência na cidade de Maceió. In: AMARAL, Augusto Jobim do. et all.10
Congresso Internacional de Ciências Criminais. 2020. pp. 150 – 161.
119 BRASIL. Superior Tribunal Federal (Plenário). Repercussão Geral no Recurso Extraordinário

635659/SP. CONSTITUCIONAL. 2. DIREITO PENAL. 3. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 28


DA LEI 11.343/2006. 3. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 5º, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
6. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. Relator: Ministro Gilmar Mendes, Processo
automaticamente liberado para a continuação do julgamento em 04/12/2023, conforme Emenda
Regimental 58, de 19 de dezembro de 2022.
51

de maconha ou seis plantas fêmeas, dependendo da escolha mais


próxima do tratamento atual dado aos homens brancos, maiores de 30
anos e com nível superior;
3. A presunção do item anterior é relativa, não estando a autoridade
policial e seus agentes impedidos de realizar a prisão em flagrante por
tráfico de drogas mesmo quando a quantidade de maconha for inferior
à fixada, desde que, de maneira fundamentada, comprovem a
presença de outros critérios caracterizadores do tráfico de
entorpecentes;
4. Nas hipóteses de prisão em flagrante por quantidades inferiores à
fixada no item 2, para afastar sua presunção relativa, na audiência de
custódia, a autoridade judicial, de maneira fundamentada, deverá
justificar a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva e a
manutenção da persecução penal, apontando, obrigatoriamente,
outros critérios caracterizadores do tráfico de entorpecentes, tais como
a forma de acondicionamento, a diversidade de entorpecentes, a
apreensão de outros instrumentos como balança, cadernos de
anotação, celulares com contatos de compra e venda (entrega
`delivery´), locais e circunstâncias de apreensão, entre outras
características que possam auxiliar na tipificação do tráfico;
5. Nas hipóteses de prisão em flagrante por quantidades superiores à
faixa de 25,0 a 60 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas,
dependendo da escolha mais próxima do tratamento atual dado aos
homens brancos, maiores de 30 anos e com nível superior, na
audiência de custódia, a autoridade judicial deverá permitir ao suspeito
a comprovação de tratar-se de usuário”.

Anteriormente, nestes autos, o Ministro Luís Roberto Barroso


propôs em seu voto um critério distintivo entre consumo e tráfico: a presunção
de inexistência de tráfico a posse de 25 gramas de maconha, destacando que
tal quantidade seria mera referência, restando ao Magistrado na apreciação do
caso concreto, valorar o conjunto probatório e concluir que, seja caso de uso
próprio mesmo com quantidade maior ou, que entenda pela existência de tráfico,
com quantidade menor.

O que merece destaque no quantum estabelecido no voto do


Ministro Alexandre de Moraes é o fundamento utilizado: números de
levantamento do volume médio de apreensão de drogas no Estado de São Paulo
no período de 2006 a 2017, em estudo conjunto com a Associação Brasileira de
Jurimetria que abrangeu mais de 1,2 milhão de ocorrências.

Resta incontroverso que a legislação precariamente construída


contribui, sobremaneira, para o aumento na tipicidade do crime de tráfico de
drogas e, o ativismo judicial é imprescindível para uma adequação da aplicação
aos casos concretos apresentados na realidade social, entretanto, é imperiosa a
52

movimentação do Poder Legislativo no sentido de promover as alterações


necessárias.

Além dos elementos formais abordados anteriormente, mostra-se


imprescindível analisar aspectos doutrinários referentes a natureza dos perigos
envolvidos diretamente nos tipos penais: delitos de perigo e delitos de dano, bem
como suas respectivas relações com o bem jurídico protegido, que tem
sustentado dogmaticamente, grande número de sentenças penais condenatórias
pelos delitos envolvendo entorpecentes.

4.3. DELITOS DE DANO E DE PERIGO

A doutrina convencionalmente tem classificado os delitos em:


delitos de dano e delitos de perigo, este último, subdividido em delitos de perigo
concreto – em que o bem jurídico deve ter sofrido um risco real de lesão – e,
delitos de perigo abstrato - em que esse risco real não é necessário.

Os delitos de dano exigem, para a sua configuração, uma efetiva


lesão ao bem jurídico tutelado, de maneira que o próprio tipo penal estabelece
um resultado – naturalístico ou jurídico – enquanto nos delitos de perigo, não é
exigida lesão efetiva, mas um simples risco de lesão.

Ainda se mostra imprescindível a diferenciação entre os delitos de


perigo concreto e os delitos de perigo abstrato, sendo imperiosa a reprodução
da doutrina:

Considera-se o primeiro como a probabilidade de ocorrência de um


dano que necessita ser devidamente provada pelo órgão acusador,
enquanto o segundo significa uma probabilidade de dano presumida
pela lei, que independe de prova no caso concreto. O legislador, neste
último caso, baseado em fatos reais, extrai a conclusão de que a
prática de determinada conduta leva ao perigo, por isso tipifica a ação
ou omissão, presumindo o perigo. Exemplos: a) perigo concreto: o
delito consistente em expor a vida ou a saúde de uma pessoa a perigo
direto e iminente necessita da prova da situação fática (dar um tiro na
direção de alguém), bem como da prova do perigo (demonstração de
que o disparo passou próximo ao corpo da pessoa); b) perigo abstrato:
os delitos de tráfico e porte de entorpecentes (arts. 33 e 28 da Lei de
Drogas) consistem em punir o sujeito que traz consigo substância
53

entorpecente, porque tal conduta quer dizer um perigo para a saúde


pública120.

As sentenças e acórdãos têm apresentado de maneira sistêmica, o


argumento da inaplicabilidade do Princípio da Insignificância aos delitos com
entorpecentes, por tratar-se de crime de perigo abstrato, que tutela bens jurídicos
difusos (saúde, segurança pública e paz social), entretanto, neste tipo de delito, a
presunção é iuris tantum e não iuris et de iure em relação à existência do perigo121.

Neste sentido, merece destaque o voto do Ministro Gilmar Mendes no


Habeas Corpus 127.573/SP122:

No entanto, entendo que tal equação dogmática (crime de perigo


abstrato + bem jurídico difuso = inaplicabilidade automática do princípio
da insignificância) não se revela exatamente precisa em sua essência.
Diferentemente do que ocorre com os crimes de perigo concreto, os
crimes de perigo abstrato pressupõem um juízo de possibilidade, ou de
probabilidade, e não um juízo de certeza de perigo de dano ao bem
jurídico tutelado pela norma penal. É preciso que haja, de todo modo,
uma clara demonstração da potencialidade efetiva da conduta em vir a
causar um perigo de dano ao valor protegido, já que o juízo de
probabilidade que fundamenta os crimes de perigo abstrato não pode
ser reduzido a nada ou a uma não possibilidade de risco de dano. Se
os crimes de perigo concreto exigem uma demonstração concreta do
perigo, em uma certeza de risco de dano, os crimes de perigo abstrato
exigem uma demonstração concreta da possibilidade de risco de dano,
já que não são crimes de mera conduta. Sendo assim, compreender a
arquitetura dogmática dos crimes de perigo abstrato como uma
presunção absoluta de risco de dano, revela-se um juízo precipitado e
equivocado. Na linha de cuidado-de-perigo ao bem jurídico tutelado
pela norma jurídico-penal, pode haver: (1) demonstração de dano; (2)
demonstração da certeza de risco de dano; (3) demonstração da
possibilidade de risco de dano; (4) não demonstração da possibilidade
de risco de dano ou impossibilidade de risco de dano. O primeiro caso
corresponde aos crimes de dano, o segundo aos crimes de perigo
concreto, o terceiro aos crimes de perigo abstrato e o último caso a
uma conduta atípica. Isso significa que se não houver, no caso
concreto, uma clara comprovação da possibilidade de risco de dano da
conduta do agente ao bem jurídico tutelado, estaremos diante de um
comportamento atípico do ponto de vista material, ainda que haja uma
subsunção formal da conduta ao tipo penal de perigo abstrato.

120NUCCI, 2019. p. 490.


121PRADO, Luiz Régis; CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. Curso
de direito penal brasileiro. 17ªed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
122 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ªTurma). Habeas Corpus 127.573/SP. HABEAS

CORPUS. 2. POSSE DE 1 (UM GRAMA) DE MACONHA. 3. CONDENAÇÃO À PENA DE 6


(SEIS) ANOS, 9 (NOVE) MESES E 20 (VINTE) DIAS DE RECLUSÃO, EM REGIME INICIAL
FECHADO. 4. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. ATIPICIDADE MATERIAL. 5. VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS DA OFENSIVIDADE, PROPORCIONALIDADE E INSIGNIFICÂNCIA. 6. PARECER
DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELA CONCESSÃO DA ORDEM. 7. ORDEM
CONCEDIDA PARA RECONHECER A ATIPICIDADE MATERIAL. Relator: Ministro Gilmar
Mendes, julgado em sessão virtual de 01 a 08 de novembro de 2009.
54

O fragmento do voto reproduzido, deixa evidente que, em casos


concretos de apreensão de quantidades ínfimas de entorpecentes, é aplicável o
princípio da insignificância, até mesmo em observância de outros princípios
correlatos como proporcionalidade; ofensividade; e, em especial, da finalidade
do direito penal como ultima ratio.

4.4. TIPOS PENAIS INCRIMINADORES

Há no Direito Penal, evidente articulação com a noção de


legalidade através de duas categorias próprias: o tipo e a tipicidade, de forma
que, enquanto a primeira exerce uma função de prognose legislativa, a última,
por sua vez, possui função concretizadora, ou seja, de aplicação à conduta
prevista ao caso concreto123.

O Direito Penal contemporâneo é caracterizado pela previsão da


conduta criminosa através de uma construção linguística específica denominada
de tipo penal, de forma que somente há delito e respectiva sanção, quando
houver tipo penal correspondente124, representando um modelo abstrato de
comportamento proibido elaborado pelo legislador.125

A tipicidade – correspondência entre a conduta e o modelo


comportamental proibido pela lei – representa importante elemento da crise do
Direito Penal atual, pois de um lado há o legislador, que prevê um modelo
abstrato de conduta através da lei penal por ele elaborada e, do outro, o técnico,
que aplica a legislação, e tende a não apreciar o conteúdo material do tipo penal,
representado pelo bem jurídico tutelado126.

123 MARQUES, Jader. Leitura Hermenêutica da Tipicidade Penal. Tese (Doutorado em Direito)
– Faculdade de Direito, Universidade do Vale dos Sinos. São Leopoldo, p. 263, 2012.
124 OLIVEIRA, João Guilherme Silva Marcondes de. Do caráter aberto dos tipos penais:

revisão de uma dicotomia. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo: 2010.


125 TAVARES, Nathália Escanssetti. A tipicidade penal moderna. Escola da Magistratura do Rio

de Janeiro. 2014.
126 BRANDÃO, Cláudio. Tipicidade e Interpretação no Direito Penal. Sequência. n.68, pp. 59-

89, 2014.
55

Não obstante essa crise operacional, os tipos penais possuem


funções múltiplas, ligadas, sobretudo: a) a limitação do poder estatal de intervir
na esfera de liberdade dos sujeitos127, determinando com antecedência o que é
proibido: função de garantia; b) a seleção de condutas a serem proibidas pela
norma, definindo-as, através de elementos/ traços que identifiquem
precisamente o crime: função sistematizadora; e por fim, c) a determinação do
caráter proibitivo da norma pela relação entre ilicitude e tipo penal, pela
valoração do bem jurídico: função de fundamentação da ilicitude128.

A função garantidora do tipo penal está diretamente relacionada


com a descrição constante das normas incriminadoras e precisa definição dos
bens jurídicos valorados, de forma que, a técnica legislativa mostra-se de
extrema relevância, pois a impropriedade desta pode ferir tal função, seja pela
generalidade, pelo excesso de elementos normativos, ou ainda, pela presença
de sanções punitivas indeterminadas129.

O tipo penal consiste em construção legislativa específica que visa


a proteção do bem jurídico – bens e valores – de eventual lesão ou, de exposição
deste a perigo130, delimitando a sua incidência131, de maneira que a técnica
legislativa é fundamental para que se atinja esta finalidade.

A construção do tipo penal deve ser realizada com prudência,


considerando o bem jurídico a ser tutelado e, especialmente, seu alcance, pois
em eventual violação - e consequente penalização – o agente estará exposto a
privação de um dos bens mais valiosos para o ser humano: a liberdade.

127 SALVADOR NETTO, Alamiro Velludo. Tipicidade Penal e Princípio da Legalidade: o dilema
dos elementos normativos e a taxatividade. Revista Brasileira de Ciências Criminais. v. 85,
pp. 219- 229, 2010.
128 LOPES, Luciano Santos. A relação entre o tipo legal de crime e a ilicitude: uma análise

do tipo total de injusto. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade


Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, p. 246. 2010.
129 CARVALHO, Márcia Dometila Lima de. Fundamentação constitucional do direito penal.

Porto Alegre: SAFe, 1992. p.55.


130 LIMA, Marcellus Polastri. Critério de classificação dos delitos e técnica legislativa de

elaboração da parte especial do código penal brasileiro. Rev. Dir. Proc-Geral. n. 28: pp. 64-
92, 1988.
131 LOPES, Luciano Santos. O tipo legal de crime: sua evolução e importância na dogmática

penal. R. Curso Dir. UNIFOR. v. 5, n. 2, pp. 70-83, 2014.


56

4.4.1 Tipos Fechados e Abertos

Os tipos penais integralmente descritivos são entendidos pela


doutrina majoritária, como ideais, pois permitem interpretação relativamente
restrita, recepcionando o princípio da taxatividade, e permitindo a necessária
segurança jurídica imprescindível na seara jurídica, em especial em matéria
penal.

A construção de tipos penais segue duas técnicas: a) de


normatização sintética; e b) de normatização descritiva. Enquanto a primeira
utiliza-se de elementos normativos, que determinam a busca pelo intérprete de
dados externos a figura delituosa para interpretação; a última descreve o fato
proibido, indicando integralmente o comportamento empírico ilegal132.

A doutrina apresenta considerável número de classificações dos


tipos penais incriminadores, sendo de relevância para o presente estudo, o que
os divide em tipos penais em abertos ou sintéticos e fechados ou descritivos, por
sua relação direta com a interpretação e aplicação dos dispositivos legais
referentes aos delitos com entorpecentes.

O tipo penal fechado:

(...) é constituído somente de elementos descritivos, que não


dependem do trabalho de complementação do intérprete, para que
sejam compreendidos (exemplo: art. 121, matar alguém – os dois
elementos são puramente descrições, sem qualquer valoração a exigir
do intérprete conceitos que vão além do vernáculo). 133

O tipo penal aberto, por sua vez:

(...) é aquele que contém elementos normativos ou subjetivos, de modo


que depende da interpretação de quem o conhece, para que adquira
um sentido e tenha aplicação (exemplo: art. 233, praticar ato obsceno
– o tipo exige que se faça um juízo valorativo acerca do termo obsceno,
que não é meramente descritivo, mas normativo) 134.

132 PIRES, Ariosvaldo de Campos e SALES, Sheila Jorge Selim. Crimes de trânsito na lei n.
9.503/97. Belo Horizonte: Del Rey, 1998.
133 NUCCI, 2017, p. 509.
134 Idem., p. 510.
57

A doutrina dominante entende que o tipo penal do tráfico é aberto,


com penas desproporcionais, incapaz de estratificar as categorias dos
comerciantes encontrados na realidade fática e, principalmente, não estabelece
de forma clara, a necessária distinção entre usuário e traficante, o que contribui
substancialmente para a superlotação das prisões com traficantes pobres e
impunidade dos grandes135.

Desse modo:

A quantidade da droga, por si só, não constitui, em regra, critério


determinante. Claro que há situações inequívocas: uma tonelada de
cocaína ou de maconha revela traficância (destinação a terceiros). Há,
entretanto, quantidades que não permitem uma conclusão definitiva.
Daí a necessidade de se valorar não somente um critério (o
quantitativo), senão todos os fixados na Lei. O modus vivendi do
agente (ele vive do que?) é um dado bastante expressivo. Qual é sua
fonte de receita? Qual é sua profissão? Trabalha onde? Quais sinais
exteriores de riqueza apresenta? Tudo isso conta para a correta
definição jurídica do fato136.

O fato de a norma penal incriminadora ser de tipo aberto, exige do


Magistrado a valoração do caso concreto com maior amplitude, que acaba sendo
apreciado inevitavelmente de maneira subjetiva e, dependendo do arcabouço
probatório produzido pela polícia judiciária, e pelo Ministério Público, o agente
pode ser posicionado na condição de usuário/ consumidor ou de comerciante/
traficante.

135 DINU, Vitória Caetano Dreyer; MELLO, Marília Montenegro Pessoa. Afinal, é usuário ou
traficante? Um estudo de caso sobre discricionariedade e ideologia da diferenciação.
Revista Brasileira de Direito. v.13; n.2, pp. 194-214, 2017.
136 GOMES, Luiz Flávio; BIANCHINI, Alice; CUNHA, Rogério Sanches da; OLIVEIRA, Willian

Terra de. Nova Lei de Drogas Comentada. São Paulo. Editora dos Tribunais, 2006. p. 162.
58

4.5. DELITOS COM ENTORPECENTES NA LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL

Os países que optam pelo sistema jurídico da civil law, baseado no


sistema romano-germânico, apresentam legislações específicas relacionadas
aos delitos com entorpecentes, por vezes constantes da estrutura do próprio do
código penal – Espanha e França – e por vezes em Lei específica – Brasil,
Argentina, Itália – Paraguai – com substanciais diferenças na técnica legislativa
utilizada.
A abordagem da legislação internacional foi limitada a análise da
legislação espanhola e francesa de maneira breve, em razão destas
apresentaram maior proximidade com a ideia de bem jurídico tutelado, e
acolhimento dos princípios do direito penal contemporâneo – ofensividade,
taxatividade; razoabilidade, proporcionalidade – com destaque para
descriminalização da posse para consumo e, uma tipificação de condutas
hierarquizada conforme a conduta do agente em termos de ação na organização
criminosa (alto escalão; escalão intermediário; escalão inferior), e penas
correspondentes a reprovabilidade da contuda.

4.5.1. Direito Penal Espanhol

Os delitos relacionados a substâncias entorpecentes constam dos


artigos 368 a 370 do respectivo Código Penal Espanhol137, e, diferencia-se pela
construção legislativa, em que o tipo é descrito no artigo 368 e, nos artigos
subsequentes - 369, 369 bis e 370 – as causas de aumento e diminuição,
conforme tradução independente, apresentada a seguir:

Artigo 368. Aqueles que realizam ações de cultivo, processamento ou


tráfico, ou de qualquer outra forma promovam, favoreçam ou facilitem
o consumo ilegal de drogas tóxicas, narcóticos ou substâncias
psicotrópicas, serão punidos com penas de prisão de três a seis anos
e multa de três vezes o valor da droga envolvida no crime, se tratar-se
de substâncias ou produtos que causem graves danos à saúde, e de
reclusão de um a três anos e multa em dobro nos mesmos casos. Não
obstante o disposto no parágrafo anterior, os tribunais poderão impor
pena de inferior às indicadas em função da pequena natureza do fato

137ESPAÑA. Ley Orgánica 10/1995, de 23 de noviembre, del Código Penal. Jefatura del Estado.
24 nov. 1995.
59

e das circunstâncias pessoais do acusado. Não se poderá fazer uso


desta faculdade se concorrer alguma das circunstâncias previstas nos
artigos 369 bis e 370.

Artigo 369.1. Serão impostas penas gradualmente superiores às


indicadas no artigo anterior e multa de até quatro vezes o valor quando
ocorrer alguma das seguintes consequências:
1.ª O acusado for autoridade, funcionário público, médico, assistente
social, professor ou educador e atuar no exercício de seu cargo,
profissão ou ofício.
2.ª O acusado participar de outras atividades organizadas ou cuja
execução seja facilitada pela prática do crime.
3.ª Os atos forem realizados em estabelecimentos abertos ao público
pelos responsáveis ou seus funcionários.
4.ª As substâncias referidas no artigo anterior sejam facilitadas a
menores de 18 anos, a pessoas com deficiência mental ou a pessoa
submetida a tratamento de dependência ou reabilitação.
5.ª Reveste-se de notória importância a quantidade das referidas
substâncias, objeto das condutas a que se refere o artigo anterior.
6.ª As referidas substâncias se adulteradas, manipuladas ou
mescladas entre si ou com outras aumentando os possíveis danos à
saúde.
7.ª As condutas descritas no artigo anterior ocorram em centros
educativos, em centros, estabelecimentos ou unidades militares, em
estabelecimentos penitenciários ou em centros de dependência ou
reabilitação, ou em suas proximidades.
8.ª O acusado empregar violência ou exibir ou utilizar armas para
cometer o ato.

Artigo 369 bis. Quando os atos descritos no artigo 368 forem praticados
por quem pertence a uma organização criminosa, serão impostas
penas de prisão de nove a doze anos e multa de duas a quatro vezes
o valor da droga, se forem substâncias e produtos que causem danos
graves à saúde e reclusão de quatro anos e seis meses a dez anos e
a mesma multa nos demais casos.
Aos chefes, encarregados ou administradores da organização serão
impostas penalidades superiores as dispostas no parágrafo primeiro.
Quando, de acordo com o disposto no artigo 31 bis, uma pessoa
jurídica for responsável pelos crimes previstos nos dois artigos
anteriores, serão impostas as seguintes penas: a) Multa de dois a cinco
anos, ou de três a cinco vezes o valor da droga quando o valor
resultante for superior, se o crime cometido pela pessoa física implicar
pena de prisão superior a cinco ano. b) Multa de um a três anos, ou do
dobro ao quádruplo do valor da droga quando o valor resultante for
superior, se o crime cometido pela pessoa física tiver pena de prisão
superior a dois anos não incluída na alínea anterior.
Atendidas as regras estabelecidas no artigo 66 bis, os Juízes e
Tribunais poderão impor também as penas previstas nas alíneas b) a
g) da seção 7 do artigo 33. CÓDIGO PENAL E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR §1 Lei Orgânica do Código Penal – 135.

Artigo 370. Será majorada a pena em um ou dois graus, a disposta no


artigo 368 quando: 1°Sejam utilizados menores de 18 anos ou
deficientes mentais para a prática destes delitos; 2° Sejam dirigentes,
administradores ou gerentes das organizações referidas na
circunstância 2.ª do apartado 1 do artigo 369. 3° As condutas descritas
no artigo 368 são de extrema gravidade. Se consideram de extrema
gravidade os casos em que a quantidade de substâncias a que se
refere o artigo 368 exceda significativamente a normalidade, ou tenha
utilizado barcos, navios ou aeronaves como meio de transporte
60

específico, ou se tenham realizado condutas que simulem operações


de comércio internacional entre empresas, ou se trate de rede
internacional dedicadas a este tipo de atividade, ou quando concorram
três ou mais das circunstâncias previstas no artigo 369.1. Nos casos
anteriores dos incisos 2 e 3, também será aplicada aos acusados multa
de até três vezes o valor da droga objeto do crime.

Artigo 371.1 Quem fabricar, transportar, distribuir, comercializar ou tiver


em sua posse equipamentos, materiais ou substâncias listados na
Tabela I e na Tabela II da Convenção das Nações Unidas, realizado em
Viena, em 20 de dezembro de 1988, sobre o tráfico ilícito de
entorpecentes e substâncias psicotrópicas, e quaisquer outros
produtos para este fim, adicionados a esta Convenção ou que sejam
incluídos em futuras Convenções da mesma natureza, ratificados pela
Espanha, sabendo que serão utilizados no cultivo, produção ou
fabricação de drogas ilícitas, entorpecentes ou substâncias
psicotrópicas, ou para estes fins, serão punidas com pena de prisão de
três a seis anos e multa de uma a três vezes o valor dos bens ou
prejuízos. 2. Será imposta a pena prevista em sua metade superior,
quando as pessoas que realizem os atos descritos indicados, se trate
de chefes, administradores ou dirigentes das organizações ou
associações referidas. Nestes casos, os Juízes ou Tribunais imporão,
além das penas correspondentes, a de inabilitação do réu para o
exercício de sua profissão ou indústria pelo período de três a seis anos,
e as demais medidas previstas no artigo 369.2.

Artigo 372. Se os atos previstos neste capítulo forem praticados por


empresário, intermediário do setor financeiro, médico, funcionário
público, assistente social, professor ou educador, no exercício de seu
cargo, profissão ou ofício, lhe será imposta, além da pena
correspondente, a de inabilitação especial para emprego ou cargo
público, profissão ou ofício, indústria ou comércio, de três a dez anos.
Será imposta pena de inabilitação absoluta de dez a vinte anos quando
os referidos atos forem praticados por autoridade ou seu preposto, no
exercício de seu cargo. Para isso, entende-se como autoridades, os
médicos, psicólogos, portadores de título na área de saúde, os
veterinários, os farmacêuticos e seus dependentes.

Artigo 373. O estímulo, a conspiração e a proposta para a prática dos


crimes previstos nos artigos 368 a 372 serão punidos com pena de um
a dois graus inferiores a prevista, respectivamente, aos fatos previstos
nos preceitos anteriores. CÓDIGO PENAL E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR § 1 Lei Orgânica do Código Penal – 136 – Artigo
374. Nos crimes previstos no parágrafo segundo do inciso 1 do artigo
301 e nos artigos 368 a 372, além das penas correspondentes ao delito
cometido, as drogas tóxicas, os entorpecentes ou as substâncias
psicotrópicas, os equipamentos, materiais e substâncias referidos no
artigo 371, bem como, os bens, meios, instrumentos e lucros estão
sujeitos a confisco, conforme disposto nos artigos 127 a 128 e as
seguintes normas especiais: 1.ª Uma vez prolatada a sentença, serão
destruídas as amostras separadas, ou a totalidade do apreendido, caso
o órgão judicial competente tenha ordenado sua conservação. 2.ª Os
bens, meios, instrumento e lucros definitivamente confiscados por
sentença, que não possam ser aplicados na responsabilidade civil
derivadas do crime ou das custas processuais, serão adjudicados
integralmente ao Estado.
61

Note-se o acolhimento do princípio da proporcionalidade, expresso


na previsão de pena pecuniária, ou seja, o fator multiplicador encontra-se
previsto e depende do quantum de substância entorpecente apreendida com o
autor, de maneira clara e objetiva, restando ao operador do direito baixo nível de
discricionariedade na aplicação do dispositivo normativo.

O tratamento isonômico é revelado na conduta – mais gravosa –


diferenciada prevista, conforme o cargo ocupado pelo denunciado, de maneira
que aqueles que possuem acesso privilegiado aos potenciais destinatários das
substâncias, incorrem em pena – abstrata – maior, bem como, há clara
diferenciação entre o tipo de substância e o quantum de penalidade prevista.

Por fim, outro elemento interessante, é que o destinatário das


substâncias entorpecentes, consiste em causa de aumento da penalidade
imposta, bem como, há expressa previsão de responsabilidade da pessoa
jurídica, situações estas omissas na legislação pátria, e que, representam a
observância dos princípios básicos de direito.

4.5.2. Direito Penal Francês

Os delitos relacionados a substâncias entorpecentes, constam no


Código Penal Francês138 nos artigos compreendidos de 222-34 a 222-43, cuja
estratificação em relação a conduta, é exposta de forma clara, em observância
aos princípios da legalidade, proporcionalidade e isonomia.

Os cargos superiores na hierarquia das organizações de tráfico de


entorpecentes possuem previsão de pena mais gravosa in abstrato, quando
comparada com os agentes intermediários e essencialmente operacionais, de
forma que a legislação expressamente contempla os princípios da isonomia e
proporcionalidade, pois apresenta lógica na ação para a preservação do bem
jurídico protegido.

222-34 Dirigir ou organizar um grupo que tenha por objetivo a


produção, fabricação, importação, a exportação, transporte, posse,

138 FRANÇA. Lei 92.683, de 22 de julho de 1992. Código Penal. JORF, 23 de julho de 1992.
62

oferta, transferência, aquisição ou uso ilícito de entorpecentes é punido


com prisão perpétua e multa de 7.500.000 euros.
Os dois primeiros parágrafos do artigo 132-23 relativos ao período de
segurança são aplicáveis a infração prevista neste artigo.
222-35 A produção ou fabricação ilícita de entorpecente é punível com
vinte anos de reclusão criminal e multa de 7.500.000 euros quando
praticados por grupo organizado.
Os dois primeiros parágrafos do artigo 132-23 relativos ao período de
segurança são aplicáveis a infração prevista neste artigo.
222-36 A importação ou exportação ilícita de entorpecentes é punível
com dez anos de prisão e multa de 7.500.00 euros.
Estes atos são puníveis com trinta anos de reclusão criminal e multa
de 7.500.000 euros quando praticados por grupo organizado.
Os dois primeiros parágrafos do artigo 132-23 relativos ao período de
segurança são aplicáveis a infração prevista neste artigo.
222-37 O transporte, o empréstimo, a oferta, a transferência, a
aquisição ou o emprego ilícito de entorpecentes serão condenados a
dez anos de prisão e multa de 50 milhões de francos.
Serão aplicadas as mesmas penas a quem facilitar, por qualquer meio,
o uso ilícito de entorpecentes, de realizar entrega de entorpecentes por
meio de receitas falsas ou de conivência, com a entrega de
entorpecentes pela apresentação das referidas receitas conhecendo
sua falsidade ou por conivência.
Os dois primeiros parágrafos do artigo 132-23 relativos ao período de
segurança são aplicáveis a infração prevista neste artigo.

Observa-se que diferentemente do legislador brasileiro, houve


evidente preocupação em distinguir-se condutas, com previsões de pena de
acordo com a gravidade da ofensa ao bem jurídico protegido, coibindo ou
impedindo dessa maneira, que ofensas pequenas possam ser reprimidas com o
mesmo quantum de penalidade atribuída a grandes violações.

O quantum de penalidade prevista, é decrescente considerando o


ápice de penalidade abstratamente aplicável as condutas tipificadas como dirigir
organização criminosa; passando as condutas de produzir ou fabricar substância
entorpecente; importar ou exportar e, por fim as atividades essencialmente
operacionais de transportar, ofertar ou adquirir.

O artigo do 222-38 do referido códex criminaliza especificamente a


conduta conhecida em nosso país como “Lavagem de Dinheiro”, disciplinada na
legislação pátria nos termos constantes da Lei 9.613/1998139, diretamente

139BRASIL. Lei 9.613, de 03 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou


ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para
os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras -
COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 04 mar. 1998.
63

relacionada a dinheiro e bens obtidos pelas condutas – envolvendo


entorpecentes - descritas nos artigos retromencionados.

222-39 O comércio ou oferta ilícita de entorpecentes a uma pessoa


para consumo pessoal é punível com cinco anos de prisão e multa de
75 mil euros. A pena de prisão é aumentada para dez anos quando os
entorpecentes são oferecidos ou transferidos, nas condições do
parágrafo anterior, a menores ou em estabelecimentos de ensino ou
nas dependências da administração, bem como, durante a entrada ou
saída de estudantes ou de público, ou em horários próximos, nas
imediações destes estabelecimentos ou instalações.
Os dois primeiros parágrafos do artigo 132-23 relativos ao período de
segurança são aplicáveis a infração prevista neste artigo.
222-40 A tentativa dos crimes previstos nos artigos 222-36 (Parágrafo
Primeiro) a 222-39 são puníveis com as mesmas penas.
222-41 Constituem substâncias entorpecentes na acepção do disposto
nesta seção, as substâncias ou plantas classificadas como
entorpecentes nos termos do artigo L. 5132-7, do Código de Saúde
Pública.
222-42 As pessoas jurídicas declaradas responsáveis penalmente, nos
termos do artigo 121-2, pelas infrações previstas nos artigos 222-34 a
222-39, além da multa prevista no artigo 131-38, incorrem nas penas
previstas no artigo 131-39. A proibição disposta no parágrafo 2°do
artigo 131-39 refere-se à atividade no exercício ou por ocasião, cujo
exercício foi cometido o delito.
222-43 A pena privativa de liberdade imposta ao autor ou cúmplice dos
crimes previstos nos artigos 222-35 à 222-39 é reduzida pela metade,
se, tendo notificado as autoridades administrativas ou judiciais, tiver
permitido cessa os fatos incriminados e a identificação, se necessário,
dos outros culpados. No caso previsto no artigo 222-34, a pena de
prisão perpétua é reduzida para vinte anos de prisão criminal.
222-43-1 Qualquer pessoa que tenha tentado cometer os crimes
previstos nesta seção, está isenta de pena se, tendo notificado a
autoridade administrativa ou judicial, tiver permitido evitar a prática do
crime e identificar, se for o caso, os outros autores ou cúmplices.

A exemplo do que ocorre na legislação espanhola, verifica-se na


legislação francesa o que a doutrina denomina de “norma penal em branco”, em
que os tipos presentes no código, demandam legislação complementar para a
sua integralização, nesse caso, as substâncias entorpecentes são listadas no
Código de Saúde Pública do país.

Por fim, interessante a possibilidade de responsabilização penal da


pessoa jurídica, com a penalidade de multa cujo teto máximo é o quíntuplo da
prevista para a mesma infração, quando praticada por pessoa física e, em caso
de ausência de previsão de multa para a pessoa física, este valor máximo é
limitado a 01 (um) milhão de euros.
64

A dissolução da pessoa jurídica, quando a pena em abstrato


prevista para pessoa física, for igual ou superior a 03 (três) anos de prisão;
acompanhamento judicial pelo período de até cinco anos; proibição de
recebimento de verba pública; proibição de contratação com o poder público pelo
prazo de até cinco anos, entre outras.

Conforme pode ser observado na legislação alienígena, esta


contempla de maneira clara os princípios da isonomia, lesividade e
proporcionalidade no direito positivado, e, embora estejam sujeitas a
incompatibilidades com a realidade social, certamente se aproximam da
proteção do bem jurídico tutelado de maneira mais efetiva, quando comparada
com a legislação pátria, eivada de superficialidade, inconstitucionalidade e
excessiva discricionariedade a polícia judiciária e ao magistrado.
65

5 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E DELITOS COM ENTORPECENTES

A aplicação do Princípio da Insignificância é responsável por


grande polêmica, inicialmente em relação a política criminal vigente e,
secundariamente referente ao quantum da lesão infirmada contra o bem jurídico
protegido, que merece seu acolhimento e aplicação, entretanto, especificamente
em relação aos delitos envolvendo entorpecentes – dispostos na Lei 11.343/2006
– o posicionamento é majoritariamente contrário, por razões insuficientemente
amadurecidas.

A questão da posse de entorpecente para consumo –


descriminalizada em número razoável de países – parece caminhar – ainda que
tardiamente – para uma descriminalização através da apreciação do Recurso
Especial 635.659/SP, especificamente em relação a substância Cannabis Sativa,
popularmente conhecida como maconha, entretanto, tal ação é incipiente,
desconsiderando-se inúmeras outras substâncias entorpecentes usuais no
cotidiano da população brasileira.
Embora existam inúmeras outras substâncias que demandem
critérios balizadores concretos de diferenciação entre usuário e traficante, o foco
deste trabalho encontra-se na conduta tipificada no artigo 33 da referida Lei
11.343/2006 e a efetiva possibilidade de reconhecimento de atipicidade material
da conduta pela aplicação do Princípio da Insignificância, aspecto que será
discutido ao longo do presente capítulo.

5.1 CORRENTE MAJORITÁRIA

O entendimento jurisprudencial dominante converge no sentido da


inaplicabilidade do princípio da insignificância ao delito de tráfico de drogas, e
em sua maioria, evidenciando certa resistência a aplicação a posse de drogas,
fundamentando o posicionamento na mera repetição de entendimentos de
Cortes Superiores.
Este entendimento exaustivamente reiterado e, reproduzido em
instâncias inferiores, é de que, por se tratar de crime de perigo abstrato,
independentemente do quantum de substância entorpecente encontrada com o
66

acusado, há lesão aos bens jurídicos tutelados: saúde, segurança pública e paz
social, inviabilizando a aplicação do referido princípio.
Neste sentido, acumulam-se decisões de distintos Tribunais de
Justiça e Cortes Superiores, das quais foram selecionadas algumas e
colacionadas a seguir.

RECURSO EM HABEAS CORPUS 35.920/ DF140

1. Independentemente da quantidade de drogas apreendidas, não se


aplica o princípio da insignificância aos delitos de porte de substância
entorpecente para consumo próprio e de tráfico de drogas, sob pena
de se ter a própria revogação, contra legem, da norma penal
incriminadora. Precedentes.
2. O objeto jurídico tutelado pela norma do artigo 28 da Lei n.
11.343/2006 é a saúde pública, e não apenas a do usuário, visto que
sua conduta atinge não somente a sua esfera pessoal, mas toda a
coletividade, diante da potencialidade ofensiva do delito de porte de
entorpecentes.
3. Para a caracterização do delito descrito no artigo 28 da Lei n.
11.343/2006, não se faz necessária a ocorrência de efetiva lesão ao
bem jurídico protegido, bastando a realização da conduta proibida para
que se presuma o perigo ao bem tutelado. Isso porque, ao adquirir
droga para seu consumo, o usuário realimenta o comércio nefasto,
pondo em risco a saúde pública e sendo fator decisivo na difusão dos
tóxicos.
4. A reduzida quantidade de drogas integra a própria essência do crime
de porte de substância entorpecente para consumo próprio, visto que,
do contrário, poder-se-ia estar diante da hipótese do delito de tráfico
de drogas, previsto no artigo 33 da Lei n. 11.343/2006.
5. Recurso em habeas corpus não provido.

HABEAS CORPUS 318.936/ SP141

1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no


sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso
legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento
da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante
ilegalidade no ato judicial impugnado a justificar a concessão da ordem
de ofício.
2. O reconhecimento da atipicidade da conduta delitiva com
fundamento no princípio da insignificância não é admissível em relação
ao crime de tráfico ilícito de drogas, pois trata-se de crime de perigo
abstrato, no qual os objetos jurídicos tutelados são a segurança pública

140 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Recurso em Habeas Corpus 35.920/DF.
RECURSO EM HABEAS CORPUS. PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE PARA
CONSUMO PRÓPRIO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. Relator: Ministro Rogério Schietti Cruz,
julgado em 20 de maio de 2014.
141 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Habeas Corpus 318.936/SP.
CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS IMPETRADO EM
SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. TRÁFICO DE DROGAS. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. NÃO CONHECIMENTO. Relator: Ministro Ribeiro
Dantas, julgado em 27 de outubro de 2015.
67

e a paz social, sendo irrelevante a quantidade da droga apreendida.


Precedentes.
3. Habeas corpus não conhecido.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM HABEAS CORPUS


463.656/SP142

1. Embargos de declaração, opostos dentro do quinquídio legal,


recebidos como agravo regimental, em homenagem ao princípio da
celeridade e economia processual.
2. Prevalece nesta Corte o entendimento de que afigura-se inaplicável
o princípio da insignificância ao delito de tráfico ilícito de drogas,
porquanto trata-se de crime de perigo presumido ou abstrato, sendo
irrelevante a quantidade de droga apreendida em poder do agente.
3. Desconstituir o édito condenatório, a fim de determinar a
desclassificação da conduta para o art. 28 da Lei n. 11.343/06,
demandaria o revolvimento de toda a matéria fático-probatória, o que
é defeso na presente via impugnativa.
4. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual
se nega provimento.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS


147.158/SP143

1. Em razão da política criminal adotada pela Lei n. 11.343/2006, há de


se reconhecer a tipicidade material do porte de substância
entorpecente para consumo próprio, ainda que pequena a quantidade
de drogas apreendidas, como na espécie.
2. Conforme jurisprudência pacífica desta Corte Superior de Justiça,
não se aplica o princípio da insignificância ao delito descrito no art. 28
da Lei nº 11.343/2006, em razão de se tratar de crime de perigo
abstrato, contra a saúde pública, sendo, pois, irrelevante, para esse
fim, a pequena quantidade de substância apreendida. Precedentes.
3. Agravo regimental não provido.

O tema exaustivamente apreciado pelo Tribunal de Justiça do


Distrito Federal, firmou entendimento pela inaplicabilidade do princípio da
insignificância ao tráfico de drogas “Não se aplica o princípio da insignificância
ao delito de tráfico de drogas, sendo irrelevante a quantidade de entorpecentes

142 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Embargos de Declaração em Habeas


Corpus 463.656/SP. PENAL E PROCESSO PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.
INSIGNIFICÂNCIA. NÃO APLICÁVEL. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. DESCLASSIFICAÇÃO.
PROFUNDA INCURSÃO FÁTICA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. Relator: Ministro Nefi
Cordeiro, julgado em 04 de agosto de 2018.
143 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Agravo Regimental no Recurso em

Habeas Corpus 147.158/SP. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS.


POSSE DE DROGA ILÍCITA PARA CONSUMO PESSOAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Relator: Ministro Rogério Schietti
Cruz, julgado em 25 de maio de 2021.
68

apreendida”144, sendo inúmeros julgados nesse sentido em todas as suas


turmas.
O entendimento pela inaplicabilidade do princípio em estudo foi
estendido ao porte de drogas para consumo próprio:

“Não se aplica o princípio da insignificância ao delito de porte de drogas


para consumo próprio, uma vez que se trata de crime de perigo
abstrato, em que o bem tutelado pela norma é a saúde pública.
Irrelevante, portanto, para a tipificação da conduta, a quantidade de
entorpecente apreendido em poder do agente. O simples ato de portar
substância ilícita presume o potencial ofensivo da conduta. Ademais, a
reduzida quantidade de droga é inerente à natureza do delito previsto
no artigo 28 da Lei 11.343/2006”145

Os fundamentos utilizados consistem em reprodução de


entendimentos pretéritos de outras comarcas ou Tribunais em casos análogos,
e evidencia a excessiva tendência conservadora presente em alguns segmentos
do Poder Judiciário – já reportada em estudo científico – que constatou em
Magistrados de Carreira, forte tendência conservadora e influência punitivista,
especialmente em Juízos monocráticos de primeiro grau, se mostrando
reticentes a mudanças na cultura jurídica146.

Embora o tema em apreço no presente estudo seja a aplicabilidade


do princípio da insignificância aos delitos com entorpecentes no Brasil (consumo
e tráfico), importante destacar que em alguns países como México, Colômbia, e
Argentina, a posse para consumo encontra-se descriminalizada de longa data,
enquanto em nosso país ela restou apenas despenalizada da previsão de pena
de prisão, havendo outras sanções aplicáveis ao usuário.

Por fim, há uma sinergia entre estes países em relação a


inaplicabilidade do referido princípio aos delitos de tráfico de entorpecentes,
fundamentada no fato do bem jurídico tutelado ser difuso: a saúde pública, a
segurança e a paz social, e tal conduta delituosa ser de perigo abstrato.

144 BRASÍLIA. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Disponível em: Tráfico de drogas – crime
de perigo abstrato – inaplicabilidade do princípio da insignificância — Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios (tjdft.jus.br). Acesso em 10 de out. 2023.
145 BRASÍLIA. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Disponível em: Crime de porte de drogas

para consumo próprio - princípio da insignificância — Tribunal de Justiça do Distrito Federal e


dos Territórios (tjdft.jus.br) Acesso em 10 de out. 2023.
146 CARVALHO, Salo de. Pena Mínima. Série Penando o Direito. n.2. Brasília, SAL, 2009.
69

5.2 CORRENTE MINORITÁRIA

O entendimento jurisprudencial minoritário, entende pela


aplicabilidade do princípio da insignificância ao delito de tráfico ou posse de
drogas que depende, de circunstâncias apresentadas no caso concreto,
refutando – em tese – o famigerado entendimento de que, por ser considerado
crime de perigo abstrato, tais delitos seriam incompatíveis com a aplicação do
referido princípio.

HABEAS CORPUS 110.475/SC147

1. A aplicação do princípio da insignificância, de modo a tornar a


conduta atípica, exige sejam preenchidos, de forma concomitante, os
seguintes requisitos: (i) mínima ofensividade da conduta do agente; (ii)
nenhuma periculosidade social da ação; (iii) reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento; e (iv) relativa inexpressividade da
lesão jurídica.
2. O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância
de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo
somente se justificam quando estritamente necessárias à própria
proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que
lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores
penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial,
impregnado de significativa lesividade. O direito penal não se deve
ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor - por não
importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não
represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem
jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.
3. Ordem concedida.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS


202.883/SP148

1. A aplicação do princípio da insignificância, de modo a tornar a


conduta atípica, exige sejam preenchidos, de forma concomitante, os
seguintes requisitos: (i) mínima ofensividade da conduta do agente; (ii)
nenhuma periculosidade social da ação; (iii) reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento; e (iv) relativa inexpressividade da
lesão jurídica.
2. Paciente que portava 1,8g de maconha. Violação aos princípios da
ofensividade, proporcionalidade e insignificância.

147 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Habeas Corpus 110.475/SC. PENAL.
HABEAS CORPUS. ARTIGO 28 DA LEI 11.343/2006. PORTE ILEGAL DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE. ÍNFIMA QUANTIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
APLICABILIDADE. WRIT CONCEDIDO. Relator: Ministro Dias Toffoli, julgado em 14 de fevereiro
de 2012.
148 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ªTurma). Agravo Regimental no Recurso em Habeas

Corpus 202.883/ SP. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. POSSIBILIDADE


DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA EM PORTE DE ENTORPECENTES
PARA CONSUMO PESSOAL. Relator: Ministro Gilmar Mendes, julgado em 15 de setembro de
2021.
70

3. Precedentes: HC 110475, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe


15.3.2012; HC 127573, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe
25.11.2019.
4. Ordem concedida para trancar o processo penal diante da
insignificância da conduta imputada.

O último decisum apresentado - substancialmente fundamentado –


destaca que a reiterada recusa na aplicação do princípio da insignificância em
delitos relacionados a entorpecentes encontra-se diretamente ligada a uma
decisão político-criminal que a uma impossibilidade dogmática, sob o argumento
de que se trata de crime de perigo abstrato que protege bens jurídicos difusos.
Entretanto, os crimes de perigo abstrato prescindem de um juízo
de possibilidade ou de probabilidade, e não um juízo de certeza de perigo de
dano, sendo imperioso, de qualquer maneira, uma clara evidencia do potencial
efetivo da conduta em causar um dano ao bem protegido, desta forma, se não
houver – no caso concreto – essa possibilidade de dano, estar-se-á diante de
uma conduta atípica sob a ótica material, ainda que haja subsunção da ação ao
tipo penal de perigo abstrato.
Esse entendimento é compartilhado pela jurisprudência espanhola,
que fundamenta a aplicação do princípio da insignificância em alguns vetores,
bem consolidados em suas Cortes Superiores de Justiça, em algumas de suas
turmas:

RECURSO EM PROCESSO SUMARIO PENAL 1214149

O que se sanciona é a periculosidade do bem jurídico, como se afirma


no Acórdão 977/2003, de 4 de julho de 2003, razão pela qual devem
ser excluídas da punição aquelas condutas em que, ainda que
aparentemente praticada a conduta típica, em razão das circunstâncias
especiais ou excepcionais que concorrem no caso concreto, devem ser
excluídas da punição por esse crime. A criação de qualquer risco ao
direito jurídico protegido pode ser totalmente excluída. Nesse contexto,
tem-se feito referência em acórdãos desta Corte ao princípio da
insignificância: quando a quantidade do medicamento é tão
insignificante que é incapaz de produzir qualquer efeito nocivo à saúde,
a ação carece de ilegalidade material por falta de risco real ao direito
jurídico protegido no tipo (Acórdãos de 12 de setembro de 1994 (0,05
grs. heroína); 28 de outubro de 1996 (0,06 gr. heroína); 22 de janeiro
de 1997 (0,02 grs. heroína); 22 de setembro de 2000, nº. 1441/2000
(0,03 gramas de heroína e 0,10 gramas de cocaína, o grau de pureza
não pode ser determinado), 11 de dezembro de 2000, nº. 1889/2000
(0,02 gramas de cocaína), 10 de dezembro de 2001, n.º 1591/2001 (um

149 ESPAÑA. Tribunal Supremo (2ª Câmara Criminal). Recurso de Casación STS 1214/2005.
DELITO CONTRA LA SALUD PÚBLICA. Relator: Juan Ramón Berdugo Gómez de la Torre,
julgado em 06 de outubro de 2005.
71

único comprimido de Buprex, sem registo do seu peso), 18 de julho de


2001, nº. 1439/2001 (partilha de uma dose de tratamento com
metadona) e 11 de maio de 2002, nº. 216/2002 (0,037 gramas de
cocaína).
O objeto da infracção deve ter um limite quantitativo e qualitativo
mínimo, uma vez que, tal como estabelecido no acórdão de 28 de
outubro de 1996, "o âmbito da infração não pode ser alargado de forma
tão desproporcionada que abranja a transmissão de substâncias que,
devido à sua distorção qualitativa extrema ou à sua extrema ninharia
quantitativa, carecem dos efeitos potencialmente nocivos em que se
baseia a proibição penal".
Essa doutrina tem sido ocasionalmente aplicada em casos de tráfico.
Conforme consta do acórdão de 11 de dezembro de 2000, nº.
1889/2000, “esta Segunda Turma também vem declarando, mesmo
nos casos de tráfico, que quando a quantidade da droga é tão
insignificante que é incapaz de produzir qualquer efeito nocivo à saúde,
a ação carece de ilegalidade material por falta de risco real ao direito
jurídico protegido no tipo”.
No entanto, esta doutrina deve ser aplicada de forma excecional e
restritiva (Acórdãos 527/98, de 15 de abril, 905/98, de 20 de julho,
789/99, de 14 de maio, 1653/2001, de 16 de julho), e especificamente
em casos de tráfico como o que está em causa no presente processo,
deve limitar-se aos casos de absoluta insignificância que determinam
a atipicidade por falta de objeto. Nos casos em que a desnaturação
qualitativa extrema ou a extrema ninharia quantitativa da substância
entregue signifique que ela é absolutamente desprovida dos efeitos
potencialmente nocivos em que se baseia a proibição penal. Ou seja,
quando, devido a essa ninharia absoluta, a substância já não constitui,
pelos seus efeitos, uma droga tóxica ou uma substância
estupefaciente, mas um produto inócuo.

Os vetores balizadores observados para a aplicação do princípio


da insignificância ao caso concreto especificamente relacionados ao “tráfico de
drogas” possuem dupla natureza:
a) Quantitativa: o quantum de substância entorpecente precisa ser
suficiente para produzir algum efeito nocivo à saúde, caso
contrário verifica-se ausência de risco real ao bem jurídico
protegido, no caso do consumo;
b) Qualitativa: se o quantum do princípio ativo for tão irrisório que
a substância deixa de constituir, por seus efeitos, uma
substância tóxica ou entorpecente, no caso do tráfico.
O posicionamento do Tribunal Supremo Espanhol oferece
elementos balizadores para o desenvolvimento de uma legislação pátria
modernizada, que trate de maneira apropriada a questão do consumo e, norteie
de maneira expressa o trato do tráfico de drogas, diferenciando as condutas e,
no momento – ainda que de maneira transitória – fundamentar as decisões
72

referentes a temática em apreço – em casos análogos – por parte do Poder


Judiciário.

5.3 DIREITO COMPARADO

O tratamento dispensado a questão das substâncias entorpecentes


noutros países, pode servir de referência, norteando o desenvolvimento de uma
política criminal adequada, que por um lado pode levar a diminuição do consumo
e/ou eventual descriminalização da conduta e, por outro, ao estabelecimento de
condutas materialmente típicas, de forma clara e objetiva, visando a preservação
dos princípios do direito penal que restringem o jus puniendi estatal.
A Espanha possui entendimento sedimentado pela aplicabilidade
do Princípio da Insignificância aos delitos envolvendo entorpecentes,
estabelecendo objetivamente o quantum de substância necessário a
caracterização do usuário (despenalizado) e traficante, utilizando para isso, uma
valoração do grau de pureza da substância apreendida como critério de
apreciação da conduta (critério qualitativo) e quantidade de substância (critério
quantitativo).
A tipicidade material da conduta em território espanhol, é
estabelecida através da quantidade de princípio ativo constante do entorpecente
encontrado em posse do sujeito, consoante resolução de órgão administrativo
daquele país: Instituto Nacional de Toxicologia, conforme quadro resumido
disposto na sequência.

Quadro II – Doses Mínimas Psicoativas das Principais Substâncias do


Tráfico de Entorpecentes150

Substância Heroína Cocaína Maconha Haxixe


Dose Mínima 0,66 mg 50 mg 5 ou 10mg 10 mg

150INSTITUTO NACIONAL DE TOXICOLOGIA DA ESPANHA. Quadro Completo Disponível em:


Cuadro de dosis mínimas psicoactivas de las principales sustancias tóxicas objeto de tráfico de
drogas, actualmente vigente (sanidad.gob.es) Acesso em: 22 de novembro de 2023.
73

As doses reportadas no quadro anterior, representam aspecto


objetivo a ser verificado pela perícia técnica, com a finalidade de subsidiar o
entendimento do Magistrado em território espanhol, para o devido
posicionamento do agente como consumidor ou traficante, mas não o único
elemento a ser considerado na apreciação da conduta.

A posse para consumo noutros países encontra-se balizada em


diferentes critérios estabelecidos legislativa e/ou jurisprudencialmente, e que
buscam diferenciar a posse para consumo da posse destinada ao tráfico, com
entendimento consolidado em relação a despenalização e a descriminalização
da conduta de posse destinada ao uso.

A Corte Suprema de Justiça Argentina ao apreciar o Recurso de


Fato n° 9.080151, firmou entendimento pela inconstitucionalidade do artigo 14 da
Ley 23.737152: “Quem tiver em sua posse entorpecentes será punido com pena
de reclusão de um a seis anos e multa de trezentos a seis mil pesos. A pena
será de um mês a dois anos de reclusão quando, em razão da pequena
quantidade e outras circunstâncias, se verificar inequivocamente que a posse é
para uso pessoal” por afrontar a Constituição daquele país em seu artigo 19.
Ao consolidar este entendimento, restou reconhecidamente
inconstitucional a reprimenda da posse de drogas com a finalidade de uso
próprio com pena de prisão, pois a incriminação de conduta que não implica
perigo ou dano específico a direitos ou propriedade de terceiros, viola os direitos
constitucionais à privacidade e à liberdade.
A Corte Constitucional da Colômbia por ocasião da prolação da
Sentença C-491/12153 firmou entendimento similar, sendo tolerado o porte de
drogas para consumo pessoal e, puníveis as condutas de “vender, oferecer,
financiar e fornecer” substâncias narcóticas, psicotrópicas ou drogas sintéticas,
em qualquer quantidade.

151 ARGENTINA. Corte Suprema de Justiça. Recurso de Fato n° 9.080. Relatora: Carmen M.
Argibay, julgado em 25 de agosto de 2009.
152 ARGENTINA. Ley n° 23.737, de 21 de setembro de 1989. Código Penal. Buenos Aires, 10

out. 1989.
153 COLÔMBIA. Corte Constitucional. Sentencia C-491/12. Relator: Gabriel Eduardo Mendoza

Martelo, julgado em 28 de junho de 2012.


74

Imprescindível destacar que a quantificação de substâncias


entorpecentes destinadas à consumo, estão estabelecidas no artigo 2°, alínea
“j”, da Lei n° 30 de 1986154, nos seguintes termos:

“j) Dose para uso pessoal: É a quantidade de entorpecente que uma


pessoa carrega ou guarda para consumo próprio. É dose para uso
pessoal a quantidade de maconha que não ultrapasse 20 (vinte)
gramas; a de haxixe de maconha que não ultrapasse 5 (cinco) gramas;
de cocaína ou qualquer substância à base de cocaína que não exceda
1 (um) grama e de metaqualona que não exceda 2 (dois) gramas.

Há quase quarenta anos a legislação colombiana possui critérios


quantitativos objetivos que buscam a caracterização do usuário de drogas,
enquanto o Brasil está prestes a estabelecer, jurisprudencialmente, o critério
para definição de usuário de uma substância em 2024: a Cannabis Sativa.
Por fim, nesse sentido – e sem qualquer pretensão de exaurir a
temática – insta apresentar o decisum do México, que firmou entendimento em
Amparo de Revisión 1115/2017155 no sentido de autorizar o uso pessoal e
recreativo de Cannabis Sativa, bem como, a prática de atos gerais ligados ao
consumo, excluindo-se desta permissão, todos os atos de comércio, bem como
o consumo de outros entorpecentes e psicotrópicos.
A decisão mexicana – embora restrita a uma substância – guarda
sinergia com o posicionamento das Cortes Superiores de outros países, no
sentido de descriminalizar a posse para consumo e, punir somente os atos de
comércio/ traficância.

5.4 APLICABILIDADE AOS DELITOS COM ENTORPECENTES

A aplicabilidade do princípio da insignificância demanda - conforme


exaustivamente exposto anteriormente - a presença concomitante de 04 (quatro)
vetores, consolidados nas variadas cortes, entretanto, igualmente parece
sedimentada uma postura excessivamente conservadora, que acaba por
fundamentar suas decisões condenatórias em uma violação de bem jurídico

COLÔMBIA. Ley n° 30, de 31 de janeiro de 1986. Bogotá, 21 set. 1986.


154

MÉXICO. Suprema Corte de Justiça. Amparo de Revisión n° 1115/2017. Relator: Jorge Mario
155

Pardo Rebolledo, julgado em 11 de abril de 2018.


75

ínfima – saúde – e, bens, por assim dizer colaterais, em desfavor dos quais não
há relação de causa – efeito, como a segurança e paz social.
A aplicação da legislação de maneira excessivamente positiva,
acaba por desconsiderar situações análogas como as denominadas “drogas
lícitas”, especificamente o álcool e o fumo, comprovadamente – no primeiro caso
– responsável por milhares de processos envolvendo violência doméstica,
acidentes de trânsito, entre outros, enquanto o último, é comprovado elemento
potencializador de carcinomas, inclusive expressamente advertidos sobre este
potencial em suas embalagens comerciais.
O elemento motivador de tamanha diferença no trato da posse e do
tráfico de entorpecentes não apresenta fundamentação razoável e racional,
quando se trata da efetiva proteção do bem jurídico tutelado, violando de maneira
expressa e incontroversa o princípio da isonomia, pois havendo o mesmo bem
jurídico tutelado, o tratamento dispendido a nível de política criminal é
absolutamente diverso.
Além de tratamento diverso, a questão dos delitos envolvendo
entorpecentes acaba abarrotando o Poder Judiciário com processos
desnecessários, ocupando o tempo dos Magistrados e de todo o sistema por
questões de ninharia, prejudicando o andamento de processos envolvendo
questões efetivamente relevantes e, frequentemente, levando à prisão pessoas
sem que se tenha – materialmente – uma violação de valores guarnecidos pelo
direito penal.
A imperiosa descriminalização da posse para uso – em harmonia
com a tendência jurídica internacional – mostra-se letárgica em nosso país,
sendo imprescindível a reflexão sobre critérios balizadores objetivos de
diferenciação entre usuários e traficantes, bem como, neste último caso, uma
análise pormenorizada de conduta, com a possibilidade de aplicação do
Princípio da Insignificância, Proporcionalidade, Razoabilidade e Dignidade
Humana, na apreciação da conduta e, em eventual condenação, na dosimetria
da pena aplicada.
76

5.4.1 Dos Bens Jurídicos Tutelados

A saúde pública enquanto bem jurídico tutelado prescinde de ações


sinérgicas em termos de legislação e políticas públicas, o que, no caso concreto
apresentado não condiz com a realidade fática cotidiana de nosso país, pois
conforme dados provenientes de estudo científico, o custo anual para o sistema
público de saúde com patologias associadas diretamente ao consumo de tabaco
chega à cifra R$ 180.000.000,00 (cento e oitenta) bilhões de reais156.
O entendimento do STJ – fundamentado em suposta proteção da
saúde pública – negou a aplicação do princípio da insignificância, em sede de
recurso especial, ao contrabando de cigarros, conforme disposto a seguir:

RECURSO ESPECIAL 1342262/RS157

1. A introdução de cigarros no território nacional está sujeita a


observância de diversas normas do ordenamento jurídico brasileiro. Há
proibição relativa para sua comercialização, constituindo sua prática
crime de contrabando e não de descaminho. 2. A questão não está
limitada ao campo da tributação, abrangendo, sobretudo, a tutela à
saúde pública, pois a introdução de cigarros, sem qualquer registro nos
órgãos nacionais de saúde, pode ocasionar grandes malefícios aos
consumidores. 3. A incidência do princípio da insignificância requer: (a)
a mínima ofensividade da conduta do agente; (b) a nenhuma
periculosidade social da ação; (c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento; e (d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada, circunstâncias não evidenciadas na espécie. 4.
Recurso especial provido para que, afastada a incidência do princípio
da insignificância, seja dado prosseguimento à presente ação penal.

Os cigarros distribuídos legalmente em nosso país são efetivos


causadores de danos à saúde – fato público e notório – advertidos em suas
respectivas embalagens, em consonância com o disposto no art. 49 § 5° e 6° da
Lei 12.546/ 2011158, sobre o potencial lesivo do consumo do produto.

156 PINTO, M.; et all. Carga de doença atribuível ao uso do tabaco no Brasil e potencial
impacto do aumento de preços por meio de impostos. Documento técnico IECS N° 21.
Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria, Buenos Aires, Argentina. Maio de 2017.
157 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Recuso Especial 1342262/RS. RECURSO

ESPECIAL. CIGARROS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE


APLICAÇÃO. PROIBIÇÃO RELATIVA. CRIME DE CONTRABANDO E NÃO DE DESCAMINHO.
Relator: Ministro Og Fernandes, julgado em 15 de agosto de 2013.
158 BRASIL. Lei 12.546, de 14 de dezembro de 2011. Institui o Regime Especial de

Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra); dispõe


sobre a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à indústria automotiva;
altera a incidência das contribuições previdenciárias devidas pelas empresas que
77

Diante disso, surge a primeira questão contraditória em relação ao


comércio de entorpecentes, pois resta evidente flexibilização do bem jurídico
tutelado: “saúde”, a favor da indústria do tabaco que, conforme exposto
anteriormente, onera o serviço público de saúde em bilhões de reais para
tratamento de doenças comprovadamente provenientes do seu consumo.
A flexibilização a favor da indústria do tabaco parece não coadunar
com a efetiva proteção do bem jurídico: saúde, e de igual forma, ocorre com a
indústria etílica, que demanda gastos substanciais com o tratamento decorrente
de sua dependência e, implica diretamente em milhões de processos judiciais
envolvendo tão somente os casos submetido a Lei 11.340/ 2006159, de violência
doméstica.
Assim, não merece prosperar os fundamentos – habitualmente
utilizados especialmente em acórdãos – quase eclesiásticos, de que as
substâncias entorpecentes ilícitas consistem no grande “vilão” da saúde, da
segurança e da paz social na sociedade contemporânea, excluindo casos
concretos envolvendo tais substâncias – tabaco e álcool - de uma apreciação
mais rigorosa.
Neste sentido, importante o posicionamento doutrinário e
acolhimento jurisprudencial Espanhol, de que o quantum adquire especial
relevância, quantidades irrisórias de substâncias entorpecentes, são incapazes
de ferir o bem jurídico tutelado: “saúde”, conforme disposto na fundamentação
de Sentença do Tribunal Supremo Espanhol em Recurso de Casación 977/
2003:160

menciona; altera as Leis nº 11.774, de 17 de setembro de 2008, nº 11.033, de 21 de


dezembro de 2004, nº 11.196, de 21 de novembro de 2005, nº 10.865, de 30 de abril de 2004,
nº 11.508, de 20 de julho de 2007, nº 7.291, de 19 de dezembro de 1984, nº 11.491, de 20 de
junho de 2007, nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, e nº 9.294, de 15 de julho de 1996, e a
Medida Provisória nº 2.199-14, de 24 de agosto de 2001; revoga o art. 1º da Lei nº 11.529,
de 22 de outubro de 2007, e o art. 6º do Decreto-Lei nº 1.593, de 21 de dezembro de 1977,
nos termos que especifica; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 15 dez.
2011.
159 BRASIL. Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição


Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução
Penal; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 08 ago. 2006.
160 ESPAÑA. Tribunal Supremo (2ª Turma Penal). Recurso de Casáción STS 977/2003.

INFRACCIÓN DE LEY. INFRACCIÓN DE PRECEPTO CONSTITUCIONAL. DELITO CONTRA


LA SALUD PÚBLICA. Relator: Cándido Conde-Pumpido Tourón, julgado em 04 de julho de 2003.
78

Essa doutrina tem sido ocasionalmente aplicada em casos de tráfico.


Conforme consta do acórdão de 11 de dezembro de 2000, nº.
1889/2000,"esta Segunda Turma também vem declarando, mesmo
nos casos de tráfico, que quando a quantidade da droga é tão
insignificante que é incapaz de produzir qualquer efeito nocivo à saúde,
a ação carece de ilegalidade material por falta de risco real ao direito
jurídico protegido no tipo".
No entanto, esta doutrina deve ser aplicada de forma excepcional e
restritiva (acórdãos 527/98, de 15 de abril, 905/98, de 20 de julho,
789/99, de 14 de maio, 1653/2001, de 16 de julho), e, especificamente
em casos de tráfico como o que está em causa, deve limitar-se aos
casos de absoluta insignificância que determinam a atipicidade por
falta de objeto. nos casos em que a desnaturação qualitativa extrema
ou a extrema ninharia quantitativa da substância entregue signifique
que ela é absolutamente desprovida dos efeitos potencialmente
nocivos em que se baseia a proibição penal.
Ou seja, quando, devido a tamanha bagatela absoluta, a substância
deixa de constituir, por seus efeitos, uma droga tóxica ou entorpecente,
mas um produto inócuo.

Nesse sentido, imperiosa a reprodução de fragmento de outro


julgado do Tribunal Supremo Espanhol em Recurso de Casación 1889/ 2000161,
em razão da amplitude dos fundamentos do decisum e, das substâncias
entorpecentes apreendidas no caso concreto:

Com efeito, para além da doutrina elaborada sobre as quantidades a


partir das quais é possível inferir intenção de tráfico ou consumo por
terceiros, nos casos de posse ou posse, doutrina que, como afirmou a
Câmara de Julgamento, não é aplicável nos atos de efetiva venda ou
transmissão da droga, já praticados, Esta Segunda Câmara também
vem declarando, mesmo nos casos de tráfico, que quando a
quantidade da droga é tão insignificante que é incapaz de produzir
qualquer efeito nocivo à saúde, a ação carece de ilegalidade material
por falta de risco real ao direito jurídico protegido no tipo. A este
respeito, os acórdãos de 12 de setembro de 1994 (0,04 gramas e 0,05
gramas de heroína) e de 28 de outubro de 1996 (0,06 gramas.
heroína); e 22 de janeiro de 1997 (0,02 gramas de heroína).
Conforme consta do Acórdão de 28 de outubro de 1996
"O âmbito de aplicação do tipo não pode ser tão
desproporcionadamente alargado a ponto de abranger a transmissão
de substâncias que, devido à sua extrema distorção qualitativa ou à
sua extrema ninharia quantitativa, carecem dos efeitos potencialmente
nocivos em que se baseia a proibição penal".
Neste caso, a quantidade de drogas vendidas -0,02 grs.de crack – é
tão pequeno que no caso de ingestão não tem impacto na saúde de
quem o toma, de modo que a ação, embora típica e, portanto,
formalmente ilícita, carece de ilegalidade material, pois é inócua
colocar em risco o bem jurídico da saúde humana.

ESPAÑA. Tribunal Supremo (2ª Turma Penal). Recurso de Casación STS 1889/2000.
161

VULNERACIÓN DE PRECEPTOS CONSTITUCIONALES. INFRACCIÓN DE LEY. DELITO


CONTRA LA SALUD PÚBLICA. Relator: Don A.P.D.O.Y., julgado em 11 de dezembro de 2000.
79

A Câmara de Julgamento destaca a questão quantitativa e


qualitativa da substância apreendida com o agente, e ainda, especificamente o
tipo do tráfico, em evidente ponderação e aplicação ao caso concreto do princípio
da insignificância, diante da ausência – ainda que potencial – de lesão ao bem
jurídico tutelado.
Por fim, indispensável trazer fragmento do julgamento do Recurso
de Casación 2329/2014162, em que, de maneira literal, ocorreu a aplicação do
Princípio da Insignificância, considerando-se o quantum de elemento psicoativo
constante da substância apreendida com o agente que, diante da ausência de
de aferição, conforme os julgadores merece o acolhimento do princípio referido
anteriormente:

No acórdão desta Corte 3011/2004, de 28 de janeiro de 2004, ao tratar


do conceito de mínimo psicoativo e suas repercussões penológicas em
relação ao elemento subjetivo do crime, especifica-se que "os mínimos
psicoativos são aqueles parâmetros oferecidos por órgão oficial de
reconhecida solvência científica, como o Instituto Nacional de
Toxicologia, que supõem grau de afetação no sistema nervoso central,
determinando uma série de efeitos na saúde das pessoas,
naturalmente prejudiciais, pois contêm um mínimo de toxicidade, e
também produzem um componente de dependência que faz com que
sua falta de consumo incite a compulsão".
Esta Corte, em relação às situações em que a droga apreendida
apresenta toxicidade precária, tem reconhecido a atipicidade da
conduta de tráfico quando, por sua absoluta trivialidade, a substância
não mais constitui, por seus efeitos, droga tóxica ou substância
entorpecente, mas produto inócuo (SSTS 527/1998, de 15-4;
985/1998, de 20-7; 789/99, 14-5; 1453/2001, 16-7; 1081/2003, de 21-
7; e 14/2005 de 12-1). E em outras ocasiões afirmou que aquelas
condutas em que, mesmo quando a conduta típica é aparentemente
praticada, em razão das circunstâncias especiais ou excepcionais que
concorrem no caso concreto, a geração de qualquer risco ao direito
jurídico protegido pode ser totalmente excluídas da punição por esse
crime contra a saúde pública. Nesse contexto, tem-se feito referência
em acórdãos desta Corte ao princípio da insignificância: quando a
quantidade do medicamento é tão insignificante que é incapaz de
produzir qualquer efeito nocivo à saúde, a ação carece de ilegalidade
material por falta de risco real ao direito jurídico amparado no tipo
(SSTS 1441/2000, 22-9; 1889/2000, 11-12; 1591/2001, 10-12;
1439/2001, 18-7; e 216/2002, de 11 -V).
Recentemente, os acórdãos desta Corte qualificaram o uso do termo
"insignificância" por gerar certa incerteza na aplicação da norma penal
e o substituíram pelo termo "toxicidade", de modo que o que estaria
fora da categoria penal seriam as transmissões de substâncias que,
por sua falta de nocividade, não acarretam o risco abstrato de sua

162ESPAÑA. Tribunal Supremo (2ª Turma Penal). Recurso de Casación STS 2329/ 2014. DELITO
CONTRA SALUD PÚBLICA. Relator: Alberto Gumercindo Jorge Barreiro, julgado em 10 de junho
de 2014.
80

transmissão a pessoas, e também se observou que a doutrina da


atipicidade tem a ser aplicada de forma excepcional e restritiva, e
especificamente nos casos em que a desnaturação qualitativa ou a
extrema ninharia quantitativa da substância entregue signifique que ela
é absolutamente desprovida dos efeitos potencialmente nocivos em
que se baseia a proibição penal (SSTS 602/2007, de 4-7; 936/2007,
21-11; 182/2008, de 21-4; 278/2009, de 18-3; 273/2009, de 25-3;
464/209, 28-4; e 640/2009, de 10-6). Nesse contexto, continua
operando com os critérios estabelecidos na sessão plenária não
jurisdicional de 24 de janeiro de 2003, o que é confirmado pelas
absolvições proferidas nos casos em que a droga apreendida não
apresenta a menor toxicidade (SSTS 936/2007, de 21-11; 1110/2007,
19-12; e 183/2008, de 29-4).

O segundo elemento a ser ponderado, é que, diante da absoluta


proibição de consumo, os entorpecentes carecem de controle e regulação pelas
autoridades sanitárias, permitindo que, produtos sejam comercializados sem
qualquer verificação de qualidade – fundamento do decisum referente ao
contrabando de cigarros – o que pode, ao invés de proteger (o bem
supostamente tutelado), contribuir para sua degradação.
A regulamentação demandaria invariavelmente a
descriminalização, o que prescinde de profundo estudo e reflexão por parte do
Poder Legislativo, na estruturação de dispositivos normativos apropriados a
realidade social e que efetivamente busque a proteção do bem jurídico e por
outro lado respeite os direitos e garantias individuais.
Neste sentido, a manutenção das condutas de uso de
entorpecentes no prisma da ilegalidade, propicia o surgimento de diversos
problemas163, dentre os quais destacam-se:
a) Ausência de fiscalização das condições de consumo;
b) Impede a fiscalização da substância consumida;
c) Redução do custo econômico com maior concentração do
princípio ativo;
d) Condições de consumo insalubres favorecendo a propagação
de doenças infecto-contagiosas.
O autor reporta que estudos empíricos desenvolvidos na Suíça
indicam que as políticas de redução de danos evidenciam eficácia na diminuição

CARVALHO, Salo de. A política criminal de drogas no Brasil: estudo criminológico e


163

dogmático da Lei 11.343/06. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.


81

de morte entre usuários e dependentes, bem como, na redução de números de


infrações associados ao consumo de entorpecentes.
O terceiro aspecto a ser pontuado é a incoerência no trato dos
delitos - ainda que em desfavor da União – que envolvem substâncias
entorpecentes, pois, embora não se tenha localizado estudos relacionados a
renúncia tributária decorrentes da aplicação do princípio da insignificância ao
crime de descaminho, com valor de até R$ 20.000,00 (vinte mil reais),
certamente as cifras são gigantescas, e, na hipótese de destinação desse valor
in totum ao SUS, tal renúncia prejudica de maneira mais efetiva o bem jurídico
tutelado, quando comparado a míseros cigarros de maconha ou pinos de
cocaína.
Por fim, além dos evidentes e inequívocos reflexos das
denominadas “drogas lícitas” aos bens jurídicos saúde pública, segurança e paz
social, não deve ser desconsiderado os reflexos da legislação incriminadora
referente as “drogas ilícitas” ao sistema penal em sentido amplo, que será
abordado na sequência.

5.4.2 Reflexos para o Sistema Penal

O problema legislativo existente no tratamento dos entorpecentes,


acabou por gerar – ao longo dos anos – profundos reflexos no sistema penal,
especialmente pela multiplicação de processos envolvendo o suposto “tráfico” e,
de igual modo, um encarceramento excessivo, promovendo evidente prejuízo ao
Poder Judiciário e ao sistema carcerário pátrio.
Os dados – embora não atualizados – posicionam o Brasil na
terceira colocação em população carcerária, encontrando-se atrás somente de
Estados Unidos da América e China respectivamente, em termos brutos e,
proporcionalmente ocupando a vigésima sexta posição em termos relativos, num
ranking composto por 222 países e territórios.
82

Figura 01 – População Carcerária Mundial em 2017164

Além do número substancialmente elevado da população


carcerária no Brasil lato sensu, em termos absolutos e relativos, os dados
relativos a presos provisórios é assustador, pois aproximadamente 40% destes,
encontravam-se nessa condição, o que deixa evidente e incontroverso, o
acúmulo de processos pendentes de apreciação pelo Poder Judiciário.
Ao se compulsar o estudo verifica-se que os presos por crime de
tráfico correspondem a 27% da população carcerária, ou seja, 1/3 dessa
população encontra-se recolhido – em caráter permanente ou provisório – em
decorrência da suposta ou comprovada prática deste ilícito.
Ao se analisar a legislação especial, conforme reportado
anteriormente, especificamente os artigos 28 e 33 que tipificam as condutas,
respectivamente de usuário e traficante de drogas, verifica-se verbos idênticos,
com previsões de sanções distintas e, por ser tratado como como crime de perigo
abstrato – o tráfico de drogas – há evidente lacuna legislativa que dificulta a
identificação e distinção da tipicidade, motivo que determina o encarceramento
de simples usuários pelo suposto tráfico165.

164 Disponível em populacao-prisional-mundial3.png (1203×716) (amaerj.org.br). Acesso em 15


de out. 2023.
165 VALOIS, Luís Carlos. O direito penal da guerra às drogas. 3ª ed. São Paulo: D’Plácido,

2020, p. 426-427.
83

Figura 02 – Aumento da População Carcerária Incriminada por Tráfico


(2005 – 2016)166

O excessivo encarceramento decorrente dos delitos previstos além


de promover situação insalubre e desumana aos aprisionados – em inequívoca
afronta ao princípio da dignidade da humana e da Lei de Execuções Penais –
promove uma sobrecarga – desnecessária – aos Tribunais, refletindo na
morosidade destes na apreciação de feitos de maior relevância.

Os dados do Banco de Monitoramento de Prisões do Conselho


Nacional de Justiça (CNJ) indicavam no ano de 2019 população carcerária de
aproximadamente 812 mil presos, dos quais aproximadamente um quarto por
acusações referentes a violação da lei de drogas, e dos mais de 346 mil
processos recebidos em 2018 pelo STJ, cerca de 23% eram referentes a tráfico
e condutas afins, sendo a maioria de HC e RHC167.

O STF reconheceu – em setembro de 2015 – o Estado de Coisas


Inconstitucional (ECI) no sistema carcerário nacional, consubstanciado por
violação generalizada de direitos fundamentais em instituições prisionais e, pela
reiterada inércia estatal no trato de tal situação168.

A ementa da votação da ADPF 347169, resta reproduzida a seguir:

166 CAMPOS, op. cit., p. 2.


167 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: Publicação traz entendimentos
atualizados do STJ sobre a Lei de Drogas. Acesso em 15 de out. 2023.
168 MAGALHÃES, Bruno Baía. O Estado de Coisas Inconstitucional na ADPF 347 e a sedução

do Direito: o impacto da medida cautelar e a resposta dos poderes políticos. Rev. direito
GV, v.12; n.2, pp. 1-27, 2019.
169 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (Plenário). Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental. ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL CUSTODIADO – INTEGRIDADE


84

Cabível é a arguição de descumprimento de preceito fundamental


considerada a situação degradante das penitenciárias no Brasil.
SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL – SUPERLOTAÇÃO
CARCERÁRIA – CONDIÇÕES DESUMANAS DE CUSTÓDIA –
VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS – FALHAS
ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL –
CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e persistente
de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de
políticas públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes
de natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema
penitenciário nacional ser caraterizado como “estado de coisas
inconstitucional”. FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL – VERBAS –
CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias,
o interesse público direciona à liberação das verbas do Fundo
Penitenciário Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA
OBRIGATÓRIA. Estão obrigados juízes e tribunais, observados os
artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção
Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa
dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso
perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado
do momento da prisão.

Embora a situação caótica do sistema carcerário brasileiro tenha


sido reconhecida de maneira expressa pelo Poder Judiciário, o Poder Executivo
não promoveu alterações estruturais relevantes para a solução ou mitigação do
problema e, o Poder Legislativo, igualmente, manteve-se inerte no sentido de
produzir diplomas normativos condizentes com a realidade social apresentada.
O encarceramento massivo decorrente dos delitos com
entorpecentes – não raras vezes de maneira desproporcional à lesão ao bem
jurídico tutelado – em que, a condição de usuário pode, e efetivamente é
confundida com a condição de traficante, colabora substancialmente para a
situação deplorável do sistema penitenciário nacional.

FÍSICA E MORAL – SISTEMA PENITENCIÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE


PRECEITO FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Relator: Ministro Marco Aurélio, julgado em 09 de
dezembro de 2015.
85

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de substâncias entorpecentes acompanha a


humanidade desde os tempos remotos e, comumente, nunca representou efetivo
risco à vida em sociedade o consumo, entretanto, como destacam
pesquisadores, o seu uso excessivo representa potencial perigo e acaba
trazendo uma série de problemas sociais.

Ao final do século XIX e início do século XX iniciou-se uma explícita


“guerra as drogas”, com substancial inflação legislativa em países como Estados
Unidos da América e Europa, em que se “demonizou” o consumo e, em especial
o ato de comércio e distribuição destas substâncias (tráfico), posicionamento que
acabou reproduzido em grande parte dos demais países.

O Brasil recepcionou tal posicionamento de “enfrentamento às


drogas” inicialmente através da Lei 6.368/1976 em que havia expressa
criminalização e penalização de usuários e traficantes de substâncias
entorpecentes e, em período subsequente, com a promulgação da Lei
11.343/2006, com o aumento da pena in abstrato para o agente qualificado como
traficante e, uma despenalização relativa para o usuário, para o qual deixou-se
de prever pena de prisão.

A alteração legislativa que – em tese – seria responsável pela


diminuição no encarceramento, acabou por determinar resultado diametralmente
oposto, resultado de uma incoerência legislativa relativa aos tipos penais
incriminadores constantes dos artigos 28 (consumo) e 33 (traficância) da lei
11.343/2006, que promoveu, ainda que indiretamente, encarceramento massivo.

A reprodução dos tipos incriminadores nos artigos


retromencionados, eivou de subjetividade os critérios distintivos de condutas,
situação agravada pelo disposto no parágrafo § 2° do artigo 28 da Lei
11.343/2006, que promoveu de maneira expressa, aquilo que doutrinariamente
se denomina de “direito penal do autor”, em que se julga condições pessoais do
agente e não a conduta por ele praticada.
86

Insta destacar que a conduta de posse para consumo não foi


descriminalizada e, nem mesmo despenalizada in totum, restou apenas afastada
a previsão da pena de prisão, que, já evidencia flagrante afronta ao princípio da
lesividade ou ofensividade, cuja discussão de constitucionalidade está em
apreciação da Suprema Corte - ainda que de maneira limitada - referente
exclusivamente a substância Cannabis Sativa (maconha) em Recurso Especial
635.659.

A celeuma decorrente de uma legislação precária, eivada de vícios,


pode socorrer-se na aplicação do Princípio da Insignificância, que, utilizado em
harmonia com o conceito de bem jurídico tutelado, pode promover uma
adequação na punição de condutas que afetem de maneira efetiva o valor social
contido na norma estabelecida.

O Princípio da Insignificância, que em breve síntese, afasta a


punibilidade de condutas entendidas como formalmente típicas, mas
materialmente atípicas, pela ínfima lesão ao bem jurídico tutelado, e têm sua
aplicação afastada sistematicamente de aplicação as condutas de tráfico de
entorpecentes devido a uma postura conservadora e preconceituosa de Juízos
monocráticos e Cortes Superiores.

As decisões monocráticas e colegiadas afastam a aplicação do


referido princípio reiteradamente, fundamentando em duas razões: a) por se
tratar de crime de perigo abstrato; b) pela norma proteger bem jurídico difuso:
saúde, segurança pública e paz social.

As sentenças e acórdãos que sustentam decisões condenatórias


por tratar-se de crime de perigo abstrato, não consideram o efetivo perigo ao
bem jurídico tutelado, sendo suficiente o ínfimo quantum de substância
entorpecente para ensejar – na maioria das vezes – a condenação do agente, o
que beira a arbitrariedade.

Em relação ao discurso sobre o bem jurídico tutelado, restou


evidenciado não passar de fala desconexa da realidade, pois o custo aos cofres
públicos com saúde relacionado ao consumo de drogas lícitas como tabaco e
álcool, contrapõe expressamente essa ideia e ainda, o custo da justiça com
delitos envolvendo violência familiar associada com o consumo de álcool
87

ratificam, de maneira incontroversa, que a política criminal têm sido conduzida


de maneira equivocada e irracional em nosso país.

A relevância criminal do fato não pode ser restrita a mera


subsunção formal a um tipo penal, deve prescindir da avaliação do desvalor
expresso pela conduta humana, bem como, pela gravidade da lesão provocada
ao bem jurídico tutelado, para que se verifique a necessidade de sanção, à luz
dos princípios da fragmentariedade e da subsidiariedade.

A aplicação do princípio da insignificância evidencia maior clareza


no exame da punibilidade concreta, entretanto, necessita de critérios
orientadores específicos - no caso do delito de tráfico de entorpecentes – além
daqueles genericamente estabelecidos para os demais tipos delitivos e que,
devem ser estabelecidos legislativamente, a exemplo do que ocorre com
Colômbia e Espanha.

A posse para consumo que se encontra em julgamento no STF –


exclusivamente para a substância Cannabis Sativa – consiste em singelo avanço
no pensamento jurídico afeto a questão de entorpecentes, mas demonstra
severo atraso em relação aos demais países, e sua descriminalização revela –
ainda que tardiamente – acolhimento do princípio da lesividade/ ofensividade,
sendo imperiosa a extensão desta postura em relação as demais substâncias
consideradas entorpecentes.

Em observância aos princípios da dignidade da pessoa humana,


proporcionalidade e razoabilidade, é imperiosa a aplicação do Princípio da
Insignificância ao delito de tráfico de entorpecentes sempre que, o quantum de
substância revelar-se insuficiente para causar lesão ao bem jurídico tutelado,
bem como, quando qualitativamente – pela reduzida concentração do princípio
ativo – igualmente se tornar uma substância atóxica/ inócua.

Imprescindível destacar que, embora a mudança da atual


legislação – que se evidencia obsoleta e desconexa da realidade social – seja
uma “emergência legislativa”, é cediço que tal processo é moroso, de maneira
que cabe ao Poder Judiciário promover – ainda que transitoriamente – a devida
mudança interpretativa e valorativa dos delitos com entorpecentes, restando
88

como possibilidade de critérios que possam subsidiar suas decisões a


experiência espanhola, reproduzida a seguir.

As Cortes Superiores Espanholas reconhecem – para a aplicação


do Princípio da Insignificância aos delitos com entorpecentes – os seguintes
elementos balizadores de natureza quantitativa: a) 0,06 gramas de heroína (STS
de 28 de outubro de 1996); b) 0,10 gramas de cocaína (STS de 22 de setembro
de 2000).

Em relação a questão qualitativa – representada pela quantidade


mínima que uma substância química tem efeito no organismo – expressa pela
dose psicoativa inicial, os limites entre tipicidade e atipicidade da conduta de
traficância restou estabelecida nos seguintes parâmetros: a) 0,66 miligramas -
0,00066 gramas de heroína; b) 50 miligramas - 0,05 gramas de cocaína; c) 10
miligramas – 0,01 gramas de haxixe; d) LSD 20 miligramas – 0,000005 gramas;
e) 20 miligramas – 0,02 gramas de Ecstasy; e) 2 miligramas – 0,002 gramas de
morfina.

Por fim, imperioso salientar que os parâmetros expostos


anteriormente consistem na experiência – aparentemente bem sucedida – da
Espanha, merecendo estudo técnico para verificar sua possibilidade de
aplicação em território pátrio, a fim de se produzirem eventuais adequações que
encontrem respaldo na realidade social vivenciada.
89

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AMAERJ. Brasil tem a 3ª maior população carcerária do mundo, com 726.712


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n.68, pp. 59-89, 2014.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do


Brasil. Organizado por Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma
Victor, 2002.

BRASIL. Decreto-Lei 1.001, de 21 de outubro de 1969. Código Penal Militar.


Diário Oficial da União, Brasília, 21 out. 1969.

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário


Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940.

BRASIL. Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a


violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art.
226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei
de Execução Penal; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,
08 ago. 2006.

BRASIL. Lei 12.546, de 14 de dezembro de 2011. Institui o Regime Especial


de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras
(Reintegra); dispõe sobre a redução do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) à indústria automotiva; altera a incidência das
contribuições previdenciárias devidas pelas empresas que menciona;
altera as Leis nº 11.774, de 17 de setembro de 2008, nº 11.033, de 21 de
dezembro de 2004, nº 11.196, de 21 de novembro de 2005, nº 10.865, de 30
de abril de 2004, nº 11.508, de 20 de julho de 2007, nº 7.291, de 19 de
dezembro de 1984, nº 11.491, de 20 de junho de 2007, nº 9.782, de 26 de
janeiro de 1999, e nº 9.294, de 15 de julho de 1996, e a Medida Provisória nº
2.199-14, de 24 de agosto de 2001; revoga o art. 1º da Lei nº 11.529, de 22
de outubro de 2007, e o art. 6º do Decreto-Lei nº 1.593, de 21 de dezembro
de 1977, nos termos que especifica; e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, 15 dez. 2011.

BRASIL. Lei 9.613, de 03 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de


"lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da
utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o
Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 04 mar. 1998.
91

BRASIL. Ministério de Justiça. INFOPEN Mulheres – junho de 2014.


Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. DEPEN – Departamento
Penitenciário Nacional. Brasília, 2015, p.30.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (3ª Seção). Habeas Corpus 455.097/PR.


HABEAS CORPUS. PENAL. MEDIDA CAUTELAR DE RECOLHIMENTO
NOTURNO, AOS FINAIS DE SEMANA E DEMAIS DIAS NÃO ÚTEIS
(FISCALIZADA, NA ESPÉCIE, POR MONITORAÇÃO ELETRÔNICA).
DETRAÇÃO. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE. ESPECIAL PERCEPÇÃO DA
PESSOA PRESA COMO SUJEITO DE DIREITOS. ÓBICE À DETRAÇÃO DO
TEMPO DE RECOLHIMENTO DOMICILIAR DETERMINADO COMO MEDIDA
SUBSTITUTIVA DA PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE EXECUÇÃO.
MEDIDA CAUTELAR QUE SE ASSEMELHA AO CUMPRIMENTO DE PENA EM
REGIME PRISIONAL SEMIABERTO. UBI EADEM RATIO, IBI EADEM LEGIS
DISPOSITIO. HIPÓTESES DO ART. 42 DO CÓDIGO PENAL QUE NÃO SÃO
NUMERUS CLAUSUS. PARECER MINISTERIAL ACOLHIDO. ORDEM DE
HABEAS CORPUS CONCEDIDA. Relatora: Ministra Laurita Vaz, julgado em 14
de abril de 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ª Turma). Agravo Regimental no Habeas


Corpus 676.343/SP. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO
REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO PRÓPRIO.
FURTO PRATICADO DURANTE O REPOUSO NOTURNO. TENTATIVA.
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA CASSADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
DETERMINAÇÃO DE PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL.
INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. HISTÓRICO
DELITIVO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. Relator: Ministro Jesuíno
Rissato, julgado em 24 de agosto de 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Agravo Regimental no Agravo


em Recurso Especial 2334654/SP. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADO PELA ESCALADA E
ROMPIMENTO À OBSTÁCULO. DANOS À RESIDÊNCIA DA VÍTIMA.
REITERAÇÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA.
PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Relator:
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27 de junho de 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Agravo Regimental no Habeas


Corpus 813238/SC. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. REINCIDENCIA. ANTECEDENTES.
INAPLICABILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. Relator: Ministro
Joel Ilan Paciornik, julgado em 26 de junho de 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Agravo Regimental no Habeas


Corpus 706743/SP. PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
92

HABEAS CORPUS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE.


ILEGALIDADE INEXISTENTE. CRIME DO ART. 1º, II, E NO ART. 1º,
PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 8.137/1990. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. VALOR SUPERA O TETO R$ 20 MIL DE TRIBUTOS
ESTADUAIS. COMETIMENTO DE OUTRO DELITO. REINCIDENTE E MAUS
ANTECEDENTES. INVIABILIDADE. DECISÃO NOS TERMOS DA
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. AGRAVO DESPROVIDO. Relator: Ministro
Messod Azulay Neto, julgado em 06 de junho de 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Agravo Regimental em Recurso


de Habeas Corpus 160947/CE. INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA
PREVENTIVA. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE E DA RESERVA LEGAL.
PECULATO-DESVIO E CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA. VACINAÇÃO
CONTRA A COVID-19. ATIPICIDADE. Relator: Ministro João Otávio de Noronha,
27 de setembro de 2002.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5ªTurma). Habeas Corpus 318.936/SP.


CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS
IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. TRÁFICO DE
DROGAS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. NÃO
CONHECIMENTO. Relator: Ministro Ribeiro Dantas, julgado em 27 de outubro
de 2015.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Agravo Regimental no Habeas


Corpus 809280/SC. PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.
RECEPTAÇÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. VALOR
SUPERIOR A 10% DO SALÁRIO-MÍNIMO. AVALIAÇÃO INDIRETA.
REITERAÇÃO DELITIVA. Relator: Ministro Antônio Saldanha Palheiro, julgado
em 26 de junho de 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Agravo Regimental no Agravo


em Recurso Especial 2314576/TO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. SÚMULA 182/STJ AFASTADA. FURTO SIMPLES. RES
FURTIVA AVALIADA EM 27% DO SALÁRIO-MÍNIMO. APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. Relator: Ministro
Jesuíno Rissato, julgado em 20 de junho de 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Agravo Regimental no Habeas


Corpus 581179/SC. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME
AMBIENTAL. MANUTENÇÃO DE AVES SILVESTRES EM CATIVEIRO SEM
AUTORIZAÇÃO. POSSE IRREGULAR DE ARMAS DE FOGO, MUNIÇÃO E
APETRECHOS PARA CAPTURA DE ANIMAIS. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO. Relator: Rogério Schietti Cruz, julgado em 12 de junho de 2023.
93

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Agravo Regimental no Habeas


Corpus 809.280/SC. PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.
RECEPTAÇÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. VALOR
SUPERIOR A 10% DO SALÁRIO-MÍNIMO. AVALIAÇÃO INDIRETA.
REITERAÇÃO DELITIVA. Relator: Ministro Antônio Saldanha Palheiro, julgado
em 26 de junho de 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6ªTurma). Habeas Corpus 156.384/RS.


HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INVIABILIDADE. POLICIAL MILITAR QUE FAZ USO DE
DOCUMENTO FALSO, OBJETIVANDO AUFERIR VANTAGEM ECONÔMICA.
Relator: Ministro Og Fernandes, julgado em 26 de abril de 2011.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Corte Especial). Agravo de Instrumento


no Habeas Corpus 239.263/PR. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE.
PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 273, § 1º-B, V, DO CP. CRIME DE TER EM
DEPÓSITO, PARA VENDA, PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS
OU MEDICINAIS DE PROCEDÊNCIA IGNORADA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE. Relator: Ministro Sebastião Reis Junior, julgado em 26
de fevereiro de 2015.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (2ªTurma). Recurso em Habeas Corpus


126.272/MG. RECURSO EM HABEAS CORPUS. FURTO. TRANCAMENTO DO
PROCESSO. INSIGNIFICÂNCIA. VALOR ÍNFIMO. CONCEITO INTEGRAL DE
CRIME. PUNIBILIDADE CONCRETA. CONTEÚDO MATERIAL. BEM JURÍDICO
TUTELADO. GRAU DE OFENSA. VALOR ÍNFIMO DA SUBTRAÇÃO.
RECURSO EM HABEAS CORPUS PROVIDO. Relator: Ministro Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 01 de junho de 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (5ª Turma). Agravo Regimental em


Habeas Corpus 796.563/MS. PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS
CORPUS. FURTO QUALIFICADO. ABSOLVIÇÃO. DELITO PRATICADO
MEDIANTE ESCALADA. MAIOR REPROVABILIDADE DA CONDUTA.
REITERAÇÃO DELITIVA. RÉU REINCIDENTE ESPECÍFICO E COM MAUS
ANTECEDENTES. ATIPICIDADE DA CONDUTA NÃO EVIDENCIADA. BENS
RESTITUÍDOS À VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INAPLICABILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Relator: Ministro
Ribeiro Dantas, julgado em 22 de maio de 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (5ª Turma). Habeas Corpus 361.019/SC.


HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO
INCIDÊNCIA. EXPRESSIVIDADE DA LESÃO PATRIMONIAL SOFRIDA PELA
VÍTIMA. VALOR DO BEM SUBTRAÍDO QUE ULTRAPASSA 10% DO SALÁRIO-
MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS. PRECEDENTES DO STJ.
ALEGAÇÃO NO SENTIDO DE QUE O BEM SEQUER FOI SUBTRAÍDO. TESE
94

AFASTADA. [...] SITUAÇÃO DOS AUTOS EM QUE A CONDUTA DELITIVA


AFETA SUBSTANCIALMENTE O BEM JURÍDICO PROTEGIDO. ANÁLISE
CONGLOBANTE DO VALOR DO BEM SUBTRAÍDO E DA REINCIDÊNCIA.
PROPORCIONALIDADE NA CONDENAÇÃO POR CRIME DE FURTO.
ADEQUAÇÃO DO REGIME SEMIABERTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 269 DO
STJ. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. Relator: Ministro Joel Ilan
Paciornik, julgado em 27 de setembro de 2026.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ª Turma). Agravo Regimental no Agravo


em Recurso Especial 1.589.938/DF. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. DECISÃO AGRAVADA. NÃO CONHECIMENTO.
IMPUGNAÇÃO SUFICIENTE. RECONSIDERAÇÃO. ROUBO.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA EM CRIME DE ROUBO.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA TENTATIVA. NÃO OCORRÊNCIA.
SÚMULA582/STJ. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO PARA CONHECER DO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL, MAS LHE NEGAR PROVIMENTO.
Relator: Ministro Nefi Cordeiro, julgado em 18 de fevereiro de 2020.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Agravo em Recurso Especial


2181616/MG. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CONDENAÇÕES PRETÉRITAS
COM TRÂNSITO EM JULGADO, INCLUSIVE EM CRIME PATRIMONIAL.
AFASTADA A BAGATELA. Relator: Ministro Jesuíno Rissato, julgado em 18 de
abril de 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Agravo Regimental no


Recurso em Habeas Corpus 147.158/SP. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO EM HABEAS CORPUS. POSSE DE DROGA ILÍCITA PARA
CONSUMO PESSOAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Relator: Ministro Rogério Schietti
Cruz, julgado em 25 de maio de 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Embargos de Declaração em


Habeas Corpus 463.656/SP. PENAL E PROCESSO PENAL. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS
CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. INSIGNIFICÂNCIA. NÃO APLICÁVEL.
CRIME DE PERIGO ABSTRATO. DESCLASSIFICAÇÃO. PROFUNDA
INCURSÃO FÁTICA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. Relator: Ministro
Nefi Cordeiro, julgado em 04 de agosto de 2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Embargos de Declaração em


Recurso Ordinário de Mandado de Segurança 30.518/RR. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
95

AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. REJEIÇÃO. Relatora:


Ministra Maria Thereza de Assis Moura, 02 de agosto de 2012.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Recurso em Habeas Corpus


35.920/DF. RECURSO EM HABEAS CORPUS. PORTE DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE PARA CONSUMO PRÓPRIO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
EVIDENCIADO. Relator: Ministro Rogério Schietti Cruz, julgado em 20 de maio
de 2014.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (6ªTurma). Recuso Especial


1342262/RS. RECURSO ESPECIAL. CIGARROS. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO. PROIBIÇÃO
RELATIVA. CRIME DE CONTRABANDO E NÃO DE DESCAMINHO. Relator:
Ministro Og Fernandes, julgado em 15 de agosto de 2013.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Publicação traz entendimentos


atualizados do STJ sobre a Lei de Drogas. Disponível em: Publicação traz
entendimentos atualizados do STJ sobre a Lei de Drogas. Acesso em 15 de out.
2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 589. É inaplicável o princípio


da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a
mulher no âmbito das relações domésticas (Terceira Seção, julgado em
13/9/2017, DJe de 18/9/2017).

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 599. O princípio da


insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. (Corte
Especial, julgado em 20/11/2017, DJe de 27/11/2017).

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 606. Não se aplica o princípio


da insignificância a casos de transmissão clandestina de sinal de internet via
radiofrequência, que caracteriza o fato típico previsto no art. 183 da Lei n.
9.472/1997 (Terceira Seção, julgado em 11/4/2018, DJe de 17/4/2018).

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Tema Repetitivo 157. Incide o princípio


da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o
débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações
efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. (Terceira
Seção, julgado em 28/11/2017, DJe de 01/12/2017).

BRASIL. Superior Tribunal Federal (Plenário). Repercussão Geral no Recurso


Extraordinário 635659/SP. CONSTITUCIONAL. 2. DIREITO PENAL. 3.
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 28 DA LEI 11.343/2006. 3. VIOLAÇÃO DO
ARTIGO 5º, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 6. REPERCUSSÃO
96

GERAL RECONHECIDA. Relator: Ministro Gilmar Mendes, Processo


automaticamente liberado para a continuação do julgamento em 04/12/2023,
conforme Emenda Regimental 58, de 19 de dezembro de 2022.

BRASIL. Superior Tribunal Federal. (1ª Turma). Habeas Corpus 107.615/MG.


Habeas corpus. FURTO DE QUADRO DENOMINADO "DISCO DE OURO".
PREMIAÇÃO CONFERIDA ÀQUELES ARTISTAS QUE TENHAM ALCANÇADO
A MARCA DE MAIS DE CEM MIL DISCOS VENDIDOS NO PAÍS. VALOR
SENTIMENTAL INESTIMÁVEL. ALEGADA INCIDÊNCIA DO POSTULADO DA
INSIGNIFICÂNCIA PENAL. INAPLICABILIDADE. BEM RESTITUÍDO À VÍTIMA.
IRRELEVÂNCIA. CIRCUNSTÂNCIAS ALHEIAS À VONTADE DO AGENTE.
PACIENTE REINCIDENTE ESPECÍFICO EM DELITOS CONTRA O
PATRIMÔNIO, CONFORME CERTIDÃO DE ANTECEDENTES CRIMINAIS.
PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. Relator: Ministro Dias Toffoli, julgado
em 06 de setembro de 2011.

BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. (5ªTurma). Agravo Regimental no Habeas


Corpus 813.238/SC. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. REINCIDENCIA. ANTECEDENTES.
INAPLICABILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. Relator: Ministro
Joel Ilan Paciornik, julgado em 26 de junho de 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (1ª Turma). Recurso Ordinário em Habeas


Corpus 142.837/MS. AMEAÇA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INCOMPATIBILIDADE. Relator: Marco Aurélio, julgado em
20 de outubro de 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2ªTurma). Habeas Corpus 84.412-0/SP.


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - IDENTIFICAÇÃO DOS VETORES CUJA
PRESENÇA LEGITIMA O RECONHECIMENTO DESSE POSTULADO DE
POLÍTICA CRIMINAL - CONSEQÜENTE DESCARACTERIZAÇÃO DA
TIPICIDADE PENAL EM SEU ASPECTO MATERIAL - DELITO DE FURTO -
CONDENAÇÃO IMPOSTA A JOVEM DESEMPREGADO, COM APENAS 19
ANOS DE IDADE - "RES FURTIVA" NO VALOR DE R$ 25,00 (EQUIVALENTE A
9,61% DO SALÁRIO-MÍNIMO ATUALMENTE EM VIGOR) - DOUTRINA -
CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA JURISPRUDÊNCIA DO STF - PEDIDO
DEFERIDO. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE COMO
FATOR DE DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL.
Relator: Ministro Celso de Mello, julgado em 19 de outubro de 2002.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Ação Cível Originária 3.196/RS.


AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. GASTOS DOS ESTADOS COM MANUTENÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DE ENSINO. INCLUSÃO DE DESPESAS COM
INATIVOS NO PERCENTUAL EXIGIDO PELO ART. 212 DA CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA. INVIABILIDADE. INSCRIÇÃO DE ESTADO-MEMBRO EM
97

CADASTRO FEDERAL DE INADIMPLÊNCIA. SIAFI/CAUC/CADIN. UNIÃO.


LEGITIMIDADE AD CAUSAM. PRECEDENTES. INSCRIÇÃO SEM A
OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. AÇÃO CÍVEL
ORIGINÁRIA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. Relator: Ministro
Marco Aurélio, julgado em 08 de junho de 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Ação Direta de


Constitucionalidade. (ADC/ DF 43; ADC/ DF 44; ADC/ DF 54) PENA –
EXECUÇÃO PROVISÓRIA – IMPOSSIBILIDADE – PRINCÍPIO DA NÃO
CULPABILIDADE. Relator: Ministro Marco Aurélio, 07 de novembro de 2019.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Habeas Corpus 103.684/DF.


HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR. CONSCRITO OU RECRUTA DO
EXÉRCITO BRASILEIRO. POSSE DE ÍNFIMA QUANTIDADE DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE EM RECINDO SOB ADMINISTRAÇÃO CASTRENSE.
INAPLICABILIDADE DO POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL.
INCIDÊNCIA DA LEI CIVIL N°11.343/2006. IMPOSSIBILIDADE. RESOLUÇÃO
DO CASO PELO CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE DA LEGISLAÇÃO PENAL
CASTRENSE. ORDEM DENEGADA. Relator: Ministro Ayres Britto, julgado em
21 de outubro de 2010.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Repercussão Geral no Recurso


Extraordinário 1.307.053/PE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
ADMINISTRATIVO. RECUSA DE MATRÍCULA EM CURSO DE RECICLAGEM
DE VIGILANTE. AÇÃO PENAL OU INQUÉRITO EM ANDAMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA. PRECEDENTES. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL
DOTADA DE REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
DESPROVIDO. Relator: Ministro Luiz Fux, julgado em 23 de setembro de 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Agravo Regimental no Recurso


Extraordinário 607.666/DF. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. PENAL. CRIME HEDIONDO COMETIDO ANTES DA
VIGÊNCIA DA LEI N. 4.495/2002. VEDAÇÃO DE COMUTAÇÃO DA
CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS: DATA EM QUE O DELITO FOI PRATICADO.
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS
GRAVOSA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA
PROVIMENTO. Relatora: Cármen Lúcia, 01 de fevereiro de 2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Habeas Corpus 104.467/RS.


HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. CASA DE
PROSTITUIÇÃO. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FRAGMENTARIEDADE E
98

DA ADEQUAÇÃO SOCIAL. IMPOSSIBILIDADE. CONDUTA TÍPICA.


CONSTRANGIMENTO NÃO CONFIGURADO. Relatora: Ministra Cármen Lúcia,
08 de fevereiro de 2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Habeas Corpus 110.475/SC.


PENAL. HABEAS CORPUS. ARTIGO 28 DA LEI 11.343/2006. PORTE ILEGAL
DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. ÍNFIMA QUANTIDADE. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. WRIT CONCEDIDO. Relator: Ministro
Dias Toffoli, julgado em 14 de fevereiro de 2012.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Habeas Corpus 112.400/RS.


HABEAS CORPUS. 2. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE FURTO
TENTADO.BEM PEQUENO VALOR (R$ 80,00). MÍNIMO GRAU DE
LESIVIDADE DA CONDUTA. 3. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 4. REINCIDÊNCIA.
IRRELEVÂNCIA DE CONSIDERAÇÕES DE ORDEM SUBJETIVA. 5. ORDEM
CONCEDIDA. Relator: Ministro Gilmar Mendes, 22 de maio de 2012.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (1ªTurma). Recurso Ordinário em Habeas


Corpus 190/315/PR. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
SUCEDÂNEO DE REVISÃO CRIMINAL. IMPOSSIBILIDADE. ILEGALIDADE
FLAGRANTE. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. CRIME DE DANO
QUALIFICADO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
ATIPICIDADE MATERIAL. ABSOLVIÇÃO. RECURSO NÃO CONHECIDO, COM
A CONCESSÃO DE OFÍCIO DA ORDEM PARA ABSOLVER O PACIENTE.
Relator: Ministro Edson Fachin, 15 de dezembro de 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ª Turma). Habeas Corpus 135.404/PR.


PENAL. HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO PELO CRIME
PREVISTO NO ART. 34 DA LEI 9.605/1998 (LEI DE CRIMES AMBIENTAIS).
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
REPROVABILIDADE DA CONDUTA DO AGENTE. REITERAÇÃO DELITIVA.
ORDEM DENEGADA. Relator: Ministro Ricardo Levandowski, julgado em 07 de
fevereiro de 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ª Turma). Recurso Ordinário em Habeas


Corpus 133.043/ MS. HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. LESÃO
CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PRETENSÃO DE APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA.
Relatora: Ministra Cármen Lúcia, julgado em 10 de maio de 2016.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ªTurma). Agravo Regimental no Habeas


Corpus 133.226/SP. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS
CORPUS. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO. ATESTADO MÉDICO.
EMPREGADO DA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS.
99

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. REPROVABILIDADE DA


CONDUTA. Relator: Ministro Teori Zavaski, julgado em 29 de março de 2016.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ªTurma). Agravo Regimental no


Recurso em Habeas Corpus 202.883/ SP. PENAL E PROCESSUAL PENAL.
HABEAS CORPUS. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA EM PORTE DE ENTORPECENTES PARA CONSUMO
PESSOAL. Relator: Ministro Gilmar Mendes, julgado em 15 de setembro de
2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ªTurma). Habeas Corpus 127.573/SP.


HABEAS CORPUS. 2. POSSE DE 1 (UM GRAMA) DE MACONHA. 3
CONDENAÇÃO À PENA DE 6 (SEIS) ANOS, 9 (NOVE) MESES E 20 (VINTE)
DIAS DE RECLUSÃO, EM REGIME INICIAL FECHADO. 4. PEDIDO DE
ABSOLVIÇÃO. ATIPICIDADE MATERIAL. 5. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA
OFENSIVIDADE, PROPORCIONALIDADE E INSIGNIFICÂNCIA. 6. PARECER
DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELA CONCESSÃO DA
ORDEM. 7. ORDEM CONCEDIDA PARA RECONHECER A ATIPICIDADE
MATERIAL. Relator: Ministro Gilmar Mendes, 08 de novembro de 2019.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (2ªTurma). Habeas Corpus 127.573/SP.


HABEAS CORPUS. 2. POSSE DE 1 (UM GRAMA) DE MACONHA. 3.
CONDENAÇÃO À PENA DE 6 (SEIS) ANOS, 9 (NOVE) MESES E 20 (VINTE)
DIAS DE RECLUSÃO, EM REGIME INICIAL FECHADO. 4. PEDIDO DE
ABSOLVIÇÃO. ATIPICIDADE MATERIAL. 5. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA
OFENSIVIDADE, PROPORCIONALIDADE E INSIGNIFICÂNCIA. 6. PARECER
DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELA CONCESSÃO DA
ORDEM. 7. ORDEM CONCEDIDA PARA RECONHECER A ATIPICIDADE
MATERIAL. Relator: Ministro Gilmar Mendes, julgado em sessão virtual de 01 a
08 de novembro de 2009.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. (Plenário). Arguição de Descumprimento de


Preceito Fundamental. ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL
CUSTODIADO – INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL – SISTEMA
PENITENCIÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Relator: Ministro Marco Aurélio, julgado em 09
de dezembro de 2015.

BRASIL. Tribunal Regional Federal - 4ª Região (8ªTurma). Apelação Criminal.


PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DO ARTIGO
184, §2°, DO CÓDIGO PENAL. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
SECUNDÁRIO DO ARTIGO 12, §2º, DA LEI 9.609/98. INCABIMENTO. ESTADO
DE NECESSIDADE. ARTIGO 24 DO CÓDIGO PENAL. DESCARACTERIZADO.
MATERIALIDADE, AUTORIA E DOLO COMPROVADOS. CONDENAÇÃO
100

MANTIDA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. NECESSIDADE DE


REQUERIMENTO PERANTE O JUÍZO DA EXECUÇÃO. EXECUÇÃO
IMEDIATA. NÃO PROVIMENTO. Relator: Desembargador Federal Paulo Afonso
Brum Vaz, julgado em 14 de junho de 2010.

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