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1. O que é processo?
É uma palavra que pode assumir 3 acepções, todas corretas e que não se excluem:
Para compreender o direito processual civil, deve-se chegar a ele a partir de 3 vetores:
A teoria do Direito é uma disciplina propedêutica que tem passado por profundas
transformações nos últimos anos. O modo de se conceber a teoria hoje é muito diferente
do que o modo que se via há 20 anos.
Há 6 grandes transformações na teoria do Direito nos últimos anos que produziram
um impacto substancial no estudo do processo. Essas 6 transformações podem ser
divididas em 2 grupos.
Hoje, princípio é encarado como espécie de norma jurídica, ao lado das regras. Se é uma
espécie de norma jurídica e se o Direito é um conjunto de normas jurídicas, esse
conjunto engloba os princípios e as regras.
Normas jurídicas = princípios e regras.
Qual é a conseqüência prática de se dizer que princípio é norma jurídica?
Se é norma jurídica, eu posso formular um pedido, posso fundamentar uma sentença
com base nele. Dele eu posso extrair conseqüências jurídicas.
Problema: para extrair conseqüências jurídicas de um princípio, há uma carga
argumentativa muito maior a ser vencida. É mais difícil extrair uma conseqüência da
dignidade da pessoa humana. Requer muito mais argumentação. Na regra, a
argumentação é mais singela – passou do prazo, passou! Não tem muito o que
argumentar.
Exatamente porque o princípio é norma, não existe mais razão para sustentar a ideia de
que os princípios só podem ser aplicados quando houver lacuna.
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou
obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as
havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)
Em 1973, o princípio servia para preencher lacuna. Esse dispositivo é um fóssil, é letra
morta. O projeto do novo CPC nem fala mais dele.
Erros comuns:
- “Princípios são sempre implícitos”. Não! Existem princípios escritos – devido
processo legal, dignidade da pessoa humana... Não deixam de ser princípios porque são
expressos. Segurança jurídica é implícito.
- “A Constituição é formada somente de princípios”. Não! A Constituição é, em regra,
um conjunto de regras. Existem muito mais regras do que princípios.
- “Só existem princípios constitucionais, todo princípio é norma constitucional”. Não!
Existem princípios infraconstitucionais, basta que a lei o preveja. Ex: o princípio da
menor onerosidade da execução (a execução deve ser menos onerosa possível ao
executado) não está na Constituição.
- “Princípio é toda norma muito importante”. Não! Não tem nada a ver. A motivação
das decisões é uma regra, por exemplo. Não se rebaixa a importância falando que é
regra, e não princípio.
- “A todos é garantido o devido processo legal” é uma cláusula geral. Não se sabe que
hipótese é essa, já que a Constituição não diz o que é um devido processo legal, e não se
sabe a conseqüência da incidência do enunciado. Se não for garantido o devido processo
legal, o que acontece? Não é dito.
As cláusulas gerais abrem o sistema e conferem um poder muito grande ao juiz, já que
terá que concretizar a hipótese e o consequente.
- §5º do artigo 461; artigo 14, II; artigo 1.109; artigo 798.
Ex: Imagine que na sala de aula exista uma placa dizendo “proibido entrada de cão”.
Você tem um rinoceronte de estimação e quer levá-lo para a aula, já que só não pode
entrar com cão. Mas se nem com cão pode entrar, não pode entrar com rinoceronte! Já
um cego, pode entrar com seu cão-guia.
Ex: Imagine uma placa na praia dizendo “proibido utilização de biquíni”. Você pensa:
então a praia é de nudismo. Se pegar essa mesma placa e colocar em Ipanema na década
de 50, você vai pensar: aqui só pode usar maiô. A mesma placa, o mesmo texto, gerando
normas diversas em dois momentos históricos.
OBS: artigo sobre cláusula geral de Judith Martins-Costa, que pode ser encontrado na
internet – “O Direito Privado como um Sistema em Construção”.
Artigo de Didier: “Cláusulas Gerais Processuais”.
O Direito Constitucional é o ramo do Direito que mais sofreu mudanças nos últimos 25
anos.
São basicamente 3 mudanças em Direito Constitucional:
A Constituição passou a ser vista como um conjunto de normas, não apenas como uma
carta de intenções ou um projeto político.
Hoje, eu posso basear meu pedido só na Constituição.
A Constituição produz efeitos concretos.
Direito Constitucional era desprezado. Os livros de Processo Civil dos anos 80 não
eram pensados à luz da Constituição.
Qual é a importância de relacionar Processo com Constituição?
Para estudar Processo hoje, deve-se compreender que a Constituição tem uma série de
normas processuais de eficácia imediata e as normas infraconstitucionais (CPC) têm que
estar em conformidade com a Constituição.
Pós-positivismo
Crítica: Segundo Didier, dizer que é pós-positivismo é só dizer que veio após o
Positivismo. É uma denominação cronológica que não indica a que se refere. É uma
designação vazia de sentido.
Neoconstitucionalismo (denominação mais difundida)
Seria essa nova fase caracterizada por essa série de mudanças. “Fale sobre o
neoconstitucionalismo” é uma pergunta clássica.
Crítica: Restringe as mudanças ao plano constitucional, quando as mudanças são
também teóricas.
Neopositivismo
É um novo Positivismo, um Positivismo reconstruído. Didier prefere essa designação,
embora não seja a mais utilizada.
A ciência do processo está em uma nova etapa da sua história? Qual é a fase atual na
evolução da ciência do processo?
iii. Instrumentalismo
Preocupação com a efetividade do processo, com o acesso à justiça. A ciência já estava
construída, mas o processo serve para quê? Atende ao direito material? As pessoas têm
acesso a ele?
O processo tem que estar de acordo com o direito material.
Nesta fase, se busca adjetivar o processo. Tem que ser acessível, adequado, igualitário.
Cuidado: Muitos livros dizem que estamos vivendo ainda o instrumentalismo. Isso é
inaceitável!
Depois de toda a transformação da ciência jurídica (as 9 transformações) impõe-se uma
reconstrução da ciência do processo. É preciso reconstruir a ciência do processo.
Isso não é negar o instrumentalismo porque uma fase não nega a outra.
Estamos vivendo uma fase de reconstrução da ciência do processo.
iv. Neoprocessualismo
FASE ATUAL.
É a que parece melhor para Didier, já que neoprocessualismo remete ao
neoconstitucionalismo. É uma fase de reconstrução. Além disso, essa denominação
lembra o neoconstitucionalismo.
As 9 transformações do neoconstitucionalismo são aplicadas no neoprocessualismo.
c) Direito material