Você está na página 1de 31

DIREITO PROCESSUAL CIVIL -

NOVO CPC/2015 -
INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS
2

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


3
ATUALIZADO EM 02/06/2018

INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL CIVILi

01. CONCEITO DE PROCESSO

A palavra processo é utilizada na linguagem jurídica em três acepções complementares (pluralidade de sentidos):

I) Primeira acepção: Advém da Teoria da Norma Jurídica. Processo é o modo de produção de norma jurídica. Há
o processo legislativo (norma jurídica legal), o administrativo (norma jurídica administrativa) e o jurisdicional
(norma jurídica jurisdicional).Pela jurisdição se produzem duas espécies de norma jurídica: a primeira é a norma
jurídica individualizada, que resolve o caso concreto, e a segunda é o precedente, que é a norma aplicável
a/reguladora de casos futuros.
# OBS.1: atualmente se fala muito também em processo privado ou negocial. É o modo de produção de normas
jurídicas no âmbito privado. Ex.: se quero aplicar uma multa a um condômino que cometeu uma infração ao
regimento do condomínio. Ele terá de ser ouvido, se defender, a assembleia irá votar. Esse também é um
processo que, no entanto, é privado. Ex.: expulsar um associado de um clube. Tem que instaurar um processo
privado no âmbito da associação para averiguar a infração que o associado cometeu. É um processo que decorre
da autonomia privada. O STF entende que a ideia de devido processo legal se aplica também no âmbito privado.
Daí a importância de perceber que há aí também processo.
# OBS.2: Fala-se muito em processo arbitral. O processo arbitral é espécie de processo jurisdicional, porém,
privado. Não é o quinto tipo (adm., legisl., jurisd., privado).

II) Segunda acepção: Advém da Teoria do Fato Jurídico.P rocesso é um ato jurídico complexo, ou seja, um
conjunto de atos jurídicos organizados, concatenados, que têm por propósito a produção de um ato final, qual
seja, a decisão (visão holística do processo).
# OBS.: Tradicionalmente, a doutrina coloca o procedimento como gênero do qual o processo é espécie. Nessa
visão, advinda do período ditatorial, processo é procedimento organizado/qualificado em contraditório. Com o
advento da CF/1988, o constituinte impôs o contraditório também ao procedimento administrativo.

III) Terceira acepção: Perspectiva da Eficácia Jurídica. Também é fruto da Teoria do Fato Jurídico. Processo é o
conjunto/amontoado das situações/relações jurídicas decorrentes dos fatos jurídicos que o compõem. Situação
jurídica, nesse contexto, consiste em direitos, deveres, capacidades, ônus e competências processuais. O
Processo é essencialmente dinâmico. “O processo é um feixe de relações jurídicas” – Carnelutti.

02. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL NO TEMPO

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


4
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados
os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.

*A impugnação à justiça gratuita é feita nos autos do próprio processo ou em autos apartados? • Antes do
CPC/2015: autos apartados. • Depois do CPC/2015: nos autos do próprio processo. Qual é o recurso cabível
contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade de justiça? • Antes do CPC/2015: apelação. •
Depois do CPC/2015: agravo de instrumento. Se a parte ingressou com a impugnação antes do CPC/2015, mas
esta somente foi julgada após a vigência do novo Código, qual é o recurso que deverá ser interposto contra essa
decisão que rejeitou ou acolheu a impugnação? Agravo de instrumento. Cabe agravo de instrumento contra o
provimento jurisdicional que, após a entrada em vigor do CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação à
gratuidade de justiça instaurado, em autos apartados, na vigência do regramento anterior. Aplica-se aqui o
princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria do isolamento dos atos processuais. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/11/2017 (Info 615).

*#OLHAOGANCHO #OUSESABER: As multas processuais estão abarcadas pela gratuidade de justiça? Não! O §1º
do artigo 98 do CPC traz um rol de despesas que estão abrangidas pela gratuidade. Além das multas processuais
não constarem desse rol, o §4º do mesmo artigo estabelece expressamente que a concessão da gratuidade de
justiça não afasta o dever de o beneficiário pagar, ao final, as multas processuais que lhe sejam impostas.

*#DIZERODIREITO #JURISPRUDENCIA #STJ: O estrangeiro residente no Brasil tem direito à gratuidade da justiça?
SIM. O estrangeiro residente no Brasil possui direito à gratuidade da justiça. Isso é previsto no CPC/2015 e
também já era garantido na Lei nº 1.060/50. E o estrangeiro não residente no Brasil? Lei 1.060/50: Não tinha
direito. Só poderia ser deferida a gratuidade da justiça para estrangeiros residentes no Brasil (art. 2º). CPC/2015:
possui o direito. Atualmente, pode ser deferida a gratuidade da justiça para estrangeiros residentes ou não-
residentes no Brasil (art. 98). A gratuidade da justiça passou a poder ser concedida a estrangeiro não residente no
Brasil após a entrada em vigor do CPC/2015. STJ. Corte Especial. Pet 9.815-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 29/11/2017 (Info 622). #IMPORTANTE

03. VETORES METODOLÓGICOS PARA COMPREENSÃO DO PROCESSO CIVIL

a) Teoria do Direito;
b) Direito Constitucional e
c) Direito Material.

A) Processo e Teoria do Direito


A TGD é uma disciplina que nos últimos trinta anos passou por profundas modificações. Iremos listar seis
transformações indiscutíveis dentro da TGD. Para fins didáticos, essas seis transformações serão divididas em
dois grupos: transformações na Hermenêutica Jurídica e transformações na Teoria das Fontes.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
5
I) Mudanças havidas na Hermenêutica Jurídica:
I.1)Distinção entre texto normativo e norma jurídica: o artigo de lei consiste no texto normativo; já a norma
jurídica é o sentido que se atribui ao texto normativo. A norma jurídica, portanto, é o resultado da interpretação
de um texto normativo.Ex.: Súmula é texto normativo, do qual se extrai norma jurídica.
I.2)Quem interpreta, cria: Toda atividade interpretativa é também criativa. A criatividade na interpretação
jurídica, todavia, é limitada pela tradição, pelo sentido mínimo das palavras, dentre outros elementos, e se
assemelha a uma reconstrução de significados (o juiz reconstrói o sentido dos enunciados normativos).
I.3)Desenvolvimento das máximas da proporcionalidade e da razoabilidade: a proporcionalidade e a
razoabilidade se desenvolveram para conter arbitrariedades no fenômeno interpretativo. Nascem como forma
de promoção de decisões mais justas.
Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
II) Mudanças havidas na Teoria das Fontes do Direito:
II.1)Princípio é norma: Norma jurídica é gênero do qual são espécies princípios e regras. As consequências do
entendimento de que princípios devem ser vistos como normas são: a) inserção dos princípios no ordenamento
jurídico; b) a possibilidade de postular-se e decidir-se com base unicamente em princípios. Princípios, enquanto
normas (ser), não são valores, embora sua construção possa ter sido inspirada nestes. A regra impõe uma
conduta/comportamento; o princípio impõe que se chegue a um determinado estado de coisas.
Nem sempre que houver conflito entre regra e princípio, este último irá prevalecer. Se eles estiverem no mesmo
patamar, prevalece a regra, por ser mais concreta, específica. Se o princípio, no entanto, estiver em patamar
superior, ele irá prevalecer. Princípio estabelece como as coisas devem ser, metas, estados de coisas a serem
alcançadas. As regras estabelecem condutas, permitem, proíbem ou determinam condutas.

Erros comuns
Princípios não estão localizados unicamente na Constituição Federal, visto que
podem derivar de qualquer fonte, como as leis ordinárias.
Nem toda norma constitucional é um princípio. Também há regras
constitucionais. Em verdade, na Constituição Federal há mais regras que
princípios.
“O juiz decide com base nas leis e nos princípios” – Fase desprovida de sentido,
posto que o juiz decide com base no direito e nas leis estão também inseridos
os princípios.
“Princípio é toda norma repleta de elevada importância” – Regras também
podem ser dotadas de relevância.
“Sempre que a regra conflita com princípio, o último deve prevalecer” – Pelo

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


6
contrário. Salvo relevância hierárquica, ou seja, estando no mesmo patamar,
prevalece a regra, que já fora individualizada.

* Teoria dos Princípios – Humberto Ávila (Ed. Malheiros).


Dispositivos de lei que partem do pressuposto de que princípios são normas:
Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento
jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
[…]
§ 2o No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação
efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas
que fundamentam a conclusão.
II.2)Precedentes jurisprudenciais e jurisprudência são espécies de norma jurídica: O NCPC redefine a
acepção de princípio da legalidade, posto que impõe a observância ao ordenamento jurídico, às normas
e não à lei.
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
[…]
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que:
[…]
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
7
 Precedente, enunciado de súmula e jurisprudência enquanto norma jurídica.
II.3)Mudança na técnica legislativa: o modo de se escrever as leis mudou. Surgiu o que se chama de cláusula
geral, ou seja, texto/enunciado normativo (e não norma) que, uma vez interpretado, produz norma (princípio ou
regra); caracteriza-se por possuir tanto uma hipótese quanto um consequente indeterminados.
Textos herméticos costumam envelhecer rapidamente; ademais, não costumam apreender a realidade em sua
complexidade. Do contrário, textos abertos, maleáveis, em razão de sua maior capacidade de adaptação,
perpetuam-se por um intervalo superior de tempo.
As cláusula gerais, portanto, tornam o sistema jurídico flexível/móvel, arenjando-o.
Exs.: cláusula geral de boa-fé; cláusula geral da função social da propriedade e do contrato.
O Processo Civil, que tradicionalmente é visto como um campo não propício ao desenvolvimento de cláusulas
gerais, está apresentando alterações nesse sentido (combinação de cláusulas abertas e fechadas). Prova maior
são os seguintes dispositivos do NCPC:
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
[…]
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva.
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades
processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

B) Processo e Direito Constitucional

I) Principais mudanças havidas no Direito Constitucional nos últimos anos:


I.1) Reconhecimento da força normativa da Constituição Federal;
Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas
fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as
disposições deste Código.
I.2) Desenvolvimento da teoria dos direitos fundamentais – consolidação do rol de direitos fundamentais
processuais (direito fundamental ao contraditório, ao devido processo legal, ao juiz natural, dentre outros). O
processo deve servir à efetivação dos direitos fundamentais;
I.3) Desenvolvimento/aperfeiçoamento da jurisdição constitucional (controle de constitucionalidade).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


8
Obs.: O neoconstitucionalismo é uma forma de pensar o direito que se caracteriza por diversas nuances, dentre
elas as 3 supracitadas. Não é fenômeno exclusivo do Direito Constitucional, e sim de toda a ciência do Direito.
Didier prefere a designação “Neopositivismo”. Deve-se atentar para a existência de abusos que, todavia, não
invalidam a aplicação dos caracteres Neoconstitucionalistas.
* Neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades – Daniel Sarmento (internet);
* Neoconstitucionalismo: entre a ciência do Direito e o direito da ciência –Humberto Ávila;
* Teoria da Katchanga – George Marmelstein (site: direitosfundamentais.net).
II) Fases da história do processo brasileiro:
I.1) Praxismo (pré-histórica - até o final do século XIX): se caracteriza por uma indistinção entre o processo e o
direito material. Não se estudava o processo enquanto fenômeno autônomo;
II.2) Fase de autonomia da ciência do processo ou do processualismo (final do século XIX até o século XX):
caracteriza-se pelo surgimento e construção da ciência do processo;
II.3) Fase do instrumentalismo (pós-II Guerra Mundial): caracteriza-se pelo reconhecimento das construções
desenvolvidas na fase do processualismo. Passa, todavia, a estudar o processo sob uma nova perspectiva, como
a sua efetividade, o acesso à justiça, os novos direitos (direitos coletivos), dentre outros (abordagem holística,
interdisciplinar). Há uma reaproximação do direito material, passando o processo a ser visto enquanto
instrumento de efetivação/realização/concretização do direito material.
II.4) Neoprocessualismo ou Formalismo-valorativo: Para alguns processualistas, o processo civil brasileiro
encontra-se ainda na terceira fase, a do instrumentalismo. Para Fredie Didier, todavia, vive-se uma quarta fase
da ciência do processo, qual seja, a de reconstrução a partir das transformações havidas no pensamento jurídico
(últimos cem anos). Fala-se, portanto, em “Neoprocessualismo” – a expressão preferida por Didier, por remeter
principalmente ao Neoconstitucionalismo – e em “Formalismo-valorativo” – Carlos Alberto Álvarode Oliveira.

C) Processo e Direito Material

I) Premissas:
I.1) Todo processo, sem exceção, tem conteúdo, ou seja, o caso concreto, problema, lide,questão ou mérito. O
processo nasce, portanto, para a solução destes casos concretos, problemas, questões, lides ou mérito.
I.2) Este objeto do processo é sempre, sem exceção, um caso de direito material. O direito material, por sua vez,
é o direito discutido no processo.
I.3) Toda a estrutura do processo, portanto, depende do caso concreto, ou seja, estávinculado à natureza de um
determinado direito material. A relação entre processo e direito material, portanto, não é hierárquica, e sim, de
mútua-dependência, de simbiose.
OBS. – Relação circular entre processo e direito material: “O processo serve ao direito material ao mesmo tempo
em que é servido por ele”.

“O processo é a certeza quanto aos meios e a incerteza quanto aos resultados.”


CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
9

NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

01. INTRODUÇÃO

“DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS”


Nomenclatura adotada pelo NCPC para o seu primeiro livro, capítulo I, composto pordoze artigos de cunho
eminentemente exemplificativo (rol não exaustivo), posto que normas desta natureza podem ser encontradas
tanto na Constituição Federal quanto em partes diversas do Código.
As normas fundamentais do processo civil podem ser regras ou princípios, e não exclusivamente os últimos.
Considera-se norma fundamental toda aquela que estrutura o processo civil e cumpre uma função hermenêutica
de iluminar/guiar a interpretação das demais normas.

02. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL

2.1. PRINCÍPIOS EXPRESSOS

A) DEVIDO PROCESSO LEGAL

A.1) Parte histórica

É a tradução para o português de due process of law. Essa expressão inglesa, que sobrevive até hoje, surgiu em
1354 na Inglaterra, portanto, no séc. XIV. A ideia traduzida por essa expressão remonta ao séc. XI em 1037. Qual
a razão para tanta longevidade dessa expressão? Por ser uma cláusula geral, de forma que foi se adaptando às
transformações sociais. O devido processo legal é, portanto, uma cláusula geral que existe há mais de 800 anos e
que, obviamente, teve seu conteúdo modificado durante esse período. A noção de processo devido é uma noção
construída historicamente. Essa expressão foi ainda traduzida em outros países de outras maneiras. Os italianos
traduziram como processo giusto, os alemães como processoequitativo(fair trail), os ingleses como due e os
portugueses como processo justo. Como somos muito influenciados pelos italianos, o termo processo justo é
muito utilizado pelos autores brasileiros. Consiste em proteção que todo o cidadão possui contra o exercício
tirânico do poder.

A.2) Terminologia:

Devido: É um conceito muito indeterminado. O que era devido no séc. XIV pode não ser devido no séc. XXI. O
que precisamos saber é o que é devido hoje, e para isso temos que partir de uma premissa: o que hoje se
entende por processo devido é tudo que se construiu e que se consolidou nos últimos séculos e aquilo que é
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
10
devido que ainda está sendo construído. A cláusula geral não foi esvaziada pelos oito séculos de uso. O que é
devido, portanto, é um conjunto de direitos, boa parte deles expressamente previsto (contraditório, publicidade,
proibição de prova ilícita, motivação, juiz natural, duração razoável), por serem direitos muito consolidados e
incorporados. Muitos desses direitos se tornaram princípios ou regras processuais (proibição de prova ilícita,
motivação). Isso não desnatura, invalida o fato de serem direitos decorrentes do devido processo legal. E há
também direitos que decorrem do processo legal ainda implicitamente previstos. Ainda não ganharam texto
próprio, por exemplo, efetividade, boa-fé, adequação. O devido processo legal é, portanto, um conjunto de
garantias (é um direito fundamental complexo) que foram maturadas ao longo da história.O papel do devido
processo legal é defender as pessoas da tirania. O seu conteúdo é determinado pelas formas de tirania
existentes ao longo do tempo. O DPL se modifica quando surge uma nova forma de tirania.

Processo: refere-se não só ao processo jurisdicional, como também ao processo administrativo, legislativo e
privados.

Art. 57, do CC -A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. (Redação
dada pela Lei n. 11.127, de 2005).

Também em 2005, ano em que foi alterado o supra referido art. 57, do CC, o STF decidiu, ao apreciar litígio entre
clube e associado, que os direitos fundamentais, inclusive os processuais, aplicam-se às relações entre
particulares.
Isso de aplicar ao âmbito privado um direito fundamental é aquilo que se chama de eficácia horizontal dos
direitos fundamentais (particulares como sujeitos passivos de direitos fundamentais). Essa incidência ocorre
tanto na fase pré-negocial quanto executiva. A eficácia vertical dos direitos fundamentais, por sua vez, se dá nas
relações entre o Estado e o cidadão.

*#OBS.: Teoria da State Action1.


Essa teoria vem do Direito Norte-Americano e preconiza que os direitos fundamentais são direcionados apenas
ao Estado, pois o texto constitucional se refere apenas aos Poderes Públicos na maioria de suas cláusulas
consagradoras de direitos fundamentais.

Ressalte-se que essa teoria não tem aplicação no Direito Brasileiro. A realidade brasileira revela desigualdades
sociais exorbitantes, o que torna necessária a utilização dos direitos fundamentais também pelos particulares.
Além disso, o neoconstitucionalismo trouxe força normativa aos princípios, de modo que as normas
constitucionais e os direitos fundamentais devem ser interpretadas com a maior eficácia possível.

1 Informações disponíveis em: http://www.ambito-


juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15921. Acesso em: 22 de fevereiro de 2018.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
11

#OBS.: Teoria da Eficácia Indireta ou Mediata.


Essa teoria foi idealizada pelo alemão Günter Dürig e preleciona que os direitos fundamentais até podem incidir
sobre os particulares, mas isso não ocorre de maneira automática. Para a irradiação desses direitos seria
necessária atuação legislativa infraconstitucional interligando as normas constitucionais aos particulares.
Esclarece Gomes e Sarmento:

“Os defensores da teoria da eficácia horizontal mediata dos direitos fundamentais sustentam que tais direitos
são protegidos no campo privado não através dos instrumentos do Direito Constitucional, e sim por meio de
mecanismos típicos do próprio Direito Privado. A força jurídica dos preceitos fundamentais estender-se-ia aos
particulares apenas de forma mediata, através da atuação do legislador.”

#OBS.: Teoria da Eficácia Direta ou Imediata.


Foi idealizada pelo teórico Hans Carl Nipperdey e sustenta que os direitos fundamentais incidem
automaticamente sobre todos os destinatários das normas constitucionais, Estado ou particulares. Além disso,
há diversos reflexos nas normas da CF/88 que referendam a aplicação desta teoria no sistema jurídico brasileiro.

Legal: Advém do termo inglês of law. Nós traduzimos como legal. Todavia, law não é lei e sim direito. Até porque
não se poderia falar muito em lei, e sim em costume. O que se queria dizer mesmo era o direito. Dessa forma,
devido processo legal não é o processo devido em acordo com a lei, e sim de acordo com o direito. E é por isso
que alguns autores no Brasil não usam essa expressão, embora seja muito consagrada, usando a expressão
devido processo constitucional, que deixa claro que é um processo de acordo com todo o Direito, e como todo
direito está em acordo com CF ela foi escolhida.

A.3) Dimensões:

a) Dimensão formal ou procedimental: é a dimensão como um conjunto de garantiasprocessuais. Aquilo que se


costuma encarar propriamente como devido processo legal.

b) Dimensão substancial, material ou substantiva: O devido processo legal como uma norma de decisão aplicável
aos casos concretos, ou seja, norma vocacionada à Justiça. Essa construção com esse sentido é uma construção
brasileira, consagrada no STF. Nos EUA o devido processo legal substancial nasceu para servir como suporte
normativo para identificação de direitos fundamentais implícitos, em outras palavras, adveio para suprir a
ausência de menção a alguns direitos fundamentais na constituição norte-americana. Sempre que se buscava um
direito fundamental que não tinha previsão expressa se dizia que ele estava protegido pelo devido processo legal

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


12
em sua versão/dimensão substancial. Era uma forma de tutelar direitos fundamentais implícitos, por se ter uma
Constituição mais enxuta.

O que ocorre no Brasil é diferente!


Nós, brasileiros, não precisamos da acepção americana, pois a nossa Constituiçãoreconhece expressamente que
o rol de direitos fundamentais é exemplificativo.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[…]
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
A dimensão substancial se consagrou no direito brasileiro de um modo muito peculiar. A jurisprudência do STF e
muitos autores brasileiros passaram a entender que devido processo legal, em uma dimensão substancial, é a
fonte dos deveres de proporcionalidade e razoabilidade. O devido processo legal impõe, desse modo, que o juiz
e o legislador tomem decisões razoáveis e proporcionais. Há uma crítica que afirma ser errada essa construção
por ter compreendido erradamente a construção americana. Uma segunda crítica diz que essa construção é
inútil, pois o STF poderia ter chegado a essa conclusão com base em outros princípios, como o da igualdade e o
de Estado de Direito, sem necessidade de se criar uma nova dimensão para o devido processo legal. É uma
construção cultural típica do Brasil, peculiar. Não há nada de errado nisso. As críticas não são acertadas.

B) CONTRADITÓRIO

B.1) Dimensões:

a) Dimensão formal: A primeira dimensão é formal, que garante às partes o direito de participar do processo e
de atuar nele. Direito de ser informado sobre a existência do processo. Essa é uma dimensão puramente formal,
pois só garante a presença da parte. Existe uma relação próxima entre contraditório e democracia enquanto
regime de participação no exercício do poder, já que o contraditório garante a participação do jurisdicionado no
poder judiciário.

b) Dimensão substancial: Garante o direito de poder influenciar a decisão. Não basta garantir a participação, é
preciso que a parte tenha condições de influenciar aquilo que se discute. Ela deve ter os instrumentos
adequados para convencer o juiz que ela tem razão. É o poder de influência, que é o poder de interferir no
convencimento do juiz pelos seus argumentos e provas. A ampla defesa nada mais é do que a dimensão

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


13
substancial do contraditório. A ampla defesa é um conjunto de ferramentas que auxiliam a parte no
convencimento do juiz.
O NCPC nasce do desejo de concretização do contraditório em sua dimensão substancial:
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
[…]
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que:
[…]
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador;

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do
qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
qual deva decidir de ofício.
O art. 10 do NCPC concretiza o princípio do contraditório substancial, proibindo decisão-surpresa, também
chamada de decisão de terceira via. Consagra, ademais, o dever de consulta do juiz para com as partes acerca de
ponto relevante que não foi objeto de contraditório.
Exprime com perfeição a visão contemporânea da relação entre o juiz e o contraditório, posto que o magistrado
também é sujeito do contraditório. Assim, todos os sujeitos do processo devem atuar de acordo com o
contraditório.
Art. 933. Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de
questão apreciável de ofício ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do
recurso, intimará as partes para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias.
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades
processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
[…]
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às
necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito;

OBS.1 – Liminar inaudita altera pars: não fere o contraditório em razão da sua provisoriedade. O contraditório é
diferido. Pode ser revista. Ela é uma técnica para proteger o direito do autor numa ponderação entre direito do
réu e o perigo.
OBS.2 – Contraditório é o dever do juiz respeitar os limites do pedido. A parte ré se defende daquilo que foi
pedido, de forma a não poder se defender daquilo que o juiz determina além da peça inicial. A parte fica
impossibilitada de influenciar a decisão do juiz. Congruência entre pedido e sentença.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
14

*É INCONSTITUCIONAL lei estadual que crie, como requisito de admissibilidade para a interposição de recurso
inominado no âmbito dos juizados especiais, o depósito prévio de 100% do valor da condenação. Tal norma viola
a competência privativa da União para legislar sobre direito processual, além de vulnerar os princípios do acesso
à jurisdição, do contraditório e da ampla defesa. STF. Plenário. ADI 2699/PE, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
20/5/2015 (Info 786).

C) DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

Surgiu em decorrência do devido processo legal. Um processo para ser devido não pode demorar de forma
irrazoável e injustificada, ou seja, deve ser tempestivo. Foi previsto inicialmente em Tratados Internacionais aos
quais o Brasil aderiu. A partir da EC n. 45/2004, esse princípio foi expressamente incorporado à CF/88 (art. 5o,
LXXVIII). Com o advento do CPC/2015, passou a ser princípio expresso também na normativa processual civil (art.
4o, NCPC).
Art. 4o.As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral da lide, incluída a atividade
satisfativa.
A própria garantia do devido processo legal impõe uma série de providências que devem ser tomadas que fazem
com que o processo demore(demora inerente ao processo), como a oitiva do réu, recursos e produção de
provas. O nome do princípio não é celeridade, que dá a ideia de rapidez, velocidade. Na verdade, o processo tem
que demorar o tempo necessário para se ter um processo justo(deve ser examinado caso a caso). Razoável é um
termo indeterminado.
A Corte Europeia de Direitos Humanos tem jurisprudência antigaque fixa critérios para a aferição da
razoabilidade da duração do processo:
 Complexidade da causa (Ex.: Mensalão);
 Comportamento do juiz (se o juiz fez tudo que podia para o processo andar);
 Comportamento das próprias partes (Ex.: indicar testemunha que não existe);
 Estrutura do órgão judiciário (peculiaridade da Justiça brasileira).
Obs.1: O art. 97-A, da Lei 9.504/1997 presume razoável o prazo de 01 (um) ano, incluindo a tramitação em todas
as instâncias, para processo eleitoral que possa resultar em perda de mandato eletivo (presunção absoluta de
razoabilidade da demora).
Art. 97-A. Nos termos do inciso LXXVIII do art. 5o da Constituição Federal, considera-se duração razoável
do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo o período máximo de 1 (um) ano, contado
da sua apresentação à Justiça Eleitoral.
§ 1o A duração do processo de que trata o caput abrange a tramitação em todas as instâncias da Justiça
Eleitoral.
§ 2o Vencido o prazo de que trata o caput, será aplicável o disposto no art. 97, sem prejuízo de
representação ao Conselho Nacional de Justiça.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
15
Obs.2: O art. 7o, parágrafo único, da Lei da Ação Popular informa que o proferimento de sentença além do prazo:
Art. 7º A ação obedecerá ao procedimento ordinário, previsto no Código de Processo Civil, observadas as
seguintes normas modificativas:
[…]
Parágrafo único. O proferimento da sentença além do prazo estabelecido privará o juiz da inclusão em
lista de merecimento para promoção, durante 2 (dois) anos, e acarretará a perda, para efeito de
promoção por antigüidade, de tantos dias quantos forem os do retardamento, salvo motivo justo,
declinado nos autos e comprovado perante o órgão disciplinar competente.

Obs.3: O art. 235, do NCPC regula a representação contra o juiz por excesso de prazo (processo administrativo).
Art. 235. Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria Pública poderá representar ao corregedor
do tribunal ou ao Conselho Nacional de Justiça contra juiz ou relator que injustificadamente exceder os
prazos previstos em lei, regulamento ou regimento interno.
[…]
§ 3o Mantida a inércia, os autos serão remetidos ao substituto legal do juiz ou do relator contra o qual se
representou para decisão em 10 (dez) dias.
Obs.4: Art. 93, II, “e”, da CF/88.
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios:
[…]
II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antigüidade e merecimento, atendidas
as seguintes normas:
[…]
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não
podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão;

D) PUBLICIDADE

Para um processo ser considerado devido ele tem que ser público. Dispositivos do NCPC que versam sobre o
Princípio da Publicidade:
Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes,
de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
16
A Publicidade, portanto, tem uma dupla dimensão:
 Publicidade interna: dirigidaaos sujeitos do processo.
 Publicidade externa: dirigida a terceiros. É a mais relevante, já que não há maiores problemas com a publicidade
interna. Em razão de permissão dada pela própria CF, a publicidade externa pode ser restringida nas hipóteses
do art. 189/NCPC:
Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação,
alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
 Nem toda arbitragem é sigilosa, ainda que costume ser e haja autorização legal para tanto.
§ 1o O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões
de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores.
§ 2o O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da
sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação.
O juiz deve dar uma decisão restringindo a publicidade daquele processo.Não há processo totalmente sigiloso,
de modo que a publicidade jamais será zerada.A publicidade é instrumento deveras importante à fiscalização do
cumprimento da atividade jurisdicional. O princípio da publicidade está intimamente relacionado com a regra da
motivação.
O NCPC privilegia o sistema de precedentes, sendo a publicidade fundamental à divulgação clara, organizada e
frequente pelos Tribunais de suas decisões judiciais:
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
[…]
§ 5oOs tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica decidida e
divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores.
Art. 979. A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e específica
divulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça.
§ 1o Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com informações específicas sobre
questões de direito submetidas ao incidente, comunicando-o imediatamente ao Conselho Nacional de
Justiça para inclusão no cadastro.
§ 2o Para possibilitar a identificação dos processos abrangidos pela decisão do incidente, o registro
eletrônico das teses jurídicas constantes do cadastro conterá, no mínimo, os fundamentos
determinantes da decisão e os dispositivos normativos a ela relacionados.
§ 3o Aplica-se o disposto neste artigo ao julgamento de recursos repetitivos e da repercussão geral em
recurso extraordinário.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
17
Obs.: Uma outra novidade do NCPC é a possibilidade das partes realizarem em comum acordo
ajustes/adequações no rito processual (adequação convencional do processo pelas partes).
! Pergunta-se: É possível o sigilo convencional (estipulado pelas partes)? Não! Se as partes querem sigilo, devem
se dirigir a árbitros, e não ao Judiciário propriamente dito, pela própria obrigação da proteção de terceiros. Isto
porque a publicidade não diz respeito unicamente às partes do processo, mas funciona como garantia a terceiros
estranhos ao processo.
* Resolução n. 143/2011 do CNJ.

E) IGUALDADE PROCESSUAL

Deriva do princípio da igualdade em seu sentido geral. Veja-se o que diz o NCPC acerca do tema, ao consagrar a
“paridade de armas”:
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades
processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Aspectos fundamentais para a concretização da igualdade no processo:
I) Igualdade perante o juiz, que serevela na imparcialidade do magistrado (equidistância das partes);
II) Garantia conferida às partes de acesso às mesmas informações;
III) Ausência de discriminação para o acesso à Justiça: em tese, todos podem demandar judicialmente, sem
prévia distinção legal. Há, todavia, impedimentos de caráter material, como os custos do litígio judicial
(impedimentos financeiros). Este problema é resolvido por meio de técnicas que minimizam as dificuldades de
acesso de pessoas carentes ao Judiciário, como a instauração da Defensoria Pública e a concessão da gratuidade
judiciária. Há também impedimentos geográficos. O NCPC reduz esta desigualdade com a possibilidade de
sustentação oral por meio de videoconferência. Os impedimento de comunicaçãosão visíveis diante dos
deficientes auditivos, visuais e de fala.Igualdade, portanto, é permitir que as pessoas vão ao Judiciário
paritariamente armadas.

F) EFICIÊNCIA

Consiste no mais novo princípio processual expresso. A Eficiência consiste na obtenção máxima de uma
finalidade com o mínimo de recursos possível. Também é eficiente quem consegue extrair de um meio a sua
máxima eficiência. Encontra-se intimamente relacionado à ideia de administração/gestão/gerenciamento. Um
processo eficiente é, portanto, um processo bem gerido/administrado.
Obs.1 – Eficiência x Efetividade: efetividade tem a ver com a obtenção de resultado/ propósito. É possível,
portanto, que um processo seja efetivo, ou seja, atinja o seu propósito, sem ser eficiente. * A recíproca, todavia,
não é verdadeira, de modo que um processo eficiente necessariamente será efetivo.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


18
* #IMPORTANTE #NÃOCONFUNDIR:

EFICIÊNCIA --- GESTÃO DOS MEIOS (como os atos processuais serão praticados)

EFETIVIDADE ------ PRODUÇÃO DE RESULTADO DESEJÁVEL.

Assim, um processo pode ser efetivo sem ser eficiente. Mas, ao ser eficiente (processo com boa gestão), ele,
necessariamente, será efetivo (resultado desejável).

Obs.2 – Eficiência x Economia processual: não há distinção, de modo que o princípio da eficiência é apenas o
“novo nome” do princípio da economia processual. Há dois motivos para tanto: 1) Razão metajurídica – a palavra
eficiência remete diretamente à ideia de administração/gestão (papel retórico). O CNJ é prova da tentativa de
melhorar a gestão de demandas judiciais pelo Judiciário. 2) Razão dogmática – chama-se de princípio da
eficiência por estar assim previsto expressamente no art. 37, caput, da CF/88.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
O princípio da eficiência tem dupla natureza:
 Direito administrativo: impõe uma administração pública eficiente. Aplica-se ao judiciário? Com certeza. Tanto é
assim que esse é o grande papel do CNJ. Confirma a necessidade de se encarar a eficiência administrativa
também para o judiciário.
 Direito processual: impõe que o juiz conduza o processo de forma eficiente. Está relacionado à gestão do
processo. Para ser eficiente deve ter o menor gasto possível e o melhor resultado possível. Essa é a nova visão:
juiz como gestor do processo (gerenciamento processual). O juiz deve se valer das técnicas de administração
gerencial. É uma mudança de postura. Ex.: um juiz percebe que uma perícia vai servir a várias causas; ele pode
determinar uma perícia única e dividir os custos pelas partes. Pela primeira vez previu-se infra-
constitucionalmente a dimensão processual do princípio; no NCPC:
Art. 8oAo aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade,
a legalidade, a publicidade e a eficiência.

G) EFETIVIDADE

Decorrente do princípio do devido processo legal e da inafastabilidade. Processo efetivo é um processo que
realiza o direito material reconhecido pela decisão. Está relacionado, portanto, a resultado. Não possui previsão
constitucional expressa; ainda assim detém caráter constitucional em virtude da derivação do devido processo
legal. Isto se deve à má fama que possui a figura do credor no Brasil e do costume de se proteger excessivamente
o devedor. O desenvolvimento deste princípio ocorreu nos últimos 15 anos, em virtude da equiparação do
credor ao devedor. Ex.: bem de família é impenhorável e isso mitiga o direito à efetividade, em homenagem à
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
19
dignidade da pessoa humana. Se um sujeito deve 500 mil e tem um bem de família no valor de 3 milhões, a
restrição aqui se torna abusiva. Deve, então, o magistrado, ponderando valores, proteger os dois direitos,
vendendo a casa de 3 milhões, saldando a dívida e comprando um bem mais barato.
O NCPC elencou primeira e expressamente este princípio no art. 4o:
Art. 4oAs partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral da lide, incluída a atividade
satisfativa.

H) ADEQUAÇÃO

Impõe que um processo, para ser considerado adequado, tem que ser devido. Não há previsão constitucional,
sendo a sua extração oriunda do devido processo legal. Todavia, questiona-se: O que é adequação? A doutrina
identifica três critérios/dimensões (complementares):
 Adequação objetiva: É a adequação do processo ao seu objeto, àquilo que está sendo discutido em juízo. Por isso
que a execução de um cheque não é igual à execução de alimentos; ou seja, se o tipo de crédito é diferente, o
tratamento deve ser diferente. Por esta razão também é que quando o interesse é indisponível, a intervenção do
MP é obrigatória. Encontra-se intimamente relacionada à ideia de instrumentalidade do processo.
 Adequação subjetiva: O processo tem que ser adequado aos sujeitos que vão se valer dele. O princípio da
adequação aqui se confunde com o princípio da igualdade no processo. Ex.: Por que a fazenda pública tem
prerrogativas processuais? Porque o MP tem que intervir quando o incapaz é parte? Por que os processos que
envolvem idosos têm prioridade? São formas de adequar o processo às peculiaridades dos sujeitos envolvidos.

*#CICLOS: Quais as hipóteses de prioridade de tramitação no novo CPC?


O novo CPC, em seu artigo 1.048, prevê hipóteses de prioridade de tramitação para procedimentos judiciais em
QUALQUER juízo ou tribunal. São elas: a. Processos em que figurem como parte ou interessado pessoas com
idade igual ou superior a 60 anos e portadores de doença grave (prevista em rol legal). b. Processos regulados
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
ATENÇÃO: A concessão da prioridade é ato vinculado, isto é, independe de deferimento pelo órgão jurisdicional
e deverá ser imediatamente concedida diante da prova da condição de beneficiário. Em caso de morte do
indivíduo que detinha a prioridade, esta não cessará, estendendo-se em favor do cônjuge ou companheiro
supérstite.

 Adequação teleológica: O processo deve ser adequado aos seus fins. Se o fim do processo é a execução, tem que
criar regras processuais adequadas à execução, evitando discussões desnecessárias nesta fase processual.
Obs. 1 – Quem está obrigado a adequar o processo? De quem é o dever de proceder à adequação do processo?
Indiscutivelmente cabe ao legislador criar as regras processuais gerais. Se o legislador cria regras inadequadas,
pode ser considerado inconstitucional, por infringir a adequação, corolário do devido processo legal. Para a

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


20
doutrina tradicional, essa tarefa pertence única e exclusivamente ao legislador, dando-se a adequação do
processo somente legislativamente.
Obs.2 – Pode o juiz adaptar as regras processuais ao caso concreto (princípio da adaptabilidade, elasticidade ou
adequação formal do processo)? É uma pergunta extremamente polêmica, porque, de um lado, tem gente que
entende ser absurdo, por ferir a segurança jurídica ao dar poderes demais ao juiz, e, de outro lado, os que
entendem que se o juiz assim não fizer a tutela jurisdicional será ineficaz, violando o próprio direito de devido
processo legal e adequado das partes. Ambos os argumentos são válidos e importantes. Há regras legais que
autorizam essa adequação jurisdicional do procedimento (casuística), mas o princípio da adequação pode atuar
diretamente, sem a intermediação de regras que o concretizem.
Ex.: No mensalão ocorreu algo referente a isso. O prazo para embargar era pequeno. O processo tinha 8 mil
páginas para examinar em cinco dias! O STF dobrou os prazos, adequando jurisdicionalmente a regra processual
ao caso concreto! Obviamente não poderia se concordar com uma adequação que fosse em desfavor da defesa.
No Código Civil Português de 1995 há previsão expressa de um poder geral de adequação jurisdicional. Este fato
respingou no Brasil.
O NCPC que começou a ser discutido em 2010, quando ainda era um anteprojeto, autorizava a adequação
jurisdicional, corolária do princípio da inafastabilidade. Era uma cláusula geral de adequação processual. Mas isso
foi metralhado no Senado e reduziram para dizer apenas que o juiz pode dilatar os prazos processuais tendo em
vista o caso concreto (art. 139, VI). Então a previsão é a adequação dos prazos. Já é alguma coisa. O caminho é
lento mesmo.
 Primeira corrente: não há poder geral de adequação jurisdicional, estando a sua utilização afeta à previsão legal.
Nesse sentido, prevê o art. 139, VI, do NCPC:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
[…]
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às
necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito;

 Segunda corrente: entende que há um poder geral de adequação, corolário do devido processo legal. Não vingou
durante a elaboração do NCPC. Apega-se ao fato de não haver proibição expressa nesse sentido (silêncio). Fredie
Didier é signatário deste entendimento, embora reconheça que a sua não inclusão expressa no NCPC enfraqueça
a corrente.
A adequação do processo pode receber outros nomes, como “elasticidade do processo”, “adaptabilidade do
processo” e “flexibilidade do processo”.
 Adequação convencional: É a adequação do processo realizada pelas partes. O NCPC prevê um poder geral de
adequação convencional do processo. Há autorização genérica de as partes poderem ajustar o procedimento
atipicamente.

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
21
capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre
os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo,
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em
que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

I) BOA-FÉ PROCESSUAL

A incidência do princípio da boa-fé no processo faz com que muitos autores falem não apenas em devido
processo legal, mas em devido processo leal. A boa-fé processual é conteúdo, portanto, do devido processo
legal.O NCPC previu o princípio da boa-fé expressamente em seu art. 5o, de modo semelhante aos CódigosCivis
Português e Suíço, destinando-se a todos os agentes processuais, partes, advogados, auxiliares da Justiça,
inclusive o juiz:
Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
Há duas vertentes da boa-fé:
 Subjetiva: Boa-fé subjetiva não é princípio, é um fato da vida. Suporte fático de alguns fatos jurídicos.
 Objetiva: é uma norma, é o princípio aqui estudado. Não é correto falar princípio da boa-fé objetiva; ou é
princípio da boa-fé ou é boa-fé objetiva. Boa-fé objetiva é uma norma que impõe, portanto, condutas éticas,
leais, probas. Em nível constitucional é implícito.
Obs.1: O STF já relacionou a boa-fé objetiva e o devido processo legal. Disse o STF que o princípio da boa-fé é
conteúdo do devido processo legal.
Obs.2: O princípio da boa-fé se dirige a todos os sujeitos do processo, inclusive ao juiz. O princípio da boa-fé se
aplica a qualquer dos sujeitos processuais. Nesse sentido foi a decisão do STF no HC 101.132:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO INTERPOSTO ANTES DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO. CONHECIMENTO.
INSTRUMENTALISMO PROCESSUAL. PRECLUSÃO QUE NÃO PODE PREJUDICAR A PARTE QUE CONTRIBUI PARA A
CELERIDADE DO PROCESSO. BOA-FÉ EXIGIDA DO ESTADO-JUIZ.
Obs.3: O princípio da boa-fé decorre de uma cláusula geral. Sendo assim, sua concretização depende da
experiência forense. E como esse princípio se concretiza no processo? Doutrina alemã:
 1ª concretização: o princípio da boa-fé processual impede o abuso de direitosprocessuais. Ou seja, esse princípio
torna ilícito o exercício abusivo de um direito processual.
 2ª concretização: o exercício abusivo de um direito processual é considerado ilícito, graças à previsão contida no
art. 5o, do NCPC. O CC/2002, por sua vez, contém dispositivo que proíbe de forma genérica o abuso de direito:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


22
 3ª concretização: a função hermenêutica do princípio da boa-fé. Os atos postulatórios e as decisões judiciais
devem ser interpretados de acordo com a boa-fé.
Art. 322. O pedido deve ser certo.
[…]
§ 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé.
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
[…]
§ 3o A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus elementos e em
conformidade com o princípio da boa-fé.
 4ª concretização: surgimento dos deveres processuais de cooperação, que veremos adiante.
 5ª concretização: elaboração das convenções processuais, ou seja, ajustes processuais realizados pelas partes
(negócios processuais)2. Pode-se traçar um paralelo com a negociação (contratos) no âmbito privado.
 6ª concretização: a proibição de comportamentos contraditórios (genérica).Nemo potest venire contra factum
proprium. Ninguém pode comportar-se contra as próprias atitudes. Se assim ocorrer, estar-se-á violando o
princípio da boa-fé processual. Você frustra a expectativa que você mesmo gerou na outra parte. Ex.1: Você
aceita a decisão e depois recorre dela. Ex.2: Você é executado, oferece um bem à penhora e, depois, alega que o
bem é impenhorável.
É regra que decorre do princípio da boa-fé (art. 5o, NCPC).

*OUSESABER: Para que haja a condenação ao pagamento da indenização por litigância de má-fé, prevista no
art. 81 do novel CPC, é necessário que haja comprovação de prejuízo pela parte? NÃO! Esse é o entendimento
do STJ, que pode ser confirmado através do REsp 1133262-ES. Aliás, tal indenização tanto por ser pleiteada pela
parte quanto concedida de ofício pelo juiz.

*A indenização prevista no art. 18, caput e § 2º, do CPC 1973 (art. 81, caput e § 3º do CPC 2015) tem caráter
reparatório (ou indenizatório), decorrendo de um ato ilícito processual. Apesar disso, é desnecessária a
comprovação do prejuízo para que haja condenação ao pagamento da indenização prevista nesse dispositivo. Em
outras palavras, é desnecessária a comprovação de prejuízo para que haja condenação ao pagamento de
indenização por litigância de má-fé (art. 18, caput e § 2º, do CPC 1973 / art. 81, caput e § 3º do CPC 2015). STJ.
Corte Especial. EREsp 1.133.262-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/6/2015 (Info 565).

*O dano processual não é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-fé prevista no art. 18 do
CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). Trata-se de mera sanção processual, aplicável inclusive de ofício, e que não tem
por finalidade indenizar a parte adversa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.065-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel.
p/acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 21/2/2017 (Info 601).

2*CAIU no MPSP (2017)!


CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
23
*#OUSESABER: O que é “nulidade algibeira?” Trata-se de manobra processual na qual a parte, estrategicamente,
permanece silente, deixando de alegar a nulidade em momento oportuno, para suscitá-la apenas posteriormente.
A nomenclatura, já utilizada em precedentes do STJ (REsp 1.372.802/RJ), decorre da noção de que se trata de
uma nulidade que a parte “guarda no bolso” (algibeira) para ser utilizada no momento que melhor lhe convier. Tal
estratégia é rechaçada pelo STJ, por ir de encontro ao dever de lealdade das partes, em clara ofensa à boa-fé
processual.

J) PROMOÇÃO DA SOLUÇÃO CONSENSUAL DOS CONFLITOS

Obs.1: Desde o ano de 2010, com a edição da Resolução n. 125, pelo CNJ, vem-se tentando estimular a
autocomposição.
Obs.2: O NCPC, em diversos momentos, estimula a autocomposição, concretizando o princípio previsto. O
primeiro artigo a tratar do feito é o 3o:
Art. 3Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
[...]
§ 3oA conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no
curso do processo judicial.
Obs.3: Verificar a Nova Lei de Arbitragem.

INFORMATIVO 572 – STJ


Importante!!! Mesmo após a prolação da sentença ou do acórdão que decide a lide, podem as partes
transacionar o objeto do litígio e submetê-lo à homologação judicial. Assim, a publicação do acórdão que decide a
lide não impede que as partes transacionem. STJ. 3ª Turma. REsp 1.267.525-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 20/10/2015 (Info 572).
- A tentativa de conciliação dos interesses em conflito é obrigação de todos os operadores do direito desde a fase
pré-processual até a fase de cumprimento de sentença. O magistrado tem o dever de, a qualquer tempo, buscar
conciliar as partes (art. 125 do CPC 1973 / art. 139, V, do CP 2015).
- Essa medida atende ao interesse do Estado na rápida solução dos litígios e converge para o ideal de
concretização da pacificação social. Logo, não há marco final para implementá-la.
K) PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO3

Para o NCPC o que importa é a apreciação do mérito pelo magistrado; ou seja, a decisão de mérito é prioritária
em relação à decisão que não é de mérito.
Art. 4oAs partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a
atividade satisfativa.
 Direito à solução integral de mérito.

3 O Princípio da Primazia da Decisão de Mérito foi cobrado na Segunda Fase do MP/GO.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


24
Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que
apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o
autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser
corrigido ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
[...]
§ 7oInterposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos deste artigo, o juiz terá 5
(cinco) dias para retratar-se.
 A apelação de qualquer sentença que deixa de apreciar o mérito permite retratação.
Art. 932. Incumbe ao relator:
[...]
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias
ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.
 O Relator não pode deixar de conhecer o recurso sem antes determinar que o recorrente a corrija.
Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal,
serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas
que conterão:
[...]
§ 3oO Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de
recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave.
Obs.1 – Lei n. 13.015/2014 (altera o processo trabalhista): reproduziu as normas recursais do NCPC antes mesmo
deste ser aprovado. O TST, portanto, ofertará as primeiras decisões acerca da nova sistemática processual.

L) RESPEITO AO AUTORREGRAMENTO DA VONTADE NO PROCESSO (AUTONOMIA DA VONTADE NO


PROCESSO)

A autonomia da vontade rege as relações privadas, sendo princípio basilar do Direito Civil. Consiste, ademais,
em um dos aspectos/conteúdos/dimensões da liberdade. Poder de autorregular-se. No Direito Processual,
jamais falou-se em autonomia da vontade, ou autonomia da vontade no processo. Do contrário, havia quem
dissesse que a vontade das partes no processo seria irrelevante.
O NCPC, todavia, é totalmente estruturado, do início ao fim, ao respeito do autorregramento da vontade no
processo. Isto porque uma de suas premissas é a de que o processo, para ser considerado devido, não pode ser
um ambiente hostil para o exercício da liberdade. Em outras palavras, o processo devido, no âmbito do Estado
Democrático de Direito, tem de ser ambiente de exercício da liberdade sem restrições irrazoáveis ou
injustificáveis.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


25
O princípio tem por objetivo, portanto, tornar o processo ambiente propício, não hostil, ao exercício da
liberdade, sem restrições irrazoáveis ou injustificáveis.
! Qualquer autonomia da vontade é regulada, pertença ela ao âmbito privado ou do processo. Não há, portanto,
autonomia da vontade plena.
Obs.1 – Este princípio é implícito. Há, todavia, uma série de normas expressas que podem ser conduzidas ao
princípio em estudo. Veja-se:
Consagração do princípio da promoção da autocomposição pelo NCPC: o Estado prestigia a vontade das partes
de conciliar/resolver o feito à imposição de decisão judicial (art. 2o, da nova Lei de Arbitragem).
Quem determina o conteúdo do processo é a vontade das partes, devendo esta ser respeitada.
 O NCPC consagra um número expressivo de negócios jurídicos processuais típicos (expressamente previstos).
E negócio jurídico é, por excelência, manifestação da autonomia da vontade. Ex.: escolha consensual do perito
pelas partes; a elaboração do calendário processual conjuntamente pelas partes e juiz (art. 191 - o feito torna
desnecessária a intimação acerca dos atos futuros, já que as partes tomarão ciência das respectivas datas logo
no início do processo).
Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais,
quando for o caso.
§ 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em
casos excepcionais, devidamente justificados.
§ 2oDispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência
cujas datas tiverem sido designadas no calendário.
 O NCPC, em seu art. 190, consagra a possibilidade de negócios processuais atípicos. Este dispositivo evidencia
que as partes exercem função ativa e relevante dentro do processo.
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição 4 , é lícito às partes
plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e
convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o
processo.
 Prestígio da arbitragem pelo NCPC, cujo processo é inteiramente modulado pela autonomia da vontade das
partes.

M) PROTEÇÃO DA CONFIANÇA

Desenvolveu-se na Europa, no âmbito do direito público; é novo no âmbito processual propriamente dito.
Nasceu como concretização do princípio da segurança jurídica. Alguns autores chegam a dizer que é a dimensão
subjetiva da segurança jurídica. É princípio que impõe a proteção de alguém que acreditou em um ato do Estado
e que depois viu sua crença ser frustrada por um ato do próprio Estado. Esse comportamento do Estado
desequilibra a segurança jurídica.

4CAIU no MPSP!
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
26
- A doutrina lista quatro pressupostos para a aplicação da proteção da confiança:
 Base da confiança: ato normativo estatal no qual se confia, se acredita. Pode ser uma lei, um ato administrativo,
ou seja, atos normativos em geral.
Obs.: Pode ser uma decisão judicial (precedente ou coisa julgada), porque o processo não deixa de ser um meio
de produção de atos que servem de base para a confiança. Não se analisa a validade do ato mas o seu grau de
aparência de legitimidade.
 A confiança na base/no ato: além do ato acima mencionado, é preciso que o sujeito tenha acreditado/confiado
na idoneidade do ato.
 Exercício da confiança: Além de ter acreditado no ato, vocêse comportou de acordo com essa crença, pautou
suas condutas nesta crença.
 Frustração da confiança por ato do Poder Público.
- O processo é um meio de produção de normas jurídicas, individualizadas (caso concreto) e gerais
(precedentes), que podem servir de base de confiança. A decisão judicial enquanto norma é base confiável em
razão do contraditório e da coisa julgada. No âmbito do processo, três concretizações são muito claras e
merecem registro.
O NCPC estatui, organiza, um sistema da precedentes obrigatórios, operando a proteção da confiança em três
aspectos:
 Os tribunais passam a ter o dever de uniformizar a sua jurisprudência;
 Os tribunais tem o dever de, mediante a alteração da jurisprudência, resguardar a confiança de quem acreditava
em um entendimento que, até então, era pacífico;
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
[...]
§ 4oA modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em
julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica,
considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.
 É a mais sofisticada: em qualquer decisão em que haja uma quebra da estabilidade de um ato normativo (base
de confiança longeva), poderia o julgador criar (veja que o julgador cria) regras de transição entre a posição
anterior e a nova – Período de transição. Justiça de transição. Transição paulatina entre as posições. Um
exemplo claro disso é o julgamento da demarcação da reserva indígena da Raposa Serra do Sol, no qual o STF
criou 18 regras de transição.

N) REGRA DA INSTAURAÇÃO DO PROCESSO POR INICIATIVA DA PARTE E IMPULSO OFICIAL

Regras/Normas fundamentais, e não princípios, alocadas no art. 2o, do NCPC:


Art. 2oO processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas
em lei.
 Texto idêntico ao do CPC/73, porém inserido em contexto diverso, daí a sua compatibilização diferenciada.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
27
O CPC/73 permitia, excepcionalmente, que o juiz instaurasse de ofício o processo de inventário. Isto nao mais é
aceitável, segundo a lógica do NCPC.
Em sentido contrário e representando exceção ao regramento do NCPC, a execução de sentença de fazer, não
fazer ou dar coisa pode ser instaurada de ofício.
O impulso oficial não impede que a parte desista (autonomia da vontade). O impulso oficial, ademais, nao se
estende ao recursos, sendo este ato dependente de provocação da parte.
Determinados incidentes processuais podem ser instaurados de ofício. É o caso do conflito de competência, do
incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), dentre outros.
O art. 190, do NCPC, pode servir como fundamento para que as partes convencionalmente limitem o impulso
oficial do juiz.

O) REGRA DE RESPEITO À ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO

 Ordem Cronológica dos Processos: Pela redação original do CPC, os magistrados e as Cortes deveriam julgar
seguindo a ordem cronológica - só poderiam julgar os casos mais novos após os mais antigos, acabando com as
chamadas preferências dadas pelos julgadores sem considerar o critério temporal. Criou uma obrigação de os
juízes e os Tribunais seguirem necessariamente a ordem cronológica dos processos. NCPC, Art. 12. Art. 12. Os
juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão
(redação original).
- Mudança Legislativa pela Lei 13.256/16: Não haverá mais a obrigatoriedade dos julgamentos em ordem
cronológica. Isso porque, o texto agora determina que a ordem de chegada deve ser seguida
“preferencialmente”. Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de
conclusão para proferir sentença ou acórdão.
- A modificação retira a obrigatoriedade do julgamento por ordem cronológica de conclusão. Trata agora de uma
possibilidade. A ordem cronológica não poderia resolver todos os problemas da morosidade do Judiciário, mas
era uma regra transparente, inclusive com a publicação da pauta. A via crucis de obtenção de sentenças vai
continuar para os advogados.

 É uma Regra/Norma fundamental, e não princípio alocado no art. 12, do NCPC:


Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para
proferir sentença ou acórdão. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)
- Julgamento associado à cronologia de conclusão dos processos judiciais. A ordem cronológica só se aplicaria às
decisões finais (sentença e acórdão). A regra visa garantir a igualdade, posto que torna impessoal a escolha da
causa que vai ser julgada. Serve, ademais, à duração razoável do processo, por inibir a demora injustificada do
processo.
§ 1oA lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta
pública em cartório e na rede mundial de computadores.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
28
§ 2oEstão excluídos da regra do caput: (exceções)
I - assentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do
pedido;
II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos
repetitivos;
III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas;
IV - asdecisões proferidas com base nos arts. 485 (decisão sem exame do mérito) e 932(decisões
monocráticas do relator);
V - o julgamento de embargos de declaração;
VI - o julgamento de agravo interno(recurso contra decisão do relator);
VII - as preferências legais (idosos, enfermos- § 3o)e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Justiça;
VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal(vara única);
IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada.
§ 3oApós elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões entre as
preferências legais(lista da lista).
§ 4oApós a inclusão do processo na lista de que trata o § 1o, o requerimento formulado pela parte nao
altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a
conversão do julgamento em diligência.
§ 5oDecidido o requerimento previsto no § 4o, o processo retornará à mesma posição em que
anteriormente se encontrava na lista.
§ 6oOcupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1oou, conforme o caso, no § 3o, o processo que:
I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência
ou de complementação da instrução;
II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.
Obs.1–Consequências do descumprimento da ordem cronológica pelo juiz: Segundo Fredie Didier, não há
nulidade da decisão que desrespeita a ordem cronológica, diante da ausência de prejuízo às partes envolvidas
(pas de nulitté sans grief). O terceiro que foi preterido, apesar de prejudicado, nada ganha com a anulação da
sentença. O desrespeito, todavia, pode ser apurado no plano disciplinar/correcional. O desrespeito à cronologia,
segundo Didier, pode significar indício de suspeição do juiz; caso a suspeição fique demonstrada, aí sim pode-se
falar em invalidação da decisão. A invalidação dar-se-á pela suspeição, e não em razão do desrespeito à
cronologia.
Obs.2 –Art. 1.046, NCPC (Disposições Finais): Assim que entrar em vigor, o juiz organizará a pauta de decisões de
acordo com a antiguidade da conclusão dos processos judiciais. O artigo, portanto, estabelece uma espécie de
regra de transição.
Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos
pendentes, ficando revogada a Lei n.5.869, de 11 de janeiro de 1973.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
29
[...]
§ 5oA primeira lista de processos para julgamento em ordem cronológica observará a antiguidade da
distribuição entre os já conclusos na data da entrada em vigor deste Código.
Obs.3 –Art. 153, NCPC: Extensão da ordem cronológica ao escrivão. Os §§ 3o, 4o e 5o trazem o procedimento de
apuração da infração cometida pelo escrivão.
Art. 153 – O escrivão ou o chefe de secretaria atenderá, preferencialmente, à ordem cronológica de
recebimento para publicação e efetivação dos pronunciamentos judiciais. (Redação dada pela Lei
13.256)

P) PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO
Com o advento do NCPC, passou a contar com previsão expressa:
Art. 6oTodos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão
de mérito justa e efetiva.
Todos os sujeitos do processo estão sujeitos ao princípio da Cooperação. O art. 6o, NCPC, detém clara inspiração
no Código Português.
Tradicionalmente, a doutrina visualizava a existência de dois modelos de processo:

a) Modelo Adversarial: neste modelo, o processo é organizado de modo a ser conduzido pelas partes, sendo
estas as suas grandes protagonistas. O papel do juiz, portanto, na organização do processo, é de fiscal e julgador.
O processo, nesse modelo, é visto como um duelo entre adversários, em verdadeira concepção esportista.O juiz
enquanto “convidado de pedra”. Encontra-se relacionado este modelo aos processos do common law, à ideia de
liberalismo e a ambientes democráticos.
Na opinião de Didier, é exagero relacionar a democracia ao modelo adversarial, posto que países como a
Alemanha utilizam-seda democracia em parceria com modelo diverso, o inquisitorial.
Relação com o princípio dispositivo: o processo deve ser regido por princípio dispositivo, segundo o qual a
proeminência do processo pertence às partes, ou seja, fica à disposição destas.
! Referência, portanto, ao princípio dispositivo em prova de concurso, indica supressão de poder do juiz e
atribuição às partes.

b) Modelo Inquisitorial: o protagonismo pertence ao juiz, e não às partes, garantindo a ele poderes além da
fiscalização e julgamento. Ex.: produção de prova de ofício, execução de decisão de ofício, dentre outros. Este
modelo encontra-se relacionado aos países de civil law(tradição européias). Alguns autores o relacionam a
modelo autoritário de processo.
Sempre que se visualizar a existência de regra de atribuição de poderes ao juiz que vão além da fiscalização e do
julgamento, há incidência do princípio inquisitivo. Ex.: casos de remessa necessária (independem da interferência
das partes).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


30
Conclusão 1: Não existe modelo puramente dispositivo ou inquisitorial. Em todos há manifestações deum e de
outro, podendo-se falar em predominância. Um exemplo claro deste fato é o art. 2o, do NCPC, que possui traços
de ambos os modelos. O melhor critério para se descobrir o modelo processual é a possibilidade de produção de
atos de ofício pelo juiz (produção probatória e execução).
Obs. – Há corrente doutrinária e filosófica chamada de Garantismo Processual para a qual qualquer atribuição de
poder ao juiz que fuja da fiscalização e do julgamento é inconstitucional, por violar o próprio modelo
democrático. O Garantismo no Brasil tem como principal expoente Glauco Ramos. Para os garantistas o princípio
da boa-fé é ofensivo, posto que, para eles, processo é sinônimo de guerra. Didier critica o Garantismo dizendo
que é demasiado exagerado com base no argumento da própria guerra, posto que, até nesta situação há regras
de boa-fé. O princípio da cooperação veio para ser um terceiro Modelo, alternativo, síntese dos outros dois.
Obs.2 – No Modelo Cooperativista não há protagonistas no processo, de modo que, independentemente do
papel que exerçam, prevalece o cooperativismo. Há, portanto, diálogo, lealdade e equilíbrio entre os sujeitos do
processo. Daí dizer-se que a cooperação decorre do devido processo legal e da boa-fé. Visão de processo
enquanto comunidade: interesses diversos, porém, vocacionados à produção de sentença justa, e em tempo
razoável.
Art. 5oAquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
Art. 6oTodos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão
de mérito justa e efetiva.
Obs.3 – Uma das consequências da boa-fé são os deveres de cooperação: No Direito Civil usa-se a expressão
“deveres anexos de cooperação”. São deveres de cooperação no processo:
Dever de clareza: facilita o diálogo, tornando-o colaborativo. O juiz, no processo colaborativo, tem o dever de
pedir esclarecimentos.
Dever de consulta: dever de consulta do juiz às partes, vedação à não surpresa (art. 10, NCPC);
Dever de prevenção: dever do juiz e das partes de apontar defeitos processuais que impeçam o exame do
mérito, mandando, o primeiro, corrigi-lo(s) quando necessário (incidência do art. 190, CPC – negócios jurídicos
processuais atípicos).

Q) PRICÍPIO DA DECISÃO INFORMADA #QUESTOESOUSESABER #NOVIDADENCPC

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


31

O princípio da decisão informada está previsto no art. 166, "caput", do NCPC e aplica-se à conciliação e à
mediação.
Segundo Daniel Amorim Neves, o referido princípio "cria o dever ao conciliador e ao mediador de manter
o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido".
Assim, é uma forma de permitir que as partes celebrem acordos tendo plena ciência do ato que estão praticando.

 REGIME JURÍDICO UNIFORME PARA TODAS AS CARREIRAS DOS PRAZOS PROCESSUAIS #OUSESABER
#PROCURADORIAS #DEFENSORIA #MP #MAGISTRATURA
Segundo Leonardo Carneiro, em sua obra A Fazenda Pública em Juízo, o NCPC previu um regime jurídico
uniforme para todas as carreiras no que tange aos prazos processuais.
Isso se deve ao fato de que a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações gozam de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais (CPC, art. 183).
De igual modo, o Ministério Público. (CPC, art. 180) e a Defensoria Pública (CPC, art. 186) gozam de prazo em
dobro para todas as suas manifestações processuais.

 O QUE É SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS? #DEOLHONOCONCEITO #OUSESABER


#CONCEITOSIMPORTANTESDONCPC: Mediação, Conciliação e Arbitragem, cada dia mais, vem ganhando atenção
da doutrina e da legislação como meios para diminuir a sobrecarga de ações sobre o Judiciário! Em regra, tais
meios são tratados como ALTERNATIVAS à Jurisdição, por isso, costumam ser chamados de meios ALTERNATIVOS
de solução de conflitos. Uma visão contemporânea, contudo, sustenta que esses meios não são alternativas, mas
que, na verdade, devem estar INTEGRADOS à Jurisdição, por isso, compõem um sistema de múltiplos meios de
solução de conflitos, de modo que as diferentes espécies de conflitos sociais encontrem solução no ordenamento
jurídico. A expressão SISTEMA MULTIPORTAS DE JUSTIÇA é assim utilizada pelo grande Processualista Leonardo
Carneiro da Cunha em alusão à metáfora do átrio do fórum em que haveria várias portas e "a depender do
problema apresentado, as partes seriam encaminhadas para a porta da mediação, ou da conciliação ou da
arbitragem, ou da própria justiça estatal" (Fazenda Pública em Juízo. P. 637). Desse modo, ante a integração de
mediação e da conciliação como etapas do procedimento comum no Novo CPC, pode-se afirmar que a nova
ordem processual civil brasileira adotou um SISTEMA MULTIPORTAS DE JUSTIÇA!

iEste material foi produzido pelos coaches com base em anotações pessoais de aulas, referências e trechos de doutrina, informativos de
jurisprudência, enunciados de súmulas, artigos de lei, anotações oriundas de questões, entre outros, além de estar em constante processo
de atualização legislativa e jurisprudencial pela equipe do Ciclos R3.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO

Você também pode gostar