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EXTENSÃO DE NACALA
NACALA-PORTO
2023
1
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
EXTENSÃO DE NACALA
ANTÓNIA V. PEREIRA
LUCAS SENDELA
JUSTINO M. ANTÓNIO
NACALA-PORTO
2023
2
Índice
Introdução ..................................................................................................................4
Conclusão .................................................................................................................15
3
Introdução
Uma das características da norma jurídica é a generalidade, o que quer dizer que a lei é
aplicável a todos os indivíduos, ou seja, o sistema jurídico fixa a obrigatoriedade da lei a todos
que se encontrem no seu território, sem qualquer distinção pessoal, tendo aplicabilidade erga
omnes.
Contudo, a aplicabilidade erga omnes da lei penal possui limites diante de princípios
advindos da própria Constituição, a qual, se por um lado, consagra o princípio da igualdade, por
outro, concede atributos e funções a determinados cargos públicos, cujo exercício tornaria
inviável, caso a incidência do referido princípio não fosse ponderada.
Assim, o presente trabalho debruça-se sobre a aplicação da lei penal quanto as pessoas
tendo em conta as excepções ou limites estabelecidos pela própria constituição. Este tem como
objectivo trazer um estudo sintetizado sobre a aplicabilidade da lei penal aos estudantes de
direito como principais utilizadores.
Objectivo geral:
Objectivos específicos:
Excepções diplomáticas
Para elaboração deste trabalho foi utilizada a metodologia de base que consistiu na
revisão Bibliográfica de diversos autores que versam sobre a matéria em causa, alguns artigos da
internet relacionados com o tema bem como a legislação moçambicana que de forma inegável
não se poderia deixar de fora.
4
CAPITULO I: NOÇÕES GERAIS
Segundo Noronha1 Direito Penal “é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder
punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicáveis a quem
os pratica.
Indubitavelmente, que o Direito Penal assim como outras áreas do saber goza da
prerrogativa de distintos conceitos de diversos autores, como se discute sempre que o Direito é
mutável consoante a sociedade. Todavia, atribui-se ao conjunto de normas jurídicas que ligam a
uma conduta/comportamento humanos em que tais condutas resultem no crime, determinado
como consequências jurídicas privativas desse ramo de direito.3
Portanto, o doutrinário classifica como uma das consequências mais relevantes, seja a
pena, a qual só pode ser aplicada ao agente do crime caso tenha agido com culpa disposto ao
abrigo do artigo 59˚ do CP e seguintes. Contrariamente, as penas temos as medidas de segurança
que não pressupõem a culpa do agente, mas sim o seu estado de perigosidade, previsto no artigo
95˚ do CP.4
1
NORONHA, E. Magalhães (1906-1982). Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1991. Pag.12
2
PIZZARO, Teresa Beleza, Direito Penal, V. I, 2ª ed., Lisboa-Portugal, 1998.
3
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal-Parte Geral: Questões de Fundamentais a doutrina geral do crime,
Tomo I, 2ª ed., Coimbra Editora, 2007, p. 3
4
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei no 24/2019 de 24 de dezembro: código Penal, in Boletim da República.
5
1.2. Diferença do Direito Penal ou Direito Criminal
Primeiramente importa referir que, a nível da doutrina assim como da própria lei, tem-se
discutido a respeito da terminologia que se deve usar, Direito Penal ou Direito Criminal. Dispõe-
se como Direito Criminal ao conjunto de normas jurídicas que fixam os pressupostos de
aplicação de determinadas reações legais, tais reações criminais englobam as penas e as medidas
de outro tipo, outrora, designadas de medidas de segurança.
Esta questão não tem grande importância, a única argumentação que se pode fazer é que
se falamos em Direito Penal pode considerar-se que estão de fora as medidas de segurança, e,
portanto, não abrangia esta zona importante deste ramo do Direito. Por outro lado, ao usarmos a
terminologia Direito Criminal, há uma referência a um crime com sentido subjectivo, do qual a
pessoa é culpada, o que exclui a aplicação do ramo do direito aos inimputáveis.
Por fim, o nosso legislador optou por lhe tratar como Direito penal por que a norma
responsável pela regulação do sistema jurídico chama-se Código Penal.6
5
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Almedina editora, Coimbra-Portugal, 1993, p. 1.
6
SOUSA, Elísio de, Direito penal de Moçambique, Escolar editora, 2012.
6
CAPITULO II: APLICAÇÃO DA LEI QUANTO ÀS PESSOAS
2.1. Preliminares
Dissemos anteriormente que a lei é aplicável a todos os indivíduos sem distinção pessoal,
mas que a lei penal em particular possui limites diante de princípios advindos da própria
Constituição, ou seja, quanto a aplicação da lei penal, verificam-se algumas excepções à
determinadas pessoas que desempenham algumas funções públicas.
A nossa Constituição consagra que “Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam
dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo
(…) profissão ou opção política7.
Olhando para o princípio acima surge uma pergunta que de certa forma é pertinente: se a
constituição consagra o princípio da universalidade e igualdade porquê então haver excepções
quanto à aplicação da lei penal, ou seja, não estaríamos perante uma violação da Constituição?
A resposta para esta pergunta nos é dada pela Professora Teresa Pizarro Beleza ao
afirmar que “… estas eventuais excepções são feitas pela própria Constituição e portanto não se
levantará o problema de inconstitucionalidade…8
A mesma pergunta é respondida por Eduardo Correia9 e segundo este “há todavia excepções,
umas vezes impostas para garantir a dignidade e independência de certas pessoas e funções,
outras por razões diplomáticas ou de direito internacional.
7
Cfr. Princípio da Universalidade e Igualdade consagrado no Artigo 35 da CRM
8
Cfr. BELEZA, Teresa Pizarro. Direito Penal. Vol. I. 2ª Ed. Lisboa, P 506
9
Cfr. CORREIA, Eduardo. Direito Criminal. Vol. I Almedina. P 189 - 190
7
Entretanto, é por nós sabido que na hierarquia das normas encontramos primeiro a
Constituição, as leis ordinárias, os decretos e outros actos normativas, mas que todas normas
devem estar de acordo com a constituição como a lei fundamental, daí entende-se que quanto as
excepções da aplicação da lei penal não se verifica nenhuma violação, pois a própria constituição
é que consagra estas excepções, como é o caso das infracções praticadas pelo Presidente da
República consagrados no artigo 153 da CRM, dos Deputados da Assembleia da República
consagrados nos artigos 174 e 175 nº 1 ambos da CRM.
Vamos de seguida analisar cada uma das excepções que a Constituição consagra nos seus
articulados, concretamente as excepções substantivas político-constitucionais, as excepções
processuais ou adjectivas e as excepções diplomáticas, mas antes vamos perceber o sentido das
imunidades.
Imunidades jurídicas são situações nas quais o ordenamento jurídico protege pessoas que
estão em determinadas situações. Essas pessoas deixam de estar vinculadas a obrigações de
alcance geral.
8
2.1.3 Imunidades Processuais ou Formais
10
Cfr. Nº 1 do artigo 146 da CRM
11
Cfr. Nº 1 do Artigo 153 ibdem
9
Por outro lado, segundo o nº 3 do artigo 153 da Constituição, “cabe a Assembleia da
República requerer ao Procurador-Geral da República o exercício da acção penal contra o
Presidente da República, por proposta de pelo menos um terço e aprovado por maioria de dois
terços dos Deputados da Assembleia da República”.
Fica aqui claro que o processo de responsabilização do Presidente da República não cabe
ao Ministério Público12 como guardião da legalidade, mas sim da Assembleia da República.
12
Nos termos do artigo 4 nº 1 alínea b) cabe ao Ministério Público zelar pela observância da
Legalidade e fiscalizar o cumprimento das leis e demais normas legais
13
Cfr. Nº 3 do artigo 153 da CRM
10
De acordo com a nossa lei fundamental “os Deputados da Assembleia da República não
podem ser processados judicialmente, detidos ou julgados pelas opiniões ou votos emitidos no
exercício da sua função de Deputado14. Entende-se aqui como por exemplo que um deputado que
interpele outro de uma maneira insultuosa em princípio não pode ser objecto de um processo por
injúria – e poderia se isso acontecesse no meio da rua, sem estar numa sessão da Assembleia da
República15.
Por outro lado, a Constituição estabelece que “Nenhum Deputado pode ser detido ou
preso, salvo em caso de flagrante delito, ou submetido a julgamento sem consentimento da
Assembleia da República16. (Isto quer dizer, por exemplo que, que se um Deputado à Assembleia
da República fosse encontrado a praticar um crime de homicídio voluntário, ele poderia ser
imediatamente preso, sem ser necessário pedir autorização à Assembleia da República….)17
Há aqui que ressalvar que a imunidade dos Deputados é levantada quando este cometa
um ilícito criminal de injúria, difamação ou calúnia18
Em relação aos juízes há uma disposição especial quanto à sua responsabilidade. O artigo
217 refere que no exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem
obediência à lei, os mesmos tem igualmente as garantias de imparcialidade e irresponsabilidade.
14
Cfr. Nº 1 do artigo 175 CRM
15
Exemplo dado pela Professora BELEZA, Teresa Pizarro. Direito Penal. Vol. I. 2ª Ed. Lisboa, P.507
16
Cfr. Nº 1 do artigo 174 CRM
17
Exemplo dado pela Professora Teresa Pizarro Beleza, ob cit. P 507
18
Cfr. Nº 2 do artigo 175 nº 2
19
Cfr. Nº 2 do artigo 218 da CRM
20
Cfr. Teresa Pizarro Beleza, ob cit. P 507
11
2.3. Excepções Processuais ou Adjectivas
Quanto aos membros do governo que não podem ser detidos ou presos sem autorização
do Presidente da República, salvo em caso de flagrante delito e por crime doloso a que
corresponda pena de prisão maior21
21
Cfr. Nº 1 do artigo 211 da CRM
12
São sujeitos das excepções diplomáticas22:
22
Cfr. Professor Ney Góes. http://direitoavulso.spaceblog.com.br/1508485/LIMITE-DE-APLICACAO-DA-
LEI-PENAL-EM-RELACAO-AS-PESSOAS/ 11: 40h 08 De Marco
13
De acordo com a teoria da extraterritorialidade absoluta, a sede da embaixada é
considerada território estrangeiro. Nos termos da teoria da territorialidade relativa, a embaixada é
considerada parte do território do país do sujeito activo do delito. Hoje, entretanto, para o Direito
Penal, essas doutrinas se encontram superadas. A sede da representação não é considerada
extensão do território estrangeiro.
14
Conclusão
Em jeito de conclusão pode se dizer que a lei penal é aplicável à todas as pessoas, tanto a
figura do Presidente da República, dos Deputados e outros, mas constituição apenas consagra as
modalidades especiais de sua aplicação.
15
Referencias Bibliográficas
Legislação:
Doutrina:
Internet:
16