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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO

DIREITO E DO ESTADO

A norma e o
ordenamento
UNIDADE IV
jurídico
4.1.
A Norma
Jurídica
1. DEFINIÇÃO
Norma jurídica é a substância própria do Direito,
é o intrumento de definição da conduta exigida
pelo Estado (esclarece como e quando agir)
Seria a forma com o Direito se expressa ou se
exterioriza.
Lei é só uma das formas de expressão das
normas (ex: decretos, portarias, jurisprudências,
etc.)
regra 2. DIVISÃO
Norma jurídica
princípio

- Regras: são normas que devem ser cumpridas de maneira


exata. Ex. CC Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos
completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos
os atos da vida civil.
- Princípios: são mandados de otimização (apontam um objeto
a ser atendido na máxima medida possível). Ex. CF, art. 5º, IV -
é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato;.
3. DIFERENÇAS

PRINCÍPIO REGRA

são pautas genéricas não aplicáveis à


maneira de '''tudo ou nada'' que estabelecem são prescrições específicas que estabelecem
programas de ação para o legislador e o pressupostos e consequências determinadas
intérprete

comporta uma série indeterminada de é formulada pra ser aplicada em uma


aplicações situação especificada

disciplinam uma determinada situação,


são as direrizes gerais de um ordenamento quando ocorre a situação a norma tem
jurídico (ou parte dele) incidência, quando não ocorre, não tem
incidência
4. INSTITUTO JURÍDICO
Consiste no conjunto de determinadas situações,
medidas ou condições que são consolidadas pelo
uso e pela tradição na vida em sociedade,
recebendo, assim, ''tratamento especial''.
São assuntos relevantes e complexos estudados
isoladamente e determinando algumas regras para
a sua exata definição e localização no mundo
jurídico.
Ex: casamento, domicílio, herança, falência, etc.
5. EXISTÊNCIA
A existência significa dizer que a norma cumpriu as
exigências de forma e conteúdo.

Pressupostos: a) emanada por poder competente; b)


existência material do objeto da norma; c) mínimo de
eficácia social; d) o conteúdo não represente
intolerável injustiça.
Obs. A norma inexistente não produz efeito jurídico.
6. VALIDADE
Para Robert Alexy, uma norma deve ser considerada
juridicamente válida quando:
Seja promulgada por um órgão competente (e
legitimado) para tanto;
Esteja de acordo com a forma prevista pela lei
(aspecto procedimental);
Seu conteúdo não infrinja um direito superior, isto
é, seja estabelecida de acordo com o
ordenamento jurídico (validade material).
6. VALIDADE
- A invalidade normativa diz respeito à deficiência
(vício) da norma, porém, a invalidade também gera
efeitos jurídicos (reparar dano, direito de resistência
e dever de corrigir o vício)
- Norma inválida pode ser eficaz ou ineficaz. Ex. no
controle concentrado de constitucionalidade, uma
norma pode ter sido invalidada, contudo, os efeitos já
produzidos foram reconhecidos (modulação dos
efeitos) para garantir a segurança jurídica.
7. VIGÊNCIA
É a aptidão para incidir sobre os fatos (obrigatoriedade),
produzir efeitos no caso concreto. Diz respeito à sua
validade formal.
Em geral, a própria lei determina o início da sua
vigência. Pode ser a partir da sua publicação ou
outra data futura. Ex. Novo CPC – 1 ano.
Não havendo referência sobre a data de vigência,
uma lei entra em vigor no Brasil 45 dias após sua
publicação (art. 1º LINDB). Efeitos no exterior: 3
meses.
8. VACATIO LEGIS
É o lapso temporal entre a publicação e a vigência da
lei. A lei é válida, mas não obrigatória (não vincula
casos).
É o período compreendido entre a publicação e a
vigência da lei.
9. VIGOR
É a força dos efeitos da
norma sobre os fatos
havidos na sua vigência
(força vinculante).
Princípio do tempus regit
actum
O vigor pode prosseguir
mesmo após a revogação
da norma jurídica
(ultratividade).
10. EFICÁCIA
Significa que a norma jurídica produz, realmente, os
efeitos planejados (cumprimento ou respeito social
à norma). Plano concreto e real. Verificação empírica.
Diz respeito ao alcance do fim proposto pela norma.
Não basta que a norma possua vigência e seja
cumprida pelos seus destinatários, é necessário
também que alcance, de fato, suas finalidades, as
metas por ela propostas e para as quais foi criada.
11. REVOGAÇÃO
É a perda de vigência. Retirada do
ordenamento jurídico. As chamadas
u la s p é t re a s ”
“cláus
- Revogar significa tirar a vigência são n o r m a s d a
u i ç ã o q u e nã o
de uma norma jurídica, mediante a constit
podem ser
colocação em vigor de outra mais revogadas ou
a d a s , d e f o r m a
alter
nova. Há a possibilidade de alguma . (§ 4 º d o A r t.
a C o n s tit u iç ã o
60 d
abolição do texto anterior, de nova Federal)
redação a dispositivos anteriores
ou acréscimos, isto é, novas regras
ao assunto tratado.
11. REVOGAÇÃO
Tipos de revogação

Expressa - a nova lei declara o que está sendo


revogado
Tácita - sem indicação do que está sendo
revogado, mas regula mesma matéria

Parcial - revoga partes da lei anterior


Total - revoga todo o texto da lei anterior
12. ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA
A visão moderna da estrutura lógica da norma jurídica tem o
seu antecedente na distinção kantiana sobre os imperativos:
Imperativo categórico - próprio dos preceitos morais,
obriga de maneira incondicional, pois a conduta é sempre
necessária (ex: deves honrar pai e mãe)
Imperativo hipotético - relativo às normas jurídicas,
técnicas, políticas, impõe-se de acordo com as
condições especificadas da própria norma, como meio
para alcançar alguma coisa pretendida (ex: se um pai
quer emancipar o filho, deve assinar uma escritura
pública)
Concepção de Hans Kelsen
- Afirma que a norma jurídica é sempre redutível a uma
proposição hipotética, na qual se prevê um fato (F) ao qual se
liga uma consequência (C), conforme o seguinte esquema:

Se F é, deve ser C.

- Toda regra de direito contém a previsão genérica de um fato,


com a indicação de que, toda vez que um comportamento
corresponder a esse enunciado, deverá advir uma
consequência que, segundo Kelsen, corresponde sempre a uma
sanção (compreendida apenas como pena).
Dado um fato
previsto na norma,
deverá haver uma
F S
consequência
jurídica (sanção)
Concepção de Hans Kelsen
- Porém, essa estrutura lógica corresponde apenas a
certas categorias de normas (proibitivas), destinadas a
reger os comportamentos sociais. Não se estende, por
exemplo, as normas de organização, dirigidas aos
órgãos do Estado.
-Ex. Brasília é a Capital Federal (art. 18, §1º, c, CF/88).
-Nesse tipo de norma nada é dito de forma condicional
ou hipotética, mas sim categórica, excluindo qualquer
condição. Fórmula: "A" deve ser "B".
O Juízo Disjuntivo de Carlos Cossio
Concepção mais ampla da norma jurídica de conduta
social. Contempla um comando que determina uma
prestação (obrigação) e, em caso de descumprimento
desta, prevê uma consequência de sanção.
-1º - ENDONORMA
Se (F) é......deve ser (P)
-existindo o fato, há uma consequência com as
características de objetividade e obrigatoriedade.
Impõe uma prestação (P) ao sujeito que se encontra
nessa situação.
O Juízo Disjuntivo de Carlos Cossio
2º - PERINORMA
Se não P (ñP) ......deve ser (S)
-Impõe-se uma sanção (S) ou sanção punitiva (SP) ao
infrator, ou seja, a quem não efetuou a prestação a que
estava obrigado (ñP).
-Ex: Fato: José é eleitor. José deve votar (Prestação) -
Endonorma
-Se José não votar (ñP), deverá ser multado (Sanção) -
Perinorma.
O MODELO DE COSSIO É PAUTADO NA LIBERDADE DO
DESTINATÁRIO DA NORMA (CUMPRIMENTO OU DESCUMPRIMENTO)

Endonorma F P

Perinorma nP S
12. CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS
a) Bilateralidade
sempre vinculando duas ou mais pessoas, concedendo
direitos e atribuindo deveres a ambas
possui dois lados: direito subjetivo e dever jurídico
em toda relação há um sujeito ativo (direito subj.) e um
sujeito passivo (possuidor do dever jurídico)
b) Generalidade
a norma é preceito de ordem geral, que obriga a todos que
se acham em igual situação jurídica pela generalidade, visa
atingir o maior número de pessoas
decorre do princípio da isonomia: ''todos são iguais perante
a lei''
c) Abstratividade
a norma visa atingir o maior número de situações
a regulação destas seria dentro do seu denominador
comum, como ocorrem via de regra
na falta de abstratividade, em favor do casuísmo, os
códigos seriam extensos e não seria possível prever tudo
que pode acontecer
d) Imperatividade
para garantir sua efetividade o Direito propõe normas de
caráter imperativo
a norma é um mandamento, deve ser obedecida
é uma imposição, não um aconselhamento

e) Coercibilidade
quer dizer a possibilidade NÃO CO N F U N D I R !
à O x C O A Ç Ã O
do Estado invocar o uso da COERÇ ic a
o prim e ir o s ig n if
força, se for necessário, "força e m p o tê n c ia "
e v ir a s e r ) e o
para fazer valer o Direito. É (pod
e r e a
segund o s e re f
um instrumento de "força e m at o " ( e s tá
garantia da norma jurídica, ac on t e c e n d o ,
realizando
não disponível às outras efetividade)
leis éticas (direito, moral)
4.2.
A Sanção
Jurídica
1. CONCEITO
Sanção é "toda consequência que se agrega,
intencionalmente, a uma norma, com um fim
específico de de garantir seu cumprimento
obrigatório.

Típico das leis éticas (dever ser), também aplicada à


moral e à religião, a sanção não diz respeito à validade
da norma, e sim à sua eficácia. Busca, portanto, o seu
cumprimento ou que sejam menos violadas.
Impõe certa ação
ou comportamento Obrigação
Norma (dever ser)

Permissão
Jurídica

Mas como garantir


o cumprimentos?
Proibição

Externa
Fixando

sanções Institucional
2. SANÇÃO E COAÇÃO
- A SANÇÃO pode ser cumprida espontaneamente
pelos obrigados ou de maneira forçada pelo Estado.
No último caso, é chamada de COAÇÃO (sanção
concreta ou sanção de ordem física), restringindo
bens e direitos.
- Aspecto prático: quem não acata a norma, sofre a
sanção; quem não aceita a sanção, sofre a coação.
- A coação é exclusiva do Estado. Se praticada por
particular constitui ato ilícito (Ex. cárcere privado).
3. TEORIA - NATUREZA BINADA DA SANÇÃO
a) sanção penal (negativa): visão positivista. Valor
pelo não cumprimento (inadimplemento) da norma.
Diante de condutas indesejadas;

b) sanção premial (positiva): benefícios ou


vantagens pelo cumprimento (adimplemento) da
norma. Ex. desconto pelo pagamento de um título até
o vencimento.
4. APLICAÇÃO DA SANÇÃO
- Histórico: a sanção passou pelas fases da vingança social
e da vingança privada até chegar ao monopólio do Estado,
colocando-se este como um terceiro imparcial para a
distribuição da justiça.
- Embora exista a sanção não estatal (ex. esportivas), cabe
ao Estado a sua universalidade e a última palavra
(instância).
- As sanções jurídicas podem ser acumuladas,
principalmente se decorrentes de instancias distintas:
administrativa, civil e penal.
4.3.
Aplicação da
norma jurídica
no tempo e
espaço
1. APLICAÇÃO NO TEMPO

Art. 6º LINDB - A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,


respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a
coisa julgada.

Art. 5º, XXXVI, CRFB → a lei não prejudicará o direito


adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Em regra, a norma jurídica vige do presente (efeito


imediato) em direção ao futuro, ou seja, alcança fatos ou
tem eficácia para “frente” (efeito ex nunc).
1. APLICAÇÃO NO TEMPO
A regra geral da irretroatividade dirige-se tanto ao
legislador (na criação da norma), quanto ao aplicador
do Direito (julgador), obrigando a ambos.

Esse sistema produz a segurança jurídica demandada


pelo Estado Democrático de Direito. Entretanto, a
garantia de irretroatividade cede espaço para a
retroatividade benéfica no campo penal – CF/88, art.
5º XL: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu”.
1. APLICAÇÃO NO TEMPO
Possibilidades da retroatividade da lei:
Houver expressa previsão da lei, determinando sua
aplicação a casos pretéritos (o silêncio da lei
representa a irretroatividade)
A retroatividade não alcança o ato jurídico perfeito, a
coisa julgada e o direito adquirido.
Nos casos de norma penal que beneficie de alguma
forma o réu ou o acusado – retroatividade benigna. No
direito tributário também é comum (benefício ao
contribuinte).
- LINDB - Art. 6º - § 3º Chama-se coisa julgada ou caso
julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

- A função jurisdicional do Estado visa a pacificação dos


conflitos gerados no meio social. Quando a decisão
judicial não cabe mais recurso (possibilidade de ser
revista por outra instância superior), diz-se que a ação
ou o processo transitou em julgado, isto é, alcançou o
status de coisa julgada – a decisão tornou-se definitiva.
- LINDB - Art. 6º - § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o
já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que
se efetuou.
- Ato jurídico é a manifestação da vontade humana que
produz a criação, modificação ou extinção de direitos
(ex. um contrato). Devem ser praticados em
consonância com as normas jurídicas vigentes na
ocasião da sua celebração e execução. Torna o ato
imutável e inalcançável por norma posterior que
eventualmente regule a matéria respectiva.
DIREITO ADQUIRIDO

- Art. 6º - § 2º Consideram-se adquiridos assim os


direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha
termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida
inalterável, a arbítrio de outrem.
- É o direito que já se incorporou definitivamente ao
patrimônio e/ou personalidade do indivíduo (ex.
capacidade) que não pode ser atingido pela nova norma
jurídica. Diferença entre aquisição e exercício do direito.
1. APLICAÇÃO NO TEMPO
Princípio da continuidade das leis - se a lei não tem
prazo determinado de duração, permanece atuando
no mundo jurídico até que seja modificada ou
revogado por outra de hierarquia igual ou superior
(LINDB, art. 2º).
Leis temporárias: sua duração é determinada
expressamente no seu textoela. Perde a vigência
depois do prazo. (ex. Lei da Copa - 2014).
Leis excepcionais: sua temporariedade decorre de
aspectos circunstanciais (ex. estado de calamidade).
2. APLICAÇÃO NO ESPAÇO
- Em decorrência da soberania de cada Estado, as
normas jurídicas por ele produzidas devem ser
aplicadas conforme sua capacidade de imposição em
determinados lugares, ou seja, é o princípio da
territorialidade (real ou ficta).

- Excepcionalmente, adota-se a extraterritorialidade. A


norma estrangeira pode ser aplicada no Brasil,
principalmente em matéria de Direito Internacional
Privado (família, sucessão contrato, etc.)
2. APLICAÇÃO NO ESPAÇO
- "Estatuto pessoal" (regra de conexão) significa a
situação jurídica que rege o estrangeiro pela lei do seu
país de origem (o acompanha) adotando-se o critério da
nacionalidade ou do domicílio. O Brasil adota o domicílio
(art. 7º E 10 da LINDB). Exceções: imóveis, sucessão mais
benéfica e contratos internacional.
- A aplicação da lei e atos estrangeiros, porém, não pode
ser incompatíveis com a CF/88 e não terão eficácia no
Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem
pública e os bons costumes (art. 17 da LINDB)
2. APLICAÇÃO NO ESPAÇO
- O cumprimento no Brasil de decisão judicial
estrangeira, atendimento à carta rogatória ou
aceitação de laudo arbitral estrangeiro tem por
condição a submissão de homologação no STJ
(exequatur), que irá determinar o cumprimento no
Brasil.

- Dessa forma, o Brasil adotou a teoria da


territorialidade moderada/mitigada.
4.4.
A teoria
normativista
de Hans
Kelsen
A Teoria Pura do Direito (1934)

– pretensão de estabelecer um teoria científica


para o direito (ciência jurídica).
-Objeto de estudo: normas jurídicas positivas.
-Formalismo: o Direito é somente norma
jurídica positivada (a soberania estatal é a
fonte exclusiva de criação do Direito).
- Pureza metodológica: distinção fundamental
entre o mundo do ser (natureza) e do dever ser
(conduta obrigatória trazida na norma). Os fatos e
os valores seriam objetos de estudo da sociologia
e da filosofia, respectivamente.
- Monismo: o jurídico fundamenta o jurídico.
Ordem jurídica formada por uma pirâmide
hierarquizada, onde uma norma inferior se
fundamenta em outra superior, até a Norma
Fundamental.
- Norma Fundamental (Grande Norma ou
Norma Hipotética) - Seria uma hipótese
necessária para se fundar uma teoria jurídica.
- Funções da Norma Fundamental:
Fonte comum de validade das normas que
compõem o ordenamento jurídico;
Chave da sua unidade e coerência;
Condição da epistemologia jurídica;
Fonte de produção das normas jurídicas.
- Problematização acerca da NF – Como Kelsen
não queria atribuir conteúdo (ou valor) à NF,
dispôs que o único conteúdo seria a atribuição
de poder a uma autoridade legislativa (como
devem ser criadas as normas gerais e
individuais).
Se a pressuposição da NF a leva a uma
hipótese, então Kelsen não conseguiu
isentar sua teoria da metafísica?
- Críticas: A maioria dos juristas da atualidade considera
que o conceito do direito não pode identificar-se com o
de norma, apresentando objeções à Teoria Pura do
Direito de Kelsen diante do seu caráter fragmentário e
da própria insuficiência da concepção normativista-
legal diante da complexidade das mudanças sociais.
- O Direito, na atualidade, é visto como uma ciência
histórico-cultural e compreensivo-normativa. É uma
ciência normativa ética. Os elementos normativos,
sociológicos e axiológicos são essenciais para a
interpretação e aplicação do Direito.
PIRÂMIDE NORMATIVA
4.5.
Ordenamento
jurídico:
unidade,
coerência e
completude
TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO
(NORBERTO BOBBIO)
- O termo Direito (no sentido objetivo), indica um sistema
normativo, não um tipo de norma, e este sistema é composto
por três tipos básicos de norma: as que permitem, as que
proíbem e as que obrigam determinada conduta. As três
naturezas normativas precisão coexistir.

- Se fossem todas as normas do tipo permissivas, voltar-se-ia ao


estado de natureza; se apenas existissem normas proibitivas ou
obrigatórias haveria uma inviabilidade do convívio social.
Os problemas do ordenamento jurídico
- Bobbio afirma ser impossível um ordenamento que regule
todas as ações possíveis, assim, dentro desse sistema acabam
surgindo problemas que nascem das relações das diversas
normas entre si. São eles:
saber se o ordenamento constitui um sistema (vedação de
antinomias jurídica)
saber se as normas vigentes constituem uma unidade
(hierarquia das normas)
saber se o ordenamento jurídico é completo (preenchimento
das lacunas no Direito.
1. COERÊNCIA
- O ordenamento jurídico como um sistema (totalidade
ordenada). Há ordem quando os elementos que constituem
o sistema não estejam somente em relacionamento com o
todo, mas também num relacionamento de coerência entre
si.

- Um ordenamento jurídico constitui um sistema porque não


podem coexistir nele normas incompatíveis. O termo
“sistema” equivale à validade do princípio que exclui a
incompatibilidade das normas, ou seja, antinomias.
1.1 Os vários tipos de antinomia
- As antinomias ocorrem quando as normas são conflitantes
entre si para regulamentar um mesmo fato social.

- Situação na qual são colocadas em existência duas normas


das quais:
a) uma obriga e a outra proíbe
b) uma obriga e a outra permite
c) uma proíbe e a outra permite
1.2 Condições de existência das antinomias
I) As duas normas devem pertencer ao mesmo
ordenamento jurídico positivo
II) As duas normas devem ter o mesmo âmbito de validade.
Existem quatro âmbitos de validade de uma norma:
Temporal – conflito concomitante no tempo
Espacial – conflito no mesmo âmbito territorial ou
competência legislativa.
Pessoal – conflito em razão de aspectos da pessoa
(idade, capacidade, classe, categoria)
Material – conflito em razão da mesma matéria tratada
nas normas.
1.3 Critérios de soluções das antinomias
I) Antinomias aparentes (solúveis) - passíveis de solução

I.A) CRITÉRIO CRONOLÓGICO - LEX POSTERIOR DEROGAT


PRIORI - Entre duas normas incompatíveis, prevalece a norma
posterior. Partindo-se da regra geral do Direito em que a
vontade posterior revoga a precedente, e que de dois atos de
vontade da mesma pessoa vale o último no tempo, imagine-se
a lei como expressão da vontade do legislador e não haverá
dificuldade em justificar a regra
1.3 Critérios de soluções das antinomias
I) Antinomias aparentes (solúveis) - passíveis de solução

I.B) CRITÉRIO HIERÁQUICO - LEX SUPERIOR DEROGAT


INFERIORI - Entre duas normas incompatíveis prevalece a
hierarquicamente superior. Vimos também, anteriormente,
que as normas são colocadas em planos diferentes, em ordem
hierárquica. Uma das consequências da hierarquia é
justamente a de que as normas superiores podem revogar as
inferiores, mas as normas inferiores não podem revogar as
superiores.
1.3 Critérios de soluções das antinomias
I) Antinomias aparentes (solúveis) - passíveis de solução
I.C) CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE – Entre duas normas
incompatíveis, uma geral e uma especial (ou excepcional),
prevalece a segunda: lex specialis derogat generali . A lei
especial é aquela que anula uma lei mais geral, ou que subtrai
de uma norma parte da sua matéria para submetê-la a uma
regulamentação diferente. Quando se aplica o critério da lex
specialis não acontece a eliminação total de uma das duas
normas incompatíveis mas somente daquela parte da lei geral
que é incompatível com a lei especial.
1.3 Critérios de soluções das antinomias
II) Antinomias reais (insolúveis) - são aquelas onde o
intérprete é abandonado a si mesmo, ou pela falta de um
critério ou por conflito entre os critérios dados.

Obs. havendo incompatibilidade entre princípios


constitucionais (normas-princípio), devido sua alta
abstratividade, pois são mandamentos de otimização
(Alexy), os conflitos são solucionados por ponderação e
sopesamento. Ex. Liberdade de imprensa e privacidade.
1.4 Conflito de critérios
I) conflito entre o critério hierárquico e o cronológico: prevalece
o hierárquico (Ex. lei superior-velha e lei inferior-nova).
II) conflito entre o critério da especialidade e o cronológico:
prevalece a especialidade (Ex. lei especial-velha e lei geral-
nova).
III) conflito entre o critério hierárquico e o da especialidade (Ex.:
lei superior-geral lei inferior-especial): não existe uma regra
geral consolidada. O intérprete resolve.
Obs. No caso de confronto entre norma constitucional e norma
infraconstitucional, prevalecerá a CF.
2. A UNIDADE
- Todo ordenamento jurídico deve ter unidade. Isto só é
possível quando se pressupõe como base do ordenamento
uma norma fundamental com a qual se possam, direta ou
indiretamente relacionar todas as normas do sistema
hierárquico-normativo.

- Essa norma fundamental atribui ao poder constituinte a


faculdade de produzir normas jurídicas. Desse modo, todo
poder normativo pressupõe, por sua vez, uma norma que o
autoriza a produzir outras normas.
2. A UNIDADE
- O Poder Constituinte Originário é o poder normativo
legitimado pela Norma Fundamental para a produção de
normas constitucionais.

- A Norma Fundamental é o termo unificador e fundamento


de validade de todas as normas que compõem um
ordenamento jurídico. Sem ela, as normas (inferiores e
superiores) constituiriam um amontoado, não um
ordenamento.
3. A COMPLETUDE - INTEGRAÇÃO DO DIREITO
- É a propriedade pela qual um ordenamento jurídico tem uma
norma para regular qualquer caso (solução). Um OJ é
completo quando o juiz nele encontra juridicidade em toda
conduta, não havendo caso que não possa ser regulado com
uma norma tirada do sistema.
- Regras da completude:
a) o juiz é obrigado a julgar todas as controvérsias que se
apresentarem a seu exame - princípio da inafastabilidade do
controle jurisdicional (vedação do non liquet);
b) deve julgá-las com base em uma norma pertencente ao
sistema (ou conforme a sua lógica).

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