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Por
Alexandro da Silva Moraes
Aluno do curso de Pós-graduação em Direito e Processo penal (Princípio da
insignificância)
AGRADECIMENTO
DEDICATÓRIA
RESUMO
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................7
2. HISTÓRICA DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA.......................................................................................................9
3. CONCEITO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.......................................10
4. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL QUE SE RELACIONA COM O PRINCÍPIO
DA
INSIGNIFICÂNICA.......................................................................................................11
4.1- Princípio da Legalidade............................................................................................12
4.2- Princípio da Intervenção Mínima............................................................................12
4.3- Princípio da Fragmentariedade................................................................................13
4.4- Princípio da Subsidiariedade...................................................................................14
4.5- Princípio da Adequação Social...............................................................................14
4.6- Princípio da proporcionalidade...............................................................................16
4.7- Princípio da Lesividade...........................................................................................17
5. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PERANTE A JURISPRUDÊNCIA
BRASILEIRA..................................................................................................................18
6. A RESISTÊNCIA A APLICAÇÃO NO DIREITO PATRIO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA AO CRIME DE ROUBO..............................................................20
7. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA AO CRIME DE
ROUBO...........................................................................................................................24
8. CONCLUSÃO.............................................................................................................25
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................26
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1- INTRODUÇÃO
Como se pode ver, os autores citados dão crédito a Claus Roxin, mas o segundo
autor citado – Silva – diz que mesmo antes de 1964 já havia referência a esta mesma
ideia, a saber:
A formulação do princípio em debate tenha sido por Roxin, encontramos vestígios dele
na obra de Franz Von Liszt, que, em 1903, a discorrer sobre a hipertrofia da legislação penal,
afirmava que a legislação de seu tempo fazia uso excessivo da pena e, ao final, indagava se não
seria oportuno restaurar a antiga máxima latina mínima non curat praetor. Com efeito, ensina a
doutrina que o princípio em tela já vigorava no direito Romano, onde o praetor, regra geral, não
se ocupava das causas ou delitos de bagatela.
Cabe destacar que concordamos com a lição do autor, data vênia, não achamos
correta a afirmação de que através do princípio da insignificância se chegue à
11
É sabido que o direito penal é o ramo mais violento do direito e por isso só deve
se preocupar em proteger os bens mais relevantes como é o caso do bem jurídico da
Vida. Assim, o direito penal deve deixar para os outros ramos do direito, como o direito
civil, a proteção de bens de menor relevância, ou seja, o direito penal só deve intervir
nos casos em que os outros ramos do direito não se mostram adequados a prestar a
efetiva tutela. Deste modo, o legislador por meio de um critério político que vai variar
de acordo com o aspecto temporal, ou seja, com o momento em que vive a sociedade.
Assim, percebendo-se que os outros ramos do direito não se mostram capazes de tutelar
aqueles bens mais importantes para a sociedade, deve-se selecionar e escolher as
condutas positivas e negativas, que deverão merecer uma resposta mais dura, ou melhor,
uma proteção do direito penal.
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nem todas as ações que atacam bens jurídicos são proibidos pelo direito penal, nem tão
pouco todos os bens jurídicos são protegidos por ele. O direito penal, repito mais uma vez, se
limita somente a castigar as ações mais graves contra os bens jurídicos mais importantes, daí seu
caráter ‘fragmentário’, pois que de toda a gama de ações proibidas e bens jurídicos protegidos
pelo ordenamento jurídico, o direito penal só se ocupa de uma parte, fragmentos, se bem que da
maior importância.
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A proteção de bens jurídicos não se realiza só mediante o direito penal, senão que nessa
missão cooperam todo o instrumental do ordenamento jurídico. O direito penal é, inclusive, a
última dentre todas as medidas protetoras que devem ser consideradas, quer dizer que somente
pode intervir quando falhem outros meios de solução social do problema – como a ação civil, os
regulamentos de policia, as sanções não penais, etc. por isso se denomina a pena como a ‘ultima
ratio da política social’ e se define sua missão como proteção subsidiárias de bens jurídicos.
a teoria da adequação social, concebida por Hans Welzel, significa que apesar de uma
conduta se subsumir ao modelo legal não será considerada típica se for socialmente adequada ou
reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente
condicionada.
Segundo GRECO (2008), a vida em sociedade por natural já nos impõe riscos
que não podem ser punidos pelo direito penal, pois necessário é que se conviva com eles
da forma mais harmônica possível. Como exemplo, é citado o trânsito nas grandes
cidades, o transtorno aéreo, usinas atômicas que tornam a vida em sociedade perigosa,
mas muito embora perigosas, são consideradas socialmente adequadas e assim não
podem serem criminalizadas.
Neste sentido, citamos os ensinamentos de TOLEDO (1984, P. 131):
Vale ainda colacionar a análise entre o tipo e a adequação social realizada por
WELZEL que diz:
Seja qual for a perspectiva a partir de que se queira fundamentar o direito penal do autor
(culpabilidade de autor ou periculosidade), o certo é que um direito que reconheça, mas que
também respeite, a autonomia moral da pessoa jamais pode penalizar o ‘ser’ de uma pessoa, mas
somente o seu agir, já que o direito é uma ordem reguladora de conduta humana.
Para finalizar, a quarta vertente nos revela que com base no princípio da
lesividade, busca-se impedir que as condutas desviadas, que não afetem nenhum bem
jurídico de terceiro, sejam criminalizadas. Para que se esclareça melhor, segundo
GRECO (2008), condutas desviadas são aquelas que a sociedade trata com certo
desprezo ou repulsa e que muito embora sejam reprovadas sob o aspecto moral, não
causam qualquer lesão à bem ou bens jurídicos de terceiros.
Concluindo, o princípio da lesividade limita o poder do Estado de punir de
forma a limitá-lo apenas aos casos que possam causar efetiva lesão a bem ou bens de
terceiros, ou seja, não pode se criminalizar condutas por aspectos simplesmente éticos
ou moral. E neste aspecto guarda relação com o princípio da insignificância que orienta
os operadores do direito no sentido de aplicação da norma penal.
Como se sabe, o Direito Penal só deve se preocupar com os bens que forem de
maior relevância para o direito penal e a sociedade. Por isso, o Direito Penal só deve
intervir impondo sanção, nos casos que houver absoluta necessidade, ou seja, nos casos
em que a ofensa ao bem jurídico protegido seja intolerável. E por este motivo, se busca
modernamente um direito de intervenção mínima devendo-se procurar afastar do âmbito
da proibição penal comportamentos que causem uma lesão ínfima ao bem jurídico
tutelado pela norma. Afasta do direito penal os bens de menor expressividade para que,
entre outros motivos, não se venha a banalizar o direito penal que é o ramo do direito
mais grave, ou seja, de maior rigor.
Conforme leciona MAURICIO RIBEIRO LOPES, foi Claus Roxin quem
primeiro enunciou o princípio da insignificância (geringfügigkeitsprinzip), segundo o
qual os delitos de baixa ou nenhuma lesividade social devem ser objeto de intervenção
mínima do direito penal.
No Brasil, o princípio da insignificância foi acolhido pela mais lúcida doutrina
sobre o tema, valendo citar, por todo o magistério do MINISTRO FRANCISCO DE
ASSIS TOLEDO, (princípios básicos de direito penal. 4º ed. São Paulo: saraiva, 1991,
p. 133): “segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela própria
denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai aonde seja
necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas”.
Os doutrinadores SAFARONE E PIERANGELI, a seu turno, entendem que a
insignificância da afetação de bens jurídicos exclui a tipicidade, mas só pode ser
estabelecida mediante consideração conglobada da norma. O princípio da
insignificância, portanto, seria causa de atipicidade conglobante que é formada pela
antinormatividade da conduta e relevância material. Neste sentido, se a conduta do
agente não possui relevância material em virtude da insignificância da lesão causada ao
bem, não há tipicidade conglobante, sendo seu comportamento atípico.
É necessário mencionar que o Supremo Tribunal Federal, no HC 88.393, tendo
como relator o Ministro César Peluso, reconheceu a aplicabilidade do princípio da
insignificância com base nos seguintes vetores, a saber:
1- quando houver a mínima ofensividade da conduta do agente;
2- nenhuma periculosidade da ação;
3- reduzidíssimo grau da reprovabilidade do comportamento e
4- inexpressividade da lesão jurídica provocada.
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1. Não há como aplicar, aos crimes de roubo, o princípio da insignificância – causa supralegal de
exclusão da ilicitude -, pois, tratando-se de delito complexo, em que há ofensa a bens jurídicos
diversos (patrimônio e a integridade da pessoa), é inviável a afirmação do desinteresse estatal à
sua repressão.
2. Acrescente-se, ademais, que, sob o prisma da tipicidade material, a lesividade ao patrimônio
da vítima não foi irrelevante, porquanto, ainda que o valor do bem – uma bicicleta – seja inferior
a um salário mínimo, era o seu meio de locomoção urbano (HC 37423/DF – Hábeas Corpus
2004/0110246-0 – 5º Turma – Rel. Min. Laurita Vaz, publicado no DJ de 14/03/2005, p. 396).
Além disso, como nos diz Odone Sanguiné, o princípio da insignificância teve,
pela primeira vez, seu acolhimento "expresso" pelo Supremo Tribunal Federal em julho
de 1988 (RHC nº 66.869-1, 2º turma, votação unanime). No julgamento, o STF decidiu
arquivar a ação penal com o fundamento de que uma equimose, de três centímetros de
diâmetro, decorrente de um acidente automobilístico, escapa ao interesse punitivo do
Estado em virtude do princípio da insignificância - não acolhendo a tese do Tribunal
inferior e da Procuradoria-Geral da República que sustentavam que a lesão preenchia os
requisitos necessários para a existência da tipicidade penal, ainda que de nenhuma
consequência funcional - alegando que o prosseguimento da ação penal não lograria
nenhum resultado, só sobrecarregaria mais os serviços da Justiça e incomodaria
inutilmente a vítima. Configurando-se, portanto, como uma diretriz jurisprudencial da
mais alta valia e, servindo como precedente aos Tribunais inferiores.
A jurisprudência tem adotado o princípio da insignificância, principalmente, nos
casos de furto, lesão corporal, descaminho e crimes contra a fauna. Entretanto, o
entendimento adotado segue sempre uma mesma linha, ou seja, a lesão ou o fato
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Com relação aos crimes contra a fauna, jurisprudência do TRF 5º Região: "A
comercialização de 17 (dezessete) borboletas não pode ensejar uma pena de 2 a 5 anos
de reclusão. Homenagem ao princípio da insignificância".
A jurisprudência observada no Superior Tribunal de Justiça denota uma maior
aplicação do princípio da insignificância aos delitos de descaminho ou contrabando, sob
o mesmo argumento dos Tribunais Federais, ou seja, que as mercadorias de ínfimo valor
não caracterizariam crime de descaminho ou contrabando.
Nesse sentido jurisprudência, do STJ:
Cabe ressaltar, também, que nosso Supremo Tribunal Federal não rejeita o
princípio da insignificância, muito pelo contrário, o aceita, em determinados casos,
devendo ser analisado caso a caso.
Desse modo, jurisprudência do STF: "... a aplicação do princípio da
insignificância deve ser feita caso a caso".
É importante, também, salientar que o próprio Ministério Público Federal (MPF)
aceita e aplica a tese do princípio da insignificância, como podemos observar no 3º
ofício criminal, com relação aos autos nº 940011453/2, onde o MPF solicita o
arquivamento do inquérito policial de descaminho, com base no princípio da
insignificância, da irrelevância do valor da mercadoria apreendida.
Podemos observar, nos extratos jurisprudenciais aquilo que viemos defender, ou
seja, que através do princípio da insignificância podemos desconsiderar a tipicidade do
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Como o princípio da bagatela afasta a tipicidade do crime de furto, deve também afastar a
tipicidade do crime de roubo, ainda que praticado com violência ou grave ameaça a pessoa.
Portanto, se o roubo, delito complexo, cuja a objetividade jurídica é a proteção do patrimônio e
da liberdade individual ou da integridade física do ofendido, não pode subsistir sem que ocorra a
lesão significativa a ambos os bens jurídicos protegidos. Se a lesão a liberdade individual for
insignificante, a hipótese será de furto; ao contrário, se a lesão patrimonial for insignificante,
subsistirá o crime contra a pessoa (ameaça, lesão corporal, constrangimento ilegal, etc.).
8- CONCLUSÃO
9- REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume. 1, parte geral (arts. 1 ° a 120 °),
11.ed. ver. E atual – São Paulo, 2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2008.
PRADO, Luiz Regis. Bem jurídico-penal e Constituição. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2006.
_______. Curso de direito penal brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2006.
SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da insignificância no direito penal. Curitiba: Juruá,
2006.
TOLEDO, Francisco de Assis. Ilicitude penal e causas de sua exclusão. Rio de Janeiro:
Forense, 1984.
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ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de derecho penal – Parte general. Buenos Aires:
Ediar, 1996.