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DO DIREITO E DA
POLÍTICA
Teoria Geral do Direito
Livro Eletrônico
Sumário
Teoria Geral do Direito.. .................................................................................................................................................3
1. Direito Objetivo e Direito Subjetivo...................................................................................................................3
1.1. Direito Subjetivo: Natureza Jurídica...............................................................................................................4
1.2. Direito Subjetivo: Classificação.......................................................................................................................7
1.3. Direito Subjetivo x Direito Potestativo.......................................................................................................8
2. Fontes do Direito.. ........................................................................................................................................................8
2.1. Teoria das Fontes.. ....................................................................................................................................................8
3. Eficácia da Lei no Tempo......................................................................................................................................26
3.1. Vacatio Legis............................................................................................................................................................26
3.2. Correção da Lei Publicada...............................................................................................................................27
3.3. Princípio da Continuidade da Lei.. ................................................................................................................ 28
3.4. Princípio da Segurança e da Estabilidade Social................................................................................31
3.5. Aplicação da Norma Civil no Tempo. ..........................................................................................................38
3.6. Aplicação da Norma Penal no Tempo. .......................................................................................................39
3.7. Aplicação da Norma Trabalhista no Tempo..........................................................................................40
3.8. Aplicação da Norma Constitucional no Tempo. ...................................................................................40
3.9. Antinomias Jurídicas. . .........................................................................................................................................44
4. Teoria Geral da Política.........................................................................................................................................46
4.1. Conceitos Básicos.................................................................................................................................................46
4.2. Política........................................................................................................................................................................47
4.3. Ciência Política.. .....................................................................................................................................................50
4.4. Ciência Política, Política e Maquiavel. .......................................................................................................51
4.5. Estado.........................................................................................................................................................................53
4.6. Relação entre Política e Direito...................................................................................................................70
Resumo................................................................................................................................................................................ 76
Questões de Concurso................................................................................................................................................ 97
Gabarito............................................................................................................................................................................. 114
Gabarito Comentado...................................................................................................................................................115
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1
Numa tradução livre, o Direito é a norma de agir.
2
Francisco Amaral, Direito civil: introdução, p. 181.
3
Numa tradução livre, O direito é a faculdade de agir
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Renato Borelli
4
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
5
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão e Dominação. 4ª ed. São Paulo: Atlas,
2003. P. 147.
6
LORDELO, João Paulo. Noções Gerais de Direito e Formação Humanística. Salvador: JusPODVIM, 2017. p. 216.
7
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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O direito subjetivo, em verdade, não constitui nem poder da vontade, nem interesse protegido, mas
apenas “um poder de agir e de exigir determinado comportamento para a realização de um interes-
se, pressupondo a existência de uma relação jurídica. Seu fundamento é a autonomia dos sujeitos,
a liberdade natural que se afirma na sociedade e que se transforma, pela garantia do direito, em
direito subjetivo, isto é, liberdade e poder jurídico”.
Na realidade, direito subjetivo e direito objetivo são aspectos da mesma realidade, que pode ser
encarada de uma ou de outra forma. Direito subjetivo é a expressão da vontade individual, e direito
objetivo é a expressão da vontade geral. Não somente a vontade, ou apenas o interesse, configura
o direito subjetivo. Trata-se de um poder atribuído à vontade do indivíduo, para a satisfação dos
seus próprios interesses protegidos pela lei, ou seja, pelo direito objetivo8.
Não confunda:
8
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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Anote!
Sob uma outra perspectiva, a classificação em absolutos ou relativos pode estar associada ao fato de o
direito em questão estar ou não sujeito à exceção. Nesse sentido, absoluto seria o direito subjetivo que
não admite exceção, enquanto o direito relativo comportaria exceção. Há quem sustente, por exemplo,
que a vida seria um direito subjetivo absoluto. No entanto, prevalece na doutrina o entendimento de que
não há direito absoluto, inclusive o direito à vida, porque em casos de guerra declarada, por exemplo,
admite-se a pena de morte
b) Reais e pessoais: reais sãos os direitos que o homem exerce sobre a coisa (a exem-
plo do direito de propriedade, da posse, entre outros) e pessoais são os direitos que atuam
necessariamente sobre uma pessoa. O direito real pode ser definido como o poder jurídico,
direto e imediato, do titular sobre a coisa. Já o direito obrigacional ou pessoal consiste num
vínculo jurídico pelo qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação.
c) Transmissíveis e intransmissíveis: aqui a classificação diz respeito à aderência do
direito ao seu titular. Nessa esteira, no direito subjetivo transmissível, como a própria termi-
nologia revela, a titularidade é suscetível de alteração, como é o caso dos direitos reais, que
são suscetíveis de transferência. Nos intransmissíveis, a titularidade é imutável, a exemplo
dos direitos personalíssimos, que, por serem inerentes a cada pessoa, não podem ser repas-
sados a outrem.
d) Públicos e privados: direitos públicos são aqueles exercidos em face do Poder Público.
São os direitos relativos à liberdade, ao direito de ação, direito de petição e direitos políticos. O
direito subjetivo privado, por sua vez, é exercido contra um particular e, nesse sentido, podem
ser patrimoniais ou não patrimoniais.
e) Principais ou acessórios: principais são os direitos que possuem existência autônoma,
independente de outro. Já os acessórios dependem da pré-existência de outro direito, e com
ele se relaciona. Por exemplo, no contrato de compra e venda que possua uma cláusula de
pagamento de multa diante do inadimplemento, o direito principal seria o direito ao pagamento
do valor da dívida, enquanto que o pagamento da multa seria um direito acessório ao contrato.
9
Nos termos do art. 1.228 do Código Civil: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”.
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2. Fontes do Direito
2.1. Teoria das Fontes
A teoria das fontes assume relevância no momento em que o direito passa a ser enten-
dido mais como um produto cultural e menos como um dado da natureza ou sagrado. Falar
em fonte do direito é perquirir a origem do fenômeno jurídico. Em outras palavras, é dizer a
forma pela qual as normas jurídicas se originam e manifestam.
A expressão “fonte do direito”, portanto, pretende significar origem, gênese, sob a perspec-
tiva histórica e sociológica e, também, a busca pelo fundamento do direito, em uma análise
filosófica.
Contudo, por ser vago e ambíguo, o termo “direito” acaba por conferir à teoria das fontes
uma certa dose de imprecisão, porque tanto pode abranger a origem das normas jurídicas (isto
é, do direito objetivo), como pode se referir ao direito subjetivo e também à própria nascente
da ciência jurídica e sua produção teórica (fontes da ciência do Direito).
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Para fins de concurso, vamos nos ater aqui a tratar das fontes do direito objetivo e a
doutrina, classicamente, costuma tratar o tema a partir de duas concepções: fonte material
(fonte de cognição) e fonte formal (fonte de produção jurídica).
Sob o ponto de vista material, as fontes consistem nos “elementos econômicos, políticos
e ideológicos que perfazem a realidade social e servem de substrato para a produção, inter-
pretação e aplicação da normatividade jurídica”10.
Usando termos mais simples, é possível definir as fontes materiais como todas as moti-
vações de natureza social, econômica, ética, filosófica, entre outras, que tenham influenciado
o legislador na formulação da norma jurídica (direito objetivo).
De outra sorte, as fontes formais correspondem aos modos de formação e de revelação
das normas jurídicas. Em suma, são as estruturas que dão forma ao direito objetivo, a exem-
plo da lei.
Em que pese inexistir consenso quanto à classificação das fontes formais, predomina
em âmbito doutrinário que, a parir do disposto no art. 4º da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB), devem ser assim consideradas a lei, a analogia, os costumes e os
princípios gerais do direito, devendo a primeira (lei) ser reputada como fonte formal principal
e as demais como fontes formais acessórias ou secundárias.
Como fontes não formais, por seu turno, temos a doutrina e a jurisprudência, destinadas
a auxiliar o operador do Direito na utilização das fontes formais.
Usualmente, costuma-se, também, separar as fontes do direito em diretas ou imediatas
e em indiretas ou mediatas. São diretas a lei e o costume, uma vez que gozam de apti-
dão para, por si só, gerarem a regra jurídica. São indiretas a doutrina e a jurisprudência,
que não sendo capazes de elaborarem a regra jurídica de pronto, contribuem para a sua
elaboração.
Atente-se ao esquema!
10
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Elementos de teoria geral do direito, 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 63.
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2.1.1. Lei
2.1.1.1. Conceito
A lei, sobretudo nos sistemas de origem romano-germânico (“civil law”), é a fonte do direito
por excelência, instrumento próprio para a promoção de inovações na ordem jurídica.
Em verdade, diante dos reclames por um maior grau de certeza e segurança nas relações
jurídicas hodiernas, até mesmo nos países anglo-saxões, de tradição “common law”, vem se
notando uma ascensão da influência do processo legislativo.
Tomada em seu sentido estrito, “lei é a norma jurídica elaborada pelo Poder Legislativo,
por meio de processo adequado.” 11
11
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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Aprofundando um pouco mais, podemos apontar ser a norma geral e abstrata, com caráter
obrigatório, emanada do Poder Legislativo, conforme um processo legislativo específico, e
expressa mediante uma fórmula escrita.
2.1.1.2. Características
Uma vez conceituada, nota-se que a lei tem como características principais:
• A forma escrita;
• A generalidade, pois dotada de um comando abstrato, não se digere a um indivíduo es-
pecífico, mas, sim, a todos os cidadãos indistintamente.
• A imperatividade, impondo deveres e condutas aos membros da coletividade, não sendo
próprio das leis aconselhar ou ensinar.
• A permanência, sendo criada para vigorar por tempo indeterminado, enquanto não revo-
gada por outra. Há, contudo, leis temporárias, destinadas a viger somente durante certo
período de tempo, tal como ocorre com as leis orçamentárias;
• A complexidade, tendo em vista que a sua edição depende da manifestação de vontade
dos Poderes Legislativo e Executivo;
• É o resultado da manifestação de vontade da autoridade competente, conforme as com-
petências e os processos legislativos estampados na Constituição Federal;
• Contém um autorizamento, ou seja, a norma jurídica destina-se a autorizar ou não au-
torizar determinada conduta, restando superada a tese defendida por Hans Kelsen pela
qual não haveria norma sem sanção;
Curiosidade
Norma e lei não são expressões sinônimas.
A norma é uma prescrição, proibindo, permitindo ou exigindo determinada prática, podendo ser revelada
através dos mais diferentes instrumentos, a exemplo das regras, dos princípios, das decisões judiciais
e das leis.
A lei é, portanto, apenas uma das formas pelas quais se reveste uma norma ou um conjunto de normas
dentro do ordenamento jurídico.
Diferenciam-se, também, pelo modo como se revelam aos seus destinatários, uma vez que a lei possui
caráter explícito, informando de modo claro a conduta exigida ou esperada, ao passo que a norma se
revela implicitamente, sendo o fruto da interpretação do texto em que está estampada.
Com efeito, nem toda norma é jurídica, a exemplo das disposições de cunho religioso, porém, quando
expressadas na estrutura de lei, por exemplo, assim serão classificadas.
Destarte, podemos arrematar que toda lei é uma norma, mas nem toda norma é uma lei.
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2.1.1.4. Integração
A lei, embora seja o principal ato normativo do nosso ordenamento, não é capaz de prever
e regular todos os pormenores da vida social, surgindo, inevitavelmente, casos em que será
omissa. Diante disso, o que fazer? Constatadas omissões, deveremos utilizar as técnicas de
integração (colmatação das lacunas legais).
Importante!
Maria Helena Diniz, citada por Flávio Tartuce, assevera que “O Direito não é lacunoso, mas há lacunas.”
A frase, a princípio contraditória, demonstra uma premissa que precisa ser devidamente compreendida
pelos operadores do Direito. Conforme a lição da doutrinadora, o sistema jurídico é estruturado de
maneira aberta (é um sistema aberto) no qual existem lacunas. Todavia, as lacunas não são do direito
em si, mas da lei, que é omissa em determinadas situações concreta.12
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
12
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 8. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2018.
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A indução amplificadora é procedimento mais complexo que a analogia. Exige não apenas um juízo
empírico de semelhança e um juízo de valor sobre o caráter mais significativo da coincidência para
efeitos jurídicos, mas também que se extraia da comparação e da valoração um princípio geral.
Portanto, a distância entre a norma (ou normas) de que se parte e o caso omisso é maior. Por exem-
plo, constatamos que os estatutos sociais de quatro diferentes sociedades preveem o princípio da
maioria para suas deliberações. No entanto, num contrato que as une para a consecução de uma
tarefa comum, não foi prevista essa regra. O contrato é omisso. Por indução amplificadora, construí-
13
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 10. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Atlas, 2018.
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mos, então, o seguinte raciocínio: se os estatutos, isoladamente tomados, preveem o princípio da
maioria, é possível generalizar a regra geral segundo a qual, com base na lealdade negocial, todas
as partes certamente admitem aquele princípio mormente quando nenhuma delas o exclui para as
deliberações internas. Generalizado o princípio, este é, então, aplicado ao caso omisso. Sentimos
que, na indução amplificadora, cresce a liberdade do intérprete. A força persuasiva do procedimento
depende de consenso menos evidente do que ocorre na analogia sobre a semelhança.14
002. (JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO/TJ/RR/2015) “Em suma, pode-se dizer que, na verdade,
a questão da lacuna e dos limites à integração é uma espécie de invenção do pensamento
dogmático que permite, de um modo controlado, a decidibilidade de conflitos não regulados de
forma positiva. O direito positivado pressupõe uma tendência em estreitar, em nome de valores
da certeza e da segurança, o campo de atuação do intérprete. Ora, o conceito dogmático da
lacuna, dos meios de integração e dos seus limites confere ao intérprete a possibilidade de
se valer de fatores extra-positivos como se fossem positivos ou, ao menos, positiváveis. Ou
seja, o conceito de lacuna alarga o campo da positividade a partir dele próprio. Ele funciona
como uma regra permissiva, doutrinária, que autoriza o intérprete a se valer dos meios de
integração nos limites que a própria doutrina parece reconhecer, mas na verdade estabelece:
em caso de lacuna pode o intérprete... Assim, embora a lacuna seja definida como omissão
ou falta de norma no ordenamento os fatores extra-positivos, como os ideais de justiça, as
exigências de equidade, os raciocínios quase-formais. Ou seja, embora o conceito designe
falta, ele oculta a superabundância de normas, assegurando-se, destarte, um dos princípios
caracterizadores do legislador racional: a omnicompreensividade” (Tércio Sampaio Ferraz
14
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 10. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Atlas, 2018.
15
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 10. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Atlas, 2018.
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Júnior, introdução ao Estudo do Direito. São Paulo, Atlas, 1996, 2ª edição, p. 307). Em sua
abordagem do tema da interpretação do Direito, Tércio Sampaio Ferraz Júnior, no trecho aci-
ma citado, faz referência à questão da integração do Direito. Relativamente ao entendimento
deste autor sobre o assunto, responda:
a) A que se refere a integração do Direito? Explique.
b) Considerando os diferentes modos de integração do Direito, identifique e explique os chama-
dos instrumentos “quase-lógicos” de integração.
c) Considerando os diferentes modos de integração do Direito, indique e explique os chamados
instrumentos “institucionais” de integração.
(Elabore sua resposta definitiva em até 30 linhas).
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2.1.2. Costumes
2.1.2.1. Conceito
O costume é a fonte mais antiga do direito, gozando de grande expressão no período
anterior às codificações.
Por meio dele, cria-se, forma-se e impõe-se normas de conduta, de modo que o principal
diferencial em relação aos hábitos sociais é a convicção de sua obrigatoriedade.
Anote!
Não há costume se a coletividade não reconhece o seu caráter obrigatório.
Anote!
Costume é a prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com a convicção de sua
necessidade.
16
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2.1.2.2. Classificação
Em relação à lei, os costumes são tradicionalmente classificados em três espécies:
• Contra legem, quando se opuserem à lei.
Anote!
Os costumes contra legem não são considerados fontes do direito.
Anote!
Os costumes praeter legem são utilizados como normas de integração do ordenamento jurídico, colmatando
lacunas legais.
• Secundum legem, quando expressamente reconhecidos na lei, que faz menção a eles.
Anote!
Os costumes secundum legem assumem caráter de lei, devendo deixar de serem considerados costumes
propriamente ditos.
2.1.3. Doutrina
2.1.3.1. Conceito
A inclusão da doutrina no âmbito das fontes do direito não é pacífica entre os teóricos.
Para aqueles que assim o fazem, deve ser considera fonte não formal, pois destinada a faci-
litar e orientar a aplicação do direito, sendo definida como o conjunto de obras e pareceres
produzidos pelos juristas de um determinado ordenamento jurídico.
2.1.3.2. Características
A doutrina não influi de forma direta na criação de normas jurídicas, possuindo caráter
meramente opinativo. Portanto, por não haver obrigação de os tribunais se renderem ao enten-
dimento por ela indicado, tampouco de os legisladores acatarem as sugestões dos teóricos,
diz-se que ela é uma fonte mediata.
Fato é que a doutrina é um fundamental antecedente lógico para o surgimento da principal
fonte do direito: a lei. A sua missão é desenhar o quadro fático subjacente ao ordenamento
jurídico, traçando as perspectivas e os caminhos a se percorrer juridicamente.
2.1.4. Jurisprudência
2.1.4.1. Conceito
A jurisprudência, de acordo com Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, é:
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(...) o conjunto de decisões judiciais proferidas em determinado sentido, afirmando a existência
de uma linha de orientação sobre determinados temas. Pressupõe dois elementos: conhecimento
do Direito (pelos aplicadores) e sua aplicabilidade no caso concreto.17
Importante!
Não confunda jurisprudência com precedente.
Lordello esclarece que em um sentido amplo, precedente “é a decisão judicial tomada à luz de um caso
concreto, que pode servir como diretriz para o julgamento posterior de casos similares”19, não exigindo
reiteração de decisões, sendo composto por duas partes:
a) As circunstâncias de fato que embasam a controvérsia; e
b) A tese assentada na motivação (ratio decidendi).
Noutra via, sob um ponto de vista estrito, indica que o precedente “consiste exatamente na ratio decidendi
(ou holding para os Americanos), assim compreendida como os fundamentos jurídicos que sustentam
determinada decisão”. 20
A jurisprudência, por sua vez, é a reiteração do precedente. Exige, portando, a repetição de julgados
em um mesmo sentido, valendo-se da mesma ratio decidendi.
17
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: parte geral e LINDB. 15. ed. rev., ampl. e atual. Sal-
vador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 121-122.
18
LORDELO, João Paulo. Noções Gerais de Direito e Formação Humanística. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 226.
19
LORDELO, João Paulo. Noções Gerais de Direito e Formação Humanística. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 225.
20
LORDELO, João Paulo. Noções Gerais de Direito e Formação Humanística. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 225.
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A vinculação produzida pela súmula não alcança o Poder Legislativo (função legislativa), sob
pena de grave violação à separação dos Poderes. Logo, continua reservado ao legislador editar
leis com redação contrária ao disposto em enunciado de súmula vinculante.
O que se está procurando demonstrar é que a partir das súmulas vinculantes rompeu-se
com a tradição jurídica brasileira, pelo menos desde o início da República, de que os enun-
ciados de súmula tinham apenas caráter persuasivo, não vinculando.
Sobre o tema, é de grande valia a lição de Carlos Roberto Gonçalves:
21
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus mem-
bros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta,
nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em
lei. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004) (Vide Lei n. 11.417, de 2006).
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja con-
trovérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e
relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004)
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada
por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004)
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá recla-
mação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial
reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.
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Malgrado a jurisprudência, para alguns, não possa ser considerada, cientificamente, fonte formal de
direito, mas somente fonte meramente intelectual ou informativa (não formal), a realidade é que, no
plano da realidade prática, ela tem-se revelado fonte criadora do direito. Basta observar a invocação da
súmula oficial de jurisprudência nos tribunais superiores (STF e STJ, principalmente) como verdadeira
fonte formal, embora cientificamente lhe falte essa condição. Essa situação se acentuou com a entrada
em vigor, em 19 de março de 2007, da Lei n. 11.417, de 19 de dezembro de 2006, que regulamentou
o art. 103-A da Constituição Federal e alterou a Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, disciplinando a
edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal. 22
LINDB, art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costu-
mes e os princípios gerais de direito.
22
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
23
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
24
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: parte geral e LINDB. 15. ed. rev., ampl. e atual. Sal-
vador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 121-122.
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papel secundário de técnica de solução de lacunas ou antinomias. Isso porque, com o advento
do neoconstitucionalismo, aos princípios foi reconhecida natureza jurídica normativa, como já
ocorria com as regras, devendo ser reconhecidos como normas materiais de observância obri-
gatória que se impõe aos destinatários como medida principal e não simplesmente acessória.
Anote!
O neoconstitucionalismo alterou a teoria da norma, de modo que as normas jurídicas passaram a ser compreendidas
como o gênero do qual os princípios e as regras são espécies. Consequentemente, aos princípios foi reconhecida
força normativa e, assim como as regras, “passaram a ser tomados como normas jurídicas, expressando um
conteúdo deôntico (ou seja, um dever no sentido de que estabelecem obrigações, permissões ou proibições de
condutas).”25
Quando se trata de diferenciar regras e princípios, “Canotilho, recorrendo a uma plêiade de autores (Larenz,
Esser, Borowsky, Alexy, Dworkin, entre outros) irá nos apresentar excelente síntese sobre os principais
critérios diferenciadores entre essas normas, sendo eles: “a) Grau de abstração: os princípios são normas
com um grau de abstração relativamente elevado; de modo diverso, as regras possuem uma abstração
relativamente reduzida; b) Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios por serem
vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador ao juiz), enquanto as regras
são susceptíveis de aplicação direta; c) Caráter de fundamentalidade no sistema das fontes do direito: os
princípios são normas de natureza estruturante ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico
devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes (ex.: princípios constitucionais) ou à sua importância
estruturante dentro do sistema jurídico (ex.: princípio do Estado de Direito); d) Proximidade da ideia de direito:
os princípios são “standards” juridicamente vinculantes radicados nas exigências de justiça (Dworkin) ou na
“ideia de direito” (Larenz); as regras podem ser normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional;
e) Natureza normogenética: os princípios são fundamentos de regras, isto é, são normas que estão na base ou
constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, um a função normogenética fundamentante”.26
Em que pese a importância do resumo fornecido pelo jurista português, na teoria do direito as duas teses que
adquiriam maior destaque na missão de separar as espécies normativas em estudo foram aquelas baseadas
numa distinção quantitativa, designada por Robert Alexy de tese fraca, ou numa distinção qualitativa, apoiada
por Robert Alexy, que a denomina de tese forte.
A primeira (tese fraca) considera que regras e princípios se distinguem pela sua generalidade, sendo os princípios
normas dotadas de um grau de generalidade e abstração maior do que as regras.
A segunda (tese forte), proposta por Alexy amparado na construção de Ronald Dworkin, postula um critério
de diferenciação qualitativo fundando no modo de aplicação de cada espécie de norma, isto é, no modo pelo
qual o “conflito” é solucionado.
Assim, regras são diferentes dos princípios porque funcionam como mandamentos de definição, aplicando-se
no modelo do tudo-ou-nada (all-or-nothing-fashion). Nesse sentido, Alexy esclarece que “se uma regra é válida,
então há de se fazer exatamente o que ela exige, sem mais nem menos”27. Havendo conflito entre regras, uma
terminará por invalidar a outra, que deverá ser retirada ordenamento jurídico, salvo se estabelecido que esta
regra representa uma situação que excepciona a outra (cláusula de exceção).
Os princípios, porém, correspondem a mandados de otimização, normas que ordenam que algo seja realizado
na maior medida possível conforme as possibilidades fáticas e jurídica do caso concreto. Surgindo colisão entre
princípios, deverá ser utilizada a técnica da ponderação, devendo ser aplicado aquele que possuir maior peso
frente a situação analisada, sem que isso implique a invalidação do princípio entendido como de peso menor.
Portanto, “nenhum desses princípios em choque ostenta primazia definitiva sobre o outro. Nada impede, assim,
que, em caso diverso, com outras características, o princípio antes preterido venha a prevalecer.”28
25
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2017. p. 231.
26
CANOTILHO, Gomes: Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª edição, p. 1159-1162, 2003 apud FERNANDES, Ber-
nardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2017. p. 231.
27
ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1993, p. 87.
28
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 12. ed. rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2017.
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Para que fique mais claro, vamos entender melhor o que foi o neoconstitucionalismo.
Não se ignorando a ausência de uma uniformidade de teorias de viés neoconstitucionalista,
apontamos que o neoconstitucionalismo, também conhecido como constitucionalismo con-
temporâneo, constitucionalismo avançado ou constitucionalismo de direitos, é o fenômeno
jurídico surgido num cenário pós Segunda Guerra Mundial como reposta aos regimes totali-
tários até então dominantes e cujo fundamento precípuo é a dignidade da pessoa humana,
reconhecendo à Constituição força normativa e papel central no ordenamento jurídico, além
de promover uma reaproximação entre o direito e a moral na medida em que extenso rol de
valores morais passaram a ser adotados pelo direito, sendo nele inseridos, sobretudo, por
meios dos princípios.
De acordo com o Ministro do STF Luís Roberto Barroso, um dos pioneiros da tese no Brasil,
o neoconstitucionalismo surge a partir de três grandes marcos:
1) Marco histórico: a formação do Estado Constitucional de direito.
Anote!
Segundo o autor “(1): O marco histórico do novo direito constitucional, na
Europa Continental, foi constitucionalismo do pós-guerra, especialmente na Alemanha e na
Itália. No Brasil foi a Constituição de 1988 e o processo de redemocratização que ela ajudou a
protagonizar. (...) A reconstitucionalização da Europa, imediatamente após a 2ª grande guerra
e ao longo da segunda metade do século XX, redefiniu o lugar da Constituição e a influência
do direito constitucional sobre as instituições contemporâneas. A aproximação das ideias de
constitucionalismo e de democracia produziu uma nova forma de organização política, que
atende por nomes diversos: Estado democrático de direito, Estado constitucional de direito,
Estado constitucional democrático.”29
29
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito: o triunfo tardio do Direito Constitucional
no Brasil.
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Anote!
Conforme o Ministro “a) sobre a força normativa: Uma das grandes mudanças de paradigma ocorridas
ao longo do século XX foi a atribuição à norma constitucional do status de norma jurídica. Superou-
se, assim, o modelo que vigorou na Europa até meados do século passado, no qual a Constituição era
vista como um documento essencialmente político, um convite a atuação dos Poderes Públicos. A
concretização de suas propostas ficava invariavelmente condicionada à liberdade de conformação do
legislador ou a discricionariedade do administrador. Ao judiciário não se reconhecia qualquer papel
relevante na realização do conteúdo da Constituição. Com a reconstitucionalização que sobreveio à 2ª
Guerra mundial, este quadro começou a ser alterado. (...) Atualmente, passou a ser premissa do estudo
da Constituição o reconhecimento da sua força normativa, do caráter obrigatório e vinculante de suas
disposições; b) Antes de 1945 vigorava na maior parte da Europa um modelo de supremacia do Poder
Legislativo, na linha da doutrina inglesa da soberania do Parlamento e da concepção francesa da lei
como expressão da vontade geral. A partir da década de 40, todavia a onda constitucional trouxe não
apenas novas constituições, mas também um novo modelo, inspirado pela experiência americana: o da
supremacia da Constituição. A fórmula envolvia a constitucionalização dos direitos fundamentais, que
ficavam imunizados em
relação ao processo político majoritário: sua proteção passava a caber ao judiciário. Inúmeros países
europeus vieram a adotar um modelo próprio de controle de constitucionalidade, associado à criação
de Tribunais Constitucionais; e) (...) a especificidade das normas constitucionais levaram a doutrina e
a jurisprudência, já de há muitos anos, a desenvolver ou sistematizar um elenco próprio de princípios
aplicáveis a interpretação constitucional. (...) São eles, na ordenação que se afigura mais adequada para
as circunstâncias brasileiras: o da supremacia da Constituição, o da presunção de constitucionalidade
das normas e atos do Poder Público, o da interpretação conforme à constituição, o da unidade, o da
razoabilidade e o da efetividade. (...) Essas transformações (...) tanto em relação à norma quanto ao
intérprete, são ilustradas (...) pelas diferentes categorias com as quais trabalha a nova interpretação.
Dentre elas incluem-se as cláusulas gerais, os princípios (e o novo papel assumido pelos mesmos
diferenciando-se qualitativamente das regras), as colisões de normas constitucionais, a ponderação e
a argumentação.”
Anote!
Barroso esclarece que o pós-positivismo buscava superar o jusnaturalismo e o positivismo, explicando
que: “A superação histórica do jusnaturalismo e o fracasso político do positivismo abriram caminho
para um conjunto amplo e ainda inacabado de reflexões acerca do direito, sua função social e sua
interpretação. O pós-positivismo busca ir além da legalidade estrita, mas não despreza o direito
posto; procura empreender uma leitura moral do direito, mas sem recorrer a categorias metafisicas. A
interpretação e aplicação do ordenamento jurídico hão de ser inspiradas por uma teoria de justiça, mas
não podem comportar voluntarismo ou personalismos, sobretudo os judiciais. No conjunto de ideias
ricas e heterogêneas que procuram abrigo nesse paradigma em construção incluem-se a atribuição de
normatividade aos princípios e a sua definição de suas relações com valores e regras; a reabilitação da
razão prática e da argumentação jurídica; a formação de uma nova hermenêutica constitucional; e o
desenvolvimento de uma teoria dos direitos fundamentais edificada sobre o fundamento da dignidade
humana. Nesse ambiente promove-se uma reaproximação entre o direito e a filosofia.”
Nesse ponto, é necessário aprofundarmos um pouco mais nossos estudos, razão pela qual
iremos, agora, examinar a trajetória de teorizações até o reconhecimento da força normativa
dos princípios, passando pelas fases naturalista, positivista e a atual fase pós-positivista, que,
como visto, é o fundamento jusfilosófico do neoconstitucionalismo.
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• Escola jusnaturalista: consagra a denominação princípios gerais de direito. Para seus se-
guidores, os princípios gerais identificam-se com o direito natural, sendo, então, princípios
de justiça formadores de um direito ideal, caracterizados como valores completamente
abstratos e ausentes de normatividade. Com isso, prevalecia que não possuíam aptidão
para regular, por si mesmos, as relações jurídicas, apenas atuando como vetores gerais
da produção normativa.
Os princípios, tomados em sua característica jusnaturalista, tiveram forte influência até o
advento da escola histórica do direito, no século XIX.
• Concepção positivista: definem os princípios gerais de direito como aqueles destinados a
servir de fundamento para a instituição da norma. Na fase juspositivista, os princípios são
normatizados, porém, mais para funcionar como válvulas de segurança para o sistema
jurídico do que como algo que fosse superior às leis, de modo que somente adquiriam
relevância quando contemplados expressamente pela norma escrita. Não sendo este
o caso, a eles era reservado somente o papel de suplementar a lei. De um modo geral,
restringiam-se a atuar como pautas genéricas, dotadas de alta abstração, que serviam
de norte ao legislador e ao intérprete. Paulo Bonavides elucida que o juspositivismo, “ao
fazer dos princípios na ordem constitucional meras pautas programáticas supralegais,
tem assinalado, via de regra, a sua carência de normatividade, estabelecendo, portanto,
a sua irrelevância jurídica.”
• Pós-positivismo: consideram os princípios instrumentos que veiculam valores morais,
éticos ou filosóficos, a pedra de toque com que se aferem os conteúdos constitucionais
em sua dimensão normativa mais elevada. Ocorre aqui a ascendência dos denominados
“princípios fundamentais de direito”, que trazem em seu bojo os valores maiores de um
determinado sistema jurídicos, em torno dos quais estão os direitos, as garantias e as
competências regentes da sociedade e do Estado.
Há, portanto, para parte da doutrina, duas espécies de princípios:
a) Princípios gerais (ou informativos) de direito: são aqueles que não dispõem de força
normativa, uma vez que o seu conteúdo traduz meras recomendações, devendo ser utilizados
como método integrativo (mecanismo de colmatação) das lacunas legais.
b) Princípios fundamentais (ou institucionais) de direito: refletem as opções ideológicas
de um sistema jurídico, gozando de força normativa e aplicação direta.
Diante do exposto, o art. 4º, da LINDB, deve ser lido com adaptações. Onde está escrito
“quando a lei for omissa”, leia-se: quando a norma jurídica for omissa, pois a norma jurídica
pode ser a norma-regra ou a norma-princípio. Ademais, os princípios citados no dispositivo
seriam os princípios gerais ou informativos, única compreensão que não tornaria o diploma
legal em voga contrário a teoria da força normativa dos princípios.
Também visando afirmar o papel dos princípios como efetiva fonte do direito e não como
simples técnica de integração, há autores que costumam distinguir os princípios gerais de
direitos dos denominados princípios constitucionais, estes sim dotados de força normativa.
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Conclusão
O neoconstitucionalismo, “teoria desenvolvida para um modelo específico de organização jurídico-política
(constitucionalismo contemporâneo) característico de determinado tipo de Estado (Estado constitucional
democrático)”30, destaca-se, especialmente, pelo(a)31:
1) Reconhecimento da força normativa da Constituição e o papel central desta no sistema jurídico,
ocorrendo a constitucionalização do direito por meio da irradiação das normas e valores constitucionais,
principalmente aqueles relacionados aos direitos fundamentais, para todos os ramos do ordenamento
jurídico, condicionando a intepretação e a aplicação do direito como um todo;
2) Reconhecimento da força normativa dos princípios jurídico, influenciando a teoria da norma que
passou a definir a norma jurídica como o gênero do qual decorem as regras e os princípios.
3) Rejeição do formalismo mediante a utilização mais frequente de técnicas e métodos mais abertos de
raciocínio jurídico, a exemplo da ponderação, da tópica e da metódica estruturante.
4) Reaproximação entre o direito e a moral incentivada pelo pensamento pós-positivista, formando
aquilo que alguns autores denominam de um “moralismo jurídico” ou uma “leitura moral da Constituição”;
5) Judicialização da política e das relações sociais, fruto da atribuição de um papel de maior destaque
ao Poder Judiciário, que se tornou o principal responsável por garantir o respeito dos demais Poderes
(Executivo e Legislativo) ao conteúdo normativo constitucional, coibindo omissões e excessos destes, e
atuando, primordialmente, em favor da efetivação dos direitos fundamentais. Aqui, denota-se, também,
a ascensão da técnica do controle de constitucionalidade para a consecução de todos estes fins.
6) Releitura da teoria das fontes, com o reconhecimento da jurisprudência e dos princípios jurídicos
como efetivas fontes formais do direito.
7) Releitura da teoria da interpretação, devido a necessidade de serem adotadas novos métodos
hermenêuticos diante do novo papel assumido pela Constituição em relação à sua centralidade e força
normativa.
30
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 11. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2012. p. 214.
31
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2017.
p. 31.
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Dentre as normas individuais destacam-se as fontes negociais, cuja maior expressão são
as cláusulas contratuais. Aqui, se observa que a autonomia da vontade assume importante
papel na regulação da vida social, dela podendo se originar normas tão cogentes e imperati-
vas quanto as leis.
Em verdade, as fontes negociais só não podem violar as disposições legais, porque a
elas deve obediência. A autonomia da vontade, portanto, não é absoluta e deve ser exercida
nos limites da moldura da lei.
Para Miguel Reale, a fonte negocial deve abrigar quatro aspectos essenciais:
a) Ser a manifestação de vontade de pessoas legitimadas a fazê-lo;
b) Girar em torno de um objeto lícito;
c) Utilizar forma que não contrarie a exigida em lei;
d) Respeitar uma paridade ou, ao menos, uma devida proporção entre os partícipes da
relação jurídica.
A autonomia da vontade só tem prestígio quando a relação entre as partes for iguali-
tária. Se, de alguma forma, houver desproporção entre elas, evidenciada pela vulnerabili-
dade de quaisquer dos participantes, não será possível caráter normativo às disposições
da vontade.
Por fim, importante evidenciar que os atos negociais são comumente utilizados com cará-
ter praeter legem, isto é, visam a preencher lacunas legais, tornando-se verdadeiras normas a
regularem casos concretos, avocando o papel integrador e disciplinando as relações sociais
carentes de regulação legal.
Art. 5º. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
À vista disso cabe examinar o marco temporal que torna a lei uma norma de observância
obrigatória por toda a sociedade.
Nesse sentido, a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) estabelece em
seu art. 1º, caput e § 1º, que:
LINDB, art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e
cinco) dias depois de oficialmente publicada.
§ 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 (três)
meses depois de oficialmente publicada.
Assim:
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Prazo para a vigência de lei no território Prazo para a vigência de lei brasileira no
brasileiro: território estrangeiro:
3 (três) meses.
45 dias Obs.: Não confundir com 90 dias; aqui o prazo é
contado em mês, não em dias.
O prazo acima é um prazo material, o que implica dizer que a sua contagem deve incluir
o dia do começo e desprezar o dia final32. Além disso, o prazo é contado de forma igual em
todo o território nacional, de sorte que a lei entrará em vigor ao mesmo tempo em todo o país.
Fala-se aqui do princípio da vigência única, sincrônica ou simultânea.
Observem que o prazo para a entrada em vigor de uma lei sempre terá início a partir da
sua publicação e o período que intermedeia a publicação e a sua entrada em vigência é cha-
mado de vacatio legis.
Anote!
Vacatio legis é o intervalo de tempo entre a publicação de uma lei e o início da sua vigência. Se a lei
não trouxer disposição em sentido diverso, o prazo de vacatio legis será de 45 (quarenta e cinco) dias.
Nos estados estrangeiros que admita a produção de efeitos por lei brasileira, o prazo de vacatio será,
em regra, de 3 (três) meses.
A regra é as leis observarem o período de vacatio legis, até para que a população tome
conhecimento e se adapte à nova norma. Alinhando-se a essa perspectiva, o art. 8º, da LC n.
95/1998, prevê que devem ser reservadas apenas às leis de pequena repercussão a cláusula
“entra em vigor na data da sua publicação”33. A lógica é simples: se a lei vai gerar pequeno ou
irrelevante impacto na vida das pessoas, é desnecessário o período de adaptação, de forma
que ela poderá entrar em vigor tão logo seja publicada. Esse raciocínio, no entanto, não cos-
tuma ser observado na prática. Não é raro ver leis de grande repercussão entrando em vigor
na data da sua publicação.
32
LC n. 95/1998, Art. 8º, § 1º. A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á
com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação
integral.
33
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha
amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena repercussão.
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LINDB, art. 1º. (...)
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção,
o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
Por outro lado, se a lei a ser corrigida já estiver em vigor, a sua correção só poderá acon-
tecer com a publicação de uma nova lei, denominada “lei corretiva”. Aqui, a vacatio legis de-
penderá do que estiver previsto na lei corretiva, que poderá, por exemplo, dispensar a vacatio,
entrando em vigor no dia da sua publicação, consoante art. 1º, § 4º, da LINDB.
Importante!
Ao promulgar uma lei, o Presidente da República não pode acrescentar ou modificar os dispositivos
aprovados pelo Poder Legislativo, devendo limitar-se a suprimi-los, pois, no Brasil, é vedado o veto
aditivo ou translativo, admitindo-se apenas o veto supressivo.
Quanto ao veto parcial, embora seja admitido, ele somente poderá abranger texto integral de artigo, de
parágrafo, de inciso ou de alínea. Aqui, portanto, cuidado para não confundir o veto parcial com o controle
de constitucionalidade realizado pelo STF. Na última hipótese, a declaração de inconstitucionalidade
parcial pode se restringir à fração de artigo, parágrafo, inciso ou alínea, ou até mesmo sobre uma única
palavra da lei ou do ato normativo.
LINDB, art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique
ou revogue.
Conclusão!
Nisso consiste o princípio da continuidade das leis: não se destinando a vigência temporária, uma lei se
manterá em vigor até que seja por outra revogada.
Deveras, firmado o sistema jurídico brasileiro na supremacia da lei escrita, tem-se que o costume e o
desuso não possuem aptidão para revogar ou retirar a eficácia de uma lei.
3.3.1. Revogação
Podemos conceituar a revogação como sendo a perda da vigência de uma lei provocada
pela edição de outra.
Quanto à extensão, poderá ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação):
• Revogação total (ab-rogação): ocorrerá quando toda a lei perder a sua vigência diante
da edição de uma nova;
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• Revogação parcial (derrogação): ocorrerá quando apenas parte da lei perder a sua vigên-
cia, permanecendo em vigor a restante.
Quanto ao modo, a revogação total e a parcial poderá ser expressa (ou por via direta),
tácita (ou por via oblíqua) e global (por assimilação):
• Revogação expressa (ou por via direta): existirá quando a lei revogadora indicar expres-
samente os dispositivos da lei revogada que pretende rechaçar. Dispõe o art. 9º, da LC
n. 107/2001, que “a cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou
disposições legais revogadas”, de modo que o legislador não deve mais se valer daquela
vaga expressão “revogam-se as disposições em contrário”;
• Revogação tácita (ou por via oblíqua): surge quando não havendo disposição expressa
determinando a revogação, a nova lei se revelar incompatível, no todo ou em parte, com a
lei anterior, contrariando-a de forma absoluta. A revogação tácita não se presume, sendo
preciso demonstrar a incompatibilidade entre as normas;
• Revogação global (ou por assimilação): será global quando a lei nova regular inteiramen-
te a matéria de que tratava a lei anterior, independentemente de existir compatibilidade
ou não entre elas. É por isso que nesse caso os dispositivos legais não repetidos serão
revogados, ainda que compatíveis com a nova lei.
Podemos esquematizar o tema da seguinte maneira:
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Não confunda a revogação tácita ou global com a situação prevista no § 2º, do art. 2º da
LINDB, que assim dispõe:
3.3.2. Repristinação
Repristinação é a restauração da vigência de uma lei anteriormente revogada em virtude
da revogação da lei que a revogou. Pode parecer confuso, mas veja o seguinte exemplo:
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A Lei A estava em vigor até que a Lei B a revogou. Em seguida, a Lei C revogou a Lei B.
Nesse caso, a Lei A restaura a sua vigência diante da revogação da Lei B? Bem, antes de
mais nada, reiteramos que essa possibilidade é chamada de repristinação (o retorno da
produção de efeitos de uma norma anterior, em razão da revogação da norma que lhe havia
revogado). Como regra, a repristinação é vedada no nosso ordenamento jurídico, porém,
admite-se que a lei contenha disposição em sentido contrário. Nesse sentido, vejamos o
art. 2º, § 3º, da LINDB:
Logo, em regra a revogação da lei revogadora não faz com que a lei revogada restaure a
sua vigência, salvo expressa disposição legal em contrário.
No exemplo dado, revogada a Lei A pela Lei B, e posteriormente revogada a Lei B (lei
revogadora) pela Lei C, não se restabelece a vigência da Lei A, salvo se a Lei C, ao revogar a
norma revogadora (Lei B) determinar a repristinação da Lei A.
Cuidado!
Não devemos confundir repristinação com o efeito repristinatório.
O efeito repristinatório advém do controle de constitucionalidade. Assim, em regra, se uma lei revogadora
é declarada inconstitucional, a lei que foi por ela revogada deverá voltar a produzir efeitos. Isso acontece
em atenção ao princípio da nulidade do ato inconstitucional. De acordo com este princípio, o ato
inconstitucional nasce eivado de nulidade (ele não é apenas anulável!). À vista disso, a decisão que
reconhece a inconstitucionalidade de uma norma é declaratória de sua nulidade com efeito ex tunc. Em
outros termos, significa dizer que a norma declarada inconstitucional nasceu nula e, portanto, não poderia
ter revogado a anterior validamente, razão que justifica a restauração da vigência da norma revogada.
Pontua-se, todavia, a possibilidade de o efeito repristinatório ser afastado por expressa determinação
do Supremo Tribunal Federal.
LINDB, art. 6º. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
CF, art. 5º. (...)
XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
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Essa restrição aos efeitos da lei nova se justifica pelo princípio da segurança jurídica.
José Afonso da Silva explica que:
A segurança jurídica consiste no conjunto de condições que tornam possível às pessoas o conhe-
cimento antecipado e reflexivo das consequências diretas de seus atos e de seus fatos à luz da
liberdade reconhecida. Uma importante condição da segurança jurídica está na relativa certeza
que os indivíduos têm de que as relações realizadas sob o império de uma norma devem perdurar
ainda quando tal norma seja substituída.
Anote!
O princípio da segurança jurídica visa proteger as relações jurídicas constituídas sob a égide da lei
revogada, bem como as legítimas expectativas dos participantes destas relações, assegurando a certeza,
a segurança e a estabilidade do ordenamento
jurídico-positivo.
Destarte, a regra é que as leis são elaboradas para valerem para o futuro (são irretroativas!), sendo a
retroatividade (aplicação da lei nova às situações formadas antes da sua vigência) a exceção.
Mas antes de nos aprofundarmos no tema, questiono: em que mesmo consistiria o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada?
Vamos entender melhor!
a) Ato jurídico perfeito: explicitado no § 1º, do art. 6º, da LINDB, é o ato já concluído se-
gundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
b) Direito adquirido: é o que pode ser exercido desde já pelo seu titular por já ter sido
incorporado ao seu patrimônio jurídico. Nos termos do § 2º, do art. 6º, da LINDB:
c) Coisa julgada: é a decisão judicial de que não caiba recurso. Refere-se, pois, à imuta-
bilidade da decisão judicial.
Alerta-se que a preservação do direito adquirido, da coisa julgada e do ato jurídico perfeito
não impede a edição de leis retroativas. Contudo, a aplicação da lei aos fatos ocorridos antes
da sua vigência apenas é admissível quando atendidos os seguintes requisitos:
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Resumindo:
A LINDB e a Constituição Federal de 1988 adotaram o princípio da irretroatividade das leis, como regra,
e o da retroatividade, como exceção. Alinharam-se, também, a teoria subjetiva de Gabba, de completo
respeito ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e a coisa julgada34.
Destarte, “como regra, aplica-se a lei nova aos casos pendentes (facta pendentia) e aos futuros (facta
futura), só podendo ser retroativa, para atingir fatos já consumados, pretéritos (facta praeterita), quando:
a) não ofender o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada; b) quando o legislador,
expressamente, mandar aplicá-la a casos pretéritos, mesmo que a palavra “retroatividade” não seja
usada.” 35
Assim, temos que a retroatividade não se presume, devendo resultar de texto expresso em
lei e respeitar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. No entanto, abre-se
exceção à lei penal benéfica, cuja retroatividade é automática por expressa determinação
constitucional (art. 5º, XL) e, inclusive, tem prevalência sobre a coisa julgada.
34
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
35
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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Anote!
É possível a mitigação da coisa julgada amparada em lei ou ato normativo inconstitucional.
Nesse sentido, aliás, é o art. 525, § 12º, do CPC36, ao estabelecer que é inexigível o título
judicial fundado em lei ou ato normativo inconstitucional, assim reconhecido em controle
36
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para
que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.§ 1º
Na impugnação, o executado poderá alegar: [...] III – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; [...] § 12.
Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título
executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado
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JURISPRUDÊNCIA
Súmula n. 343-STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação contro-
vertida nos tribunais”.
Para o STF:
JURISPRUDÊNCIA
“(...) é cabível ação rescisória fundada em violação a literal dispositivo de lei (art. 485,
V, do antigo CPC), quando a decisão rescindenda tiver se baseado em interpretação
constitucional frontalmente contrária à própria Constituição Federal ou em interpretação
tida como incompatível pelo Supremo Tribunal Federal, ainda que seja pela posterior
declaração de inconstitucionalidade superveniente da legislação que amparou o título
executivo transitado em julgado, não se aplicando a ratio essendi da Súmula 343 do STF.”
(AR 2.572 AgR, voto do min. Gilmar Mendes, red p/ o ac. min Dias Toffoli, P, j. 24-2-2017,
DJE 54 de 21-3-2017).
em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a
Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
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JURISPRUDÊNCIA
“PROCESSO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REPETIÇÃO DE AÇÃO ANTERIOR-
MENTE AJUIZADA, QUE TEVE SEU PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE POR FALTA DE
PROVAS. COISA JULGADA. MITIGAÇÃO. DOUTRINA. PRECEDENTES. DIREITO DE FAMÍ-
LIA. EVOLUÇÃO. RECURSO ACOLHIDO.
I – Não excluída expressamente a paternidade do investigado na primitiva ação de
investigação de paternidade, diante da precariedade da prova e da ausência de indícios
suficientes a caracterizar tanto a paternidade como a sua negativa, e considerando que,
quando do ajuizamento da primeira ação, o exame pelo DNA ainda não era disponível
e nem havia notoriedade a seu respeito, admite-se o ajuizamento de ação investigató-
ria, ainda que tenha sido aforada uma anterior com sentença julgando improcedente
o pedido.
II – Nos termos da orientação da Turma, ‘sempre recomendável a realização de perícia
para investigação genética (HLA e DNA), porque permite ao julgador um juízo de fortís-
sima probabilidade, senão de certeza’ na composição do conflito. Ademais, o progresso
da ciência jurídica, em matéria de prova, está na substituição da verdade ficta pela ver-
dade real.
III – A coisa julgada, em se tratando de ações de estado, como no caso de investigação
de paternidade, deve ser interpretada modus in rebus. Nas palavras de respeitável e
avançada doutrina, quando estudiosos hoje se aprofundam no reestudo do instituto, na
busca, sobretudo, da realização do processo justo, ‘a coisa julgada existe como criação
necessária à segurança prática das relações jurídicas e as dificuldades que se opõem
à sua ruptura se explicam pela mesmíssima razão. Não se pode olvidar, todavia, que
numa sociedade de homens livres, a Justiça tem de estar acima da segurança, porque
sem Justiça não há liberdade’.
IV – Este Tribunal tem buscado, em sua jurisprudência, firmar posições que atendam
aos fins sociais do processo e às exigências do bem comum.”
(STJ, REsp 226.436/PR (199900714989), 414113, Data da decisão: 28.06.2001, 4.ª Turma,
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 04.02.2002, p. 370, RBDF 11/73, RDR 23/354,
RSTJ 154/403). (Destacamos)
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37
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 8. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
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CC/2002, art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada
em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os
seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo
se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. (Destacamos)
Por um lado, há quem defenda que o dispositivo acima nada mais fez do que positivar
uma hipótese de retroatividade mínima, impondo aos efeitos atuais de atos jurídico perfeitos
consolidados sob a égide do Código Civil de 1916 os novos regramentos elencados no Código
Civil de 2002. Tratar-se-ia de uma exceção ao regime geral consagrado na LINDB, correspon-
dendo a uma mitigação à proteção conferida ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito.
Outros, porém, posicionam-se pela inconstitucionalidade da previsão.
No parágrafo único, do art. 2.035, de forma ainda mais incisiva, temos que:
Na lição de Flávio Tartuce, a novel Lei Civil acolheu o princípio da retroatividade motivada
ou justificada, “pelo qual as normas de ordem pública relativas à função social da propriedade
e dos contratos podem retroagir.”38
Segundo o autor:
“Não há qualquer inconstitucionalidade na norma, eis que amparada na função social da proprie-
dade, prevista no art. 5º, XXII e XXIII, da Constituição Federal. Quando se lê no dispositivo civil
transcrito a expressão “convenção”, pode-se ali enquadrar qualquer ato jurídico celebrado, inclusive
os negócios jurídicos celebrados antes da entrada em vigor da nova lei geral privada e cujos efeitos
ainda estão sendo sentidos atualmente, na vigência da nova codificação.” 39
Seria a norma, neste viés, mais um exemplo de relativização à proteção conferida ao direito
adquirido e ao ato jurídico perfeito.
38
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 8. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2018.
39
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 8. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2018.
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Tempo do crime
CP, art. 4º. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja
o momento do resultado
Feito isto, o segundo passo é compreender as regras gerais sobre a eficácia da lei penal
no tempo, que estão elencados nos artigos 1º e 2º, do CP.
Anterioridade da Lei
CP, art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Lei penal no tempo
CP. art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Lembre-se!
A lei penal posterior que seja mais benéfica (lex mitior ou novatio legis in mellius) é retroativa, alcançando,
inclusive, os fatos já definitivamente julgados (prevalece sobre a coisa julgada!).
2) A novatio legis incriminadora, aquela que passa a considerar típico um fato até então
atípico, é irretroativa;
3) A lei que provoca abolitio criminis (torna atípico um fato tido como típico) é retroativa;
4) A lex gravior ou novatio legis in pejus, lei posterior mais severa, é irretroativa; e
5) Nos crimes permanentes, continuados e habituais, aplica-se a lei que estava em vigor
quando cessada a permanência, a continuidade e a habitualidade delitivas, ainda que no início
da atividade criminosa vigesse lei mais benéfica;
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JURISPRUDÊNCIA
Súmula n. 711-STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”
40
SOUZA CRUZ, Álvaro Ricardo. Poder Constituinte e patriotismo constitucional. p. 60 apud FERNANDES, Bernardo Gonçalves.
Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2017. p. 129.
41
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 12. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2017.
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Às vezes, a recepção será expressa, tal como ocorreu na Constituição brasileira de 1937.
O mais frequente, contudo, é a recepção implícita, como se dá no atual sistema pátrio.
O pressuposto básico para a recepção é a existência de uma compatibilidade material,
ou seja, de conteúdo.
A compatibilidade formal, por seu turno, não é necessária. Nesse sentido, é válido apontar
que a recepção, a depender da vontade do PCO, poderá se dar com o mesmo status ou com
status diferente. A título de exemplo, se uma matéria tiver sido disciplinada em lei ordinária na
Constituição anterior, mas com o surgimento da nova Constituição passou a ser exigida a sua
regulamentação através de lei complementar, a lei ordinária (se materialmente compatível com
a nova Constituição) será recepcionada com o status de lei complementar. Foi o que ocorreu
com o Código Tributário Nacional, originariamente uma lei ordinária, mas recepcionado no
ordenamento constitucional de 1988 como lei complementar.
Não guardando a norma pretérita compatibilidade material com o novo texto constitucio-
nal, ela deverá ser revogada.
Temos aqui o terceiro efeito da instalação de uma nova Constituição, qual seja:
• As normas infraconstitucionais editadas na vigência da Constituição pretérita que forem
materialmente incompatíveis com a nova Constituição serão por ela revogadas.
Há aqui uma revogação tácita e automática, não sendo necessário que a nova Constituição
detalhe os dispositivos que com ela são incompatíveis. Essa análise caberá aos operadores
do direito.
Quanto a este terceiro efeito, a doutrina constitucional diverge, afirmando uma parte se
tratar de hipótese de não recepção (revogação) em oposição a outra que defende ser o caso
de inconstitucionalidade superveniente.
No Brasil, o STF rechaça a tese da inconstitucionalidade superveniente.
Para a Suprema Corte, a constitucionalidade de uma norma só pode ser aferida pelo seu
cotejo com a Constituição que lhe é contemporânea (princípio da contemporaneidade), isto
é, aquela em vigor quando da sua vigência.
Assim, as normas infraconstitucionais materialmente incompatíveis com a nova Consti-
tuição não deverão ser consideradas inconstitucionais, mas, sim, não recepcionadas.
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Uma pergunta:
É possível a recepção de “lei produzida por um ente da Federação no
regime constitucional anterior se, com nova ordem constitucional, a mesma
competência legislativa fosse transferida para figura federativa diversa?”42
A recepção apenas poderá ser permitida se houver alteração de competência de um ente de maior grau
para um ente de menor grau. Exemplificando: uma lei federal pode ser recepcionada como estadual pela
nova Carta, mas o contrário não é possível, isto é, uma lei estadual não pode ser recepcionada como
federal, pois ensejaria cenário onde teríamos, possivelmente, 27 leis estaduais assumindo o status de
lei federal, o que geraria um caos.43
42
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2017. p. 131.
43
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2017. p. 131.
44
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019
45
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019
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Importante!
Lei em período de vacatio legis e nova ordem constitucional.
Nesse caso, a doutrina considera que a lei vacante não poderá ser recepcionada pela nova ordem
constitucional, ainda que plenamente compatível com ela. Isso acontece porque a novel Constituição
só poderá recepcionar as normas em vigor ao tempo de sua promulgação.
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Importante!
Cabe ressaltar que não há direito adquirido em face de uma nova Constituição, já que o Poder Constituinte
Originário não está submetido a qualquer limitação jurídica. Aliás, quanto aos efeitos da nova Constituição
sobre os fatos que lhe são pretéritos, o STF faz uma distinção entre três tipos de retroatividade: mínima,
média ou máxima.
Vejamos cada uma delas:
a) Retroatividade mínima (temperada ou mitigada): a nova Constituição alcançará os efeitos futuros
de atos passados. Um exemplo é a previsão inserta no art. 17, do ADCT, de que os vencimentos, a
remuneração, as vantagens e os adicionais, bem como os proventos de aposentadoria que estejam sendo
percebidos em desacordo com a Constituição serão imediatamente reduzidos aos limites nela impostos,
não se admitindo, neste caso, invocação de direito adquirido ou percepção de excesso a qualquer título.
b) Retroatividade média: a nova Constituição atinge efeitos pendentes de atos jurídicos a ela anteriores
(são as prestações vencidas e não pagas).
c) Retroatividade máxima ou restitutória: a nova Constituição atinge atos consolidados, consumados no
passado.
De modo geral, conforme já estudamos, todas as normas jurídicas têm eficácia prospectiva. A norma
constitucional, no entanto, também surge com retroatividade mínima. E, se fizer expressa menção nesse
sentido, também poderá ter retroatividade máxima ou média.
No que diz respeito ao Poder Constituinte Derivado, essa mesma possibilidade parece não existir.
Após a promulgação da Constituição de 1988, O STF nunca se pronunciou sobre a eficácia retroativa
das emendas constitucionais ou se elas devem reverência às clássicas formas de estabilidade jurídica
(ato jurídico perfeito, coisa julgada e direito adquirido). Na ordem jurídica anterior, o posicionamento
da Suprema Corte era favorável à possibilidade de retroação. No entanto, sob a vigência da atual
Constituição, o tema ainda não foi revisitado.
De todo modo, o STF já manifestou que ao menos as Constituições estaduais e as respectivas emendas
devem resguardar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
“(...) o conflito entre duas normas, dois princípios, ou de uma norma e um princípio geral de direito
em sua aplicação prática a um caso particular. É a presença de duas normas conflitantes, sem que
se possa saber qual delas deve ser aplicada ao caso singular.”
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a) Antinomia real: são conflitos insolúveis, para as quais não há, no ordenamento, qualquer
regra pronta para a solução do caso concreto. Cuida-se de situação em que inexiste meta-
-critério para a solução do embate, o que não significa dizer que incidirá o non liquet para a
hipótese, mas, sim, que cada caso precisará ser decidido de forma particular. A solução se
fará, por exemplo, por meios ab-rogatórios, com a edição de uma norma que opte expressa-
mente por uma das normas antinômicas, ou por meio da interpretação equitativa, do recurso
ao costume, à doutrina, aos princípios gerais de direito, entre outros expedientes.
b) Antinomia aparente: são contradições para as quais há meta-critérios (critério cronológico,
da especialidade e hierárquico) para a solução do conflito, que é meramente aparente. Assim,
existindo um mecanismo capaz de afastar a suposta contradição entre as normas, significa que a
alegada incongruência não existe; a contradição entre as normas, como dito, é apenas aparente.
A antinomia aparente se subdivide em:
• Antinomia de primeiro grau: quando apenas um dos critérios é suficiente para a solução
do conflito normativo.
• Antinomia de segundo grau: quando é necessário a conjugação de mais de um critério
para solucionar o embate.
Vejamos então quais são os três critérios fornecidos pela hermenêutica clássica para a
solução das antinomias aparentes. São eles:
• Critério temporal (cronológico): é conhecido pela máxima “lex posterior derogat lex ante-
rior”, que significa: lei posterior revoga a lei anterior. O critério cronológico é contemplado
pela LINDB em seu art. 2º, §1º, que assim dispõe:
• Critério da especialidade: é representado pela máxima “lex speciali derogat lex generali”,
segundo a qual a lei especial prevalece sobre a lei geral.
• Critério hierárquico: é definido pela expressão em latim “lex superior derogat lex inferior”,
ou, em português: lei superior revoga lei inferior.
A antinomia de segundo grau, como dito, não se satisfaz com a utilização de apenas
um desses critérios elencados acima. Ela representa um conflito heterogêneo, uma vez que
envolve a utilização de dois critérios distintos, o que acaba implicando no conflito entre os
próprios critérios. Assim, podemos ter as seguintes possibilidades:
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Nas antinomias de segundo grau, o critério cronológico se apresenta como o critério mais
“fraco” dentre os três, porque sempre cede lugar a outro.
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• Lasswell, por sua vez, conceitua o poder como “o fato de participar da tomada das deci-
sões”. Essa visão do poder é recorrente nas teorias de decision-making process e é cri-
ticada pelo fato de apresentar-se como uma concepção muito voluntarista do processo
de tomada de decisões.
• Para Max Weber, “poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa
relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento desta probabili-
dade.” A concepção weberiana de poder se ampara na visão de uma sociedade-sujeito
resultado dos comportamentos normativos dos agentes sociais. Desse conceito, ganham
destaque as ideias de “probabilidade” e “comando específico”.
• Já Talcot Parsons parte da concepção funcionalista e integracionista do sistema social
para definir o poder como “a capacidade de exercer certas funções em proveito do sis-
tema social considerado no seu conjunto”.
A definição trazida no enunciado da questão encaixa-se com adequação as ideias trazidas por
Robert Dahl.
Nesse sentido, correto afirmar que no âmbito do domínio de um indivíduo sobre outro, concei-
tua-se poder como a relação entre dois sujeitos, dos quais um impõe ao outro a própria vontade
e lhe determina seu comportamento.
Certo.
4.2. Política
A palavra política tem origem na palavra grega pólis, e se refere ao que é urbano, civil,
público, enfim, ao que é da cidade (da pólis). O termo originalmente se referia às relações
sociais na pólis (cidade-Estado), em especial aquelas que contavam com uma assembleia
representativa de cidadãos.
Anote!
A palavra política tem sua origem no termo grego polis (cidade-estado grega) ou politikos (coisas
da polis).
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Assim como o termo “poder”, a palavra “política” não tem significação uníssona. Dentre as
diversas concepções de política, a definição cunhada por Aristóteles é a que assume maior
relevância. Para o pensador, política seria o ramo do conhecimento voltado a investigar a
melhor forma de governo para o estabelecimento do bem comum.
Anote!
Para Aristóteles, política seria o ramo do conhecimento destinado e examinar a forma de governo mais
apropriada para alcançar o bem comum.
Anote!
Para facilitar os seus estudos, podemos apontar que, numa acepção moderna, a política seria a atuação
destinada à administração de uma determinada comunidade, buscando fixar a sua estrutura e organização.
Observe que a política nada mais seria do que uma forma de atividade humana relacio-
nada ao exercício do poder. É por isso que Julien Freund a define como “a atividade social
que se propõe a garantir pela força, fundada geralmente no direito, a segurança externa e a
concórdia interna de uma unidade política particular...”. Essa possibilidade de fazer uso da
força, aliás, é o que distingue o poder político das outras formas de poder.
Para fins unicamente didáticos, destacamos outas definições mais específicas conferi-
das ao termo:
“a) política como tema genérico, em que se inserem os fatos cotidianos relativos às decisões
tomadas pelos governantes, na administração da coisa pública;
b) política como uma estrutura organizada para um determinado fim social de natureza pública,
confundindo-se com política pública (política educacional, política de saúde etc.);
c) política como a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo (NICOLAU MAQUIAVEL);
d) política como os meios adequados à obtenção de qualquer vantagem (H0BBE5);
e) política como ciência política, que tem por objeto os sistemas de governo públicos e privados,
é dizer, os sistemas políticos e o comportamento político.” 46
46
LORDELO, João Paulo. Noções Gerais de Direito e Formação Humanística. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 245.
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Os que desdenham a política o fazem por ignorância ou má-fé, ignoram o mal que fazem a si
próprios ficando alheios ao que acontece em seu entorno, tornando-se potenciais vítimas dessa
escolha, ou, intencionalmente, desqualificam a política para dominá-la.
Sabendo que a política pode ser resumida a uma forma de atividade humana relacionada ao
exercício do poder em determinada comunidade, sem esquecer a visão aristotélica segundo
a qual a política consiste no ramo do conhecimento voltado a investigar a melhor forma de
governo para o estabelecimento do bem comum, ignorar a sua presença é ignorar a própria
realidade e modo como se dá a estrutura da sociedade em que vivemos. Com efeito, todas as
conquistas do processo civilizatório derivaram de decisões políticas, incluindo a geração dos
direitos, hoje tachados como de maior importância a saber: os direitos civis, os direitos políticos,
os direitos sociais, econômicos e culturais; os direitos difusos e coletivos e os direitos bioéticos.
Noutra via, há aqueles que desqualificam a política por razões mais obscuras, a fim de afas-
tar a atenção e fiscalização do cidadão dos processos decisórios. É dizer, “o objetivo final de
quem desqualifica a política é transferir as decisões dos cidadãos, por meio da política, para
grupos econômicos e de poder que se apoderam do aparelho do Estado em busca de interes-
ses próprios. A política, em lado diverso, considera princípios como equidade, participação e
legitimação pela maioria.”47
Como dizia Platão, em sua obra “A República”, “o castigo dos bons que não fazem política é
serem governados pelos maus”.
Certo.
De forma alguma! Acabamos de estudar que a política seria o ramo do conhecimento voltado
a investigar a melhor forma de governo para o estabelecimento do bem comum, estando asso-
ciada a gestão dos negócios da comunidade, não se limitando, portanto, a mera a escolha dos
parlamentares por meio do processo eleitoral.
Errado.
47
Disponível em: https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2017/07/a-importancia-da-politica-no-combate-ao-deficit-de-ci-
dadania/
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“(...) qualquer estudo dos fenômenos e das estruturas políticas, conduzido sistematicamente e
com rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos racionais.
Nesta acepção, o termo ‘ciência política’ é utilizado dentro do significado tradicional como oposto
à ‘opinião’.”
Item correto! Conforme acabamos de estudar, com apoio na lição de Norberto Bobbio, ciência
política é “qualquer estudo dos fenômenos e das estruturas políticas, conduzido sistematica-
mente e com rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos
racionais. Nesta acepção, o termo ‘ciência política’ é utilizado dentro do significado tradicional
como oposto à ‘opinião’”.
Certo.
Sim, isso mesmo. A Ciência Política, enquanto campo multidisciplinar, no desenvolvimento dos
seus estudos, recorre a diversas outras áreas do conhecimento humano, a exemplo da Econo-
mia, do Direito e da Sociologia.
Certo.
Gaetano Mosca afirma que a ciência política seria o estudo da formação e organização
do poder, tendo sido desenvolvida a partir do século XIX, correspondendo ao resultado da
evolução das ciências históricas. O método da ciência política seria, assim, a partir do estudo
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das várias civilizações, o de apanhar o maior número possível de fatos históricos, de modo
que o cientista político deveria dominar toda a história da humanidade.
Destarte, os objetivos da ciência política, segundo o autor, consistiriam em:
• Estudar as tendências que determinam o ordenamento dos poderes políticos;
• Examinar as leis reguladoras da organização social;
• Descobrir e conhecer as leis reguladoras da natureza social do homem e do ordenamento
político das diversas sociedades humanas; e
• Como problema central, examinar as formas pelas quais o poder político se organiza e
se desenvolve.
Anote!
Ciência política é a ciência social dedicada ao exame dos sistemas, instituições, processos e fenômenos
políticos em um determinado Estado.
Resumindo!
Em Maquiavel, na sua obra “O Príncipe”, há a exclusão da ética e a justiça se apresenta como o poder
(o interesse) do mais forte, do príncipe, isto é, exibe uma justiça transitória, provisória.
O pensamento político de Maquiavel se fundamenta no conceito de que a estabilidade da cidade, da
sociedade e do governo precisa ser conseguida a todo o custo, cabendo ao príncipe essa missão.
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Acredito que não tenha sido difícil responder à questão. Trata-se de trecho extraído da obra “O
Príncipe”, de Nicolau Maquiavel.
Letra d.
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Temos aqui uma boa questão. A seguir, um pequeno trecho de “O Príncipe” que irá nos ajudar
a definir a alternativa correta.
“ao apoderar-se de um Estado, o conquistador tem de determinar as ofensas, que precisa execu-
tar, e fazê-las todas de uma vez para não ter que repeti-las todos os dias. Assim, poderá incutir
confiança nos homens e conquistar-lhes o apoio com benefícios. As ofensas devem-se fazer
todas de uma vez, a fim de que, tomando-se-lhes menos o gosto ofendam menos, e os benefícios
precisam ser realizados pouco a pouco, para serem mais bem saboreados. Principalmente, um
príncipe deve viver com seus súditos de maneira a que nenhum acidente, bom ou mau, o faça
variar, pois vindo com os tempos difíceis, as adversidades, não sobrará tempo a ti de fazer o
mal; e o bem que fazes não poderá beneficiar-te, pois é considerado forçado, e ninguém agra-
decerá a sua prática”.
4.5. Estado
O conceito de Estado é frequentemente confundido com as ideias de país, povo e nação,
razão pela qual listaremos a seguir a definição de cada um desses vocábulos, com o objetivo
de facilitar a compreensão.
• Estado: uma suscinta e correta definição de Estado é considera-lo como a entidade
político-social juridicamente organizada para executar os objetivos reputados como ne-
cessários ao bem comum.48
48
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 35.
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Anote!
A formação do Estado demanda a presença de três elementos: povo, território e governo soberano.
a) Povo: é o componente humano, demográfico do Estado, caracterizado como o “conjunto das pessoas
dotadas de capacidade jurídica para exercer os direitos políticos assegurados pela organização estatal.”
49
Importante saber que povo e população não se confundem, sendo população “conceito que envolve
aspectos meramente estatísticos do número total de indivíduos que se sujeitam ao poder do Estado,
incluindo, por exemplo, os estrangeiros, apátridas e os visitantes temporários.” 50
b) Território: é base física, geográfica do Estado; e
c) Governo: é o elemento condutor do Estado, tratando-se do “conjunto das funções necessárias à
manutenção da ordem jurídica e da administração pública.” 51
Para haver um Estado perfeito, o governo deve ser soberano, não encontrando limites jurídicos no plano
interno e submetendo-se no plano internacional às regras voluntariamente aceitas.
Marcello Caetano, quanto à soberania, a define como o poder político supremo, porque, na ordem interna,
não encontra limitações por nenhum outro poder; sendo também um poder político independente, porque
perante a sociedade internacional não precisa acatar regras que não sejam voluntariamente aceitas. 52
É o Estado que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização emanado
do povo, titular da soberania (art. 1º, parágrafo único, da CF53).
49
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 35.
50
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 36.
51
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 36.
52
MARCELLO CAETANO apud BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional:
Tomo I – Teoria da Constituição. Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017.
p. 37.
53
CF, art. 1º. Parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição.
54
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 35.
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Uma terceira doutrina, tida por eclética, buscou um meio termo entre o laissez-faire e o
socialismo. Consoante G. Sortais55, o lema levantado pelos ecléticos seria: “em vez de fazer
tudo, como defendem os socialistas, ou de fazer o mínimo, como pregam os abstencionis-
tas, o melhor é ajudar a fazer”. Sendo assim, para os ecléticos, ao Estado competiria apenas
ações de caráter supletivo, isto é, só atuaria em áreas que aos indivíduos seriam inviáveis.
Dessarte, a partir dessas ideias e da crítica ao Estado forte dos socialistas e ao Estado
mínimo do laissez-faire, emerge a proposta do Estado regulador e fiscalizador.
Cuidado!
Estado regulador não é sinônimo de Estado mínimo.
Estado mínimo: é aquele que procura intervir o mínimo possível na economia do país, na expectativa
de que tal procedimento maximize o progresso e as prosperidade. A sua função resume-se a assegurar
os direitos básicos da população por meio da promoção da segurança pública, da justiça e do poder de
polícia, devendo editar as leis necessárias para tanto.
Estado regulador e fiscalizador: visando se desassociar da doutrina abstencionista, assim como da
doutrina socialista que pregava um Estado-empresário que deveria atuar diretamente na economia, além
de prestar diretamente os serviços públicos, o Estado regulador e fiscalizador é aquele que concentra
a sua atuação na áreas denominadas “núcleo estratégico” e “atividades exclusivas”, deixando ao setor
privado as demais, de modo que sobre estas o Estado atuaria de maneira regulatória e fiscalizadora, com
objetivo de que sejam exercidas pelos particulares com lisura e de forma a atender o interesse público.
4.5.2. Ideologias
Observe que a missão de apontar o fim para qual um Estado se presta está umbilicalmente
relacionado a ideologia predominante.
A origem do termo se deve à Destutt de Tracy, que criou a palavra e lhe deu o primeiro de
seus significados: ciência das ideias. Posteriormente, esta palavra ganharia um sentido pejo-
rativo quando Napoleão chamou os adeptos de “ideólogos” no sentido de “deformadores da
realidade”. No entanto, os pensadores da antiguidade clássica e da Idade Média entendiam
ideologia como o conjunto de ideias e opiniões de uma sociedade.
No geral, a palavra acaba por desembocar em duas concepções opostas: uma neutra e
outra crítica. Na primeira acepção, usualmente utilizada no senso comum, o termo ideolo-
gia é sinônimo de ideário (em português), contendo o sentido neutro de conjunto de ideias,
de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo de
indivíduos, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Noutra via, para
autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um
instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão,
mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.
55
Sortais, G. Andrea del Verrocchio. The Catholic Encyclopedia. Robert Appleton Company.
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Uma forma bastante conhecida, e crítica, de compreender a ideologia pode ser atribuída
a Karl Marx, por exemplo. Em sua obra “A Ideologia Alemã”, coescrita com Friedrich Engel,
Marx concebe a ideologia como uma consciência falsa proveniente da divisão entre o trabalho
manual e o intelectual. Nessa divisão, os ideólogos ou intelectuais operariam em favor da
dominação de uma classe social sobre a outra por meio de ideias que representavam uma
falsa compreensão sobre o modo como se processam as relações de produção. Com isso,
a ideologia, enquanto falsa consciência, camuflaria a realidade em prol dos interesses da
classe dominante.
Entretanto, não é apenas em “A Ideologia Alemã” que Marx trata do tema ideologia e, de-
vido inconsistências entre seus escritos sobre o tema, não seria correto afirmar cabalmente
que possui uma única e precisa definição o sobre o termo.
Depois de Marx, vários outros pensadores se debruçaram sobre o tema, muitos comungan-
do do seu entendimento, mas outros tanto abordando a ideologia como sinônimo de “visão
de mundo”, filiando-se a uma concepção neutra.
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uma burguesa, defendida por Locke, e outra de viés mais popular/universal. O liberalismo
clássico, de Locke, fala de liberdade econômica (Adam Smith), de um Estado mínimo e
de uma participação restrita da população na vida política (voto censitário masculino).
O liberalismo democrático ou radical opõe-se ao clássico à medida que defende maior
soberania popular (voto universal), maior intervenção estatal na economia e um governo
com poderes controlados pelo povo (o que lembra as ideias de Rousseau)
• Socialismo: defende uma sociedade igualitária e fraterna em prol dos trabalhadores (ideal
coletivista). Seus ideais podem ser divididos em utópicos e científicos. O socialismo utópico
sustenta uma transição pacífica e gradual para o socialismo, por meio da implantação de
pequenas propriedades coletivas e uma posterior expansão dos ideais igualitários. Em
1848, com revoluções em toda a Europa (Primavera dos Povos), Marx e Engels publicam
seu “Manifesto Comunista”, chamando os socialistas anteriores de “utópicos” e convo-
cando todo o proletariado do mundo a se unir para combater, de forma violenta e repen-
tina, as classes dominantes. Nesse cenário, Marx autointitulou a sua tese de socialismo
científico, porque calcado em profundos estudos sobre a sociedade capitalista e sobre
a origem da desigualdade entre as classes. Para Marx, aliás, tal desigualdade só seria
desfeita com uma luta violenta e uma revolução dos oprimidos contra os opressores. Sua
ideologia (o Marxismo) se dividiu ainda em duas frentes: a social-democracia, que é a
instalação gradual da Ditatura do Proletariado (acompanhada de um Estado democrata,
que estabelecesse o bem-estar social – Welfare State); e o comunismo, que é a Revolução
armada nos moldes do que aconteceu na Rússia de Lênin e Stálin.
• Anarquismo: é a ausência total de governo. O anarquismo tem origem desconhecidas e
é dividido em duas vertentes: anarquismo anticapitalista (ou coletivista) e o anarcocapi-
talismo (ou individualista). O anarquismo anticapitalista defende o fim de qualquer tipo
de governo e a existência de uma sociedade fraterna na qual todos dividem tudo (como
uma grande tribo; similar ao socialismo). Por outro lado, o anarcocapitalismo adere ao
capitalismo, sem governo, mas considerando as individualidades de cada pessoa e per-
mitindo a existência do comércio.
• Nacionalismo: fundamenta-se na defesa dos “direitos” da nação, da raça ou dos costumes
de um povo. O nacionalismo surge com a criação dos Estados nacionais e com a identi-
ficação do povo com seu país. Uma vertente conhecida é o fascismo, caracterizado pelo
ultranacionalismo em prol da reconstrução dos antigos Impérios Romano e Alemão em
detrimento das outras nacionalidades. Por mais que não tenham conseguido plenamen-
te ser instauradas, tais ideologias servem de base para muitos governos e para muitas
outras ideologias (econômicas, sociais e até mesmo políticas).
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Clássico: defende um
Séc. XVIII (EUA e
Estado mínimo e o voto
Revolução Francesa)
censitário.
- Luta pelos direitos
naturais e pela liberdade
Liberalismo Radical ou Democrático:
econômica, ideológica e
política do indivíduo. fundamenta-se na Revolução Francesa
intervenção estatal, na (2ª fase: popular e
soberania popular e no voto democrática)
universal.
- Defende a criação
de uma sociedade
igualitária e fraterna “Utópico”: revolução Séc. XVIII
Socialismo
(ideal coletivista) em pacífica e gradual (Rev. Francesa)
prol do proletariado
(classe trabalhadora)
Anticapitalista: quer a
implementação de uma
sociedade coletivista e sem
Desconhecida
governo, na qual todos
- Pretende a instalação dividem tudo, como uma
de uma sociedade grande tribo.
igualitária e sem
Anarquismo Anarcocapitalismo:
governo;
- O povo se defende uma sociedade
“autogoverna”. individualista e sem
governo, mas que respeita Desconhecida
as individualidades e
o comércio (adere ao
capitalismo)
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Anote!
A grande contribuição de Aristóteles na teorização dos Poderes do Estado foi ter constatado a existência
de três funções estatais distintas.
Montesquieu, por seu turno, muitos anos após as ideias aristotélicas, mas partindo do
pressuposto de que três seriam as funções estatais, inovou em seu “O Espírito das Leis” ao
afirmar que estas não deveriam ser da competência de uma só pessoa ou órgão, mas, sim,
que estariam umbilicalmente ligadas a três órgãos distintos, autônomos e independentes
entre si. Com efeito, defendia que o exercício do poder do Estado se dividiria em três órgãos:
o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário, cada qual responsável por uma
função estatal, assim definidas:
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• Ao Poder Legislativo caberia a edição de normas gerais que por todos deveriam ser
cumpridas (função legislativa);
• Ao Poder Executivo caberia a aplicação das normas gerais editadas ao caso concreto
(função executiva); e
• Ao Poder Judiciário caberia o julgamento dos conflitos surgidos com aplicação das nor-
mas gerais, aplicando o direito ao caso concreto (função jurisdicional).
O objetivo era superar os ideais absolutistas até então vigentes, o que acabou servindo
de substrato para o surgimento dos mais diversos e importantes movimentos, a exemplo das
revoluções francesa e americana.
Mas, tenha cuidado, pois além das bases teóricas lançadas por Aristóteles, as ideias
consagradas por Montesquieu também encontraram (grande) respaldo nos escritos formu-
lados por John Locke, que contribuiu para a separação dos poderes através das instituições
adotadas pela Grã-Bretanha em razão da Revolução Gloriosa de 1968. Consoante a lição de
Manoel Gonçalves Ferreira:
“(...) a divisão funcional do poder — ou, como tradicionalmente se diz, a ‘separação de poderes’ — que
ainda hoje é a base da organização do governo nas democracias ocidentais, não foi invenção genial
de um homem inspirado, mas sim é o resultado empírico da evolução constitucional inglesa, qual a
consagrou o Bill of Rights de 1689. De fato, a ‘gloriosa revolução’ pôs no mesmo pé a autoridade real
e a autoridade do parlamento, forçando um compromisso que foi a divisão do poder, reservando-se
ao monarca certas funções, ao parlamento outras e reconhecendo-se a independência dos juízes.
Esse compromisso foi teorizado por Locke, no Segundo tratado do governo civil, que o justificou a
partir da hipótese do estado de natureza. Ganhou ele, porém, repercussão estrondosa com a obra
de Montesquieu, O espírito das leis, que o transformou numa das mais célebres doutrinas políticas
de todos os tempos” (Destacamos)56
56
FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de direito constitucional, 34. ed., p. 135. apud LENZA, Pedro. Direito constitucional
esquematizado. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019
57
CAETANO, 2003. apud NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 11. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPo-
divm, 2016. p. 248.
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Anote!
“Com Montesquieu, sob inspiração de Locke, vislumbrou-se a necessidade de interconectar
as funções estatais, a fim de manter a autonomia e independência que lhes são típicas,
nascendo daí a famosa teoria dos freios e contrapesos (“checks and balances”).
Cada uma das funções estatais – Executivo, Legislativo e Judiciário – passaram a realizar
funções típicas (tradicionais) de sua natureza, mas, ainda, por dicção constitucional, funções
atípicas (não tradicionais), fiscalizando e limitando a ação dos demais.
A lógica aqui é que “apenas o poder limita o poder”, de modo que cada órgão tem, não
apenas que cumprir sua função essencial, como ainda atuar de modo a impedir que outro
abuse de sua competência. Por isso mesmo, mais que uma forma de racionalização da
atividade estatal, o projeto de Montesquieu traz uma preocupação política e de proteção
da democracia.” 58
58
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2017. p.
304.
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concepção carregue a ideia de “poder”, alguns autores rechaçam que a soberania seja um
poder, preferindo reconhecê-la como uma qualidade superior do Estado.
Por outro lado, a soberania externa é a autodeterminação e independência que determi-
nado Estado impõe em relação aos demais Estados; tem a ver, portanto, com a relação de
igualdade entre os Estados e com a ideia de não intervenção.
Duas teorias sobre a soberania ganham destaque: as teocráticas e as democráticas.
Para os teocráticos, amparados na teoria do direito divino, o poder soberano tem origem
em Deus e é pela vontade de Deus que há uma hierarquia entre governantes e governados.
Já a doutrina democrática, nascida na Idade Moderna, confere ao povo ou à nação o poder
soberano. São partidários desta concepção Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-
1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Para Thomas Hobbes, antes da vida em sociedade, o homem vivia em anarquia e violência,
no chamado estado de natureza. Era um cenário em que não havia hierarquia, mas um cons-
tante estado de beligerância, um guerreando contra o outro. O estado de natureza consistia
numa vida solitária, sórdida e brutal e só foi abandonado quando, por meio de um contrato
social, a soberania, antes dispersa, passou a ser exercida pela autoridade criada (o Estado).
Houve, portanto, uma transição entre o estado de natureza e o estado de sociedade.
O contrato social, segundo Hobbes, era irrevogável, sob pena de a humanidade retroceder
ao estado natural. O Estado, tal como o representou Hobbes, é um monstro alado – Leviatã
– que “abriga e prende para sempre o homem”. Na lição de Darcy Azambuja:
John Locke parte de uma premissa distinta. Para ele, o estado de natureza não era de
caos, mas de ordem e razão. Assim como Hobbes, Locke era contratualista, isto é, acredi-
tava que a sociedade política surgiu a partir de um contrato social. No entanto, a finalidade
do Estado seria a de assegurar a lei natural, bem como manter a harmonia entre os homens.
Nesse sentido, na pactuação do contrato, sustentava não ter havido qualquer abdicação ou
cessão de direitos naturais ao Estado.
Como visto, foi de Locke a primeira formulação da separação dos Poderes em Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, cada qual assumindo uma função essencial ao Estado.
Em relação à forma de governo, Locke tinha predileção pela democracia, mas também era
simpático à Monarquia em que o Poder Legislativo fosse independente do rei.
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A visão de Estado, no pensamento político de Locke, consiste na tríade que se estrutura, con-
forme o estado de natureza, passando pela constituição de sociedade civil, fundada no pacto
ou contrato social e desemboca no Estado Absolutista.
“inviável imaginar que os homens, ao instituir a sociedade, iriam conceder ao legislador um po-
der arbitrário sobre suas ações, vidas, liberdade e posses, pois se assim o fizessem, estariam se
colocando em situação muito pior do que no estado de natureza, onde ao menos dispunham de
liberdade para defender, por sua própria força, seus direitos perante as agressões alheias”59
Errado.
Para John Locke, o poder legislativo é o mais importante dos poderes como forma de manter
o pacto social.
Para o filósofo inglês:
“Esse poder legislativo não é somente o poder supremo da comunidade, mas sagrado e inalterável
nas mãos em que a comunidade uma vez colocou; nem pode qualquer edito de quem quer que
seja, concebido por qualquer maneira ou apoiado por qualquer poder que seja, ter força e a obri-
gação da lei se não tiver a sanção do legislativo escolhido e nomeado pelo público; porque sem
isto a lei não teria o que é absolutamente necessário à sua natureza de lei: o consentimento da
sociedade sobre a qual ninguém tem o poder de fazer leis senão por seu próprio consentimento e
pela autoridade recebida.”60
Letra b.
59
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 101-102.
60
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. São Paulo: Abril, Coleção “Os pensadores”, 1991. p.92.
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A soberania para Rousseau é o exercício da vontade geral. Desse modo, não poderia ser alienada
ou dividida e jamais estaria concentrada nas mãos de um homem ou de um grupo.
Para Rousseau, soberano é o corpo coletivo que expressa, através da lei, uma vontade geral.
A soberania do povo, manifestada pelo Poder Legislativo, é inalienável, isto é, não pode ser
representada. A democracia rousseauísta considera que toda a lei não ratificada pelo povo em
pessoa é nula. Nesse sentido, não há um superior, já que os depositários do poder não são se-
nhores do povo, mas seus oficiais, podendo ser eleitos ou destituídos conforme a conveniência.61
Em resumo, a soberania seria absoluta, indissolúvel, inalienável e infalível.
Letra e.
61
PINTO, Márcio Morena. Rousseau e a soberania popular.
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c) uma livre associação do gênero humano, que decide compor uma determinada forma de
sociedade política, com base na vontade geral, com vistas ao pacto social.
d) a expressão da permanência da desigualdade formal e da injustiça entre os homens, resol-
vidas sem que haja necessidade da alienação de cada componente do pacto social.
J. J. Rousseau define o contrato social como uma livre associação do gênero humano, que
decide compor uma determinada forma de sociedade política, com base na vontade geral,
com vistas ao pacto social.
Letra c.
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res da doutrina democrática e, para ele, a liberdade significava obediência à lei que que nos
prescrevemos, isto é, à lei fruto da autorregulação.
Na sua definição de liberdade, Kant não deixa claro à qual desses sentidos ele se filia. No
entanto, em cotejo com o ideal rousseauniano, vê-se que o pensamento político de Kant é
pouco democrático. Veja-se, nesse sentido, a seguinte passagem, extraída dos seus Escritos
Políticos e de Filosofia da História e do Direito:
“[o contrato originário...] é...uma ideia simples da razão, mas que tem sua dúvida sua realidade
(prática), a qual consiste em obrigar todo legislador a fazer leis como se devessem refletir a vontade
comum de todo um povo e, em considerar cada súdito, enquanto cidadão, como se tivesse dado
seu consentimento a tal vontade”.
4.5.7. Governo
Governo é o conjunto de órgãos e as atividades por eles exercidas na condução política
do Estado, definindo suas diretrizes supremas com considerável discricionariedade.
Historicamente, o governo precedeu ao Estado, que teve na Idade Moderna a origem de
como hoje é conhecido. Mas já na Antiguidade, assim como na Idade Média, era possível
encontrar um governo das cidades-Estado e dos impérios feudais como formas pré-estatais
de organização política.
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Poder Legislativo e cuja manutenção na função depende do apoio do parlamento, que poderá,
por motivos éticos ou políticos, exigir a sua destituição do cargo.
Ao Chefe de Estado incumbe funções protocolares, de representação simbólica do Estado,
podendo ser desenvolvidas pelo Presidente da República, se adotada a forma republicana de
governo, ou pelo Monarca, se adotada a Monarquia62.
Quanto ao Chefe de Governo, função em regra exercida pelo Primeiro Ministro, cabe o
efetivo exercício do governo, com o auxílio do seu gabinete (conselho de Ministros), sendo,
assim, o responsável pela execução das políticas públicas, o gerenciamento da máquina
pública e a liderança da política nacional.
O sistema presidencialista, por sua vez, tem origem nos Estados Unidos, em 1787, sendo
marcado pela existência de uma certa independência entre os poderes Executivo e Legislativo,
muito embora eles sofram interferências recíprocas, o que pode ser visto como expressão da
teoria dos freios e contrapesos.
O traço fundamental do sistema presidencialista é o exercício do Poder Executivo de
maneira autônoma pelo Presidente, que acumulará as chefias do Governo, do Estado e da
Administração Pública, sendo escolhido através de eleição direta (é a regra) ou indireta pelo
povo, o que denota a legitimação popular como uma das virtudes do presidencialismo.
Outra virtude, igualmente, é a definição de mandatos presidenciais com prazos fixos, re-
sultando numa maior estabilidade de governo.
Entre os pontos negativos, porém, está a concentração de poder num só agente, o que
pode fomentar regimes autoritários, bem como a necessidade de o Presidente, a posteriori,
no curso do seu mandato, precisar formar uma maioria no parlamento para garantir uma boa
governabilidade.
Por fim, fala-se, também, no sistema diretorial ou governo de assembleia, regime identi-
ficado pela inteira subordinação do Poder Executivo ao Poder Legislativo, sendo o Executivo
constituído por uma comissão escolhida pelo Legislativo, correspondendo a um mero repre-
sentante deste.
No governo de assembleia, destarte, é o Legislativo o órgão que efetivamente dirige o Estado.
Com origem na Revolução Francesa, hodiernamente esse peculiar sistema de governo
somente existe na Suíça, pelo menos de maneira formal. É que apesar de a Constituição
determinar como responsabilidade da Assembleia Federal a eleição e a supervisão dos sete
membros do órgão Executivo, formado pelo Conselho Federal, este último paulatinamente
alcançou papel de destaque na direção do processo legislativo, além de sua atribuição na
execução da lei federal, surgindo uma forma de regime com muitas semelhanças com os
Estados parlamentares.
Resumindo:
62
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 11. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. p. 643.
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porque é da sua natureza viver em sociedade. Aliás, o que distingue a sociabilidade humana
da animal é o discernimento entre o bem e o mal, o justo e o injusto.
Posto isto, é da necessidade de regular a vida em sociedade que surge o direito, um con-
junto de normas cujo objetivo é harmonizar e disciplinar a convivência social. A sua existência,
portanto, somente se justifica pela sua finalidade: solucionar os conflitos entre os indivíduos
e os grupos sociais, promovendo o bem comum.
No Estado, o direito define-se como o seu ordenamento jurídico, habitando num ambiente
onde prevalece a razão pública que, não raro, é contramajoritária e impositiva. Denota-se, aqui,
entre as finalidades do direito, a imposição do respeito à ordem jurídica.
A política, porém, é a arte (porque requer sensibilidade e imaginação) ou ciência (porque
exige o uso de um método) de governar e direcionar os rumos do Estado. Com efeito, os
fundamentos da política repousam sobre dois pilares: a soberania popular e o princípio ma-
joritário. A política é pautada pela vontade (consenso) de uma maioria estabelecida.
Apesar das contradições teóricas, direito e política se interconectam, especialmente em
dois momentos: na elaboração do direito e na aplicação do direito. O primeiro momento, que
envolve o processo legislativo de criação das normas jurídicas, tem maior destaque e dele
infere-se que a política é a raiz do direito. Nessa linha, a Constituição representa o ponto de
contato entre as duas searas, pois em que pese ser o documento que alicerça toda a ordem
jurídica de um Estado, é fruto da política, tendo como missão instituir os poderes políticos e
demarcar o espaço de cada um deles.
Noutra via, não se discute que uma das marcas do mundo jurídico é a coerção, resultado
do poder político, que confere efetividade à ordem social de controle.
Assim, o direito é uma forma de dominação organizada pelo poder político, que também
sofre ingerências do poder econômico.
Para ficar mais claro, vamos nos debruçar sobre questão de concurso abaixo.
Obs.: A relação entre direito e política foi objeto de questão no concurso para Juiz Substi-
tuto do Tribunal de Justiça do Ceará, aplicada em 31/08/2018. Por ter exigido conhe-
cimentos substanciosos e por apresentar um padrão de resposta bastante completo
e elucidativo, será reproduzida abaixo, na sua íntegra:
Enunciado:
Entende-se por judicialização da política o crescente fenômeno de utilização dos meios judiciais
para o debate e a decisão de questões concernentes a políticas públicas e controvérsias políticas
acerca de assuntos como liberdades individuais ou religiosas, processo eleitoral, direitos imi-
gratório, privado, trabalhista, previdenciário e da saúde. Isso ocorre em razão das muitas etapas
do processo decisório a que estão sujeitos os Poderes Legislativo e Executivo ou mesmo em
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consequência das constrições orçamentárias que servem de obstáculo à provisão das questões
de interesse público e privado, mas que, em tese, não impedem ou limitam a atuação do Poder
Judiciário. Então, confia-se no Poder Judiciário quando a questão está posta e necessita de uma
resposta imediata.
Considerando que o texto apresentado tem caráter unicamente motivador, redija um texto que
atenda às seguintes determinações: 1) caracterize política e direito e aborde a relação entre esses
conceitos; [valor: 0,60 ponto] 2) discorra sobre a tipologia moderna das formas de poder estru-
turada por Norberto Bobbio, abordando os três tipos de poder segundo esse autor; [valor: 0,90
ponto] 3) apresente três escolas de pensamento jurídico essenciais ao debate contemporâneo
sobre direito e relações de poder, explicando cada uma delas. [valor: 0,90 ponto]
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Leciona Miguel Reale que “desse modo, as conexões entre Direito e Moral, Direito e Política, ou
Direito e Economia encontram sua razão de ser, objetivamente, nos nexos que os comporta-
mentos exteriores revelam; mas, de um ponto de vista subjetivo e correlato, residem na própria
unidade espiritual, razão última e verdadeira daquelas conexões”. (idem, p. 305).
Para Bobbio, política e direito se envolvem, uma vez que a ação política se exerce por meio do
direito, ao passo que o direito delimita e disciplina a ação política. Assim, a ordem jurídica é o
produto do poder político. Não deve haver outro direito que não seja o estabelecido ou reconhe-
cido pelo poder político, segundo Bobbio.
Portanto, leva-se em consideração a abordagem feita pelo candidato quanto à caracterização
da política e do direito, podendo-se utilizar de correntes doutrinárias e teorias variadas em sua
argumentação, desde que sempre faça essa caracterização distinta e a íntima relação entre
esses conceitos.
O poder é definido como uma relação entre dois sujeitos, na qual um impõe ao outro a própria
vontade ou mesmo os meios que permitem alcançar os efeitos desejados. A Segundo Norberto
Bobbio, a tipologia moderna das formas de poder estabelece três tipos: o poder econômico, o
ideológico e o político. O poder econômico é “aquele que se vale da posse de certos bens ne-
cessários para induzir aqueles que não os possuem a terem certa conduta”. O poder ideológico
é o domínio sobre as ideias e funda-se na influência de algumas ideias sobre a conduta dos
consociados, quando formuladas de determinado modo, emitidas em certas circunstâncias por
uma pessoa investida de autoridade e difundidas por meio de determinados procedimentos.
Cumpre-se, assim, o processo de coesão e integração do grupo. O poder político assenta-se
na posse dos instrumentos por meio “dos quais se exerce a força física”; é o poder coativo, o
uso exclusivo da força para condicionar os comportamentos. Essa tipologia é apresentada por
Norberto Bobbio, na obra Teoria Geral da Política (a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos.
Trad. Daniela B. Versiani. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000).
Obs.: considerando que o enunciado da questão é expresso sobre “a tipologia moderna das
formas de poder estruturada por Norberto Bobbio, e os três tipos de poder segundo esse autor”,
a abordagem de outras teorias ou de outros autores, como Niklas Luhmann ou Max Weber a
exemplo, somente será levada em consideração para fins argumentativos e de demonstração
de domínio do conhecimento.
O professor Alysson Mascaro apresenta os três caminhos do pensamento jurídico contem-
porâneo, a saber: o juspositivismo, o não juspositivismo ou filosofia do direito do poder e a
perspectiva crítica. Os juspositivistas compõem a maioria da tradição filosófica que aceita e
legitima as instituições políticas e jurídicas. São eles que constroem uma ciência do direito a
partir da norma jurídica e que têm em Kant e Kelsen seus principais expoentes. O juspositivismo
divide-se em eclético, estrito e ético. Miguel Reale é um exemplo de juspositivista eclético, que
desenvolveu a Teoria Tridimensional do Direito. Os não juspositivistas vão além dos sistemas
positivos para compreender as relações de poder em sua concretude e historicidade. Seus
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principais representantes são Michel Foucault e Carl Schmitt. A perspectiva crítica busca uma
investigação dos fatos históricos e estruturais do direito com base no pensamento marxista,
em busca de uma compreensão social do direito (Alysson Leandro Mascaro. Filosofia do direito.
5.ª ed. Atlas, 2016).
Não obstante, aos pensamentos jurídicos acima, sem dúvida, no atual debate sobre a relação
entre Direito e Política, encontram-se as teses substancialistas, ou seja, na materialidade dos
direitos fundamentais e de teses procedimentalistas, as quais assegurem, de forma sólida, o
processo democrático para que a própria participação defina as prioridades a serem realizadas.
Colhe-se da doutrina:
Com efeito, muito embora procedimentalistas e substancialistas reconheçam no Poder Judi-
ciário (e, em especial, na justiça constitucional) uma função estratégica nas Constituições do
segundo pós-guerra, a corrente procedimentalista, capitaneada por autores como Habermas,
Garapon e John Ely, apresenta consideráveis divergências com a corrente substancialista, sus-
tentada por autores como Cappelletti, Ackerman, Tribe, Perry, Wellington, e, em alguma medida
por Dworkin, pelo menos na leitura que dele faz Robert Alexy, e no Brasil por juristas como Pau-
lo Bonavides, Bandeira de Mello, entre outros. Para mim – e por isto sou substancialista – as
teses procedimentalistas afastam o caráter dirigente-compromissário da Constituição (vejam-
-se as críticas de Habermas e Ely à legitimidade das decisões intervencionistas dos Tribunais
Constitucionais; já Garapon vai dizer que a invasão da sociedade pelo Judiciário serve para o
enfraquecimento da democracia representativa). Por tudo isto, acredito que temos que refletir
acerca das tensões que exsurgem do embate entre procedimentalismo e substancialismo e
que consequência isto terá na sobrevivência da ideia de Constituição Dirigente (STRECK, L.L.
Intervenção. In: J.N. MIRANDA COUTINHO (Org.). Canotilho e a Constituição Dirigente. Rio de
Janeiro: Renovar, 2003, p. 80-81).
O debate entre as teses substancialistas e procedimentalistas também fazem refletir, de forma
interligada, sobre as correntes interpretativistas e as não interpretativistas, pois, para estes,
os juízes e os tribunais controlam a legislação por meio de opções valorativas do conteúdo
da Constituição, que só se revela por meio de procedimento que instaura o direito e lhe dá le-
gitimidade, e para aqueles as decisões judiciais devem ter como base o pensamento original
daqueles que elaboraram a Constituição.
Neste sentido, Bernardo Gonçalves Fernandes (In. Curso de Direito Constitucional. 9ª ed. Salva-
dor: Juspodivm, 2017, p. 195-225) relaciona correntes de pensamento que analisam o direito e
as relações de poder, especialmente no que diz respeito ao enunciado motivador (judicialização
da política), citando: a) interpretativistas, segundo os quais o intérprete deve adotar uma visão
mais conservadora da interpretação constitucional, sendo o papel dos juízes limitado à aplicação
do texto, sem modificá-lo; b) não interpretativistas, os quais pregam uma atuação proativa do
magistrado, que deve desenvolver e atualizar o texto constitucional para atender as exigências
e as necessidades sociais; c) procedimentalistas, segundo os quais o Judiciário deve atuar para
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assegurar a regular participação política de todos, sem qualquer interferência no mérito das
escolhas feitas pelos demais poderes; d) substancialistas, para os quais a atuação do Judiciário
deve, em linhas gerais, considerar os direitos substantivos das constituições com os valores
que lhe são inerentes, sobretudo na concretização dos direitos fundamentais; e) pragmatismo
jurídico, que, além de retratar uma atualização do realismo jurídico, preconiza, em suma, que a
decisão judicial adequada é aquela que adota a medida que melhore as condições gerais das
pessoas envolvidas no debate.
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RESUMO
Abaixo, vejamos breve resumo sobre os pontos que costumam ser de maior incidência
em questões de provas, o que NÃO AFASTA a necessidade de reler os grifos e anotações
realizados pelo aluno no decorrer da aula.
DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO
O direito objetivo é aquele relacionado à positividade, isto é, corresponde ao direito posto,
contido em normas jurídicas, podendo ser apontado como a própria norma ou o conjunto de
normas de conduta positivadas, ou, ainda, como a própria ordem jurídica, fruto da atividade
legislativa.
Noutra via, o direito subjetivo deriva da aplicação do direito objetivo a uma situação con-
creta, consistindo no direito-poder ou direito-prerrogativa, ou seja, na faculdade de exercer,
em favor do titular, o comando contido na norma. É, assim, o “poder que a ordem jurídica
confere a alguém de agir e de exigir de outrem determinado comportamento”63
Sintetizando:
63
Francisco Amaral, Direito civil: introdução, p. 181.
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FONTES DO DIREITO
Teoria das Fontes
Para fins de concurso, vamos nos ater aqui a tratar das fontes do direito objetivo e a
doutrina, classicamente, costuma tratar o tema a partir de duas concepções: fonte material
(fonte de cognição) e fonte formal (fonte de produção jurídica).
Sob o ponto de vista material, as fontes consistem nos “elementos econômicos, políticos
e ideológicos que perfazem a realidade social e servem de substrato para a produção, inter-
pretação e aplicação da normatividade jurídica”64.
De outra sorte, as fontes formais correspondem aos modos de formação e de revelação
das normas jurídicas. Em suma, são as estruturas que dão forma ao direito objetivo, a exem-
plo da lei.
64
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Elementos de teoria geral do direito, 3.ed. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 63.
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Em que pese inexistir consenso quanto à classificação das fontes formais, predomina
em âmbito doutrinário que, a parir do disposto no art. 4º da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB), devem ser assim consideradas a lei, a analogia, os costumes e os
princípios gerais do direito, devendo a primeira (lei) ser reputada como fonte formal principal
e as demais como fontes formais acessórias ou secundárias.
Como fontes não formais, por seu turno, temos a doutrina e a jurisprudência, destinadas
a auxiliar o operador do Direito na utilização das fontes formais.
Usualmente, costuma-se, também, separar as fontes do direito em diretas ou imediatas
e em indiretas ou mediatas. São diretas a lei e o costume, uma vez que gozam de aptidão
para, por si só, gerarem a regra jurídica. São indiretas a doutrina e a jurisprudência, que não
sendo capazes de elaborarem a regra jurídica de pronto, contribuem para a sua elaboração.
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Lei: é a fonte do direito por excelência, instrumento próprio para a promoção de inovações
na ordem jurídica.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
65
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 10. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Atlas, 2018.
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LORDELO, João Paulo. Noções Gerais de Direito e Formação Humanística. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 226.
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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Dentre as normas individuais destacam-se as fontes negociais, cuja maior expressão são
as cláusulas contratuais. Aqui, se observa que a autonomia da vontade assume importante
papel na regulação da vida social, dela podendo se originar normas tão cogentes e imperati-
vas quanto as leis.
Em verdade, as fontes negociais só não podem violar as disposições legais, porque a
elas deve obediência. A autonomia da vontade, portanto, não é absoluta e deve ser exercida
nos limites da moldura da lei.
Para Miguel Reale, a fonte negocial deve abrigar quatro aspectos essenciais:
a) Ser a manifestação de vontade de pessoas legitimadas a fazê-lo;
b) Girar em torno de um objeto lícito;
c) Utilizar forma que não contrarie a exigida em lei;
d) Respeitar uma paridade ou, ao menos, uma devida proporção entre os partícipes da
relação jurídica.
A autonomia da vontade só tem prestígio quando a relação entre as partes for igualitária.
Se, de alguma forma, houver desproporção entre elas, evidenciada pela vulnerabilidade de
quaisquer dos participantes, não será possível caráter normativo às disposições da vontade.
Por fim, importante evidenciar que os atos negociais são comumente utilizados com cará-
ter praeter legem, isto é, visam a preencher lacunas legais, tornando-se verdadeiras normas a
regularem casos concretos, avocando o papel integrador e disciplinando as relações sociais
carentes de regulação legal.
HERMENÊUTICA JURÍDICA
A hermenêutica jurídica é a ciência que se ocupa pela atividade de interpretação do Direito.
A interpretação da norma jurídica
Para verificar se a norma é aplicável ao caso em julgamento (subsunção) ou se deve proceder
à integração normativa, cabe ao juiz procurar descobrir o sentido da norma, interpretando-a.
“Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Toda lei está sujeita a interpretação,
não apenas as obscuras e ambíguas. O brocardo romano in claris cessat interpretatio não é, hoje,
acolhido, pois até para afirmar-se que a lei é clara é preciso interpretá-la. Há, na verdade, interpreta-
ções mais simples, quando a lei é clara, e complexas, quando o preceito é de difícil entendimento.” 68
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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Prazo para a vigência de lei no território Prazo para a vigência de lei brasileira no
brasileiro: território estrangeiro:
3 (três) meses.
45 dias Obs.: Não confundir com 90 dias; aqui o prazo é
contado em mês, não em dias.
73
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
74
BROCHADO, Marià. Apontamentos sobre Hermenêutica Jurídica. Revista Jurídica da Presidência Brasília v. 13 n.100 Jul/Set
2011 p. 227 a 261.
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Por outro lado, se a lei a ser corrigida já estiver em vigor, a sua correção só poderá acon-
tecer com a publicação de uma nova lei, denominada “lei corretiva”. Aqui, a vacatio legis de-
penderá do que estiver previsto na lei corretiva, que poderá, por exemplo, dispensar a vacatio,
entrando em vigor no dia da sua publicação, consoante art. 1º, § 4º, da LINDB.
LINDB, art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique
ou revogue.
Revogação
É a perda da vigência de uma lei provocada pela edição de outra.
Podemos esquematizar o tema da seguinte maneira:
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Repristinação
É a restauração da vigência de uma lei anteriormente revogada em virtude da revogação
da lei que a revogou.
Como regra, a repristinação é vedada no nosso ordenamento jurídico, porém, admite-
-se que a lei contenha disposição em sentido contrário. Nesse sentido, vejamos o art. 2º, §
3º, da LINDB:
Cuidado!
Não devemos confundir repristinação com o efeito repristinatório.
O efeito repristinatório advém do controle de constitucionalidade. Assim, em regra, se uma lei revogadora
é declarada inconstitucional, a lei que foi por ela revogada deverá voltar a produzir efeitos. Isso acontece
em atenção ao princípio da nulidade do ato inconstitucional. De acordo com este princípio, o ato
inconstitucional nasce eivado de nulidade (ele não é apenas anulável!). À vista disso, a decisão que
reconhece a inconstitucionalidade de uma norma é declaratória de sua nulidade com efeito ex tunc. Em
outros termos, significa dizer que a norma declarada inconstitucional nasceu nula e, portanto, não poderia
ter revogado a anterior validamente, razão que justifica a restauração da vigência da norma revogada.
Pontua-se, todavia, a possibilidade de o efeito repristinatório ser afastado por expressa determinação
do Supremo Tribunal Federal.
LINDB, art. 6º. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
CF, art. 5º. (...)
XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Destarte, a regra é que as leis são elaboradas para valerem para o futuro (são irretroativas!),
sendo a retroatividade (aplicação da lei nova às situações formadas antes da sua vigência)
a exceção.
Apontamentos gerais sobre a aplicação da lei no tempo
De maneira genérica, elencamos as seguintes diretrizes que orientam a aplicação da
lei no tempo.
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75
SOUZA CRUZ, Álvaro Ricardo. Poder Constituinte e patriotismo constitucional. p. 60 apud FERNANDES, Bernardo Gonçalves.
Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2017. p. 129.
76
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 12. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2017.
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Para a Suprema Corte, a constitucionalidade de uma norma só pode ser aferida pelo seu
cotejo com a Constituição que lhe é contemporânea (princípio da contemporaneidade), isto
é, aquela em vigor quando da sua vigência.
Assim, as normas infraconstitucionais materialmente incompatíveis com a nova Consti-
tuição não deverão ser consideradas inconstitucionais, mas, sim, não recepcionadas.
Outro importante tema diz respeito a recepção do direito pré-constitucional inconstitucional
face à Constituição pretérita.
Anote:
• A norma pretérita considerada inconstitucional quando comparada à Constituição que
lhe é contemporânea não poderá ser recepcionada pela nova ordem constitucional, ain-
da que com ela seja materialmente compatível, pois é tida como juridicamente inválida
desde a sua origem.
Pedro Lenza sintetiza que:
“Para uma lei ser recepcionada pelo novo ordenamento jurídico, deverá preencher os se-
guintes requisitos:
• estar em vigor no momento do advento da nova Constituição;
• não ter sido declarada inconstitucional durante a sua vigência no ordenamento anterior;
• ter compatibilidade formal e material perante a Constituição sob cuja regência ela foi edi-
tada (no ordenamento anterior);
• ter compatibilidade somente material perante a nova Constituição, pouco importando a
compatibilidade formal.” 77
77
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019
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Nas antinomias de segundo grau, o critério cronológico se apresenta como o critério mais
“fraco” dentre os três, porque sempre cede lugar a outro.
Anote!
Para facilitar os seus estudos, podemos apontar que, numa acepção moderna, a política seria a atuação
destinada à administração de uma determinada comunidade, buscando fixar a sua estrutura e organização.
Ciência Política:
Na lição de Norberto Bobbio, ciência política é entendida como:
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“(...) qualquer estudo dos fenômenos e das estruturas políticas, conduzido sistematicamente e com
rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos racionais. Nesta
acepção, o termo ‘ciência política’ é utilizado dentro do significado tradicional como oposto à ‘opinião’.”
Anote!
Ciência política é a ciência social dedicada ao exame dos sistemas, instituições, processos e fenômenos
políticos em um determinado Estado.
Resumindo!
Em Maquiavel, na sua obra “O Príncipe”, há a exclusão da ética e a justiça se apresenta como o poder
(o interesse) do mais forte, do príncipe, isto é, exibe uma justiça transitória, provisória.
O pensamento político de Maquiavel se fundamenta no conceito de que a estabilidade da cidade, da
sociedade e do governo precisa ser conseguida a todo o custo, cabendo ao príncipe essa missão.
Anote!
A formação do Estado demanda a presença de três elementos: povo, território e governo soberano.
a) Povo: é o componente humano, demográfico do Estado, caracterizado como o “conjunto das pessoas
dotadas de capacidade jurídica para exercer os direitos políticos assegurados pela organização estatal.”
79
Importante saber que povo e população não se confundem, sendo população “conceito que envolve
aspectos meramente estatísticos do número total de indivíduos que se sujeitam ao poder do Estado,
incluindo, por exemplo, os estrangeiros, apátridas e os visitantes temporários.” 80
b) Território: é base física, geográfica do Estado; e
c) Governo: é o elemento condutor do Estado, tratando-se do “conjunto das funções necessárias à
manutenção da ordem jurídica e da administração pública.” 81
Para haver um Estado perfeito, o governo deve ser soberano, não encontrando limites jurídicos no plano
interno e submetendo-se no plano internacional às regras voluntariamente aceitas.
78
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 35.
79
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 35.
80
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 36.
81
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 36.
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Finalidades do Estado:
a) No plano jurídico, o fim do Estado é a consecução do bem público, de sorte a atender
as necessidades inadiáveis da população, que serão traçadas segundo a doutrina sobre a
qual este Estado se embasa e se estrutura.
b) Pela doutrina abstencionista, também conhecida como laissez-faire, que tem cunho
liberal, e está ligada à corrente de pensamento econômico dos fisiocratas, ao Estado cabe tão
somente a tarefa de manter a ordem, seja ela interna ou externa, de modo que tudo aquilo que
fugir à manutenção da ordem caberá à iniciativa privada. Aqui, o Estado atuaria apenas como
um garantidor da autonomia privada e do livre jogo de interesses (Estado mínimo), apenas
agindo de forma policial para restabelecer, quando necessário, a normalidade. Nesse Estado
de tipo gendarme, há poucas leis regulamentadores e prevalece o livre direito de propriedade.
c) Pela visão socialista, o Estado não só representa a coletividade, mas assume o papel
de agente condutor (conformador) da realidade social, passando a atuar em todos os ramos
de atividade. Os mais radicais da doutrina socialista defendem que o Estado deve deter a
propriedade de tudo o que interessa à população, distribuindo-a a cada um conforme crité-
rios fixados por ele mesmo. Aqui, o objetivo seria o fim da propriedade privada e, em última
análise, o fim do próprio Estado.
d) Uma terceira doutrina, tida por eclética, buscou um meio termo entre o laissez-faire e o
socialismo. Consoante G. Sortais82, o lema levantado pelos ecléticos seria: “em vez de fazer
tudo, como defendem os socialistas, ou de fazer o mínimo, como pregam os abstencionis-
tas, o melhor é ajudar a fazer”. Sendo assim, para os ecléticos, ao Estado competiria apenas
ações de caráter supletivo, isto é, só atuaria em áreas que aos indivíduos seriam inviáveis.
Dessarte, a partir dessas ideias e da crítica ao Estado forte dos socialistas e ao Estado
mínimo do laissez-faire, emerge a proposta do Estado regulador e fiscalizador.
Ideologias:
A seguir, delineia-se, de forma sumária, as principais ideologias contemporâneas.
82
Sortais, G. Andrea del Verrocchio. The Catholic Encyclopedia. Robert Appleton Company.
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- Defende a criação
de uma sociedade
igualitária e fraterna “Utópico”: revolução pacífica Séc. XVIII
Socialismo
(ideal coletivista) em prol e gradual (Rev. Francesa)
do proletariado (classe
trabalhadora)
Científico ou Marxista: Séc. XIX
divide-se em (Primavera dos Povos e
- Social-Democracia; e Manifesto Comunista de
- Comunismo Marx em 1848)
Anticapitalista: quer a
implementação de uma
sociedade coletivista e sem
Desconhecida
governo, na qual todos
- Pretende a instalação de dividem tudo, como uma
uma sociedade igualitária grande tribo.
Anarquismo
e sem governo; Anarcocapitalismo: defende
- O povo se “autogoverna”. uma sociedade individualista
e sem governo, mas que
Desconhecida
respeita as individualidades
e o comércio (adere ao
capitalismo)
- Almeja a defesa dos
“direitos nacionais”:
Fascismo é uma das vertentes Formação dos Estados
Nacionalismo unidade (fraternidade),
conhecidas. Nacionais
raça forte e costumes
tradicionais
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Anote!
A grande contribuição de Aristóteles na teorização dos Poderes do Estado foi ter constatado a existência
de três funções estatais distintas.
Montesquieu, por seu turno, muitos anos após as ideias aristotélicas, mas partindo do
pressuposto de que três seriam as funções estatais, inovou em seu “O Espírito das Leis” ao
afirmar que estas não deveriam ser da competência de uma só pessoa ou órgão, mas, sim,
que estariam umbilicalmente ligadas a três órgãos distintos, autônomos e independentes
entre si. Com efeito, defendia que o exercício do poder do Estado se dividiria em três órgãos:
o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário, cada qual responsável por uma
função estatal.
O objetivo era superar os ideais absolutistas até então vigentes.
Mas, tenha cuidado, pois além das bases teóricas lançadas por Aristóteles, as ideias
consagradas por Montesquieu também encontraram (grande) respaldo nos escritos formu-
lados por John Locke, que contribuiu para a separação dos poderes através das instituições
adotadas pela Grã-Bretanha em razão da Revolução Gloriosa de 1968.
O filósofo inglês, no entanto, ao defender a separação dos poderes, limitou-se a dividi-
-los entre o Legislativo e o Executivo, não incluindo o Judiciário. Para ele, unir as funções
legislativas e executivas em um mesmo órgão “seria provocar uma tentação muito forte para
a fragilidade humana, tão sujeita à ambição...”83
Evolução do Estado e Soberania:
Para os teocráticos, amparados na teoria do direito divino, o poder soberano tem origem
em Deus e é pela vontade de Deus que há uma hierarquia entre governantes e governados.
Já a doutrina democrática, nascida na Idade Moderna, confere ao povo ou à nação o poder
soberano. São partidários desta concepção Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-
1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Para Thomas Hobbes, antes da vida em sociedade, o homem vivia em anarquia e violência,
no chamado estado de natureza. Era um cenário em que não havia hierarquia, mas um cons-
tante estado de beligerância, um guerreando contra o outro. O estado de natureza consistia
numa vida solitária, sórdida e brutal e só foi abandonado quando, por meio de um contrato
social, a soberania, antes dispersa, passou a ser exercida pela autoridade criada (o Estado).
Houve, portanto, uma transição entre o estado de natureza e o estado de sociedade.
O contrato social, segundo Hobbes, era irrevogável, sob pena de a humanidade retroceder
ao estado natural. O Estado, tal como o representou Hobbes, é um monstro alado – Leviatã
– que “abriga e prende para sempre o homem”.
83
CAETANO, 2003. apud NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 11. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPo-
divm, 2016. p. 248.
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John Locke parte de uma premissa distinta. Para ele, o estado de natureza não era de
caos, mas de ordem e razão. Assim como Hobbes, Locke era contratualista, isto é, acredi-
tava que a sociedade política surgiu a partir de um contrato social. No entanto, a finalidade
do Estado seria a de assegurar a lei natural, bem como manter a harmonia entre os homens.
Nesse sentido, na pactuação do contrato, sustentava não ter havido qualquer abdicação ou
cessão de direitos naturais ao Estado.
Jean Jacques Rousseau, igualmente, adere à premissa do estado de natureza. No entan-
to, o estado de natureza não era de caos, tampouco ordeiro e racional, como queria Locke.
No estado de natureza de Rousseau, o homem era livre e feliz. Nesse contexto, a sociedade
política surge como um mal necessário, para evitar o recrudescimento das desigualdades e
manter a ordem.
Rousseau entendia que, ao criar o Estado, por meio do contrato social, o homem cedia
parte dos seus direitos naturais em nome de uma entidade superior a todos, detentora de
uma vontade geral. No entanto, ao participar das decisões do Estado, o indivíduo retoma a
parcela de soberania que transferiu por força do contrato social. Para Rousseau, portanto, o
verdadeiro titular do poder de Estado é o povo.
Governo:
É o conjunto de órgãos e as atividades por eles exercidas na condução política do Estado,
definindo suas diretrizes supremas com considerável discricionariedade.
Sistemas de governo:
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QUESTÕES DE CONCURSO
Visando à fixação dos assuntos abordados, vejamos agora algumas questões cobradas em
provas de concurso público sobre os temas estudados.
Antes disso, alerto que em razão escassez de questões elaboradas pela FGV, preparei um com-
pilado de exercícios formulados por diversas bancas de prova, a fim de que não se perca, em
momento algum, a oportunidade de se colocar em prática o conhecimento apreendido.
Bom treino e bons estudos, pessoal! 💪
001. (TJ/SC/2018/FGV/TÉCNICO JUDICIÁRIO AUXILIAR) Após regular tramitação na As-
sembleia Legislativa, lei que fixava o novo salário mínimo estadual foi publicada no Diário
Oficial de Santa Catarina do dia 02. Verificando-se que do texto da lei não constou o valor
correto aprovado pelo Legislativo, foi providenciada nova publicação corretiva da lei, o que
ocorreu no dia 03.
Considerando que não foi designada data para vigência da lei, o novo salário passa a vigorar:
a) a partir do dia 02;
b) a partir do dia 03;
c) 45 dias após a publicação do dia 02;
d) 30 dias após a publicação do dia 03;
e) 45 dias após a publicação do dia 03.
002. (TJ/AL/2018/FGV/OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR) Até 07 de abril de 2017, vigorava,
no Município X, a Lei 01, que estipulava em trinta dias prazo para interposição de recursos à
própria administração municipal contra atos praticados por seus servidores. Na referida data,
entrou em vigor a Lei 02, que alterou o referido prazo para quarenta dias e revogou, neste
ponto, a Lei 01. Contudo, atendendo a pleito local, o Município editou a Lei 03, de 07 de março
de 2018, com o seguinte e único texto: “Art. 1º: Revoga-se Lei 02”.
Quanto a essa situação, é correto afirmar que:
a) no dia da publicação da Lei 03, a Lei 01 volta a vigorar;
b) trinta dias após a publicação da Lei 03, a Lei 01 retorna a vigorar;
c) quarenta e cinco dias após a publicação da Lei 03, a Lei 02 deixa de vigorar;
d) no dia da publicação da Lei 03, a Lei 02 deixa de vigorar;
e) trinta dias após a publicação da Lei 03, a Lei 02 deixa de vigorar.
003. (TJ/AL/2018/FGV/TÉCNICO JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA) Pedro ajuizou uma ação
em face de João e se saiu vitorioso, sendo-lhe atribuído certo bem. Anos depois, quando já não
mais era cabível qualquer recurso, ação ou impugnação contra a decisão do Poder Judiciário,
foi editada uma lei cuja aplicação faria com que o bem fosse atribuído a João.
À luz da sistemática constitucional, o referido bem deve:
a) permanecer com Pedro, por força da garantia do ato jurídico perfeito;
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Renato Borelli
II – Considera o ordenamento jurídico como um todo: A oposição entre dois textos incompa-
tíveis não decorre apenas da sua oposição formal, mas exige uma referência a uma situação.
(FERRAZ JR., T. S. A ciência do direito. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 95)
III – Baseia-se na investigação dos antecedentes da norma jurídica; guarda relação com o projeto
de lei, sua justificativa e exposição de motivos, discussões e emendas.
O método interpretativo a que se refere cada uma das assertivas é:
a) I – gramatical
II – lógico-sistemático
III – histórico
b) I – sociológico
II – histórico
III – lógico-sistemático
c) I – gramatical
II – histórico
III – sociológico
d) I – gramatical
II – lógico-sistemático
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III – sociológico
e) I – histórico
II – lógico-sistemático
III – sociológico
015. (CÂMARA DE FORTALEZA/CE/2019/FCC/CONSULTOR TÉCNICO JURÍDICO) Consi-
derando os conceitos de vigência, eficácia e efetividade da norma jurídica,
a) uma norma válida não pode ter sua vigência postergada.
b) todas as normas vigentes têm eficácia e efetividade.
c) sempre que uma norma jurídica não tiver mais vigência, automaticamente também não terá
mais eficácia.
d) vigência refere-se a validade formal ou técnico-jurídica, que pressupõe que a lei tenha sido
emanada por um órgão competente.
e) a norma jurídica que tem vigência, eficácia e efetividade não tem vigor.
016. (PGE/SE/2017/CESPE/CEBRASPE/PROCURADOR DO ESTADO) A adaptação de lei,
por um intérprete, às exigências atuais e concretas da sociedade configura interpretação
a) histórica.
b) sistemática.
c) sociológica.
d) analógica.
e) autêntica
017. (PGE/MS/2016/CONCURSOS MS/PROCURADOR DO ESTADO) Acerca da interpretação
das normas jurídicas, analise as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta:
I – A respeito da fonte (origem), os métodos de interpretação são classificados em autêntico,
jurisprudencial (judicial) e doutrinário.
II – A interpretação autêntica é aquela realizada pelo próprio legislador, por intermédio de nova lei.
III – A interpretação gramatical (literal) é tida como a primeira fase do processo interpretativo.
IV – O método de interpretação teleológico é o que melhor apura a vontade do legislador.
a) Apenas II está correta.
b) II, III e IV estão corretas.
c) Il e IV estão incorretas.
d) I, II e III estão corretas.
e) Apenas III está incorreta.
018. (CÂMARA DE JANDIRA/2020/IGECS/PROCURADOR JURÍDICO) A respeito do tema
“Poder Constituinte”, a situação em que normas da Constituição substituída, compatíveis
com as normas da nova ordem constitucional, permanecem em vigor, mas com força de lei
infraconstitucional, é denominada:
a) repristinação.
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b) desconstitucionalização.
c) recepção simples.
d) recepção material de normas constitucionais.
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c) Quando se afirma que todos têm direito à proteção das relações de consumo se está a referir
ao direito subjetivo.
d) O direito subjetivo garante os direitos objetivos e pode ser denominado facultas agendi ou
como right em oposição a law.
e) O direito subjetivo é garantido pelos direitos objetivos e pode ser denominado como norma
agendi ou como law em oposição a right.
024. (PGE/RJ/2012/PGE/RJ/TÉCNICO SUPERIOR: BIBLIOTECÁRIO) Chama-se de direi-
to objetivo:
a) o conjunto de normas jurídicas que regulam a vida de certa sociedade.
b) o conjunto das normas que não deixam margem à interpretação.
c) a faculdade de agir imediatamente,
d) o conjunto de normas que estabelecem objetivos a serem alcançados no futuro.
025. (TRT 9ª REGIÃO (PR)/2012/ESPP/JUIZ DO TRABALHO) Considerando a teoria do Direito
Civil acerca das locuções “direito objetivo” e “direito subjetivo”, assinale a alternativa incorreta:
a) O direito subjetivo associa-se à noção de “facultas agendi”.
b) Visto como um conjunto de normas que a todos se dirige e a todos vincula, temos o “direito
subjetivo”.
c) Direito subjetivo é a prerrogativa de invocação da norma jurídica, pelo titular, na defesa do
seu interesse.
d) Visto sob o ângulo subjetivo, o direito é o interesse juridicamente tutelado (Ihering).
e) O direito objetivo refere-se a um conjunto de regras que impõem à conduta humana certa
direção ou limite. Ele descreve condutas obrigatórias e comina sanções pelo comportamento
diverso dessa descrição
026. (CÂMARA DE FORTALEZA/CE/2019/FCC/REDATOR) Tem o direito, como direito “sub-
jetivo” (ou seja, o direito de um determinado sujeito), de ser distinguido da ordem jurídica,
como Direito “objetivo”. Na linguagem jurídica inglesa dispõe-se da palavra right quando se
quer designar o direito (subjetivo), o direito de um determinado sujeito, para o distinguir da
ordem jurídica, do Direito objetivo, da law.
(KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 8.ed., São Paulo: Martins Fontes, 2009, p. 140 e 141)
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c) Os costumes veiculam práticas que, ainda quando contrariem a lei, merecem ser levadas em
conta devido à sua reiteração social.
d) Os princípios gerais de direito não possuem eficácia normativa, mas podem funcionar como
elemento de persuasão argumentativa na defesa de uma determinada interpretação da lei lacônica.
e) A jurisprudência é fonte do direito e meio de preenchimento de lacunas.
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c) O entendimento de que, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, não constitui norma formal no Direito
Brasileiro, mas um princípio norteador da atuação do magistrado.
d) A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
e a coisa julgada, sendo que, de acordo com a definição legal, reputa-se ato jurídico perfeito o
já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
040. (MPE/MG/2021/MPE/MG/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/ADAPTADA) Julgue
o item a seguir.
A ideia da “desconstitucionalização” reconhece a recepção de preceitos constitucionais an-
teriores, porém na condição de direito ordinário, e desde que compatíveis com a nova ordem
constitucional.
041. (TJ/MG/2019/CONSULPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/
PROVIMENTO) O processo legislativo, consagrado no texto constitucional, consiste no conjunto
coordenado de disposições que disciplinam o procedimento a ser estabelecido pelos órgãos
competentes na produção de leis e atos normativos que derivam diretamente da própria cons-
tituição. Todavia, diante de uma nova ordem constitucional, normas anteriormente vigentes
podem ou não receber enquadramento jurídico diverso daquele que dispunham anteriormente.
A respeito do advento de uma nova ordem constitucional, assinale a alternativa correta.
a) Repristinação é o fenômeno que se dá quando uma norma revogadora de outra anterior, que,
por sua vez, tivesse revogado outra mais antiga, recoloca esta última novamente em estado de
produção de efeitos.
b) Recepção consiste no acolhimento, pela nova Carta Constitucional, de leis e atos normativos
vigentes na ordem constitucional anterior, mas sobre os quais subsistia dúvida ou insegurança
jurídica quanto à sua validade ou constitucionalidade.
c) Desconstitucionalização decorre da manutenção em vigor, perante a nova ordem jurídica, da
Constituição anterior, que, porém, perde sua hierarquia constitucional para operar como legis-
lação, mas, ocupando posição hierárquica superior à legislação comum.
d) Convalidação consiste no acolhimento que uma nova constituição dá às leis e atos norma-
tivos editados sob a égide da Carta anterior, desde que compatíveis consigo, recebendo ma-
terialmente tais leis e atos normativos, como também lhe assegurando conformidade à nova
sistemática vigente.
042. (CREA/GO/2019/QUADRIX/ADVOGADO) A respeito da eficácia da lei no tempo e do
conflito de normas, julgue os itens 94 e 95.
Uma lei ordinária incompatível com a ordem constitucional superveniente é considerada como
não recepcionada, não havendo que se falar em inconstitucionalidade superveniente.
043. (IMESF/2019/FUNDATEC/ASSESSOR JURÍDICO) Quando a lei ordinária, publicada sob
o regime constitucional revogado, mantém a sua validade frente a promulgação de uma nova
constituição, ocorre a aplicação da teoria da:
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a) Recepção.
b) Hierarquia constitucional.
c) Força normativa da constituição.
d) Repristinação.
e) Adequação constitucional.
044. (CLDF/2018/FCC/CONSULTOR LEGISLATIVO) Considere, hipoteticamente, que em
determinado Estado nacional seja promulgada nova Constituição, na qual estejam contem-
pladas as seguintes disposições:
I – Permanecem válidos e consideram-se vigentes, com o caráter de lei ordinária, os dispositivos
da Constituição anterior que não contrariem esta Constituição.
II – As leis ordinárias promulgadas anteriormente à entrada em vigor desta Constituição man-
têm-se válidas e em vigor naquilo em que não sejam contrárias a esta Constituição.
As disposições em questão referem-se, respectivamente, aos fenômenos da
a) recepção de normas constitucionais e desconstitucionalização.
b) desconstitucionalização e recepção.
c) repristinação e recepção.
d) desconstitucionalização e repristinação.
e) recepção de normas constitucionais e repristinação.
045. (PREFEITURA DE PINHAIS/2017/INSTITUTO AOPC/PROCURADOR) Relacione as
colunas e assinale a alternativa com a sequência correta.
1. Desconstitucionalização.
2. Recepção.
3. Repristinação Tácita.
4. Mutação Constitucional.
( ) Fenômeno pelo qual as normas da Constituição anterior, desde que compatíveis com a nova
ordem, permanecem em vigor, mas com o status de lei infraconstitucional.
( ) Consiste na restauração automática da vigência de norma efetivamente revogada.
( ) Ocorre quando a norma infraconstitucional anterior é materialmente compatível com o novo
texto constitucional.
( ) Processo informal de alteração do conteúdo da Constituição sem a modificação de seu texto.
a) 1 – 2 – 3 – 4.
b) 2 – 4 – 1 – 3.
c) 2 – 3 – 1 – 4.
d) 3 – 4 – 2 – 1.
e) 1 – 3 – 2 – 4.
046. (MPE/BA/2014/INSTITUTO AOCP/ASSISTENTE TÉCNICO) Quanto ao Estado, à Política
e à Cidadania, assinale a alternativa INCORRETA.
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extraordinários. De fato, aquele que tem número reduzido de inimigos pode saber com certe-
za o seu número sem grande trabalho ou esforço, enquanto que aquele que é objeto do ódio
geral nunca tem certeza de nada, e, tanto mais se mostra cruel, tanto mais enfraquece seu
próprio poder. Assinale a alternativa correta, respectivamente quanto ao autor e a sua obra.
a) Max Weber, Ciência e Política, duas vocações
b) August Comte, Apelo aos Conservadores
c) Émile Durkheim, As Formas Elementares da Vida Religiosa
d) Nicolau Maquiavel, O Príncipe
052. (IFB/2019/IFB/PROFESSOR) A Filosofia Política quando discutida com os estudantes
é de grande valia para desenvolver o espírito de cidadania. Um clássico desta discussão é
a obra “O Príncipe” de Maquiavel [...]. No Capítulo VIII o filósofo trata “Dos que chegaram ao
principado pelos crimes”. Segundo o pensamento do autor qual das afirmações abaixo está
CORRETA em relação ao tema em tela?
a) Ao conquistar um Estado, precisa o conquistador ter em mente o mal que terá que executar
continuamente, embora tenha que parecer bom.
b) Um príncipe deve, sobretudo, viver com os súditos, de modo que nenhum fato, bom ou mau,
o faça mudar, pois, chegando a adversidade, não haverá tempo para o mal.
c) O príncipe deve conquistar os homens com vantagens dadas de uma só vez, pois o bem que
fizer irá favorecê-lo, de modo que todos lhe serão gratos.
d) Se bem usadas, as crueldades, que no princípio do governo podem ir aumentando paulatina-
mente, poderão com o tempo ir se extinguindo até desaparecer totalmente.
e) O príncipe deve estar sempre pronto a praticar ofensas, pois a confiança em seus súditos
poderá ser sua ruína.
053. (COSANPA/2017/FADESP/SOCIÓLOGO) Para Nicolau Maquiavel, o príncipe deve, para
se manter no poder
a) usar só da força.
b) ficar ocioso nos tempos de paz.
c) desconsiderar as ações dos grandes homens.
d) incorporar a arte da guerra, tanto do ponto de vista do pensamento quanto da ação, mesmo
no momento de paz.
054. (CL/DF/2019/FCC/CONSULTOR TÉCNICO JURÍDICO) A política não é necessária, em
absoluto – seja no sentido de uma necessidade imperiosa da natureza humana como a fome
ou o amor, seja no sentido de uma instituição indispensável do convívio humano. Aliás, ela só
começa onde cessa o reino das necessidades materiais e da força física. Como tal, a coisa
política existiu sempre e em toda parte tão pouco que, falando em termos históricos, apenas
poucas grandes épocas a conheceram e realizaram. Esses poucos e grandes acasos felizes
da História são, porém, decisivos; é só neles que se manifesta de cheio o sentido da política
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e, na verdade, tanto o bem quanto a desgraça da coisa política. Com isso, eles tornam-se de-
terminantes, mas não a ponto de poder ser copiadas as formas de organização que lhes são
inerentes, e sim porque certas ideias e conceitos que se tornaram plena realidade para um
curto período de tempo, também co-determinem as épocas para as quais seja negada uma
experiência plena com a coisa política.
(Adaptado de: ARENDT, Hannah. O que é Política? – fragmentos das obras póstumas compilados por Úrsula
Ludz. Tradução de Reinaldo Guarany, 11.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013, pp. 50-51)
John Locke foi um importante filósofo inglês do século XVII. Esse trecho, destacado de um dos
textos do autor, discute um aspecto fundamental da ciência política contemporânea, o conceito de
a) conflito.
b) dominação.
c) hegemonia.
d) soberania.
e) legitimidade.
058. (CÂMARA DE BOITUVA/SP/2020/VUNESP/AGENTE ADMINISTRATIVO) A expressão
política do Estado é
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a) o poder público.
b) a administração direta,
c) a legislação.
d) a autoridade delegada.
e) o Governo.
059. (PRF/2020/CESPE/CEBRASPE/POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL/CURSO DE FORMA-
ÇÃO) Acerca da conceituação doutrinária de sociedade civil e de Estado, julgue o item a seguir.
A conceituação moderna de Estado defende a teoria da dupla personalidade do Estado, que,
em diferentes circunstâncias, atua tanto com personalidade de direito público quanto com
personalidade de direito privado.
060. (PRF/2016/CESPE/CEBRASPE/POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL/CURSO DE FORMA-
ÇÃO) No que se refere aos conceitos de sociedade e Estado, julgue os itens que se seguem.
Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário constituem os três elementos originários e in-
dissociáveis do Estado.
061. (CÂMARA DOS DEPUTADOS/2014/CESPE/CEBRASPE/CONSULTOR LEGISLATIVO)
Com relação a aspectos genéricos do Estado e específicos do Estado brasileiro, julgue o item
que se segue.
Um Estado é caracterizado pela existência de um território controlado por mecanismo político
de governo cuja autoridade tem o amparo legal para a utilização de força militar.
062. (SEPLAG/RJ/2013/CEPERJ/ESPECIALISTA EM POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO
GOVERNAMENTAL) O que caracteriza a dimensão “pública” de uma política é a sua:
a) imperatividade
b) regularidade
c) continuidade
d) totalidade
e) publicidade
063. (CÂMARA DE PORTO VELHO/RO/2018/FADESP/AUDITOR DE CONTROLE INTERNO)
De acordo com os pesquisadores do tema, a origem do Estado tem motivações distintas. Uma
delas destaca que o “Estado nasceu para regular as relações entre vencedores e vencidos”.
Identifique qual a origem dessa teoria.
a) Causas econômicas.
b) Atos de força
c) Patriarcal
d) Familiar
e) Causas patrimoniais
064. (CLDF/2018/FCC/CONSULTOR LEGISLATIVO) Além de absoluta e indissolúvel, a So-
berania para Rousseau possui mais duas características:
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GABARITO
1. e 25. b 49. a
2. c 26. a 50. E
3. e 27. d 51. d
4. b 28. C 52. b
5. a 29. e 53. d
6. e 30. a 54. d
7. d 31. C 55. C
8. b 32. d 56. E
9. a 33. e 57. e
10. b 34. c 58. e
11. c 35. E 59. E
12. b 36. E 60. E
13. d 37. C 61. C
14. a 38. c 62. a
15. d 39. c 63. b
16. c 40. C 64. e
17. d 41. a 65. C
18. b 42. C 66. E
19. d 43. a 67. C
20. C 44. b 68. b
21. E 45. e 69. c
22. a 46. c 70. C
23. a 47. c
24. a 48. C
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GABARITO COMENTADO
001. (TJ/SC/2018/FGV/TÉCNICO JUDICIÁRIO AUXILIAR) Após regular tramitação na As-
sembleia Legislativa, lei que fixava o novo salário mínimo estadual foi publicada no Diário
Oficial de Santa Catarina do dia 02. Verificando-se que do texto da lei não constou o valor
correto aprovado pelo Legislativo, foi providenciada nova publicação corretiva da lei, o que
ocorreu no dia 03.
Considerando que não foi designada data para vigência da lei, o novo salário passa a vigorar:
a) a partir do dia 02;
b) a partir do dia 03;
c) 45 dias após a publicação do dia 02;
d) 30 dias após a publicação do dia 03;
e) 45 dias após a publicação do dia 03.
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Sobre o termo inicial de vigência de uma lei, dispõe o art. 1º, caput, da LINDB que:
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada.
Uma lei nova entra em vigor tão logo esteja superado o seu período de vacatio legis (caso
exista) e uma vez que que isto venha a ocorrer o dispositivo legal terá efeito imediato e geral,
produzindo efeitos prospectivos (é dizer, a partir da data do início de sua vigência), devendo
respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
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Trata-se das previsões contidas no art. 6º, da LINDB, e no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal:
LINDB, art. 6º. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
CF, art. 5º. (...)
XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Define-se como coisa julgada a decisão judicial de que não caiba recurso. Refere-se, pois, à
imutabilidade da decisão judicial.
Assim, correta a alternativa E! À luz da sistemática constitucional, o referido bem deve: perma-
necer com Pedro, por força da garantia da coisa julgada.
Letra e.
Sobre o termo inicial de vigência de uma lei, dispõe o art. 1º, caput, da LINDB que:
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada.
Assim, se nada dispor a lei sobre o início da sua vigência, esta começará 45 dias após a publi-
cação oficial do diploma legal.
Correta, portanto, a alternativa B! O dispositivo com a alteração passa a vigorar quarenta e cinco
dias após a publicação da Lei Y.
Letra b.
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compatibilização dos atos normativos editados pelo Poder Público com as garantias consti-
tucionais do direito adquirido e do ato jurídico perfeito.
A esse respeito, é correto afirmar que:
a) a garantia da irretroatividade da lei não é invocável pelo ente federativo que a tenha editado
e determinado a retroação;
b) a lei nova sempre incidirá sobre os efeitos futuros de contrato preexistente;
c) as garantias do direito adquirido e do ato jurídico perfeito são oponíveis às normas emanadas
do Constituinte originário;
d) a capacidade de suceder é regida pela lei da época da abertura do inventário;
e) o direito adquirido surge no momento em que se inicia o preenchimento dos requisitos exi-
gidos em lei.
a) Certa. O direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada são direitos fundamentais
consagrados no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal e replicados no art. 6º da LINDB, não
podendo ser afetados pelo surgimento de lei nova.
Observem:
LINDB, art. 6º. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
CF, art. 5º. (...) XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;
JURISPRUDÊNCIA
Súmula n. 654-STF: “A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da
Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.”
A saber, “a formulação da Súmula 654/STF versavam hipóteses em que o próprio diploma le-
gislativo previa, de modo expresso, a aplicação retroativa de seus efeitos, de cuja incidência,
no entanto, o Poder Público – que editara a lei – pretendia ver-se excluído, invocando, então, de
maneira inadequada, o postulado da irretroatividade da lei.” [RE 567.360 ED, rel. min. Celso de
Mello, 2ª T, j. 9-6-2009, DJE 148 de 7-8-2009.]
Logo, correto afirmar que a garantia da irretroatividade da lei não é invocável pelo ente fede-
rativo que a tenha editado e determinado a retroação.
b) Errada. Diante da garantia constitucional ao direito adquirido, os contratos celebrados no
período de vigência de uma lei não podem ser afetados pelo surgimento de lei posterior.
c) Errada. Não há direito adquirido em face de uma nova Constituição, já que o Poder Consti-
tuinte Originário não está submetido a qualquer limitação jurídica.
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d) Errada. Sabendo que capacidade sucessória é a aptidão para receber os bens deixados pelo
de cujus (a pessoas que veio a óbito), ela será regida pela lei vigente no momento da morte do
autor da herança. A sucessão rege-se pela lei vigente ao tempo da sua abertura, o que ocorre
com a morte do autor da herança.
e) Errada. O direito adquirido é aquele que pode ser exercido desde já pelo seu titular por já ter
sido incorporado ao seu patrimônio jurídico. Nos termos do § 2º, do art. 6º, da LINDB:
LINDB, art. 6º. (...) § 2º Consideram-se adquiridos os direitos que o seu titular, ou alguém por ele,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-es-
tabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
Letra a.
b) Errada. O item versa sobre o ato jurídico perfeito e não sobre o direito adquirido.
Vejam:
LINDB, art. 6º. (...)
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como
aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável,
a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
c) Errada. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) estabelece que, quando
a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito, não citando a equidade.
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Letra e.
Havendo conflito aparente entre princípios, a situação será resolvida pela dimensão de valor.
Os princípios correspondem a mandados de otimização, normas que ordenam que algo seja
realizado na maior medida possível conforme as possibilidades fáticas e jurídica do caso con-
creto. Surgindo colisão entre princípios, deverá ser utilizada a técnica da ponderação, devendo
ser aplicado aquele que possuir maior peso frente a situação analisada, sem que isso implique
a invalidação do princípio entendido como de peso menor. Portanto, “nenhum desses princípios
em choque ostenta primazia definitiva sobre o outro. Nada impede, assim, que, em caso diverso,
com outras características, o princípio antes preterido venha a prevalecer.”84
Letra d.
84
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 12. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2017.
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c) 60 dias;
d) 120 dias;
e) 180 dias.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) estabelece em seu art. 1º, caput e
§ 1º, que:
LINDB, art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e
cinco) dias depois de oficialmente publicada.
§ 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3
(três) meses depois de oficialmente publicada.
Assim:
Prazo para a vigência de lei no território Prazo para a vigência de lei brasileira no
brasileiro: território estrangeiro:
3 (três) meses.
45 dias Obs.: Não confundir com 90 dias; aqui o prazo é
contado em mês, não em dias.
Letra b.
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção,
o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
Correta a alternativa A.
Letra a.
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§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incom-
patível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido
a vigência.
O dispositivo acima consagra o princípio da conciliação ou das esferas autônomas, que con-
siste na possibilidade de convivência das normas gerais com as especiais que versem sobre
o mesmo assunto.
O citado princípio, no entanto, não é absoluto!
Pode acontecer de uma norma geral ser completamente incompatível com uma norma especial,
hipótese em que haverá revogação tácita da norma especial.
De todo modo, alerta-se que tal incompatibilidade não se presume. Logo, sobrevindo uma
norma especial ou geral, deve-se presumir que a norma antiga e a nova são conciliáveis, coe-
xistindo ambas.
Então, muito cuidado com afirmações já prontas, de que “a lei posterior geral não revoga lei
especial” e, igualmente, “a lei especial não revoga a geral”. Em regra, não revogam, mas pode
ser que elas sejam incompatíveis e, assim, haverá revogação tácita.
c) Errada. Derrogação é a revogação parcial de uma lei e ocorrerá quando apenas parte da lei
perder a sua vigência, permanecendo em vigor a restante. É possível sim a derrogação (revogação
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parcial) expressa, que ocorrerá quando a lei revogadora indicar expressamente os dispositivos
da lei revogada que pretende rechaçar.
d) Errada. O efeito repristinatório advém do controle de constitucionalidade. Assim, em regra,
se uma lei revogadora é declarada inconstitucional, a lei que foi por ela revogada deverá voltar
a produzir efeitos. Isso acontece em atenção ao princípio da nulidade do ato inconstitucional.
De acordo com este princípio, o ato inconstitucional nasce eivado de nulidade (ele não é ape-
nas anulável!). À vista disso, a decisão que reconhece a inconstitucionalidade de uma norma é
declaratória de sua nulidade com efeito ex tunc. Em outros termos, significa dizer que a norma
declarada inconstitucional nasceu nula e, portanto, não poderia ter revogado a anterior valida-
mente, razão que justifica a restauração da vigência da norma revogada.
Pontua-se, todavia, a possibilidade de o efeito repristinatório ser afastado por expressa deter-
minação do Supremo Tribunal Federal, o que nos leva a conclusão de que o efeito repristinatório
não é admitido em todas as leis.
e) Errada. A ab-rogação é a revogação total de uma lei, sendo plenamente admitida pelo orde-
namento jurídico.
Letra b.
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum.
Letra c.
Com o advento de uma lei nova que regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior,
é correto afirmar que a lei nova revoga a lei anterior.
Podemos conceituar a revogação como sendo a perda da vigência de uma lei provocada pela
edição de outra.
Quanto à extensão, poderá ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação):
a) Revogação total (ab-rogação): ocorrerá quando toda a lei perder a sua vigência diante da
edição de uma nova;
b) Revogação parcial (derrogação): ocorrerá quando apenas parte da lei perder a sua vigência,
permanecendo em vigor a restante.
No mesmo sentido, impõe o art. 2º, § 1º da LINDB que:
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incom-
patível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
Letra b.
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I – Método preocupado com o sentido das palavras: [...] é, pois, apenas um ponto de partida, e
nunca ou quase nunca um fim do processo.
(FERRAZ JR., T. S. A ciência do direito. 3.ed . São Paulo: Atlas, 2014, p. 94)
II – Considera o ordenamento jurídico como um todo: A oposição entre dois textos incompa-
tíveis não decorre apenas da sua oposição formal, mas exige uma referência a uma situação.
(FERRAZ JR., T. S. A ciência do direito. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 95)
III – Baseia-se na investigação dos antecedentes da norma jurídica; guarda relação com o projeto
de lei, sua justificativa e exposição de motivos, discussões e emendas.
O método interpretativo a que se refere cada uma das assertivas é:
a) I – gramatical
II – lógico-sistemático
III – histórico
b) I – sociológico
II – histórico
III – lógico-sistemático
c) I – gramatical
II – histórico
III – sociológico
d) I – gramatical
II – lógico-sistemático
III – sociológico
e) I – histórico
II – lógico-sistemático
III – sociológico
85
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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Já a interpretação sistemática parte do pressuposto de que uma lei não existe isoladamente
e deve ser interpretada em conjunto com outras pertencentes à mesma província do direito,
levando-se em conta, às vezes, o livro, o título, o capítulo, a seção e o parágrafo.
Por fim, a interpretação histórica baseia-se na investigação dos antecedentes da norma, do
processo legislativo, a fim de descobrir o seu exato significado.
Letra a.
a) Errada. É possível que uma norma válida tenha a sua vigência postergada. É o que ocorre
na hipótese de vacatio legis, quando será definido um intervalo de tempo entre a publicação de
uma lei e a sua entrada em vigor. Conforme o art. 1º da LINDB, se a lei não trouxer disposição
em sentido diverso, o prazo de vacatio legis será de 45 (quarenta e cinco) dias.
Vejamos:
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada.
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três
meses depois de oficialmente publicada.
[...]
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A questão diz respeito ao método interpretativo sociológico, aquele cujo objetivo é adaptar o
sentido ou finalidade da norma às novas exigências sociais.
Letra c.
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a) Autêntico ou legislativo;
b) Jurisprudencial; e
c) Doutrinário.
II – Certa. Sim, interpretação autêntica ou legislativa é aquela feita pelo próprio legislador, por
outro ato. Este, reconhecendo a ambiguidade da norma, vota uma nova lei, destinada a escla-
recer a sua intenção.
III – Certa. A interpretação gramatical é também chamada de literal, consistindo no exame
do texto normativo sob o ponto de vista linguístico, analisando a pontuação, a colocação das
palavras na frase, a sua origem etimológica etc. É a primeira fase do processo interpretativo.
IV – Errada. Considera-se a interpretação histórica (e não a interpretação teleológica!) o me-
lhor método para apurar a vontade do legislador. É que a interpretação histórica se baseia na
investigação dos antecedentes da norma, do processo legislativo, a fim de descobrir o seu
exato significado.
Letra d.
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b) histórica.
c) jurisprudencial.
d) teleológica.
e) lógica.
É isso mesmo! Interpretação autêntica ou legislativa é aquela feita pelo próprio legislador, por
outro ato. Este, reconhecendo a ambiguidade da norma, vota uma nova lei, destinada a escla-
recer a sua intenção.
Certo.
De acordo com a teoria da livre pesquisa do direito, o juiz deve ter função criadora na aplicação
da norma, que deve ser interpretada em função das concepções jurídicas morais e sociais de
cada época.
Errado.
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Correta a alternativa A! A situação de normas incompatíveis entre si” refere-se ao problema das
antinomias.
Antinomias são as contradições, reais ou aparentes, entre normas jurídicas. Na lição de Maria
Helena Diniz, a antinomia é:
[...] o conflito entre duas normas, dois princípios, ou de uma norma e um princípio geral de direito
em sua aplicação prática a um caso particular. É a presença de duas normas conflitantes, sem que
se possa saber qual delas deve ser aplicada ao caso singular (DINIZ, 2003, p. 471).
Letra a.
a) Certa. A questão aborda a teoria da vontade do direito subjetivo na visão de Savigny, devida-
mente estudada em nossa aula.
Conforme Savigny, a vontade do sujeito é o elemento essencial e característico do direito sub-
jetivo, este entendido como o poder da vontade. Para esta teoria, o direito subjetivo é o poder
originário da vontade humana, reconhecido pela ordem jurídica.
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b) Errada. A expressão direito objetivo é que pode ser utilizada como sinônimo de ordenamen-
to jurídico.
Como visto, o direito objetivo está relacionado à positividade, é o direito posto, isto é, a própria
norma ou o conjunto de normas de conduta positivadas.
c) Errada. Quando se afirma que todos têm direito à proteção das relações de consumo, con-
forme se extrai do art. 5º, XXXII, da CF/1988, se está a referir ao direito objetivo (norma agendi).
Vejamos como disciplina o texto constitucional:
d/e) Erradas. Caio Mário explica que o direito objetivo traduz o “comando estatal, a norma
de ação ditada pelo poder público, e é nesta acepção que se repete secularmente que ius est
norma agendi”, ao passo que o direito subjetivo abrange “o poder de ação contido na norma,
a faculdade de exercer em favor do indivíduo o comando emanado do Estado, definindo-se ius
facultas agendi”.
Na linguagem jurídica inglesa dispõe-se da palavra right quando se quer designar o direito
(subjetivo), o direito de um determinado sujeito, para o distinguir da ordem jurídica, do Direito
objetivo, da law.
Letra a.
Perfeita a alternativa A! Chama-se de direito objetivo o conjunto de normas jurídicas que regu-
lam a vida de certa sociedade
O direito objetivo (norma agendi) está relacionado à positividade, é o direito posto, ou seja,
aquele contido em normas jurídicas. Pode-se dizer que o direito objetivo é a própria norma ou
o conjunto de normas de conduta positivadas.
Letra a.
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Somente a alternativa B está INCORRETA, afinal é o direito objetivo (e não o direito subjetivo!)
que se define como um conjunto de normas que a todos se dirige.
Letra b.
Sabendo que o direito objetivo (norma agendi) é o direito posto, ou seja, aquele contido em
normas jurídica, definindo-se como a própria norma ou o conjunto de normas de conduta posi-
tivadas e o direito subjetivo é a faculdade de se exercer, em favor do titular, o comando contido
na norma, façamos a análise das alternativas:
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a) Certa. É isso mesmo. A legislação escrita pode ser conceituada como o direito objetivo e a
pretensão jurídica de um sujeito de direito, amparada numa norma estatal, pode ser compreen-
dida como direito subjetivo.
b) Errada. Considerando o trecho da obra de Hans Kelsen apresentado no enunciado da questão,
não há como se afirmar o dever jurídico como expressão máxima do direito objetivo.
c) Errada. O direito subjetivo pressupõe a existência de normas jurídicas, de direitos objetivos.
d) Errada. Ainda que toda norma jurídica se enquadre como direito objetivo, não se pode afirmar
que será direito objetivo apenas a lei emanada do Poder Legislativo. Em verdade, a depender do
sistema de direito adotado, certo falar que o direito objetivo é a norma, seja legal ou costumeira,
que contém e regula o poder de ação do indivíduo.
e) Errada. De forma alguma. Direito objetivo e subjetivo não são conceitos idênticos.
Letra a.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) estabelece que, quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
de direito.
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Letra d.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum.
Certo.
Segundo a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, art. 4º, o juiz decidirá o caso de
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito quando a lei for omissa.
Vejamos:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
Letra e.
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a) Para o direito civil constitucional, a lacuna ensejadora de integração não é somente a norma-
tiva, mas também a ontológica, axiológica ou antinômica.
b) A analogia consiste em interpretação extensiva, isto é, no alargamento da norma existente
para contemplar hipótese não expressa, mas implícita, na lei.
c) Os costumes veiculam práticas que, ainda quando contrariem a lei, merecem ser levadas em
conta devido à sua reiteração social.
d) Os princípios gerais de direito não possuem eficácia normativa, mas podem funcionar como
elemento de persuasão argumentativa na defesa de uma determinada interpretação da lei lacônica.
e) A jurisprudência é fonte do direito e meio de preenchimento de lacunas.
a) Certa. Na doutrina de Maria Helena Diniz, a lacuna ensejadora de integração pode ser clas-
sificada em normativa, ontológica, axiológica ou antinômica, de modo que:
• Lacuna normativa: ausência total de norma prevista para um determinado caso concreto.
• Lacuna ontológica: presença de norma para o caso concreto, mas que não tenha eficácia
social.
• Lacuna axiológica: presença de norma para o caso concreto, mas cuja aplicação seja
insatisfatória ou injusta.
• Lacuna de conflito ou antinomia: choque de duas ou mais normas válidas, pendente de
solução no caso concreto.86
b) Errada. Analogia é valer-se da disciplina legal de uma determinada situação para aplica-la a
uma situação semelhante. Pode ser:
a) Legal: quando o operador do direito se vale de norma jurídica para a integração da lei; ou
b) Jurídica: quando, não existindo norma que regule situação semelhante, o julgador extrai do
conjunto de normas existentes uma conclusão coerente.
c) Errada. Os costumes veiculam práticas que contrariem a lei (costumes contra legem) não
podem ser utilizados e aplicados às relações sociais, não sendo considerados fontes do direito.
d) Errada. Os princípios gerais de direito possuem eficácia normativa, podendo também funcio-
nar como elemento de persuasão argumentativa na defesa de uma determinada interpretação
da lei lacônica.
Flávio Tartuce leciona que:
Deve-se reconhecer eficácia normativa aos princípios, inclusive imediata em alguns casos, parti-
cularmente naqueles que envolvem os direitos fundamentais da pessoa, ou de personalidade. Isso
porque com o Estado Democrático de Direito houve a transposição dos princípios gerais de direito
para princípios constitucionais fundamentais.87
86
DINIZ, Maria Helena. As lacunas no direito. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 95.
87
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.
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Analogia é valer-se da disciplina legal de uma determinada situação para aplica-la a uma situa-
ção semelhante. Pode ser:
a) Legal: quando o operador do direito se vale de norma jurídica para a integração da lei; ou
b) Jurídica: quando, não existindo norma que regule situação semelhante, o julgador extrai do
conjunto de normas existentes uma conclusão coerente.
Certo.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro estatui expressamente que quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
de direito.
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Vejamos:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
Letra d.
A questão está se referindo ao direito positivo, o conjunto de regras elaborados e vigentes num
determinado país em determinada época, são as normas, as leis, todo o sistema normativo
posto, ou seja, vigente no país.
Letra e.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
Letra c.
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Não se pode confundir a aplicação da analogia com a interpretação extensiva. No primeiro caso,
rompe-se com os limites do que está previsto na norma, havendo integração da norma jurídica. Na
interpretação extensiva, apenas amplia-se o seu sentido, havendo subsunção. 88
Errado.
A integração também pode ser feita pela equidade, desde que expressamente autorizado por
lei. Portanto, não será utilizada sempre que o juiz considerar adequada a sua aplicação, mas
apenas quando a lei expressamente autorizar.
Errado.
88
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.
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De fato, em uma visão clássica defende-se que a ordem estabelecida no art. 4º da LINDB deve
ser rigorosamente obedecida.
Destarte, quando a lei for omissa o juiz deverá recorrer aos seguintes métodos de integração,
nessa sequência:
1. Analogia;
2. Costumes; e
3. Princípios gerais de direito.
Certo.
a) Errada. Conforme o art. 6º da LINDB: “Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, res-
peitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. “
b) Errada. Conforme o art. 1º, § 1º, da LINDB: “§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade
da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.”
c) Certa. Está de acordo com o art. 2º, § 2º, da LINDB: “§ 2º A lei nova, que estabeleça disposi-
ções gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.”
d) Errada. Conforme o art. 2º, § 3º, da LINDB: “3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada
não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.”
e) Errada. Conforme o art. 1º, § 4º, da LINDB: “§ 4º As correções a texto de lei já em vigor con-
sideram-se lei nova.”
Letra c.
a) Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois
de oficialmente publicada, contudo, nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira,
quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
b) Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue, sendo certo que a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando
seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
Ademais, a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior.
c) O entendimento de que, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, não constitui norma formal no Direito
Brasileiro, mas um princípio norteador da atuação do magistrado.
d) A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
e a coisa julgada, sendo que, de acordo com a definição legal, reputa-se ato jurídico perfeito o
já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada.
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três
meses depois de oficialmente publicada.
[...]
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incom-
patível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga
nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido
a vigência.
c) Errada. O entendimento de que, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito está positivado no art. 4º da LINDB,
constituindo norma formal no Direito Brasileiro.
d) Certa. Está de acordo com o art. 6º, caput e § 1º da LINDB:
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito ad-
quirido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
efetuou.
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Letra c.
É isso mesmo! A tese da desconstitucionalização preceitua que diante da edição de uma nova
Constituição, normas da Constituição revogada continuariam vigentes, porém com status de
norma infraconstitucional.
Certo.
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a) Recepção.
b) Hierarquia constitucional.
c) Força normativa da constituição.
d) Repristinação.
e) Adequação constitucional.
Quando a lei ordinária, publicada sob o regime constitucional revogado, mantém a sua validade
frente a promulgação de uma nova constituição, ocorre a aplicação da teoria da recepção.
As normas infraconstitucionais editadas na vigência de Constituição pretérita que forem mate-
rialmente compatíveis com a nova ordem constitucional são por ela recepcionadas.
Letra a.
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A sequência correta é 1 – 3 – 2 – 4.
Vejamos:
(1) Desconstitucionalização: fenômeno pelo qual as normas da Constituição anterior, desde que
compatíveis com a nova ordem, permanecem em vigor, mas com o status de lei infraconstitucional.
(3) Repristinação Tácita: consiste na restauração automática da vigência de norma efetiva-
mente revogada.
(2) Recepção: ocorre quando a norma infraconstitucional anterior é materialmente compatível
com o novo texto constitucional.
(4) Mutação Constitucional: processo informal de alteração do conteúdo da Constituição sem
a modificação de seu texto.
Letra e.
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a) Certa. O Estado, nação política organizada, pode ser vislumbrado sempre que presentes três
elementos:
a) Povo: é o seu componente humano, demográfico;
b) Território: é a sua base física, geográfica;
c) Governo: é o elemento condutor do Estado, tratando-se do “conjunto das funções necessárias
à manutenção da ordem jurídica e da administração pública.” 89
Para haver um Estado perfeito, o governo deve ser soberano, não encontrando limites jurídicos
no plano interno e submetendo-se no plano internacional às regras voluntariamente aceitas.
Nesse sentido, correto afirmar ser o Estado composto pelos elementos materiais:
a) Elementos materiais: povo e território; e
b) Elemento formal: as leis constitucionais. É dizer, o Direito Constitucional stricto sensu.
De acordo com Paulo Bonavides, o Estado possuí inerentes a si, elementos, que podem ser de
Ordem Material ou Formal.
Os de “ordem formal” correspondem ao poder político, ao passo que os “ordem material”
abrangeria o elemento humano, que se qualifica em graus distintos, como população, povo e
nação, isto é, em termos demográficos, jurídicos e culturais, bem como o elemento território.
Aprofundando o tema, interessante apontar que alguns autores, a exemplo de Antônio Sebastião
de Lima, sustenta uma teoria de cinco elementos do Estado, quais sejam: (1) povo; (2) território;
(3) governo; (4) finalidade – os denominados elementos materiais – e (5) direito constitucional,
que seria o elemento formal.
Nas palavras do autor:
“O Estado, produto da cultura humana, sociedade política, instituição política... tem matéria e forma.
Os elementos essenciais que lhe dão existência são o povo, o território, o governo e a finalidade.
Esses elementos, em conjunto, são a estrutura do Estado, a sua constituição material. As regras
que estabelecem os vínculos de organização e funcionamento entre esses elementos são a cons-
tituição formal do Estado, o seu direito constitucional escrito ou consuetudinário.” (LIMA, 1998,
p. 35) (negritos nossos).
89
BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da Constituição.
Coleção Sinopses para Concursos. 7ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODVIM. 2017. p. 36.
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e) Certa. Perfeito, é isso mesmo. A política relaciona-se com a cidade, com o cidadão e os mo-
dos de organização do espaço público e do convívio social. Pode ser entendida como o ramo
do conhecimento que tem por conteúdo as relações interpessoais na sociedade e as decisões
públicas, tomadas por aqueles que administram a coisa pública. Em outras palavras, política
seria a gestão dos negócios da comunidade.
Letra c.
A palavra política tem origem na palavra grega pólis, e se refere ao que é urbano, civil, público,
enfim, ao que é da cidade (da pólis).
Correta, portanto, a alternativa C.
Letra c.
Na lição de Norberto Bobbio, ciência política é entendida como “qualquer estudo dos fenôme-
nos e das estruturas políticas, conduzido sistematicamente e com rigor, apoiado num amplo
e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos racionais. Nesta acepção, o termo
‘ciência política’ é utilizado dentro do significado tradicional como oposto à ‘opinião’.”
Certo.
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Letra a.
De forma alguma! A política, conforme estudado no decorrer desta, pode ser definida como o
ramo do conhecimento voltado a investigar a melhor forma de governo para o estabelecimento
do bem comum, estando associada a gestão dos negócios da comunidade, não se limitando,
portanto, a mera a escolha dos parlamentares por meio do processo eleitoral.
Errado.
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za o seu número sem grande trabalho ou esforço, enquanto que aquele que é objeto do ódio
geral nunca tem certeza de nada, e, tanto mais se mostra cruel, tanto mais enfraquece seu
próprio poder. Assinale a alternativa correta, respectivamente quanto ao autor e a sua obra.
a) Max Weber, Ciência e Política, duas vocações
b) August Comte, Apelo aos Conservadores
c) Émile Durkheim, As Formas Elementares da Vida Religiosa
d) Nicolau Maquiavel, O Príncipe
Acredito que não tenha sido difícil responder à questão. Trata-se de trecho extraído da obra “O
Príncipe”, de Nicolau Maquiavel.
Letra d.
Temos aqui uma boa questão. A seguir, um pequeno trecho de “O Príncipe” que irá nos ajudar
a definir a alternativa correta.
“ao apoderar-se de um Estado, o conquistador tem de determinar as ofensas, que precisa executar, e
fazê-las todas de uma vez para não ter que repeti-las todos os dias. Assim, poderá incutir confiança
nos homens e conquistar-lhes o apoio com benefícios. As ofensas devem-se fazer todas de uma
vez, a fim de que, tomando-se-lhes menos o gosto ofendam menos, e os benefícios precisam ser
realizados pouco a pouco, para serem mais bem saboreados. Principalmente, um príncipe deve
viver com seus súditos de maneira a que nenhum acidente, bom ou mau, o faça variar, pois vin-
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a) Errada. Nem só da força deve se valer o príncipe para se manter no poder, mas também pela
concessão de benefícios, que “precisam ser realizados pouco a pouco, para serem mais bem
saboreados.”
b/c) Erradas. Se no pensamento maquiavélico qualquer ideia de virtude pode ser resumida como
todas ações necessárias para alcançar o poder e nele se manter, ficar ocioso nos tempos de
paz e desconsiderar as ações dos grandes homens não são ações que se esperam do príncipe,
que deve, em verdade, governar com diligência e plena atenção a tudo o que acontece, tomando
todas as providências necessárias para manter-se no poder e garantir estabilidade a cidade.
d) Certa. Conforme Maquiavel, deve o princípio “não ter outra finalidade nem outro pensamento,
nem qualquer outra atividade como prática, senão a guerra, seu regulamento e disciplina, pois
essa é a única arte que se atribui a quem comanda [...]. Não deve, portanto, o príncipe deixar de
se preocupar com a arte da guerra e praticá-la na paz”
Letra d.
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curto período de tempo, também co-determinem as épocas para as quais seja negada uma
experiência plena com a coisa política.
(Adaptado de: ARENDT, Hannah. O que é Política? – fragmentos das obras póstumas compilados por Úrsula
Ludz. Tradução de Reinaldo Guarany, 11.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013, pp. 50-51)
O conceito de poder não é uniforme, ele se molda conforme o tempo e a corrente de pensa-
mento adotada.
Robert Dahl, por exemplo, resume a definição de poder da seguinte maneira: “A exerce poder
sobre B na medida em que consegue que B faça algo que de outro modo não faria”.
Nesse sentido, correto afirmar que no âmbito do domínio de um indivíduo sobre outro, concei-
tua-se poder como a relação entre dois sujeitos, dos quais um impõe ao outro a própria vontade
e lhe determina seu comportamento.
Certo.
Ao contrário, Locke defende a limitação do poder através da separação deste em Poderes Exe-
cutivo, Legislativo e Judiciário, cada qual assumindo uma função essencial ao Estado.
Aliás, confrontado às ideias absolutistas, poderá ser “inviável imaginar que os homens, ao
instituir a sociedade, iriam conceder ao legislador um poder arbitrário sobre suas ações, vidas,
liberdade e posses, pois se assim o fizessem, estariam se colocando em situação muito pior
do que no estado de natureza, onde ao menos dispunham de liberdade para defender, por sua
própria força, seus direitos perante as agressões alheias”90
Errado.
John Locke foi um importante filósofo inglês do século XVII. Esse trecho, destacado de um dos
textos do autor, discute um aspecto fundamental da ciência política contemporânea, o conceito de
a) conflito.
b) dominação.
c) hegemonia.
d) soberania.
e) legitimidade.
90
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 101-102.
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c) a legislação.
d) a autoridade delegada.
e) o Governo.
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A formação do Estado demanda a presença de três elementos: povo, território e governo so-
berano. Sabendo que o governo é o elemento condutor do Estado, sendo dotado de poder de
coerção, correta a assertiva trazida no item.
Certo.
Para Maria das Graças Rua, a dimensão pública de uma política é dada pelo seu caráter jurídico
imperativo, assim políticas públicas (policy) compreendem o conjunto das decisões e ações
relativas à alocação imperativa de valores envolvendo bens públicos. Complementa dizendo
que ações e decisões privadas, ainda que sejam de interesse público não se confundem com
atividade política e com política pública.91
Letra a.
91
RUA, Maria das Graças. Políticas Públicas. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2009. 130 p.
______. Análise de Políticas Públicas: Conceitos Básicos. In: RUA, Maria das Graças; VALADÃO, Maria Izabel. O Estudo da
Política: Temas Selecionados. Brasília: Paralelo 15, 1998.
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Não podemos nos esquecer da teoria proposta por Thomas Hobbes, para quem, antes da vida
em sociedade, o homem vivia em anarquia e violência, no chamado estado de natureza. Era
um cenário em que não havia hierarquia, mas um constante estado de beligerância, um guer-
reando contra o outro. O estado de natureza consistia numa vida solitária, sórdida e brutal e só
foi abandonado quando, por meio de um contrato social, a soberania, antes dispersa, passou a
ser exercida pela autoridade criada (o Estado). Houve, portanto, uma transição entre o estado
de natureza e o estado de sociedade.
Letra b.
A soberania para Rousseau é o exercício da vontade geral. Desse modo, não poderia ser alienada
ou dividida e jamais estaria concentrada nas mãos de um homem ou de um grupo.
Para Rousseau, soberano é o corpo coletivo que expressa, através da lei, uma vontade geral.
A soberania do povo, manifestada pelo Poder Legislativo, é inalienável, isto é, não pode ser
representada. A democracia rousseauísta considera que toda a lei não ratificada pelo povo
em pessoa é nula. Nesse sentido, não há um superior, já que os depositários do poder não
são senhores do povo, mas seus oficiais, podendo ser eleitos ou destituídos conforme a
conveniência.92
Em resumo, a soberania seria absoluta, indissolúvel, inalienável e infalível.
Letra e.
92
PINTO, Márcio Morena. Rousseau e a soberania popular.
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O Estado Liberal “centra-se na figura do indivíduo como sujeito de direito. Nesse sentido, cabe-
ria ao Estado, por meio do Direito Positivo (abstrato e geral), garantir certeza (previsibilidade)
nas relações sociais, por intermédio da compatibilização dos interesses privados de cada
um com o interesse de todos, deixando a busca da felicidade nas mãos de cada indivíduo.
A Constituição é compreendida como um mero “instrumento de governo” (como o estatuto
jurídico-político fundamental da organização da sociedade política), que organiza e limita o
Poder Político.” 93
Assim:
“(...) o Direito, sob o paradigma liberal, seria um “sistema fechado de regras”, que teria por função
de estabilizar expectativas de comportamento, determinando os limites e, ao mesmo tempo, garan-
tindo a esfera privada de cada indivíduo. Com o uso de leis gerais e abstratas, busca-se garantir,
ainda que apenas formalmente, a liberdade, a igualdade e a propriedade, de modo que todos os
sujeitos receberiam os mesmos direitos subjetivos. É por isso que os direitos e garantias funda-
mentais passam a ser entendidos como verdadeiras garantias negativas da não intervenção do
Estado na sociedade.”94
Certo.
93
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2020.
p. 70-71
94
ATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade, Tutela jurisdicional e estado democrático de direito, p. 38; QUADROS DE MAGALHÃES,
José Luiz, Direito constitucional, p. 63.
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“após a Primeira Guerra Mundial tem início um novo paradigma de Estado. Devemos observar que o
período do Estado Liberal gerou “a maior exploração do homem pelo homem de que se tem notícia
na história da humanidade”. Nesses termos, temos jornadas de trabalho de 15 a 17 horas por dia,
idosos, crianças e mulheres em rodízio nos postos de trabalho, remunerações aviltantes levando
ou conduzindo milhões de desvalidos à completa miséria, além de uma fortíssima repressão a
qualquer tipo de protestos, bem como um exército de mão de obra de reserva criado nas periferias,
em condições degradantes. Esse cenário levou à eclosão de um sem-número de questionamentos
e movimentos sociais (socialismo utópico, científico e anarquistas).” 95
Certo.
Para John Locke, o poder legislativo é o mais importante dos poderes como forma de manter
o pacto social.
Para o filósofo inglês:
“Esse poder legislativo não é somente o poder supremo da comunidade, mas sagrado e inalterável
nas mãos em que a comunidade uma vez colocou; nem pode qualquer edito de quem quer que
seja, concebido por qualquer maneira ou apoiado por qualquer poder que seja, ter força e a obri-
gação da lei se não tiver a sanção do legislativo escolhido e nomeado pelo público; porque sem
isto a lei não teria o que é absolutamente necessário à sua natureza de lei: o consentimento da
sociedade sobre a qual ninguém tem o poder de fazer leis senão por seu próprio consentimento e
pela autoridade recebida.”96
Letra b.
95
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. rev., ampl. E atual. Salvador. JusPODIVM, 2020.
p. 72.
96
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. São Paulo: Abril, Coleção “Os pensadores”, 1991. p.92.
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J. J. Rousseau define o contrato social como uma livre associação do gênero humano, que
decide compor uma determinada forma de sociedade política, com base na vontade geral,
com vistas ao pacto social.
Letra c.
Muito bem!
Encerramos nosso curso, pessoal.
A todos, muito sucesso nessa caminhada.
Havendo dúvidas, estou à disposição de vocês.
Renato Borelli
Juiz federal e especialista em Direito Público, Direito Tributário e Sociologia Jurídica. Juiz federal do TRF-1.
Foi juiz federal do TRF-5. Exerceu a advocacia privada e pública. Foi servidor público e assessor de desem-
bargador federal (TRF-1) e ministro (STJ). Atuou no Carf/Ministério da Fazenda (antigo Conselho de Con-
tribuintes) como conselheiro. É formado em Direito e Economia, com especialização em Direito Público,
Direito Tributário e Sociologia Jurídica.
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