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ILICITUDE NA COMPARTICIPAÇÃO
Hermenegildo Da Silva
(Advogado Estagiário e Docente Universitário)
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SUMÁRIO
• Resumo;
• Introdução;
• Conceito de ilicitude e comparticipação;
• Crimes específicos;
• Qualidades e relações pessoais do agente;
• Tipos de tipicidade aplicável aos agentes do facto típico;
• Análise do artigo 26.º do Código Penal;
• Considerações finais;
• Recomendações.
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RESUMO
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INTRODUÇÃO
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que fundamentam a criação dessa lei – especificamente deste artigo – o
senso de justiça que deva norteiar todo o aplicar da regra jurídica 1.
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Preferimos, tal como José de Oliveira Ascensão in O Direito – Introdução e
Teoria Geral, 13ª Edição, Almedina Editora, 2016, pág. 239-493/494, a expressão
regra jurídico a norma jurídico por ser mais abrangente e não se circunscrever -
tão-somente – a conduta geral, abstrata, imperativa e sancionatória. Diz
Ascensão “a referência à norma jurídica, mais que à regra, está solidamente
assente na ciência jurídica portuguesa. É possível que haja aqui uma influência
germânica, directa ou indirectamente: die Normen forma sempre um dos temas
predilectos de meditação dos juristas alemães. (...) Neste termos seria mais
adequado falar em regra jurídica que em norma jurídica, para ir ao encontro da
linguagem corrente. A regra se empresta um acento mais determinante. A regra
jurídica pode assim ser caracterizada como um critério de qualificação e decisão
de casos concretos.
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humano, civilizado e justo. Este é o nosso simples contributo à ciência
jurídico-penal angolana enquanto eterno aprendizes do Direito Penal.
Adverte-se que, todo o artigo que não for descriminado a lei, refere-
se a Lei n.º 38/20, de 11 de Novembro que aprova o Código Penal
Angolano.
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1. DA MATÉRIA CONCEPTUAL
1.1 Ilicitude
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Não é tarefa fácil conceituar infracção penal. Fácil é apresentar, de forma
holística, os seus elementos, mas nos vamos arriscar.
A infracção penal em sentido formal vinha sendo regulado no artigo 1.º
do CP 86. Ela é vista como contrariedade de um comportamento aos parâmetros
delineados pela lei penal. Em sentido formal, a infracção é uma conduta
desobediente, que nega os valores que o Estado afirma, usando uma premissa
da dialética Hegeliana.
A infracção penal em sentido material é vista como toda a conduta que
cause danosidade social. Não basta que seja contrária, é crucial que o facto lese
ou põe em perigo de lesão bens jurídicos fundamentais à vida em sociedade.
Em sentido técnico-jurídico, a infracção penal é um facto humano que
coincide com o modelo descrito na previsão da lei penal, lesivo de interesses
sociais juridicamente tutelados e cometido com culpa. Se virmos bem, é a
aglutinação do sentido formal e material, ou seja, da contrariedade da conduta
humana/típica/ilícita/culposa (elementos da infracção penal, ressalvando a
punibilidade para alguns autores) que, necessariamente, lesa ou põe em perigo
de lesão de bens jurídicos.
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quando na acção típica não intervém causas de exclusão e/ou justificação,
por exemplo, legítima defesa e estado de necessidade.
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A jeito de conceito, o desvalor da acção é a violação de um dever jurídico-
penal de forma dirigida intencionalmente a essa violação sem ter em conta o
resultado. Trata-se de uma dimensão do juízo de ilicitude que incide sobre a
acção do agente. É, como exemplifica Welzel, o caso de um carteirista que, com
intenção de furtar, introduz a mão no bolso da vítima, mas o bolso está vazio.
Ou, no artigo 20.º, o caso de punição da tentativa.
Por seu turno, o desvalor do resultado respeita à lesão ou perigo de lesão
de bens jurídicos, à materialização da violação do dever jurídico. O juízo de
ilicitude incide sobre o resultado. Se pegarmos o homicídio negligente previsto
no artigo 152.º, veremos que o desvalor da acção é a violação da regra da
ilicitude, a violação do dever de diligência; o desvalor do resultado consiste em
tirar a vida.
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comportamento humano que viola um tipo incriminador (aqueles que
estabelecem crimes-penas, estado de perigosidade criminal-medidas de
segurança e as suas agravantes) e não exista um tipo justificador (causas
que justificam a ilicitude previstas no artigo 30.º e diplomas avulsos).
Neste caso, para que uma conduta seja ilícita, é importante que ela
infringe um tipo incriminador e não lhe assiste causas que justifiquem
essa ilicitude. Caso exista causas de justificação e/ou exclusão, a conduta
que era indiciada como ilícita, tornar-se-á lícita. Esse é o esquema para
que possamos configurar um comportamento como ilícito, ou seja, não
basta que seja contrário a lei penal, é também necessário que não
concorrem causas que possam justificar esse comportamento.
4
Cfr. Direito Penal, Coimbra Editora, 2ª Edição, 2011, pág. 330 e seguintes.
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“Vide” Direito Penal, 2ª Edição, Coimbra Editora, Agosto de 2007.
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1.2 Comparticipação
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especial ao agente como se de um “intuitu personae” se tratasse. É o caso
da qualidade de funcionário público no crime de peculato (art. 362.º).
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Na esteira de FIGUEIREDO DIAS, o crimes específicos têm de decisivo o dever
especial que recai sobre o autor, não a posição do autor de onde este dever
resulta. Por isso, pode haver crimes específicos que não contenham, ao menos
de forma expressa, elementos típicos do autor, antes se limitando a descrever a
situação de onde resulta o dever especial (cf., v.g., o art. 208.º que incrimina a
omissão de auxílio). O estudo dos crimes específicos tem aplicação prática
sobretudo na matéria da comparticipação e as suas implicações jurídico-penais
e erro sobre objecto nos termos dos artigos 14.º, 20.º a 27.º.
9 Ilicitamente Comparticipando – O Âmbito de Aplicação do Art. 28.º do Código
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agente para fundamentar a ilicitude do facto. Embora a lei coloca como
uma “possibilidade”.
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De tudo quanto se disse, o artigo 26.º se apresenta de carácter
inovador e elimina, em parte, que agentes que tenham participado na
realização de um facto e, a princípio, não tenham a qualidade exigida para
preencher o tipo penal incriminador (pense no peculato e na prevaricação)
possam ser responsabilizados nessa qualidade caso o outro agente que
tenha essa qualidade exigida pelo tipo cometa o facto. Essa qualidade, na
linguagem da lei, comunica-se entre os agentes. Logo, a punição será
como se detentor desta qualidade se tratasse. Repetimos que, mais do
que a simples comunicação, exigir-se-ia o conhecimento destas
qualidades, enfim, talvez em uma próxima revisão da lei penal.
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Referências Bibliográficas
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