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Universidade Licungo

Departamento Terra e Ambiente

Licenciatura em Planeamento e Ordenamento Territorial - 2º ano.


Discente: Egor Francisco Soares
Cadeira: Fundamentos de Direito

As lacunas e sua integração

Lacunas da lei

A lei é a fonte de direito principal do ordenamento jurídico. Diante da pretensa


completude do ordenamento jurídico, sustentada pelos positivistas, e, por outro lado,
diante da impossibilidade do legislador em prever todos os casos concretos que poderão
surgir na realidade fática, surge a complexidade do tema relativo às lacunas no Direito,
isto é, ausência de norma reguladora para um caso concreto específico, ou quando a
aplicação de uma norma existente no ordenamento se mostrar indesejável.

Uma lacuna da lei é um vazio ou uma incompletude do ordenamento legislativo por


inexistência de uma norma jurídica aplicada in concreto, ou seja, inexistência de
dispositivo aplicável ao caso concreto ou de um critério para que se saiba qual norma
aplicar.

Portanto a lacuna se caracteriza quando a lei é omissa ou falha em relação a


determinado caso. Lacuna da lei é uma omissão involuntária, detectada no texto de uma
lei, da regulamentação de determinada espécie de caso. Tal omissão é resolvida
mediante técnicas de integração.

Para resolver o problema, recorre-se aos costumes, à jurisprudência, aos princípios


gerais do direito, à analogia e, segundo alguns juristas, também à equidade. A essas
fontes que se destinam a colmatar as lacunas da lei dá-se o nome de direito subsidiário.

Espécies de lacunas

Segundo a Teoria do Ordenamento Jurídico de Bobbio, existem dois tipos recorrentes


de lacunas:

 Lacunas próprias;
 Lacunas impróprias.
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As lacunas próprias referem-se às hipóteses de inexistência de norma específica para um


caso concreto, como abordado anteriormente. Todavia, a alegação de existência de uma
lacuna própria pressupõe um ordenamento formado por normas exclusivas gerais e por
normas gerais inclusivos. E, assim, o caso concreto poderia ser enquadrado em qualquer
uma delas por actividade interpretativa do jurista.

As lacunas impróprias referem-se às hipóteses em que um caso não regulamento é


enquadrado por uma norma geral exclusiva do sistema, mas a prática não condiz com o
ideal. Nesses casos, então, seria necessária a formulação de novas normas por ação do
legislador.

As lacunas e sua integração

Diferente da interpretação é a questão do tratamento a dispensar às lacunas na lei, que


são os casos omissos no sistema normativo (de ausência de normas aplicáveis a certas
situações).

Efectivamente, o legislador não consegue, por mais previdente que seja, prever todas as
hipóteses que podem ocorrer na vida real. Esta, em sua manifestação infinita, cria a todo
instante situações que o legislador não lograra fixar em fórmulas legislativas. Pode
ocorrer que ao julgar determinada questão o juiz não encontre no ordenamento jurídico
a solução legislativa adequada.

Houve época em que, na falta de disposição legal aplicável ao caso concreto, o juiz
abstinha-se de julgar. Hodiernamente, tal solução não mais se admite, sob pena de
remanescerem questões sem pronunciamento definitivo. Efectivamente, após a
interpretação e uma vez verificada a lacuna, o jurista procura, pelos processos admitidos
pela doutrina e pelo ordenamento jurídico, encontrar a forma de resolver a situação.
Assim, por exemplo, segundo o Código Civil vigente (artigo 8º), o juiz, na sua função
de julgar não pode deixar de decidir um caso devido ao silêncio da lei (ou à falta dela).
Ao resolver o caso, estará a fazer a integração de lacuna (artigo 10º do Código Civil).

Na integração de lacunas, o juiz deve começar por procurar no ordenamento jurídico


uma norma que embora não regule especificamente a situação em causa, possa contudo
ser-lhe aplicável em virtude da semelhança da situação regulada pela mesma norma.
Deste modo, estará a aplicar a analogia é, pois, a aplicação ao caso omisso a norma
reguladora de um caso semelhante (ou análogo) Coisa diferente é a interpretação
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extensiva, em que não há ausência de norma (como na analogia), existindo, sim, uma
norma que, na sua letra, não abarca certos aspectos que no entanto cabem no seu
espírito ou no espírito do legislador (este disse menos do que pretendia).

Todavia, há casos em que não é aplicável a analogia nem, por conseguinte, a integração
de lacunas. São os casos de:

a) Leis excepcionais, que regulam um sector particular das relações sociais de


modo diverso do regime geral adoptado param relações situações do mesmo
género (ora, nas situações excepcionais reguladas pelo Direito, a ausência de
norma de excepção não é susceptível de suprimento por analogia);
b) Leis penais, que se regem pelos princípios da legalidade e da tipicidade57, nos
termos dos quais não é possível condenar ninguém por condutas e ou com penas
não previstas expressamente na lei;
c) Leis tributárias (normas do Direito Fiscal ou Tributário), pois que ninguém é
obrigado a pagar impostos que não tenham sido criados nos termos da lei.

Técnicas de integração: como preencher lacunas na lei

Ainda consoante Bobbio, existem dois métodos de complementação do ordenamento


jurídico através das técnicas de integração. A primeira, chamada heterointegração,
consiste na integração operada através de recurso a ordenamentos diversos daquele que
é dominante. Já a segunda, chamada de autointegração, consiste na integração cumprida
através do mesmo ordenamento.

Seriam métodos de heterointegração e autointegração, portanto:

 Heterointegração:
o Costumes;
o Princípios gerais do direito
 Autointegração:
o Analogia.
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Costume jurídico

Os costumes para o Direito são regras sociais que, por serem praticadas de forma
reiterada e generalizada, acabam se tornando obrigatórias dentro de uma sociedade.
Além dos costumes permitirem a integração do ordenamento jurídico, eles também são
considerados como uma fonte do Direito.

Jurisprudência

Jurisprudência significa ciência da lei. Trata-se de um conjunto de decisões e análises


que são feitas pelo Judiciário a respeito de um determinado tema. A jurisprudência serve
como uma directriz para os operadores do Direito, que orienta a construção de teses e
até o posicionamento em novas decisões.

Analogia legal

A analogia em Direito não é apenas um método de interpretação. É também uma fonte


do Direito. No caso de lacunas da lei, é importante compreender o conceito de analogia
para saber como ela é aplicada.

Sempre que não existe uma norma que atende o caso concreto, operadores do Direito
podem se valer de um dispositivo legal que regulamenta casos semelhantes. Usando o
raciocínio lógico, é possível suprir lacunas, tendo como base normas que não são
direccionadas para aquela situação. E uma vez que a norma aplicável já se encontra no
ordenamento jurídico, a analogia é considera uma técnica de autointegração.

Lacunas na lei e dogmática normativa

A dogmática jurídica é uma forma que os operadores do Direito têm de observar,


analisar e actuar conforme as orientações e pressupostos provados de forma cognitiva,
ou levantados através de experiências reais geradas por casos ocorridos anteriormente.

A preocupação dessa metodologia é, principalmente, orientar a acção do operador do


Direito, fazendo com que as suas decisões sejam estabelecidas com bases em
pressupostos válidos dentro do ordenamento jurídico. A dogmática não apenas orienta,
como também estabelece limites relacionados à interpretação e aplicação da norma.

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