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Índice

1.Interpretação e Integração de Lacunas da lei penal......................................................................2

1.1.Quanto à analogia......................................................................................................................4

1.2.Leis penais em branco...............................................................................................................4


1.Interpretação e Integração de Lacunas da lei penal

A interpretação é um processo de descoberta do conteúdo de um texto, de decodificação de seus


significados e intenções.

Tratando-se de interpretação legislativa, não se fala em criação de normas, dado que se


pressupõe a existência de lei. O ato de interpretar é impreterivelmente feito por alguém, um
sujeito, que, empregando certas ferramentas cognitivas, busca o sentido e o alcance do que está
contido na lei: trata-se de se buscar a compreensão mais adequada daquilo que está contido na
norma.

Há diversos modos de interpretação da lei penal e para isso temos que dividir as normas penais
em dois grupos: normas incriminadoras e normas favoráveis.

Deve entender-se por normas incriminadoras aquelas que criam ou agravam a responsabilidade
jurídico-penal do agente. São aquelas normas que de alguma forma contêm a criação de crimes,
ou que contêm agravamentos dos pressupostos de punibilidade ou de punição.

Normas favoráveis, são aquelas normas que visam diminuir a responsabilidade jurídico-penal do
agente, ou atenuá-la, tornando mais suaves os pressupostos da punibilidade ou da punição.

Normas penais incriminadoras

Proíbe-se a interpretação extensiva 1das normas penais incriminadoras, de outra forma estar-se-ia
a violar o princípio da legalidade na sua decorrência “nullum crimen nulla poena sine lege
stricta”, ou seja, de que as normas penais devem ser estritamente aplicadas; é admissível a
interpretação restritiva; proíbe-se a aplicação analógica no âmbito das normas penais
incriminadoras, quer por analogia legis, quer por analogia iuris.

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A interpretação se estende para além do alcance das palavras postas pelo legislador, sem a necessidade de se
elaborar uma norma complementar. Aqui, considera-se que a norma disse menos do que deveria ter dito, deixando
de abarcar conteúdo pretendido. De novo, tem-se a busca pela real vontade do legislador.
Normas penais favoráveis

Proíbe-se a interpretação restritiva2 de normas penais favoráveis; admite-se a interpretação


extensiva; relativamente ao problema da analogia:

Alguns autores como Teresa Beleza, etc., admitem a analogia, nas normas penais favoráveis;

Outros autores como Cavaleiro Ferreira - a analogia em Direito Penal, quer de normas
favoráveis, quer de normas incriminadoras, está vedada;

Outros ainda como Frederico da Costa Pinto - entende que no âmbito das normas favoráveis a
analogia está de todo excluída. Em certos casos pode-se admitir a interpretação extensiva de
normas favoráveis, mas não é possível o recurso à analogia no âmbito de normas favoráveis.

Normas favoráveis

As normas favoráveis são aquelas que visam, ou que traduzem para o agente, uma posição mais
benéfica porque:

 Ou excluem a ilicitude de um facto típico e, portanto, justificam o facto e tornam-no


ilícito, tornando-o ilícito, excluem a responsabilidade penal, porque não há
responsabilidade penal por factos lícitos.
 Ou tornam-se mais brandos, mais suaves, os pressupostos da punibilidade e da punição.

Pode-se fazer interpretação extensiva, mas com limites.

Mas já não se aceita que se faça interpretação restritiva de normas penais favoráveis, isto porque,
a ser possível, diminuir-se-ia o campo de aplicabilidade destas normas favoráveis, o que significa
aumentar o campo de punibilidade.

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A interpretação é reduzida em face do alcance das palavras contidas na Lei, para corresponder à real vontade do
legislador. Isto é, considera-se que a lei possui palavras “em excesso”, que ela disse mais do que gostaria de ter
dito, e tal interpretação restringe parte do texto para atender à sua finalidade pretendida.
1.1.Quanto à analogia

Existem várias posições. Uma (Teresa Beleza) admite-se a integração de lacunas no âmbito de
normas penais favoráveis.

Outra posição é a de que se admite por princípio a integração de lacunas por analogia no âmbito
de normas penais favoráveis, desde que essa analogia não se venha a traduzir num agravamento
da posição de terceiros, por ele ter de suportar na sua esfera jurídica efeitos lesivos ou por ter
autolimitado o seu direito de defesa.

1.2.Leis penais em branco

É uma norma que contem uma sanção para um pressuposto ou um conjunto de pressupostos de
possibilidade ou de punição que não se encontram expressos na lei, mas sim noutras normas de
categoria hierárquica igual ou inferior à norma penal em branco.

Levantam-se problemas quanto à constitucionalidade de tais normas, precisamente porque no


entender de determinada doutrina, estas normas seriam inconstitucionais por consistirem numa
violação de uma decorrência do princípio da legalidade que é a existência de lei penal expressa,
mais concretamente a existência de lei penal certa – “nullum crimen nulla poena sine lege certa”.

A doutrina maioritária defende a constitucionalidade e validade das normas penais em branco,


dentro de certos limites ou desde que sejam respeitados determinados limites.

Desde que as normas penais em branco contenham os pressupostos mínimos de punibilidade e de


punição, ou seja, que digam quem são os destinatários e em que posição é que eles se encontram
e que contenham a respectiva sanção; desde que correspondam a uma verdadeira necessidade
que o legislador tem de tutelar bens jurídicos fundamentais através desta técnica, sob pena de não
o fazendo, a alternativa resultaria da sua desproteção, estas normas não serão inconstitucionais.

Concurso legal ou aparente de normas

Na determinação da responsabilidade criminal dos agentes que praticam factos penalmente


relevantes podem suceder situações de anulação ou concurso de infracções, sempre que o agente
com a sua conduta cometa uma pluralidade de infracções. As quais podem traduzir o
preenchimento de vários tipos de crimes, ou do mesmo tipo mais do que uma vez.

A teoria do concurso permite distinguir os casos nos quais as normas em concurso requerem uma
aplicação conjunta, das situações em que o conteúdo da conduta é absorvido por uma única das
normas.

 Concurso efectivo ou concurso de crimes: constitui a situação em que o agente comete


efectivamente vários crimes e a sua responsabilidade contempla todas essas infracções
praticadas;

 Concurso aparente ou concurso de normas: uma vez que a conduta do agente só


formalmente preenche vários tipos de crimes, na concretização da sua responsabilidade a
aplicação de um dos crimes afasta a aplicação de outro ou outras de que o agente tenha
também preenchido os elementos típicos.

Em rigor não se pode falar em verdadeiro concurso de crimes, mas tão só em concurso de
normas (concurso legal), o qual se traduz num problema de determinação da norma aplicável 3.

O tema do concurso de infracções deve ser integrado no âmbito da teoria da infracção,


constituindo uma forma de crime.

O que se depreende da prática judiciária, em consonância com a maioria da doutrina é que a


resolução concreta do concurso de normas opera no momento final da teoria da infracção. Sendo
sempre um dos últimos passos na resolução da responsabilidade dos intervenientes no crime.

A relação de concurso aparente consagra-se por conexões de subordinação e hierarquia, podendo


identificar-se essencialmente três tipos de relações:

1. Relação de especialidade
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O concurso estabelecido entre as normas revela-se meramente aparente, sendo de excluir a aplicação cumulativa,
pois não se aplicam todos os preceitos normativos.
Uma norma encontra-se numa relação de especialidade em relação a outra quando acrescenta
mais um tipo incriminador, não a contradizendo, contudo.

Neste sentido, vê-se que por força de uma relação de especialidade em que as normas se podem
encontrar, tanto pode subsistir a norma que contenha a moldura penal mais elevada, como a
norma que contenha a moldura penal mais baixa.

2. Relação de subsidiariedade

Nos casos em que a norma vê a sua aplicabilidade condicionada pela não aplicabilidade de outra
norma, só se aplicando a norma subsidiária quando a outra não se aplique. A norma prevalecente
condiciona de certo modo o funcionamento daquela que lhe é subsidiária. Distinguem-se dois
tipos:

a) Subsidiariedade expressa: é a própria lei que afirma expressamente que uma norma só
se aplica se aquela outra não se puder aplicar;
b) Subsidiariedade implícita ou material: resulta quando em face de um raciocínio
imperativo, se chega à mesma conclusão, ou seja, quando por força de uma interpretação
verificar-se que a relação que existe entre as normas não pode deixar de ser uma relação
de subsidiariedade.

Existem tendencialmente ou em princípio quatro grandes situações em que as normas se


encontram numa relação de subsidiariedade implícita ou material:

I. Diz-se que as incriminações de perigo ou os crimes de perigo se encontram numa relação


de subsidiariedade implícita ou material em relação aos crimes de lesão.
II. Casos em que subsiste uma imputação a título negligente e doloso, sendo certo que a
responsabilidade por facto negligente é subsidiária à imputação por facto doloso;
III. Diferentes formas de participação ou autoria;
IV. Entre as condutas de omissão e por acção.

3. Relação de consunção
Quando um certo tipo legal de crime faça parte não por uma definição do código, mas por uma
forma característica, a realização de outro tipo de crime, ou seja, quando tem uma discrição
típica suficientemente ampla que abranja os elementos da discrição típica da outra norma.

A finalidade das normas concentra-se sempre na tutela de bens jurídicos, sendo possível
identificar em cada tipo legal a ratio da conduta descrita.

A relação de consunção acaba por colocar em conexão os valores protegidos pelas normas
criminais. Não deve confundir-se com a relação de especialidade, pois ao contrário do que se
verifica naquela relação de concurso de normas, a norma prevalecente não tem necessariamente
de conter na sua previsão todos os elementos típicos da norma que derroga.

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