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Introdução

O presente trabalho visa falar da Interpretação, Integração e aplicação da lei penal no


tempo, partindo dos conceitos básicos Interpretação, integração e da aplicação da lei
penal no tempo, a vigência e ineficácia da lei no tempo, os princípios da aplicação da lei
no tempo. Contudo, o presente trabalho tem em vista, evidenciar a lei penal a ser
aplicada em cada caso, e porem, elucidar sobre o tempo em que a lei penal deve ser
aplicada, e as condições circunstanciais em que a mesma não pode ser aplicada.

Objetivos:

Objetivo Geral:

 Estudar a Interpretação, integração e aplicação da Lei penal no tempo

Objetivos específicos:

 Definir a aplicação da lei penal no tempo;


 Identificar os princípios da aplicação da Lei penal no tempo;
 Descrever e explicar os princípios da aplicação da lei penal no tempo.

Metodologia

Para elaboração do presente trabalho foi pertinente o uso da consulta bibliográfica,


revistas publicadas, legislação e artigos disponibilizados na internet de modo a garantir
a fiabilidade dos conteúdos.
Interpretação e integração da lei penal

A interpretação não é uma questão nova e nem exclusiva da ciência do Direito penal.
Esta, está ligada não só ao Direito em geral como também a outras e demais ciências
não jurídica. A questão da interpretação de preceitos já é discutida desde os primórdios
da humanidade tendo como objeto diversos texto, os escritos sagrados.

Porém como em qualquer ramo do saber, é sempre necessário perceber as regras da


interpretação no nosso objeto de estudo que é a ciência do Direito penal. Sabemos que a
interpretação em Direito pode ser histórica, sistemática, atualista, lógica, politico-
criminal, extensiva, restritiva, declarativa e outros que nos remetem o estudo aos
manuais de introdução ao Estudo de Direito, onde essas são analisadas com a devida
minúcia. Todavia iremos debruçar sobre aqueles que têm relevância para o direito penal.
Os quais são: o método Teleológico ou Finalista, a Analogia, interpretação Extensiva,
Interpretação Restritiva e Declarativa, o princípio Interpretativo In Dúbio Pro Reo, e
Interpretação individualizadora.

Método Teleológico ou Finalista

Assenta na doutrina do bem jurídico ou a chamada jurisprudência dos interesses. Este


método consiste ainda na procura de soluções com base no caso a caso. Solução
casuística de harmonia com o espírito da lei.

Analogia

Em Direito Civil a Analogia é uma forma de integração das lacunas por força do artigo
6° que diz, A ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu
cumprimento nem inseta as pessoas das sanções nelas estabelecidas, conjugado com
artigo 10° que fundamenta que, n°1, os casos que a lei não preveja são reguladas
segundo a normas aplicavel aos casos analogos,n° 2, há analogia sempre que no caso
omisso procedam as razões justificativas da regulamentação do caso previsto na lei, e
n°3 na falta de caso analogo, a situação é resolvida segundo a norma que o propria
intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema. ambos do C.
Civil. Conjugado ainda com artigo 11° do C. Civil, que dispõe, as normas excepcionais
não comportam aplicação analógica, mas admitem interpretação Extensiva. Porém em
Direito penal as coisas não se passam taxativamente da mesma maneira. Por que vimos
anteriormente que uma das características que distinguiam o Direito Civil do Penal era
que no direito penal emana o princípio da culpa é da responsabilidade subjetiva.
Segundo Eduardo Correia, em termos genéricos é a visão normativa do Direito que
considera sua única fonte a vontade do legislador expressamente declarada. Quer dizer,
é um afloramento ao principio nullum crimen Sine lege, que por via disse é
expressamente proibida a Analogia em Direito penal.

Em Direito penal as normas não só tem um caráter sancionatório mas também acarretam
uma faculdade intimidatório para permitir que a pena tenha o desejável carácter de
prevenção. A proibição da analogia também está ligada à segurança dos cidadãos pois
que ao ser permitida poderia levar a que o Direito penal fosse usado como instrumento
de repressão e perseguição de pessoas uma vez que os aplicadores da lei poderiam
computar condutas outrora lícitas em ilícitas através de uma interpretação analógica.
Alguns autores por via disso afirma que em Direito penal a Analogia é perigosa e nós
concordamos pelos fundamentos acima.

Na nossa legislação essa proibição está prevista no artigo 7° do C. Penal, onde


preceitua, não é admissível a interpretação Extensiva ou recursos à Analogia ou por
indução por paridade, ou maioria de razão, para qualificar fato como crime, definir um
estado de preciosidade ou determinar a pena ou medida de segurança que lhes
corresponde.

Interpretação Extensiva

Está consiste essencialmente em estender o pensamento do legislador para além dos


limites literais do comando legal.

Devemos sempre partir do principio da legalidade que impera no Direito penal. A


interpretação Extensiva implicaria dizer mais do que o legislador disse, ou por outra,
prever situações não escritas na lei criminal. Esta é uma questão de solução controversa.
Pois que os autores debruçam-se abundantemente e chegam a soluções diferentes em
que, de forma muitíssimo resumida, a posição do prof. Eduardo Correia, coadjuvado o
prof Beleza Dos Santos, é de que a interpretação em Direito penal é admissível desde
que não transcenda a tipificação criminal, o que quer dizer que relativamente a
interpretação de conceitos a lei criminal não obsta que se preceda a tal interpretação. O
único domínio em que a interpretação Extensiva é vedada é o que concerne à tipicidade
legal.

A prof Teresa Beleza, também discutiu a mesma questão no âmbito da comparação


entre os códigos de 1886 e o Código penal português de 1982, tendo chegado a
conclusão idêntica supra citada, tendo porém feito maior aprofundamento da distinção
entre a Analogia e a interpretação Extensiva, o que contrapõe a posição de Eduardo
Correia que não faz qualquer menção dessa questão no artigo 7° do C. Penal. Em suma,
pode-se dizer que no artigo 7° do C. Penal, não é admissível a interpretação Extensiva,
não é admissível a interpretação Extensiva ou o recurso a Analogia ou indução por
paridade ou maioria de razão para qualificar qualquer fato como crime, definir um
estado de preciosidade ou determinar a pena ou medida de segurança que lhes
corresponde.

Interpretação Restritiva e Declarativa

Este tipo de interpretação são a contraposição da anterior, porque aqui o intérprete


restringe o conteúdo da norma, o que quer dizer, que as palavras estão a mais porque o
legislador quis dizer menos e usou um excesso de palavras. Em Direito penal não há
muito dissídios sobre esta matéria uma vez que o cerceamento do espírito da lei é
proibido pelo artigo 9 do C. Civil. Que dispõe, A interpretação não deve cingir-se a
letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o pensamento legislativo, tendo
sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi
elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada, n° 2, não pode, ser
considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um
mínimo de correspondênciaverbal, ainda que imperfeitamente expresso, n° 3, na
fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumira que o legislador consagrou
as soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequadis.

A lei não se limita na sua letra pelo que uma interpretação restritiva ou meramente
declarativa poderia amputar o verdadeiro sentido da lei e obstaria necessariamente o
alcance do verdadeiro espírito da lei. Pelo que afirmamos com segurança que estás
interpretação são proibidas em Direito penal.

Principio Interpretativo In Dúbio Pro Reo


É o princípio pelo qual em caso de dúvida entre a aplicação de duas ou mais disposições
deve-se aplicar aquela que melhor favorece o réu. O princípio geral é que a liberdade
dos cidadãos é a regra e está só poderá ser cerceada nos caso previstos na lei. Assim
quando o intérprete está numa situação manifesta de dúvida quanto a interpretação de
um preceito jurídico-penal deve este fazer uma interpretação que conduza a liberdade do
cidadão. Se no caso de dúvida não estiver em causa a liberdade de um indivíduo, deve
então se ter em vista a solução menos gravosa para o réu. Todavia, não se trata neste
caso de se ter que usar uma interpretação forçada que leve sempre a libertação de um
criminoso mas que deve-se no caso concreto na interpretação de uma norma
incriminatória e sublinhe-se haverem dúvidas manifestas e insensíveis, aplicar a norma
que não prejudique o réu, ou que prejudique menos.

Interpretação individualizadora

Está era defendida pela prof. Beleza Dos Santos, em que dizia que uma interpretação
deve ter em conta a personalidade do delinquente, o que implicava que cada vez que o
aplicador da lei fazia a interpretação de um comando legal deveria ter sempre em conta
a personalidade do mesmo delinquente. A teoria da possibilidade de haver lugar a
interpretação individualizadora foi duramente criticada pela maioria dos outros autores
em virtude de ser está incompatível com o caráter geral e abstrato das normas jurídicas.
Nos concordamos com esta posição uma vez que a possibilidade de uma interpretação
individualizadora todavia não estar em confronto direto com o princípio do direito penal
da culpa traria inconvenientes uma vez que poderia ser absolutamente impraticável no
sentido de também entrar diretamente no confronto com artigo 35 da CRM, também
chamado principio constitucional dá igualdade e universalidade de tratamento em face
da lei, que fundamenta, Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos
direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo,
origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado
Civil dos pais, profissão ou opção política.

Aplicação da Lei no tempo

Momento da prática do fato


O fato considera-se praticado no momento em que o agente atua ou, no caso de
omissão, devia ter atuado, independentemente daquele em que se tenha verificado o
resultado típico. Artigo 2° do Código Penal.

De acordo com Varela (2011) A aplicação da lei no tempo consiste em determinar qual
a lei aplicável a uma determinada situação: se é a lei nova ou a lei antiga.

Vigência e Ineficácia das leis no tempo

Em relação a vigência das normas jurídicas no tempo, importa referir que, em regra, a
lei começa a aplicar-se e torna-se obrigatória a partir do momento que entra em vigor na
ordem jurídica, e isto só acontece depois da publicação no jornal oficial (nº 1 do art. 5
do C. Civil) que dispõe, A lei só se torna obrigatória depois de pública no jornal
oficial. Que é o boletim da Republica segundo o nº 1 do artigo 143 da CRM, podendo
estabelecer-se entretanto um prazo desde a sua publicação, para que produza efeitos.
Este prazo é conhecido por vacation legis, podendo ele ser regulado de duas formas:
cada lei aprovada pode determinar um prazo de entrada em vigor (vacatio legis
especial), uma lei geral pode estabelecer um prazo para a entrada em vigor dos
diferentes diplomas desde que estes não fixem prazos específicos (é a vacatio legis
geral). Segundo o nº 2 do art. 5 do C. Civil, que dispõe; Entre a publicação e a vigência
da lei decorrerá o tempo que a propria lei fixar ou, na falta de fixação, o que for
determinado em legislação especial.

Regra da proibição Da aplicação retroativa da lei penal

A lei dispõe para o futuro e a lei criminal não é excepção. A aplicação retroativa da lei
criminal é em regra proibida, segundo o disposto nos artigo 3° do Código penal, que
dispõe; A lei penal não tem efeito retroativo. E o artigo 57° da CRM que dispõe; Na
República de Moçambique as leis só podem ter efeitos retroativos quando beneficiarem
os cidadãos e outras pessoas jurídicas. E o n° 1 do artigo 60 da CRM que dispõe;
Niguem pode ser condenado por ato não qualificado como crime no momento da sua
prática,. Esta proibição tem sua razão de ser porquanto é em defesa do principio nullum
crime sine lege, da tranquilidade social, o fim da retribuição e intimidação da pena. A
mesma proibição também representa a defesa contra a possível perseguição por parte do
legislador ao cidadão indefeso como já havíamos feito menção anteriormente.
Segundo Maia Gonçalves em consonância com Eduardo Correia, defendem que se uma
lei nova deixa de incriminar fatos que a lei anterior incriminava, significa isso, que o
legislador entendeu, em mais adequada a atual visão das coisas, que tais fatos não eram
criminalmente mensuráveis. Essa posição faz sentido uma vez que seria de todo absurdo
que fosse censurada uma conduta que ao tempo da sua prática o legislador quisesse que
não fossem censurados. Isso tem ainda que ver com o surgimento de novas formas de
encarar a vida em comunidade e ainda com a primazia do principio da intervenção
mínima do Estado.

Excepção a regra da não retroatividade

O princípio da proibição Da retroatividade da aplicação da lei penal preceituada pelo


corpo do artigo 3° C. Penal, tem excepções essas excepções podem ser encontradas
ainda no mesmo artigo, nos número 2,3,4,5 e 6 do mesmo artigo.

Princípios da aplicação das leis no tempo

A doutrina distingue três posições doutrinárias acerca da possibilidade de retroacção dos


efeitos das leis:

a) A posição de retroatividade absoluta: defende que a norma jurídica nova é mais


justa e, por isso, deve reger não só para atos posteriores mas também para factos ou atos
anteriores à sua aprovação e publicação;

b) A posição de irretroatividade absoluta: defende que a lei não pode reger para atos
anteriores, visto que acarretaria insegurança, incerteza, instabilidade e caos na vida
social;

c) A posição eclética: considera que normalmente a lei deve aplicar-se a factos futuros
mas, em determinadas circunstâncias e sob certas condições, pode reger não só os atos
posteriores como também factos ou situações anteriores à sua aprovação ou aplicação. É
esta posição que encontramos refletida no ordenamento jurídico Moçambicano, maxime
na Constituição da República (art. 57 da CRM) e no Código Civil (art. 12): as leis
penais só podem ter efeitos retroativos se forem mais favoráveis ao arguido; as leis,
quando retroativas, não põem em causa os efeitos já produzidos pelos factos que se
destinam a regular.
Normalmente, as normas jurídicas aprovadas devem projetar os seus efeitos para o
futuro e não para o passado: é o princípio da irretroatividades das leis e demais normas
jurídicas. No entanto, as normas jurídicas têm, por vezes, eficácia para além dos limites
temporais da sua existência. É assim que, excepcionalmente, os atos legislativos e
normativos podem ter carácter retroativo, aplicando-se a situações ou factos ocorridos
antes de sua aprovação e publicação sempre que beneficiarem ao arguido. Neste caso,
presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se
destina a regular. (nº 1 do art. 12° do C. Civil conjugado com o nº1 do art.3° do C.
Penal).

Conclusão

Durante a elaboração do trabalho, concluiu-se que a aplicação da lei penal pode ser
entendida como o uso da lei criminal num caso concreto após a sua interpretação ou a
determinação do sentido e o alcance da lei. Enfim, aquando do desenvolvimento do
trabalho, concluímos ainda que as leis penais dispõem para o futuro, e só podem ser
aplicadas após a sua entrada em vigor, e deixam de ser aplicadas após deixarem de
existir no ordenamento jurídico ou após a sua revogação.
Referências bibliográficas

CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Almeida, Coimbra, 2007.

BELEZA, Tereza Pizarro, Direito penal, Lisboa, 1998.

GONÇALVES, Manuel L Maia, código penal na doutrina e na jurisprudência, 2° ed,


Coimbra, 1972.

Legislação:

Constituição da República de Moçambique, Código Civil, Código penal.

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