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Faculdade de Recursos Florestais e Faunísticos

Inês De Luís Norberto Alique

Aplicação da Lei quanto às Pessoas

(Licenciatura em Direito)

Lichinga

02/04/2024
Faculdade de Recursos Florestais e Faunísticos

Inês De Luís Norberto Alique

Aplicação da Lei quanto às Pessoas

(Licenciatura em Direito)

O presente trabalho de carácter


avaliativo que será submetido na
cadeira de Sociologia Jurídica,
sub-autorização de Dr: Célio
Variegue

Lichinga

02/04/2024
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Índice
1 Introdução.........................................................................................................................5

1.1. Objectivos:......................................................................................................................5
1.2. Geral:...............................................................................................................................5
1.3. Específicos......................................................................................................................5
1.4. Metodologia....................................................................................................................5
2 Aplicação da Lei quanto às Pessoas.................................................................................6

2.1. Preliminares........................................................................................................................6
2.2. Imunidades Jurídicas.......................................................................................................7
3.2. Das Excepções Parlamentares.............................................................................................8
3.3. Das Excepções dos Juízes...................................................................................................9
4. Excepções Processuais ou Adjectivas.....................................................................................9

6. Conclusão.......................................................................................................................11

7. Bibliografia.....................................................................................................................12
5

1 Introdução

Uma das características da norma jurídica é a generalidade, o que quer dizer que a lei é
aplicável a todos os indivíduos, ou seja, o sistema jurídico fixa a obrigatoriedade da lei a
todos que se encontrem no seu território, sem qualquer distinção pessoal, tendo
aplicabilidade erga omnes.

Contudo, a aplicabilidade erga omnes da lei penal possui limites diante de princípios
advindos da própria Constituição, a qual, se por um lado, consagra o princípio da igualdade,
por outro, concede atributos e funções a determinados cargos públicos, cujo exercício
tornaria inviável, caso a incidência do referido princípio não fosse ponderada.
Assim, o presente trabalho debruça-se sobre a aplicação da lei penal quanto as pessoas tendo
em conta as excepções ou limites estabelecidos pela própria constituição. Este tem como
objectivo trazer um estudo sintetizado sobre a aplicabilidade da lei penal aos estudantes de
direito como principais utilizadores

1.1. Objectivos:

1.2. Geral:
 Compreender a aplicação da Lei Penal quanto às Pessoas
1.3. Específicos:
 Identifficar as excepções substantivas político-administrativas;
 Descrever as excepções processuais ou adjectivas; e
 Analisar Excepções diplomáticas

1.4. Metodologia
Para o sucesso deste trabalho foi utilizada a metodologia de base que consistiu na revisão
bibliográfica de diversos autores que versam sobre a matéria em causa, alguns artigos da
internet relacionados com o tema bem como a legislação moçambicana que de forma
inegável não se poderia deixar de fora.
6

2 Aplicação da Lei quanto às Pessoas

2.1. Preliminares
Dissemos anteriormente que a lei é aplicável a todos os indivíduos sem distinção pessoal,
mas que a lei penal em particular possui limites diante de princípios advindos da própria
Constituição, ou seja, quanto a aplicação da lei penal, verificam-se algumas excepções à
determinadas pessoas que desempenham algumas funções públicas.

A nossa Constituição consagra que “Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos
mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo
(…) profissão ou opção política1.

Olhando para o princípio acima surge uma pergunta que de certa forma é pertinente: se a
constituição consagra o princípio da universalidade e igualdade porquê então haver
excepções quanto à aplicação da lei penal, ou seja, não estaríamos perante uma violação da
Constituição?

A resposta para esta pergunta nos é dada pela Professora Teresa Pizarro Beleza ao afirmar
que “… estas eventuais excepções são feitas pela própria Constituição e portanto não se
levantará o problema de inconstitucionalidade,

A mesma pergunta é respondida por Eduardo Correia3 e segundo este “há todavia excepções,
umas vezes impostas para garantir a dignidade e independência de certas pessoas e
funções, outras por razões diplomáticas ou de direito internacional.

Entretanto, é por nós sabido que na hierarquia das normas encontramos primeiro a
Constituição, as leis ordinárias, os decretos e outros actos normativas, mas que todas normas
devem estar de acordo com a constituição como a lei fundamental, daí entende-se que
quantas as excepções da aplicação da lei penal não se verifica nenhuma violação, pois a
própria constituição é que consagra estas excepções, como é o caso das infracções praticadas
pelo Presidente da República consagrados no artigo 153 da CRM, dos Deputados da
Assembleia da República consagrados nos artigos 174 e 175 nº 1 ambos da CRM.

Na verdade, o sistema jurídico-penal concedeu imunidades ou excepções a determinadas


funções públicas, justamente para viabilizar o seu exercício. Em que pesem as discussões a
respeito do tema, a imunidade penal não é vista como privilégio, mas um mecanismo jurídico
para assegurar as garantias e os direitos fundamentais estipulados na Constituição, bem como
respeitar o exercício da soberania dos demais Estados.
7

Vamos de seguida analisar cada uma das excepções que a Constituição consagra nos seus
articulados, concretamente as excepções substantivas político-constitucionais, as excepções
processuais ou adjectivas e as excepções diplomáticas, mas antes vamos perceber o sentido
das imunidades.

2.2. Imunidades Jurídicas


Imunidades jurídicas são situações nas quais o ordenamento jurídico protege pessoas que
estão em determinadas situações. Essas pessoas deixam de estar vinculadas a obrigações de
alcance geral.

2.3. Imunidades penais ou materiais

As imunidades penais ou materiais são espécies de imunidades jurídicas, que deixam


determinadas categorias de pessoas fora do alcance da lei penal. Essa imunidade pode ser
total, que exclui a pessoa, de forma absoluta, do alcance do Direito Penal, como é o caso dos
diplomatas; ou parcial, que a exclui apenas de uma ou algumas normas do ordenamento
jurídico-penal, como é o caso dos parlamentares.

2.4. Imunidades Processuais ou Formais

Imunidades processuais ou formais dizem respeito apenas a normas de Direito Processual


Penal, aplicadas de forma diversa a determinas categorias de pessoas. Exemplo disso é o foro
por prerrogativa de função, segundo o qual diversos agentes políticos devem ser julgados em
juízos diversos dos previstos para as pessoas comuns. Não se pode confundir essa imunidade
com a penal, pois, além de dizerem respeito a normas de natureza diversa, nem sempre o
agente que conta com uma imunidade terá outra. O prefeito, por exemplo, deve julgado ser
julgado no Tribunal de Justiça de seu Estado (imunidade processual), mas deve obedecer
integralmente às normas de Direito Penal.

3. Excepções Substantivas Político-constitucionais

Dentro destas excepções encontramos as da figura do Presidente da República, dos


Parlamentares ou Deputados da Assembleia da República e dos Juízes.

3.1. Das excepções do Presidente da República

Na República de Moçambique "o Presidente da República é o Chefe do Estado, simboliza a


unidade nacional, representa a Nação no plano interno e internacional e zela pelo
funcionamento correcto dos órgãos do Estado".
8

Quanto a esta figura do Presidente da República, relativamente ao Direito Penal, a nossa


Constituição estabelece que por crimes praticados no exercício das suas funções, este
responde perante o Tribunal Supremo5. Entende-se aqui que a aplicação da lei penal a esta
figura é diferente em relação as demais pessoas, pois para a figura do Presidente da
República o julgamento será por conta do Tribunal Supremo, mas para os demais nos
Tribunais Comuns isso quando os crimes forem cometidos no exercício das suas funções.

Por outro lado, segundo o nº 3 do artigo 153 da Constituição, “cabe a Assembleia da


República requerer ao Procurador-Geral da República o exercício da acção penal contra o
Presidente da República, por proposta de pelo menos um terço e aprovado por maioria de
dois terços dos Deputados da Assembleia da República”.

Fica aqui claro que o processo de responsabilização do Presidente da República não cabe ao
Ministério Público6 como guardião da legalidade, mas sim da Assembleia da República

Um outro dado importante da responsabilização do Presidente da República é em relação aos


crimes praticados fora do exercício das suas funções. Nesta situação a Constituição consagra
que “Pelos crimes praticados fora do exercício das suas funções, o Presidente da República
responde perante os tribunais comuns, no termo do mandato7.

Estas são as especialidades da responsabilidade criminal da figura do Presidente da


República, ou seja, a especialidade da aplicação da lei penal quanto à pessoa do Presidente da
República.

3.2. Das Excepções Parlamentares


As imunidades parlamentares compõem a prerrogativa que assegura aos deputados a mais
ampla liberdade de palavra, no exercício de suas funções, e os protege contra abusos e
violações por parte dos outros poderes constitucionais, ou seja, “para que o Poder
Legislativo, em sua totalidade, e seus membros, individualmente, possam actuar com
liberdade e independência, a Constituição outorga algumas prerrogativas e, entre elas, as
imunidades.

De acordo com a nossa lei fundamental “os Deputados da Assembleia da República não
podem ser processados judicialmente, detidos ou julgados pelas opiniões ou votos emitidos
no exercício da sua função de Deputado8. Entende-se aqui como por exemplo que um
deputado que interpele outro de uma maneira insultuosa em princípio não pode ser objecto de
um processo por injúria – e poderia se isso acontecesse no meio da rua, sem estar numa
sessão da Assembleia da República9.
9

Por outro lado, a Constituição estabelece que “Nenhum Deputado pode ser detido ou preso,
salvo em caso de flagrante delito, ou submetido a julgamento sem consentimento da
Assembleia da República10. (Isto quer dizer, por exemplo que, que se um Deputado à
Assembleia da República fosse encontrado a praticar um crime de homicídio voluntário, ele
poderia ser imediatamente preso, sem ser necessário pedir autorização à Assembleia da
República….)

Há aqui que ressalvar que a imunidade dos Deputados é levantada quando este cometa um
ilícito criminal de injúria, difamação ou calúnia12.

3.3. Das Excepções dos Juízes


Em relação aos juízes há uma disposição especial quanto à sua responsabilidade. O artigo
217 refere que no exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem
obediência à lei, os mesmos tem igualmente as garantias de imparcialidade e
irresponsabilidade.

Porém há situações em que os juízes põem ser responsabilizados criminalmente no exercício


das suas funções13. "É o caso por exemplo por exemplo do crime de prevaricação. Quando
um juiz, digamos, de má fé, condena, ele pode ser objecto de processo-crime de prevaricação,
nos termos do Código Penal 14".

4. Excepções Processuais ou Adjectivas


As excepções adjectivas ou de direito processual dizem respeito as normas de procedimento
processual para a responsabilização criminal. Verifica-se no entanto o caso do Presidente da
República que só pode ser julgado pelo Tribunal Supremo quando comenta crimes dentro do
exercício das suas funções e pelos tribunais comuns no fim do mandato quando cometa
crimes fora do exercício das suas funções.

Quanto aos membros do governo que não podem ser detidos ou presos sem autorização do
Presidente da República, salvo em caso de flagrante delito e por crime doloso a que
corresponda pena de prisão maior 15 .
10

5. Excepções Diplomáticas

De acordo com Eduardo Correia16, as excepções diplomáticas podem se enquadrar no


princípio da extra-territorialidade, assim:

a) É costume e prática internacional que os chefes de Estado estrangeiros, quando não


viagem incógnita, e pratiquem factos criminais, não possam ser punidos, devendo apenas
estrangeiro), mas em função da imunidade dos representantes. Assim, cometida uma
infracção nesses locais por pessoa que não goza da imunidade, o facto fica sujeito à
jurisdição territorial. Os delitos cometidos nas representações diplomáticas serão alcançados
pela lei moçambicana se praticados por pessoas que não gozem da imunidade.

De acordo com a teoria da extraterritorialidade absoluta, a sede da embaixada é considerada


território estrangeiro. Nos termos da teoria da territorialidade relativa, a embaixada é
considerada parte do território do país do sujeito activo do delito. Hoje, entretanto, para o
Direito Penal, essas doutrinas se encontram superadas. A sede da representação não é
considerada extensão do território estrangeiro
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6. Conclusão
Chegado a este ponto , compreendeu-se que , a aplicação da lei penal quanto às pessoas
pudemos ver que o princípio geral da aplicação da lei penal é o da igualdade e da
universalidade, o que quer dizer que a lei penal é aplicável à todos cidadãos sem distinção
pessoal. Porém, para garantir a dignidade e independência de certas pessoas e funções e
outras vezes por razões diplomáticas, a constituição consagra algumas excepções quanto à
aplicação desta lei. No entanto, a excepção do princípio da igualdade que consubstancia uma
violação da lei, pois a própria lei fundamental é que consagrou estes preceitos e como é
sabido todos actos normativos devem obediência em primeira instância à Constituição.

Todavia, a constituição consagra um tratamento especial quando se trate da figura do


Presidente da República, dos Deputados da Assembleia da República, dos Juízes, dos
Diplomatas e demais pessoas. Quanto a figura do Presidente da República a constituição
estabelece que quando este pratique crimes dentro do exercício das suas funções será julgado
pelo tribunal supremo e fora do exercício das suas funções pelos tribunais comuns.

Contudo, as imunidades parlamentares compõem a prerrogativa que assegura aos deputados a


mais ampla liberdade de palavra, no exercício de suas funções, e os protege contra abusos e
violações por parte dos outros poderes constitucionais As excepções diplomáticas podem se
enquadrar no princípio da extra-territorialidade, estas surgem no âmbito do direito
internacional público.Em sintese, pode se dizer que , a lei penal é aplicável à todas as
pessoas, tanto a figura do Presidente da República, dos Deputados e outros, mas constituição
apenas consagra as modalidades especiais de sua aplicação.

.
12

7. Bibliografia
A. Doutrina

BELEZA, Teresa Pizarro. Direito Penal. Vol. I. 2ª Ed. Lisboa

CORREIA, Eduardo. Direito Criminal. Vol. I Almedina

Professor Ney Góes. http://direitoavulso.spaceblog.com.br/1508485/LIMITE-DE-


APLICACAODA-LEI-PENAL-EM-RELACAO-AS-PESSOAS/ 11: 40h 12 de Agosto

B. Legislação

Constituição da República de Moçambique de 2004

Lei nº 22/2007, de 1 de Agosto – Lei Orgânica do Ministério Público

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