Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
22207196
fevereiro 2023
2
SIGLAS OU ABREVIATURAS
Al. – Alínea
Art.º – Artigo
CPP – Código do Processo Penal
CRP – Constituição da República Portuguesa
DL – Decreto-Lei
N.º - Número
P. – Página
STJ – Supremo Tribunal de Justiça
Supra - «acima»
§ – Parágrafo
3
Índice
Capítulo II: A Importância das Garantias de Processo Criminal para o arguido ......... 12
1. O Direito de Defesa e o Princípio da Presunção de Inocência ............................................ 12
Abstract With this paper, the main goal is to address the applicability of coercive
measures in accordance with constitutional principles.
This paper is divided into three chapters, Chapter I refers to the legal
regime of coercive measures, from the concept to the distinction between
the various measures of coercion according to their severity and the
general conditions for the application of coercive measures. Chapter II
highlights the importance of the guarantees of criminal procedure for the
defendant, such as the guarantee of the right to defense and the principle
of presumption of innocence.
Finally, Chapter II, is concerned with the applicability of coercive
measures in accordance with criminal constitutional principles, such as
the principle of proportionality, the principle of appropriateness, the
principle of necessity, and the principle of subsidiarity. All these
principles are important because the measures of coercion should be
applied in accordance with the constitutional principles, in order to
guarantee the effectiveness of the criminal process without harming the
fundamental rights of the person.
Considerações Iniciais
1
MARQUES DA SILVA, GERMANO, “Curso de Processo Penal, II,” Editora: Verbo; 2008; p.285-286.
2
ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de “Comentário do Código do Processo Penal Anotado à luz da
Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos Humanos” 3ª edição atualizada, p.543
3
MIRANDA, Jorge “Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos Fundamentais” 4ª Edição,
Revista e Atualizada, Coimbra Editora, 2008, p.284.
7
4
MARQUES DA SILVA, GERMANO, “Curso de Processo Penal, II,” Editora: Verbo; 2008; p.285.
5
MARQUES DA SILVA, GERMANO, “Curso de Processo Penal, II,” Editora: Verbo; 2008; p.287
8
6GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, “Constituição da República Portuguesa, Anotada, Artigos 1º a 107º”,
Vol I, 1ª Edição Revista, Coimbra Editora, p.478.
7
FIGUEIREDO DIAS, Jorge, “Sobre os Sujeitos Processuais no novo Código de Processo Penal”, in:
Jornadas de Direito Processual Penal. O Novo Código de Processo Penal, Almedina, p.27.
9
prosseguir.”8
No entanto, é preciso ter em atenção que não basta a admissibilidade em abstrato da
aplicação ao arguido de uma medida de coação ou de garantia patrimonial; importa que a
medida se mostre necessária ao caso concreto, em cada caso é preciso que a medida se
mostre objetivamente idónea para assegurar a finalidade para que a lei a permite, mas é
preciso também que ela se mostre necessária para realizar esse mesmo fim, o que significa
que não se pode prosseguir uma finalidade distinta da prevista por lei.
Concluindo, existem precisamente dois conceitos de privação de liberdade, a privação
total da liberdade e a privação parcial da liberdade, ambos estes institutos diferem-se entre
si devido à intensidade da gravidade.
As medidas enquadradas na privação total de liberdade, são as medidas previstas nos
artigos 201º e 202º do CPP, nomeadamente a obrigação de permanência na habitação
(designada por prisão domiciliária) e a prisão preventiva, são consideradas medidas de
privação total de liberdade devido ao seu elevado teor de gravidade, relativamente às
restantes, são consideradas medidas de coação de privação parcial da liberdade, devido a
serem menos graves.
Como referimos no tópico anterior, as medidas de coação com função cautelar processual
obedecem ao princípio da legalidade, isto significa que só são admitidas as medidas de
coação previstas na lei.
As principais medidas de coação em Portugal são, precisamente as previstas no Código
Processual Penal (CPP): A caução, é uma medida de coação prevista no artigo 197º do
Código do Processo Penal (CPP), consiste na obrigatoriedade de o arguido entregar
determinado montante como garantia de comparecimento aos futuros atos processuais e
de cumprimento das obrigações que lhe forem fixadas com outras medidas de coação.
A aplicação desta medida é da competência do Juiz e a caução só pode ser aplicada
quando o crime imputado ao arguido seja punível com pena de prisão.
É importante referir igualmente que o Juiz pode manter o arguido sujeito a uma medida
mais grave se o mesmo, não prestar caução a que se tenha comprometido.9
O termo de identidade e residência, prevista no artigo 196º do CPP, é uma medida de
8
MARQUES DA SILVA, GERMANO, “Curso de Processo Penal, II,” Editora: Verbo; 2008; p.288.
9
ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de “Comentário do Código do Processo Penal Anotado à luz da
Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos Humanos” 3ª edição atualizada, p.560
10
coação enquanto a sujeição a esta medida implica deveres para o arguido limitadores da
sua liberdade, esses deveres consistem, para além da identificação do arguido e indicação
da sua residência, em não mudar de residência nem dela se ausentar por mais de cinco
dias sem comunicar a nova residência ou o lugar onde se possa encontrar, e ainda detém
o dever de comparecer perante a autoridade competente e de se manter sempre à
disposição dela, sempre que a lei o obrigar.
A obrigação de apresentação periódica é uma medida de coação prevista no art.º. 198º
do Código do Processo Penal (CPP), consiste na obrigação de apresentação do arguido a
uma a uma entidade judiciária ou a um certo órgão de polícia criminal em dias e horas
preestabelecidos.
Esta medida só é aplicável quando o crime imputado ao arguido for punível com pena de
prisão de máximo superior a seis meses, podendo ser cumulativa com outra pena, à
exceção da prisão preventiva e da obrigação de permanência na habitação.
A suspensão do exercício de profissão, de função, de atividade e de direitos prevista
no artigo 199º CPP é aplicável nos casos em que o crime imputado ao arguido for punível
com pena de prisão de máximo superior a 2 anos, e pode ser cumulada com qualquer
outra medida de coação.
A proibição e imposição de condutas prevista no artigo 200º do CPP, é aplicável nos
casos em que haja fortes indícios da prática de crime doloso punível com pena de prisão
no máximo superior a 3 anos, sendo as obrigações cumuláveis entre si e com quaisquer
outras medidas exceto a prisão preventiva ou a obrigação de permanência na habitação.
Esta medida concretiza-se nas obrigações taxativamente enumeradas nas diversas alíneas
do nº1 do artigo 200º do CPP.
A obrigação de permanência na habitação (ou denominada de prisão domiciliária),
prevista no artigo 201º CPP, o pressuposto específico da aplicação da obrigação de
permanência na habitação é a existência de fortes indícios da prática de crime doloso
punível com pena de prisão de máximo superior a 3 anos.
E por fim, a última medida de coação, e mais relevante, a prisão preventiva, prevista no
artigo 202º do CPP, no seio das ciências-jurídico criminais, mais precisamente no campo
do direito processual penal, a prisão preventiva permanece no centro do debate moderno
das instituições jurídicas porque este instituto retira ao indivíduo o seu direito à liberdade,
sem a conclusão de um processo.
Nas medidas de coação existe uma hierarquia em razão da gravidade, sendo que a mais
grave de todas, é a prisão preventiva
11
O artigo 191º Código do Processo Penal (CPP), estabelece condições gerais de aplicação
de medidas de coação, e este preceito tem de estar conjugado com o disposto do artigo
204º do referido código.
Por sua vez, o artigo 204.º do Código do Processo Penal (CPP), consagra os requisitos
gerais de aplicação das medidas de coação que desempenham uma função insubstituível
no processo penal.11
A condição básica para aplicação de uma medida de coação, também chamada de
condição positiva é a prévia constituição do indivíduo como arguido (artigo 192º nº1 e
artigo 58.º do CPP), desde que exitam fortes indícios que o mesmo cometeu um crime.
A condição negativa por sua vez, consiste na inexistência de causas de isenção de
responsabilidade ou de extinção do procedimento criminal (artigo 192º nº6 do CPP).
Como resulta do texto do n. º2 do artigo 192º, “basta a existência de motivos fundados
para crer na existência de causas de isenção da responsabilidade ou de extinção do
procedimento criminal para que a medida de coação não possa ser aplicada.”12
Ora aqui chegados, temos de ter em mente de que existem duas ordens de pressupostos
para a aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial.
10
GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, “Constituição da República Portuguesa, Anotada, Artigos 1º a
107º”, Vol I, 1ª Edição Revista, Coimbra Editora, p.478
11
SOUSA, Elisabete, “Requisitos Gerais de Aplicação das Medidas de Coação”, Editora: Almedina,
2021, p.9.
12
GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, “Constituição da República Portuguesa, Anotada, Artigos 1º a
107º”, Vol I, 1ª Edição Revista, Coimbra Editora, p.292
12
Como vimos no tópico anterior, o arguido tem o dever de se sujeitar a medidas de coação
13
13
Artigo 32º nº2 da Constituição da República Portuguesa: “2 - Todo o arguido se presume inocente até
ao trânsito em julgado da sentença de condenação, devendo ser julgado no mais curto prazo compatível
com as garantias de defesa.”
14
GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, “Constituição da República Portuguesa, Anotada, Artigos 1º a
107º”, Vol I, 1ª Edição Revista, Coimbra Editora, p.516
14
Princípio da Legalidade
15
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, nº SJ200509280018313 de 28-09-2005. In:
15
O Doutor Paulo Pinto Albuquerque, entende que este “princípio consiste em que só pode
ser aplicada medida de coação ou garantia patrimonial prevista na lei e para os fins de
natureza cautelar nela previstos”16
As normas que regulam as medidas de coação e as medidas de garantia patrimonial, são
normas processuais materiais, com exceção das normas respeitantes ao termo de
identidade e residência, por se tratar de uma medida de coação geral, aplicável a todos os
arguidos.
O artigo 191º nº1 do CPP, estabelece que a “liberdade das pessoas” só pode ser
limitada, total ou parcialmente, em função de exigências processuais de natureza cautelar,
pelas medidas de coação previstas na lei.
A expressão “liberdade das pessoas”, tem uma interpretação ampla, abrangendo tanto a
liberdade física de movimentação e deslocação17, que pode ser limitada especialmente
pela prisão preventiva e pela obrigação de permanência na habitação (prisão
domiciliária).
A importância deste princípio é nítida, pois exige a prévia definição dos
pressupostos gerais e especiais, das medidas de coação, não permitindo a criação e
aplicação de medidas diferentes das expressamente previstas na lei, assim afirmando a
transparência do procedimento a observar e afastando a arbitrariedade e o casuísmo, o
que se mostra crucial quando o que está em jogo são os direitos fundamentais dos
cidadãos.
Atualmente, e de acordo com o princípio da legalidade, só podem ser aplicadas as
medidas de coação previstas na lei de forma taxativa, o que significa que só e somente se
podem aplicar as medidas de coação tipificadas nos artigos 196º a 202º do Código do
Processo Penal (CPP), só apenas as medidas referidas neste artigo é que podem restringir
os direitos, liberdades e garantias do arguido (art.18º nº2 da CRP)
O princípio da legalidade incide sobre as medidas de coação, particularmente em relação
à prisão preventiva, quando reclama delimitação das hipóteses de medidas cautelares de
natureza processual penal. Por isso mesmo, pressupõe um numerus clausus de situação
em que a lei a autoriza.
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/f26cbff0474ec694802570ae006223a2?
OpenDocument (Consultado a 23/02/2023)
16
PINTO DE ALBUQUERQUE, Paulo, “Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição
da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, 3ª edição atualizada, Universidade
Católica Editora, 2009, p. 542
17
GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, “Constituição da República Portuguesa, Anotada,
Artigos 1º a 107º”, Vol I, 1ª Edição Revista, Coimbra Editora, p.478.
16
18
MIRANDA, Jorge “Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos Fundamentais” 4ª Edição,
Revista e Atualizada, Coimbra Editora, 2008, p.284
17
19
MARQUES DA SILVA, GERMANO, “Curso de Processo Penal, II,” Editora: Verbo; 2008; p.305
20
PINTO DE ALBUQUERQUE, Paulo, “Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição
da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, 3ª edição atualizada, Universidade
Católica Editora, 2009, p. 568
21
MARQUES DA SILVA, GERMANO, “Curso de Processo Penal, II,” Editora: Verbo; 2008; p.304.
22
PINTO DE ALBUQUERQUE, Paulo, “Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição
da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, 3ª edição atualizada, Universidade
Católica Editora, 2009, p. 547
18
Princípio da Subsidiariedade
O Doutor Paulo Pinto Albuquerque, refere de que existe uma escala de gravidade relativa
das medidas de coação, ordenada, da mais grave para a menos grave, 26 a mais grave das
medidas de coação é a prisão preventiva, devido a ser uma medida que restringe a total
liberdade do arguido, razão pela qual a sua aplicação pautará de acordo com o princípio
da subsidiariedade, isto é, esta medida de coação apenas será aplicada quando as demais
23
MIRANDA, Jorge, “Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos Fundamentais” 4ª Edição,
Revista e Atualizada, Coimbra Editora, 2008, p.282
24
PINTO DE ALBUQUERQUE, Paulo, “Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição
da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, 3ª edição atualizada, Universidade
Católica Editora, 2009, p. 547
25
Artigo 193º do CPP: “2 - A prisão preventiva e a obrigação de permanência na habitação só podem ser
aplicadas quando se revelarem inadequadas ou insuficientes as outras medidas de coação.”
26
ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de “Comentário do Código do Processo Penal Anotado à luz da
Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos Humanos” 3ª edição atualizada, p.548
19
se revelem insuficientes ou inadequadas ao caso concreto (artigos 27º, 28º da CRP e 193º
nº2 e 201º do CPP), normalmente a aplicação desta medida de coação ocorre quando se
verificarem os pressupostos elencados no artigo 202 nº1 do CP, a segunda mais grave é a
obrigação de permanência na habitação, também designada por prisão domiciliária, que
corresponde à medida de coação que se traduz no dever do arguido de não se ausentar
sem autorização, da habitação própria ou de outra em que de momento resida.
Em relação às restantes medidas de coação, são consideradas medidas de coação com
baixo teor de gravidade.
A prisão preventiva e a obrigação de permanência na habitação, são medidas de
coação de uma extrema importância para o princípio da subsidiariedade, porque são duas
medidas subsidiárias que privam a liberdade total do arguido e que só podem ser aplicadas
quando as outras medidas previstas no artigo 196º do CPP se revelem inadequadas ou
insuficientes face às concretas exigências processuais cautelares, tal como refere o artigo
193º nº2 do CPP: “A prisão preventiva e a obrigação de permanência na habitação só
podem ser aplicadas quando se revelarem inadequadas ou insuficientes as outras
medidas de coação.”
A Doutora Maria João Antunes, revela a sua opinião sobre a aplicação destas
medidas e explica que efetivamente, a prisão preventiva e a obrigação de permanência na
habitação não devem de ser aplicadas de imediato mas sim em ultima racio, porque o que
está aqui em causa é a privação total da liberdade do arguido, “expressa-se aqui o
princípio político-criminal da privação da liberdade como ultima racio da política
criminal, bem como a preferência legal quanto à obrigação de permanência na
habitação.”27
Ora, sabemos de que a prisão preventiva é uma medida de privação total da
liberdade do arguido, neste contexto, o artigo 28º nº2 estabelece que “a prisão preventiva
tem natureza excecional, não sendo decretada nem mantida sempre que possa ser
aplicada caução ou outra medida mais favorável prevista na lei.” Ora, deste preceito
entendemos que a nossa Lei Fundamental protege o direito à dignidade da pessoa humana,
isto significa que se exige que no processo se examine se subsiste outra medida de coação
menos gravosa para se aplicar ao indivíduo que se presume de inocente.28,
O Doutor Pinto Albuquerque refere que se deve se examinar a possibilidade de se aplicar
27
ANTUNES, Maria João; “Direito Processual Penal”, Coimbra, Almedina, 2016. p.139
28
Em conformidade com o Princípio da Presunção de Inocência, todo o arguido se presume de inocente
até sobrevir uma sentença condenatória confirmada em grau de recurso.
20
Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos Humanos” 3ª edição atualizada, p.548
21
Bibliografia